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Poesia de Antero de Quental

Ponta Delgada - 18 de abril de 1842- 1891 (suicida-se)

SÍNTESE DE CONHECIMENTOS SOBRE ANTERO DE QUENTAL  

•        Antero exprime a revolta e o inconformismo da sua geração perante uma situação social, política e cultural conservadora e retrógrada, fomentada
por um romantismo que não conseguiu concretizar os ideais que defendera.

•        Mestre e mentor, inspirador e símbolo da Geração de 70, a sua personalidade está intimamente ligada à vida cultural e social em que, ativamente,
participou.

•        A poesia de Antero exprime as preocupações do ser humano que reconhece a sua condição e a sua fragilidade, que sente esperanças e sofre os
desalentos, que duvida perante os mistérios da criação, da morte e de Deus.

•        António Sérgio considera a existência de dois “Anteros”: o apolíneo e o noturno. O primeiro exprime a Luz, a Razão e o Amor; o segundo canta a
noite, a morte e o pessimismo.

•        Pode dividir-se a obra anteriana em quatro fases:

a lírica ou de expressão do amor;

a do apostolado social e das ideias revolucionárias;

a do pessimismo;

e a da metafísica e regresso a Deus.

•        Para Antero, "a poesia é a voz da revolução". Ele foi um verdadeiro apóstolo social, solidário e defensor da justiça, da fraternidade e da liberdade.
•        As dúvidas, as deceções e a doença conduziram-no a um estado de pessimismo.

•        Antero nunca conseguiu separar a poesia da vida, da sua ânsia de transformar o mundo, da sua angústia perante a dificuldade de explicar Deus, a vida
e a morte.

•        Antero luta por ideais feitos de amor, de justiça e de liberdade. Esperança e desilusão são duas forças constantes no seu pensamento e na sua vida,
entre as quais tudo oscila.

•        Com dificuldade em libertar-se das adversidades, Antero dirige o seu pensamento para o divino, embora sem abandonar o seu racionalismo.

•        O pensamento de Deus surge, frequentemente, associado à morte, considerada como a verdadeira libertação. 

Características Fases de vida de Estilo e Linguagem dos sonetos Linhas temáticas


Antero
 “Poesia da Justiça: “
fui eu, quem abriu caminho  Cinco fases  Na sua alma abrigaram-se duas naturezas: a
dessa poesia social e do poeta militante, construtiva e a do 1. A expressão do amor: o amor espiritual.
filosófica, que tem de ser a 1.ª: pessimista "nostálgico da fé, ávido de Antero canta os seus amores,
poesia revolucionária do Rompimento eternidade". espiritualizados, à semelhança de Petrarca.
futuro.” com a fé e Há nestes poemas a adoração abnegada
insatisfação  Os seus sonetos apresentam cenários vagos, do Eterno Feminino.Os textos poéticos
 o soneto é a forma de contornos mal definidos, grandiosos e «Abnegação», «Ideal», «Idílio» inscrevem-
lírica por excelência. •  2.ª: imponentes - nuvens, as estrelas, o vento, a se nesta linha temática.
Grande crise noite, o mar, o deserto....
Este género permite a
conjugação perfeita sentimental e 2. As preocupações sociais, as ideias
entre sentimento e abatimento revolucionárias. A degeneração da burguesia num
da frustração  a adjetivação é de sabor romântico: sinistro,
ideia noturno, pálido, trágico, vago... capitalismo de especulação que nada produzia faz com que
 discurso conceptual Antero apele para: a Justiça, o Pensamento, a Ideia (que
 expressão de •  3.ª: Fase será a luz do mundo), a revolta e a luta (até tudo estar no
solar, de  utiliza personagens alegóricas como a Ideia,
sentimentos, a Razão, a Noite, a Consciência, a Morte... seu lugar), o trabalho (de que alguma coisa ficará), o Cristo
raciocínio empenho
matemático, mas combativo; (avô da plebe), a liberdade (sob o império da Razão). Sob
também ânsia de hino à Razão  Para traduzir o desalento utiliza esta égide encontram-se os sonetos «A um poeta»,
Absoluto do poeta frequentemente imagens pobres e rimas «Evolução», «Hino à Razão», «Tese e Antítese», «A Ideia»
 Presença da Razão •  4.ª: monótonas... aparecem com frequência dois e muitos outro
 Crença na luta por Reinado do ou mais adjetivos para classificarem o
mesmo substantivo: "veneno subtil, vago,
uma sociedade pessimismo  O pessimismo e a evasão
disperso"..."céu pesado,
melhor, enquanto
nevoento"..."trágica voz rouca"
“soldado do Futuro” •  5.ª: O pessimismo manifesta-se em 1874 e desenvolve-
 Pessimismo Reconciliação se desde 1876 a 1882; extingue-se nos anos imediatos e
   Presença do mística em 1886 deixava o poeta, sem nostalgia, numa região
desencanto, da espiritual já percorrida.
angústia, da dor, da
morbidez, da Nos sonetos deste ciclo vê-se a dor em todo o lado e
frustração e do ouve-se continuamente dizer que é preferível o «não ser»
cansaço ao «ser como é».
 Inquietação filosófica
e desassossego Vêem-se já influências de Hartmann e do budismo.
 Desilusão e
incredulidade face à É o pessimismo que leva Antero a evadir-se, a fugir
luta para-além de tudo o que existe e o faz sofrer. Procura
 Refúgio na refugiar-se num mundo indefinido, longínquo e vago, na
desistência, no sonho ação material, absorvente e enérgica, num sono no colo da
e na transcendência mãe, no desprendimento do sensível, na aspiração a um
religiosa Deus clemente, que o leve para o Céu. Estes conteúdos são
 • Insatisfação face ao visíveis nas composições poéticas «O Palácio da Ventura»,
amor e à vida «Mãe», «Despondency», «Nox», entre outras.
 A busca do absoluto
conduz ao vazio e à A metafísica, Deus e a morte
morte
 Preocupações sociais, A leitura de Proudhon e Hegel, o falecimento de
as ideias pessoas queridas e a sua enfermidade levaram-no a
revolucionárias - A meditar na morte, que é considerada sob vários aspetos:
degeneração da morte - liberdade; morte - fim de todos os sofrimentos;
burguesia num morte - irmã do amor e da verdade; morte - consoladora
capitalismo
das tribulações; morte - berço onde se pode dormir; morte
 "a poesia é a voz da - paz santa e inefável.
revolução”
Reportados a esta quarta linha temática encontram-
se, por exemplo, os sonetos «A um crucifixo», «Na mão de
Deus», «À Virgem Santíssima», «Solemnia Verba». 

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