Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Introdução
Explicar qual foi o papel das mulheres na história da América
durante o período colonial é uma tarefa complexa, uma vez que
corremos o risco de julgar o passado a partir de nossa sensibilidade atual.
É preciso inicialmente deixar claro que não existiu um único grupo de
mulheres, homogêneo e solidário, mas vários. Se concordarmos com
Joan Scott em que o significado do gênero não é imóvel, mas se trata
de uma construção cultural que se transforma no tempo e no espaço,
entenderemos que as mulheres viram a si mesmas e às suas congêneres
de uma maneira muito diferente em cada época.2 No caso da América
colonial, sua identidade se definiu em função de sua relação com os
homens, mas também de outros fatores como o grupo social, a etnia,
a religiosidade, a sexualidade, a idade e a etapa da vida. É verdade que
a subordinação de gênero foi transversal a todas as mulheres, mas era
capaz de alterar-se em função de todos estes fatores. 3Por exemplo,
uma senhora branca e de boa linhagem sempre ostentaria uma posição
superior à de um escravo negro, ainda que este fosse homem, assim
como uma viúva poderosa poderia impor sua autoridade sobre o resto
de sua família. Ao longo das páginas apresentaremos uma visão geral
da vida e das circunstâncias em que atuaram as diferentes mulheres que
habitaram o novo continente, desde as recém-chegadas, até aquelas que
viram seu mundo transformar-se com a chegada dos conquistadores.
De qualquer maneira, todas elas ajudaram a conformar as peculiares
sociedades que caracterizam a América até nossos dias.
As espanholas na América
Mesmo sendo as menos numerosas entre todas as mulheres que
povoaram a América, as espanholas ocuparam um lugar privilegiado
1 Tradução e notas: Maria Cristina Bohn Martins.
2 Cf. SCOTT, Joan W. El género: una categoría útil para el análisis histórico. In:
AMELANG, James S. Historia y género las mujeres en la Europa moderna y contemporánea.
Valencia: Alfonsel Magnànim, 1990.
3 STERN, Steve J. La historia secreta del género. Mujeres, hombres y poder en México en las
postrimerías del periodo colonial. México: Fondo de Cultura Económica, 1999, p. 43.
17
As Américas na Primeira Modernidade
18
Jorge Cañizares-Esguerra, Luiz Estevam de O. Fernandes, Maria Cristina Bohn Martins (org.)
19
As Américas na Primeira Modernidade
21
As Américas na Primeira Modernidade
22
Jorge Cañizares-Esguerra, Luiz Estevam de O. Fernandes, Maria Cristina Bohn Martins (org.)
23
As Américas na Primeira Modernidade
24
Jorge Cañizares-Esguerra, Luiz Estevam de O. Fernandes, Maria Cristina Bohn Martins (org.)
15 PÉREZ CANTÓ, Pilar. Las españolas en la vida colonial. In: MORANT, Isabel. Historia
de las mujeres en España y América latina. v. 2. Madrid: Cátedra, 2005, p. 153.
16 Obrajes eram pequenas manufaturas de produtros têxteis que operavam especialmente
com trabalho compulsório indígena.
17 PÉREZ CANTÓ, Pilar. Las españolas en la vida colonial... Op. cit., p. 525-554.
25
As Américas na Primeira Modernidade
26
Jorge Cañizares-Esguerra, Luiz Estevam de O. Fernandes, Maria Cristina Bohn Martins (org.)
27
As Américas na Primeira Modernidade
29
As Américas na Primeira Modernidade
30
Jorge Cañizares-Esguerra, Luiz Estevam de O. Fernandes, Maria Cristina Bohn Martins (org.)
31
As Américas na Primeira Modernidade
26 HERRERO Sánchez, Patricia. Las mujeres en el virreinato del Perú. IX Congreso virtual
sobre Historia de las mujeres. La Rioja, 2017, p. 315.
27 Cf. PELOZATTO Reilly, Mauro Luis. Las mujeres en el virreinato de Perú: diferentes
situaciones locales y regionales. Argentina: Diario Nova, 2016, p. 2.
