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EDUCAÇÃO AMBIENTAL

AULA 1: MEIO AMBIENTE E EDUCAÇÃO

Ao final desta aula, você será capaz de:


1.Verificar os conceitos e definições sobre meio ambiente e educação
ambiental.
2. Reconhecer o histórico do uso do meio ambiente pelo homem como
fator determinante dos problemas ambientais de hoje.
3. Refletir sobre os desafios do século XXI no que tange à área ambiental
na educação.

Introdução

A questão ambiental, um dos temas mais discutidos da atualidade,


envolve toda sorte de problemas e discussões em relação às condições
socioambientais de áreas urbanizadas ou não, incluindo os aspectos
relacionados à qualidade de vida humana, os impactos da ação humana
sobre as condições climáticas, hidrológicas, geomorfológicas, pedológicas
e biogeográficas, em todas as escalas de tempo e espaço, segundo
Christofoletti (1993 apud Pelicioni, 2005).

Pode-se considerar que a degradação ambiental que hoje se apresenta é


decorrente da profunda crise social, econômica, filosófica e política que
atinge toda a humanidade, resultado da introjeção de valores e práticas
que estão em desacordo com as bases necessárias para a manutenção de
um ambiente sadio e que favoreça uma boa qualidade de vida a todos os
membros da sociedade (Pelicioni, 2005).

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A partir disso, vemos a necessidade da inserção urgente de práticas e
instrumentos que viabilizem a mudança do cenário atual de meio
ambiente e cultura social.

Aqui levantamos a reflexão sobre o desafio da humanidade atualmente:


a discussão da educação ambiental.

A degradação ambiental causada por ações antrópicas tem aumentado


gradativamente no mundo todo. Desde 1972, data da realização da I
Conferência Internacional das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente
Humano, em Estocolmo, as práticas humanas predatórias têm sido
intensamente discutidas; no entanto, poucos resultados têm sido obtidos
para reverter esse processo. Os problemas ambientais se tornaram muito
preocupantes quando começaram a ser divulgados pela mídia,
principalmente em relação à quantidade de agravos à saúde por eles
ocasionados (Pelicioni, 2005).

Mas uma pergunta que não quer calar é:

Afinal, o que é meio ambiente e como estamos relacionados a ele?

Meio ambiente

Uma discussão recorrente a respeito do termo meio ambiente é a suposta


redundância que existe entre os termos: a palavra meio significa o mesmo
que ambiente.

O motivo desta reiteração obedece a razões históricas, já que, durante a


Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano
(Estocolmo, 1972), a impressão semântica das traduções do inglês, acabou

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por gerar o termo meio ambiente como e uso comum, em vez de se usar
somente um deles (ou meio ou ambiente).

Será que existe um conceito certo ou errado de ambiente? Com esta


questão, iniciaremos nosso processo de reflexão nesta disciplina.

Ambiente

O conceito de ambiente ou meio ambiente, está em constante processo


de construção e é possível encontrarmos diferentes definições para este
termo, segundo a Feema (1990) e o Ibama (1994).

1976 - As condições, influência ou forças que envolvem ou influem ou


modificam: o complexo de fatores climáticos, edáficos e bióticos que
atuam sobre um organismo vivo, ou uma comunidade ecológica, e acaba
por determinar sua forma e sua sobrevivência, a agregação das condições
sociais e culturais que influenciam a vida de um indivíduo ou uma
comunidade (Webster’s, 1976).

1977 - O conjunto, em um dado momento, dos agentes físicos, químicos e


biológicos e dos fatores sociais suscetíveis de terem um efeito direto ou
indireto, imediato ou a termo, sobre os seres vivos e as atividades
humanas (Poutrel & Wasserman, 1977).

1978 - O conjunto do sistema externo físico e biológico, no qual vivem o


homem e os outros organismos (Pnuma, 1978).

1978 - O conjunto de sistemas naturais e sociais em que vivem o homem e


os demais organismos e de onde obtêm sua subsistência (Conferência de
Tibillisi, 1978).

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1988 - Conjunto de componentes naturais e sociais, e suas interações em
um determinado espaço de tempo, no qual se dá a dinâmica das
interações sociedade-natureza, e suas consequências, no espaço que
habita o ser humano, o qual é parte integrante deste todo. Desta forma, o
ambiente é gerado e construído ao longo do processo histórico de
ocupação e transformação do espaço da sociedade (Gutman, 1988).

1992 - “Qualquer espaço de interação e suas consequências entre a


sociedade (elementos sociais, recursos humanos) e a natureza (elementos
ou recursos naturais)” (Queiroz e Tréllez, 1992).

Ambiente

Vamos observar a questão ambiental, à qual vemos que é complexa, pois


os sistemas ambientais são evolutivos, ou seja, não deterministas, não
lineares, irreversíveis e com estados de desequilíbrio constante. Esse
processo evolutivo e suas modificações constantes inserem
acontecimentos irreversíveis, aumentando a complexidade do sistema
(Philippi Junior e Silveira, 2009)

Chegamos à conclusão de que há muitas maneiras de abordar


conceitualmente o meio ambiente e uma única área do conhecimento
humano não pode abranger e explicar a gama de fenômenos naturais e
culturais que ocorre em escalas espaciais e temporais diversas.

Vemos, assim, que a questão da definição do ambiente é complexa, pois


está relacionada aos aspectos evolutivos da própria sociedade.

Apenas para ampliarmos essa discussão, numa segunda abordagem


conceitual da própria questão ambiental, percebemos que há o
envolvimento da visão econômica. Os economistas clássicos, com algumas

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exceções, sempre teorizaram sobre os sistemas econômicos sem
considerar o meio natural como fornecedor de materiais, energia para a
sociedade humana e como receptor dos resíduos resultantes e da energia
dissipada pelas atividades antrópicas (Philippi Junior e Silveira, 2009).

Agora, vamos refletir um pouco sobre como o homem vê o meio ambiente


perante a Constituição:

“Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem


de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se
ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para
as presentes e futuras gerações” (Artigo 225 da Constituição Federal).

Percebemos, aqui, a abertura de interpretações que a lei nos fornece: o


que é ambiente ecologicamente equilibrado? Será que isso tem o mesmo
parâmetro para mim e para você? Mais uma coisa: essencial à sadia
qualidade de vida – será que há igualdade na qualidade de vida da
sociedade? Todos têm o mesmo padrão de vida social (pobres, classes
média e alta)?

Vemos com isso que meio ambiente está muito mais relacionado com a
questão social e cultural, do que somente a definições biológicas. Esse é
um dos desafios primordiais do século XXI para a preservação do meio
ambiente: a questão da reforma de valores culturais e sociais, começando
pela reforma das próprias políticas públicas.

Educação Ambiental

Educação, do vocábulo latino educere, significa conduzir, liderar, puxar


para fora. Baseia-se na ideia de que todos os seres humanos nascem com
o mesmo potencial, que deve ser desenvolvido no decorrer da vida. O

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papel do educador é, portanto, criar condições para que isso ocorra, criar
condições para que levem o desenvolvimento desse potencial, que
estimulem as pessoas a crescer cada vez mais Pelicioni, 2009).

Segundo Paulo Freire, famoso educador brasileiro, hoje reconhecido


internacionalmente, ninguém educa ninguém, ninguém conscientiza
ninguém, ninguém se educa sozinho. Isso significa que a educação
depende de adesão voluntária, depende de quem a incorpora e não de
quem a propõe.

No Relatório para a UNESCO de 1996, da Comissão Internacional sobre


Educação para o século XXI, a educação aparece como indispensável à
humanidade na construção dos ideais de paz, da liberdade e da justiça
social como também para o desenvolvimento contínuo, tanto das pessoas
como das sociedades, do século XXI em diante (Pelicioni, 2009).

Aqui, vemos que para falar de educação ambiental, temos que admiti-la
como processo de educação política que busca formar para que a
cidadania seja exercida e para uma ação transformadora, a fim de
melhorar a qualidade de vida da coletividade. A abordagem sociocultural
permite a ação pró-ativa e transformadora, proposta pela educação
ambiental, se efetive, já que implica em formação para uma reflexão
crítica (Pelicioni, 2009).

A educação ambiental se coloca numa posição contrária ao modelo de


desenvolvimento econômico vigente no sistema capitalista selvagem, em
que os valores éticos, de justiça social e solidariedade não são
considerados nem a cooperação é estimulada, mas prevalecem o lucro a
qualquer preço, a competição, o egoísmo e os privilégios de poucos em
detrimento da maioria da população (Pelicioni e Philippi Junior, 2005).

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Mas, enfim, qual é a definição de educação ambiental?

Educação ambiental é um instrumento que pode proporcionar mudanças


na relação do homem com o ambiente e surge como resposta à
preocupação da sociedade com o futuro da vida.

A educação ambiental também pode ser chamada de EA, sua abreviação,


e tem como proposta principal a superação da dicotomia entre natureza e
sociedade, através da formação de uma atitude ecológica nas pessoas. Um
dos seus fundamentos é a visão socioambiental, que afirma que o meio
ambiente é um espaço de relações, é um campo de interações culturais,
sociais e naturais (a dimensão física e biológica dos processos vitais).
Ressalte-se que, de acordo com essa visão, nem sempre as interações
humanas com a natureza são daninhas, porque existe um
copertencimento, uma coevolução entre o homem e seu meio.
Coevolução é a ideia de que a evolução é fruto das interações entre a
natureza e as diferentes espécies, e a humanidade também faz parte
desse processo, segundo o mesmo site.

Para fecharmos nossa primeira aula, definimos a educação ambiental


como um processo que busca:

“(...) desenvolver uma população que seja consciente e preocupada com o


meio ambiente e com os problemas que lhes são associados. Uma
população que tenha conhecimentos, habilidades, atitudes, motivações e
compromissos para trabalhar, individual e coletivamente, na busca de
soluções para os problemas existentes e para a prevenção dos novos (...)”
(capítulo 36 da Agenda 21).

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AULA 2: DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Ao final desta aula, você será capaz de:


1. Verificar o desenvolvimento sustentável no contexto da dimensão
humana.
2. Reconhecer a questão do consumo consciente e do consumo
sustentável.

Nos 2 ou 5 milhões de história da humanidade, foi só no começo dos anos


1800 que a população mundial alcançou seu primeiro bilhão.

Levou somente mais 100 anos para essa população duplicar e, outra vez,
apenas mais 100 anos para atingir o sêxtuplo. Hoje, existem 6,5 bilhões de
humanos na face da Terra (Dourojeanni & Pádua, 2007).

As perspectivas são ainda mais aterrorizadoras que antes: mesmo


considerando a redução da taxa anual de crescimento, a população
continuará crescendo 9,2 bilhões de pessoas até 2050, essencialmente nos
países em processo de desenvolvimento.

Ainda considerando exagero, essas projeções tem fundamento para a


maioria das espécies do mundo, como é revelado pelas evidências já
disponíveis, é o caso, por exemplo, das Listas Vermelhas da IUCN, segundo
os mesmos autores.

Será que através da conscientização ambiental de todos poderemos ainda


reverter esta previsão de cenário?

Dicotomia entre ser humano e natureza

Desde os tempos dos caçadores e coletores, três grandes mudanças


culturais aumentaram o impacto sobre o meio ambiente. Para que

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possamos entendê-las e assim discutir o desenvolvimento sustentável na
dimensão humana, vamos ler o texto de Miller Junior (2007):

Evidências fósseis e estudos de culturas antigas sugerem que a atual


forma de nossa espécie, Homo sapiens sapiens, tem povoado a Terra há
apenas 60 mil anos (algumas evidências recentes afirmam 90 mil a 195
mil) – menos que um piscar de olhos nesse maravilhoso planeta com 3,7
bilhões de anos de vida.

Até, aproximadamente, há 12 mil anos, éramos na maioria caçadores e


coletores que se moviam conforme a necessidade de encontrar alimento
suficiente para a sobrevivência. A partir daí, três grandes mudanças
culturais ocorreram: a revolução agrícola (que começou há 10-12 mil
anos); a revolução industrial-médica (iniciada por volta de 275 anos atrás)
e a revolução da informação-globalização (iniciada há cerca de 50 anos).

Essas mudanças culturais aumentaram de forma considerável nosso


impacto no meio ambiente. Por meio dessas mudanças, passamos a dispor
de muito mais energia e novas tecnologias para alterar e controlar o
planeta, visando atender a nossas necessidades básicas e crescentes
desejos. Elas também permitiram a expansão da população humana, em
especial devido à farta disponibilidade de suprimentos alimentares e
maior expectativa de vida. Além disso, elevaram consideravelmente o uso
de recursos, poluição e degradação ambiental, que ameaçam a
sustentabilidade das culturas humanas a longo prazo.

Interessante este histórico exposto pelo autor não?

Mas o que é desenvolvimento sustentável então?

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Antes de respondermos essa questão, vamos observar, como o fez
Gonçalves (1990 apud Pelicioni, 2005), que o modo de ser, de produzir e
de viver dessa sociedade é fruto de um modo de pensar e agir em relação
à natureza e aos outros seres humanos que remonta a muitos séculos.

Restringindo-se ao pensamento ocidental, percebem-se nas obras de


alguns filósofos da Grécia e Roma clássicas, bem como na tradição
judaico-cristã, espinha dorsal da cultura ocidental, indícios de certos
valores presentes nas sociedades atuais, como o antropocentrismo e a
visão dicotomizada entre o ser humano e a natureza.

Platão, por exemplo, no ano de 111 a.C., já denunciava a ocorrência de


desmatamento e erosão de solo nas colinas de Átila, na Grécia,
ocasionados pelo excesso de pastoreio de ovelhas e pelo corte de madeira
(Darby, 1956).

A concepção de desenvolvimento sustentável tem suas raízes fixadas na


Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente Humano, realizada
em Estocolmo, capital da Suécia, em julho de 1972, segundo Brunacci e
Philippi Junior (2009).

Segundo Funiber (2209), o termo desenvolvimento sustentável, como é,


foi estabelecido pela International Union for The Conservation of Nature
(IUCN), embora sua popularidade tenha origem no relatório “Nosso futuro
comum” ou relatório Bruntland (WCED, 1987), preparado pela Comissão
Bruntland das Nações Unidas, no qual se lê:

“O desenvolvimento sustentável satisfaz as necessidades atuais sem


comprometer a capacidade de futuras gerações de satisfazer suas próprias
necessidades”.

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Os componentes substantivos nesta definição são as questões de
equidade.

Tanto entre uma mesma geração como entre diferentes gerações, a fim
de que todas, presentes e futuras, aproveitem o máximo sua capacidade
potencial.

Atualmente, esses dois objetivos não tem assegurada a prioridade que


merece. Hoje, uma reestruturação das pautas concernentes à distribuição
de renda e à produção e ao consumo em escala mundial seria uma
condição prévia a toda estratégia de desenvolvimento sustentável.

Desenvolvimento sustentável

O conceito de desenvolvimento sustentável surgiu em um contexto de


crise econômica e revisão de paradigmas de desenvolvimento. A
instabilidade, o aumento da pobreza, etc., colocavam em dúvida a
viabilidade dos modelos convencionais, inclusive, a própria ideia de
“desenvolvimento” havia sido sustada das políticas ante a urgente
necessidade de estabilizar as economias e recuperar o crescimento
econômico (Funiber, 2009).

O surgimento da ideia do desenvolvimento sustentável teve repercussões


importantes em todos os meios – graças aos esforços da Comissão das
Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD) –
devido à necessidade de renovar concepções e estratégias, buscando o
desenvolvimento das nações pobres e reorientando o processo de
industrialização dos países mais avançados.

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Ainda segundo o mesmo autor, ao qualificar o desenvolvimento como o
adjetivo “sustentável”, incorpora-se um conceito de capacidade de
subsistir ou continuar.

Sustentabilidade

A sustentabilidade expressa uma preocupação com o meio ambiente para


que as gerações futuras o utilizem e o desfrutem da mesma forma que a
presente.

Neste caso, “desenvolvimento” não é sinônimo de “crescimento”.


Crescimento econômico é entendido como aumentos na renda nacional.
Em contra partida, o desenvolvimento implica algo mais amplo, uma
noção de bem-estar econômico que reconhece componentes não
monetários. Estes podem incluir a qualidade do meio ambiente.

