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Ricardo Reis 1 / 2

Síntese das características literário-estilísticas de Ricardo Reis


Senta-te ao sol. Abdica
E sê rei de ti próprio.
Ricardo Reis

 Ricardo Reis também tem o seu bilhete de identidade: segundo Pessoa, nasceu
no Porto em 19 de Setembro de 1887, às 4,05 da tarde, e dentro da alma do poeta
em 29 de Janeiro de 1914. Educado por jesuítas, era médico e foi expatriado,
depois de 1919, para o Brasil.

Epicurismo e estoicismo

 Ricardo Reis oferece-nos uma filosofia de vida influenciada pelo epicurismo,


pelo estoicismo e pelo " carpe diem " ( " aproveita o dia " ) do poeta romano
Horácio.

 A sua filosofia de vida é a de um epicurismo triste, pois defende o prazer do


momento, o " carpe diem ", como caminho da felicidade, mas sem ceder aos
impulsos dos instintos.

 O epicurismo consiste na filosofia moral de Epicuro ( 341-270 a. C. ), que defendia o


prazer como caminho da felicidade. Mas para que a satisfação dos desejos seja
estável, sem desprazer ou dor, é necessário um estado de ataraxia, ou seja, de
tranquilidade e sem qualquer perturbação.

 Apesar deste prazer que procura e da felicidade que deseja alcançar, considera
que nunca se consegue a verdadeira calma e tranquilidade, ou seja, a ataraxia ( a
tranquilidade sem qualquer perturbação ). Sente que tem de viver em
conformidade com as leis do destino, indiferente à dor e ao desprazer, numa
verdadeira ilusão da felicidade, conseguida pelo esforço estóico disciplinado.

 O estoicismo é uma corrente filosófica que considera ser possível encontrar a


felicidade desde que se viva em conformidade com as leis do destino que regem
o mundo, permanecendo indiferente aos males e às paixões, que são
perturbações da razão. O ideal ético é a apatia, que se define como ausência de
paixão e permite a liberdade, mesmo sendo escravo.

 Ricardo Reis é o poeta clássico, da serenidade epicurista, que aceita, com calma
lucidez, a relatividade e a fugacidade de todas as coisas.
Ricardo Reis 2 / 2

 Ricardo Reis é o heterónimo que projecta Pessoa para a antiguidade da Grécia


clássica. É o poeta das odes, o poeta que à semelhança de Horácio, na Roma
Antiga, se refugia na aparente felicidade pagã que lhe vela e esbate o desespero.

 Proclama uma sabedoria desenganada e surge como a apologia da inteligência de


Fernando Pessoa. Nas "Páginas Íntimas" diz ele: " Pus em Ricardo Reis toda a
minha disciplina mental vestida de música que lhe é própria. " É, no dizer de
Gaspar Simões, através de Ricardo Reis que Fernando Pessoa se aproxima de si
mesmo. Em Ricardo Reis vê-se não só o mundo de angústias que afecta Pessoa,
mas a apatia, a desilusão perante o mistério da vida sem soluções. Tudo é
incerto, nada fica de nada, nada somos, tudo passa, tudo muda. .

Classicismo

 A nível formal, a poesia de Ricardo Reis revela um estilo trabalhado, rigoroso e


clássico. A sintaxe clássica latina, frequentemente com a inversão da ordem
lógica, favorece o ritmo das suas ideias disciplinadas. A precisão verbal, os
latinismos, o uso de formas estróficas ( a ode, o epigrama e a elegia ) e métricas
( verso decassilábico ) de influência clássica e o emprego de arcaísmos
vocabulares são marcas do classicismo erudito de Reis.

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