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"De outras belas senhoras e Princesas
Os desejados tálamos enjeita, Assim, decide o rei mandar matar Inês, julgando assim
Que tudo enfim, tu, puro amor, despreza, que, ao tirar-lhe a vida, libertaria o filho de tais amores
(«Crendo co'o sangue só da morte indina/ Matar do firme
Quando um gesto suave te sujeita. amor o fogo aceso.»)
Vendo estas namoradas estranhezas Mas que fúria pode permitir que uma espada que lutou
O velho pai sesudo, que respeita contra a fúria dos Mouros fosse erguida contra «uma fraca
O murmurar do povo, e a fantasia dama delicada?»
Do filho, que casar-se não queria,
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"Tirar Inês ao mundo determina, Um dia, os «horríficos algozes» trouxeram Inês,
acompanhada dos seus filhos, junto do Rei. Este já sentia
Por lhe tirar o filho que tem preso, pena de Inês, mas o Povo convence-o a matá-la,
Crendo co'o sangue só da morte indina apresentando-lhe inúmeras razões.
Matar do firme amor o fogo aceso.
Que furor consentiu que a espada fina, Percebendo que queriam matá-la, , sentindo uma saudade
Que pôde sustentar o grande peso antecipada de D. Pedro e dos «filhos que deixava» se
morresse (e era isto o que a magoava, mais do que o
Do furor Mauro, fosse alevantada próprio facto de morrer),
Contra uma fraca dama delicada?
- "Ó tu, que tens de humano o gesto e o peito No entanto, se entendes que deves castigar-me, mesmo
(Se de humano é matar uma donzela estando eu inocente, manda-me para um lugar longínquo,
Fraca e sem força, só por ter sujeito para a Sibéria fria ou a Líbia ardente,
O coração a quem soube vencê-la)
A estas criancinhas tem respeito,
Pois o não tens à morte escura dela;
Mova-te a piedade sua e minha, onde poderei criar meus filhos e encontrar entre leões e
Pois te não move a culpa que não tinha. tigres a piedade que não encontrei entre os humanos.
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"Põe-me onde se use toda a feridade, Podia-se comparar Inês a Policena, que, sendo a única
Entre leões e tigres, e verei companhia da sua velha mãe, é oferecida em sacrifício a
Se neles achar posso a piedade Aquiles por Pirro, filho deste, sem soltar um queixume,
Que entre peitos humanos não achei: como uma ovelha paciente e mansa:
Ali com o amor intrínseco e vontade
Naquele por quem morro, criarei
Estas relíquias suas que aqui viste,
Que refrigério sejam da mãe triste." -
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E foi então que «os brutos matadores», sem pensarem
que um dia poderiam ser castigados, ergueram as suas
"Queria perdoar-lhe o Rei benino, espadas, irados, contra Inês e a mataram, espetando as
Movido das palavras que o magoam; espadas no «colo de alabastro (=mármore)» e banhando de
Mas o pertinaz povo, e seu destino sangue as «brancas flores» (= o rosto) que esta coberto de
(Que desta sorte o quis) lhe não perdoam. lágrimas.
Arrancam das espadas de aço fino
Os que por bom tal feito ali apregoam.
Contra uma dama, ó peitos carniceiros,
Feros vos amostrais, e cavaleiros?
Crime horrendo foi este e bem seria que o Sol tivesse
131 apartado (retirado) os seus raios naquele momento, para
não o presenciar, como o fizera no dia em que Atreu, como
"Qual contra a linda moça Policena, vingança do irmão Tiestes ter seduzido a sua mulher, lhe
Consolação extrema da mãe velha, deu a comer os filhos nascidos dessa união.
Porque a sombra de Aquiles a condena,
Co'o ferro o duro Pirro se aparelha;
Mas ela os olhos com que o ar serena
(Bem como paciente e mansa ovelha)
Na mísera mãe postos, que endoudece,
Ao duro sacrifício se oferece:
D. Inês comparava-se a uma flor do campo que,
cortada antes do tempo por uma menina que a queria
132 colocar na sua coroa de flores («capela»), murcha e perde o
cheiro: morta, Inês está pálida, perdeu a cor rosada do rosto
"Tais contra Inês os brutos matadores no momento em que morreu («perdeu a doce vida») cedo
No colo de alabastro, que sustinha demais.
As obras com que Amor matou de amores
Aquele que depois a fez Rainha;
As espadas banhando, e as brancas flores,
Que ela dos olhos seus regadas tinha,
Se encarniçavam, férvidos e irosos, As «filhas do Mondego» (ninfas) choraram
longamente a morte de Inês e converteram as sua lágrimas
No futuro castigo não cuidosos. na fonte pura, que ficou sendo chamada fonte dos Amores -
«Vede que fresca fonte rega as flores / Que lágrimas são a
água e o nome Amores».
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2. Partindo da estrofe 118, bem como dos teus conhecimentos sobre a estrutura interna
de Os Lusíadas, indica, transcrevendo passagens sempre que possível:
13. Transcreve do texto os versos que provam a atitude suplicante de Inês para
com o Rei.
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19. Retira da estrofe 132 as expressões que caracterizam os que mataram Inês.
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