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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO


DIRETORIA DE PESQUISA

RELATÓRIO TÉCNICO - CIENTÍFICO PARCIAL

PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSAS DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA

PIBIC/CNPq, PIBIC/CNPq-AF, PIBITI, PIBIC/UFPA, PIBIC/UFPA-AF, PIBIC/UFPA-INTERIOR,


PIBIC/UFPA-EBTT, PIBIC/UFPA-PcD, PRODOUTOR, PRODOUTOR RENOVAÇÃO, PIVIC, FAPESPA,
PIBIC-EM.

PERÍODO: dezembro de 2022 a agosto de 2023

IDENTIFICAÇÃO DO PROJETO

Título do Projeto de Pesquisa: A Prosa Ficcional Portuguesa em Jornais Cametaenses do


Século XIX

Nome da Orientadora: Maria Lucilena Gonzaga Costa Tavares.

Titulação da Orientadora: Doutorado

Unidade (Campi/Instituto/Núcleo): Universidade Federal do Pará - Campus Universitário do


Tocantis Cametá.

Título do Plano de Trabalho: A Prosa Portuguesa na Imprensa Cametaenses do Século XIX


(Por que não elas?: a luta por emancipação feminina em Direitos das Mulheres e Injustiça
dos Homens de Nísia Floresta).

Nome do Bolsista: Alice do Carmo Freitas Costa.

Tipo de Bolsa:

( ) PIBIC/CNPq
( ) PIBIC/CNPq-AF
( ) PIBITI
( ) PIBIC/UFPA
( ) PIBIC/UFPA-AF
(X) PIBIC/UFPA-INTERIOR
( ) PIBIC/UFPA-EBTT
( ) PIBIC/UFPA-PcD
( ) PIBIC PRODOUTOR
( ) PIBIC PRODOUTOR RENOVAÇÃO
( ) PIVIC
( ) FAPESPA
( ) PIBIC-EM

Resumo: Os estudos sobre emancipação feminina são relevantes para a continuação dos
direitos conquistados. É nesse aspecto que muitas pesquisas históricas buscam lembrar e
reconhecer o árduo trabalho de importantes figuras, muitas delas femininas, responsáveis
por essas grandes conquistas. Nísia Floresta desenvolveu um importante papel como uma
mulher educadora e defensora dos direitos femininos, contribuindo assim pela
emancipação. Nesse sentido, o presente plano de trabalho tem como objetivo investigar a
vida, principalmente no âmbito educacional, e obra de Nísia Floresta Brasileira Augusta,
considerada a precursora do feminismo no Brasil, bem como a sua importância na luta
por direitos e emancipação feminina na obra Direitos das Mulheres e Injustiça dos
Homens (1832). Além disso, foi investigado a literatura feminina manifestada através dos
periódicos do século XIX. Para isso, utilizou-se de uma metodologia bibliográfica
baseada em Duarte (2010), Muzart (2003), Floresta (1832), Campoi (2011), entre outros;
e documental nos periódicos disponíveis na hemeroteca digital. Trata-se, portanto, de uma
pesquisa de cunho qualitativo. Os dados coletados demonstram a grande importância de
Nísia Floresta na busca por emancipação e conquista dos direitos, principalmente em
relação à educação, das mulheres.

Palavras-chave: Nísia Floresta. Emancipação feminina. Século XIX.

1. INTRODUÇÃO:

A luta pelos direitos e reconhecimento feminino na sociedade brasileira não é uma


novidade posta em evidências quando se trata de um contexto acadêmico, político,
econômico, intelectual e social. O desenvolvimento de pesquisas sobre a emancipação
feminina é um fator que, aos poucos, vem ganhando lugar de destaque, graças ao árduo
trabalho coletivo que tem por finalidade dar visibilidade e reconhecimento merecido às
mulheres vítimas de memoricídio.
O feminismo como prática existiu “[...] sempre que as mulheres, individual ou
coletivamente, manifestaram seu descontentamento por sua sina sob o patriarcado e
reivindicaram uma situação diferente, uma vida melhor.” (Muzart, 2003, p. 262). Este
fato começou a ser pensado e posto em prática, no Brasil, a partir do século XIX, onde
mulheres, cansadas do silenciamento e da desigualdade, viram na literatura uma forma de
manifestar suas indignações e revoltas contra a situação desigual à qual estavam
submetidas
Nesse sentido, a presente pesquisa parte da linha geral de estudos sobre a
emancipação feminina. Considerando este aspecto, o objeto de estudo aqui apresentado é
sobre o grande papel desempenhado por Dionísia Gonçalves Pinto (1810-1885),
sobretudo, no âmbito da educação e em manifestações de reivindicações pelos direitos
das mulheres na sua obra Direitos das Mulheres e Injustiça dos Homens (1832).