O desenvolvimento sustentável exige que se definam prazos, com qual


ordem de prioridades, a que níveis e escalas e quais recursos econômicos
utilizar para obter a sustentabilidade. Essa tarefa é muito complexa, dados
os aspectos sociais, políticos e elementos técnicos implicados, por
exemplo, na superação da pobreza, em que a sustentabilidade pode ser
inalcançável, mesmo em prazos relativamente longos (Funiber, 2009).

1. Vemos em diversos estudos, que as modificações ambientais


provocadas pela ação antrópica, alterando significativamente os
ambientes naturais, poluindo o meio ambiente físico, consumindo
recursos naturais sem critérios adequados, aumentam o risco de
exposição a doenças e atuam negativamente na qualidade de vida
da população (Miranda et al., 1994; Ministério da Saúde, 1995;
Banco Mundial, 1998; Who, 1999).

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2. As modificações ambientais decorrentes do processo antrópico de
ocupação dos espaços e de urbanização, que ocorrem em escala
global, especialmente as que vêm acontecendo desde os séculos XIX
e XX, impõem taxas incompatíveis com a capacidade de suporte dos
ecossistemas naturais (Philippi Junior & Malheiros, 2008).
3. Ainda segundo os mesmos autores, a análise dos impactos
potenciais dessas modificações pode ser feita sob o enfoque da
mudança nos padrões de consumo e de produção, facilitando assim
a compreensão dessa questão e das medidas necessárias para a
reversão dos problemas instaurados.

Consumo consciente

Mas afinal, o que podemos fazer em relação ao consumo, se o mesmo é


necessário para a sobrevivência das espécies? Para responder isso, surge
as questões de consumo consciente e consumo sustentável.

Todos os organismos consomem: água, nutrientes, energia. Mas há uma


diferença significativa entre outras espécies de organismos vivos e o
homem: o consumismo desenfreado e exagerado que não é somente para
sobreviver no meio em que vive.

Quando falamos em consumo, a primeira coisa que vem à mente é o ato


de comprar, seja de maneira programada, por necessidade ou por
impulso. A compra é apenas um dos sentidos deste conceito. Antes dela,
temos que decidir:

O que consumir?

Porque consumir?

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Como consumir?

De quem consumir?

COMPRA

O consumo consciente é uma maneira de consumir levando em


consideração os impactos provocados pelo consumo.

Com isso, o consumidor pode, por meio de suas escolhas, maximizar os


impactos positivos e minimizar os negativos dos seus atos, e desta forma
contribuir para construir um mundo melhor.

Esses conceitos estão no seguinte site: Ressoar.org

Consumidor consciente

O consumidor consciente busca o equilíbrio entre a sua satisfação pessoal


e a sustentabilidade do planeta.

Ele reflete a respeito de seus atos de consumo e como irão repercutir


sobre si mesmo, nas relações sociais, na economia e na natureza.
Dissemina o conceito e a prática do consumo consciente, pois sabe que
pequenos gestos realizados por muitas pessoas promovem grandes
transformações.

Vários são os exemplos que podem ser citados quanto ao uso não
consciente dos recursos naturais esgotáveis que já estão gerando sérios
problemas no mundo: água potável, combustíveis fósseis, energia elétrica,
minerais como ouro e o mercúrio.

O conceito de consumo sustentável começou a ser construído a partir do


termo desenvolvimento sustentável, divulgado com a Agenda 21,

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documento produzido durante a Conferência das Nações Unidas sobre o
Meio Ambiente e Desenvolvimento, no Rio de Janeiro, em 1992.

A Agenda 21 relata quais as principais ações que devem ser tomadas pelos
governos para aliar a necessidade de crescimento dos países com a
manutenção do equilíbrio do meio ambiente.

Os temas principais desse documento falam justamente sobre mudanças


de padrões de consumo, manejo ambiental dos resíduos sólidos e
saneamento e abordam ainda o fortalecimento do papel do comércio e da
indústria.

Podemos definir o consumo sustentável como: o uso dos recursos naturais


para satisfazer as necessidades pessoais sem o comprometimento das
necessidades das gerações futuras. Saber usar para nunca faltar.

Se o consumo é um ato essencial e inevitável da vida humana, e apresenta


características particulares que ultrapassam as necessidades da vida
biológica ou material, precisamos raciocinar que a satisfação das
necessidades humanas tem três componentes:

 Utilitário - O componente utilitário nem sempre determina a


escolha.
 Comunicação - Às vezes o ato do consumo está motivado pelo
propósito de se comunicar com os outros, de demonstrar que se
respeitam as convenções sociais, que se está na moda ou que se é
completamente diferente.
 Psicológico - O componente psicológico impulsiona a consumir para
se provar algo a si mesmo, para se assemelhar à imagem que tem
de si e se sentir bem consigo mesmo.

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O consumo desmedido das sociedades modernas implica o uso de
elevadas quantidades de recursos naturais. Ao mesmo tempo, os atos de
consumo comprometem todas as esferas da vida humana: a material, a
social e a psicológica.

Modificar os hábitos de compra da população é um objetivo indispensável


para coadjuvar a proteção do meio ambiente, diminuir a contaminação e a
geração de resíduos e promover um eficiente controle de energia, entre
outras coisas.

A aquisição de novos hábitos implica a modificação da cultura que faz


consumir bens e serviços supérfluos, limitando-se apenas a satisfação das
necessidades básicas e gerando novas formas de relação entre a
população e o meio natural.

Torna-se evidente que a educação é um instrumento catalisador através


do qual se pode impulsionar e fomentar uma cultura da responsabilidade
ambiental.

Percebemos ao longo da discussão desse tema, que temos a possibilidade


de deixarmos para as futuras gerações um pouco do nosso patrimônio
natural, nos dado pelo planeta Terra, de modo que todos tenham a
possibilidade de usufruto consciente do mesmo.

Para isso, medidas políticas, sociais e culturais precisam ser tomadas e


praticadas continuamente.

Que tal fazermos a nossa parte?

No início da década de 1970, a noção de desenvolvimento de um país era


medida de forma diferente da atual, onde não existia, antes da Comissão

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de 1972, a questão ambiental como um dos elementos centrais da
concepção e das estratégias de desenvolvimento. Como era visto o
progresso naquele tempo?

O conceito convencional de desenvolvimento se referia ao processo de


melhoria das condições econômicas e sociais de uma nação, e a poluição
pelas indústrias era considerada um fator de progresso.

Nesta aula, você:

 Verificou o desenvolvimento sustentável no contexto da dimensão


humana.
 Reconheceu a questão do consumo consciente e do consumo
sustentável.

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AULA 3: MOVIMENTOS AMBIENTALISTAS

Ao final desta aula, você será capaz de:


1. Reconhecer os principais encontros e eventos importantes para a
discussão de meio ambiente e educação ambiental:
- Tbilisi,
- Moscou,
- Rio-92.

Introdução

“Podemos ajudar a tornar o mundo um lugar melhor ao não cairmos em


armadilhas mentais que levam à negação e à inação, e ao manter nossos
sentimentos poderosos de esperança ligeiramente à frente de nossos
sentimentos imobilizantes de desespero.” (Miller Junior, 2007).

Ainda segundo o mesmo autor, contribuímos de forma diretas e indiretas


para os problemas ambientais que enfrentamos. Entretanto, por não
querermos nos sentir culpados pelos danos ambientais que podemos
estar criando, tentamos não pensar muito nessa questão.

A quebra deste paradigma é feita, quando grupos se reúnem para discutir


a questão das possibilidades de preservação do meio e de mudanças de
políticas públicas para que isso ocorra da melhor forma: para a sociedade
e para a natureza.

Vamos conhecer esses grupos?

Surge a educação ambiental

“A insatisfação gerada por uma série de situações, como o crescimento


desordenado das cidades, a exclusão social, o autoritarismo, a ameaça

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nuclear, os desastres ambientais resultantes da ação humana, entre
outros problemas, foi reunindo cada vez mais pessoas em torno de
questões relativas ao meio ambiente, à qualidade de vida e à cidadania.”
(Pelicioni, 2009).

“Ao longo da década de 1960, ocorreram manifestações populares em


diversos países, por exemplo Brasil, Japão, antiga Tchecoslováquia, EUA,
em razão de problemas como a ditadura, a ocupação soviética, a Guerra
do Vietnã, entre outros. Na França, essa movimentação atingiu seu
apogeu ao longo de 1968, quando vários grupos – estudantes, artistas,
intelectuais e operários – articularam uma grande greve nacional contra o
status quo.” (Simonnet, 1981).

Já nessa época, vemos que o movimento ecológico colocou em xeque a


estrutura de necessidades, o modo de vida das pessoas e as relações entre
a humanidade e o mundo, segundo Castoriadis e Cohn-Bendit (1981).

Mas por onde andava a questão de educação ambiental?

A educação ambiental (EA) na década de 1960, ainda não estava bem


delineada e, por vezes, era confundida com educação conservacionista,
aulas de ecologia ou atividades propostas por professores de
determinadas disciplinas.

Essa educação ora privilegiava o estudo compartimentalizado dos recursos


naturais e as soluções técnicas para os problemas ambientais locais, ora
visavam despertar nos jovens um senso de maravilhamento em relação à
natureza.

(Pelicioni, 2002 apud Pelicioni, 2009).

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Vários autores apontam a Keele Conference on Education and
Countryside, realizada em 1965, na Universidade de Keele (Inglaterra),
como um marco a partir do qual o termo Environmental Education
(educação ambiental), que circulava em meios específicos, alcançou ampla
divulgação (Martin e Wheeler, 1975 apud Pelicioni, 2009).

Conselho para Educação Ambiental

Pouco tempo depois, na Grã-Bretanha, implantou-se o Conselho para


Educação Ambiental, voltado para a coordenação de organizações
envolvidas com os temas educação e meio ambiente. Já em 1970, segundo
Pelicioni (2009), o Conselho para EA fazia o seguinte alerta por meio de
um relatório:

... pessoas diferentes atribuem diversos significados {à EA}, e também


muitos dos que usam o termo não têm certeza do que querem dizer. Parte
da confusão emerge da tendência de ministrantes de diversas disciplinas
em se apropriar do termo “ambiental” para sua área, qual seja ecologia,
geografia, história, arqueologia, arquitetura, planejamento, sociologia ou
estudos rurais. Alguns pensam exclusivamente em termos de ambientes
naturais, outros em ambiente urbano ou em qualquer estágio do
ambiente construído.

Educação ambiental – Brasil

No Brasil, durante a década de 1960, ocorreu uma nova onda de produção


legislativa – o novo Código Florestal, a nova Lei de Proteção aos Animais e
a criação de vários parques nacionais e estaduais. Entretanto,
continuavam não sendo discutidos problemas fundamentais como o estilo
de desenvolvimento que o país deveria adotar, a poluição, o zoneamento

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das atividades urbano-industriais, entre outros. Como observa Drummond
(1997):

... a disseminação da consciência ambientalista no Brasil foi muito


prejudicada pelos altos e baixos da democratização do país. A ditadura de
1964 desmobilizou a cidadania, resultando numa atuação estatal tímida e
particularmente voltada para a preservação do chamado ambientalismo
geográfico, naturalista, ou seja, ainda voltado para a criação de áreas
naturais protegidas.

Conferência de Biosfera

No final da década de 1960, percebemos que a problemática ambiental


suscita debates no mundo: A UNESCO (em colaboração com outras
entidades) organiza a Conferência Intergovernamental de Especialistas
sobre as Bases Científicas para Uso e Conservação Racionais dos Recursos
da Biosfera, ou simplesmente, a Conferência da Biosfera.

Esse evento, em Paris, deu continuidade ao tema da cooperação


internacional em pesquisas científicas, que havia sido inicialmente
abordado, em 1949, na Conferência Científica das Nações Unidas sobre a
Conservação e Utilização de Recursos (Pelicioni, 2009).

Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano

A cidade de Estocolmo (Suécia) sediou a Primeira Conferência das Nações


Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, em 1972 que foi a primeira
conferência temática da ONU e reuniu representantes de 113 países
(Pelicioni, 2009).

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Em decorrência de uma das recomendações oriundas da Conferência da
Biosfera e atendendo à solicitação dos representantes suecos presentes
na XXIII Assembleia Geral da ONU (1969), uma vez que a Suécia estava
sofrendo os efeitos da poluição gerada em outros países.

Segundo McCormick (1992), em Estocolmo foi a “primeira vez que as


questões políticas, sociais e econômicas do meio ambiente global foram
discutidas em um fórum intergovernamental, com a perspectiva de
realmente empreender ações corretivas”, o que produziu maior
envolvimento tanto por parte dos governantes e das instituições
supranacionais quanto das Organizações Não-Governamentais (ONGs),
mesmo tendo participado de fóruns distintos. Nessa fase, portanto, a
visão conservacionista estava dando lugar a um movimento mais amplo.

O mesmo autor afirma que foi:

“o acontecimento isolado que mais influiu na evolução do movimento


ambientalista internacional, pois confirmou a tendência em direção a uma
nova ênfase sobre o meio ambiente humano. O pensamento progrediu
das metas limitadas de proteção da natureza e conservação dos recursos
naturais para a visão mais abrangente da má utilização da biosfera por
parte dos humanos.

A própria natureza do ambientalismo mudou: da forma popular, intuitiva


e provinciana com a qual emergiu nos países mais desenvolvidos no final
dos anos 60, para uma forma de perspectivas mais racionais e globais, a
qual enfatizava o esforço no sentido de uma compreensão plena dos
problemas e do acordo sobre uma ação legislativa efetiva. Forçou um

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compromisso entre as diferentes percepções sobre o meio ambiente
defendidas pelos países mais e menos desenvolvidos”.

Desdobramentos de Estocolmo: Tbilisi, Moscou e Rio 92

Importantes desdobramentos de Estocolmo foram as iniciativas voltadas


para a recuperação da saúde ambiental do planeta, por meio do incentivo
à implantação de políticas públicas, órgãos ambientais estatais,
cooperação e acordos internacionais, além da ênfase na necessidade da
generalização de esforços para a educação ambiental.

A própria Declaração sobre o Ambiente Humano, gerada no evento,


enfatizou a necessidade de mais trabalhos em educação voltados para as
questões ambientais (Pelicioni, 2009).

Após Estocolmo e seguindo sua recomendação de número 96, que


atribuiu grande importância estratégica à EA, foram realizados diversos
encontros nacionais, regionais e internacionais, dentro os quais,
destacaremos:

 Conferência de Tbilisi
 Congresso de Moscou
 Conferência do Rio de Janeiro

Tbilisi, 1977

A primeira Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental –


Conferência de Tbilisi, constituiu-se num marco histórico para a evolução
da EA.

23
Esta Conferência produziu um documento, publicado em 1980, chamado
“Livro Azul”, que até hoje é uma importante fonte de consulta para ações
em EA. De uma forma sintética, o documento explica que:

1. Mediante a utilização dos avanços da ciência e da tecnologia, a


educação deve desempenhar uma função capital com vistas a criar
a consciência e a melhor compreensão dos problemas que afetam o
meio ambiente. Essa educação há de fomentar a elaboração de
comportamentos positivos de conduta com respeito ao meio
ambiente e à utilização de seus recursos pelas nações.

2. A EA deve dirigir-se a pessoas de todas as idades, a todos os níveis,


na educação formal e não formal. Os meios de comunicação social
têm a grande responsabilidade de por seus enormes recursos a
serviço dessa missão educativa.

3. A EA, devidamente entendida, deveria constituir uma educação


permanente, geral, que reaja às mudanças que se produzem em um
mundo em rápida evolução. Essa educação deveria preparar o
indivíduo, mediante a compreensão dos principais problemas do
mundo contemporâneo, proporcionando-lhe conhecimentos
técnicos e qualidades necessárias para desempenhar uma função
produtiva, com vistas a melhorar a vida e proteger o meio
ambiente, prestando a devida atenção aos valores éticos.

4. Ao adotar um enfoque global, sustentado em uma ampla base


interdisciplinar, a EA cria uma perspectiva dentro da qual se
reconhece a existência de uma profunda interdependência entre o

24
meio natural e o meio artificial, demonstrando a continuidade dos
vínculos dos atos do presente com as consequências do futuro, bem
como a interdependência entre as comunidades nacionais e a
solidariedade necessária entre os povos.

