Fernando Pessoa
IV. O MOSTRENGO
IV
O MOSTRENGO
O mostrengo que está no fim do mar
Na noite de breu ergueu-se a voar;
À roda da nau voou três vezes,
Voou três vezes a chiar,
E disse: «Quem é que ousou entrar
Nas minhas cavernas que não desvendo,
Meus tetos negros do fim do mundo?»
E o homem do leme disse, tremendo:
«El-Rei D. João Segundo!»
«De quem são as velas onde me roço?
De quem as quilhas que vejo e ouço?»
Disse o mostrengo, e rodou três vezes,
Três vezes rodou imundo e grosso,
«Quem vem poder o que só eu posso,
Que moro onde nunca ninguém me visse
E escorro os medos do mar sem fundo?»
E o homem do leme tremeu, e disse:
«El-Rei D. João Segundo!»
Três vezes do leme as mãos ergueu,
Três vezes ao leme as reprendeu,
E disse no fim de tremer três vezes:
«Aqui ao leme sou mais do que eu:
Sou um Povo que quer o mar que é teu;
E mais que o mostrengo, que me a alma
teme
E roda nas trevas do fim do mundo;
Manda a vontade, que me ata ao leme,
De El-Rei D. João Segundo!»
9-9-1918
Mensagem. Fernando Pessoa. Lisboa: Parceria
António Maria Pereira, 1934 (Lisboa: Ática, 10ª ed.
1972).
- 62.
The Mostrengo
The "Mostrengo", present in the work
"The Message" by Fernando
Pessoa, corresponds to the figure of
Adamastor in Os Lusíadas, Camões.
Like this one, it is the guardian of the
Dark Sea, in the Cape of Storms,
later denominated of Good Hope.
Mostrengo is the personification of
fear. As a monster is a creature
contrary to nature, law and
established order, but at the same
time deriving etymologically from the
Latin “monstrum” means what it
shows and reveals. Mostrengo, on
being defeated, allowed the
revelation of a new world to the
Portuguese.
Like Adamastor, it appears as a
symbol of the dangers and difficulties
that present themselves to the
human being who wants to know new
worlds. It is also a symbol of the
fantastic maritime stories that
frightened men. Both are not only the
symbol of the problems to be faced
when exploring the unknown, but
also when men wish to descend into
themselves.
The figure of Mostrengo maintains all
the symbolism of the fantastic that
was told and that frightened even the
most courageous. The poem by
Fernando Pessoa symbolizes the
difficulties experienced by the
Portuguese in conquering the sea,
opposing fear with the courage that
allows men to go beyond limits. At
the same time, it shows the
Portuguese sailor's courageous
attitude towards that filthy and dirty
being, overcoming his fears. The
man of the helm becomes the symbol
of Portugal that is not afraid and is
representative of a people of courage
who wants to dominate the seas.
O Mostrengo in Artigos de apoio Infopédia
[em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-
2017. [consult. 2017-01-19 00:41:09].
Disponível na
Internet: https://www.infopedia.pt/$o-
mostrengo,2 - Translated from Portuguese
language.
Vanessa Proença e Helena Gonçalves
Alunos – 7ºB