Verde como uma alface Nada podia fazer Vivia naquela horta Nascera daquela forma Como se nada se passasse Assim continuara a crescer.
O grilo, além de verde, Foi nessa altura que os grilos
Assobiava uma modinha Lhe fizeram entender Os irmãos de casaca preta Que ou ele se modificava Não lhe acharam piadinha! Ou na lura o iriam esconder
Um dia foram à horta Assustado, ele disse: “Não!”
Perguntar àquele indiscreto Armou-se tal barafunda Porque era tão diferente?! Que o grilo verde fugia Porque não era preto? Para não ir para a cova funda.
O verdusco lá foi dizendo No entretanto, na horta
Que assim nascera, coitado Seu dono lia o jornal E que nada podia fazer Acabou adormecido E não queria ser mudado. Acordou com o chavascal
Os grilos pretos zangados Estranhou o Ti Manuel
Queixaram-se da sua reputação Os grilos a cricrilar Que estava ameaçada Não era lá muito normal Por aquela situação Tal barulho o acordar Zangado e estremunhado De novo o jornal nas mãos Foi o homem buscar o sacho De novo o sono a chegar Regressou à cata dos grilos Mas algo lhe impede o sono “Onde estão, que os não acho?” É o grilo a assobiar
Depois de muito procurar Aquele som, sim
Lá deu com eles num talho Era bem do seu agrado Desatou ele a cavar a eito Não lhe arranhava o ouvido Foram-se os feijões para o caldo Era doce e delicado
Os grilos mal viram o ferro Procurou a toda a volta
Escaparam-se, ligeirinho Mas o mistério pairava Até se esqueceram de vez Não percebia quem era Daquele verde amiguinho Que tão bem assobiava
Este suspirou de alívio Mas nisto de dentro da couve
Escondido numa couve Sai o grilo confiante Pondo-se de ouvido à escuta Mas antes que a mão lhe deitassem Mas agora, já nada s’ouve. Subia ao céu, o tratante.
Também o Ti Manuel Liró
Apesar da feijoada, Já se mostra satisfeito E acabou-se a bordoada.