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Versão On-line ISBN 978-85-8015-075-9

Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE


NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Produções Didático-Pedagógicas
1

FICHA PARA IDENTIFICAÇÃO


PRODUÇÃO DIDÁTICO-PEDAGÓGICA
TURMA – PDE/2013

Titulo: REVENDO A HISTÓRIA DO MOVIMENTO ESTUDANTIL BRASILEIRO


Autor Taíza Lira Ferrari
Disciplina/Área Pedagogia
Escola de implementação Colégio Estadual Monteiro Lobato - EFM
do Projeto e sua localização Av. Rubino Pasquetti, 555.
Município da escola Céu Azul
NRE Cascavel
Professor Orientador Alexandre Felipe Fiuza
Instituição de Ensino Universidade Estadual do Oeste do Paraná -
Superior UNIOESTE

Relação Interdisciplinar História, Filosofia e Sociologia.


Resumo Esta Produção Didático-Pedagógica justifica-se
devido a importância de conhecer a história do
Movimento Estudantil brasileiro e a Legislação que
criou os Grêmios Estudantis Livres. Será desenvolvida
no Colégio Estadual Monteiro Lobato - EFM do
município de Céu Azul-PR com alunos do Ensino
Fundamental, séries finais e Ensino Médio. Busca-se
com esta atividade contextualizar a trajetória de luta,
as repressões sofridas durante a Ditadura Militar, o
controle sobre as ações na organização do Movimento
Estudantil e as principais conquistas, mediante uma
reflexão crítica sobre a história e a atuação dos
estudantes nas decisões políticas, sociais, econômicas
e educacionais no Brasil. Almeja-se desvelar nestas
linhas um ser ativo, autônomo participativo,
provocando uma percepção no sentido político da
participação. Serão realizados oito encontros
destinados aos estudos sobre a história do Movimento
Estudantil. Pretende-se ao final dos encontros,
contribuir para com a construção de uma proposta que
incentive os alunos à implementar projetos que
fortaleçam as ações coletivas e estimulem a
participação e manutenção do Grêmio Estudantil no
estabelecimento de ensino.
Palavras-chave Estudante, Movimento, Grêmio, Agente de
Transformação.
Formato do Material Didático Unidade Didática
Público Alvo Ensino Fundamental séries finais e Ensino Médio.
2

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO - SEED


SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO - SUED
DIRETORIA DE POLÍTICAS E PROGRAMS EDUCACIONAIS - DPPE
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCAIONAL - PDE

TAIZA LIRA FERRARI

REVENDO A HISTÓRIA DO MOVIMENTO ESTUDANTIL BRASILEIRO

Projeto apresentado à Secretaria de Estado da


Educação – SEED, Departamento de Políticas
e Programas Educacionais, para cumprir
exigências do Programa de Desenvolvimento
Educacional – PDE, sob a orientação do
Professor Dr. Alexandre Felipe Fiuza,
UNIOESTE – Campus de Cascavel – PR.

CASCAVEL – PR
2013
3

1- APRESENTAÇÃO

O movimento estudantil foi um marco histórico da participação dos jovens


estudantes que lutaram por melhores condições políticas, sociais, econômicas e
educacionais para o País. Desta forma, contextualizar a vivência dos estudantes
e sua trajetória de lutas, as repressões sofridas durante a ditadura militar, o
controle sobre suas ações na organização do movimento estudantil e as principais
conquistas vivenciadas, são fundamentais para despertar a consciência histórica.
Respaldados por uma legislação que favorece a organização dos estudantes,
ainda que controlada, abre espaço para construir uma política de participação
mais democrática e entender a formação dos Grêmios Livres.

A ORGANIZAÇÃO DOS ESTUDANTES E SUA TRAJETÓRIA POLÍTICA

A organização sistemática do movimento estudantil brasileiro se evidencia


a partir da criação da UNE (União Nacional dos Estudantes), em 1937. Para
compreender sua origem não podemos esquecer os que a antecederam, pois
seria omitir a história de um movimento que marcou significativamente o Brasil.
Os estudantes participaram ativamente na história política do Brasil muito antes
da UNE, inclusive no movimento de independência do Brasil.
Importante ressaltar que esse movimento estudantil não foi específico do
Brasil, mas atingiu todo o continente latino-americano:

Suas raízes mais tenras podem ser identificadas na Carta de Córdoba


(Argentina) de 21 de junho de 1918, impelindo a reforma universitária e a
formação de federações nacionais de estudantes ou uniões entre 1920 e
1930 em que quase toda a América Latina – Chile, Paraguai, Uruguai,
Bolívia, Venezuela, México, estendendo-se mais tarde a Cuba.
( PORTANEIRO, 1978 apud FÁVERO, 1995, p. 11).

Os movimentos revolucionários não foram mal sucedidos, pois além da


renovação acadêmica, defendiam outros projetos significativos de reformas
políticas e sociais.
4

A trajetória histórica do movimento estudantil brasileiro se iniciou com


estudantes que retornavam da Europa, filhos das classes mais abastadas no
período colonial, enviados por seus tutores e pais com o objetivo de terem acesso
às letras e à educação europeia. No velho continente, durante seu período
acadêmico, receberam influências dos modelos socioeconômicos de outros
países, o que provocou em alguns casos indignação e revolta no retorno ao
Brasil.
Segundo Poerner (1979), a primeira manifestação estudantil anotada na
história brasileira ocorreu no ano de 1710, quando os franceses invadiram o Rio
de Janeiro e foram encurralados por jovens estudantes de conventos e colégios
religiosos. Mais tarde, em 1786, José Joaquim Maia fundou no exterior um clube
secreto para lutar pela independência do Brasil; sendo que um dos membros
deste clube, o jovem Domingos Vidal de Barbosa, chegou a participar da
Inconfidência Mineira.
Irreverente ao falar sobre a história do país, Poerner assevera:

Ademais, ainda que nem sempre seja registrada no plano físico, é


notória a participação estudantil no plano ideológico dos movimentos
revolucionários brasileiros anteriores à independência. Os estudantes é
que trouxeram da Europa as ideias revolucionárias de Voltaire,
Rousseau e Montesquieu, e a eles coube - segui-las, através de suas
sociedades e clubes secretos. Foram eles que serviram de veículo quase
exclusivo para a introdução no Brasil, daqueles ideais, até que se
concretizasse, em 1827, o sonho inconfidente da fundação de uma
Universidade no País. (POERNER, 1979, p.60).

Deve-se também ao empenho dos estudantes a fundação da primeira


faculdade brasileira em 1827, como a Faculdade de Direito do Largo São
Francisco, que logo integrou as campanhas pela Abolição da Escravatura e pela
Proclamação da República.
Com a criação das primeiras faculdades brasileiras, os filhos da oligarquia
paulista e do latifúndio açucareiro pernambucano adentram as instituições de
ensino superior e rapidamente se engajam nas campanhas pela Abolição da
Escravatura e pela Proclamação da República. Há estudantes engajados também
na Revolução Farroupilha que ocorreu no Rio Grande do Sul e também na
Sabinada na Bahia (POERNER, 1979).
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A campanha abolicionista empolgou a juventude a criar associações em


prol da libertação de escravos, onde os estudantes escondiam os cativos em suas
repúblicas, antecipando assim a Lei Áurea em quatro anos. Neste contexto, foi o
Ceará a primeira Província a libertar os negros. Foi então que o jovem Castro
Alves produziu os poemas Navio Negreiro e Vozes d’África, que contribuíram para
apressar a tão almejada liberdade em outras regiões, a exemplo do Ceará. É
pertinente destacar que, com:

[...] a Campanha Abolicionista se produziu talvez a primeira greve de


natureza política que a nossa História registra e quiçá a única greve
política justa: a greve dos jangadeiros do Porto de Fortaleza [...]
pretenderam os senhores de escravos salvar prejuízos [...] exportando
os seus escravos para vendê-los no Sul, especialmente em São Paulo,
onde alcançavam altos preços [...] a recusa dos jangadeiros em
transportar os pobres pretos [...] não puderam efetuar as pretendidas
exportações [...] fica eles homens livres na bendita Terra da Luz!
(POERNER, 1979, p. 12).

Considerando a atuação dos estudantes que tiveram influência na política


brasileira, depois da Proclamação da República a participação da juventude
militar decaiu, pois não tinham conhecimento da situação em que o País se
encontrava, das dificuldades financeiras, dos empréstimos feitos no exterior,
surgindo o subdesenvolvimento o qual foi constatado após muitas décadas.
Também contribuiu para essa queda, segundo Poerner (1979), a eleição
do primeiro presidente civil, Prudente de Morais, em 1895, quando os jovens
militares perderam o apoio presidencial. Decorre dessa eleição a primeira
manifestação da juventude civil na Primeira República, cabendo destaque aos
estudantes de Direito da Bahia, quando em 1897 elaboraram um documento
dirigido à nação sobre os traumas da rebelião de Canudos na Bahia.
Nesse mesmo período, pela primeira vez na história republicana, um
candidato à Presidência, Rui Barbosa, apoiado por São Paulo e Bahia, percorreu
vários pontos do país em busca de votos, com a Campanha Civilista, tendo apoio
significativo dos estudantes, talvez por corresponder às suas expectativas para o
país. Porém, seu opositor, o militar Marechal Hermes da Fonseca, foi o vencedor,
apoiado por Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Foi graças a Campanha Civilista
que o movimento estudantil que até então estava desorganizado ressurgiu
retomando o cenário de manifestações. No dia 22 de novembro, uma semana
6

depois da posse de Hermes da Fonseca, a Revolta da Chibata no Rio de Janeiro,


parecia anunciar que os próximos anos não seriam pacíficos. Hermes da
Fonseca pusera o Exército em cena nesse período histórico.
O poeta Olavo Bilac fundou a Liga Nacionalista em 1917, conclamando os
estudantes que dela fizerem parte, em virtude da eminência da I Grande Guerra,
o que trouxe para os jovens brasileiros um exacerbado espírito de nacionalismo e
civismo, e o receio da vitória alemã. Uma das bandeiras de Bilac em seus
inflamados discursos foi a campanha pelo serviço militar compulsório, pelo qual
muitos jovens aderiram. A Liga Nacionalista desempenhou também papel
importante no campo da educação criando cursos noturnos de alfabetização para
jovens proletários. Durante o governo Washington Luís “[...] foi o silêncio total da
juventude [...] talvez por isso, na campanha da sucessão presidencial os
estudantes penderam para o lado do oposicionista Getúlio Vargas” (POERNER,
1979, p. 106).
Certamente um dos períodos histórico mais tumultuado e oscilante foi a
Era Vargas, que derrubou o governo constitucionalista, esteve no poder por quase
duas décadas. Um tempo assim definido por D’Araujo:

Chama-se Era Vargas o conjunto das políticas econômicas e sociais


introduzidas no país a partir de 1930, que marcaram de maneira
indiscutível e indelével o processo de industrialização, urbanização e
organização da sociedade brasileira. As repercussões dessas iniciativas
foram tão fortes que, no limiar do novo século sua influência ainda é
percebida. (D’ARAUJO, 1997, p. 7).

UNE - UNIÃO NACIONAL DOS ESTUDANTES: UMA TRAJETÓRIA DA


PARTICIPAÇÃO POLÍTICA ESTUDANTIL

Para descrever a fundação e instalação da UNE, buscamos informações


desse período histórico na obra de Poerner (1979), que recompõe a história do
movimento estudantil desde o Brasil Colônia, e no livro de Fávero (1995), que
também registra os fatos históricos relativos à participação dos estudantes nas
questões políticas educacionais, econômicas e sociais do país.
A UNE representa o marco da participação do movimento estudantil
brasileiro ao longo da nossa história, pois:
7

[...] as organizações universitárias anteriores, [...] eram transitórias,


visavam apenas problemas específicos, com curta duração, por isso não
havia prosseguimento, [...] nasciam e morriam. Outro fator era a [...]
regionalidade, favorecida pelos isolamentos entre os Estados.
(POERNER, 1979, p. 127-128).
A atuação dos estudantes enquanto organização ficava somente no
interior das faculdades ou nos espaços daquelas que dispunham de sede, como
os centros acadêmicos, grêmios estudantis ou as associações de caráter literário
ou artístico, o que se traduzia em ações ocasionais e dispersas.
Entre todas as tentativas de organização do movimento estudantil, a
realização em São Paulo do I Congresso Nacional dos Estudantes, em 1910, não
trouxe maior consequência efetiva para o movimento, a não ser grandes debates
filosóficos. Os acadêmicos da Faculdade Nacional de Direito, impressionados
com a organização do movimento estudantil argentino, imbuíram esforços em
fazê-lo aqui também através da realização do I Congresso da Juventude Operária
Estudantil, movimento este iniciado pelos estudantes de Direito do Rio de Janeiro,
no segundo semestre de 1934, com a ideia de receber adesão de alunos de
outras faculdades e apoio de organizações operárias.
A Juventude Comunista teve um papel importantíssimo na organização
do Congresso, pois formaram uma frente única antifascista, sendo esse grupo
vencedor das eleições de 1932 para o diretório da Faculdade que contava com
mais de mil alunos e que demonstravam desinteresse pela política, assim mesmo
obtiveram 70 votos sendo sua bandeira principal de luta, a luta antifascista, pois
era um período de ascensão do nazismo.
Do I Congresso da Juventude surgiu a Aliança Nacional Libertadora
evidenciando a necessidade de se criar um instrumento que agregasse os
estudantes, para contribuir com a modificação da realidade nacional.
Da organização do I Conselho Nacional de estudantes nos dias 11,12 e
13 de agosto de 1937, Fávero descreve:

A instalação do I Conselho realiza-se na Casa do Estudante do Brasil,


dirigida pela presidente vitalícia e fundadora daquela casa, Ana Amélia
Queiroz Carneiro de Mendonça, contando com representantes de São
Paulo, Ceará, Bahia, Paraná, Rio de Janeiro, Pernambuco e Minas
Gerais. Nessa reunião, logo de saída, é aprovada uma proposta de
representante do Diretório Central dos Estudantes de Minas, proibindo
expressamente a discussão de temas políticos no Conselho. No dia
seguinte, dos assuntos levantados no plenário, o principal é a aprovação
dos estatutos do novo órgão estudantil. (FÁVERO, 1994, p.17).
8

Antecedendo o surgimento da UNE, temos a criação da Frente


Democrática da Mocidade, que foi extinta no Estado Novo, passando o país por
uma nova realidade do movimento estudantil que foi o surgimento da UNE.
Iminentes dificuldades foram criadas pela direção da Casa do Estudante
do Brasil, o que não impediu que a Diretoria da UNE realizasse o II Congresso
Nacional em 1938 com um caráter militante e discutindo o cenário da educação
brasileira.
O reconhecimento oficial e formal da UNE ocorreu no II Congresso
Nacional dos Estudantes:

Com a preocupação de oficializar a entidade que representaria o


segmento universitário, discutir e elaborar propostas, é aberto
solenemente o II Congresso em 05 de dezembro de 1938, contando com
cerca de 80 associações universitárias e secundárias, ao qual
compareceram professores e um representante do Ministério da
Educação. (FÁVERO, 1994, p. 17-18).

