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O mostrengo
O «mostrengo» simboliza os medos dos navegadores que enfrentam o desconhecido e os perigos do mar; o
«homem do leme» é a figura do herói mítico, símbolo de um Povo, passando de herói individual a
coletivo, com uma missão a cumprir.
Começando pela forma, o poema é constituído por três estrofes de nove versos (o 9 é um múltiplo de 3).
Em termos de conteúdo, quer o «mostrengo» quer o «homem do leme» falam três vezes, o primeiro «voou
três vezes» e «rodou três vezes» à volta da nau, e o segundo «tremeu» três vezes. («Três vezes do leme as
mãos ergueu / Três vezes ao leme as reprendeu».) Não há, de facto, qualquer acaso na presença do
número três, sete vezes repetido ao longo do poema. Das várias explorações possíveis à simbologia do
número três, destacamos a do sinónimo de perfeição, da unidade divina, de totalidade a que nada mais
pode ser adicionado.
Destacam-se, como recursos expressivos, a anáfora, em toda a estrutura do poema, bem como nas falas
das personagens, convergindo para a ideia central de que o povo português é capaz de vencer os seus
medos, os seus monstros, com uma determinação de «homem do leme». A metáfora «que me ata ao
leme» (v. 26), por exemplo, a salientar a firmeza do homem do leme e, consequentemente, a contribuir
para a construção da imagem de um herói épico e coletivo.
Lê o seguinte poema da Mensagem, de Fernando Pessoa:
O desejado
1. O sujeito poético dirige-se, logo na primeira estrofe, a um interlocutor que não surge
identificado, mas que é possível reconhecê-lo a partir de algumas referências textuais.
1.1 Comprova a veracidade da afirmação, justificando o pedido feito pelo sujeito poético,
na primeira estrofe.
D. Sebastião, o «desejado» (título do poema), é o interlocutor do sujeito poético, pelas claras alusões ao
mito sebastianista: o rei desaparecido encontra-se num lugar desconhecido, «remoto», «entre sombras»,
mas nunca foi esquecido por um povo (o mito: «dizeres») que crê no seu regresso e, por isso, «sente -te
sonhado» pelo povo que anseia pelo seu regresso. Por isso, o sujeito poético pede-lhe para deixar de ser
um espectro («fundo de não-seres»), «o ser que houve», e que cumpra o seu «novo fado», enquanto ser
«que há».
2. Indica a situação do povo português que legitima o desejo de mudança manifestado pelo
eu.
O eu considera ser o momento para ocorrer uma mudança, perante o estado de profundo sofrimento e de
desolação do povo português («alma penitente do teu povo»).
Aspetos da linguagem e do estilo – a inversão da ordem habitual das palavras nas frases: «Onde quer que,
entre sombras e dizeres, / Jazas, remoto» (vv. 1-2), «Que sua Luz ao mundo dividido / Revele o Santo Gral!»
(vv. 11-12); uso de adjetivos com características abrangentes: «remoto» (v. 2) e «ungido» (v. 9); utilização
de nomes conceituais: «alma» (v. 7), «Eucaristia» (v. 8), «Paz» (v. 9), «Fim» (v. 10),…; repetição do verbo
erguer: «ergue-te» (v. 3), «erguer» (v. 5) e «ergue» (v. 9);…
O poema é composto por três quadras, com versos decassilábicos («On/de/ quer/ que, en/tre/ som/bras/
e/ di/ze/res»), à exceção do último verso de cada estrofe que é hexassilábico («Pa/ra/ teu/ no/vo/ fa/do»).
A rima é cruzada ao longo de todo o poema.