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O GRILO VERDE

Conto em verso, adaptado da história com o mesmo


nome, de António Mota

Era uma vez um grilo Mas o pobre grilo verde


Verde como uma alface Nada podia fazer
Vivia naquela horta Nascera daquela forma
Como se nada se passasse Assim continuara a crescer.

O grilo, além de verde, Foi nessa altura que os grilos


Assobiava uma modinha Lhe fizeram entender
Os irmãos de casaca preta Que ou ele se modificava
Não lhe acharam piadinha! Ou na lura o iriam esconder

Um dia foram à horta Assustado, ele disse: “Não!”


Perguntar àquele indiscreto Armou-se tal barafunda
Porque era tão diferente?! Que o grilo verde fugia
Porque não era preto? Para não ir para a cova funda.

O verdusco lá foi dizendo No entretanto, na horta


Que assim nascera, coitado Seu dono lia o jornal
E que nada podia fazer Acabou adormecido
E não queria ser mudado. Acordou com o chavascal

Os grilos pretos zangados Estranhou o Ti Manuel


Queixaram-se da sua reputação Os grilos a cricrilar
Que estava ameaçada Não era lá muito normal
Por aquela situação Tal barulho o acordar
Zangado e estremunhado De novo o jornal nas mãos
Foi o homem buscar o sacho De novo o sono a chegar
Regressou à cata dos grilos Mas algo lhe impede o sono
“Onde estão, que os não acho?” É o grilo a assobiar

Depois de muito procurar Aquele som, sim


Lá deu com eles num talho Era bem do seu agrado
Desatou ele a cavar a eito Não lhe arranhava o ouvido
Foram-se os feijões para o caldo Era doce e delicado

Os grilos mal viram o ferro Procurou a toda a volta


Escaparam-se, ligeirinho Mas o mistério pairava
Até se esqueceram de vez Não percebia quem era
Daquele verde amiguinho Que tão bem assobiava

Este suspirou de alívio Mas nisto de dentro da couve


Escondido numa couve Sai o grilo confiante
Pondo-se de ouvido à escuta Mas antes que a mão lhe deitassem
Mas agora, já nada s’ouve. Subia ao céu, o tratante.

Também o Ti Manuel Liró


Apesar da feijoada,
Já se mostra satisfeito
E acabou-se a bordoada.

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