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Introdução
Mostrengo
O mostrengo que está no fim do mar
Na noite de breu ergueu-se a voar;
À roda da nau voou três vezes,
Voou três vezes a chiar,
E disse: “Quem é que ousou entrar
Nas minhas cavernas que não desvendo,
Meus tetos negros do fim do mundo?”
E o homem do leme disse, tremendo:
“El-Rei D. João Segundo!”
Contexto
Análise Textual
O mostrengo é caracterizado de forma indireta na primeira estrofe. São as
suas ações que o descrevem: realiza movimentos circulares intimidadores à
volta da nau, e as suas palavras são ameaçadoras – vive em “cavernas” (v.6) que
ninguém conhece de “tetos negros do fim do mundo” (v.7) e “escorre” “os
medos do mar sem fundo” (v.16). A dinâmica agressiva do texto é sugerida
através da abundância de formas verbais que traduzem movimentos
incontroláveis, violentos e de terror: «ergueu-se a voar» (v.2), «voou três vezes
a chiar» (v.4), «ousou» (v.5), «tremendo» (v.8). Para além disso, as sensações
visuais e auditivas também contribuem para o acentuar deste ambiente de terror:
«noite de breu» (v.2), «tetos negros» (v.7).
Esta primeira estrofe é um discurso a três vozes: a do sujeito poético
que introduz a figura do Mostrengo, a do próprio Mostrengo e a do marinheiro.
Ao longo desta estrofe, a reação do marinheiro caracteriza-se pelo medo
«tremendo». Assustado e intimidado quer pelas palavras do mostrengo, quer
pelo ambiente sinistro que o circunda, responde apenas com uma frase, na qual
invoca a figura do rei, o símbolo máximo da autoridade.
Na segunda estrofe o discurso narrativo do sujeito poético é relegado,
aparecendo intercalado com o discurso direto do mostrengo. Além do mais, a
irascibilidade do Mostrengo vai crescendo. Para além disso, a emotividade
agressiva acentua-se, como podemos perceber através dos pontos de
interrogação. Ademais, à gradação ascendente da cólera do mostrengo,
corresponde a resposta do marinheiro que treme primeiro e depois fala. Sendo
assim, podemos observar um crescendo na coragem e valentia do homem do
leme.
Na terceira estrofe esta coragem atinge o seu clímax, neutralizando o
Mostrengo. O drama da divisão entre o medo e a coragem é vivenciado no
íntimo do marinheiro. Com efeito, as atitudes contraditórias de prender e
desprender as mãos ao leme, tremer e deixar de tremer, ainda revelam alguma
insegurança e um certo estado de dúvida, que lhe provoca a divisão entre a
coragem e o terror. Não obstante, chega finalmente a resposta segura e
inabalável, ele representa o povo português e nele manda mais a vontade de El
Rei do que o terror incutido pelo Mostrengo.
Sendo assim, podemos concluir que a evolução que se verificou em
relação ao homem do leme é ascendente, prevendo-se a evolução contrária do
Mostrengo que é neutralizado pela última resposta do Homem do leme. O
predomínio do presente do indicativo nas falas do Homem do leme, em
contraste com o pretérito perfeito nas falas do narrador, confere às falas do
marinheiro e do Mostrengo maior vivacidade e força, até para o valor universal
e para o tom épico da última fala do marinheiro.
Análise Formal
Mostrengo Adamastor
SEMELHANÇAS
. Objetivo dos textos: imortalizar os Portugueses como heróis, pela sua coragem,
valentia e determinação.
DIFERENÇAS