Esse Congresso marcou a unificação do movimento, que ganhou forças


inequívocas em torno de bandeiras de âmbito nacional identificando e
caracterizando a UNE como uma instituição de movimento democrático. Tendo
caráter político-pedagógico empenhou-se, sobretudo, em defender a democracia,
promovendo e estimulando a transmissão do saber:

Ao encerrar o II Congresso Nacional além de a Diretoria eleita assumir


a entidade, foi deliberado também o Plano de Reforma Educacional, que
apresentava, na ocasião, cinco blocos de sugestões: 1º.) solução para o
problema educacional; 2º.) solução para o problema econômico do
estudante; 3º.) reforma dos objetivos gerais do sistema educacional
brasileiro, no sentido da unidade e da continuidade; 4º.) reforma
universitária; 5º.) organização extra escolares. (FÁVERO, 1994, p. 9).

Evidencia-se claramente a luta da UNE em prol da Educação e pela


liberdade de pensamento, contrariando o controle do Estado, conforme
preconizava a Lei nº 452, de 05 de julho de 1937, artigo 27: “Até que seja
decretado o Estatuto da Universidade do Brasil, o reitor e os diretores de
unidades serão escolhidos pelo Presidente da República dentre os professores
catedráticos e nomeados em comissão”. (FÁVERO, 1994, p. 20).
A preocupação da UNE enfatizava a autonomia e poder na Universidade
sendo pauta das principais discussões acadêmicas a eleição de reitor e diretores
pelos professores e alunos. O movimento não parou por aí. Extrapolou o campo
9

da educação assumindo o papel nas reivindicações trabalhistas contra forças


nazifascistas, o que evidencia que em nenhum momento os estudantes foram
apolíticos, havendo confrontos com a polícia, como no que levou à morte em
Recife o estudante Demócrito de Souza Filho. A partir desse fato a posição da
UNE em relação ao Estado Novo foi de enfrentamento e discórdia. O movimento
afoito da UNE foi declinando após a queda do Estado Novo e durante o governo
provisório de José Linhares, em virtude dos objetivos de luta da UNE.
O Movimento Estudantil a partir da década de 1950 foi marcado por forte
repressão policial contrária aos movimentos dos estudantes, que tiveram ampla
participação na campanha o “petróleo é nosso”, onde nacionalistas, estudantes e
o presidente Getúlio Vargas, defendiam que todo petróleo encontrado em solo
brasileiro não passasse para a administração e exploração estrangeira. Nesse
período foi criada a PETROBRÁS – Petróleo Brasileiro S/A e instituído o
monopólio estatal na exploração do petróleo, logo:

A União Nacional dos Estudantes (UNE), engajada na campanha “o


petróleo é nosso”, em 1947, já atuava no cenário político como
defensora do nacionalismo. Nos anos 50, essa premissa fora reforçada
na entidade e incentivada pela ideologia forjada no Instituto Superior de
Estudos Brasileiros (ISEB). Na década de 60, a UNE retomaria as
discussões em torno da luta anti-imperialista, embora entre as teorias
que informassem os debates travados no interior da entidade tomassem
impulso as de cunho marxista-leninista (PELEGRINI, 1997, p. 29).

O movimento estudantil brasileiro pautou-se nesse período por uma teoria


e prática baseadas no nacionalismo, no desenvolvimento, muitas vezes
revolucionários encampando lutas pela reforma social. Afinal,

[...] a campanha do petróleo arregimentou todas as camadas urbanas, do


operariado à burguesia, e foi, talvez, o único movimento do qual
participou intensamente e de forma ampla e espontânea o povo
brasileiro. E Getúlio Vargas era, na época, o próprio símbolo do
nacionalismo. Em 1953, dois anos depois de sua posse, a Petrobrás
tornou-se lei e o Estado passou desde então, a ter o monopólio da
pesquisa e exploração do petróleo brasileira. (ROMANELLI, 1991, p. 52).

Os estudantes participaram também, de forma efetiva e maciça, contra o


fechamento do Partido Comunista e a cassação dos deputados comunistas
eleitos, além da participação no protesto contra o alto preço das passagens de
bonde.
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No XII Congresso da UNE houve uma divisão do movimento tendo como


candidatos militantes de direita, representando a organização fascista, e de
esquerda, os socialistas, ficando esse período conhecido como período negro,
pois houve luta física entre seus oponentes.
Compreende-se pelos relatos históricos que os estudantes tomados por
um potencial revolucionário e pela esperança de uma sociedade melhor e
objetivando com isso um mundo melhor, fizeram-se vultuosamente presentes na
luta pela reforma universitária e posteriormente na luta pelas reformas sociais.
A repressão do governo ao Movimento Estudantil durante a ditadura do
Estado Novo (1937-45), não desestimulou a organização dos estudantes em
manifestarem-se contrariamente às regras impostas pelo governo.
A história do Brasil foi marcada brutalmente pelo movimento golpista e
vitorioso de 1964, onde o Governo João Goulart foi destituído e os militares
ocuparam o poder. Significou um período de repressão ao Movimento Estudantil
que se opôs ao governo instituído, tão severo e ameaçador. Na canção Pesadelo,
de Maurício Tapajós e Paulo César Pinheiro, esse período foi assim narrado:

Quando o muro separa uma ponte une


Se a vingança encara o remorso pune
Você vem me agarra, alguém vem me solta
Você vai na marra, ela um dia volta
E se a força é tua ela um dia é nossa
Olha o muro, olha a ponte
Olhe o dia de ontem chegando
Que medo você tem de nós, olha aí
Você corta um verso, eu escrevo outro
Você me prende vivo, eu escapo morto
Abraça o dia de as amanhã, olha aí
Perturbando a paz, exigindo troco
Vamos por aí eu e meu cachorro
Olha um verso, olha o outro
Olha o velho, olha o moço chegando
Que medo você tem de nós, olha aí
O muro caiu, olha a ponte
Da liberdade guardiã
O braço do Cristo, horizonte
Abraça o dia de amanhã, olha aí.

Ao interpretar os versos da música, vemos como o governo detinha poder


absoluto sobre as massas, poder este que encontrava legitimidade no Ato
Institucional nº 5,
11

A existência de atos nitidamente subversivos oriundos dos mais distintos


setores políticos e culturais, bem como a existência de guerra
revolucionária, elementos que justificavam e obrigavam a tomar medidas
para evitar a destruição do movimento de 64. [...] o AI-5 estabeleceu que
o presidente da República poderia decretar, por Ato Complementar, o
recesso do Congresso Nacional, das Assembleias Legislativas e das
Câmaras dos Vereadores, em estado de sítio ou fora dele, só voltando
os mesmos a funcionarem quando convocados pelo próprio presidente
da República; o presidente da República poderia, ainda, decretar a
intervenção nos estados e municípios, sem as limitações previstas na
Constituição; poderia suspender, também sem as limitações previstas na
Constituição, os direitos políticos de quaisquer cidadãos pelo prazo de
10 anos e cassar mandatos eletivos federais, estaduais e municipais. Os
cidadãos que tivessem os direitos políticos suspensos, simultaneamente
teriam: cassação de privilégio de foro por prerrogativa de função;
suspensão do direito de votar e de ser votado nas eleições sindicais;
proibição de atividade ou manifestação sobre assunto de natureza
política e aplicação, quando necessário, das seguintes medidas de
segurança: liberdade vigiada, proibição de frequentar determinados
lugares e domicílio determinado. Ficaram suspensas as garantias
constitucionais ou legais de: vitaliciedade, inamovibilidade e estabilidade,
bem como a de exercício em funções por prazo certo. Não mais existiria
a garantia de habeas corpus, nos casos de crimes políticos contra a
segurança nacional, a ordem econômica, social e a economia popular.
Todos os atos praticados de acordo com o Ato Institucional nº 5 ficavam
excluídos de qualquer apreciação judicial. (SANFELICE, 1986, p. 152).

LEI SUPLICY DE LACERDA

No período do governo de Castelo Branco foram criados instrumentos


legais para controlar o Movimento Estudantil. Para tal, o Congresso Nacional
aprovou a Lei nº 4.464 de 09 de novembro de 1964 que “dispõe sobre os órgãos
de Representação dos Estudantes e dá outras providências”. Publicado no Diário
Oficial de 11/11/1964, p.10.169, amplamente conhecida como a Lei Suplicy, de
autoria do então Ministro da Educação, Flávio Suplicy de Lacerda. Sobre este
acontecimento, Altino Dantas declarou:

[...] podemos relatar que antes da votação no Congresso Nacional, da


Lei Suplicy, comissões de estudantes conversaram com quase todos os
deputados, ficando com a nítida impressão de que a lei não seria
aprovada, pois os parlamentares eram unânimes em prometer aos
estudantes votarem contra. Ela foi aprovada por nove votos de
vantagem. Começávamos a aprender como de fato funcionava uma
ditadura. (VÁRIOS, 1980, p.32 apud SANFELICE, 1989, p. 80).

Uma censura que deixou os estudantes encurralados, que além de


reprimir suas ideias, deixou-os vulneráveis:
12

A Lei Suplicy de Lacerda visou especialmente, a extinção do Movimento


Estudantil brasileiro. Para acabar com a participação política dos
estudantes, a Lei procurou destruir a autonomia e a representatividade
do movimento, deformando as entidades estudantis em todos os
escalões, ao transformá-las em meros apêndices do Ministério da
Educação, dele dependentes em verbas e orientação. (POERNER, 1979,
p. 231).

O repúdio a Lei Suplicy foi sempre muito elevado, pois seu art. 22,
legalmente extinguia a UNE, revogando o Decreto-lei nº 4.105, de 11 de fevereiro
de 1942, que reconhecia a UNE como entidade coordenadora e representativa
dos corpos discentes dos estabelecimentos de ensino superior de todo o país. A
repressão aos estudantes participantes nos movimentos sociais foi autoritária,
arbitrária e sangrenta, sendo assassinado seu último presidente Honestino
Guimarães, em 1973.

ACORDOS MEC-USAID

Durante nove anos a UNE foi considerada subversiva tendo que atuar na
clandestinidade, colaborou na realização do XXVII Congresso Nacional de
Estudantes, sendo o primeiro congresso da entidade após o golpe militar, tendo
como tema principal o boicote a Lei Suplicy de Lacerda. Em 1966, houve um
grande protesto contra o acordo firmado pelo MEC e a United States Agency For
International Development (USAID) que visava a implantação da reforma
universitária, seguindo a orientação do relatório de Anteprojetos de Concentração
da Política Norte-Americana na América Latina na Reorganização Universitária e
sua Integração Econômica feito pelo norte-americano Professor Rudolph Atcon,
em 1958. Esse relatório visava desenvolver uma filosofia educacional para o
continente latino-americano, onde a eliminação da interferência estudantil na
administração, tanto colegiada quanto gremial, era considerada essencial e
obrigatória.
Merece destaque a indignação dos estudantes a essa política de governo
o que para eles era justificável, pois nosso país subdesenvolvido estava sendo
entregue à direção e planejamento educacional dos norte-americanos que não
conheciam a nossa realidade. Importante relembrar que o acordo MEC-USAID
havia sido feito em sigilo em detrimento do próprio Conselho Federal de
13

Educação, o qual, ao tomar conhecimento do documento, concordou com os


termos desnacionalizando dessa forma a educação brasileira. Como descreve
Cunha e Góes:

Os acordos MEC-USAID cobriram todo o aspecto da educação nacional,


isto é, o ensino primário, médio e superior, a articulação entre os
diversos níveis, o treinamento de professores e a produção e veiculação
de livros didáticos. A proposta USAID não deixava brecha. Só mesmo a
reação estudantil, o amadurecimento do professorado e a denúncia de
políticos nacionalistas com acesso a opinião pública evitaram a total
demissão brasileira no processo decisório da educação nacional.
(CUNHA e GÓES, 2002, p. 33).

Uma das intenções implícita no acordo MEC-USAID era a de facilitar a


penetração dos Estados Unidos no Brasil e garantir dessa forma sua dominação
cultural, haja vista o sigilo e discrição com que foram feitas as negociações desse
acordo e também que dos 20 acordos, 15 abrangiam a esfera didático
educacional. Destes, o mais combatido pelo movimento estudantil, embora nem
todos os adendos e regulamentações fossem conhecidos, o que promovia a
mudança na administração das universidades ferindo sua autonomia.
Coube aos americanos definir aos brasileiros “tipos de currículos,
métodos didáticos, programas de pesquisa e serviços de orientação e informação
de estudantes, que permitam o máximo de eficiência da obtenção das categorias
desejadas de elementos de formação universitária”. (POERNER, 1979, p. 246).
Merece destaque que os estudantes empreenderam forças na luta
principalmente contra a repressão policial, muitos sucumbiram nesse intento,
como Edson Luiz de Lima Souto assassinado em 1968, no Rio de Janeiro no
restaurante Calabouço, reduto dos estudantes. Ele não era universitário e sim
secundarista, e foi assassinado durante uma manifestação. A morte do estudante
desencadeou várias passeatas sendo uma delas chamada de Passeata dos Cem
Mil. Estávamos sob a ditadura do Ato Institucional nº5, que fechou o Congresso
Nacional, iniciando um ciclo de quase 20 anos de repressão e morte. Jornalistas,
professores, padres, editores, parlamentares se uniram aos estudantes
denunciando a injustiça e opressão.
Muitos considerados pelo governo ditatorial como subversivos, foram
mortos, caçados pela repressão militar ou se exilaram em outros países. Nesse
14

período, a música popular brasileira destacava-se com letras que falavam da


realidade brasileira como a de Geraldo Vandré, Para não dizer que não falei das
flores (Caminhando), de 1968:

Caminhando e cantando Amados ou não


E seguindo a canção Quase todos perdidos
Somos todos iguais De armas na mão
Braços dados ou não Nos quartéis lhes ensinam
Nas escolas, nas ruas Uma antiga lição:
Campos, construções De morrer pela pátria
Caminhando e cantando E viver sem razão...
E seguindo a canção Nas escolas, nas ruas
Campos, construções
Vem, vamos embora Somos todos soldados
Que esperar não é saber Armados ou não
Quem sabe faz a hora Caminhando e cantando
Não espera acontecer E seguindo a canção
Somos todos iguais
Pelos campos há fome Braços dados ou não
Em grandes plantações
Pelas ruas marchando Os amores na mente
Indecisos cordões As flores no chão
Ainda fazem da flor A certeza na frente
Seu mais forte refrão A história na mão
E acreditam nas flores Caminhando e cantando
Vencendo o canhão... E seguindo a canção
Aprendendo e ensinando
Há soldados armados Uma nova lição...