2. OBJETIVOS:
Geral:
Investigar a vida, principalmente no âmbito educacional, e obra de Nísia Floresta
Brasileira Augusta, considerada a precursora do feminismo no Brasil, bem como a sua
importância na luta por direitos e emancipação feminina.
Específicos:
 Relatar a literatura feminina produzida no Brasil no século XIX;
 Discutir sobre a importância da imprensa como um meio de divulgação e luta por
direitos;
 Analisar a obra Direitos das Mulheres e Injustiça dos Homens (1832) no contexto
social do século XIX a fim de que sua relevância seja reconhecida.

3. METODOLOGIA:
O presente estudo dispõe-se de uma pesquisa de cunho bibliográfico que parte,
principalmente, da investigação na obra Direitos das Mulheres e Injustiça dos Homens
(1832) de Nísia Floresta, além da leitura dos estudos biográficos produzidos por
Constância Lima Duarte em Nísia Floresta (2010) e da pesquisa documental em
periódicos do século XIX, acessados através da hemeroteca digital. Além disso, trata-se
de uma pesquisa com abordagem qualitativa.

4. RESULTADOS:
Devido ao recente cadastro no projeto, os dados apresentados a seguir não condizem
com uma pesquisa profunda em relação ao plano de trabalho. No entanto, consideramos estes
resultados de grande relevância para o meio acadêmico e social, uma vez que contribuem
para o conhecimento coletivo acerca da importante representação feminina que teve Nísia
Floresta. Os resultados estão dispostos da seguinte maneira: a princípio, foi discutido
brevemente sobre a produção literária feminina no século XIX, bem como a importância dos
periódicos como meio de divulgação e busca pelos direitos das mulheres. Depois,
apresentado uma breve biografia de Nísia Floresta, dando ênfase para o papel educacional e
de escritora a qual desempenhou, e também as suas principais obras. Por fim, feita a
discussão sobre Direitos das Mulheres e Injustiça dos Homens (1832).
4.1 Escritora, onde estás?
Se cada homem, em particular, fosse obrigado a declarar o que sente a respeito de nosso
sexo, encontraríamos todos de acordo em dizer que nós nascemos para seu uso, que não
somos próprias senão para procriar e nutrir nossos filhos na infância, reger uma casa,
servir, obedecer e aprazer aos nossos amos, isto é, a eles homens. (Floresta, 1989, p.35).

