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Cadernos PDE
CASCAVEL – PR
2013
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1- APRESENTAÇÃO
O repúdio a Lei Suplicy foi sempre muito elevado, pois seu art. 22,
legalmente extinguia a UNE, revogando o Decreto-lei nº 4.105, de 11 de fevereiro
de 1942, que reconhecia a UNE como entidade coordenadora e representativa
dos corpos discentes dos estabelecimentos de ensino superior de todo o país. A
repressão aos estudantes participantes nos movimentos sociais foi autoritária,
arbitrária e sangrenta, sendo assassinado seu último presidente Honestino
Guimarães, em 1973.
ACORDOS MEC-USAID
Durante nove anos a UNE foi considerada subversiva tendo que atuar na
clandestinidade, colaborou na realização do XXVII Congresso Nacional de
Estudantes, sendo o primeiro congresso da entidade após o golpe militar, tendo
como tema principal o boicote a Lei Suplicy de Lacerda. Em 1966, houve um
grande protesto contra o acordo firmado pelo MEC e a United States Agency For
International Development (USAID) que visava a implantação da reforma
universitária, seguindo a orientação do relatório de Anteprojetos de Concentração
da Política Norte-Americana na América Latina na Reorganização Universitária e
sua Integração Econômica feito pelo norte-americano Professor Rudolph Atcon,
em 1958. Esse relatório visava desenvolver uma filosofia educacional para o
continente latino-americano, onde a eliminação da interferência estudantil na
administração, tanto colegiada quanto gremial, era considerada essencial e
obrigatória.
Merece destaque a indignação dos estudantes a essa política de governo
o que para eles era justificável, pois nosso país subdesenvolvido estava sendo
entregue à direção e planejamento educacional dos norte-americanos que não
conheciam a nossa realidade. Importante relembrar que o acordo MEC-USAID
havia sido feito em sigilo em detrimento do próprio Conselho Federal de
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entidade de UNES para UBES, sendo o primeiro muito semelhante a UNE o que
ocasionava confusões, pois usavam o mesmo endereço, mas continuavam
apoiados e inspirados pela UNE, que tinha representação em todos os estados, o
que a UBES também pretendia fazer.
Havendo passado no vestibular em janeiro de 1950, o presidente da
UBES, Carlos Cesar, deixou o cargo para o vice-presidente, José Teotônio
Padilha de Sodré (Bahia) e sua gestão foi marcada nas lutas contra as tarifas dos
bondes e para derrubar as taxas escolares. Em 03 de abril de 1950, liderada pela
AMES, ocorreu a “Convenção Nacional Contra o Aumento das Taxas Escolares”,
em todo o Brasil, sendo deflagrada greve em 20 de abril daquele ano.
No 3º Congresso Nacional dos Secundaristas, em julho de 1950, ano de
realizações históricas no país como a Copa do Mundo, as eleições presidenciais e
a inauguração da TV Tupi, Lúcio de Abreu é lançado candidato à presidência da
UBES, para evitar que houvesse divisão na entidade, causando divergência sobre
a candidatura de Sodré, por ser vice-presidente que assumira a presidência, mas
as diferenças acabaram em uma chapa única, tendo como presidente Lúcio de
Abreu, marcando a independência dos secundaristas.
As fortes e variadas correntes políticas valorizavam a UBES, mas
lideravam e ganhavam projeção os estudantes progressistas, pois não havia
unidade e no período de 1950 e 1956 as forças reacionárias existiam tanto na
UNE como na UBES, que articuladas queriam tirar os comunistas e seus aliados
da estrutura do movimento. Haviam estruturas organizadas atuando no
movimento, mas sem coordenação nacional, porém a UJC – (União da Juventude
Comunista) estava estruturada nacionalmente garantindo a preponderância deste
grupo na esfera nacional.
No 4º Congresso, houve o golpe, quebrando a hegemonia, em 25 de julho
de 1951 setores da direita liderados por Paulo Barbalho, tiveram confronto com os
integrantes da UJC e os opositores, sendo eles a minoria. Barbalho e seus
seguidores abandonaram o Congresso antes de término, e a eleição da nova
diretoria da UBES contou com uma chapa única, sendo eleito para presidente
Tibério César Gadelho.
Os estudantes que haviam abandonado o Congresso, ligados a UDN
(União Democrática Nacional) forjaram a documentação, criando um livro ata e
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[...] criação do CPC e da UNE Volante, foi naquele mesmo ano que, pela
primeira vez, uma liderança forjada na Igreja Católica chegava à
presidência da União Nacional dos Estudantes. O feito coube a Aldo
Arantes, da JUC (Juventude Universitária Católica) [...] depois ajudaria a
criar a AP (Ação Popular), [...] ligada a setores católicos progressistas.