Moscou, 1987

Dez anos depois da Conferência de Tbilisi, trezentos especialistas de cem


países e observadores da IUCN, reuniram-se em Moscou, CEI (17 a 21 de
agosto de 1987) para o Congresso Internacional em Educação e Formação
Ambientais, promovido pela Unesco/ Unep/IEEP, conhecido como o
Congresso de Moscou.

O Congresso objetivou a discussão das dificuldades encontradas e dos


progressos alcançados pelas nações, no campo da EA, e a determinação
de necessidades e prioridades em relação ao seu desenvolvimento, desde
Tbilisi.

Fez uma análise da situação ambiental global e não encontrou sinais de


que a crise ambiental houvesse diminuído. Ao contrário, o abismo entre as
nações aumentou e as mazelas dos modelos de desenvolvimento
econômico adotados se espalharam pelo mundo, piorando as perspectivas
para o futuro.

Concordou-se que a EA deveria, simultaneamente, preocupar-se com a


promoção da:

• conscientização,

• transmissão de informações,

• desenvolvimento de hábitos e habilidades,

25
• promoção de valores,

• estabelecimento de critérios e padrões,

• e orientações para resolução de problemas e tomada de decisões.

Portanto, deveria objetivar modificações comportamentais nos campos


cognitivos e afetivos.

Rio 92

A Conferência do Rio, ou Rio-92, como ficou conhecida a Conferência das


Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (Unced ou
Earth Summit), veio contrariar os que gostam de tornar as coisas mais
complicadas. Através do capítulo 4, Seção IV da Agenda 21, a Rio-92
corroborou as recomendações de Tbilisi para a EA.

Ficou patente a necessidade do enfoque interdisciplinar e da prioridade


das seguintes áreas de programas:

 Reorientar a educação para o desenvolvimento sustentável.


 Aumentar os esforços para proporcionar informações sobre o meio
ambiente, que possam promover a conscientização popular.
 Promover o treinamento.

Conclusão

É importante termos a percepção de que a discussão da educação


ambiental transcende a educação formal e os próprios encontros
especializados no assunto, mas parte também da educação familiar e
social.

26
Somente através da união desses fatores é que poderemos ter esperança
de que a preservação ambiental, para nosso presente e futuro no planeta,
realmente aconteça.

Reforçamos que não foram somente estes três encontros com foco na
discussão de educação ambiental que ocorreram no mundo, mas que
estes foram os marcantes para a divulgação do assunto.

Nesta aula, você reconheceu os principais encontros e eventos


importantes para a discussão de meio ambiente e educação ambiental:
- Tbilisi,
- Moscou,
- Rio-92.

27
AULA 4 – EDUCAÇÃO AMBIENTAL, PEDAGOGIA, POLÍTICA E SOCIEDADE

Objetivos da aula: 1. Reconhecer as principais discussões sobre modelo de


desenvolvimento, desigualdade social, globalização e a inserção da
educação ambiental nesse contexto.

Introdução

A educação ambiental nada mais é do que a própria educação, com sua


base teórica determinada historicamente e que tem como objetivo final
melhorar a qualidade de vida ambiental da coletividade e garantir a sua
sustentabilidade.

Isso significa que é obrigatório que o educador ambiental conheça e


compreenda a história da educação, e os pensamentos pedagógicos aí
gerados. Seja capaz de escolher as melhores estratégias educativas para
atuar sobre os problemas socioambientais e, com a participação popular,
tente resolvê-los (Pelicioni, 2009).

Segundo o mesmo autor, a interdisciplinaridade, então, é inerente à


educação ambiental. Se os problemas ambientais são muito complexos e
são causados pelos modelos de desenvolvimento adotados até hoje, suas
soluções dependem de diferentes saberes, de pessoas com diferentes
formações voltadas para o objetivo comum de resolvê-los.

estratégias educativas - A ação transformadora da educação ambiental


deve estar apoiada na ética, na justiça social e na equidade. Os
conhecimentos das outras ciências (como filosofia, psicologia, sociologia e,
principalmente subsídios para a consolidação de um novo projeto
civilizatório, de uma nova visão do ser humano em suas relações com a
natureza (Philippi Junior e Pelicioni, 2000 apud Pelicioni, 2009).

Histórico

O século XXI inicia-se por meio de uma emergência socioambiental que


promete agravar-se caso sejam mantidas as tendências atuais de
degradação; um problema enraizado na cultura, nos estilos de

28
pensamento, nos valores, nos pressupostos epistemológicos e no
conhecimento, que configuram o sistema político, econômico e social que
vivemos (Luzzi, 2009).

Uma emergência que mais do que ecológica, é uma crise do estilo de


pensamento, do imaginário social e do conhecimento que sustentaram a
modernidade, dominando a natureza e mercantilizando o mundo. Uma
crise do ser no mundo, que se manifesta em toda a sua plenitude; nos
espaços internos do sujeito, nas condutos sociais autodestrutivas; e nos
espaços externos, na degradação da natureza e da qualidade de vida das
pessoas. É nesse sentido que consideramos que a solução dos problemas
do presente não se encontra na mera gestão dos recursos naturais nem na
incorporação das externalidades ambientais aos processos produtivos
(Luzzi, 2009).

Ainda segundo o mesmo autor, a resolução requer amadurecimento da


espécie humana, ruptura das hipocrisias sociais, construção de novos
desejos, de novos horizontes, de novos estilos de pensamentos e
sentimentos.

A humanidade chegou a uma encruzilhada que exige examinar-se para


tentar achar novos rumos e refletir sobre a cultura, as crenças, os valores
e conhecimentos em que se baseia o comportamento cotidiano, assim
como sobre o paradigma antropológico-social que persiste nas ações, no
qual a educação tem um enorme peso.

A educação deve produzir ser próprio giro copernicano, tentando formar


as gerações atuais não somente para aceitar a incerteza e o futuro. Mas
para gerar um pensamento complexo e aberto às determinações, às
mudanças, à diversidade, à possibilidade de construir e reconstruir em um
processo contínuo de novas leituras e interpretações do já pensado,
configurando possibilidades de ação naquilo que ainda há por se pensar
(Leff, 2000).

Educação Ambiental

29
O binômio educação/ambiente deverá então desaparecer com o tempo. A
educação será ambiental, ou não será, no sentido de permitir rumarmos
para uma nova sociedade sustentável.

Uma educação que, mais além das denominações que adquira – Educação
Ambiental, Educação para o Desenvolvimento Sustentável, Educação para
o Futuro Sustentável, Educação para Sociedades Responsáveis -, perca os
adjetivos e como um todo se encaminhe na busca de sentido e
significação para a existência humana (Luzzi, 2009).

Essa discussão pedagógica sobre a educação ambiental também nos


remete a sua interligação com o desenvolvimento, relacionado à
educação ambiental, onde precisamos entender sobre economia, pois o
desenvolvimento econômico sustentável do ponto de vista ambiental
pode premiar práticas sustentáveis e benéficas e também condenar as
não sustentáveis e nocivas.

Segundo Miller Junior (2008), neste século, muitos analistas nos desafiam
a dedicar mais atenção ao desenvolvimento econômico sustentável no
que se refere ao meio ambiente. Esse tipo de desenvolvimento faz uso de
prêmios econômicos (principalmente subsídios governamentais ou
incentivos fiscais) para incentivar formas benéficas e sustentáveis de
crescimento econômico e utiliza sanções econômicas (especialmente
impostos e regulamentações governamentais) para desencorajar formas
nocivas e não sustentáveis de crescimento econômico ligado ao meio
ambiente.

Um sistema econômico produz mercadorias e serviços utilizando recursos


naturais, humanos e manufaturados e é uma instituição por meio da qual
as mercadorias e serviços são produzidos, distribuídos e consumidos para
satisfazer as necessidades das pessoas e os desejos ilimitados da maneira
mais eficiente possível.

Em um sistema econômico com base no mercado, os compradores


(consumidores) e vendedores (fornecedores) interagem em mercados
para tomar decisões econômicas sobre quais mercadorias e serviços serão
produzidos, distribuídos e consumidos (Miller Junior, 2008).

30
Desigualdade Social

Isso nos remete a outra discussão, que é a questão da desigualdade social,


pois como falar em aquisição de produtos e até serviços, com o quadro
atual de miséria generalizada que temos?

desigualdade social - Quando falamos em desigualdade social, o problema


não está na escassez de riqueza, mas na sua distribuição. O século XX tem
sido testemunha do aumento do consumo em um ritmo sem precedentes,
chegando a 24 trilhões de dólares em 1998, o dobro do nível de 1975 e seis
vezes o de 1950, refletindo o crescimento de mais de 40% do PIB mundial.
Contudo a pobreza cresceu 17% nesse período (Luzzi, 2009).

Segundo o PNUD - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento


(1998) - o mundo se encontra cada vez mais polarizado, pois no fim dos
anos 90: A quinta parte da população mundial, que vivia nos países de
maior renda possuía - 86% do PIB mundial; - 82% dos mercados mundiais
de exportação. A quinta parte inferior somente possuía - 1% do PIB
mundial; - 1% dos mercados mundiais de exportação.

Ainda conforme o PNUD (1998), a não ser que os governos adotem


oportunamente medidas corretivas, o crescimento econômico pode ficar
distorcido e defeituoso. O certo é que o modelo de desenvolvimento já se
mostrou defeituoso, gerando um crescimento econômico:

 Sem emprego - as economias crescem, sem aumentar as


oportunidades de emprego.

 Sem raízes - o processo de globalização cultural unidirecional,


liderado pelo livre mercado, gera a massificação das pautas
culturais, sepultando as raízes dos povos, a história e a memória
coletiva, uma verdadeira armadilha social, pois um povo que não
tem memória histórica está condenado a repetir seus erros sem
chance de reflexão e amadurecimento.

31
 Sem equidade - Os frutos do crescimento econômico beneficiam
principalmente os ricos, deixando milhões de pessoas imersas em
uma pobreza cada vez mais profunda. Sem voz crescem economias,
mas não se fortalecem as democracias no que se refere à
participação das pessoas.

 Sem futuro - já que o crescimento econômico descontrolado de


muitos países está acabando com os bosques, contaminando os
rios, o mar, o solo, o ar, destruindo a diversidade biológica e cultural
e esgotando os recursos naturais não renováveis.

Globalização

A globalização está abrindo oportunidades a milhões de pessoas,


entretanto encontra-se impulsionada pela expansão dos mercados; e
todos nós sabemos que os mercados competitivos podem ser a melhor
garantia de eficiência, porém não necessariamente de equidade. Quando
a ambição do lucro dos participantes no mercado se descontrola, desafia a
ética dos povos e sacrifica o respeito pela justiça e pelos direitos humanos
(PNUD, 1999).

Neste mesmo informe do PNUD (1999), destacou-se que o objetivo da


globalização do novo século não consiste em deter a expansão dos
mercados, mas é necessário gerar uma globalização com ética, ou seja,
com menos violações dos direitos humanos; com equidade, que implique
menos disparidade dentro das nações e entre elas; com inclusão, isto é,
menos marginalização dos povos e países; com segurança humana,
gerando menos instabilidade social e vulnerabilidade; com sustentação,
implicando menos destruição ambiental; com desenvolvimento, ou seja,
menos pobreza e privação.

Nesse cenário de sucessos e padecimentos humanos, deve-se encontrar


um novo conceito de segurança humana, um novo paradigma. Segundo
Luzzi (2009), um novo modelo de desenvolvimento que:

32
 Coloque o ser humano no centro do desenvolvimento.
 Considere o crescimento econômico como um meio e não um fim.
 Proteja a vida das futuras gerações e igualmente a das atuais.
 Respeite os sistemas naturais do qual dependem todos os seres
vivos.

Modelo Atual de Desenvolvimento

Conforme Bifani (1997), no atual modelo de desenvolvimento, a sociedade


rica explora ao máximo a natureza para satisfazer às necessidades
luxuosas ou supérfluas, enquanto os mais necessitados a deterioram para
prover-se com o mínimo requerido para a subsistência. O século XXI
começa com uma crescente tensão socioambiental, em que se podem
identificar três dimensões principais:

Consumo - No final do milênio, a sociedade industrial moderna não


somente consome recursos naturais renováveis a uma velocidade maior
do que requer o planeta para sua natural reposição, mas, além disso, gera
desperdícios em um nível superior do que precisa para sua natural
reciclagem.

Degradação Ambiental - A civilização em seu conjunto criou tecnologias


capazes de manufaturar produtos não degradáveis e tóxicos para o
ambiente. Centenas de milhões de quilos dessas substâncias são
produzidas anualmente sem ser assimiladas por nenhum organismo vivo.
Somente podem acumular, e com isso contaminar a terra, as águas, o ar, e
portanto, a cadeia de alimentos: flora, fauna e seres humanos. Esse
ecossistema demorou milhões de anos para se formar e a civilização
industrial o agrediu no transcurso de apenas dois séculos.

Pobreza - O consumo crescente de recursos naturais não está associado a


uma divisão equitativa, gerando grande desigualdade. Quase a metade do
mundo luta por sua sobrevivência cotidiana. Esta desigualdade está
produzindo conflitos armados e grandes deslocamento de populações das
zonas rurais para os centros urbanos.

33
Educação Ambiental

Nesse contexto é que se defende que a educação ambiental não pode ser
reduzida a uma simples visão ecologista, naturalista ou conservadora sem
perder legitimidade social, por uma simples questão de ética, e sem
perder sua coerência, porque a resolução dos problemas socioambientais
anteriormente apresentados se localiza no campo político e social, na
superação da pobreza, na desaparição do analfabetismo, na geração de
oportunidades, na participação ativa dos cidadãos (Luzzi, 2009).

Conforme Luzzi (2009), o problema ambiental não se resolve com a


assepsia cientificista, seja esta ecológica, biológica ou tecnológica; sua
resolução se localiza no campo da cultura, do imaginário social, dos
valores e da organização política e econômica global. A definição de
educação ambiental nesse contexto deve estar estreitamente relacionada
à visão construída sobre a realidade em que se vive, já que toda ação é
resultado de certa compreensão, da interpretação de algo que configure
sentido; por isso, é conveniente abordar os principais problemas
ambientais do presente, aprofundando suas origens e suas alternativas de
solução, com uma interpretação própria do problema, a fim de avançar
nessa aventura de construção de sentidos que significa aprender a
aprender.

Conclusão

Precisamos ter em mente que o desafio que temos é de utilizar de forma


criativa os sistemas econômicos e políticos para implementar soluções dos
problemas sobre o funcionamento da natureza e como se sustenta. A
chave é reconhecer que a maioria das mudanças econômicas e políticas é
resultado de ações individuais e de indivíduos agindo conjuntamente para
promover mudanças por meio de ação envolvendo pessoas comuns, de
baixo para cima.

34
Ações Individuais - Cientistas sociais sugerem que é necessário apenas 5
a 10% da população de um país para provocar uma grande mudança
social. A antropóloga Margaret Mead resumiu nosso potencial de
mudança: “Nunca duvide que um pequeno grupo de cidadãos atentos e
comprometidos possa mudar o mundo. Na realidade, só assim se foi
capaz de mudar o mundo até hoje”. Isso significa que devemos aceitar
nossa responsabilidade ética de administradores do capital natural da
Terra, deixando-a em uma condição boa, senão melhor, do que aquela
que encontramos (Miller Junior, 2008).

Com isso posto, os educadores ambientais devem integrar-se aos


movimentos políticos e sociais que lutam por uma vida melhor para todos,
contribuindo humildemente nesse processo de diálogo permanente,
tentando gerar as bases de uma educação que se objetive na busca do
outro, para a construção de uma pluralidade que fundamente o sentido
ético da ida humana, e a presença constante da utopia e da esperança.
Esse é o desafio, segundo Luzzi (2009).

Para que serve uma casa se você não tiver um planeta para colocá-la?
Henry David Thoreau

35
AULA 5 – EDUCAÇÃO AMBIENTAL E LEGISLAÇÃO

Objetivos da aula:1. Reconhecer a Política Nacional do Meio Ambiente e


seus Sistemas e Institutos.
2. Identificar a Política Nacional de Educação Ambiental (Lei 9.795/99).