A mulher do século XIX, período ainda marcado por uma sociedade patriarcal, viveu
sob restrições, submissões, julgamentos e anonimatos. Nascer mulher, naquela época, era
uma predestinação a carregar o fardo de circunscrever-se ao mundo doméstico e maternal, ser
serva do esposo, ser retratada como aquela desprovida de capacidades de produções
intelectuais e/ou artísticas, ou pior: sofrer contra os resquícios das mazelas da escravidão. A
figura feminina era posta por detrás das cortinas, enquanto a figura masculina, aquela
privilegiada pela sociedade elitizada, ganhava destaque nos palcos e, consequentemente,
grandes reconhecimentos. Isto tudo, em todos os âmbitos sociais, inclusive nas produções
literárias.
Mas, e elas? Produziam? Publicavam? Eram ouvidas? Onde estavam?
Embora tenham sido muito produzidas durante o século em questão, Muzart (2003) diz
que a literatura feita por mulheres começa a ganhar visibilidade, no Brasil, a partir do século
XX. No entanto, mesmo não sendo figura de grande destaque, e não sendo reconhecidas por
suas produções literárias, há registros de mulheres que produziram e publicaram nos
periódicos do século XIX, como Josefina Álvares de Azevedo, por exemplo. E, para além
disso, houve também aquelas que ultrapassaram a grande imprensa e publicaram livros. Entre
elas, destaca-se Nísia Floresta, a qual é a protagonista desta dada pesquisa.
4.2 Elas por elas: o jornal como megafone na luta por direitos
A Historiografia apresenta grandes mulheres que revolucionaram e fizeram parte da
luta para as conquistas dos seus direitos. Por muito tempo, na História, elas não usufruíram
dos mesmo diretos que os homens, logo, justificam-se tais atitudes. Mas é através delas que,
hoje, o público feminino está conseguindo cada vez mais garantir o seu espaço nos meios
sociais, e a luta não para. Luta esta que teve, a princípio, como principal arma o jornal.
A chegada da grande imprensa no Brasil, segundo Duarte (2010), é datada no ano de
1816. As publicações nos periódicos dessa época são marcadas por sua diversidade de
assuntos. E foi nesse meio que as mulheres, dotadas de valentia e intelectualidade,
levantaram-se de seus assentos e começaram a publicar em busca, principalmente, da
emancipação, do direito à educação e, mais tarde, ao voto.
Nesse sentido, Muzart (2003) relata uma das grandes conquistas femininas no século
XIX: a criação de um periódico inteiramente feito por mulheres e para mulheres. Tal jornal, o
chamado Jornal das Senhoras, fundado por Juana Paula Manso de Noronha, em 1852, é
considerado o primeiro periódico de cunho feminista do Brasil. O objetivo de Juana Paula
Manso era “propagar a ilustração, e cooperar com todas as suas forças para o melhoramento
social e para a emancipação moral da mulher.” (Muzart, 2003. p. 227)
A partir disso, a imprensa feminina começou a ganhar impulso e as manifestações e
publicações literárias - reunindo várias possibilidades de assuntos - começaram a surgir. Em
1888, por exemplo, foi fundado o Jornal da Família, de Josefina Álvares de Azevedo, uma
outra importante defensora dos direitos das mulheres daquela época.
Percebe-se, portanto, que o periódico se tornou um espaço onde o público feminino
ganhou forças para conquistar os seus direitos. Embora alguns desses periódicos não tenham
sido voltados para as causas femininas, o fato de ter existido jornais fundados, dirigidos e
produzidos por mulheres, já é uma imensa conquista. Publicar, no século XIX, foi uma
grande revolução e um grande passo para a emancipação.

4.3 Nísia Floresta: uma breve biografia


Dionísia Gonçalves Pinto, que assinava seus escritos com o pseudônimo Nísia
Floresta Brasileira Augusta, foi uma poetisa, educadora e fundadora de colégios para
meninas. Nasceu no ano de 1810, no Rio Grande do Norte. Filha do advogado português
Dionísio Gonçalves Pinto e de Antônia Clara Freira, uma brasileira, sua trajetória e dedicação
na luta por direitos e, principalmente, por educação para mulheres, foi de suma importância.
É considerada a primeira mulher a publicar nos periódicos da época, pouco antes do
surgimento do primeiro jornal fundado por uma mulher. A cada dia, surgiam várias
produções em forma de crônicas, contos, poesias e ensaios, além de livros que reivindicavam
e defendiam as mulheres, indígenas e escravizados. (Duarte, 2010. p. 12).
Constância Lima Duarte (2010) denota que Nísia Floresta é considerada a precursora
do feminismo no Brasil e, para além disso, na América Latina. Isso porque não há registros
de escritoras ou escritores anteriores a ela que tenham dedicado suas produções como forma
de resistência às desigualdades de gênero da época. Uma dessas desigualdades foi o não
acesso à educação - que não fosse aquela voltada para etiqueta e afazeres domésticos, como
por exemplo bordar e cozinhar – mas sim de uma educação voltada para o pensamento
crítico, de acesso às letras e à História. Pensando nisso, Nísia Floresta fundou, em 1838, no
Rio de Janeiro, o Colégio Augusto direcionado para moças, onde o diferencial era o ensino da
gramática da língua materna e da literatura, além do francês, italiano, latim e inglês,
ensinava-se também alguns fundamentos da geografia e da História.
Entre os ideais de Nísia Floresta, estava a missão de mudar a educação e, em muitos
casos, de proporcionar a educação. Para ela, a grande ponte que as levaria de uma sociedade
patriarcal e machista para outra em que as mulheres pudessem ter liberdade, igualdade,
respeito e plenos direitos era a educação, pois ela “via a educação como condição primeira e
fundamental para a liberação da mulher, da situação de opressão e de submissão em que se
encontrava” (Duarte, 2010, p. 15). Nísia Floresta dedicou sua vida na luta por emancipação
feminina, como também lutou pelas causas dos indígenas e escravizados, e morreu no dia 24
de abril de 1885, aos 74 anos.