(CINTRA, MARQUES, 2009, p. 89).
A história da UBES foi marcada por muitas vitórias e derrotas, mas nada
foi pior que o Golpe de 1964, as entidades estudantis estavam desde o princípio
na “lista de morte” do regime militar (1964-1985). Com a destituição do governo
reformista de João Goulart e o golpe de 1º de abril de 1964 foi que,
O trauma causado pela Lei Suplicy, acabando com a UNE, UBES e a AMES,
deixou profundas marcas na vida dos estudantes. Fragilizados pelas atrocidades
dos militares, os secundaristas foram os que mais sofreram com a ditadura, seus
líderes foram perseguidos, presos, tiveram suas sedes invadidas e depredadas,
além do envolvimento das entidades em Inquéritos Policiais Militares (IPMs), o
movimento estudantil secundarista foi desarticulado. Além da perversidade ao
movimento a Lei Suplicy na opinião do PCB (Partido Comunista Brasileiro), foi:
[...] vencedora foi Arrastão, de Edu Lobo e Vinícius de Moraes. [...] ano
seguinte [...] festival realizado pela TV Record [...] campeãs A Banda de
Chico Buarque e Disparada composta por Geraldo Vandré e Teo Barros.
[...] 3º Festival de Música Popular Brasileira, o “festival da virada” de
1967. Várias composições [...] Prêmio Sabiá de Ouro se tornaram
clássicos da MPB, [...] Domingo no Parque (Gilberto Gil), Roda Viva
(Chico Buarque) e Alegria, Alegria (Caetano Veloso) [...] as três músicas
ficaram mais famosas até do que a Vencedora, Ponteio de Edu Lobo e
Capinam. (CINTRA, MARQUES, 2009, p. 120).
[...] o metalúrgico do PT, Luiz Inácio Lula da Silva; [...] Leonel Brizola
(PDT); Mário Covas (PSDB); [...] o peemedebista Ulysses Guimarães.
[...] as elites [...] abraçou ostensivamente o governador de Alagoas [...]
do recém-fundado PRN, Fernando Collor de Mello. (CINTRA,
MARQUES, 2009, p. 246).
adequada para a realização da pesquisa”, o que dificulta uma sequência dos fatos
e da forma que se organizavam os estudantes secundaristas.
Durante a ditadura militar foram usados órgãos de repressão para
controlar a ação dos cidadãos, como as DOPS, para observar as pessoas que
supostamente ofereciam perigo ou atentavam contra o Estado ou a Segurança
Nacional, na visão da ditadura.
As instituições policiais tinham como objetivo controlar as pessoas e as
instituições que por suas ações podiam ser consideradas “comunistas” e ou
“subversivas”, como destaca: “perseguição aos movimentos da pessoa suspeita;
violação de correspondência; prisão sem culpa formada; acusações, inquéritos,
conclusões sem provas, entre outras” (MACIEL, 2000 apud SCHMITT, 2011, p.
89). Assim
“A organização e atuação das delegacias de ordem política e social
cumpre um roteiro: a) investigação: ocorria por meio de coleta de dados
e vigilância preventiva daquele considerado suspeito e os dados
coletados poderiam ou não fazer parte de um prontuário de instituição ou
indivíduo investigado; os documentos coletados eram: radiogramas,
fotografias, recortes de jornais, entre outros; b) censura: caracteriza-se
no procedimento adotado após a investigação ou paralela a ela, quando
averiguada a existência de alguma atividade que representasse
subversão, era então feito controle político-cultural ou de qualquer forma
de expressão que significasse ameaça à ordem estabelecida; c)
repressão: digamos que esta seria a última instância da polícia política e
que ocorria após constatado que havia atividade subversiva, sendo que
as ações poderiam ser a princípio através de perseguição política até a
ações de castigos físicos, caracterizados como tortura”(RONCAGLIO,
1998 apud SCHMITT, 2011, p .89).
[...] embora os registros das ações dos Dops estejam associados aos
períodos de ditadura na República brasileira, esse Departamento, assim
como outras instituições de informação política do Estado, nunca foi
extinto. Sempre existiram, quer o governo fosse mais ou menos
democrático ou mais ou menos ditatorial. A preocupação com a
informação sempre foi uma “questão de segurança nacional”. O que
demarca as diferenças são, entre outros aspectos, as formas de obter os
dados, as informações sobre as condutas individuais; as nuanças de se
respeitar os direitos civis. (KUSHNIR, 2002, p.561 apud SCHMITT, 2011,
p. 89).
