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OS LUSÍADAS

Canto III

ALEX LOPES, BENTÔ SOARES, STEFANIE CRAIS E THIAGO JARDIM


UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA | ASSIS - SP | 2021
A Obra
Luís Vaz de Camões

Maior nome da literatura clasissista portuguesa;

Os Lusíadas - 1572

Epopéia

Viagens de Vasco da Gama

Homenagem ao povo luso

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Agora tu, Calíope, me ensina

O que contou ao Rei o ilustre Gama:

Inspira imortal canto e voz divina

Neste peito mortal, que tanto te ama.

Assim o claro inventor da Medicina,

De quem Orfeu pariste, ó linda Dama,

Nunca por Dafne, Clície ou Leucotoe,

Te negue o amor devido, como soe.

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"Logo os Dálmatas vivem; e no seio, "Eis aqui se descobre a nobre Espanha,

Onde Antenor já muros levantou, Como cabeça ali de Europa toda,

A soberba Veneza está no meio Em cujo senhorio o glória estranha

Das águas, que tão baixa começou. Muitas voltas tem dado a fatal roda;

Da terra um braço vem ao mar, que cheio Mas nunca poderá, com força ou manha,

De esforço, nações várias sujeitou, A fortuna inquieta pôr-lhe noda,

Braço forte, de gente sublimada, Que lhe não tire o esforço e ousadia

Não menos nos engenhos, que na espada. Dos belicosos peitos que em si cria.

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«E com seus filhos e mulher se parte «Qual diante do algoz o condenado,

A alevantar co eles a fiança, Que já na vida a morte tem bebido,

Descalços e despidos, de tal arte Põe no cepo a garganta e já entregado

Que mais move a piedade que a vingança. Espera pelo golpe tão temido:

– «Se pretendes, Rei alto, de vingar-te Tal diante do Príncipe indinado

De minha temerária confiança Egas estava, a tudo oferecido.

(Dizia) eis aqui venho oferecido Mas o Rei vendo a estranha lealdade,

A te pagar co a vida o prometido. Mais pôde, enfim, que a ira, a piedade.

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"Ali se vêem encontros temerosos, "Cabeças pelo campo vão saltando

Para se desfazer uma alta serra, Braços, pernas, sem dono e sem sentido;

E os animais correndo furiosos E doutros as entranhas palpitando,

Que Neptuno amostrou ferindo a terra. Pálida a cor, o gesto amortecido.

Golpes se dão medonhos e forçosos; Já perde o campo o exército nefando;

Por toda a parte andava acesa a guerra: Correm rios de sangue desparzido,

Mas o de Luso arnês, couraça e malha Com que também do campo a cor se perde,

Rompe, corta, desfaz, abola e talha. Tornado carmesi de branco e verde.

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"Ó famoso Pompeio, não te pene "De tamanhas vitórias triunfava

De teus feitos ilustres a ruína, O velho Afonso , Príncipe subido,

Nem ver que a justa Némesis ordene Quando, quem tudo enfim vencendo andava,

Ter teu sogro de ti vitória dina, Da larga e muita idade foi vencido.

Posto que o frio Fásis, ou Siene, A pálida doença lhe tocava

Que para nenhum cabo a sombra inclina, Com fria mão o corpo enfraquecido;

O Bootes gelado e a linha ardente, E pagaram seus anos deste jeito

Temessem o teu nome geralmente. A triste Libitina seu direito.

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Inês de Castro (1325-1355)

Foi uma nobre dama da região de Castela, na

Espanha

Fez parte da corte de Constança

Quando a princesa Constança teve seu

primeiro filho em 1342, deu ao infante o nome

de Luís. D. Inês foi convidada para madrinha

Em 1349, logo depois de dar a luz a sua filha

Maria, a rainha morre

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Estrofe 118 Estrofe 119 Estrofe 120
"Passada esta tão próspera vitória, "Tu só, tu, puro Amor, com força crua, ""Estavas, linda Inês, posta em sossego,

Tornando Afonso à Lusitana terra, Que os corações humanos tanto obriga, De teus anos colhendo doce fruto,

A se lograr da paz com tanta glória Deste causa à molesta morte sua, Naquele engano da alma, ledo e cego,

Quanta soube ganhar na dura guerra , Como se fora pérfida inimiga. Que a fortuna não deixa durar muito,

O caso triste, e dino da memória, Se dizem, fero Amor, que a sede tua Nos saudosos campos do Mondego ,

Que do sepulcro os homens desenterra, Nem com lágrimas tristes se mitiga , De teus fermosos olhos nunca enxuto,

Aconteceu da mísera e mesquinha É porque queres, áspero e tirano, Aos montes ensinando e às ervinhas

Que depois de ser morta foi Rainha . Tuas aras banhar em sangue humano. O nome que no peito escrito tinhas

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Estrofe 121 Estrofe 122 Estrofe 123
"Do teu Príncipe ali te respondiam "De outras belas senhoras e Princesas "Tirar Inês ao mundo determina,

As lembranças que na alma lhe moravam, Os desejados tálamos enjeita, Por lhe tirar o filho que tem preso,

Que sempre ante seus olhos te traziam, Que tudo enfim, tu, puro amor, despreza, Crendo co'o sangue só da morte indina

Quando dos teus fermosos se apartavam: Quando um gesto suave te sujeita. Matar do firme amor o fogo aceso.