4.4 A literatura emancipatória e polêmica de Nísia Floresta


Em relação aos seus títulos, publicados em português, francês, inglês e italiano, na
concepção de Duarte (2010), há um “diálogo que os textos realizam entre si, como se fossem
peças complementares de um mesmo plano de ação”, plano este que teve raízes em uma
sociedade desprovida de consciência e que Nísia Floresta se colocou no lugar de quem teria
como objetivo transformar o quadro ideológico social daquela época.
Como mencionado, a escritora fez da literatura a sua porta-voz para expressar seus
pensamentos perante o social do século XIX. Não se preocupou somente em defender o
público feminino, como também teve participação em reivindicações para indígenas e
escravizados. Seus escritos com aspectos lusofóbicos - repudiando as ações dos portugueses
perante a Nação brasileira - e indianistas (retratando o indígena de uma forma diferente
daquela em que os portugueses retratavam) também recebem a titulação de pioneiros.
Tornando-se, mais tarde, grande defensora da abolição.
A exemplo dessas produções tem-se A lágrima de um caeté (1849) poema indianista
que narra uma outra possibilidade da chegada dos portugueses: “o ponto de vista do índio
vencido e inconformado com a opressão do branco invasor.” (Duarte, 2010, p. 13). Nesse
poema, Nísia Floresta também expressa sua posição política e ideológica ao tratamento
desumano dado ao indígena.
Um dos escritos de Nísia que rodou como folhetim no jornal O Brasil Ilustrado, em
1885, foi “Páginas de uma vida Obscura”, no qual é narrado a trajetória de um escravizado
desde sua infância sofrida pela escravidão, suas lutas que demonstram sua valentia e
coragem, até o final de sua vida ceifada pela exploração de sua força de trabalho. Nessa
narrativa, “ela enaltece as qualidades do homem negro, defende com ênfase um tratamento
humanitário por parte dos senhores de escravos, e se revela sinceramente condoída com o
sofrimento do outro.” (Duarte, 2010, p. 13-14).
Dos cinco ensaios publicados no livro Cintilações de uma alma brasileira (1859),
está O Brasil, no qual além de resumir a História do Brasil e enaltecer as belezas naturais e
intelectuais, Nísia também desconstrói a visão eurocêntrica sobre a sua nação, demonstrando
assim, o amor à sua pátria bem como às produções literárias.
Opúsculo humanitário (1853) é um livro, publicado numa coletânea de 62 títulos no
Diário do Rio de Janeiro, que aborda o tema mais pertinente à Nísia Floresta: a educação.
Nele, a escritora critica o sistema educacional da época ao mesmo tempo que defende a sua
percepção em relação à educação, justificada pela sua lógica de que “quanto mais ignorante é
um povo, mais fácil é a um governo absoluto exercer sobre ele o seu ilimitado poder.”
(Floresta, 1989, p. 60). É nesse sentido que, no livro, “Nísia Floresta defende a tese de que o
progresso de uma sociedade depende da educação que é oferecida à mulher”. (Duarte, 2010,
p. 26-27).

4.5 Por que não elas? Direitos das Mulheres e Injustiça dos Homens (1832)
A primeira obra de Nísia Floresta que possui caráter emancipatório a ter ganhado
notoriedade foi Direitos das Mulheres e Injustiça dos Homens publicado em Recife, em
1832. Nele, Nísia diz que pretende
[...] somente fazer ver que meu sexo não é tão desprezível como os homens querem
fazer crer, e que nós somos capazes de tanta grandeza de alma como os melhores
desse sexo orgulhoso; e estou mesmo convencida que seria vantajoso para os dois
sexos pensar dessa maneira. (Floresta, 1832).

Figura 1: capa da 2ª edição de Direitos das Mulheres e Injustiça dos Homens.


Fonte: Duarte, 1833

Trata-se, portanto, de uma escritora que transmite, através de sua obra, a sua percepção em
relação a figura da mulher no século XIX, seu repúdio ao serem negadas à educação, bem
como o desejo por igualdade, e não por superioridade.
O livro possui seis capítulos dispostos da seguinte maneira:

Capítulo I - Que caso os homens fazem das mulheres, e se é com justiça.