Sete anos após a extinção das DOPS, que se deu por volta de 1984, os
arquivos e documentos da polícia política do Brasil, foram abertos às pesquisas,
mas pela forma inadequada de arquivar, o descaso na conservação e o local de
guardá-los, dificultou o acesso aos pesquisadores, assim:
Vale ressaltar que a documentação dos arquivos dos DOPS somente foi
liberada no início da década de 1990 e é possível que ela tenha sido
dilapidada por setores dos governos estaduais e federais, bem como
pelas polícias estaduais e pela polícia federal. Outro dado é que, apesar
dos êxitos, os DOPS entre 1982 e 1983, os serviços de informação
continuaram operando em sua tarefa de investigação política até o final
da década de 1980, em particular, junto ao acompanhamento de
sindicatos, partidos políticos, movimentos sociais e estudantis,
comunidades eclesiais de base, grupos de luta pela terra, entre outros.
(FIUZA, 2006, p. 24 apud SCHMITT, 2011, p. 92).
desse material. Há que se considerar que, um Brasil autoritário, não abriu e quiçá
abrirá tão “espontaneamente e rapidamente” seus arquivos, embora podemos
considerar que numa democracia já se faz tardia tal ação.
O Movimento Estudantil na região Oeste do Paraná aconteceu em
Grêmios, legalmente constituídos nos colégios estaduais os quais realizavam
encontros, eventos com o objetivo de angariar fundos para compra de materiais
necessários às escolas. Evidencia-se nesses relatos que a polícia política do
Paraná tinha total controle das ações desses estudantes, os quais eram de certa
forma condescendente com os eventos, já que os mesmos não tinham caráter
revolucionário. Eram por assim dizer tímidos.
Como estamos revendo a história, nem sempre escrita, importante
relembrar que a história do Paraná não aconteceu em revelia ou
descontextualizada do restante do Brasil, outrora cabe afirmar que a
impossibilidade em tecer maiores comentários acontece devido a não existência
no momento de material para tal. Parafraseando Paulo Freire “a história
prossegue, as experiências prosseguem, prosseguir-se, educar-se para refazer-
se”. (FREIRE, 1997, p. 50).
(Gonzaguinha).
Brasil!
Mostra a tua cara
Quero ver quem paga
Pra gente ficar assim
Brasil!
Qual é o teu negócio?
O nome do teu sócio?
Confia em mim
Brasil!
Cazuza, 2012.
.
GRÊMIO ESTUDANTIL – QUAL NOSSA ORIGEM E A QUE VIEMOS?
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[...] no dia 13/02/68 foi outorgado o AI-5, o mais drástico de todos os atos
institucionais [...] fechamento do Congresso; intervém-se em estados e
municípios e nomeiam-se os respectivos interventores; intensifica-se os
decretos de suspensão de direitos políticos de oposicionistas pelo prazo
de dez anos; cassam-se mandatos eletivos federais, estaduais e
municipais [...] suspende a garantia do habeas corpus nos casos de
crimes [...] a ordem econômica e social, e economia popular.
(FÁVERO,1994, p. 57).
2. IMPLEMENTAÇÃO
3- ENCAMINHAMENTO
Para esta Produção Didático-Pedagógica, serão desenvolvidas
atividades em forma de seminários, ou seja, “é uma técnica de aprendizagem que
inclui pesquisa, discussão e debate” (LAKATOS, 2003). Onde serão
desenvolvidos temas contendo textos dos relatos históricos sobre o movimento
estudantil brasileiro para fundamentação teórica, slides, vídeos, músicas com as
respectivas atividades a serem desenvolvidas pelos discentes.
Primeiro Encontro:
Tema: Apresentação do Projeto de Intervenção Pedagógica e Produção Didático-
Pedagógica a comunidade escolar: direção, professores, equipe pedagógica,
funcionários, APMF e Conselho Escolar.
Data: Semana Pedagógica – fevereiro de 2014
Objetivo: Socializar o tema Revendo a história do Movimento Estudantil Brasileiro
que será trabalhado com os alunos no ano letivo de 2014.
Desenvolvimento:
a) Apresentação de banner e exposição nas dependências da escola
contendo síntese do Projeto de Intervenção Pedagógica.
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Segundo Encontro
Tema: A organização dos estudantes e sua trajetória política.
Data: 06/03/14
Objetivo: Analisar o texto relacionado a organização dos estudantes brasileiros
antes da criação da UNE.
Desenvolvimento:
a) Dividir a turma em grupos a partir da distribuição de números de 01 a 06.
Os grupos serão formados juntando-se todos os que receberam o mesmo
número.
b) Ouvir a música: “Subdesenvolvido”, de Carlos Lyra e Francisco de Assis,
disponível no endereço: <http://youtu.be/opFt_gLoA5A>. Fazendo uma
análise da letra e comentários nos pequenos grupos em seguida no grande
grupo.
c) Distribuir o texto “A organização dos estudantes e sua trajetória histórica
para os grupos”. Cada grupo deverá fazer a leitura do texto, destacando o
que mais chamou a atenção. Em seguida apresentar as considerações ao
grande grupo.
d) Criar um Gmail dos grupos para troca de informações e postagem das
conclusões a respeito do estudo realizado. Cabe também a compilação de
maiores informações pesquisadas pelos alunos.