Introdução

Sabe-se que as democracias foram designadas para lidar principalmente


com problemas isolados de curto prazo. Mas o que é democracia e política
afinal? Segundo Miller Júnior (2007):

Política é o processo pelo qual indivíduos e grupos influenciam ou


controlam as políticas e ações dos governos nos níveis local, estadual,
nacional e internacional. A política está preocupada com quem tem poder
sobre a distribuição de recursos e quem recebe o quê, quando e como.
Muitas pessoas pensam em política no âmbito nacional, mas o que afeta
diretamente a maioria das pessoas é o que acontece nas comunidades
locais.

Democracia é o governo das pessoas por meio de delegados ou políticos e


representantes eleitos. Em uma democracia constitucional, a constituição
fornece a base de autoridade governamental, limita o poder do governo
ordenando eleições livres e garantias de liberdade de expressão.

Aprovando leis, desenvolvendo orçamentos e formulando


regulamentações, os representantes eleitos e nomeados pelo governo
devem lidar com a pressão de muitos grupos competitivos de interesse
especial.

Para o bem-estar da sociedade e a preservação do meio ambiente, a partir


dessas decisões políticas, as pessoas que compõem estes grupos políticos
precisam de educação ambiental.

36
Política

Segundo Sorrentinoet al. (2005), a palavra política origina-se do grego e


significa limite. Dava-se o nome de polis ao muro que delimitava a cidade
do campo; só depois se passou a designar polis o que estava contido no
interior dos limites do muro. O resgate desse significado, como limite,
talvez nos ajude a entender o verdadeiro significado da política, que é a
arte de definir os limites, ou seja, o que é o bem-comum (Gonçalves, 2002,
p. 64).

Para Arendt (2000), a pluralidade é a “condição pela qual” (conditio per


quam) da política, implica e tem por função a conciliação entre pluralidade
e igualdade.

Quando a entendemos política a partir da origem do termo, como limite


não falamos de regulação sobre a sociedade, mas de uma regulação
dialética sociedade-Estado que favoreça a pluralidade e a igualdade social
e política.

Por sua vez, o ambientalismo coloca-nos a questão dos limites que as


sociedades têm na sua relação com a natureza, com suas próprias
naturezas como sociedades. Assim, resgatar a política é fundamental para
que se estabeleça uma ética da sustentabilidade resultante das lutas
ambientalistas (Sorrentinoet al., 2005).

Munidos desses preceitos, entenderemos melhor o histórico das políticas


públicas de meio ambiente em nosso país (não que a mesma seja
justificável em seus erros e acertos, mas está hoje da forma como se
apresenta por determinantes históricos).

Política Ambiental – Brasil

Até o início do século XX, o campo político e institucional brasileiro não se


sensibilizava com os problemas ambientais, embora não faltassem
problemas e nem vozes que os apontassem. A abundância de terras
férteis e de outros recursos naturais, enaltecida desde a Carta de Caminha
ao rei de Portugal, tornou-se uma espécie de dogma que impedia

37
enxergar a destruição que vinha ocorrendo desde os primeiros anos da
colonização.

A degradação de uma área não era considerada um problema ambiental


pela classe política, pois sempre havia outras a ocupar com o trabalho
escravo. As denúncias sobre o mau uso dos recursos naturais não
encontravam ecos na esfera política dessa época, embora muitos
denunciantes fossem políticos ilustres, como José Bonifácio, Joaquim
Nabuco e André Rebouças.

Nenhuma legislação explicitamente ambiental teve origem nas muitas


denúncias desses políticos, que podem ser considerados os precursores
dos movimentos ambientalistas nacionais e que, já nas suas origens,
apresentavam uma tônica socioambiental dada pela luta contra a
escravatura, a monocultura e o latifúndio.

Somente quando o Brasil começa a dar passos firmes em direção à


industrialização, inicia-se o esboço de uma política ambiental. A adesão do
Brasil aos acordos ambientais multilaterais das primeiras décadas do
século XX, praticamente não gerou nenhuma repercussão digna de nota
na ordem interna do país. Tomando como critério a eficácia da ação
pública e não apenas a geração de leis, pode-se apontar a década de 1930
como o início de uma política ambiental efetiva (Barbieri, 2010).

Conforme Barbieri (2010), uma data de referência é o ano de 1934,


quando foram promulgados os seguintes documentos relativos à gestão
de recursos naturais:

• Código de Caça;

• Código Florestal;

• Código de Minas;

• Código de Águas.

Outras iniciativas governamentais importantes desse período foram:


criação do Parque Nacional de Itatiaia, o primeiro do Brasil e a organização
do patrimônio histórico e artístico nacional.

38
As políticas públicas dessa fase procuram alcançar efeitos sobre os
recursos naturais por meio de gestões setoriais (água, florestas,
mineração, etc), para as quais foram sendo criados órgãos específicos,
como o Departamento Nacional de Recursos Minerais, Departamento
Nacional de Água e Energia Elétrica e outros.

Os problemas relativos à poluição só seriam sentidos em meados da


década de 1960, quando o processo de industrialização já havia se
consolidado. No início dessa fase, na década de 1930, o rio Tietê, por
exemplo, era usado para lazer de muitos paulistanos, e que se tornaria
inviável algumas décadas depois. Até meados da década de 1970, a
poluição industrial ainda era vista como um sinal de progresso e, por isso,
muito bem-vinda para muitos políticos e cidadãos.

Propaganda política de divulgação da evolução da política ambiental no


Brasil.

Política Ambiental - Mundo

Enquanto isso ocorria no Brasil, no mundo iniciava-se uma política de


comando e controle (CommandandControlPolicy), que assumiu duas
características muito definidas, segundo Lustosa, Cánepa e Young (2003):1

1. A imposição pela autoridade ambiental, de padrões de emissão


incidentes sobre a produção final (ou sobre o nível de utilização de
um insumo básico) do agente poluidor.

2. A determinação da melhor tecnologia disponível para


abatimento da poluição e cumprimento do padrão de
emissão.

A razão de ser dessa política é perfeitamente compreensível. Dado o


elevado crescimento das economias ocidentais no pós-guerra, com a sua
também crescente poluição associada, é necessária uma intervenção
maciça por parte do Estado. Este não pode mais se apoiar simplesmente
na disputa em tribunais, caso a caso (esfera do Direito Civil), sendo
necessário dispor de instrumentos vinculados ao Direito Administrativo.

39
Entretanto, essa política “pura” de comando e controle apresenta uma
série de deficiências, como a morosidade na sua implementação, segundo
os mesmos autores.

Política Mista de Comando e Controle

Tentando solucionar os problemas, de certo modo acumulados e


agravados ao longo do tempo, os países desenvolvidos encontram-se hoje
numa terceira etapa da política ambiental e que, a falta de melhor nome,
poderíamos chamar de política “mista” de comando e controle.

Nessa modalidade de política ambiental, os padrões de emissão deixam de


ser meio e fim da intervenção estatal e passam a ser instrumentos, dentre
outros, de uma política que usa diversas alternativas e possibilidades para
a consecução de metas acordadas socialmente.

Temos assim, a adoção progressiva dos padrões de qualidade dos corpos


receptores como metas de política e a adoção de instrumentos
econômicos – em complementação aos padrões de emissão – no sentido
de induzir os agentes a combaterem a poluição e a moderarem a
utilização dos recursos naturais, ainda conforme Lustosa, Cánepa e Young
(2003).

Voltando ao Brasil, após a Conferência de Estocolmo de 1972, quando as


preocupações ambientais se tornam mais intensas, embora nessa ocasião
o governo militar brasileiro não reconheceu a gravidade dos problemas
ambientais e defendeu sua ideia de desenvolvimento econômico, na
verdade um mal desenvolvimento, em razão da ausência de preocupações
com o meio ambiente e a distribuição de renda.

Porém, os estragos ambientais mais do que evidentes e a colocação dos


problemas ambientais em dimensões planetárias exigiram do poder
público uma nova postura. Em 1973, o Executivo Federal cria a Secretaria
Especial do Meio Ambiente e diversos estados criaram sua agências
ambientais especializadas, como a Cetesb no Estado de São Paulo e a
Feema no Estado do Rio de Janeiro (Barbieri, 2010).

40
O mesmo autor também mostra que, em matéria ambiental, o Brasil
também seguiu uma tendência observada em outros países. Onde os
problemas ambientais são percebidos e tratados de modo isolado e
localizado (repartindo o meio ambiente e solo, ar e água, e mantendo a
divisão dos recursos naturais: água, floresta, recursos minerais e outros).
Só no início da década de 1980 é que passariam a ser considerados
problemas generalizados e interdependentes, que deveriam ser tratados
mediante políticas integradas.

A legislação federal sobre matéria ambiental nessa fase procurava atender


problemas específicos, dentro de uma abordagem segmentada do meio
ambiente e percebe-se isso através dos textos legais abaixo:

Decreto-lei 1.413 de 14/8/1975 sobre medidas de prevenção da poluição


industrial;

• Lei 6.453 de 17/10/1977 sobre responsabilidade civil e criminal


relacionada com atividades nucleares;

• Lei 6.567 de 24/9/1978 sobre regime especial para exploração e


aproveitamento das substâncias minerais;

• Lei 6.766 de 19/12/1981 sobre o parcelamento do solo urbano;

• Lei 6.902 de 27/4/1981 sobre a criação de estações ecológicas e áreas de


proteção ambiental.

Foi com o advento da Lei 6.938, de 31 de agosto de 1981, que dispõe


sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, que conhecemos uma
definição legal e passamos a ter uma visão global de proteção ao meio
ambiente. Ela foi editada com o fito de estabelecer a política nacional do
meio ambiente, seus fins, mecanismos de formulação, aplicação,
conceitos, princípios, objetivos e penalidades devendo ser entendida
como um conjunto de instrumentos legais, técnicos, científicos, políticos e
econômicos destinados à promoção do desenvolvimento sustentado da
sociedade e da economia brasileira.

41
Embora tenha sido editada no início da década de 1980, continua sendo
de fundamental importância para o meio ambiente (Funiber, 2009).

Temos assim, a adoção progressiva dos padrões de qualidade dos corpos


receptores como metas de política e a adoção de instrumentos
econômicos – em complementação aos padrões de emissão – no sentido
de induzir os agentes a combaterem a poluição e a moderarem a
utilização dos recursos naturais, ainda conforme Lustosa, Cánepa e Young
(2003).

Princípios da PNMA - Política Nacional de Meio Ambiente

O artigo 2º. Da referida lei, estabeleceu que a preservação, a melhoria e a


recuperação da qualidade ambiental propiciem à vida, visando assegurar
no país, condições ao desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da
segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana, atendidos
os seguintes princípios, segundo Funiber (2009):

• I. Equilíbrio ecológico, considerando o meio ambiente como patrimônio


público.

• II. Racionalização do uso do solo, do subsolo, da água e do ar;

• III. Planejamento e fiscalização do uso dos recursos naturais;

• IV. Proteção dos ecossistemas;

• V. Controle e zoneamento das atividades potencial ou efetivamente


poluidoras;

• VI. Incentivo ao estudo e à pesquisa de tecnologias voltadas para o uso


racional e à proteção dos recursos ambientais;

• VII. Acompanhamento do estado da qualidade ambiental;

• VIII. Recuperação de áreas degradadas;

• IX. Proteção de áreas ameaçadas de degradação; e

42
• X. Educação ambiental em todos os níveis de ensino.

A Lei da PNMA foi em quase todos os seus aspectos, recepcionada pela


Constituição Federal de 1988, pois, valoriza a dignidade humana, a
qualidade ambiental propícia à vida e ao desenvolvimento
socioeconômico e tem uma abrangência grandiosa. A preservação referida
na lei tem sentido de perenizar, de perpetuar, de salvaguardar, os
recursos naturais.

Já a melhoria do meio ambiente significa dar-lhe condições mais


adequadas do que aquelas que se apresentam. O art. 3º da lei em
comento, considerou o meio ambiente como sendo o conjunto de
condições, leis influências e interações de ordem física, química e
biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas
(Funiber, 2009).

“Meio Ambiente” é a expressão incorporada à língua portuguesa para


indicar, segundo o Aurélio, o conjunto de condições naturais e de
influências que atuam sobre os organismos vivos e os seres humanos.

José Afonso da Silva (segundo Funiber, 2009), observou que a palavra


“ambiente” indicando a esfera, o círculo, o âmbito que nos cerca, em que
vivemos, em certo aspecto, já contém o sentido da palavra “meio”.

Justifica o uso, na língua portuguesa, pela necessidade de reforçar o


sentido significante de determinados termos diante do enfraquecimento
no sentido a destacar ou, porque sua expressividade é mais ampla e mais
difusa. E afirmou, o meio constitui uma unidade que abrange bens
naturais, e culturais e que compreende a interação do conjunto de
elementos naturais, artificiais e culturais que propiciam o
desenvolvimento equilibrado da vida humana. Para mais informações leia
o texto ‘Objetivos da Política Nacional do Meio Ambiente’ ¹.

Importante também saber que, a Lei 6.938/81 instituiu o Sistema Nacional


do Meio Ambiente (Sisnama), responsável pela proteção e melhoria do
ambiente e constituído por órgãos e entidades da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios.

43
Espelhando-se no Sisnama, os estados criaram os seus Sistemas Estaduais
do Meio Ambiente para integrar as ações ambientais de diferentes
entidades públicas nesse âmbito. Outra inovação foi o conceito de
responsabilidade objetiva do poluidor. O poluidor fica obrigado,
independente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos
causados ao meio ambiente e a terceiros afetados por suas atividades
(Barbieri, 2010).

Observação: Embora aprovada em 1981, a implementação da Lei


6.938/81 só deslanchou efetivamente ao final desta década de 1980,
principalmente a partir da promulgação da Constituição Federal de 1988.

Slogan da campanha sobre a Política Nacional de Meio Ambiente na Rio +


10.

Saiba mais: Artigo de Janine Dorneles Furtado sobre o papel da Política


Nacional de Educação Ambiental.

44
AULA 6 – INDICADORES AMBIENTAIS
Ao final desta aula, você será capaz de:

1. Reconhecer os indicadores ambientais:


a avaliação de impactos ambientais, o
estudo de impactos ambientais e o
relatório de impacto de meio ambiente.

Introdução

Nos estudos ambientais, o meio ambiente é tratado como um sistema,


isto é, o conjunto das partes que se integram, direta ou indiretamente, de
modo que de cada uma delas dependa o comportamento das demais. Os
fenômenos no interior do sistema processam-se por meio de fluxos de
matéria e energia que resultam em conexões e relações de dependência
entre suas partes (Philippi Júnior e Maglio, 2008).

O ecossistema, unidade funcional da ecologia, é um sistema aberto,


integrado por todos os organismos vivos e os elementos físicos presentes
em uma determinada área, cujas propriedades de funcionamento e de
autorregulação derivam das relações entre eles (Branco, 1989).

Um sistema ambiental inclui todos os processos e as interações que


compõem o ambiente, os fatores físicos e bióticos e os fatores de natureza
socioeconômica, política e institucional (Moreira, 1991 apud Philippi
Júnior e Maglio, 2008).

Segundo Philippi Júnior e Maglio (2008), o planejamento ambiental que


utiliza esses conceitos em seu processo de trabalho, é um processo de
planejamento de caráter multidisciplinar e interdisciplinar, uma vez que o
estudo dos sistemas ambientais, cujos elementos estão em permanente
interação, exige como ferramenta a interação do conhecimento de várias
disciplinas, para que cada uma delas, interagindo com as demais leve a
resultados e interpretações que permitam conhecer o sistema a ser
estudado.

45
Dessa forma, os métodos e as técnicas de análise ambiental devem
absorver a interdisciplinaridade como um pressuposto. Do ponto de vista
dos participantes dos estudos, tal análise requer profissionais de várias
especialidades atuando em conjunto, em equipe multidisciplinar.

Fica claro que os indicadores ambientais têm de abordar a forma mais


ampla e complexa dos ecossistemas, para que assim possamos pensar na
melhor forma de protegê-lo e preservá-lo.