UBES - União Brasileira dos Estudantes Secundaristas

Os estudantes secundaristas também marcaram presença no cenário


político brasileiro, estiveram presentes nas passeatas, campanhas em favor das
lutas sociais e educação de qualidade.
Marcados pela comoção das lutas, os estudantes secundaristas reuniram-
se para fundar sua própria entidade, em julho de 1948, no Rio de Janeiro com o I
Congresso dos Estudantes Secundaristas, tendo como local a Casa dos
Estudantes Brasileiros, espaço cedido pela UNE como contribuição para formar a
nova entidade.
Embora não tendo entidade própria, a organização dos estudantes
secundaristas data dos anos 1930. Os encontros realizados entre os estudantes
universitários e secundaristas foram a base para a organização, enquanto
entidade, do movimento secundarista A troca de experiências entre eles
15

favoreceu o prestígio do movimento que só crescia. A UNE teve maior projeção


no âmbito nacional, porém o movimento dos secundaristas foi relevante no desejo
de mudanças.
A fundação da UBES foi instituída pelo I Congresso dos Estudantes
Secundaristas, onde foram aprovados os estatutos e eleita a primeira diretoria,
inspirados pela UNE a denominaram UNES (União Nacional dos Estudantes).

Como resultado desse congresso foi estabelecido no estatuto oito


finalidades:
1) manter a unidade estudantil em torno de problemas; 2) desenvolver
relações amistosas entre as unidades estudantis membros de sua
organização. 3) cooperar com atividades representativas dos estudantes
universitários e também de todas as organizações juvenis nacionais ou
internacionais.4)“dispensar [...] assistência cultural, médica, jurídica,
econômica e desportiva aos estudantes de todo o Brasil. 5) trabalhar
pela solução dos problemas educacionais, econômicos, sociais culturais
e humanitários de estudante e do povo em geral. 6) bater-se,
especialmente, em favor da elevação do nível do ensino secundário. 7)
pugnar pela democracia e pelas liberdades fundamentais sem distinção
de raça, sexo, posição social, credo político e religioso. 8) promover e
estimular as relações entre as organizações de jovens e particularmente
os estudantes de todo o mundo (CINTRA, MARQUES,2009, p .43).

A UBES no início de sua fundação em 1948 teve dificuldades e


limitações, ficando instalada no endereço da UNE, mesmo assim foi um período
muito agitado, coincidindo com a campanha O Petróleo é Nosso. Os
secundaristas sempre presentes nas manifestações eram liderados por grêmios
livres, além de uniões municipais e estaduais, mas com a criação da UBES
fortaleceram-se ainda mais como entidade, defendendo e unificando as bandeiras
de luta.
Dentre as mobilizações, a mais exitosa foi a volta de Getúlio Vargas
como Presidente da República em 1951, com ideais nacionalistas, o movimento
posicionou-se em defesa da campanha “O Petróleo é Nosso”, criando uma
empresa estatal, pois não seria possível, que uma “[...] empresa como a
Petrobrás não seria jamais obra do governo entreguista de Eurico Gaspar Dutra
(1946-1951), de incomum subserviência aos Estados Unidos”.(CINTRA,
MARQUES, 2009, p. 49).
Durante o 2º Congresso dos Estudantes Secundaristas, em julho de 1949,
com o objetivo de eleger a nova diretoria, sendo presidente o estudante Carlos
Cesar Castelar Pinto, do Rio de Janeiro, optaram pela mudança de nome da
16

entidade de UNES para UBES, sendo o primeiro muito semelhante a UNE o que
ocasionava confusões, pois usavam o mesmo endereço, mas continuavam
apoiados e inspirados pela UNE, que tinha representação em todos os estados, o
que a UBES também pretendia fazer.
Havendo passado no vestibular em janeiro de 1950, o presidente da
UBES, Carlos Cesar, deixou o cargo para o vice-presidente, José Teotônio
Padilha de Sodré (Bahia) e sua gestão foi marcada nas lutas contra as tarifas dos
bondes e para derrubar as taxas escolares. Em 03 de abril de 1950, liderada pela
AMES, ocorreu a “Convenção Nacional Contra o Aumento das Taxas Escolares”,
em todo o Brasil, sendo deflagrada greve em 20 de abril daquele ano.
No 3º Congresso Nacional dos Secundaristas, em julho de 1950, ano de
realizações históricas no país como a Copa do Mundo, as eleições presidenciais e
a inauguração da TV Tupi, Lúcio de Abreu é lançado candidato à presidência da
UBES, para evitar que houvesse divisão na entidade, causando divergência sobre
a candidatura de Sodré, por ser vice-presidente que assumira a presidência, mas
as diferenças acabaram em uma chapa única, tendo como presidente Lúcio de
Abreu, marcando a independência dos secundaristas.
As fortes e variadas correntes políticas valorizavam a UBES, mas
lideravam e ganhavam projeção os estudantes progressistas, pois não havia
unidade e no período de 1950 e 1956 as forças reacionárias existiam tanto na
UNE como na UBES, que articuladas queriam tirar os comunistas e seus aliados
da estrutura do movimento. Haviam estruturas organizadas atuando no
movimento, mas sem coordenação nacional, porém a UJC – (União da Juventude
Comunista) estava estruturada nacionalmente garantindo a preponderância deste
grupo na esfera nacional.
No 4º Congresso, houve o golpe, quebrando a hegemonia, em 25 de julho
de 1951 setores da direita liderados por Paulo Barbalho, tiveram confronto com os
integrantes da UJC e os opositores, sendo eles a minoria. Barbalho e seus
seguidores abandonaram o Congresso antes de término, e a eleição da nova
diretoria da UBES contou com uma chapa única, sendo eleito para presidente
Tibério César Gadelho.
Os estudantes que haviam abandonado o Congresso, ligados a UDN
(União Democrática Nacional) forjaram a documentação, criando um livro ata e
17

registrando em cartório, tendo Paulo Barbalho como presidente. A chapa


vencedora ao chegar ao cartório, constatou o registro que a chapa golpista havia
efetuado, o qual foi considerado legal, tanto “as assinaturas como o livro ata”.
Assim ficou dividida a UBES.
Com a divisão do movimento os secundaristas não tinham o que
comemorar, após cinco anos do governo de Eurico Gaspar Dutra e o retorno à
Presidência da República de Getúlio Vargas (1951), mudando a história do Brasil,
não havendo reformas educacionais ou políticas públicas para mudanças no
ensino:

A mudança mais marcante ocorreu em julho de l953: o ministro da


Educação, Ernesto Simões Filho, foi substituído pelo deputado Antônio
Balbino- ambos do Partido Democrático (PSD), que compunha a base
aliada do governo. Poucos dias depois, o Ministério da Educação e
Saúde foi desmembrado em duas pastas, dando origem ao Ministério da
Educação e Cultura (MEC) e ao Ministério da Saúde. (CINTARA,
MARQUES, 2009, p. 60).

Essas alterações beneficiaram somente o ensino superior, criando


“institutos e instituições de administração superior”, no segundo mandato, Vargas
teria deixado a desejar no que concerne à educação.
Pela divisão da UBES, ocorrida na 4º Congresso dos Estudantes
Secundaristas, após as manobras realizadas pelos golpistas, estes tinham apoio
das entidades estaduais, controlavam ainda a sede e a infraestrutura da Praia do
Flamengo.
A legítima diretoria tendo Tibério César Gadelha como presidente, lutava
pela legalidade, tendo os estudantes secundaristas duas entidades, sendo uma
liderada por tendências de esquerda e o PCB (Partido Comunista do Brasil) e os
golpistas, influenciados pelo Movimento dos Águias Brancas, travavam uma
batalha judicial, iniciando uma disputa para forçar cada entidade estadual a
posicionar-se em qual diretoria deviam apoiar.
Os golpistas alegavam a ilegitimidade do Congresso pela ausência das
delegações e suspeitando do resultado das votações, por outro, a direita,
alegando que a retirada das delegações de outros estados em protestos pelas
manobras que foram realizadas.
Em 19 de julho de 1951, deu-se a resposta,
18

[...] jornais como O Popular publicaram [...] Manifesto em torno do


Congresso dos Estudantes Secundários, assinado pela “mesa diretiva”
do encontro e por “líderes de diversas bancadas. [...]” objetivo da
diretoria legítima e seus aliados era “desmentir energicamente
sucessivas notas divulgadas por uma pseudodiretoria” [...] “utilizando
indebitamente o nome de nossa gloriosa entidade”. O manifesto
esclarecia [...] 4º Congresso, uma comissão de inquérito impugnou [...]
delegações de Pernambuco e do Estado do Rio. [...] as bancadas do
Paraná, do Piauí e de Minas Gerais deixaram o encontro em
solidariedade aos delegados impugnados. (CINTRA, MARQUES, 2009,
p. 62).

Em nota, a legítima diretoria divulgou sob o título, “Desfazendo o embuste


de falsos diretores da UBES” um alerta sobre as manobras e asseverando que as
entrevistas dadas por Paulo Barbalho e Genival Souto seriam para enfraquecer e
dividir o movimento secundarista.
Entre tantas divergências a UNES, fundada em 1948, sendo a entidade
nacional legítima representante dos estudantes secundaristas, continuou as lutas
contra as recorrentes cobranças de taxas e de mensalidades.
No 6º Congresso Nacional, em 1953, concomitante ao 4º Congresso da
UPES na capital paulista, onde ocorreram mudanças no estatuto da UNES para
ampliar a participação, foi eleito presidente Dynaes como representante de
entidades municipais, tendo como primeiro vice Gianfrancesco Guarnieri, que se
destacaria posteriormente na dramaturgia e teledramaturgia brasileira, sendo
essa diretoria representada por lideranças de várias partes do Brasil.
Durante a gestão de Dynaes, e com o governo de Vargas politicamente
enfraquecido, despreocupado de vez com a educação, a luta dos estudantes em
defesa da reforma do ensino, como lembra o ex-presidente da UBES.

O ensino era assim: o ginasial que preparava para o colegial e o colegial


que preparava para a universidade, pura e simplesmente. Uma das
nossas batalhas foi o reconhecimento da Escola Normal, que formava
professoras primárias, como curso secundário que não era reconhecido
como tal. As escolas técnicas também não eram reconhecidas como tal.
Então queríamos uma reforma de ensino, que abrangesse o conjunto e
não ficasse só no ginásio, clássico e científico. (CINTRA, MARQUES,
2009, p.66 - 67).

As relações entre o governo Vargas e o movimento se dava através do


Ministro da Educação, Antonio Balbino de Carvalho, considerado aberto e
democrático, recebendo os estudantes para discutir as reformas educacionais, em
19

suas reivindicações de oferta de ensino de qualidade. As pautas pela reforma de


ensino foram aderidas por outros segmentos sociais, culminando na aproximação
do movimento universitário, pois os alunos ao chegarem no ensino superior,
percebiam que os estudos que tiveram no colegial e científico não tinham
relação com a universidade.
No final do governo Dutra (1950-1953) e no segundo mandato de Vargas,
os estudantes secundaristas entre 18 e 19 anos de idade tiveram enfrentamentos
quanto às questões nacionais e o envio de tropas para a Guerra da Coréia, pelo
acordo firmado entre o governo Dutra e o governo norte-americano, e Vargas não
pode desfazê-lo. Essa medida atingia os estudantes secundaristas que estavam
na idade de servir o exército, pois os universitários tiveram como saída o próprio
curso universitário.
No 7º Congresso, realizado em Salvador, um mês antes do suicídio de
Vargas, foi reeleito Dynaes para presidir a UNES, sendo eleito no Rio de Janeiro
o gaúcho Carlos Salzano Vieira Cunha, pelos seguidores dos golpistas. Nesse
Congresso visualizou-se claramente as disputas entre UNES E UBES, com isso
foi eleito o sucessor de Dynaes, passando a liderar a UNES, Nissin Castiel, em
julho de 1955 em São Paulo. Quando anunciado que seria realizado o Congresso
da UNES, tendo como local a Biblioteca Municipal e no Centro de Professorado
Paulista, Aníbal Teixeira que comandava a diretoria da UBES solicitou a polícia
para não deixar a UNES realizar o Congresso em São Paulo, o qual foi suspenso
por dez dias, por considerarem os estudantes subversivos, mas houve pressão
sobre as autoridades que acabaram liberando, quando foram eleitos os demais
integrantes além de Nissin.
A UBES também reelege Carlos Salzano Vieira Cunha, no Rio de Janeiro,
e os dois congressos culminaram com a campanha de JK para presidente, que
venceu as eleições, assumindo o cargo em 31 de janeiro de 1956.
Por motivos pessoais, Nissin Castiel deixa a presidência da UNES e em
janeiro de 1956, no 8º Congresso Nacional dos Estudantes Secundaristas foi
aclamado o nome de Helga Hoffman para presidir a UNES sendo a primeira
mulher a dirigir a entidade nacional dos estudantes, sobre o qual ela afirma: “A
minha eleição foi uma coisa organizada de alguma forma, e eu não sei
20

exatamente os detalhes, pelo Partido Comunista. Eu tinha 17 anos”. (CINTRA,


MARQUES, 2009, p. 71).
Apesar de ser uma breve gestão, o movimento caminhava para a
unificação. A UBES também mudou sua presidência, saindo Carlos Salzano e
assumindo José Luis Clerot, que foi também responsável pela unificação das
entidades.
Com as delegações participando tanto das atividades da UNES e da
UBES, reforçou a pacificação, Dyanes buscava saídas junto a Aníbal Teixeira,
como este defendia e buscava reformas para o ensino, foram discutindo as
diferenças, avaliando o que era possível fazer e caminhar juntos, buscando uma
unidade. Para os secundaristas, a reunificação era importante, pois divididos
perdiam forças. No começo do governo JK, meses antes da unificação das
entidades secundaristas, o setor educacional teve apenas 3,4% de investimentos,
abrangendo uma única meta, apesar de ter um compromisso com a democracia e
com o desenvolvimento e traçado um Plano de Metas, revelou-se um fracasso na
área da educação.
A unificação das entidades deu-se em meio à Greve dos Bondes, quando
a Light, empresa de transporte coletivo do Rio, aumentou a passagem dos
bondes. Os protestos continuaram, o que motivou ainda mais os presidentes da
UNES, Helga Hofman, e da UBES, José Luis Clerot, a decisão de unificar as
entidades, assim:

Em 24 de julho de 1956, o 9º Congresso Nacional dos Estudantes


Secundaristas - também chamado Congresso da Unificação, acabou
com a divisão do movimento [...] presença de delegações de entidades
de todo o país [...] ocorreu no Instituto Parobé, em Porto Alegre (RS) [...]
concordaram que o nome UBES prevaleceria [...] José Luis Clerot para
presidir [...] o primeiro mandato pós-unificação.(CINTARA, MARQUES,
2009, p. 77).

