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Adamastor vs Monstrengo

Intr.: Há intertextualidade; Nomear e localizar episódios;

Des.: 1º: semelhança estrutural;

2º: simbologia dos interlocutores – semelhanças e diferenças;

3º: simbologia do episódio – semelhanças e diferenças;

Conc.: Há intertextualidade;

Na obra Mensagem, o ilustre escritor Fernando Pessoa usa como referência Os Lusíadas de Luís
de Camões na sua escrita. É possível perceber esta relação de intertextualidade no episódio “O
Adamastor”, do canto V d’Os Lusíadas, quando comparado com o poema “Monstrengo”, da
Mensagem.

Em primeiro lugar, há uma semelhança estrutural inegável. Ambos os episódios se encontram


no exato centro da sua respetiva obra: o episódio do Adamastor está no Canto V de 10 cantos,
enquanto “Monstrengo” é precedido de 21 poemas e seguido de outros 21 poemas.

Em segundo lugar, os interlocutores dos episódios podem ser facilmente comparados. O


Adamastor e o Monstrengo são claramente equivalentes: apesar de algumas diferenças na
forma como são descritos (Os Lusíadas apresenta-nos uma figura terrena de características
humanas, enquanto a Mensagem nos apresenta uma figura animalesca associada ao ar, que
voa, chia, e vive numa caverna), ambas estas figuras são enormes monstros que surgem na noite
escura, descritos como ameaçadores e perturbadores (o Adamastor é “horrendo e grosso”, e o
Monstrengo “imundo e grosso”), e ambas representam os perigos do mar e a dificuldade do
projeto dos Descobrimentos. Em diálogo com estes monstros temos, n’Os Lusíadas, Vasco da
Gama, e, na Mensagem, o Homem do Leme. Estas figuras são também elas muito semelhantes,
representando o povo português e a sua coragem, apesar das diferenças que as distinguem (o
Homem do Leme, ao não ter nome, é uma figura mais generalizável, e surge caracterizado como
corajoso, enquanto Vasco da Gama é uma figura mais individualizada e, mais do que corajoso,
parece ser caracterizado como fascinado).

Em terceiro e último lugar, ambos os episódios são uma representação simbólica da mesma
ideia. De novo há diferenças (no caso do Monstrengo, não chegamos a ver o seu momento de
destruição, que fica apenas implícito, enquanto que, no caso do Adamastor, este momento está
descrito em grande pormenor), mas a ideia central é a mesma: a coragem dos navegadores
portugueses como forma de ultrapassar o seu medo e, consequentemente, os perigos do mar
desconhecido, abrindo assim caminho para se tornarem heróis imortais e semidivinos.

Assim, apesar das suas diferenças, estes dois excertos estão definitivamente relacionados,
sendo um dos exemplos mais claros da intertextualidade presente entre a Mensagem e Os
Lusíadas.
Despedidas de Belém vs Mar Português

Intr.: Há intertextualidade; Nomear e localizar episódios;

Des.: 1º: semelhanças: referência a aspetos negativos dos Descobrimentos;

2º: diferenças: Camões crítica até ao fim, Pessoa defende a ambição, o Sonho;

Conc.: Há intertextualidade;

Na obra Mensagem, o ilustre escritor Fernando Pessoa usa como referência Os Lusíadas de Luís
de Camões na sua escrita. É possível perceber esta relação de intertextualidade no episódio
“Despedidas de Belém”, do canto IV d’Os Lusíadas, quando comparado com o poema “Mar
Português”, da Mensagem.

Ambos os textos representam um sentimento muito específico, uma ideia comum a ambas as
obras: os aspetos menos positivos dos Descobrimentos, como a dor que estes causam aos
familiares dos navegadores. Camões escreve “Mães, Esposas, Irmãs, que o temeroso/ Amor mais
desconfia, acrescentavam/ A desesperação e frio medo/ De já nos não tornar a ver tão cedo
(est.89, vv.5-8), enquanto Pessoa escreve "Por te cruzarmos, quantas mães choraram / Quantos
filhos em vão rezaram! / Quantas noivas ficaram por casar" (vv. 3-5). Estes episódios destacam-
se por, apesar de estarem inseridos em obras que enaltecem e idealizam os Descobrimentos,
serem o momento de crítica desta época da história portuguesa.