Meio ambiente integrado

Os conceitos de sustentabilidade e crescimento econômico constituem


tema emergente. Uni-los é uma tarefa árdua para economistas, políticos,
empresários, ecologistas e população, visto que a preocupação das elites
que governam o país ou aqueles que estão à frente de grandes empresas
com o meio ambiente é mínima ou nenhuma, inclusive falta
conscientização por parte da população (Oliveira Neto, 2008).

Segundo ainda o mesmo autor, na atualidade o problema principal é que


essas discussões parecem míopes, pois o conceito de sustentabilidade é
muito mais abrangente do que apenas tratar do desmatamento, do
derretimento das geleiras ou das fontes alternativas de energia, pois a
produção de bens e serviços, o consumo e a qualidade ambiental estão
hoje estreitamente ligados.

Cada vez mais, há tendência à valorização e apreciação do meio ambiente


como bem a integrar a produção e o consumo de bens e serviços
(FUNIBER, 2009

Segundo Granato e Oddone (2007 apud Funiber, 2009), ao aumentar o


preço do meio ambiente, por exemplo, pela via da aplicação de um
imposto, a conduta de produtores e consumidores mudará “produzindo-
se um uso socialmente ideal dos recursos naturais”.

Segundo Granato e Oddone (2007 apud Funiber, 2009), ao aumentar o


preço do meio ambiente, por exemplo, pela via da aplicação de um

46
imposto, a conduta de produtores e consumidores mudará “produzindo-
se um uso socialmente ideal dos recursos naturais”.

Conforme Funiber (2009), tendo em conta que a sustentabilidade está


especialmente relacionada ao consumo de bens ambientais capazes de
satisfazer as necessidades das atuais gerações sem prejudicar o direito ao
consumo e à satisfação de necessidades das gerações vindouras, cabe se
perguntar como se traduzem em termos econômicos esta preocupação e,
em particular, “os direitos das futuras gerações”. É aqui que reside uma
fundamental contraposição entre a economia ambiental e a denominada
economia do bem-estar.

Indicadores

Para que possamos começar a pensar numa reversão de valores para que
efetivamente façamos ações em prol da sustentabilidade, é necessário
que indicadores nos forneçam informações do meio natural e
socioeconômico para a análise, que deve ser sistemática e relevante, no
planejamento de um sistema de gestão ambiental.

Um indicador é uma informação processada, geralmente de caráter


quantitativo, que gera uma noção clara e acessível sobre um fenômeno
complexo e sua evolução, de modo a dar uma ideia da situação em que
ele se encontra, podendo-se estabelecer, então, qual a diferença existente
entre seu estado em relação à ideal situação (Comissão Nacional de Meio
Ambiente, 1999).

Por exemplo, no âmbito econômico, o PIB é um indicador de evolução da


economia de um país, reunindo informação sobre processos produtivos,
riqueza, empregos, etc.

Os indicadores são instrumentos auxiliares na avaliação e no


acompanhamento de um projeto no decorrer do tempo. Por exemplo,
indica o grau de conservação de uma região, a qualidade ambiental de
uma área urbana (FUNIBER, 2009).

47
A seguir, alguns indicadores muito úteis nos planos de ação da gestão do
meio ambiente e dos espaços naturais em diversas escalas de gestão
territorial, segundo FUNIBER (2009):

Monitoramento de planos de ações especificos - Programa de


monitoramento de planos de ação específicos, que permitem o
acompanhamento de um plano de proteção, de recuperação e de
introdução de espécies da flora e fauna, de um plano de educação e de
sensibilização ambiental e de outros planos de ação que façam parte dos
planos de gestão. Neste caso são escolhidos os parâmetros de diversas
índoles que detectem mudanças ocorridas, sistematiza-se o
acompanhamento desses parâmetros, identificando-se as causas
provocadoras da mudança, modificando-se e complementando-se assim
as propostas de gestão.

Acompanhamento biológico – Programas de acompanhamento biológico,


que têm como principal objetivo o monitoramento do estado em que se
encontram as populações de fauna e flora de uma determinada área
natural, num período de tempo o mais dilatado possível, e sob uma
metodologia padronizada. Mediante sua implementação pode-se manter
atualizada uma base de dados (sobre as mudanças na abundância dos
seres vivos e as mudanças na estrutura e na composição das populações),
identificar as alterações nos parâmetros estudados, e determinar em que
fase do ciclo vital das espécies de organismos vivos estudados ocorrem as
mudanças.

Acompanhamento socieconômico – Programas de acompanhamento


socioeconômico, que visam monitoramento das características
apresentadas pela população humana na área natural, ou em suas
proximidades, num dilatado período de tempo e sob uma metodologia
padronizada. Contemplam o acompanhamento de parâmetros
relacionados com a situação socioeconômica da população, com a
mudança de usos do solo e com o aproveitamento de recursos naturais
(atividades cinergéticas, piscícolas, de coleta, de lazer e de visita, entre
tantas outras).

48
Controle de impacto - Programas de controle de impacto que buscam
como objetivo destacar mudanças de parâmetros biológicos e ambientais,
produzidos geralmente por problemas de origem ou indução humana em
escala global (diminuição do ozônio na estratosfera, chuva ácida) e em
âmbito local e regional (contaminação de um rio, erosão de uma bacia
hidrológica etc). São também úteis na gestão de espaços naturais, mas
apresentam maior importância em nível suprarregional, ajudando na
coordenação de políticas e de planos de gestão em âmbito nacional e
internacional.

O uso de indicadores como instrumentos para a gestão e para a tomada


de decisões políticas é uma prática habitual em setores como o da
economia, da sociologia, da educação, etc.

No terreno ambiental e no âmbito dos países da União Europeia, o


desenvolvimento de planos nacionais de política ambiental teve início nos
anos 80, momento em que surgiu a necessidade de se por em prática a
utilização de instrumentos que avaliassem a situação do meio ambiente
(Funiber, 2009).

Segundo ainda o mesmo autor, a história do desenvolvimento de


indicadores ambientais teve início oficial na Conferência das Nações
Unidas sobre Meio Natural e Desenvolvimento, quando se produziu um
consenso geral a respeito da necessidade de avançar para a
implementação de um desenvolvimento sustentável.

Avaliação de Impacto Ambiental (AIA)

O processo de avaliação de impacto ambiental (AIA) foi introduzido


mundialmente no final da década de 1960, inicialmente nos EUA a partir
de 1969 (National Environmental Policy Act) e na Europa pela França,
sendo gradativamente adotado pelos demais países, ampliando as
preocupações mundiais existentes com a questão ambiental, com a
introdução do conceito de impacto ambiental na avaliação de projetos de
desenvolvimento (Philippi Júnior e Maglio, 2008).

Como um instrumento de política e gestão ambiental de projetos de


empreendimentos, o processo de avaliação de impacto ambiental

49
caracteriza-se por procedimentos capazes de assegurar, desde o início do
processo de planejamento, que se faça um exame sistemático dos
impactos ambientais de uma proposta (projeto, programa, plano ou
política) e de suas alternativas, e que os resultados sejam apresentados de
forma adequada ao público e aos responsáveis pela tomada de decisão, e
por eles considerados (Moreira, 1997).

No Brasil, a AIA, como um instrumento de gestão ambiental, foi


introduzida por meio da Lei Federal 6.938 de 31 de agosto de 1981, que
estabeleceu a política ambiental e dos demais procedimentos técnicos de
gestão ambiental. Esses instrumentos foram regulamentados um a um por
meio de Resoluções do Conselho Nacional de Meio Ambiente, órgão
superior do Sisnama.

No caso da AIA, sua regulamentação em nível nacional deu-se a partir da


Resolução 001/86 do Conama, que estabeleceu as definições, os critérios
básicos e as diretrizes para a sua introdução no país, formalizando o
Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e o respectivo Relatório de Impacto de
Meio Ambiente (RIMA), como condicionantes para o licenciamento
ambiental de empreendimentos causadores de impactos ao meio
ambiente.

Posteriormente, a Constituição da República de 1988, em seu capítulo de


meio ambiente (art. 225), consagrou o Estudo Prévio de Impacto
Ambiental, como exigência para a implantação de obra ou atividades
causadoras de significativa degradação do meio ambiente (parágrafo 10,
inc. IV apud Philippi Júnior e Maglio, 2008).

Conhecendo um EIA/RIMA (texto baseado em Genebaldo Freire Dias,


2004)

Conforme a Resolução 001/86 do Conama, para o licenciamento de uma


atividade modificadora do ambiente, o interessado deverá, após
apreciação preliminar do projeto e da sua localização – fase da Licença
Prévia (LP) – apresentar ao órgão de meio ambiente respectivo, os
Estudos de Impactos Ambientais (EIA) e o seu respectivo Relatório de
Impacto de Meio Ambiente (RIMA).

50
Os EIAs, além de atender à legislação e aos objetivos da PNMA, deverão
conter as alternativas tecnológicas e de localização do projeto, identificar
e avaliar sistematicamente os impactos ambientais gerados nas fases de
implantação e operação da atividade, e definir os limites da área
geográfica a ser direta ou indiretamente afetada pelos impactos, entre
outros.

Os EIAs, além de atender à legislação e aos objetivos da PNMA, deverão


conter as alternativas tecnológicas e de localização do projeto, identificar
e avaliar sistematicamente os impactos ambientais gerados nas fases de
implantação e operação da atividade, e definir os limites da área
geográfica a ser direta ou indiretamente afetada pelos impactos, entre
outros.

Dadas estas características, não é difícil concluir que os EIAs são


documentos volumosos, detalhados, exaustivos, e possivelmente
complexos demais para a compreensão dos leigos, dos representantes
comunitários. Pensando nisso, a mesma Resolução estabeleceu o RIMA
que é no fundo, um resumo dos EIAs, apresentando de forma objetiva, em
linguagem acessível, ilustrado por várias técnicas de comunicação visual,
de modo que se possa entender as vantagens e desvantagens do projeto e
todas as possíveis consequências ambientais de sua implantação.

O RIMA fica no órgão de meio ambiente à disposição do público (e os EIAs


também) para conhecimento e como fonte de informações que podem
permitir a participação da comunidade quando da realização das
audiências públicas (quando for o caso), no “julgamento” do projeto. Ou
seja, a lei ambiental brasileira tem esse importante mecanismo de
participação comunitária na gestão ambiental.

participação comunitária - Ocorre que dada à restrita divulgação da


mesma, a população não tem acorrido às audiências públicas para
usufruirdos seus direitos e, com isso, alguns projetos polêmicos têm sido
homologados sem grandes restrições.

51
Conclusão

Percebemos ao longo da aula, que já dispomos da maioria dos dispositivos


legais necessários para a consolidação de nossa Política Nacional de Meio
Ambiente (PNMA). Entretanto a participação popular, a despeito de todo
o respaldo legal que a abriga e contempla, tem sido restrita, desarticulada
e insuficiente.

O que faz com que não haja interesse da divulgação de informações de


caráter ambiental para todos e somente ocorra para poucos?

Por que nossos governantes são sempre os menos informados sobre o


meio ambiente?

52
AULA 7 – PROJETOS EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL
Ao final desta aula, você será capaz de:

1. Identificar o planejamento, construção e avaliação de projetos em educação ambiental.

Introdução

A nossa vida é fugaz. Muitas vezes, passamos o tempo todo ocupados com
coisas urgentes, em detrimento das coisas fundamentais. Precisamos de
vez em quando, dar uma parada para reflexões. Isso deveria ser
institucionalizado. Dessa forma, acredita-se que os erros seriam menos
frequentes e menos graves também (Dias, 2004).

Segundo o mesmo autor, avaliar para replanejar, reordenar prioridades e


proceder ajustamentos e redirecionar ações são procedimentos
absolutamente fundamentais para se atingir a eficiência.

Para o desenvolvimento dessa tarefa, o planejamento, a construção e


avaliação de projetos em educação ambiental, são extremamente
importantes.

Planejamento

O Tratado de educação ambiental para as sociedades sustentáveis e


responsabilidade global, consignado no Fórum Internacional de
Organizações Não-Governamentais (ONGs) e Movimentos Sociais, por
ocasião da Conferências das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e
Desenvolvimento, em 1992 (Rio-92), propôs princípios para o
desenvolvimento de um roteiro básico para o planejamento e avaliação de
projetos em educação ambiental.

De acordo com as diretrizes desse documento, o planejamento de


projetos em educação ambiental se apresenta com as seguintes
características:

• Ter enfoque interdisciplinar e holístico.

• Ser um ato político.

53
• Facilitar a cooperação mútua e equitativa nos processos de decisão.

• Potencializar o poder das diversas populações na condução de seus


próprios destinos e na resolução de conflitos de maneira justa e humana.

• Deve ainda estimular a adoção de projetos que formem sociedades


socialmente justas, sustentáveis e ecologicamente equilibradas (Malzyner,
Silveira e Arai, 2009).

Todo processo de planejamento deve ter necessariamente cinco etapas:

1 – Conhecimento da realidade.

2 – Concepção de um plano.

3 – Execução do plano.

4 – Acompanhamento, o monitoramento.

5 - Avaliação das ações.

Na prática essa sequência é um ciclo continuado. As etapas se integram,


envolvem-se e ocorrem simultaneamente. O conhecimento da realidade é
um processo permanente. Segundo os autores Malzyner, Silveira e Arai
(2009),

Etapa 1 – conhecimento da realidade

Delimitação e apreensão do objetivo – Definição da área geográfica que


será objeto do planejamento ( uma região, um município , um bairro, etc)
ou grupo/ comunidade que será envolvido.

Diagnostico- Analise do processo de evolução recente da realidade, que


sintetiza a historia referente á área e ao público que será envolvido e os
fatores – endógenos (de origem interna) e exógenos (de origem externa)-
que explicam a situação atual.

Definição de Prioridades- Escolha de prioridades entre os problemas ou


potencialidades para a elaboração de planos, projetos ou programas.

54
Prognóstico – Exercicio de antecipação de futuros possíveis , prováveis e
desejáveis (ou seja, futuro que pode acontecer, futuro que provavelmente
acontecerá e futuro que desejamos que aconteça em função de valores e
prioridades).

Durante a formulação do plano e sua execução, podem ocorrer


imprevistos. O prognóstico serve para que os imprevistos possam ser
previstos, caso seja feita uma análise mais criteriosa da realidade, Afinal,
planejar significa também prever os imprevistos.

Etapa 2 – concepção de um plano

Nesse momento cabe reforçar a importância da participação de todos os


atores sociais envolvidos (grupo beneficiário, instituições
implementadoras e colaboradoras) na formulação do plano. O grau de
vínculo dos participantes com o plano definirá o grau de acatamento e
implementação das suas ações.

Os principais elementos da etapa de concepção de um plano são:


objetivos, resultados, atividades, recursos necessários, prazos,
responsáveis e avaliação.

Etapa 3 e 4 – execução e monitoramento e controle

A execução é a prática do projeto.


Monitoramento e controle é um processo sistemático – que ocorre no
contexto de um programa ou da implementação de um projeto com o
objetivo de produzir informações a respeito dos progressos obtidos para:

• Ajudar a tomar decisões, especialmente em curto prazo, de modo a


aumentar a eficácia do projeto.

• Assegurar o controle de todos os níveis da hierarquia do projeto , desde


a comunidade local até a agência financiadora, especialmente no que diz
respeito a questões financeiras.

Avaliação

55
É um conjunto de procedimentos para apreciar os méritos de um
programa e fornecer informações a respeito do alcance de seus objetivos,
atividades, resultados, impacto custo-benefício. É a parte mais importante
de um projeto.

A avaliação faz parte integrante de qualquer planejamento. Consiste em


analisar o desempenho das atividades planejadas. Especificamente, ela
procura determinar se os objetivos e metas propostos no planejamento
foram de fato alcançados. Assim o seu objetivo direto consiste em
determinar a defasagem entre o planejado e os resultados alcançados.
Além disso, ela visa analisar o próprio processo de ações, para verificar a
eficiência delas.

Os principais instrumentos mais utilizados em avaliação são:

• Ex post facto: avaliação posterior ao fato;

• Antes e depois: antes (dois grupos: experimental e controle) e depois


(dois grupos: experimental e controle);

• Estudo de caso: história de vida; questionários abertos ou fechados;


observação estruturada/não-estruturada; entrevista
estruturada/semiestruturada/aberta.