Em 1964, os estudantes foram reprimidos pelo golpe militar, pois o Brasil


também passara por turbulências políticas e econômicas pelo governo
desenvolvimentista de JK e outros episódios como a Guerra Fria, breve mandato
do Jânio Quadros (1961) a implantação das reformas de João Goulart (1961-
1964), a cultura e a política influenciava na concentração entre “socialismo,
capitalismo, esquerda e direita”, o movimento estudantil estava bem articulado e
21

unido quanto a seus “ideais progressistas, nacionalistas e ligeiramente


esquerdistas”, pois juntaram sua ações e seus interesses, sendo que para a
UBES e a UNE os anos de 1950 a 1964 foram considerados “anos dourados”.
O movimento secundarista se unifica, afinal, depois de

[...] cinco anos de divisão, tinha recuperado a unidade em 1956, no 9º


Congresso Nacional dos Estudantes Secundaristas, em Porto Alegre. Ao
mesmo tempo, escreve Artur José Poerner [...] encerrava-se “a fase de
domínio direitista no movimento estudantil, também conhecida como
Período Negro ou Policial da UNE, ou, ainda, simplesmente ‘o tempo de
Paulo Egídio’. Quem passava a assumir a UNE era João Batista de
Oliveira Júnior - que, segundo Poerner “promoveu um amplo movimento
de politização estudantil, abalando, assim, o controle que o Ministério da
Educação e Cultura exercia no que diz respeito a esse aspecto”. Sua
gestão assinalou também, formação da primeira frente única de católicos
e comunistas no movimento estudantil, autêntica precursora do
pensamento ecumênico em nosso país”. (CINTRA, MARQUES, 2009, p.
80-81).

A representação do movimento crescia, mas a UNE acabou ganhando


mais destaque, sendo os secundaristas considerados auxiliares, como infere a
última presidente a UNES ao MME, Helga Hofman: “Os secundaristas eram um
pouco auxiliares dos universitários, não tinham um autonomia e tal”. Mas o
jornalista Bernardo Joffily (UBES-1968-69 sempre achamos que os universitários
nos usavam pra bucha de canhão, porque) considera: “Nós, secundaristas, nas
passeatas, nós sempre éramos a imensa maioria, mas, na hora de levar a fama,
de aparecer no jornal, na televisão, eram sempre os universitários”. (CINTRA,
MARQUES, 2009, p. 81).
Porém, os secundaristas continuaram aderindo, realizando campanhas e
defendendo a democracia.
No final do mandato, JK teve como sucessor na Presidência da República
Jânio Quadros, apoiado pela União Democrática Nacional (UDN), eleito em 03 de
outubro de 1960, assumindo o governo em janeiro de 1961, permanecendo
apenas sete meses, de um mandato de cinco anos. Na curta trajetória, embora
dizendo seguir uma “política independente”, mas engajado economicamente aos
Estados Unidos, tinha tendências ao bloco socialista. Foi abandonado pela UDN,
com uma política inflacionária sem sucesso e sem apoio, Jânio renunciou em 25
de agosto de 1961, porém nunca se soube exatamente os motivos da renúncia.
22

O breve mandato de Jânio não provocou mudanças na educação, porém


para os estudantes foi marcada, pela:

[...] criação do CPC e da UNE Volante, foi naquele mesmo ano que, pela
primeira vez, uma liderança forjada na Igreja Católica chegava à
presidência da União Nacional dos Estudantes. O feito coube a Aldo
Arantes, da JUC (Juventude Universitária Católica) [...] depois ajudaria a
criar a AP (Ação Popular), [...] ligada a setores católicos progressistas.
(CINTRA, MARQUES, 2009, p. 89).

Em 1961, a principal ação do movimento estudantil foi a Campanha da


Legalidade, exigindo a posse de Jango na Presidência, quando os militares
contrários ao comunismo, rasgariam a Constituição para tomar o poder. Da “crise
de sucessão” originou-se a Campanha da Legalidade, quando o governador do
Rio Grande do Sul Leonel Brizola, liderou a campanha, com discursos no Palácio
Piratini e através das rádios, como a “Rede Radiofônica da Legalidade”
comunicando as “decisões de seu governo e a normalização do país”.
Envolvidos com a campanha, os estudantes saíram às ruas, e a adesão
foi aumentando, trabalhadores, intelectuais, escritores, inclusive a participação
dos times gaúchos Grêmio e Internacional.
A UNE transferiu-se para o Rio Grande do Sul, em parceria com a UEE-
RS (União Estadual dos Estudantes do Rio Grande do Sul) convocando
manifestações, montando uma “imprensa clandestina”, e ouvindo a rádio do
Brizola, de posse de um mimeógrafo passaram a imprimir as notícias em forma de
panfletagem e distribuída nos bairros, surtindo efeito. Em 02 de setembro
aprovado por emenda, o Congresso, instalou o sistema parlamentarista no Brasil,
que reduziu os poderes da Presidência, e em 07 de setembro de 1961, João
Goulart tomou posse, e de acordo com:

[...] “dados do IBGE: [...] Jango assume a presidência [...] encontra um


Brasil com 70.779.352 habitantes, 39,5% de analfabetos, distribuídos
nas faixas de 15 a 69 anos. Da população estudantil, 5.775.246 alunos
estavam matriculados na rede de ensino primário, 868.178 no ensino
médio, 93.202 no ensino superior e 2.489 nos cursos de pós-graduação”,
escreve a historiadora Helena Bomeny, em artigo para o site do CPDoc-
FGV. (CINTRA, MARQUES, 2009, p. 91).

Sendo aprovada a Lei de Diretrizes e Bases em dezembro de 1961,


Jango entusiasmado pelos programas de alfabetização de adultos, movimentos
23

sociais e o ingresso ao ensino superior, deu espaço à “pedagogia da libertação”,


idealizada por Paulo Freire, educador pernambucano. No início dos anos 1960, o
sistema absorvia 9% das matrículas para jovens em idade secundarista. Neste
período, destacou-se o movimento estudantil, quando surgiu a (Ação Popular)
controlando a hegemonia da UNE até o golpe de 64. Outras forças de esquerda,
além da Ação Popular, destacavam-se, como o Partido Comunista Brasileiro
(PCB), Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e a Política Operária (Polop).
Com o esforço para promover as “reformas de base”, em 06 de janeiro de
1963, Jango ao comemorar o plebiscito, recupera o presidencialismo. Em meio a
crise política e econômica, a aproximação do presidente aos sindicatos e
movimentos sociais, amedronta a elite. As reformas propunham melhor
distribuição de renda, e a inflação disparava. Nesse período aconteceram os
Jogos Pan Americanos, em São Paulo, marcando o movimento secundarista, que
tinha voltado para ações junto à cultura e ao esporte.
Entretanto, o movimento estudantil e os sindicatos fortalecidos não
impediram os ataques direitistas, o que levou à derrocada do governo de João
Goulart no primeiro trimestre de 1964. Contra tal processo, Jango realizou uma
grande mobilização na Central do Brasil, no Rio de Janeiro, para o Comício
Central, ou Comício das Reformas, comparecendo mais de 300 mil pessoas de
“entidades estudantis, camponesas e sindicais”, para anunciar reformas:

As medidas anunciadas [...] ataque à propriedade privada, que impunha


[...] exclusão e injustiça social. [...] nacionalização das refinarias de
petróleo estrangeiras [...] ampla reforma agrária [...] desapropriação de
terras improdutivas ao redor de rodovias, ferrovias e zonas de irrigação
de açudes públicos e federais [...] reforma fiscal, bancária e
administrativa [...] aluguéis tabelados, e os imóveis ociosos,
desapropriados por utilidade social. Analfabetos e militares de baixa
patente [...] direito ao voto. (CINTRA, MARQUES, 2009, p. 97).

Na semana seguinte, foi organizada uma “passeata anticomunista” com


participação de 300 mil pessoas, pedindo a cabeça do presidente “socialista”, era:

A Marcha da Família com Deus pela Liberdade, promovida pela


Campanha da Mulher pela Democracia (CAMDE) e pela Sociedade
Rural Brasileira (SRB), com o apoio do Governador de São Paulo,
Adhemar de Barros. Compareceram [...] o presidente do Senado, Auro
de Moura Andrade, e o governador da Guanabara, Carlos Lacerda.
(CINTRA, MARQUES, 2009, p.98).
24

Em 1º de abril de 1964, Dia da Mentira, apoiados pelas elites e pela


Central de Inteligência Americana (CIA), os militares tomaram o poder e houve
manifestações dispersas de trabalhadores e estudantes pró-Jango, além da
tentativa de uma greve geral dos estudantes. O presidente da UNE era o José
Serra, quando “[...] estudantes e todos os manifestantes, ao chegarem, viram que
o exército tinha mudado de lado”, depõe Artur José Poerner ao MME. Temendo
“derramamento de sangue”, e após alguns dias, o presidente não resistiu
exilando-se para o Uruguai.
Estando as bases políticas de Jango sem estrutura e à míngua, o
Congresso toma suas providências:

O Congresso, aliado aos golpistas, deu sustentação ao golpe e indicou


em 2 de abril, o presidente da Câmara dos Deputados, Ranieri Mazzilli,
para assumir interinamente a vaga de Jango. No mesmo dia, o General
Costa e Silva declarou aos comandos militares que assumiria o cargo de
Comandante-em-Chefe do Exército, autonomeando-se presidente do
Brasil. Com o Ato Institucional 1 (AI-1), de 10 de abril, os militares
cassaram direitos políticos de João Goulart por dez anos.(CINTRA,
MARQUES, 2009, p. 101).

A história da UBES foi marcada por muitas vitórias e derrotas, mas nada
foi pior que o Golpe de 1964, as entidades estudantis estavam desde o princípio
na “lista de morte” do regime militar (1964-1985). Com a destituição do governo
reformista de João Goulart e o golpe de 1º de abril de 1964 foi que,

Os militares intensificaram a perseguição às forças progressistas e


democráticas. Conforme assinala Artur José Poerner, em O Poder
Jovem: os estudantes “passaram, automaticamente, à condição de
elementos de alta periculosidade para a segurança nacional, aos olhares
‘eternamente vigilantes’ das novas autoridades”. Ser estudante equivalia
a ser ‘subversivo’. (CINTRA, MARQUES, 2009, p. 102).

As perseguições foram recorrentes e o enfrentamento marcou os


estudantes de forma brutal,

[...] declara ao MME o músico Carlos Lyra, um dos líderes de Centro de


Cultura Popular (CPC) da UNE. “No momento que nós entramos, nós
começamos a ouvir as rajadas de metralhadora. Os caras estavam
chegando e metralhando. E como havia um vão na parede de prédio da
UNE, eles atiravam pelo vão para que as balas ricocheteassem e nos
atingissem lá dentro. Então foi uma noite muito angustiante mesmo”.
25

O Ato Institucional Número 1 (AI-1), editado pela ditadura, os militares


mostram o autoritarismo, a cassação política dos opositores. A
monstruosidade não para, como relata o artista plástico Ferreira Gullar,
ex-integrante de CPC, “De repente ficamos parados em frente à sede da
UNE, e, em volta de nós, uma multidão furiosa, com bombas de molotov
e com revolveres, dando tiros e jogando bombas de molotov na sede.
Como relatam as historiadoras Angélica Müller e Tatiana Rezende, “o
regime assim, momentaneamente, ganhava uma batalha”. O prédio da
UNE depois de incendiado, foi fechado. Em 1966 o governo decreta a
Instalação do Centro de Artes da FEFIERJ (Federação das Escolas
Federais Isoladas do Rio de Janeiro) que passava a funcionar na Praia
do Flamengo, 132”.
No regime militar foram cinco generais que marcaram duramente a vida
dos estudantes e do povo brasileiro, sendo oprimidos pelas atrocidades
cometidas pelos militares. O primeiro presidente do regime foi o general
Humberto de Alencar Castelo Branco, que tinha como base de governo
os decretos-leis e os atos institucionais, e os poderes Legislativo e
Judiciário eram figurativos, embora não representasse a “linha-dura” em
sua gestão na “longa noite” aconteceram “cassações, prisões políticas,
censura, torturas e exílios.” A repressão militar causou pânico nos jovens
estudantes que ficaram na mira dos militares, inclusive o afastamento de
autoridades experientes. “A repressão policial militar, sofrida pelos
estudantes sob o governo de Marechal Castelo Branco, além de tornar
difícil a recapitulação de todas as violências contra eles cometidas,
produziu um estado de perplexidade numa geração que só conhecia a
ditadura de ouvir falar ou de ler nos livros”, escreve Poerner. (CINTRA,
MARQUES, 2009, p. 102-104).

O trauma causado pela Lei Suplicy, acabando com a UNE, UBES e a AMES,
deixou profundas marcas na vida dos estudantes. Fragilizados pelas atrocidades
dos militares, os secundaristas foram os que mais sofreram com a ditadura, seus
líderes foram perseguidos, presos, tiveram suas sedes invadidas e depredadas,
além do envolvimento das entidades em Inquéritos Policiais Militares (IPMs), o
movimento estudantil secundarista foi desarticulado. Além da perversidade ao
movimento a Lei Suplicy na opinião do PCB (Partido Comunista Brasileiro), foi:

Um instrumento legal de repressão ao movimento estudantil. Aos


estudantes secundaristas, o ministro Suplicy de Lacerda direcionou
especialmente um parágrafo da lei: “Nos estabelecimentos de ensino de
grau médio, somente poderão constituir-se grêmios com finalidades
cívicas, sociais e desportivas, cuja atividade restringiria aos limites dos
estabelecidos no regimento escolar devendo sempre ser assistido por
um professor”. O governo Castelo Branco criou ainda os “ginásios para o
trabalho” e limitava as manifestações culturais. “Há completa falta de
bibliotecas, de publicações, exposições, de materiais esportivos. Não há
estímulo à organização das bandas musicais, corais, teatros, programas
culturais no rádio e TV, seminários e um verdadeiro mundo de outras
coisas”, denunciava o Informe Secundarista. (CINTRA, MARQUES,
2009, p. 106-107).
26

A Lei Suplicy criou um similar ao movimento secundarista, o DNE


(Diretório Nacional Estudantil), mas os secundaristas persistiram mantendo a
UBES funcionando mesmo na ilegalidade. Assim, as entidades secundaristas e
universitárias continuavam atuando abertamente, embora a UBES não tenha
conseguido realizar nenhum congresso nos anos de 1964, 1965 e 1966. Com
muita insistência as entidades mantiveram-se abertas e alguns grêmios de
escolas maiores atuavam com a supervisão das “autoridades educacionais”, não
tendo independência. Para os estudantes a alternativa que lhes restara era unir-
se contra a ditadura, por mais desfavorável que fosse:

A Lei Suplicy de Lacerda apresentou, contudo, um grande mérito: o de


aglutinar, na luta pela sua revogação, o movimento estudantil, que
atravessava naturalmente uma fase de reorganização, como
consequência da perseguição aos seus líderes os membros da Diretoria
que se encontravam à frente da UNE, sob a presidência de José Serra,
em 1º de abri de 1964 estavam no exílio, na prisão ou desaparecidos.
POERNER, 1979, p. 231).