Material utilizado: Computador, Multimídia e Sala de Informática.
Terceiro Encontro
Tema: UNE – União nacional dos estudantes: uma trajetória da participação
política estudantil
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Data: 11/03/14
Objetivo: Identificar quais os motivos que motivaram os estudantes a se
organizarem enquanto instituição estudantil.
Desenvolvimento: Assistir ao vídeo “Memória do Movimento Estudantil”,
disponível no endereço:
www.youtube.com/watch?v=hJunWTvQkcw
Fazer a seguinte análise:
a) Já tinha conhecimento do assunto apresentado no vídeo?
b) Identifique a mensagem do vídeo, descrevendo o que você entendeu.
Quarto Encontro
Tema: UBES-União brasileira dos estudantes secundaristas
Data:17/03/14
Objetivo: Identificar os estudantes secundaristas como coautores/coparticipantes
dos movimentos sociais brasileiro.
Desenvolvimento: Apresentar a história da UBES em forma de power point,
destacando os seguintes aspectos: fundação, primeira presidenta, congresso da
unificação, Lei Suplicy de Lacerda.
Assistir ao vídeo Movimento Estudantil (documentário), disponível em
http://youtu.be/ZShp5P7zxJ8 analisando:
a) Já tinha conhecimento sobre o assunto abordado?
b) Você sabia da existência organização do movimento estudantil
secundarista? Se positiva de que forma tomou conhecimento?
c) O que mais chamou a sua atenção neste documentário?
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Quinto Encontro
Tema: Movimento estudantil paranaense
Data: 24/04/14
Objetivo: Conhecer a representatividade dos estudantes paranaenses e sua
trajetória dentro do movimento estudantil nacional.
Desenvolvimento: Aula expositiva abordando a história dos estudantes
paranaenses, destacando a fragilidade e disponibilidade de seus registros
históricos.
Apresentar a música: “Acredito na Rapaziada” de Gonzaguinha disponível em
http://youtu.be/HowYoMjyaYU, como forma de destaque e valorização dos jovens
estudantes paranaenses.
Apresentação de cópias de documentos sacaneados do DOPS-PR (Delegacia de
Ordem Política Social). Fonte: Schmitt, 2011- dissertação de mestrado.
Material utilizado: Sala de informática, data show.
Sexto Encontro
Tema: Grêmio estudantil – Espaço de discussão democrática.
Data: 06/05/14
Objetivo: Conhecer a história do Grêmio Estudantil e a legislação que criou o
grêmio livre.
Desenvolvimento: Responder antecipadamente ao questionário:
a) Sua escola tem grêmio estudantil?
b) Você faz/fez parte dele?
c) Conhece o estatuto do grêmio?
d) A atuação do grêmio do seu colégio acontece cotidianamente ou
esporadicamente e de que forma: promoções, formaturas, eventos da
escola, envolvimento em questões político-sociais? Cite outras.
Após analisar as respostas, estudar a legislação que criou o grêmio livre.
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Sétimo Encontro
Tema: Palestra com historiador, professor ou integrante do movimento estudantil
paranaense sobre o mesmo.
Data: 28/05/14
Objetivo: Compreender que o Paraná enquanto Estado da Unidade Federativa do
Brasil fez parte da história nos períodos negros, da ditadura e teve sua juventude
representativa.
Desenvolvimento: palestra
Material utilizado: anfiteatro do colégio.
Oitavo Encontro
Tema: Proposta para o Plano de Ação do Grêmio Estudantil do Colégio.
Data: 09/06/14
Objetivo: Despertar a participação dos estudantes e sua mobilização propondo
ações para o grêmio estudantil do estabelecimento de ensino.
Desenvolvimento: Seminário envolvendo direção, equipe pedagógica, alunos,
representantes da sociedade civil.
Criação de um vídeo sobre a organização dos jovens no colégio e apresentá-lo no
encerramento do seminário.
Material: mídias, anfiteatro.
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5- REFERÊNCIAS
CUNHA, Luis Antonio; GOES, Moacir de. O golpe na educação. Rio de Janeiro:
D’ARAUJO, Maria Celina. A era Vargas. São Paulo: Editora Moderna, 2000.
PARO, Vitor Henrique. Escritos sobre educação. São Paulo: Xamã, 2001.
144p.
PELEGRINI, Sandra de Cássia Araújo. A UNE nos anos 60: utopias e práticas
políticas no Brasil. Londrina, PR: Editora da UEL, 1997.
LEGISLAÇÃO