Neste capítulo, Nísia descreve a visão discriminatória e desprezível que os homens
têm perante a função que a grande parte das mulheres exerceram naquela época: de procriar,
cuidar dos filhos e da casa e submeter-se ao homem, e só. Diante disso, ela defende o fato de
a mulher ser a única que pode procriar, e o homem o único que pode gerar. Logo, há uma
relação de interdependência, ou seja, um depende do outro para acontecer. É nesse sentido
que a escritora argumenta sobre a ignorância do menosprezo perante àquelas que concebem
uma vida.
Capítulo II – Se as mulheres são inferiores ou não aos homens, quanto ao entendimento.
Neste capítulo, ela discorre a respeito da inferiorização das mulheres devido a sua
biologia. Nesse sentido, defende que a
[...] diferença não é maior entre as almas dos homens e das mulheres, não se pode dizer
que o corpo constitui alguma diferença real nas almas. Toda sua diferença, pois, vem da
educação, do exercício e da impressão dos objetos externos, que nos cercam nas diversas

circunstâncias da vida. (Floresta, 1832)

É ao apontar a diferença, que não está relacionada à Biologia e sim ao social, que
Nísia Floresta critica a desigualdade de gênero.
Capítulo III – Se os homens são mais próprios que as mulheres para governar.
Aqui, Nísia questiona o porquê de as mulheres não poderem exercer função de
liderança e comando. Nesse sentido, a escritora argumenta que o sexo feminino é tão capaz
de liderar e chefiar as grandes repartições do Estado quanto os homens. Ao mesmo tempo que
fica indignada com tamanho preconceito e exclusão: “mas que prova têm eles apresentado,
para convencer que não seríamos tão capazes de nos preservarmos dos perigos, como eles o
são de nos guardar, se gozássemos das mesmas vantagens e poder?” (Floresta, 1932, p. 55)
Capítulo IV – Se as mulheres são ou não próprias a preencher os cargos públicos.
“Mas concedendo-se que as mulheres tenham sido sempre excluídas dos empregos
públicos, segue-se necessariamente, que isto deva ser assim?” (Floresta, 1832, p. 63). Neste
capítulo, mais uma vez, Nísia se mostra revoltada em relações às atitudes de exclusão e
“prejuízo”, que possui o mesmo sentido de preconceito (Duarte, 2010), demonstrada pelos
homens ao repudiarem que as mulheres exercessem e liderassem os cargos públicos da época.
Pois, para Nísia
Se em tempos imemoriáveis os homens tivessem sido menos invejosos e mais interessados
em fazer justiça a nossos talentos, deixando-nos o direito de partilhar com eles dos
empregos públicos, estariam tão acostumados em ver-nos preenchê-los, quanto estamos em
o ver desonrá-los. (Floresta, 1832, p. 65)

Capítulo V – Se as mulheres são naturalmente capazes de ensinar as ciências ou não.


Por que a ciência nos é inútil?
Porque somos excluídas dos cargos públicos;
e por que somos excluídas dos cargos públicos?
Porque não temos ciência.
Diretos das Mulheres e Injustiça dos Homens, 1832.

Este capítulo é destinado para falar da crença de que a mulher não possui
intelectualidade, tanto quanto os homens, para participar das ciências. Nísia Floresta faz
vários questionamentos sobre esse pensamento forte no século XIX, e demonstra-se
indignada e totalmente ao contrário a esse aspecto. Diante de tal afirmação, a autora, com
uma linguagem que parece flutuar nas entrelinhas, diz que, se fosse dada às mulheres a
oportunidade de participar das descobertas das ciências, elas seriam mais úteis que os homens
por fazerem diferente.

Capítulo VI – Se as mulheres são naturalmente próprias ou não para empregos.


A grande questão abordada nesse capítulo é o porquê de as mulheres não
serem consideradas próprias para atuar nos serviços militares. Nísia Floresta argumenta que o
que é considerado como motivo dessa exclusão, sendo estes a força e coragem, não são
argumentos suficientes para ela. A partir disso, questiona o que será preciso para provar a
força e a coragem feminina para então poderem ocupar os empregos militares: “Uma mulher,
que teve a coragem de arrancar o punhal de seu seio e presenta-lo com firmeza a Pétus
dizendo – fere, isto não faz mal -, não teria sido igualmente capaz de animar um exército,
com persuasão e exemplo, em defesa do seu país?” (Floresta, 1832, p. 85)
O manifesto feminino, apresentado na obra inteira, condiz com o contexto social
da época, que demonstra as injustiças dos homens contra as mulheres, fator que é
comprovado pela historiografia. Observa-se elementos linguísticos que reforçam a dualidade
e lados opostos que se encontravam homem e mulher: enquanto elas lutavam por direitos
(isso quando tinham a oportunidade), eles, por sua vez, agiam de forma injusta e intolerante;
fato que reforça a imagem social desigual da época.

