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NA PRIMEIRA
MODERNIDADE
(1492 - 1750) Vol. 3
Jorge Cañizares-Esguerra
LuiZ EstEvam de Oliveira Fernandes editora
Maria Cristina Bohn Martins milfontes
As Américas na
Primeira Modernidade
Copyright © 2020, Jorge Cañizares-Esguerra, Luiz Estevam de Oliveira Fernandes &
Maria Cristina Bohn Martins (org.).
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J C-E
L E O F
M C B M
(Organizadores)
As Américas na
Primeira Modernidade
(1492 - 1750)
Volume 3
Editora Milfontes
Vitória, 2020
As mulheres na América colonial
Alberto Baena Zapatero
Estela Roselló Soberón
Introdução
Explicar qual foi o papel das mulheres na história da América
durante o período colonial é uma tarefa complexa, uma vez que
corremos o risco de julgar o passado a partir de nossa sensibilidade atual.
É preciso inicialmente deixar claro que não existiu um único grupo de
mulheres, homogêneo e solidário, mas vários. Se concordarmos com
Joan Scott em que o significado do gênero não é imóvel, mas se trata
de uma construção cultural que se transforma no tempo e no espaço,
entenderemos que as mulheres viram a si mesmas e às suas congêneres
de uma maneira muito diferente em cada época.2 No caso da América
colonial, sua identidade se definiu em função de sua relação com os
homens, mas também de outros fatores como o grupo social, a etnia,
a religiosidade, a sexualidade, a idade e a etapa da vida. É verdade que
a subordinação de gênero foi transversal a todas as mulheres, mas era
capaz de alterar-se em função de todos estes fatores. 3Por exemplo,
uma senhora branca e de boa linhagem sempre ostentaria uma posição
superior à de um escravo negro, ainda que este fosse homem, assim
como uma viúva poderosa poderia impor sua autoridade sobre o resto
de sua família. Ao longo das páginas apresentaremos uma visão geral
da vida e das circunstâncias em que atuaram as diferentes mulheres que
habitaram o novo continente, desde as recém-chegadas, até aquelas que
viram seu mundo transformar-se com a chegada dos conquistadores.
De qualquer maneira, todas elas ajudaram a conformar as peculiares
sociedades que caracterizam a América até nossos dias.
As espanholas na América
Mesmo sendo as menos numerosas entre todas as mulheres que
povoaram a América, as espanholas ocuparam um lugar privilegiado
1 Tradução e notas: Maria Cristina Bohn Martins.
2 Cf. SCOTT, Joan W. El género: una categoría útil para el análisis histórico. In:
AMELANG, James S. Historia y género las mujeres en la Europa moderna y contemporánea.
Valencia: Alfonsel Magnànim, 1990.
3 STERN, Steve J. La historia secreta del género. Mujeres, hombres y poder en México en las
postrimerías del periodo colonial. México: Fondo de Cultura Económica, 1999, p. 43.
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15 PÉREZ CANTÓ, Pilar. Las españolas en la vida colonial. In: MORANT, Isabel. Historia
de las mujeres en España y América latina. v. 2. Madrid: Cátedra, 2005, p. 153.
16 Obrajes eram pequenas manufaturas de produtros têxteis que operavam especialmente
com trabalho compulsório indígena.
17 PÉREZ CANTÓ, Pilar. Las españolas en la vida colonial... Op. cit., p. 525-554.
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26 HERRERO Sánchez, Patricia. Las mujeres en el virreinato del Perú. IX Congreso virtual
sobre Historia de las mujeres. La Rioja, 2017, p. 315.
27 Cf. PELOZATTO Reilly, Mauro Luis. Las mujeres en el virreinato de Perú: diferentes
situaciones locales y regionales. Argentina: Diario Nova, 2016, p. 2.
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28 Trata-se de uma espécie de resina que tinha diversas utilidades na Mesoamérica antiga.
Fresca podia ser usada como incenso em cerimônias, por exemplo.
29 RUZ, Mario. Reseña a libro de Juan Pedro Viqueira. Instituto de Investigaciones
Filológicas, 2013, p. 181.
30 Rebelião indígena cujo centro esteve no povoado de Cancuc em Chiapas. Iniciada em
agosto de 1712 depois que María López (que assumiu, então, o nome de María Candelaria)
relatou ter recebido, da Virgem, a notícia de que Deus e o rei estavam mortos. Depois desta
aparição, enviaram-se anúncios para todos os povoados da etnia tzeltal de que já não havia rei,
convocando os indígenas para comparecer a Cancuc em que foi erigida uma ermida. Antes
de ser contida em novembro do mesmo ano, a rebelião consagrou seus próprios sacerdotes e
perturbou gravemente o pagamento de tributos dos indígenas da região.
31 VIQUEIRA, Juan Pedro. María de la Candelaria, india natural de Cancuc. México:
FCE, 1993, p. 10.
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37 GONZALO, Aguirre Beltrán. La población negra en México. México: FCE, 1989, p. 30.
38 KLEIN, Herbert. El tráfico de esclavos. Perú: IEP, 2011, p. 232.
39 Expressão pela qual eram conhecidos os escravos recém-chegados da África
diferenciando-os dos “ladinos” que eram aqueles que, havendo chegado há mais tempo,
conheciam a língua local.
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40 Josepha de Zarate, conhecida, também, como Madre Chepa, foi encarcerada na cidade
do México em 1723, denunciada por feitiçaria. Foi julgada e condenada pelo Tribunal do Santo
Ofício, em 1724. Ela tinha cerca de 40 anos, era viúva, e havia angariado fama, prestígio social
– e alguns recursos que lhe permitiam viver com certo conforto –, atuando como curandeira,
parteira e dona de hospedaria na cidade porto de Vera Cruz.