INSTRUMENTOS - A adoção de procedimentos avaliatórios pode ser


justificada de inúmeras maneiras, como:

- testar propostas inovadoras;

- pretender replicar uma proposta;

- determinar quanto um programa/projeto precisa ser modificado;

- conseguir maior participação dos atores/parceiros, e apoio das


autoridades.

A avaliação de um plano deve considerar os parâmetros de análise e os


indicadores de situação como insumos básicos para o processo de
decisão.

56
Ambos devem atender às seguintes condições:

• válidos: são capazes de medir o que se pretende.

• fidedignos: produzem resultados similares quando uma mesma situação


é avaliada repetidas vezes.

• objetivos: produzem os mesmos resultados quando a medida de uma


mesma realidade é feita por pessoas diferentes.

• específicos: referem-se exclusivamente a mudanças ocorridas na


situação em estudo.

• viáveis: de fácil medição e custo economicamente factível.

É deste confronto entre parâmetros e indicadores que se tornam mais


explícitas as diversas dimensões do impacto das ações executadas e o
desempenho dos atores e agentes responsáveis.

O acompanhamento constante de um plano desde seu início e as


avaliações periódicas possibilita a montagem de um sistema de
informações e percepções que serve de base para a análise e as decisões
relacionadas com o aperfeiçoamento ou com a reformulação do processo.

Exemplos de projetos de educação ambiental

57
Conclusão

Os projetos surgem das mais variadas formas, mas o empenho pessoal de


educadores nem sempre é suficiente para poder desenvolvê-los em sua
plenitude. Daí ser importante pensar no desenvolvimento deles inseridos
em organizações que legitimem, divulguem, viabilizem sua execução.

Nesse sentido, podem ser pensadas as relações existentes entre


instituições governamentais e não-governamentais no desenvolvimento
de projetos de intervenção educacional, em particular aqueles de
educação ambiental, e os vários segmentos da população que, de uma
forma ou de outra, necessitam de projetos educacionais (Silveira, 2009).

Aqui cabe a citação de George Bernard Shaw (1856-1950), que fala que
“os seres humanos nascem ignorantes, mas são necessários anos de
escolaridade para torná-los estúpidos”. Será que poderemos reverter essa
situação com os projetos de educação ambiental num futuro próximo?
Que tal tentarmos?

AULA 8 – INTERDISCIPLINARIDADE X PEDAGOGIA


Ao final desta aula, você será capaz de:

1. Entender a relação da educação ambiental com


outras áreas do conhecimento e da vida do homem em
sociedade.
2. Reconhecer as correntes pedagógicas em educação
ambiental.

Introdução

58
Na concepção de Severino (2006, apud Terossi e Santana, 2010), a
educação é considerada “um investimento formativo do humano, seja na
particularidade da relação pedagógica pessoal, seja no âmbito da relação
social coletiva” (SEVERINO, 2006, p. 621).

Já, Rodrigues (2001 apud Terossi e Santana, 2010) ressalta que a


educação, além da aquisição de habilidades e conhecimentos, deve ser
formadora do ser humano integral. De acordo com este autor “[...] a
educação é o processo integral de formação humana, pois cada ser
humano ao nascer necessita receber uma nova condição para poder
existir no mundo da cultura” (p. 1).

Também podemos dizer que a educação é uma ação social, pois se educa
em contato com o outro nas relações com os demais indivíduos da
sociedade. É também uma ação política, intencional e não é neutra
(SANTANA, 2005; TOZONI-REIS, 2004).

Destacando o caráter político da educação, entende-se que o fazer e o


pensar educativo apresentam diferentes posicionamentos, que
possibilitam variadas concepções com referenciais epistemológicos,
filosóficos, políticos e pedagógicos que precisam ser explicitados para a
compreensão das práticas pedagógicas (SANTANA, 2005; TOZONIREIS,
2004). Em outros termos, “diferentes visões do processo educativo
engendram propostas educativas com características próprias”
(CARVALHO, 2006, p.21).

A partir disso, que tal conhecermos essas concepções para podermos


discutir criticamente a educação ambiental como fator interdisciplinar
pedagógico?

Interdisciplinaridade x pedagogia

Para entendermos a interdisciplinaridade da educação ambiental,


precisamos voltar às concepções da educação em sua origem, além de

59
reconhecermos suas bases teóricas. Para isso, vamos acompanhar o texto
de Pelicioni (2009):

Desde a antiguidade, a educação tem sido influenciada por diferentes


fatos históricos, por diferentes momentos socioeconômicos e políticos,
produzindo assim diferentes concepções: o pensamento pedagógico
oriental, o grego, o romano, o medieval, o renascentista, até chegar ao
pensamento pedagógico moderno.

Em cada um desses períodos, destacaram-se escolas significativas de


pensamento, citadas por ordem cronológica e analisadas por Gadotti em
‘História das ideias pedagógicas’, segundo o qual, seguiram o pensamento
pedagógico iluminista (Russeau, Pestalozzi, Herbart); o pedagógico
positivista (Spencer, Durkheim, Whitehead), que reforça a educação
tradicional; o socialista (Marx, Lenin, Makarenco, Gramsci); o pedagógico
da Escola Nova (Dewey, Montessori, Claparède, Piaget); pedagógico
fenomenológico-existencialista (Buber, Korczak, Gusdorf, Pantillon); o
pedagógico antiautoritário (freinet, Rogers, Lobrot) e o pedagógico crítico
(bordieu-Passeron, Baudelot – Establet, Giroux).

O pensamento pedagógico do terceiro mundo tem representantes na


África (Cabral, Nyerere, Faundez) e na América Latina (Gutiérrez, Torres,
Nidelcoff, Emília Ferrero e Tedesco).

O pensamento pedagógico brasileiro pode ainda ser subdividido em liberal


(Fernando Azevedo, Lourenço Filho, Anísio Teixeira, Maciel de Barros) e
progressista (Paschoal Lemme, Vieira Pinto, Paulo Freire, Rubem Alves,
Mauricio Tragtenberg e Demerval Saviani, Moacir Gadotti).

Resultante dessas formas de pensar o homem, o mundo, a cultura, a


sociedade e a escola no Brasil, as teorias mais utilizadas foram, segundo
Mizukami, a teoria ou abordagem tradicional (Durkheim, Chartier), a
teoria comportamentalista ou behaviorista (Skinner), a teoria humanista
(Neill, Rogers), a teoria cognitivista (Piaget, Bruner, Aebli, Furth) e a teoria
sociocultural (Paulo Freire, Moacir Gadotti). Todas tiveram, de alguma
maneira, influência sobre as que se seguiram. Algumas perduraram no

60
tempo e são utilizadas até hoje, principalmente a abordagem tradicional.
Para Morin: ‘as sociedades domesticam os indivíduos por meio de mitos e
ideias que, por sua vez, domesticam as sociedades e os indivíduos, mas os
indivíduos poderiam reciprocamente domesticar as ideias ao mesmo
tempo que poderiam controlar a sociedade que os controla [...] uma ideia
ou teoria não deveria ser simplesmente instrumentalizada, nem impor seu
veredicto de modo autoritário; deveria ser relativizada e domesticada.
Uma teoria deve ajudar e orientar estratégias cognitivas que são dirigidas
por sujeitos humanos [...].

Entretanto, são as ideias que nos permitem conceber as carências e os


perigos da ideia. Daí resulta este paradoxo incontornável: devemos
manter uma luta crucial contra as ideias, mas somente podemos fazê-lo
com a ajuda das ideias.

a) Teoria Tradicional ou Clássica:

Também chamada de educação bancária por Paulo Freire, tem como


característica depositar no aluno conhecimentos, informações, dados e
fatos que são acumulados como um produto. Ela propicia a formação de
hábitos e reações estereotipadas, isto é, aplicáveis apenas a situações
idênticas às vivenciadas anteriormente. O passado é visto sempre como
um modelo para conservar a sociedade e manter o status quo. É centrada
na transmissão, na passagem de conhecimento do educador para os
educandos, historicamente acumulado por meio da memorização. A
relação entre professor é vertical, autoritária e não há intenção de
reflexão sobre as informações recebidas. O professor expõe conteúdo, os
alunos memorizam e reproduzem por meio da expressão verbal escrita e
oral a sua fala ou a temática apresentada em livro-texto. As atividades
intelectuais são privilegiadas e a experiência prática desconsiderada.

Preferencialmente são utilizadas a aula expositiva e a palestra. A avaliação


é feita por meio de exames do conteúdo do currículo transmitido pelo
professor, que é organizado em disciplinas separadas.

b)Teoria Crítica:

61
Vai contra os conceitos da escola tradicional e se baseia em algumas ideias
humanistas e cognitivas de Giroux, de Piaget e na fenomenologia-
existencialista de Buber e Pantillon; no socialismo de Marx e
principalmente nas ideias socioculturais de Paulo Freire, representando
uma síntese de todas elas.

A abordagem sociocultural de Paulo Freire é interacionista e situa o ser


humano no tempo e no espaço, inserido num contexto socioeconômico,
político e cultural que o influencia. Enquanto sujeito da educação, reflete
criticamente sobre seu ambiente concreto e sobre sua realidade,
tornando-se gradualmente consciente e comprometido. Assim, torna-se
capaz de intervir e transformar o mundo.

Para esse autor, o ser humano possui raízes, está no mundo e com o
mundo. É um ser de práxis, entendida como ação e reflexão sobre o
mundo com o objetivo de transformá-lo. Ao refletir, criticar e criar a
cultura, responde aos desafios que encontra, estabelece relações com os
outros homens e enfrenta as estruturas sociais. Cultura. Segundo Freire, é
o resultado do esforço criador e recriador da atividade humana, de seu
trabalho por transformar e estabelecer relações dialogais com outros
homens.

A história é feita, então, a partir das respostas dadas pelo ser humano à
natureza, aos outros seres humanos e às estruturas sociais. É feita por
uma cadeia contínua de épocas, caracterizada por valores, aspirações,
necessidades e motivos.

A educação se faz pela aproximação, pelo desvelamento crítico e contínuo


da realidade e, portanto, pelo processo de conscientização. Assim, “é
preciso que se faça desta tomada de consciência o objetivo principal de
toda a educação: provocar e criar condições para que se desenvolva uma
atitude de reflexão crítica, comprometida com a ação.”

A educação crítica e problematizadora tem de ser forjada com o oprimido


e não para o oprimido. E a pedagogia do oprimido, base da teoria
sociocultural, faz da opressão e de suas causas o objeto de sua reflexão,

62
possibilitando ao ser humano lutar por sua libertação e superar a relação
opressor-oprimido por meio de uma situação de ensino-aprendizagem
que desenvolva a consciência crítica e a liberdade, isto é, que possa
transformar a situação concreta que gera a opressão.

A relação educador-educando é dialógica e horizontal. O educador


engajado em uma prática transformadora busca desmistificar a cultura
dominante, as mensagens dos meios de comunicação de propriedade de
grupos oligárquicos, busca analisar as contradições da sociedade, preparar
os educandos para uma reflexão crítica, cooperação e organização para
solucionar problemas comuns, trabalhando em grupo. A educação não se
restringe às instituições formais, mas realiza-se também entre os
diferentes grupos da sociedade, de maneira informal.

Agora que conhecemos as teorias pedagógicas que possibilitaram a visão


de educação atual, podemos entender a interdisciplinaridade da educação
ambiental. O texto de Pelicioni e Philippi Junior (2009) irá nos ajudar a
compreender melhor esses novos conceitos:

A educação ambiental exige um conhecimento aprofundado de filosofia,


da teoria e história da educação, de seus objetivos e princípios, já que
nada mais é do que a educação aplicada às questões de meio ambiente.
Sua base conceitual é fundamentalmente a Educação e,
complementarmente, as Ciências Ambientais, a História, as Ciências
Sociais, a Economia, a Física, as Ciências da Saúde, entre outras.

As causas socioeconômicas, políticas e culturais, geradoras dos problemas


ambientais, só serão identificadas com a contribuição dessas ciências. No
entanto, a educação ambiental não pode ser confundida com elas. Assim,
educação ambiental não é ecologia, mas utilizará os conhecimentos
ecológicos sempre que for preciso.

É impossível mudar a realidade sem conhecê-la objetivamente. Dessa


forma, o desenvolvimento de um processo de educação ambiental implica
que se realize logo de início um diagnóstico situacional, a partir do qual
deverão ser estabelecidos os objetivos educativos a serem alcançados.

63
Não se trata apenas de entender e atuar sobre a problemática ecológica e
na manutenção do equilíbrio dos ecossistemas como ocorreu,
historicamente, até a década de 1970. Trata-se, isso sim, de estabelecer
relação de causa e efeito dos processos de degradação com a dinâmica
dos sistemas sociais.

A Ecologia, desde seu surgimento, só se ocupou do equilíbrio entre os


ecossistemas, do meio ambiente natural e do estudo das relações entre os
seres vivos e não vivos, sem estabelecer relação entre esses e o sistema
socioeconômico. Embora reconhecesse os resultados da ação antrópica,
havia a preocupação com os efeitos, mas não com os fatores que o
causaram, nem com a identificação de estratégias para mudança,
prevalecendo, portanto, uma visão extremamente reducionista.

A educação conservacionista, ideia que antecedeu à educação ambiental,


tem como foco o manejo dos recursos naturais. Seu conteúdo baseia-se
nas ciências biológicas e na crença de que a tecnologia tem potencial para
solucionar os problemas aí gerados, indicando como causas a falta de
conhecimento e de comportamento adequados. Ela persiste e até hoje é
utilizada por alguns educadores para desenvolver atividades pontuais.

Aos poucos, foi ficando claro que a Ecologia por si só não dá conta de
reverter, de impedir ou de minimizar os agravos ambientais, os quais
dependem de formação ou mudanças de valores individuais e sociais, que
devem expressar-se em ações que levem à transformação da sociedade
por meio da educação da população.

A educação ambiental, por conseguinte, utiliza subsídios da Ecologia e de


diferentes áreas como Geografia, História, Psicologia, Sociologia, entre
outras, mas tem como base a Educação e a Pedagogia na identificação dos
métodos de trabalho.

Essa visão contextualizadora vem superar a fragmentação do


conhecimento decorrente das especialidades que tiveram origem no
pensamento de Descartes e Bacon.

Para terminar nosso assunto de hoje, leia o texto de Terossi e Santana


(2010).

64
Conclusão

A Educação Ambiental não deve ser apontada como a solução para todos
os problemas ambientais, como se a esperança atribuída à educação, por
si só, fosse capaz de proporcionar transformações na sociedade, como
uma “panaceia” (SANTANA, 2005). A EA deve ser entendida como uma das
possibilidades importantes entre as diversas outras existentes na
sociedade (Terossi e Santana, 2010).

Percebemos também que, para pregar a educação ambiental e praticá-la,


não nos basta conhecer ecologia, mas também reconhecer o que é
educação.

Explique o porque da importância do aspecto ético na educação ambiental


para a formação do cidadão.

A importância do aspecto ético nas atividades de educação ambiental para


a formação do cidadão é necessária devido ao processo de construção de
uma sociedade sustentável, onde podemos apontar alguns valores
ambientalmente desejáveis identificados no “Tratado de educação global
para sociedades sustentáveis e responsabilidade global”, apresentado na
ECO-92 pela sociedade civil, tais como: o respeito e a valorização da
biodiversidade; a valorização da comunidade de seres vivos de maneira
ampla, incluindo os seres humanos, seus aspectos naturais e culturais; o
desenvolvimento de valores como a responsabilidade, solidariedade,
cooperação e diálogo, promovendo a participação de todos na construção
de uma vida participativa.

65
AULA 9 – O PAPEL DA ESCOLA FRENTE AO MEIO AMBIENTE

Ao final desta aula, você será capaz de:

1. Reconhecer a escola como


promotora de preservação ambiental e
da saúde.
2. Verificar a questão da epidemiologia
aplicada à educação ambiental.

A crescente preocupação com o meio ambiente, e o desenvolvimento de


ações voltadas para a sua proteção e recuperação, tem levado à
necessidade da atuação cada vez maior de profissionais de diferentes
áreas (Mota, 2008).

Segundo Barcelos (1991 apud Motta, 2008), a conscientização dos


processos interativos homem e ambiente em um país de dimensão
continental, das diferenças sociais e principalmente culturais como as do
Brasil, representa um processo lento de realização e da necessidade de
formação de profissionais com preparação multidisciplinar.