Como a Lei Suplicy proibia os estudantes de se organizarem, estes


realizaram uma campanha para derrubar a lei e pela legalização das entidades.
Uma das ações foi o boicote às eleições do DNE e mobilizaram os estudantes
contra os acordos do MEC-USAID, que segundo Poerner: “constituíram o ponto
chave da política de desnacionalização do ensino brasileiro, mas não
representaram a única e nem a primeira tentativa norte-americana nesse sentido”
(POERNER, 1979, p. 233).
Os protestos continuavam crescendo, além da perseguição aos
estudantes foi extinto o Comando Geral dos Trabalhadores (CGT), no governo
Castelo Branco, e outras lideranças foram enquadradas na Lei de Segurança
Nacional:

O AI-2(outubro de 1965) detonou novas cassações, extinguiu os partidos


e decretou eleições indiretas para presidente. [...] AI-3(fevereiro de
1956), disputas [...] governos estaduais [...] ficaram indiretas [...] prefeitos
[...] nomeados. O descontentamento [...] se alastrava a mais setores da
sociedade. (CINTRA, MARQUES, 2009, p. 110).

Em 1964, a UBES se organizava para programar suas ações para o ano


seguinte, embora sem diretoria, liderada “pelos quadros do PCB” e aderida pelos
27

grandes colégios que defendiam as bandeiras de luta. Em 1966, na convocação


do Congresso da Ames, marcado no Sindicato dos Metalúrgicos do Rio de
Janeiro, houve reação da ditadura invadindo o encontro por agentes da Dops
(Departamento de Ordem Política e Social) não chegando ao fim, tendo a
entidade uma direção provisória.
Após quatro anos, a UBES realiza o Congresso Nacional dos Estudantes
Secundários (1967), tendo como local do encontro o restaurante Calabouço, para
enganar os órgãos de repressão, mas às vésperas da eleição o líder Fernando
Sarmento (PCB) foi preso e a presidência da UBES ficou a cargo de Tibério
Canuto de Queirós Portela.
Entre os protestos, o mais ousado contra o regime ocorreu no Aeroporto
de Guararapes, em Recife, quando da explosão de uma bomba que vitimou três
pessoas. As manifestações eram contínuas, sendo o presidente da República o
“linha-dura” Artur da Costa e Silva. Em seus primeiros meses de governo os
estudantes fragilizados e na clandestinidade, conseguem realizar encontros,
debates e manifestações, porém:

Os universitários promovem o 29º Congresso da UNE, renovando sua


direção e elegendo Luís Travassos para presidente. Já a UBES [...]
conseguiu finalmente realizar mais um Congresso [...] após três anos de
espera. Os Secundaristas, [...] já davam algum sinal de fortalecimento
antes de 1968. Protestos contra o ensino imposto pelos militares e o
acordo MEC-Usaid pipocavam em vários estados [...] como a Bahia. [...]
manifestações com 10 mil, 15 mil pessoas. [...] manifestações de manhã,
tarde e noite, lembra o ministro da Cultura do governo Lula e ex-
presidente da UBES, Juca Ferreira. Segundo ele, ‘1967 foi um ano de
intensa manifestação do movimento secundarista na Bahia, [...] porque
eram os que seriam mais afetados por aquela reforma de ensino’. “De
setembro de 1966 até meados de 1968, as lutas estudantis [...] não
assumiram mais caráter nacional”, escreve Artur José Poerner no livro O
Poder Jovem. “De acordo com o escritor, outra novidade das
manifestações, sobretudo as passeatas, era a “participação maciça” – e
mesmo majoritária - de estudantes secundaristas”, o que refletia a
composição do corpo discente no Brasil. Segundo o Censo Escolar de
1964, havia na época pouco mais de 1,8 milhões de secundaristas e
apenas 137 mil universitários.(CINTRA, MARQUES, 2009, p. 119 -
120).

Os festivais foram a marca da rebeldia. A TV Excelsior promoveu o 1º


Festival de Música Popular Brasileira em abril de 1965, quando a:
28

[...] vencedora foi Arrastão, de Edu Lobo e Vinícius de Moraes. [...] ano
seguinte [...] festival realizado pela TV Record [...] campeãs A Banda de
Chico Buarque e Disparada composta por Geraldo Vandré e Teo Barros.
[...] 3º Festival de Música Popular Brasileira, o “festival da virada” de
1967. Várias composições [...] Prêmio Sabiá de Ouro se tornaram
clássicos da MPB, [...] Domingo no Parque (Gilberto Gil), Roda Viva
(Chico Buarque) e Alegria, Alegria (Caetano Veloso) [...] as três músicas
ficaram mais famosas até do que a Vencedora, Ponteio de Edu Lobo e
Capinam. (CINTRA, MARQUES, 2009, p. 120).

Entre um festival e outro, em 1967, o governo de Castello Branco


extinguiu o Diretório Nacional dos Estudantes que havia substituído a UNE. O
Decreto-Lei 288 revogava a Lei Suplicy e proibia a organização de qualquer
entidade estudantil, deixando a situação mais difícil para os estudantes. O
ministro de Guerra Costa e Silva, em 8 de setembro de 1965, fez um depoimento
prometendo ao povo quando chegasse à presidência não “alijar os estudantes da
vida pública”, porém a arbitrariedade e a repressão da era Castello Branco se
intensificaram, inclusive das manifestações de 1968, iniciando a “fase sombria do
regime militar”. A repressão intensificou-se no governo de Costa e Silva.
O grande marco dos conflitos entre o movimento estudantil e a ditadura
militar foi a morte do estudante secundarista Edson Luís de Lima Souto, no Rio de
Janeiro em 1968, sendo assassinado em frente ao Restaurante Central dos
Estudantes, conhecido como Calabouço, durante uma manifestação. Os
subsídios repassados pelo Ministério da Educação no governo de Costa e Silva
diminuíram, a ponto de interromper a reforma do refeitório sem explicações, além
de ameaças dos militares com sua demolição para construir um viaduto. Os
protestos continuaram em “28 de março de 1968, uma quinta feira” os estudantes
organizavam uma passeata reivindicando melhorias para o Calabouço e fim da
ditadura militar, a polícia foi avisada com antecedência cercando o prédio e
criando um clima de guerra, e com ordens para atacar. “O Calabouço foi
metralhado sem parar”, quando:

Uma bala perdida atingiu o comerciário Telmo Matos Henrique. Dois


estudantes foram atingidos – o próprio Edson Luís, no peito, e [...]
Benedito Frasão Dutra, no braço e na cabeça [...] Edson Luís e Benedito
Frasão Dutra [...] levados a Santa Casa de Misericórdia [...] nenhum
sobreviveu [...] Edson Luís chegou ao hospital sem vida, vítima de um
tiro[...] arma calibre 45 [...] aspirante da PM Aloísio Raposo. [...] marca da
covardia [...] indefeso estudante. (CINTRA, MARQUES, 2009, p. 124).
29

A mobilização era intensa, milhares de pessoas foram ao cortejo,


entoavam o Hino Nacional, acenavam bandeiras, as pessoas carregavam velas e
lanternas, pois parte da iluminação não tinha sido acionada. Para Artur Poerner
(1969), “foi o momento de apogeu do movimento estudantil. Os estudantes eram
naquele momento, a vanguarda de resistência à ditadura militar”. (CINTRA,
MARQUES, 2009, p. 128).
A reconstrução da UNE e da UBES, foi marcada por repressão,
crueldade e proibições do regime, contudo os estudantes buscavam a todo custo
reconstruir as entidades.
Em 15 de março de 1974, Ernesto Geisel assume a Presidência
substituindo o general Emílio Garrastazu Médici, o mais agressivo dos generais
da ditadura militar (1964-1985). A chegada de Geisel à Presidência prometera a
“distensão”, o partido do governo a Arena, já não era unânime, demonstrando
claramente que o povo embora amedrontado, procurava reagir, sinais de que o
regime militar estava chegando ao fim. As expectativas do governo de Geisel
eram otimistas, ensaiava o diálogo com a igreja, a oposição e setores intelectuais.
Em 24 de agosto de 1974, o presidente num discurso histórico assumiu que a
“distensão” seria “lenta, gradual, e segura”, mas Geisel não contava com o
crescimento parlamentar do MDB nas eleições do mesmo ano.
A política de “distensão”, segundo o deputado federal e ex-presidente da
Une Aldo Rabelo “funcionou como certo estímulo”. Em depoimento ao MME, Aldo
diz que:
para uma parte de juventude que tinha mais receio de participar da
política, receio de pai e mãe, essa política “distensionou” a vida política
dentro da universidade. Eu lembro que a gente não escutava o Geraldo
Vandré e o Chico Buarque, publicamente. Não queríamos que fosse
público o fato de ouvirmos cantores e compositores que contestavam o
sistema. Havia esse risco [...] passamos a fazer isso publicamente [...]
estimulamos festivais de música dentro da universidade. (CINTRA,
MARQUES, 2009, p. 189).

Enfim, em 1979 é Promulgada a Anistia o que possibilitou que os militares


envolvidos em casos de tortura, assassinatos e desparecimentos forçados não
fossem julgados pelos seus atos. Por outro lado, permitiu que a oposição ao
regime pudesse voltar ao país sem risco de prisão. O tema da anistia
30

frequentemente volta à Justiça para que estes militares e civis envolvidos em


graves violações dos direitos humanos possam ser julgados e que a verdade
venha à tona. A transição política não foi tranquila, inclusive bombas foram
deflagradas por militares insatisfeitos com a abertura política, como nos atentados
ao Riocentro, à OAB e às bancas de jornal. Em 1984, grandes movimentos pelas
Diretas Já! para escolha do próximo Presidente não convencem os deputados e o
Colégio Eleitoral escolhe novamente o governante máximo do país por eleição
indireta. Desta feita, elege-se Tancredo Neves que não assume o posto, ao
falecer dá lugar a um velho aliado da ditadura, José Sarney, a quem coube dirigir
o processo institucional de democratização do país. A Censura, curiosamente só
terminaria 4 anos após o fim do regime autoritário.
Entre os anos de 1987 e 1989, acontecem mudanças nas duas entidades
estudantis, sendo que a UNE pela primeira vez elege um presidente do PT,
rompendo a hegemonia com os oito anos de hegemonia do PCdoB, desde o
Congresso de Reconstrução. Em 1989, a UNE usou o critério da
proporcionalidade para compor a diretoria e o PCdoB participou da direção, tendo
assumido a direção dois anos depois.
Para a UBES, o 26º Congresso, em Brasília, nos dias 16 a 19 de julho de
1987, foi muito:

[...] amplo e representativo [...] reuniu entidades populares, estudantis


[...] parlamentares dos mais diversos partidos, em defesa de uma
Constituinte progressista e do ensino público gratuito. [...] abraçaram o
Congresso Nacional [...] uma bandeira da UBES [...] marcando presença
[...] na elaboração do novo texto constitucional. [...] O congresso serviu
[...] demarcar posições sobre a política nacional [...] um grupo de
delegados liderados pelo MR8, defendia o apoio da UBES ao governo
Sarney [...] demais forças, em lado oposto, acreditavam na autonomia da
entidade operante o governo federal.(CINTRA, MARQUES, 2009, p.
239-249).

Em 1988, um ano de grandes conquistas, apoiados pela UBES, os jovens


comemoraram a aprovação da Constituição Federal, conhecida como
“Constituição Cidadã” que expressa os direitos de participação dos cidadãos. A
Constituição foi aprovada com 355 votos a favor e 95 contra, mantendo a
obrigatoriedade do voto aos 18 anos, e estabelecendo aos jovens de 16 e 17
anos o direito ao voto facultativo. Segundo o IBGE, o Brasil estava com quase
31

seis milhões de jovens que podiam desfrutar desse direito. “A Constituição


garantiu as eleições diretas para presidente, governadores, deputados federais,
estaduais, prefeitos e vereadores.” (CINTRA, MARQUES, 2009, p. 244.245).
Apesar da UBES continuar dividida, foi durante o 28º Congresso Nacional,
que a situação mudou:

No 28º Congresso Nacional da UBES, em Santo André, em setembro de


1989, a União da Juventude Socialista (UJC), em que o PCdoB tem
maioria, consegue reeleger o presidente Manoel Rangel. Mas em
decorrência de cisão criada em 1987, o MR-8 havia criado uma UBES
dissidente, situação que perdurou até 1992, quando um Conselho
Nacional de Entidades Gerais reunificou as diretorias. (POERNER, 2004,
p. 298-299).

No movimento estudantil atuavam diversas correntes políticas que de


certa maneira influenciavam ou participavam na organização e aproximação com
o governo. No movimento secundarista não era diferente, pois: “As principais
correntes políticas que atuavam no movimento secundarista eram o PCdoB, PCB,
MR-8, Libelu e a Convergência Socialista”. (ARAUJO, 2007, p. 263 apud PAIVA,
2011, p. 65).
Quanto ao Congresso de Santo André, a UBES promove antes das
eleições presidenciais de 1989 um debate entre os candidatos. A preferência que
a maioria da sociedade e as entidades estudantis tinham eram pelos candidatos:

[...] o metalúrgico do PT, Luiz Inácio Lula da Silva; [...] Leonel Brizola
(PDT); Mário Covas (PSDB); [...] o peemedebista Ulysses Guimarães.
[...] as elites [...] abraçou ostensivamente o governador de Alagoas [...]
do recém-fundado PRN, Fernando Collor de Mello. (CINTRA,
MARQUES, 2009, p. 246).

A disputa eleitoral no segundo turno entre Collor e Lula foi realizada em


dezembro, Collor que prometera governar para os “descamisados” e “pés
descalços” foi eleito com 35 milhões de votos, sendo “o mais jovem brasileiro
assumir a Presidência da República” em 15 de março de 1990.
Os estudantes voltam às ruas para uma das maiores manifestações,
sendo esta compartilhada com toda a sociedade brasileira:

[...] por patrões, profissionais liberais e trabalhadores, estudantes,


professores e “tubarões” do ensino, jornalistas, editores e barões da
32

mídia, artistas, produtores e empresários culturais, partidos de esquerda,


de centro e até de direita. Instituições tradicionais como a OAB (Ordem
dos Advogados do Brasil) e a ABI (Associação Brasileira de Imprensa)-
com histórico de resistência à ditadura (1964-1985)-engajavam-se agora
na campanha do “Fora Collor”. (CINTRA, MARQUES, 2009, p. 256).