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42 GAGE, Thomas. Nuevo reconocimiento de las Indias occidentales (siglo XVII). México:
Conaculta, 1994, p. 180 et seq.
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Considerações finais
Como se pode acompanhar ao longo destas páginas, durante muito
tempo a América foi um espaço de fronteira em que os ideais e modelos
teóricos se diluíram diante das necessidades cotidianas e da obstinada
realidade. A Europa nunca conseguiu reproduzir no Novo Mundo
seu ideal de sociedade e, longe dele, seus habitantes se transformaram
em contato com outras culturas e outras circunstâncias naturais.
Espanholas, índias, mestiças e afrodescendentes foram protagonistas
de choques, intercâmbios e cruzamentos culturais que caracterizaram a
América colonial. Diferente do que se acreditou durante muito tempo,
estas mulheres não foram sujeitos passivos, submetidos ou sem vontade.
Ao contrário, o que encontramos nos processos judiciais, nos diários de
viajantes, nas crônicas de freis, nas cartas, testamentos, censos, editos e
cédulas que nos falam delas, são mulheres cheias de iniciativas, desejos e
interesses próprios. As mulheres que pertenceram a estes setores sociais
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Roteiro bibliográfico
Apresentar resumidamente a bibliografia que trata sobre as
mulheres na América colonial não é tarefa fácil por vários motivos.
Em primeiro lugar, porque existem obras que sem se ocupar delas,
oferecem-nos algumas pistas sobre suas vidas; em segundo porque a
amplitude cronológica, geográfica e temática do assunto faz que se trate
de uma missão de tal magnitude que estamos condenados a deixar de
fora trabalhos interessantes. Além disto, é importante assinalar que
existem tanto trabalhos de história das mulheres, que recuperam sua
experiência no passado, como análises de gênero, que analisam os dados
obtidos em relação aos discursos e às representações do patriarcado
dominante naquelas sociedades. Não obstante, apesar das limitações,
trataremos de guiar o leitor pelas obras que têm caracterizado a
discussão historiográfica sobre as mulheres nos últimos anos.
Em primeiro lugar, temos que fazer referência a aquelas obras
de caráter geral que se têm ocupado das americanas. Se trata tanto
de monografias como de obras coletivas que agrupam trabalhos
especializados de vários autores: MORANT, Isabel. Historia de las
mujeres en España y América latina; O’PHELAN, Scarlett; ZEGARRA,
Margarita. Mujeres, familia y sociedad en la historia de América Latina.
Siglos XVIII-XXI.; OTS CAPDEQUÍ, José María. Bosquejo histórico de
los derechos de la mujer en la legislación de Indias.; PÉREZ-FUENTES,
Pilar Hernández. Entre dos orillas. Las mujeres en la historia de España
y América Latina.; MURIEL, Josefina. Las mujeres de hispanoamérica;
LAVRIN, Asunción. Las mujeres latinoamericanas; AIZPURU, Pilar
Gonzalbo; ARES QUEIJA, B. Las mujeres en la construcción de las
sociedades iberoamericanas; TWINAM, Ann. Vidas públicas, secretos
privados.; STERN, Steve J. La historia secreta del género.; GUARDIA, S. B.
Viajeras entre dos mundos.; SOCOLOW, S. The women of colonial Latin
America.; GÓMEZ-LUCENA, Eloisa. Españolas del Nuevo Mundo.;
ROSTWOROWSKI, María. Mujer y poder en los andes coloniales.;
BAENA, Alberto; ROSELLÓ, Estela. Las mujeres en la Nueva España.;
RUIZ GUTIÉRREZ, Ana. Lo que fue de ellas.; BAENA, Alberto. Mujeres
novohispanas e identidad criolla, edición revisada y ampliada.; SLOAN,
Kathryn A. Women´s Roles in Latin America and the Caribbean.43
43 MORANT, Isabel. Historia de las mujeres en España y América latina. v. 4. Madrid:
Cátedra, 2005.; O’PHELAN, Scarlett; ZEGARRA, Margarita. Mujeres, familia y sociedad en
la historia de América Latina. Siglos XVIII-XXI. Lima: Centro de Documentación sobre la
Mujer/ Pontificia Universidad Católica del Perú/ Instituto Francés de Estudios Andinos, 2006.;
OTS CAPDEQUÍ, José María. Bosquejo histórico de los derechos de la mujer en la legislación
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Extratos de documentos
En perseguirme, Mundo, ¿qué interesas?
¿En qué te ofendo, cuando sólo intento
poner bellezas en mi entendimiento
y no mi entendimiento en las bellezas?
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Fonte: Senhora principal coc sua escrava, Vicente Albán, 1783, Equador,
Museu da América de Madrid. Disponível em: http://ceres.mcu.es/pages/
ResultSearch?Museo=MAM&txtSimpleSearch=Se%F1ora%20principal%20con%20su%20
negra%20esclava&simpleSearch=0&hipertextSearch=1&search=simple&MuseumsSe-
arch=MAM%7C&MuseumsRolSearch=11&.
Referências:
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AIZPURU, Pilar Gonzalbo; ARES QUEIJA, B. Las mujeres en la construcción de
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BAENA, Alberto. As vice-rainhas e o exercício do poder na Nova Espanha (sec. XVI e
53 Archivo General de la Nación (México DF), Indiferente virreinal, caja 4237, expediente
014 (General de Parte, año 1606).
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