5. PERSPECTIVA:

A perspectiva aqui apresentada é de ânsia pela continuação desta pesquisa,


mergulhando na obra Opúsculo humanitário (1853) e, para além desta, outras
possibilidades que virão. Nísia Floresta tem um leque de possibilidades que nos dão a
oportunidade de explorar suas obras, a grande contribuição e a importância dentro do seu
contexto social, político e intelectual. O estudo sobre a emancipação feminina precisa
ganhar mais visibilidade, e fico satisfeita em ter a oportunidade de fazer parte deste
grande projeto.

6. CONCLUSÕES:
Por tratar-se de um começo de pesquisa, os dados apresentados neste relatório são
relativamente parciais. No entanto, percebe-se a grande relevância de Nísia Floresta no
processo de emancipação feminina. Suas obras, bem como suas publicações que
circularam nos periódicos do século XIX denotam a magnitude de uma exceção, que foi
Nísia Floresta, de mulheres analfabetas, submissas e anônimas. Foi por poder publicar
que ela utilizou a literatura como um meio para se chegar à igualdade de gênero, muito
almejada no contexto daquela época, e também, da atualidade.
A obra Direitos das Mulheres e Injustiça dos Homens (1832) possui uma grande
relevância na luta por emancipação feminina. Trata-se de uma das mais importantes obras
de Nísia Floresta Brasileira Augusta, em que ela transpõe sua concepção em relação a
forma de tratamento às mulheres e, à sua maneira, pede por respeito e igualdade, sendo,
mais tarde, considerada a pioneira na defesa dos direitos das mulheres.
Em relação aos objetivos, nota-se que estes foram alcançados parcialmente, uma
vez que a disposição de tempo não possibilitou uma pesquisa mais apurada. No entanto, o
desejo pela continuação na pesquisa sobre Nísia Floresta e sua fundamental participação
na busca por emancipação é contínuo. Dar voz àquelas que foram, por muito tempo,
silenciadas foi uma das grandes motivações para esta pesquisa. “É preciso, portanto, ouvi-
las, antes de decidir se são ou não injustas” (Floresta, 1832, p. 61)

7. BIBLIOGRAFIA:
CAMPOI, I. C.. O livro “Direitos das mulheres e injustiça dos homens” de Nísia Floresta:
literatura, mulheres e o Brasil do século XIX. História (São Paulo), v. 30, n. 2, p. 196–
213, dez. 2011.
DUARTE, Constância Lima. Nísia Floresta. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, Editora
Massangana, 2010.
FLORESTA, Nísia. A lágrima de um caeté. Rio de Janeiro: Typographia de L. A,
Meneses, 1849.
FLORESTA, Nísia. Cintilações de uma alma brasileira. (trad. Michelle Vartulli. Apres.
E notas biográficas de Constância Lima Duarte) Florianópolis: Mulheres/ Santa Cruz do
Sul: Edunisk, 1997.
FLORESTA, Nísia. Direitos das Mulheres e Injustiça dos Homens. Recife: Typographia
Fidedigna.
MUZART, Zahidé Lupinacci. Uma espiada na imprensa das mulheres no século XIX.
Revista Estudos Feministas, v. 11, n. 1, p. 225–233, jan. 2003.

PARECER DO ORIENTADOR:

O presente relatório condiz que as pesquisas propostas pelo Projeto e plano apresentados
à Propes, contudo, ressaltamos que a incipiência da investigação se dá em virtude de a
bolsista ter integrado o Grupo há pouco tempo, o que reitera a necessidade da continuação
da investigação. Apesar de ser iniciante, a aluna demonstra habilidade e dedicação ao
objeto de estudo, devendo, caso prossiga, obter êxito nos resultados esperados pelo
projeto.

DATA: 29/08/2023

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ASSINATURA DO ORIENTADOR

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ASSINATURA DO ALUNO

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