Organizados como nos anos 60, os estudantes se sobressaíram, pintaram


o rosto com as cores da Bandeira Nacional e ficaram conhecidos como os “caras-
pintadas”, liderados pela UNE e UBES e demais entidades. Assim,

[...] foram os primeiros a sacar que os níveis de corrupção,


enquadrilhamento e banditismo no alto escalão governamental haviam
gerado um daqueles momentos decisivos da nação, em que não há
justificativas para a apatia ou omissão de qualquer brasileiro.
(POERNER, 2004, p. 299).

O processo de impeachment do presidente Fernando Collor de Mello se


iniciou em 1992, com os indícios de uma gestão fracassada, com pouco mais de
dois anos de governo, de seu prestígio e a popularidade para a incapacidade. Um
governo eleito democraticamente, que prometia governar para os “descamisados”
e “pés descalços” e assumiu a Presidência aos 40 anos de idade, sendo o mais
jovem político brasileiro, tomando posse em 15 de março de 1990.
“Os materiais e depoimentos, as graves denúncias colhias pela CPI”,
incriminam ainda mais o presidente Collor, e o impeachment se torna realidade:

O Paraná foi o primeiro: a primeira manifestação de envergadura pelo


impeachment aconteceu em 07 de agosto, em Curitiba, com o apoio do
governador Roberto Requião e a presença do recém-eleito presidente da
UNE, Lindbergh Farias, dos presidentes da OAB, Marcelo Lavenère, e
da CUT, Jair Menegueli, bem como de políticos Franco Montoro, Luís
Inácio Lula da Silva e João Amazonas. O ato coincidiu com a invasão
estudantil a Reitoria da Universidade Católica do Paraná, em protesto
contra aumentos abusivos das mensalidades. [...] o reitor ordenou [...] os
funcionários abandonassem o prédio, a ocupação se prolongou durante
um mês e meio [...] os estudantes não só administraram a reitoria como
utilizaram a gráfica universitária para imprimir material de propaganda do
impedimento. (POERNER, 2004, p. 299.300).

As manifestações ecoavam de norte a sul do Brasil, revoltosos pelos


escândalos os jovens liderados pela UNE e a UBES, foram às ruas juntamente
com “milhares e milhares de pessoas ‘trajados de preto’ pintaram o rosto de preto,
em luto contra Collor”. Coincidentemente a música Alegria, alegria de Caetano
Veloso era a trilha sonora da minissérie Anos Rebeldes que se referia ao
33

movimento estudantil de 1968, na ocasião estava sendo “exibida pela TV Globo”,


passando a fazer parte das passeatas.

Com as boas graças da população em geral, indignados com os


escândalos que espocavam quase todos os dias, a campanha dos
“caras-pintadas”- aplaudida até pelo arqui-inimigo Erasmo Dias [...] PDS
em São Paulo – foi crescendo que tingiu o Brasil de verde e amarelo, e
às vezes, de preto enlutado. Levou centenas de milhares de pessoas às
maiores passeatas dos anos 90-mais de 300 mil em São Paulo, em 25
de agosto, só acabou com a derrubada do presidente e a posse do seu
sucessor, Itamar Franco, em outubro de 1992. (POERNER, 2004, p.
300).

A UNE recuperou o prestígio e com Lindbergh Farias (PCdoB)


representante na Câmara dos Deputados, tendo como sucessor Fernando
Gusmão sendo “vereador no Rio” retoma a terreno da UNE roubado dos
estudantes pela ditadura, situado na Praia do Flamengo, 132, fato histórico
comemorado em 17 de maio de 1994, quando Itamar Franco assina o protocolo
de devolução do terreno aos estudantes.
Os estudantes secundaristas após a derrubada de Collor e a ascensão de
Itamar Franco à Presidência, ficou a UBES mais unida e amadurecida para
continuar lutando pelos seus ideais.

MOVIMENTO ESTUDANTIL PARANAENSE

A atuação do Movimento Estudantil Paranaense, não difere da forma


como os demais estudantes brasileiros se organizaram, pois também buscavam
mudanças sociais, políticas e educacionais.
É importante ressaltar que a representatividade do movimento estudantil
conta com duas entidades como a UPE - União Paranaense dos Estudantes, “em
16 de setembro de 1939, é fundada U.E.E. - União Estadual dos Estudantes do
Paraná”, com a finalidade de organizar e ampliar a participação dos estudantes
nos debates sobre as questões educacionais e fortalecer a representatividade do
movimento.
34

Uma das participações expressivas da UPE- União Paranaense dos


Estudantes foi na campanha o “Petróleo é Nosso” onde os estudantes publicavam
seus artigos na “Revista Paraná Universitário e no Jornal Flâmula”.
A ditadura militar marcou também os estudantes paranaenses, pois com a
criação do Ato Institucional nº 1 de 1964, que passou a restringir os movimentos
sociais, inclusive os movimentos estudantis, todo movimento estudantil
paranaense foi também atingido e também pela criação do Ato Institucional nº 4
de 01 de abril de 1969 que decretou a extinção da UNE e demais entidades
estudantis. Como relata Madson Oliveira, jornalista e ex-presidente da UPE 2001-
2003/2003-2004, “em 14 de junho de 1968 o Ministério Público Federal, moveu
uma ação de dissolução e liquidação da sociedade da UPE, com a justificativa [...]
que a entidade havia contraído dívidas, com fornecedores [...] que o patrimônio,
após liquidar as pendências, seria repassado a UFPR”. (OLIVEIRA, 2013, História
da UPE – ANEXO 01).
Nos anos 80, com a reconstrução de várias entidades inclusive a UNE,
para a UPE não foi diferente, que após a ditadura no congresso elegeu seu
primeiro presidente Vicente Palhares. Atualmente aos setenta anos de existência,
a UPE - União Paranaense dos Estudantes continua atuando e defendendo os
direitos dos cidadãos e dos estudantes paranaenses.
A entidade de representação dos estudantes secundaristas do Paraná,
fundada em 17 de junho de 1945 denominada UPES – União Paranaense dos
Estudantes Secundaristas e pelas pesquisas realizadas por Schmitt (2011),
descreve que:

Art.1º - A União Paranaense dos Estudantes Secundários – UPES [...] é


uma entidade estudantil, de cunho assistencial, que visa a melhoria das
condições de vida, a elevação de nível intelectual e o aumento das
condições de estudos, do corpo discente dos Estabelecimentos de
Ensino Secundário e do grau médio do Estado do Paraná, através de
congregação dos Grêmios Estudantis e Uniões Municipais Secundaristas
desta Unidade de Federação. (Pasta da UPES nº.2331, topografia 265
apud SCHMITT 2011, p. 110).

Os relatos da atuação e organização da UPES serão discorridos pela


pesquisa realizada por Schmitt (2011) nos documentos da DOPS, que segundo a
autora “devido as pastas da DOPS não estarem organizadas de maneira
35

adequada para a realização da pesquisa”, o que dificulta uma sequência dos fatos
e da forma que se organizavam os estudantes secundaristas.
Durante a ditadura militar foram usados órgãos de repressão para
controlar a ação dos cidadãos, como as DOPS, para observar as pessoas que
supostamente ofereciam perigo ou atentavam contra o Estado ou a Segurança
Nacional, na visão da ditadura.
As instituições policiais tinham como objetivo controlar as pessoas e as
instituições que por suas ações podiam ser consideradas “comunistas” e ou
“subversivas”, como destaca: “perseguição aos movimentos da pessoa suspeita;
violação de correspondência; prisão sem culpa formada; acusações, inquéritos,
conclusões sem provas, entre outras” (MACIEL, 2000 apud SCHMITT, 2011, p.
89). Assim
“A organização e atuação das delegacias de ordem política e social
cumpre um roteiro: a) investigação: ocorria por meio de coleta de dados
e vigilância preventiva daquele considerado suspeito e os dados
coletados poderiam ou não fazer parte de um prontuário de instituição ou
indivíduo investigado; os documentos coletados eram: radiogramas,
fotografias, recortes de jornais, entre outros; b) censura: caracteriza-se
no procedimento adotado após a investigação ou paralela a ela, quando
averiguada a existência de alguma atividade que representasse
subversão, era então feito controle político-cultural ou de qualquer forma
de expressão que significasse ameaça à ordem estabelecida; c)
repressão: digamos que esta seria a última instância da polícia política e
que ocorria após constatado que havia atividade subversiva, sendo que
as ações poderiam ser a princípio através de perseguição política até a
ações de castigos físicos, caracterizados como tortura”(RONCAGLIO,
1998 apud SCHMITT, 2011, p .89).

O controle sobre as pessoas e as instituições como forma de garantir a


“segurança nacional” não se extinguiu, apesar do fim da ditadura civil-militar,

[...] embora os registros das ações dos Dops estejam associados aos
períodos de ditadura na República brasileira, esse Departamento, assim
como outras instituições de informação política do Estado, nunca foi
extinto. Sempre existiram, quer o governo fosse mais ou menos
democrático ou mais ou menos ditatorial. A preocupação com a
informação sempre foi uma “questão de segurança nacional”. O que
demarca as diferenças são, entre outros aspectos, as formas de obter os
dados, as informações sobre as condutas individuais; as nuanças de se
respeitar os direitos civis. (KUSHNIR, 2002, p.561 apud SCHMITT, 2011,
p. 89).

Nesse sentido, Fiuza relata que nesse período as atividades de vigilância


realizadas pela DOPS podiam acontecer “[...] ainda hoje por um dos setores das
36

polícias estaduais, a chamada Polícia Reservada (P2)” (2006, p. 24, apoud


Schmitt, p. 90).
As DOPS ou os DOPS, durante a ditadura civil-militar atuaram em
momentos distintos e intensos como descreve Kushnir:

No papel acumulador e gerenciador de informações, fazendo-as circular


e abastecendo órgãos de inteligência de dados, os Dops estaduais
viveram em uma só década-de1968 a1979 (do AI-5 à Anistia) – seu
apogeu, crise e início do processo de extinção. (KUSHNIR, 2002, p. 559
apud SCHMITT, 2011, p. 90).

O período de atuação dos órgãos de repressão foi intenso

Como é sabido, houve variações na intensidade da repressão durante a


Ditadura Militar: em certos momentos, como na fase imediatamente
posterior ao golpe ou na conjuntura que se iniciou em 1968, a repressão
foi muito intensa; em outras fases, como no período seguinte às
primeiras punições (junho de 1964 a outubro de 1965) e durante a
“distensão” e “abertura” políticas promovidas nos governos Geisel e
Figueiredo, o número de punições decresceu. (FICO, 2001, p.18 apud
SCHMITT, 2011, p. 90).

Sete anos após a extinção das DOPS, que se deu por volta de 1984, os
arquivos e documentos da polícia política do Brasil, foram abertos às pesquisas,
mas pela forma inadequada de arquivar, o descaso na conservação e o local de
guardá-los, dificultou o acesso aos pesquisadores, assim:

Durante o ano de 1991, se efetivaram as devoluções aos órgãos de


arquivo, dos acervos das polícias políticas dos Estados de Pernambuco,
Rio Grande do Sul, Paraná e São Paulo. E em cada um desses Estados
havia uma situação peculiar quanto à tipologia documental, às datas-
limite e, também quanto ao processo de recolhimento, propriamente
executado. A devolução se fez graças à luta pelos direitos humanos
consagrada, no texto constitucional em vigor, no princípio do habeas-
data, expressão latina, que significa “tenhas a tua informação”.
(DOCUMENTO DOPS RJ, 1996, p.19 apud SCHMITT, 2011, p. 90).

Para acessar os arquivos da DOPS, há uma legislação e normatização,


pois implica no passado das pessoas vítimas de tortura e repressão, como
também sobre o passado do país durante o período da ditadura.
No Paraná a legalidade foi instituída pelo Decreto Estadual nº 577, de 11
de junho de 1991, “[...] que extinguiu a Subdivisão de Segurança e Informação da
Polícia Civil – SSI, anteriormente denominada Delegacia de Ordem Política e
37

Social – DOPS e transferiu o seu acervo documental ao Departamento Estadual


de Arquivo Público – DEAP”. (RONCAGLIO, 1998, p.41 (51) apud SCHMITT,
2011, p. 91).
Quanto ao acervo da DOPS no Estado do Paraná este é:
resultado de atividades de investigação, vigilância e controle feitas pela
Chefatura da Polícia no começo do século, pelo Comissariado de
Investigação e Segurança Pública na década de 1920, pelas Delegacias
de Vigilância de Investigação e Delegacia de Vigilância e Capturas, na
década de 1930, até transformar-se em Delegacia de Ordem Política e
Social, criada pela Lei nº177, de 05 de março de 1937, com atuação até
a década de 1990. (RONCAGLIO, 1998 apud SCHMITT, 2011, p. 91).

Para o pesquisador ter acesso ao acervo da DOPS, é necessário assinar


um Termo de Responsabilidade, que transfere ao pesquisador a responsabilidade
de utilização dos dados pesquisados junto ao Arquivo Público do Paraná, que é
normatizado pelo Decreto nº.4348 de 29 de junho de 2001.
Desta forma os documentos da DOPS, utilizados como realização de pesquisas,
tem algumas particularidades:

Vale ressaltar que a documentação dos arquivos dos DOPS somente foi
liberada no início da década de 1990 e é possível que ela tenha sido
dilapidada por setores dos governos estaduais e federais, bem como
pelas polícias estaduais e pela polícia federal. Outro dado é que, apesar
dos êxitos, os DOPS entre 1982 e 1983, os serviços de informação
continuaram operando em sua tarefa de investigação política até o final
da década de 1980, em particular, junto ao acompanhamento de
sindicatos, partidos políticos, movimentos sociais e estudantis,
comunidades eclesiais de base, grupos de luta pela terra, entre outros.
(FIUZA, 2006, p. 24 apud SCHMITT, 2011, p. 92).

