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DGEstE – DSR Alentejo

AGRUPAMENTO DE ESCOLAS Nº 1 DE BEJA – 135021


SEDE: ESCOLA SECUNDÁRIA DIOGO DE GOUVEIA – 404627

Antero de Quental

Antero Tarquínio de Quental nasceu em Ponta Delgada, no dia 18 de Abril de 1842.


Desenvolveu uma intensa atividade no campo da escrita, da política e da produção de ideias.
Dotado de uma personalidade complexa, sofreu as oscilações de um carácter rico com uma
expressão evidente na sua obra poética. Com efeito, Quental desenvolveu uma atividade
intervencionista que se traduziu numa intensa atitude crítica. O poeta filósofo acreditava no
progresso social que só poderia ser uma realidade com a implantação do socialismo. A par do
seu lado combativo, Antero é um homem que na sua ânsia de infinitude, procura através da
filosofia descobrir os mistérios existenciais.
Morreu no dia 11 de Setembro de 1891.

Principais Obras

Poesia

- Odes Modernas (1885)

- Primaveras Românticas (1872)

- Raios da Extinta Luz (1892)

- Sonetos Completos (1886)

Prosa

- Defesa da carta Encídica de sua Santidade Pio IX contra a Chamada Opinião Liberal.

- A Dignidade das Letras e as Literaturas Oficiais.

- Conferências Democráticas - Causas da Decadência dos Povos Peninsulares nos últimos três
Séculos.
- Tendências Gerais da Filosofia na Segunda Metade do Século XIX.

Sonetos

Através da literatura, Antero exprime a revolta e o inconformismo; reflete profundamente sobre o


mundo, reflete para agir. Daí o seu carácter forte de líder que o transformou no mestre, mentor
inspirador e símbolo da Geração de 70.
A poesia de Antero traduz as suas vivências e os seus anseios. Nela se encontra uma faceta
luminosa ou apolínea, tradutora do seu ardor revolucionário e de grande elevação moral, e outra
noturna, que remete para o pessimismo e o desejo de evasão. António Sérgio afirma que o
Antero apolíneo exprime a Luz, a Razão e o Amor como fontes da harmonia do Universo e o
Antero noturno canta a noite, a morte, o pessimismo e um certo niilismo. A sua poesia filosófica
romântica aberta à modernidade permite diversas divisões, mas julgamos pertinente a opção em
duas fases: a lírica, de expressão do amor, do apostolado social e das ideias revolucionárias e a
do pessimismo, da metafísica e regresso a Deus.

- Na primeira fase, exprime o amor espiritual, à maneira de Petrarca, sem a sensualidade da lírica
de Garrett, mas cantando a mulher como ser adorável, uma “visão”, como sucede em "Ideal",
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"Beatrice", "Abnegação" ou "Idílio"; traduz as preocupações sociais, o desejo profundo de


construir um mundo novo, considerando que a poesia é a voz da revolução que visa a Justiça, o
Amor e a Liberdade, como em "A um Poeta"; "Evolução"; "Hino à Razão"; "Tese e Antítese"; "A
Ideia";
- Na segunda fase, há um grande pessimismo e frustração a traduzir uma certa deceção da luta,
como em "O Palácio da Ventura"; "Despondency"; "Nox"; parece reconciliar-se e busca o
descanso merecido "na mão de Deus", como em "Na Mão de Deus"; "Salmo"; "A um Crucifixo";
"À Virgem Santíssima"; "Solemnia Verbo".

A interpretação da obra de Antero não pode ser simplista até porque está sempre presente um
anseio e uma grande interrogação perante o sentido da nossa própria existência, o mundo em
que vivemos, e a explicação ou presença de um Deus que, racionalmente, queremos
compreender. Mais do que tradução dos seus desejos ou angústias pessoais, há, na obra
anteriana, as preocupações do ser humano que reconhece a sua condição e a sua fragilidade,
que sente esperanças e sofre os desalentos, que duvida perante os mistérios da criação, da
morte e de Deus.

Mas porque nos seus sonetos está todo o pulsar humano, julgamos que, para facilitar a
compreensão destas duas fases que se apontam na evolução da obra de Antero, podemos refletir
na própria evolução que sucede a muitos seres humanos: dos ideais da juventude e da luta
consciente caímos, muitas vezes, no desânimo por não vermos realizados os nossos propósitos,
acabando por recorrermos a um Deus protetor, pois só o sonho e a contínua esperança
alimentam a vida.

Tópicos de análise em Sonetos Completos


A angústia - O desejo de alcançar um Bem Maior, um mundo perfeito e a frustração de não conseguir.
existencial - A luta interior entre sentimento versus pensamento.
- Complexidade interior: luta entre a extrema imaginação (entusiasta e hiperbólica, que o
leva a ilusões e quimeras) e a razão (a lógica crítica que o faz consciente).
- Por não haver equilíbrio entre estas dicotomias, o seu ser é arrasado pelo pessimismo, pela
impotência.
- A angústia transforma-se em estoicismo (opção por sofrer por não ter outra alternativa).
- Antero nunca consegue deixar de ser o poeta nem o filósofo, por isso é constantemente
crítico de tudo e de si mesmo e daqui se compreende a sua angústia existencial, o seu viver
desequilibrado.
Configurações - O ideal é sempre algo perfeito, absoluto, eterno, é o seu “Palácio da Ventura”, o inatingível
do ideal (daí a frustração/angústia existencial).
- As religiões não lhe chegam porque Deus, que conhece, não assume para Antero essa
perfeição, esse absoluto, que é o não-sentir, o não-pensar, o bem imaterial.
- Tipos e formas de Ideal: a beleza, o bem, uma entidade metafísica absoluta e superior
(ainda não encontrada), o bada supremo, a liberdade, o nirvana, o amor total e absoluto
(sem dor nem materialismo), a consciência, a sabedoria, a paz.
Linguagem, - Seguindo os dois temas acima apresentados, não é de estranhar que encontremos nos
estilo e seus sonetos:
estrutura * a escolha do próprio soneto como composição clássica e espaço de apresentação dos seus
conceitos e conclusões, distribuídos entre as duas quadras e os dois tercetos;
* vocabulário erudito e ao serviço de ideias, conceitos, pensamentos e essência do sentir;
* recursos expressivos, tais como apóstrofes (para presentificar entidades reais ou ideais),
metáforas (úteis a associações filosóficas e poéticas) e ainda personificações (que ajudam à
visão de entidades abstratas como potencialmente identificáveis com seres humanos).

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