No entanto, Camões e Pessoa concluem os seus excertos de forma muito diferente. Camões
introduz a personagem do Velho do Restelo, que critica a ambição desmedida do povo
português e a forma como os navegadores estão dispostos a causar imensa dor aos que
supostamente amam em nome da sua busca por glória – o episódio termina assim numa nota
negativa, com a ideia que talvez esta busca não valha a pena. Pessoa conclui o seu poema de
forma completamente oposta: "Valeu a pena? Tudo vale a pena / Se a alma não é pequena" (
vv. 7-8). Pessoa parece defender que o enfrentar destas adversidades é compensado pela forma
como estas permitem aos navegadores atingir a imortalidade, a fama e a glória, o “céu”: "Deus
ao mar o perigo e o abismo deu, / Mas nele é que espelhou o céu" (vv. 11-12).

Assim, apesar das suas diferenças, estes dois excertos estão definitivamente relacionados,
sendo um dos exemplos mais claros da intertextualidade presente entre a Mensagem e Os
Lusíadas.
Ilha dos Amores/Máquina do Mundo vs Horizonte

Intr.: Há intertextualidade; Nomear e localizar episódios;

Des.: 1º: referência a espaço paradisíaco;

2º: simbologia deste espaço: a recompensa;

3º: referência a profecias;

Conc.: Há intertextualidade;

O poema “Horizonte”, encontrado na obra de Fernando Pessoa Mensagem, remete-nos a nós


leitores para uma relação com o episódio “Ilha dos Amores”, encontrado no canto IX da obra
camoniana Os Lusíadas.

Em primeiro lugar, ambas as obras referem uma espécie de ilha paradisíaca. N’Os Lusíadas, é
uma ilha literal criada pela deusa Vénus, na qual habitam ninfas que dançam e cantam,
claramente para benefício dos navegadores. Na Mensagem, é descrito um espaço paradisíaco,
onde a se abre a terra “em sons e cores”, e repleto de elementos naturais como “A árvore, a
praia, a flor, a ave, a fonte”.

Em segundo lugar, ambas as obras discursam sobre a ideia de recompensa por feitos passados.
N’Os Lusíadas, há um casamento simbólico entre as ninfas e os marinheiros onde estes são
elevados ao estatuto de heróis e lhes é concedido o amor e a imortalidade. Na Mensagem,
Pessoa escreve “As tormentas passadas e o mistério, / Abria em flor o Longe”, indicando que a
coragem tida por estes navegadores ao cruzarem o mar desconhecido os levou a uma
recompensa. Há uma referência quase direta a Os Lusíadas quando Pessoa escreve “Os beijos
merecidos da Verdade”, parecendo referir-se aos beijos das ninfas.

Em terceiro lugar, em ambas as obras é referida a existência de profecias. N’Os Lusíadas, estas
surgem no episódio da Máquina do Mundo, no seguimento do episódio da Ilha dos Amores, no
qual é mostrado a Vasco da Gama a organização do universo e lhe são contadas profecias do
futuro de Portugal, ainda como forma de recompensa. Por sua vez, na Mensagem, as profecias
são algo de extremo valor, surgindo aliadas à ideia do Sonho (Pessoa escreve “o sonho é ver as
formas invisíveis / Da distância imprecisa”), mas, em vez de surgirem como recompensa,
surgem como estando presentes desde o início, tendo permitido aos navegadores chegar
aonde chegaram.

Assim, apesar das suas diferenças, estes dois excertos estão definitivamente relacionados,
sendo um dos exemplos mais claros da intertextualidade presente entre a Mensagem e Os
Lusíadas.

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