Quanto a UPES, muitos documentos foram encontrados com informações


nas pastas/dossiês sobre os eventos e a organização dos estudantes
paranaenses, como descreve Schmitt:

[...] materiais diversos [...]-ofícios, fotos, relatórios dos eventos, recortes


de reportagens, [...] tinha como objetivo demonstrar atos de subversão
ou [...] justificar que os estudantes organizavam-se dentro da legalidade.
Há documentos produzidos pela polícia política [...] pelos estudantes, os
quais solicitavam permissão para realizar seus eventos, atestados de
boa conduta, tanto da UPES, [...] membros da diretoria [...] informações
sobre os eventos [...] convites para que as autoridades da polícia política
participasse. (SCHMITT, 2011, p. 92).
38

Os relatos da pesquisa nos documentos da DOPS-PR, Schmitt 2011 traz


relevantes informações que estão diretamente ligadas à atuação de UPES com
relação ao período de repressão da polícia política. (grifo nosso).
A expressão de como atuou a DOPS, apesar de não optar pela repressão
violenta a autora encontra

[...] nos arquivos da DOPS recorte (53) de uma reportagem do Jornal


Correio de Notícias, de 21 de junho de 1979, na qual o então deputado
estadual Nelton Friedrich questionava o governo do Estado sobre a
destinação dos bens da entidade que representava os estudantes
universitários no Estado, a UPE” (SCHMITT, 2011, p. 95).

Em relação a essa matéria Heller descreve:

No dia da eleição de Stênio Sales Jacob à presidência da UPE, o


presidente Costa e Silva baixou decreto extinguindo a entidade. A polícia
federal invadiu a sede, levando máquinas de escrever, uma estação de
radioamador, objetos pessoais dos estudantes e muitos livros. (HELLER,
1998, p.299 apud SCHMITT, 2011, p.96).

Podemos observar que a polícia política e os estudantes universitários


paranaenses não tinham uma relação amistosa, pois a UPE foi invadida e extinta
como entidade de representação dos estudantes, tendo seus bens confiscados.

MOVIMENTO ESTUDANTIL NA REGIÃO OESTE DO PARANÁ

Destacaremos o movimento estudantil paranaense, como um recorte de


estudo da região Oeste do Paraná, utilizando como referência a obra
“Encontros e Desencontros do Movimento Estudantil Secundarista
Paranaense (1964-1985)” de Silvana Lazzarotto Schmitt de 2011.
Devido à escassez de material de pesquisa esta obra define-se como um
trabalho de entrevista a alguns cidadãos que fizeram parte do movimento
estudantil no período de controle da ditatura e ainda estão vivos. Caracteriza-se
dessa forma que o movimento existiu. Foram entrevistadas pessoas residem em
Cascavel, Foz do Iguaçu, Palotina.
Não há nessa obra nenhuma citação de morte, tortura ou repressão ao
Movimento Estudantil, pois os arquivos liberados para pesquisa não dispunham
39

desse material. Há que se considerar que, um Brasil autoritário, não abriu e quiçá
abrirá tão “espontaneamente e rapidamente” seus arquivos, embora podemos
considerar que numa democracia já se faz tardia tal ação.
O Movimento Estudantil na região Oeste do Paraná aconteceu em
Grêmios, legalmente constituídos nos colégios estaduais os quais realizavam
encontros, eventos com o objetivo de angariar fundos para compra de materiais
necessários às escolas. Evidencia-se nesses relatos que a polícia política do
Paraná tinha total controle das ações desses estudantes, os quais eram de certa
forma condescendente com os eventos, já que os mesmos não tinham caráter
revolucionário. Eram por assim dizer tímidos.
Como estamos revendo a história, nem sempre escrita, importante
relembrar que a história do Paraná não aconteceu em revelia ou
descontextualizada do restante do Brasil, outrora cabe afirmar que a
impossibilidade em tecer maiores comentários acontece devido a não existência
no momento de material para tal. Parafraseando Paulo Freire “a história
prossegue, as experiências prosseguem, prosseguir-se, educar-se para refazer-
se”. (FREIRE, 1997, p. 50).

GRÊMIO ESTUDANTIL - ESPAÇO DE DISCUSSÃO DEMOCRÁTICA

“Eu acredito é na rapaziada


Que segue em frente e segura o rojão
Eu ponho fé e na fé da moçada
Que não foge da fera, enfrenta o leão
Eu vou à luta com essa juventude
Que não corre da raia a troco de nada
Eu vou o bloco dessa mocidade
Que não tá na saudade e constrói
A manhã desejada”...

(Gonzaguinha).

O movimento estudantil desde o seu surgimento até os dias de hoje


desdobrou-se em vários seguimentos como a UNE, a UBES e o Grêmio
Estudantil que teve sua origem no Brasil Colônia, porém na atualidade devido a
ditadura militar é pouco atuante e muitas vezes desprezado pelos
estabelecimentos de ensino e a sociedade.
40

A partir da vivência que as contradições que o regime militar apresentava,


foram surgindo os movimentos dos grêmios como resposta da luta dos estudantes
pela liberdade, pela dignidade, pelo direito a educação, o direito de ir e vir e
finalmente pela democratização de um país alijado aos comandos absolutistas
dos governantes.
Os grêmios estudantis apresentavam um caráter político-social tendo
grande representatividade na sociedade, pois dele faziam parte jovens estudantes
de cursos universitários e secundaristas. Veemente reprimido pelo regime militar,
de acordo com Rodrigues:

Os grêmios estudantis existiram ou coexistiram com o período ditatorial


militar no Brasil. No ano de 1968 foram extintos pelo Decreto-lei – AI-5 –
Ato Institucional nº5, publicado em maio do ano supracitado. A
substituição se deu por meio da criação dos Centros Cívicos. [...] as
propostas do grêmio estudantil e dos centros cívicos existem importantes
diferenças nas bases de suas formulações.
Os grêmios [...] resultado da luta dos estudantes por maior liberdade, da
consciência política [...] adquirida a partir da vivência [...] as contradições
presentes no regime militar. Centros cívicos [...] ideia de culto à Pátria
[...] valorização de símbolos e signos ‘patrioticamente’[...] para figurar na
memória do estudante. (RODRIGUES, 2012, p. 124).

A Secretaria de Educação do Paraná apresenta na forma de gibi, que tem


como destaque de capa (1985), adolescentes representando a organização dos
estudantes, estimulando-os para que participem na formação e atuação dos
grêmios nas escolas, dando a ideia de que, essa formação livre resgata o sentido
democrático e o sentido político da educação.

Brasil!
Mostra a tua cara
Quero ver quem paga
Pra gente ficar assim
Brasil!
Qual é o teu negócio?
O nome do teu sócio?
Confia em mim
Brasil!

Cazuza, 2012.

Ao analisar a letra da música, em quem o compositor buscou inspiração


para dar essa mensagem? Refletindo nos reportamos aos jovens que precisam
41

apropriar-se da história, buscar esclarecimento sobre os fatos, fazer-se conhecido


e sujeitos da própria história.
Compreendemos que é no espaço escolar que se recebe os primeiros
princípios democráticos, haja vista a organização institucional e se incorpora as
novas formas de discussões que dão sustentação ao processo de participação
com base na cidadania e democracia. Entretanto o antagonismo de ideias que se
faz presente em cada espaço é o ponto de partida para os debates e embates
para a transformação social. Isso demonstra que viver em sociedade não é um
movimento mecânico, automático ou neutro e sim que as relações sociais
demandam confrontos, oposições, insatisfações que mexem com as estruturas
estabelecidas. E é no espaço escolar que isso acontece. Sob esse enfoque há
que assegurar um modelo de escola que cumpra sua função precípua que é a de
garantia dos conteúdos historicamente acumulados pela sociedade e dessa forma
a emancipação das classes populares que dela fazem parte.
Nas últimas décadas vem se falando em gestão democrática, mas o que
isso implica na relação dos sujeitos enquanto organização e participação? Implica
em organização o que está prescrito na Constituição Federal no inciso lV do artigo
206/1988, determina sobre a “gestão democrática na forma da Lei’, o que reforça
esse princípio a LDB-Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional-Lei
9394/96, estabelecendo em seu artigo 3º, inciso VIII, um dos princípios que rege o
ensino é a gestão democrática.
Para compreender essa relação, precisamos entender os conceitos de
cidadania e democracia, possibilitando aos sujeitos seus direitos e ao exercício
consciente da participação como forma de transformação, afinal:

Cidadania pressupõe o Estado de direito [...] da igualdade


de todos perante a lei e do reconhecimento de que a
pessoa humana e a sociedade são detentores inalienáveis
de direitos e deveres. Processos participativos acentuam
[...] a cidadania organizada [...[não a individual, por mais
que esta também tenha a razão de ser. A organização
traduz um aspecto importante da competência
democrática.(DEMO, 2009, p. 70).

.
GRÊMIO ESTUDANTIL – QUAL NOSSA ORIGEM E A QUE VIEMOS?
42

No pré-Golpe de 1964 e mesmo durante parte da ditadura, os grêmios


estudantis apresentavam um caráter político-social tendo grande
representatividade na sociedade, pois dele faziam parte jovens estudantes de
cursos universitários e secundaristas.
Em 1968, a repressão e a violencia abateram-se sobre o movimento
estudantil em todo o País, com a morte do estudante secundarista, segundo
Poerner “a morte de Edson Luís constitui um marco na história brasileira -
despertando forças de oposição e protestos até então aparentemente
adormecidas”.(POERNER,1979, p. 301).
Entre outras manifestações, merece destaque a Marcha de Protestos ou
dos Cem Mil, que gerou perspectivas de abertura democrática, onde livros foram
publicados, artigos denunciando o regime militar, canções de protestos como a de
Geraldo Vandré, “Pra não dizer que não falei das flores e Caminhando”.
(FÁVERO, 1994, p. 57).
Em 14/10/1968 a UNE-União Nacional dos Estudantes realiza o XXX
Congresso Nacional dos Estudantes. O Estado vivia um período de turbulência e
opressão, o que gerou reações militares severas:

[...] no dia 13/02/68 foi outorgado o AI-5, o mais drástico de todos os atos
institucionais [...] fechamento do Congresso; intervém-se em estados e
municípios e nomeiam-se os respectivos interventores; intensifica-se os
decretos de suspensão de direitos políticos de oposicionistas pelo prazo
de dez anos; cassam-se mandatos eletivos federais, estaduais e
municipais [...] suspende a garantia do habeas corpus nos casos de
crimes [...] a ordem econômica e social, e economia popular.
(FÁVERO,1994, p. 57).

A população brasileira estava por presenciar os mais sombrios períodos


nunca antes vividos, sendo a submissão a total ditadura de seus governantes com
morte ou prisão de seus oposicionistas. Dessa forma o movimento estudantil
enfraqueceu. Reprimidos pelo regime militar
os grêmios estudantis existiram ou coexistiram com o período ditatorial
militar no Brasil. No ano de 1968 foram extintos pelo Decreto-lei – AI-5 –
Ato Institucional nº5, publicado em maio do ano supracitado. A
substituição se deu por meio da criação dos Centros Cívicos.
(RODRIGUES, 2012, p. 124).

GRÊMIO ESTUDANTIL – UM RESGATE HISTÓRICO


43

O sistema educacional brasileiro tem suas origens firmadas na


organização político-administrativa do Brasil Colônia com os padres Jesuítas,
desde início uma “didática importada”. Com o desenvolvimento do Brasil, a
ascensão do movimento estudantil, e a criação da Constituição de 1938,
estabelecendo o ensino primário para difundir a educação básica, os estudantes
secundaristas que vinham se organizando a mais de um século exigindo
mudanças não parando com suas ações estratégicas e transitando de uma
organização recreativa para uma mais política:

Em 1902, surge o primeiro grêmio estudantil em São Paulo, que vai se


fortalecendo. Mas eram grêmios sem caráter político, somente
“recreativos, culturais, de lazer, de cultura”, conforme declaração de
Apolinário Rebelo, presidente da UBES. Essa forma de organização
perdurou por muitos anos, sendo atestada também por José Gomes
Talarico, “o maior movimento estudantil antes foi através do esporte,
inclusive o futebol, atletismo, natação”. (CINTRA, MARQUES, 2009, p.
23).

Os estudantes sempre defenderam a bandeira da democracia onde sua


luta era constante, mesmo com dificuldades faziam suas reuniões e encontros
nacionais para se organizar e não mediam esforços. Qualidade essa destacada
na juventude que não queria submeter-se a decisões arbitrárias.
Em 1984, como afirmamos anteriormente, mesmo com a emenda Dante
de Oliveira derrotada, o Brasil poderia ter um presidente civil. Foi quando José
Sarney (PDS) deixou sua legenda e juntou-se a chapa de Tancredo Neves
(PMDB), sendo candidato à vice-presidente, com apoio dos estudantes. Quando
em 15 de janeiro de l985, eleito Tancredo Neves, que não conseguiu assumir o
cargo devido sua morte em 21 de abril de 1985, assumindo então Sarney o cargo
de presidente, dando por finalizada a ditadura militar.
As leis sancionadas por Sarney foram imprescindíveis no sentido de
estabelecer a democracia, tendo os analfabetos direito ao voto, eleições diretas
para presidente e permitiu o funcionamento dos partidos (PCB) e (PCdoB).Essas
conquistas já eram em anos antes da ditadura sonho e motivo de luta dos
estudantes.
Os estudantes secundaristas em 1985, durante Congresso da UBES
elegem a segunda mulher como presidente, Selma Suely Baçal de Oliveira, tendo
44

a UNE em outubro de 1982, eleita a primeira mulher presidente Clara Araújo,


sendo um marco significativo na história do movimento estudantil e permitindo
vislumbrar a integração da mulher no processo democrático.
A grande conquista na gestão de Selma (UBES) foi a criação da Lei dos
Grêmios Livres, em 04 de novembro de 1985 pelo então Presidente José Sarney,

[...] a Lei Nº 7.398-1985, o u Lei do Grêmio Livre, proposta


na Câmara pelo deputado federal e ex-presidente da UNE,
Aldo Arantes. A medida sepulta para sempre os antigos
centros cívicos e permite “a organização de grêmios
estudantis como entidades autônomas representativas dos
interesses dos estudantes secundaristas, com finalidades
educacionais, culturais, cívicas, desportivas e sociais”.
(CINTRA, MARQUES 2009, p. 229).