32
Jorge Cañizares-Esguerra, Luiz Estevam de O. Fernandes, Maria Cristina Bohn Martins (org.)
28 Trata-se de uma espécie de resina que tinha diversas utilidades na Mesoamérica antiga.
Fresca podia ser usada como incenso em cerimônias, por exemplo.
29 RUZ, Mario. Reseña a libro de Juan Pedro Viqueira. Instituto de Investigaciones
Filológicas, 2013, p. 181.
30 Rebelião indígena cujo centro esteve no povoado de Cancuc em Chiapas. Iniciada em
agosto de 1712 depois que María López (que assumiu, então, o nome de María Candelaria)
relatou ter recebido, da Virgem, a notícia de que Deus e o rei estavam mortos. Depois desta
aparição, enviaram-se anúncios para todos os povoados da etnia tzeltal de que já não havia rei,
convocando os indígenas para comparecer a Cancuc em que foi erigida uma ermida. Antes
de ser contida em novembro do mesmo ano, a rebelião consagrou seus próprios sacerdotes e
perturbou gravemente o pagamento de tributos dos indígenas da região.
31 VIQUEIRA, Juan Pedro. María de la Candelaria, india natural de Cancuc. México:
FCE, 1993, p. 10.
33
As Américas na Primeira Modernidade
34
Jorge Cañizares-Esguerra, Luiz Estevam de O. Fernandes, Maria Cristina Bohn Martins (org.)
37 GONZALO, Aguirre Beltrán. La población negra en México. México: FCE, 1989, p. 30.
38 KLEIN, Herbert. El tráfico de esclavos. Perú: IEP, 2011, p. 232.
39 Expressão pela qual eram conhecidos os escravos recém-chegados da África
diferenciando-os dos “ladinos” que eram aqueles que, havendo chegado há mais tempo,
conheciam a língua local.
36
Jorge Cañizares-Esguerra, Luiz Estevam de O. Fernandes, Maria Cristina Bohn Martins (org.)
37
As Américas na Primeira Modernidade
40 Josepha de Zarate, conhecida, também, como Madre Chepa, foi encarcerada na cidade
do México em 1723, denunciada por feitiçaria. Foi julgada e condenada pelo Tribunal do Santo
Ofício, em 1724. Ela tinha cerca de 40 anos, era viúva, e havia angariado fama, prestígio social
– e alguns recursos que lhe permitiam viver com certo conforto –, atuando como curandeira,
parteira e dona de hospedaria na cidade porto de Vera Cruz.
38
Jorge Cañizares-Esguerra, Luiz Estevam de O. Fernandes, Maria Cristina Bohn Martins (org.)
39
As Américas na Primeira Modernidade
42 GAGE, Thomas. Nuevo reconocimiento de las Indias occidentales (siglo XVII). México:
Conaculta, 1994, p. 180 et seq.
40
Jorge Cañizares-Esguerra, Luiz Estevam de O. Fernandes, Maria Cristina Bohn Martins (org.)
41
As Américas na Primeira Modernidade
Considerações finais
Como se pode acompanhar ao longo destas páginas, durante muito
tempo a América foi um espaço de fronteira em que os ideais e modelos
teóricos se diluíram diante das necessidades cotidianas e da obstinada
realidade. A Europa nunca conseguiu reproduzir no Novo Mundo
seu ideal de sociedade e, longe dele, seus habitantes se transformaram
em contato com outras culturas e outras circunstâncias naturais.
Espanholas, índias, mestiças e afrodescendentes foram protagonistas
de choques, intercâmbios e cruzamentos culturais que caracterizaram a
América colonial. Diferente do que se acreditou durante muito tempo,
estas mulheres não foram sujeitos passivos, submetidos ou sem vontade.
Ao contrário, o que encontramos nos processos judiciais, nos diários de
viajantes, nas crônicas de freis, nas cartas, testamentos, censos, editos e
cédulas que nos falam delas, são mulheres cheias de iniciativas, desejos e
interesses próprios. As mulheres que pertenceram a estes setores sociais
42
Jorge Cañizares-Esguerra, Luiz Estevam de O. Fernandes, Maria Cristina Bohn Martins (org.)