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Ricardo Reis

Dados Biográficos

Nasceu em 19 de setembro de 1889. Formado em medicina em um colégio jesuíta, nunca


exerceu seu conhecimento em Portugal. Exilou-se para o Brasil em 1919 como defensor
de uma monarquia.

Latinista por educação, semi-helenista por educação própria. Admirador da cultura


clássica, língua grega e mitologia. Interesse pela antiguidade greco-romana, abraçava a
ideia de um ressurgimento de ideais estéticos, sociais e morais gregos.
Ricardo Reis esforça-se para viver sem sofrimentos, calmamente.

Estoicismo Epicurismo Ataraxia

Preza a fidelidade ao É a procura dos prazeres Significa tranquilidade da alma,


conhecimento e a tudo aquilo moderados para atingir um ausência de perturbação.
que pode ser controlado pela estado de tranquilidade e de É um conceito fundamental da
própria pessoa. libertação da dor, com a filosofia epicurista. Pode
Despreza todos os tipos de ausência de sofrimento a partir traduzir-se como ausência de
sentimentos externos, como a do conhecimento de si, do inquietação ou serenidade do
paixão e os desejos funcionamento do mundo e da espírito.
extremos. limitação dos desejos. Busca o equilíbrio emocional
mediante a diminuição da
intensidade das paixões e
dos desejos.

★ O epicurismo e o estoicismo
Ricardo Reis é o poeta da serenidade epicurista, que aceita, com calma e lucidez, a
relatividade e a fugacidade de todas as coisas.

“Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio”, “Prefiro rosas, meu amor, à pátria” ou “Segue o
teu destino” são poemas que nos mostram que este discípulo de Caeiro aceita a antiga
crença nos deuses, enquanto disciplinadora das nossas emoções e sentimentos, mas
defende a busca de uma felicidade relativa alcançada pela indiferença à perturbação.

A filosofia de Ricardo Reis é a de um epicurismo triste, pois defende o prazer do momento,


o ideal “carpe diem” (Ideal que considera que a sabedoria consiste em saber-se aproveitar
o presente, fruindo de cada instante como se fosse o último, em virtude da consciência da
brevidade da vida), como caminho da felicidade, mas sem ceder aos impulsos dos instintos
(estoicismo).
Apesar deste prazer que procura e da felicidade que deseja alcançar, considera que nunca
se consegue a verdadeira calma e tranquilidade – ataraxia. Considera que a verdadeira
sabedoria de vida é viver de forma equilibrada e serena, “sem desassossegos grandes”.

Ricardo Reis é considerado um estóico epicurista, na medida em que defende o domínio


das paixões e a renúncia aos impulsos dos instintos, como regras de vida
propiciadoras da felicidade. Há que nos contentarmos com o que o destino nos
trouxe. Há que viver com moderação, sem nos apegarmos às coisas, e por isso as
paixões devem ser moderadas: A recusa de compromissos afetivos e sociais para que
possamos viver sem dor. O ideal ético do estoicismo é a apatia (ausência de paixões).
É valorizado o sossego do meio rural e a fruição dos estados da natureza e a natureza
surge como um exemplo para se seguir, nos ensina a viver. Assim como Alberto Caeiro,
Ricardo Reis rejeita o mundo moderno.

★ Neopaganismo
Ricardo Reis cultiva um neoclassicismo neopagão (crê nos deuses e nas presenças quase
divinas que habitam todas as coisas), recorrendo à mitologia greco-latina, e considera a
brevidade, a fugacidade e a transitoriedade da vida, pois sabe que o tempo passa e tudo é
efémero. Ricardo Reis é consciente sobre a efemeridade da vida e aceita a
transitoriedade da existência.
Daí elogiar o destino como força invencível e soberana, aceita o destino com naturalidade e
conformismo. Considera que os deuses estão acima do homem por uma questão de grau,
mas que nem estes conseguem se sobrepor ao fado.

É importante mencionar a Teoria de Heráclito em Ricardo Reis. A teoria de Heráclito se


baseia na noção “Tudo flui, nada permanece”. Heráclito afirma que: “Em rio não se pode
entrar duas vezes, pois, nem aquele que entra no rio é o mesmo e nem o rio será igual”. Em
outras palavras, nessa analogia com o rio, Heráclito conclui que todas as coisas, inclusive
os homens, têm um movimento e, por tudo estar em movimento, nada é estático, logo, tudo
perece, ou seja, morre.
Na poesia de Reis, a água é o símbolo que reafirma a certeza do destino de todos os
homens, a morte, a qual pode ser encarada por dois vieses: pelo do rio Reis se prepara
gradualmente para seu fim e neste trajeto até consegue sentir certa alegria e felicidade,
ainda que ilusória e momentaneamente. É uma reflexão sobre o fluir inevitável do tempo.

★ O Classicismo
A precisão verbal e o recurso à mitologia, associados aos princípios da moral e da estética
epicuristas e estóicas ou à tranquila resignação ao destino, são marcas do classicismo
erudito de Reis.

A frase concisa e a sintaxe clássica latina, frequentemente com a inversão da ordem lógica
(hipérbatos), favorecem o ritmo das suas ideias lúcidas e disciplinadas.

Ricardo Reis, imitando os gregos da antiguidade clássica e o poeta latino Horácio, dá-nos
uma filosofia assente na reflexão sobre a efemeridade e o destino que é imposto aos
homens e aos deuses.
Para conseguir superar a angústia causada pelo Fado e pela certeza da morte, procura
viver de acordo com a lição de sabedoria e lucidez dos antigos, que consiste na
conformação com o destino segundo um ideal ético de ataraxia.
Influenciado pelo Mestre Caeiro, constrói uma filosofia de contemplação e placidez, que lhe
permite ver o fluir do tempo, o liberta de comprometimentos excessivos e lhe permite ter a
sensação de ser dono do seu próprio destino.

★ Características formais:
○ Estilo trabalhado e rigoroso para assuntos elevados (sintaxe alatinada,
hipérbatos, apóstrofes, metáforas, comparações, gerúndio e imperativo).
○ Estrofes e métricas regulares (verso decassílabo ou hexassílabo);
○ Recurso frequente à assonância, à rima interior e à aliteração;
○ Preferência pela ode (composição lírica de origem clássica sobre assuntos
nobres e caracterizada pela eloquência, solenidade e elevação de estilo);
○ Uso frequente do hipérbato;
○ Tom moralista (uso frequente do gerúndio, do imperativo, do conjuntivo,
vocativos: apóstrofes);
○ Predomínio da subordinação e complexidade sintática (anástrofes);
○ Uso de latinismos;
○ Metáforas, eufemismos, comparações, perífrases;
○ Tom coloquial (presença de um interlocutor);
○ Classicismo erudito: precisão verbal, recurso à mitologia, princípios de moral
Fda estética epicurista e estóica, tranquila resignação ao destino.

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