Outras legislações também contribuíram para a legalidade dos Grêmios


Estudantis como Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA disposto no
capítulo lV, artigo 53, inciso lV da lei nº. 8.069/90, tendo garantia a representação
dos estudantes.
No Estado do Paraná, a Lei nº 11.057 de 17 de janeiro de 1995, assegura
nos Estabelecimentos do Ensino de 1º e 2º graus, públicos e privados, a livre
organização dos Grêmios Estudantis, e o Artigo 3º - Aos estabelecimentos
paranaenses de ensino caberão assegurar espaço para a divulgação das
atividades do Grêmio Estudantil em local de grande circulação de alunos bem
como para reunião de seus membros.
A LDB 9394/96 de 20/12/96 – reza que a Direção deve dar condições aos
alunos na organização do Grêmio Estudantil, e a participação nos Conselhos de
Classe e Conselho Escolar.
A Secretaria de Estado da Educação reconhece a importância na
formação do Grêmio Estudantil e incentiva os gestores para dar suporte na
organização, valorizando a inserção dos jovens na ocupação dos espaços de
formação para a vida social, política e cultural, como meio para superar os
desafios . “A organização estudantil é a instância onde se cultiva [...] o interesse
do aluno, para além a sala de aula. A consciência dos direitos individuais vem
acoplada à ideia de que estes se conquistam numa participação social solidária.”
(VEIGA, 2007, p. 120).
45

O Grêmio Estudantil é mais que uma entidade, pela representatividade


dos alunos passa a ser uma entidade autônoma, lembrando que autonomia não é
independência, e que estas não podem ser confundidas, que suas ações
favorecem as relações na escola entre a direção, equipe técnica e os demais
seguimentos escolares. A escola se fortalece com suas ações. O grêmio
estudantil não é um órgão contra ou a favor da direção escolar e sim um
instrumento de representação do corpo discente numa sociedade democrática.
Logo,
Para que aconteça uma verdadeira ação educativa na escola, essa deve,
necessariamente, garantir a autonomia dos alunos que interagem no
processo educativo. Para tanto, deve adotar mecanismos que levem em
conta a importância da participação dos alunos e demais integrantes da
organização do trabalho pedagógico. (VEIGA, 2007, p. 123).

O Grêmio Estudantil, por fazer parte das Instâncias Colegiadas, tendo


como princípio a Gestão Democrática, sendo uma das finalidades é apoiar a
direção da escola, embora não tenha fins lucrativos devem estar integrados às
ações que beneficiem à concretização dos projetos existentes na escola.
Essa representatividade e atuação devem ser assim definidas de acordo
com Cabral (2002) que assim classifica o Grêmio Estudantil:

Será que autoritária, não permitindo de forma concreta a participação


dos colegas? Paternalista, que centraliza todas as ações e atividades em
torno de uma pequena diretoria, subestimando a capacidade dos demais
colegas em contribuir com as entidades? Liberal, que permite a
participação de todos, mas ao mesmo tempo não dispõe de um
programa mínimo administrativo que permita identificar uma linha de
atuação? Grêmio festivo, que proporciona lazer, mas distancia das
necessidades básicas do aluno e de sua formação política ou grêmio
democrática, que busque a conscientização, participação e organização
de todos os estudantes na construção de uma nova educação e de uma
sociedade mais justa e igualitária. (CABRAL, 2002 apud MARTINS ).

GRÊMIO ESTUDANTIL COMO ESPAÇO DE CONQUISTAS E PARTICIPAÇÃO

A atuação do Grêmio na escola deve ser considerada pela Direção,


Equipe Pedagógica e demais setores da mesma, envolvendo a participação nos
planejamentos e as atividades que são inerentes a essa representatividade, onde
os resultados são mais coerentes. Assim,
46

Se se pretende com a educação escolar, concorrer para a emancipação


do indivíduo como cidadão partícipe de uma sociedade democrática e,
ao mesmo tempo, dar-lhe meios, não apenas para sobreviver, mas para
viver bem e melhor no usufruto de bens culturais que hoje são privilégios
de poucos, então a gestão escolar deve fazer-se de modo a estar em
plena coerência com esses objetivos. (PARO, 2012, p. 96).

Se o envolvimento do Grêmio Estudantil nas ações da escola viabiliza sua


participação, a integração social fará fortalecer essas ações num espaço de
interdependência cultural. As atividades desenvolvidas pelo grêmio estudantil fará
uma inserção com a comunidade, dessa forma o aspecto social estará
privilegiado.

Se ignora a categoria de ação recíproca, ou seja, que a educação é,


sim, determinada pela sociedade, mas que essa determinação é relativa
e na forma da ação recíproca - o que significa que o determinado
também reage sobre o determinante. Consequentemente, a Educação
também interfere sobre a sociedade, podendo contribuir para sua própria
transformação. (SAVIANI, 1991, p. 95).

2. IMPLEMENTAÇÃO

Esta Produção Didático-Pedagógica será desenvolvida no Colégio


Estadual Monteiro Lobato-EFME no município de Céu Azul, com o objetivo de
apresentar aos alunos recortes históricos do Movimento Estudantil brasileiro e
paranaense, enfatizar a importância da formação do Grêmio Estudantil na escola,
para entender que a representatividade deve ser construída como espaço de
participação, para efetivar a atuação dos alunos na organização do Grêmio Livre.
O projeto será desenvolvido com os alunos do Ensino Fundamental séries
finais e Ensino Médio do colégio, que além do conhecimento, irá despertar a
curiosidade dos fatos ocorridos na trajetória do movimento estudantil, com
interpretação de letras de músicas, estudo de textos sobre a história do
movimento estudantil, visualização de vídeos, debates, seminário, palestra e
elaboração de propostas como sugestão para as chapas que concorrerão às
próximas eleições do Grêmio Estudantil na escola.
A Produção terá uma carga horária de 112 h/aulas, sendo que 20 h/aulas
para preparação do material, 2 h/aulas para apresentação do material aos
47

professores direção e equipe pedagógica, 3 h/aulas para o seminário, 3 h/aulas


para palestras, sendo 84 h/aulas para desenvolver as atividades com os alunos,
divididos em três encontros de 2 h/aulas cada turma, envolvendo alunos dos 9ºs
anos Ensino Fundamental e o Ensino Médio dos turnos matutino, vespertino e
noturno, perfazendo um total aproximado de 700 alunos.
Os encontros acontecerão semanalmente em dias alternados e séries
alternadas, tendo início na primeira quinzena de março de 2014 e término em
junho de 2014, totalizando 03 encontros em cada turma de cada turno. Os
encontros ocorrerão nos períodos diurno, noturno nas dependências do Colégio.

3- ENCAMINHAMENTO
Para esta Produção Didático-Pedagógica, serão desenvolvidas
atividades em forma de seminários, ou seja, “é uma técnica de aprendizagem que
inclui pesquisa, discussão e debate” (LAKATOS, 2003). Onde serão
desenvolvidos temas contendo textos dos relatos históricos sobre o movimento
estudantil brasileiro para fundamentação teórica, slides, vídeos, músicas com as
respectivas atividades a serem desenvolvidas pelos discentes.

4- ORGANIZAÇÃO DOS ENCONTROS

Primeiro Encontro:
Tema: Apresentação do Projeto de Intervenção Pedagógica e Produção Didático-
Pedagógica a comunidade escolar: direção, professores, equipe pedagógica,
funcionários, APMF e Conselho Escolar.
Data: Semana Pedagógica – fevereiro de 2014
Objetivo: Socializar o tema Revendo a história do Movimento Estudantil Brasileiro
que será trabalhado com os alunos no ano letivo de 2014.
Desenvolvimento:
a) Apresentação de banner e exposição nas dependências da escola
contendo síntese do Projeto de Intervenção Pedagógica.
48

b) Palestra aos profissionais da educação do colégio esclarecendo sobre a


aplicação do projeto utilizando slides.
c) Entrega de apostilas aos profissionais da educação do colégio com o
Projeto de Intervenção Pedagógica e a Didático-Pedagógica já publicadas
no SACIR.
Material utilizado: computador, multimídia, sala de reuniões.

Segundo Encontro
Tema: A organização dos estudantes e sua trajetória política.
Data: 06/03/14
Objetivo: Analisar o texto relacionado a organização dos estudantes brasileiros
antes da criação da UNE.
Desenvolvimento:
a) Dividir a turma em grupos a partir da distribuição de números de 01 a 06.
Os grupos serão formados juntando-se todos os que receberam o mesmo
número.
b) Ouvir a música: “Subdesenvolvido”, de Carlos Lyra e Francisco de Assis,
disponível no endereço: <http://youtu.be/opFt_gLoA5A>. Fazendo uma
análise da letra e comentários nos pequenos grupos em seguida no grande
grupo.
c) Distribuir o texto “A organização dos estudantes e sua trajetória histórica
para os grupos”. Cada grupo deverá fazer a leitura do texto, destacando o
que mais chamou a atenção. Em seguida apresentar as considerações ao
grande grupo.
d) Criar um Gmail dos grupos para troca de informações e postagem das
conclusões a respeito do estudo realizado. Cabe também a compilação de
maiores informações pesquisadas pelos alunos.
Material utilizado: Computador, Multimídia e Sala de Informática.

Terceiro Encontro
Tema: UNE – União nacional dos estudantes: uma trajetória da participação
política estudantil
49

Data: 11/03/14
Objetivo: Identificar quais os motivos que motivaram os estudantes a se
organizarem enquanto instituição estudantil.
Desenvolvimento: Assistir ao vídeo “Memória do Movimento Estudantil”,
disponível no endereço:
www.youtube.com/watch?v=hJunWTvQkcw
Fazer a seguinte análise:
a) Já tinha conhecimento do assunto apresentado no vídeo?
b) Identifique a mensagem do vídeo, descrevendo o que você entendeu.

Releitura do texto UNE – União nacional dos estudantes: uma trajetória da


participação política estudantil já enviado pelo g-mail aos alunos.
Em seguida discussão acerca da compreensão que tiveram a respeito do
assunto abordado.
Ouvir a música “Pra não dizer que não falei das flores” de Geraldo Vandré
disponível em: http://youtube/7u_ra/7OWntg
Material utilizado: Data Show, Sala de Multimídia, computador.

Quarto Encontro
Tema: UBES-União brasileira dos estudantes secundaristas
Data:17/03/14
Objetivo: Identificar os estudantes secundaristas como coautores/coparticipantes
dos movimentos sociais brasileiro.
Desenvolvimento: Apresentar a história da UBES em forma de power point,
destacando os seguintes aspectos: fundação, primeira presidenta, congresso da
unificação, Lei Suplicy de Lacerda.
Assistir ao vídeo Movimento Estudantil (documentário), disponível em
http://youtu.be/ZShp5P7zxJ8 analisando:
a) Já tinha conhecimento sobre o assunto abordado?
b) Você sabia da existência organização do movimento estudantil
secundarista? Se positiva de que forma tomou conhecimento?
c) O que mais chamou a sua atenção neste documentário?
50

Abordar o impeachement do ex-presidente Fernando Collor de Mello,


destacando a participação dos jovens no movimento “caras- pintadas”, ilustrar
com o vídeo disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=WUS74-XdP7w
Material utilizado: data show, computador, sala de multimídia.

Quinto Encontro
Tema: Movimento estudantil paranaense
Data: 24/04/14
Objetivo: Conhecer a representatividade dos estudantes paranaenses e sua
trajetória dentro do movimento estudantil nacional.
Desenvolvimento: Aula expositiva abordando a história dos estudantes
paranaenses, destacando a fragilidade e disponibilidade de seus registros
históricos.
Apresentar a música: “Acredito na Rapaziada” de Gonzaguinha disponível em
http://youtu.be/HowYoMjyaYU, como forma de destaque e valorização dos jovens
estudantes paranaenses.
Apresentação de cópias de documentos sacaneados do DOPS-PR (Delegacia de
Ordem Política Social). Fonte: Schmitt, 2011- dissertação de mestrado.
Material utilizado: Sala de informática, data show.

Sexto Encontro
Tema: Grêmio estudantil – Espaço de discussão democrática.
Data: 06/05/14
Objetivo: Conhecer a história do Grêmio Estudantil e a legislação que criou o
grêmio livre.
Desenvolvimento: Responder antecipadamente ao questionário:
a) Sua escola tem grêmio estudantil?
b) Você faz/fez parte dele?
c) Conhece o estatuto do grêmio?
d) A atuação do grêmio do seu colégio acontece cotidianamente ou
esporadicamente e de que forma: promoções, formaturas, eventos da
escola, envolvimento em questões político-sociais? Cite outras.
Após analisar as respostas, estudar a legislação que criou o grêmio livre.
51

Elaborar e apresentar sugestões de ações para o plano de ação do grêmio


em 2014.
Apresentar a música Brasil! Mostra tua cara de Cazuza. Disponível em:
http://www.youtube.com/watch?v=Gp35LvnRNHM
Material utilizado: Computador, sala de multimídia, data show, sala de
informática.

Sétimo Encontro
Tema: Palestra com historiador, professor ou integrante do movimento estudantil
paranaense sobre o mesmo.
Data: 28/05/14
Objetivo: Compreender que o Paraná enquanto Estado da Unidade Federativa do
Brasil fez parte da história nos períodos negros, da ditadura e teve sua juventude
representativa.
Desenvolvimento: palestra
Material utilizado: anfiteatro do colégio.

Oitavo Encontro
Tema: Proposta para o Plano de Ação do Grêmio Estudantil do Colégio.
Data: 09/06/14
Objetivo: Despertar a participação dos estudantes e sua mobilização propondo
ações para o grêmio estudantil do estabelecimento de ensino.
Desenvolvimento: Seminário envolvendo direção, equipe pedagógica, alunos,
representantes da sociedade civil.
Criação de um vídeo sobre a organização dos jovens no colégio e apresentá-lo no
encerramento do seminário.
Material: mídias, anfiteatro.
52

5- REFERÊNCIAS

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fundação da UNE aos nossos dias. Rio de Janeiro: Relume Dumará: Fundação
Roberto Marinho, 2007.

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em: <http:/www.mundojovem.com.br/subsídios-grêmio estudantil-14.php>. Acesso
em: 26/09/2013.

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história do movimento estudantil secundarista do Brasil. Projeto Memória do
Movimento Estudantil, 2009.

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Jorge Zahar Ed., 2002.

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Janeiro: Editora UFRJ, 1994.

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FIUZA, Alexandre Felipe. Entre um samba e um fato: a censura e a repressão


aos músicos no Brasil e em Portugal nas décadas de 1960 e 1970. Tese de
Doutorado. Assis – São Paulo: 2006.

FREIRE, Paulo. A educação no Século XXl. In:Caderno Pedagógico.


Publicação Comemorativa aos 50 anos da APP Sindicato, 1997.

HELLER, Milton Ivan. Resistência democrática: a repressão no Paraná. Rio de


Janeiro: Paz e Terra: Curitiba: Secretaria de Cultura do Estado do Paraná, 1988.

LAKATOS, E. M. e MARCONI, M.A. Fundamentos da Metodologia Científica.


5ª ed. São Paulo: Atlas, 2003.

MARTINS, Sandra Mara. O pedagogo e a organização do Grêmio Estudantil


atuante política e pedagogicamente. Disponível em:
53

<www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/8512.pdf>. Acesso em:


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LEGISLAÇÃO

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Lei Federal nº 7.398, de 04/11/1985.

Lei Estadual nº 10.054, de 16/07/1992.

Lei Estadual nº 11.057, de 17/01/1995.

Medida Provisória nº 2.208, de 17/08/2001.

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