De noite em doces sonhos, que mentiam, Vendo estas namoradas estranhezas Que furor consentiu que a espada fina,

De dia em pensamentos, que voavam. O velho pai sesudo , que respeita Que pôde sustentar o grande peso

E quanto enfim cuidava, e quanto via, O murmurar do povo, e a fantasia Do furor Mauro , fosse alevantada

Eram tudo memórias de alegria." Do filho, que casar-se não queria," Contra uma fraca dama delicada?"

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Estrofe 124 Estrofe 125 Estrofe 126
"Traziam-na os horríficos algozes "Para o Céu cristalino alevantando — "Se já nas brutas feras, cuja mente

Ante o Rei , já movido a piedade: Com lágrimas os olhos piedosos, Natura fez cruel de nascimento,

Mas o povo, com falsas e ferozes Os olhos, porque as mãos lhe estava atando E nas aves agrestes, que somente

Razões, à morte crua o persuade. Um dos duros ministros rigorosos; Nas rapinas aéreas têm o intento ,

Ela com tristes o piedosas vozes, E depois nos meninos atentando, Com pequenas crianças viu a gente

Saídas só da mágoa, e saudade Que tão queridos tinha, e tão mimosos , Terem tão piedoso sentimento,

Do seu Príncipe , e filhos que deixava, Cuja orfandade como mãe temia, Como coa mãe de Nino já mostraram,

Que mais que a própria morte a magoava," Para o avô cruel assim dizia:" E colos irmãos que Roma edificaram;"

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Estrofe 127 Estrofe 128 Estrofe 129
—"Ó tu, que tens de humano o gesto e o peito — "E se, vencendo a Maura resistência, "Põe-me onde se use toda a feridade,

(Se de humano é matar uma donzela A morte sabes dar com fogo e ferro, Entre leões e tigres, e verei

Fraca e sem força, só por ter sujeito Sabe também dar vicia com clemência Se neles achar posso a piedade

O coração a quem soube vencê-la) A quem para perdê-la não fez erro. Que entre peitos humanos não achei:

A estas criancinhas tem respeito, Mas se to assim merece esta inocência, Ali com o amor intrínseco e vontade

Pois o não tens à morte escura dela; Põe-me em perpétuo e mísero desterro, Naquele por quem morro, criarei

Mova-te a piedade sua e minha, Na Cítia fria, ou lá na Líbia ardente, Estas relíquias suas que aqui viste,

Pois te não move a culpa que não tinha." Onde em lágrimas viva eternamente." Que refrigério sejam da mãe triste."

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Estrofe 130 Estrofe 131 Estrofe 132
"Queria perdoar-lhe o Rei benino , "Qual contra a linda moça Policena , "Tais contra Inês os brutos matadores

Movido das palavras que o magoam; Consolação extrema da mãe velha, No colo de alabastro , que sustinha

Mas o pertinaz povo, e seu destino Porque a sombra de Aquiles a condena, As obras com que Amor matou de amores

(Que desta sorte o quis) lhe não perdoam. Co'o ferro o duro Pirro se aparelha; Aquele que depois a fez Rainha;

Arrancam das espadas de aço fino Mas ela os olhos com que o ar serena As espadas banhando, e as brancas flores,

Os que por bom tal feito ali apregoam . (Bem como paciente e mansa ovelha) Que ela dos olhos seus regadas tinha,

Contra uma dama, ó peitos carniceiros, Na mísera mãe postos, que endoudece, Se encarniçavam, férvidos e irosos ,

Feros vos amostrais, e cavaleiros?" Ao duro sacrifício se oferece:" No futuro castigo não cuidosos. "

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Estrofe 133 Estrofe 134 Estrofe 135
"Bem puderas, ó Sol, da vista destes "Assim como a bonina , que cortada "As filhas do Mondego a morte escura

Teus raios apartar aquele dia, Antes do tempo foi, cândida e bela, Longo tempo chorando memoraram,

Como da seva mesa de Tiestes , Sendo das mãos lascivas maltratada E, por memória eterna, em fonte pura

Quando os filhos por mão de Atreu comia. Da menina que a trouxe na capela, As lágrimas choradas transformaram;

Vós, ó côncavos vales, que pudestes O cheiro traz perdido e a cor murchada: O nome lhe puseram, que inda dura,

A voz extrema ouvir da boca fria, Tal está morta a pálida donzela, Dos amores de Inês que ali passaram.

O nome do seu Pedro , que lhe ouvistes, Secas do rosto as rosas, e perdida Vede que fresca fonte rega as flores,

Por muito grande espaço repetisses!" A branca e viva cor, coa doce vida." Que lágrimas são a água, e o nome amores. "

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CAMÕES, Luís de. Os lusíadas. Apresentação e notas de Ivan Teixeira. Cotia: Ateliê Editorial, 1999.

CAMÕES, Luís de. Os lusíadas. Introdução, notas e vocabulário de António José Saraiva . Porto, POR: Figueirinhas, 1978.

MICHAELIS. Moderno dicionário da língua portuguesa. São Paulo: Melhoramentos, 1998.

PINTO, Sérgio da Silva, «O casamento de D. Inês de Castro à face da História do Direito», in Scientia Juridica, Porto: Livraria Cruz-

Braga, 1963.

SOUTO, Carla. Literatura Portuguesa I: Os Lusíadas Cantos I e II. Disponível em: https://pt.slideshare.net/carlasouto359/cantos-i-e-ii-

lusadas

SARAIVA, José Hermano, História Concisa de Portugal, Mem Martins: Publicações Europa-América, 13 ª ed., 1989.

TRUTAS NO SAPO. “Mapa da Viagem de Vasco da Gama”. Disponível em: http://trutas.no.sapo.pt/ines_de_castro/index.htm. Acesso

em: 28 out. 2013.

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