Introdução

Isso ocorre na escola. Desde nossa entrada no ambiente escolar temos


contato com as várias possibilidades de caminhos que podemos seguir
pelo mundo afora.

A escola também é nossa orientação em saúde e bem-estar no meio que


vivemos e não somente representa a aquisição de conteúdos didáticos.

Que tal começarmos, a partir de agora, a ver a escola


como promotora da efetividade da vida inserida no meio
ambiente?
Enquanto a medicina preocupa-se de maneira geral com a saúde do
indivíduo, a saúde pública tem como meta lidar com a saúde coletiva ou
das populações.

66
A vida no planeta é altamente organizada e obedece a um espectro
biológico.

Quando se estudam as inter-relações do ambiente com as comunidades, e


vice-versa, reporta-se ao ecossistema.

 Uma vez mais no globo terrestre, os ecossistemas não estão


isolados, pois uns se relacionam e até mesmo trocam materiais com
os outros.
 Não é difícil acreditar que a Terra é coberta por um mosaico de
ecossistemas.
 O somatório de todos os ecossistemas que envolvem o planeta
constitui o conceito de biosfera.
 Esta nada mais é que os espaços no ambiente terrestre nos quais a
vida é possível (Natal, 2009).

A saúde pública é bastante antropocêntrica, pois se preocupa com a


condição humana. Assim considerando, contentar-se com uma
abordagem focada na população humana e concluir que isso é suficiente,
e que não necessitaria de uma visão mais complexa, seria
comprometedor.

Mesmo que a preocupação central seja a saúde humana, no


relacionamento desta espécie com outras (conceito de comunidade)
podem surgir muitos agravos, como zoonoses, parasitoses, doenças
transmitidas por vetores, acidentes com animais peçonhentos, entre
outros.

67
Quando o homem e outras espécies se relacionam com o ambiente
(conceito de ecossistema), uma série de fatores pode atuar como
determinante da saúde ou da doença como o clima, topografia, posição
geográfica, insolação, terremotos, furacões, entre outros.

Até mesmo uma preocupação geral com a biosfera torna-se cada vez mais
importante, à medida que se compreende que o homem como gerador de
poluição e de outras agressões pode provocar mudanças na paisagem
superficial terrestre (Natal, 2009).

Mas, o que é epidemiologia?

Segundo o mesmo autor, o leigo compreende que epidemiologia é o


estudo das epidemias.

Em certa extensão, esse entendimento decorrente da interpretação


errônea da etimologia, estaria correto, pois de fato essa ciência também
trabalha com as epidemias.

Porém, a epidemiologia é mais abrangente. Pode-se muito bem abordar


agravos não epidêmicos pela óptica epidemiológica.

Além do mais, na epidemiologia não se investigam apenas os efeitos


representados pelas doenças, mas volta-se à busca ou definição de seus
determinantes.

O desdobramento dos componentes da palavra, derivados do grego (epi-


demio-logia), esclarece melhor o conceito:

• Epi significa sobre (entende-se a ocorrência de algum processo sobre a


população).

• Demio corresponde à população afetada por algum processo mórbido, e


o último radical significa estudo.

Nesse sentido, epidemiologia seria o estudo de algum processo que


ocorre sobre a população. Este processo pode ser interpretado como as
doenças que incidem ou como fatores determinantes que agem.

68
Na educação ambiental, discutimos a importância da Epidemiologia vista
como disciplina que debate o processo de geração da doença por meio da
atuação de fatores.

Observa-se a infinidade de novos fatores que estão somando-se aos


antigos aos quais o homem moderno está exposto.

Depreende-se que, dada a capacidade criativa ou imaginativa do homem,


com o avanço científico e tecnológico, as ações humanas muitas vezes
impactam inadvertidamente o ambiente.

Grande parte dos fatores ambientais que afetam a saúde humana é de


natureza antrópica, ou seja, é desencadeada pelo próprio homem (Natal,
Taipe-Lagos e Rosa, 2009).

Segundo os mesmos autores, destaca-se no contexto a importância da


Epidemiologia Ambiental cuja ênfase está na discussão dos fatores do
meio que atuam na geração de doenças.

Se grande parte desses fatores é potencializado pela ação ou pelo


comportamento humano, então a educação ambiental, com base no
conhecimento gerado pelos estudos epidemiológicos, poderá priorizar a
conquista de comportamentos saudáveis, protetores da saúde e, ao
mesmo tempo, atuar na reversão de comportamentos de risco.

Portanto, a educação ambiental necessita da Epidemiologia


como base científica multidisciplinar para auxiliá-la na
interpretação de fatores determinantes que agravam a
qualidade de vida humana.
Para conhecermos um pouco da discussão da escola como promotora de
preservação ambiental e da saúde, vamos ler o texto de Pelicioni (2009):

O movimento município/cidade saudável não pode prescindir da


participação das instituições educativas, reconhecidos espaços de
mobilização da comunidade para atingir os objetivos a que se propõe
realizar. A promoção da saúde no âmbito escolar parte de uma visão
integral e multidisciplinar do ser humano, que considera as pessoas em
seu contexto familiar, comunitário e social. Procura desenvolver

69
conhecimentos, habilidades e destrezas para o cuidado com a saúde e a
prevenção das condutas de risco em todas as oportunidades educativas.
Fomenta uma análise crítica e reflexiva sobre os valores, condutas,
condições sociais e estilos de vida, buscando fortalecer tudo aquilo que
contribui para a melhoria da saúde, da qualidade ambiental e do
desenvolvimento humano. Facilita a participação de todos os integrantes
da comunidade educativa na tomada de decisões, colabora na promoção
de relações socialmente igualitárias entre as pessoas, na construção da
cidadania e democracia, e reforça a solidariedade, o espírito de
comunidade e os direitos humanos.

Durante algum tempo, a educação na escola centrou sua ação nas


individualidades, tentando mudar comportamentos e atitudes sem,
muitas vezes, levar em conta as inúmeras influências provenientes da
realidade socioeconômica, política e cultural na qual as crianças estavam
inseridas.

É necessário compreender a variedade de fatores que podem afetar a


saúde, o meio ambiente e, consequentemente, a qualidade de vida das
pessoas. Essas devem ser as bases para que a educação e a promoção da
saúde sejam colocadas em prática (Ministério da Educação, 1995).

O princípio da OMS (Organização Mundial da Saúde) de pensar


globalmente e agir localmente passou também a adequar-se à escola
promotora da saúde, levando à adoção de ações necessárias para a
promoção da saúde no ambiente escolar e ações de proteção,
conservação e recuperação do meio ambiente que a circunda, ou seja, do
bairro, da comunidade, da cidade em que está localizada.

A motivação das crianças e jovens pelos temas ambientais tem se


mostrado importante para que o conceito de escola saudável seja
implementado, incluindo o geral e não tratando a saúde como uma
questão unicamente individual, mas como resultante de um meio
ambiente saudável, nos seus aspectos biofísicos e sociais.

Cada vez mais tem sido aceito que crianças saudáveis aprendem melhor e
que professores saudáveis ensinam melhor.

70
No entanto, a escola promotora da saúde não pode ser vista apenas como
um sistema eficiente do ponto de vista educacional, mas também como
uma comunidade humana que se preocupa com a saúde de todos os seus
membros: professores, alunos e pessoal não docente, incluindo aí todos
os que se relacionam com a comunidade escolar e com a qualidade do
meio em que vivem. Dessa forma, todas as escolas podem potencialmente
promover a saúde e a proteção do meio ambiente.

A escola saudável deve então ser entendida como um espaço vital gerador
de autonomia, participação, crítica e criatividade, para que o escolar tenha
a possibilidade de desenvolver suas potencialidades físicas, psíquicas,
cognitivas e sociais (WHOE, 1995).

Mediante a criação de condições adequadas para a construção do


conhecimento, recreação, convivência e segurança e apoiada pela
participação da comunidade educativa, poderá favorecer a adoção de
estilos de vida saudáveis e condutas de proteção ao meio ambiente, mas,
além disso, deve principalmente contribuir para a formação de cidadãos
críticos e aptos para lutar pela transformação da sociedade e pela
melhoria das condições de vida de todos (Pressione e Torres, 1999).

A ideia de uma escola promotora de saúde é o reconhecimento implícito


de que a educação em saúde e a educação ambiental não se fazem
somente por meio do currículo explícito, partem do programa escolar,
mas com ações pedagógicas, de prevenção e promoção da saúde e de
conservação do meio ambiente dirigidas à comunidade, bem como pelo
apoio mútuo entre escola, famílias e comunidade com base no conceito
ampliado de educação.

No entanto, se o que se ensina não tiver como base os valores e a prática


diária das escolas ou da comunidade as mensagens enfraquecem, não
alcançando seus objetivos.

Para se levar a proposta da escola promotora da saúde à frente, deve-se


dar atenção à forma como se ensina e participa da vida da escola.

Teoricamente, as escolas promotoras da saúde são aquelas que contam


com um edifício seguro e confortável, com água potável, instalações

71
sanitárias adequadas e uma atmosfera psicológica positiva para
aprendizagem; que possibilitam um desenvolvimento humano saudável
estimula relações humanas construtivas e harmônicas e promovem
atitudes positivas, conducentes à saúde. Na prática, entretanto, nem
sempre isso ocorre.

Uma parte significativa da função dessas escolas é oferecer


conhecimentos e destrezas que promovam o cuidado da própria saúde e
ajudem a prevenir comportamentos de risco que impeçam a degradação
ambiental.

Esse enfoque facilita o trabalho conjunto de todos os integrantes da


comunidade educativa, unidos sob um denominador comum: melhorar a
saúde e a qualidade de vida das gerações atuais e futuras.

As escolas não podem ser mudadas da noite para o dia, mas é preciso ser
constante no trabalho empreendido. As pequenas mudanças vão se
somando e, aos poucos, se transformando em grandes mudanças.

A aquisição de conteúdos relativos à saúde e ao meio ambiente, o ensino


de procedimentos e a formação de valores essenciais para preparar os
alunos para a tomada de decisões racionais e efetivas para a manutenção
de uma vida saudável.

Assim, é necessário não apenas oferecer informações verdadeiras, atuais e


confiáveis, mas promover um processo de assimilação dessas
informações.

Qualquer conhecimento será mais facilmente incorporado se for resultado


de discussões sobre questões solucionadas pelos próprios estudantes e
sobre as ações por eles sugeridas.

Isso vai permitir que os alunos passem a se responsabilizar e a viver essa


experiência.

Por essa razão, é preciso enfatizar os enfoques de ensino que se baseiem


na participação dos estudantes como sujeitos ativos da sua aprendizagem,
requisito imprescindível para a construção de conhecimentos.

72
A informação por si só não leva as pessoas a adotar estilos de vida
saudáveis, a lutar por melhores condições ambientais e de vida, ou a
modificar práticas que conduzam à doença.

A informação é um aspecto imprescindível da educação, porém deve


permitir a promoção de aprendizagens significativas para que funcione.

O desafio da educação é propiciar bases para compreensão da realidade a


fim de poder transformá-la. Assim sendo, a escola é um espaço de ensino-
aprendizagem, convivência e crescimento importante, no qual se
adquirem valores vitais fundamentais.

É o lugar ideal para desenvolver programas de promoção e educação em


saúde e de educação ambiental, de amplo alcance e repercussão, já que
exerce grande influência sobre as crianças e adolescentes nas etapas
formativas mais importantes de sua vida.

É nas idades pré-escolar e escolar que as crianças adquirem as bases de


seu comportamento e conhecimento, o senso de responsabilidade e a
capacidade de observar, pensar e agir.

A implementação da saúde pública, utilizando o método epidemiológico


sob a ótica de uma abordagem ecossistêmica, pode ser colocada como um
desafio a todos que pretendem amenizar os problemas relativos às
doenças, contribuindo para o estabelecimento de um ambiente mais
saudável e uma melhor qualidade de vida (Natal, 2009). Isso se inicia na
escola.

Cada escola é uma combinação particular de elementos físicos, culturais,


emocionais e sociais que lhe outorgam um caráter especial e que definem
o processo ensino-aprendizagem a ser desenvolvido, determinando a
qualidade da educação que se pretende (Pelicioni e Torres, 1999).

Para concluir a aula:

Desse modo, a promoção da saúde no âmbito escolar é uma prioridade


impostergável.

Assegurar o direito à saúde, ao meio ambiente saudável e à educação na


infância é responsabilidade de todos.

73
Cada sociedade deve investir de forma a gerar, por meio da capacidade
criadora e produtiva dos jovens, um futuro social e humano sustentável
(Pelicioni, 2009).

A saúde pública é bastante antropocêntrica. Por quê?

Ela preocupa-se com a condição humana. Assim considerando, contentar-


se com uma abordagem focada na população humana, e concluir que isso
é suficiente e que não necessitaria de uma visão mais complexa, seria
comprometedor.

74
AULA 10 – TÓPICO ESPECIAL EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL
Ao final desta aula, você será capaz de:
1. Descrever as temáticas de poluição, gerenciamento de resíduos e gestão ambiental.
2. Reconhecer os desafios do educador ambiental frente a esses problemas sociais.
3. Identificar os espaços não-formais de educação (ONGs, empresas e comunidades).

Introdução

A pobreza é definida como a incapacidade de satisfazer as


necessidades econômicas básicas. De acordo com um estudo do
Banco Mundial, realizado em 2002, metade da população
mundial está tentando sobreviver com menos de US$ 2 por dia e
um quinto dela está lutando para sobreviver com uma renda
aproximada de US$ 1 por dia. Milhões de pessoas nos países em
desenvolvimento não possuem moradia e frequentemente têm
de dormir nas ruas (Miller Junior, 2007).

Segundo o mesmo autor, a pobreza tem vários efeitos


prejudiciais à saúde e ao meio ambiente e tem sido identificada
como uma das cinco maiores causas dos problemas ambientais
que enfrentamos.

De acordo com a maioria dos economistas neoclássicos, uma


economia crescente pode ajudar os pobres ao criar mais
empregos, permitindo que mais da riqueza gerada pelo
crescimento econômico chegue às mãos dos trabalhadores e
provê mais receita fiscal que pode ser usada para ajudar os
pobres a sua condição.

75
POLUÍÇÃO

Para entendermos os conceitos sobre poluição, vamos


acompanhar esse pequeno texto de Miller Junior (2007):

A poluição é qualquer acréscimo ao ar, à água, ao solo ou ao


alimento que ameace a saúde, a sobrevivência ou as atividades
de seres humanos ou de outros organismos vivos.

Os poluentes podem entrar no meio ambiente de forma natural


(erupções vulcânicas) ou por meio de atividades humanas
(queima de carvão).

A maior parte da poluição proveniente das atividades humanas


ocorre em áreas urbanas e industriais ou perto delas, onde as
fontes de poluição como carros e fábricas se concentram. A
agricultura industrializada também é uma grande fonte de
poluição.

Alguns poluentes contaminam a área onde são produzidos e


outros são transportados pelo vento ou pela água corrente para
outras áreas.

Poluentes

Os poluentes que produzimos vem de dois tipos de fontes:

Fontes pontuais de poluentes são fontes únicas e identificáveis.


Entre os exemplos estão as chaminés de uma usina de queima de
carvão ou de uma indústria, o cano de esgoto de uma fábrica ou
o escapamento de um automóvel.

76
Poluentes: são substâncias químicas encontradas no meio
ambiente em níveis altos o suficiente para fazer mal às pessoas
ou a outros organismos.

Fontes não-pontuais de poluentes estão dispersas e, com


frequência, são difíceis de identificar. Entre os exemplos estão os
pesticidas pulverizados no ar ou levados pelo vento até a
atmosfera e o derramamento em córregos e lagos de
fertilizantes e pesticidas utilizados em fazendas, gramados e
jardins.

É muito mais fácil e barato controlar a poluição de fontes


pontuais do que de fontes não pontuais amplamente dispersas.

Os poluentes podem ter três tipos de efeitos indesejados:

 Perturbar ou degradar os sistemas de suporte à vida para


os seres humanos e outras espécies.
 Causar danos à vida selvagem, à saúde humana e à
propriedade.
 Criar incômodos como ruído e odores, sabores e visões
desagradáveis.
Podemos tentar evitar a produção de poluentes ou limpá-los após terem
sido produzidos. Utilizamos duas abordagens básicas para lidar com a
poluição:

A prevenção da poluição ou controle de entrada da poluição, que reduz


ou elimina a produção de poluentes.

 A limpeza da poluição ou controle de saída da poluição, que envolve


a limpeza ou diluição dos poluentes após terem sido gerados.
 Os cientistas ambientais identificaram três problemas relacionados
principalmente à limpeza da poluição:

77
1. Primeiro, trata-se apenas de um curativo temporário, caso os níveis
de população e consumo crescerem sem as melhorias tecnológicas
para controle da poluição. Por exemplo, o acréscimo de
catalisadores aos sistemas de escapamento de veículos reduziu
algumas formas de poluição do ar. Ao mesmo tempo, o aumento do
número de carros e da distância total que percorrem reduziram a
eficácia dessa abordagem de limpeza.

2. Segundo, a limpeza frequentemente retira um poluente de uma


parte do meio ambiente, mas causa poluição a outra. Por exemplo,
podemos coletar lixo, mas a seguir ele é queimado (podendo causar
poluição do ar e deixando cinza tóxica que deve ser colocada em
algum lugar), despejado em córregos, lagos e oceanos (podendo
causar poluição da água) ou enterrado (podendo causar poluição do
solo e das águas subterrâneas).

3. Terceiro, uma vez que os poluentes se dispersam no meio ambiente


em níveis nocivos, fica caro demais reduzi-los a níveis aceitáveis. A
prevenção da poluição (início do processo) e a limpeza da poluição
(fim do processo) são necessárias. Os cientistas ambientais e alguns
economistas recomendam que coloquemos mais ênfase na
prevenção, pois ela funciona melhor e é mais barata que a limpeza.

Controle ambiental de resíduo (texto de Tenório e Espinosa, 2004)

Em linhas gerais, na cadeia alimentar o ciclo de vida está fechado, ou seja,


a transmissão de matéria e de energia passa de um nível para outro de
forma harmônica e, teoricamente, sem perdas.

Aparentemente, o homem seria o único agente gerador de resíduos


causados pelos padrões de consumo da sociedade atual. Ora, essa
formulação é bastante simplista, mas serve como ponto de partida para
uma pequena reflexão.

78
Na verdade, o conceito de cadeia alimentar não é tão fechado nem tão
perfeitamente sustentável assim. O que efetivamente acontece é que,
mesmo em espécies mais simples, ocorrem perdas e geração de resíduos
e esses não seriam contabilizados. Portanto, o sistema não é tão perfeito
quanto se imaginaria no início.

Verifica-se que esses eventuais desequilíbrios são sempre muito


pequenos, uma vez que as populações são quase sempre pequenas.
Muitas vezes, fenômenos naturais localizados são suficientes para
desfazer a harmonia local, causando mudanças nos ciclos e nas cadeias
alimentares. Entretanto, em muitos casos, o sistema tem mecanismos
para estabilizar o eventual desequilíbrio local a médio e longo prazos.

Desse modo, o ser humano não é o único agente causador de


desequilíbrio localizado. Contudo, o homem tem uma capacidade que o
torna único dentro desse quadro, uma vez que é capaz de transformar em
larga escala os materiais e tornar estáveis substâncias e produtos. O
homem coloca produtos em formas que o meio naturalmente não
conhece e não tem capacidade de absorção nem mesmo em longo prazo.

Ainda assim, o homem não seria capaz de gerar uma instabilidade tão
grande a ponto de comprometer sua existência, mas a capacidade do
homem de efetivamente transformar a matéria-prima natural, por meio
de processos de larga escala, não deve ser desprezada.

O agravamento só fica claro quando se une a essa capacidade o fenômeno


do crescimento populacional observado nas últimas gerações. Adicione,
ainda, o fato de o crescimento da população ter ficado concentrado
principalmente nas cidades. Portanto, os problemas associados ao
crescimento da população ficam restritos a pequenas regiões.

Consumo – crescimento sustentável

Os progressos da humanidade aumentaram a qualidade e a duração da


vida. A contrapartida é um padrão de consumo que demanda matérias-
primas, o que de certa forma pode comprometer a qualidade de vida das
gerações futuras.

79
Esse compromisso com as gerações futuras é o princípio do que se
denomina crescimento sustentável. Assim, espera-se que esta geração e
as futuras usem a capacidade que o homem possui de transformar as
matérias, porém de forma sustentável.

Resíduo e lixo

Os conceitos de resíduos e lixo são bastante próximos e, muitas vezes,


entende-se que ambos sejam sinônimos. Em um dicionário da língua
portuguesa encontram-se:

Clique nos itens:

Resíduos - Remanescente; aquilo que resta de qualquer substância; resto;


o resíduo que sofreu alteração de qualquer agente exterior, por processos
químicos, físicos etc.

Lixo - Aquilo que se varre da casa, do jardim, da rua e se joga fora;


entulho; tudo o que não presta e se joga fora; sujidade, sujeira, imundice;
coisa ou coisas inúteis, velhas, sem valor.

A semelhança está clara e é quase impossível perceber as diferenças,


segundo esses conceitos. Todavia, do ponto de vista ambiental, existem
três grandes diferenças de poluição: a poluição atmosférica, a
contaminação das águas e os resíduos sólidos. Assim, as palavras resíduos
e sólidos possuem um significado técnico, específico e definido por norma
técnica.

Resíduos no estado sólido e semissólido, que resultam de atividades da


comunidade, de origem: industrial, doméstica, hospitalar, comercial,
agrícola, de serviços e de varrição.

Consideram também resíduos sólidos os lodos provenientes de sistemas


de tratamento de água, aqueles gerados em equipamentos e instalações
de controle de poluição, bem como de determinados líquidos, cujas
particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de
esgotos ou corpo d’água, ou exijam para isso soluções técnicas e
economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia disponível.

80
Destaca-se que a norma classifica resíduos no estado líquido como
resíduos sólidos, o que é bem compreensível quando se pensa na divisão
da poluição em três categorias.

O conceito de resíduo tem sempre embutido o aspecto de serventia e de


valor econômico para seu possuidor.

Limpeza pública

Segundo a Constituição Federal de 1988, no artigo 30, cabe ao poder


público local a competência pelos serviços de limpeza pública, incluindo-
se a coleta e a destinação dos resíduos sólidos urbanos.

A taxa de limpeza pública é um instrumento legal que estabelece o


suporte financeiro para a execução dessas metas. A Constituição Federal,
no artigo 145, inciso II, estabelece as taxas como forma de tributo possível
para a execução de serviços públicos prestados ou postos a disposição do
contribuinte. Os recursos da taxa de limpeza pública normalmente estão,
de alguma forma, vinculados ao imposto territorial, que tem como base
de cálculo a área da edificação.

Em grande parte dos municípios brasileiros, os recursos oriundos da taxa


de limpeza pública não cobrem as despesas necessárias à prestação do
serviço. Assim, o restante dos recursos necessários deve vir de outras
fontes de arrecadação.

Fica claro que a gestão de serviços de limpeza pública está, de maneira


intransferível, a cargo de órgãos públicos, cabendo a estes a opção de
executar os serviços diretamente ou terceirizá-los em contratos
específicos.

Durante muitos anos o descarte de resíduos em aterros sanitários foi o


único procedimento adotado. Mesmo a incineração era vista apenas como
um método de redução de volume dos resíduos, com a única função de
aumentar a capacidade desses aterros.

81
O descarte indiscriminado de resíduos tóxicos por anos seguidos provocou
episódios lamentáveis do ponto de vista ambiental. Um dos casos mais
conhecidos é o de Love Canal, nos Estados Unidos, que ficou marcado
como um símbolo de contaminação ambiental por resíduos tóxicos.

A região de Love Canal foi usada na década de 40, principalmente pela


Hoover Chemical Co., como local para o descarte indiscriminado de
resíduos industriais perigosos. A partir da década de 1960, o local onde
estava localizado o antigo depósito começou a ser urbanizado, com a
construção de centenas de casas na comunidade.

Na década de 1970, um odor forte começou a assolar a região. Esse odor


causava náuseas e ardência nos olhos dos moradores. Pesquisas na região
mostraram que pelo menos centenas de tipos de enfermidades atacavam
os moradores daquela comunidade, principalmente as crianças. A dioxina
foi identificada como o principal contaminador.

A United States Environmental Protection Agency (USEPA) condenou a


região para fins habitacionais e até hoje ela passa por um processo de
descontaminação.

Isso levou à revisão da política de descartes de resíduos em aterros, com


um aumento rigoroso na classificação do tipo de resíduo que pode ser
descartado diretamente.

A incineração também não apresenta uma solução definitiva, já que os


resíduos tratados por este método sofrem, principalmente, uma redução
de volume pela destruição da parte orgânica e evaporação da água.

Além disso, há a geração de cinzas no processo, que representa a parte


inorgânica do resíduo formada basicamente por metais. Esses são
oxidados durante a combustão formando um resíduo que, de uma forma
geral, deve ser descartado com cuidado, pois houve a concentração de
elementos antes diluídos.

Grupos ambientais principais e populares

82
Os grupos ambientais monitoram as atividades ambientais, trabalham
para aprovar e fortalecer leis ambientais e trabalhar com as corporações a
fim de encontrar soluções para os problemas ambientais.

A liderança da conservação global e do movimento ambiental consiste em


mais de 100 mil ONGs sem fins lucrativos, que trabalham nos níveis local,
estadual, nacional e internacional – provenientes de cerca de dois mil
grupos existentes desde 1970. A influência crescente dessas organizações
é uma das mudanças mais importantes relacionadas a decisões e políticas
ambientais.

As ONGs vão desde grupos populares, que têm apenas alguns membros, a
organizações globais, como o Fundo Mundial para a Natureza (WWF), com
cinco milhões de membros e escritórios em 48 países. Outros grupos
internacionais com grande quantidade de membros incluem o Green
Peace, World Wildlife Fund, a Nature Conservancy, o Grameen Bank e o
Conservation International.

Nos Estados Unidos, mais de oito milhões de cidadãos pertencem a mais


de 30 mil ONGs que lidam com os problemas ambientais. Elas vão de
pequenos grupos populares a grandes grupos que recebem pesados
investimentos, constituídos por experientes advogados, cientistas e
economistas.

Os grandes grupos tornaram-se poderosas e importantes forças dentro do


sistema político. Eles persuadiram o Congresso dos EUA a aprovar,
fortalecer leis ambientais e a trabalhar para lutar contra as tentativas de
enfraquecer ou banir tais leis.

Algumas indústrias e grupos ambientais estão trabalhando juntos para


encontrar soluções para os problemas relacionados ao meio ambiente.
Por exemplo, o Envirommental Defense eliminar as embalagens plásticas
dos hambúrgueres e com a General Motors para banir os carros poluentes
das estradas.

Uma rede mundial de ONGs populares conectadas e trabalhando em


conjunto por mudanças políticas, sociais e econômicas, de baixo para

83
cima, pode ser vista como um movimento de sustentabilidade global
emergente com bases nos cidadãos.

A internet está informando e conectando uma comunidade global de


cidadãos na medida em que as pessoas começam a colaborar para atingir
a mudança ambiental, social e econômica.

O controle de cima para baixo, feito por corporações e governos, está


enfraquecendo. Segundo o educador ambiental David W. Orr, “não é
possível organizar nossos negócios durante muito tempo em torno da
ganância, ilusão e inimizade”.

Esses grupos trabalharam com indivíduos e comunidades para se opor a


projetos prejudiciais como aterros, incineradores de resíduos, acúmulo de
resíduos nucleares, desmatamento de florestas, poluição gerada por
fábricas, refinarias e uma variedade de projetos de desenvolvimento. Eles
também tomaram medidas contra a injustiça ambiental.

Alguns grupos ambientais populares usam táticas não violentas e não


destrutivas como marchas de protesto, moradia em árvores e outros
meios, a fim de gerar publicidade para ajudar a educar e influenciar a
população para que se oponha a várias atividades que prejudicam o meio
ambiente.

Muito mais controversos são os grupos ambientais militantes, que usam


meios violentos para atingir seus objetivos.

A maioria dos ambientalistas se opõe a estas ações.

Gestão ambiental

Em seus primórdios, o setor produtivo considerava a questão ambiental


como um fator de incremento de custos. Não imputava a devida
importância e se limitava a adotar as medidas necessárias para não
incorrer em multas pelo não cumprimento da legislação ambiental.
Somente os departamentos de marketing percebiam a questão como uma
grande oportunidade para a empresa (Lima Barata, 2005).

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Os acidentes ambientais ocorridos nas últimas décadas com empresas do
setor químico foram notabilizados publicamente por alguns exemplos: a
explosão química na Hoffman-LaRoche, em Seveso (Itália, 1976); o
vazamento de pesticidas em Bhopal (Índia), pela Union Carbide (1984), e o
vazamento de óleo no Alaska, pela Exxon (1989), implicaram na
necessidade de pagamento de elevadas indenizações e em uma má
imagem para o setor que apresentou baixo índice de aceitação pública em
1989, conforme o mesmo autor afirma.

Segundo ainda Lima Barata (2005), com a ocorrência dos acidentes


ambientais, os setores de maior potencial poluidor ficaram com sua
imagem abalada junto à sociedade dos países desenvolvidos e afetados.

Acabaram sendo pressionados por empresas, seguradoras, legislações


mais restritivas, investidores e acionistas a adotar medidas que
resultassem em maior controle sobre os potenciais riscos de degradação
ambiental em todo o seu segmento produtivo instalado pelo mundo. As
auditorias ambientais foram inicialmente adotadas com este propósito.

Em um segundo momento, segmentos empresariais dos setores cuja


imagem fora mais abalada incorporaram e integraram o conceito de
gestão ambiental em todos os níveis de gestão nas respectivas empresas.
A incorporação da variável ambiental na sua gestão é acompanhada de
estímulo a que este seja um fator de incremento de competitividade para
estas empresas, mas isto só ocorrerá se este for um diferencial solicitado
pelo cliente ou se os regulamentos referentes à variável em questão
tiverem um rigor capaz de impedir a atuação de empresas que não os
atendam ou se possibilitar redução nos custos da empresa e,
consequentemente, dos preços de seus produtos (Lima Barata, 2005).

Segundo Porter (1991, apud Lima Barata, 2005), a vantagem competitiva


da empresa pode ser alcançada mediante liderança em custo ou
estratégia de diferenciação.

Assim, ao integrar os aspectos da qualidade total do seu processo


produtivo, a empresa permite que o gerenciamento ambiental torne-se
parte da estratégia da corporação, onde os ganhos obtidos nos processos
produtivos e na qualidade dos produtos, resultantes da inserção da

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variável ambiental no sistema de gestão da empresa, podem trazer
vantagem competitiva que compense o maior custo financeiro.

Para finalizar a questão da gestão ambiental, Lima Barata (2005) coloca


que a vantagem competitiva das empresas “ambientalmente corretas” é
alcançada na medida em que as empresas aplicam-se em conseguir que os
consumidores/clientes de seus produtos demandem este elemento
diferencial, através de um amplo trabalho de “marketing”,
“brenchmarketing”, dentre outros e que atuem junto a entidades do
governo, pesquisadores e a sociedade civil organizada, fomentando e
auxiliando na criação de mecanismos e padrões para a obtenção de
melhoria na qualidade do ambiente.

Conclusão

Percebemos que a relação da sociedade com o meio na questão de


poluição, incluindo os resíduos, é efetiva. A poluição é dos homens para os
homens, pois nem todos os organismos possuem os mesmos índices de
potabilidade de água e de qualidade de ar que os nossos. Muitos animais
sobrevivem da interação com o nosso lixo e esgoto (exemplo disso são os
muitos insetos e alguns mamíferos, como os ratos).

Basta notarmos a harmonia entre os processos da natureza e tentar não


rompê-los ou alterá-los com nosso consumismo, superpovoamento e
ganância em explorar os recursos naturais.

Vamos refletir, a partir dos conteúdos e conhecimentos adquiridos em


nossa disciplina, sobre o nosso papel perante o meio ambiente e a
sociedade. E, para isso, finalizamos com o vídeo.

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