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Educação Literária

Letras em dia, Português, 12 .° ano

Mensagem
LDIA12DP © Porto Editora

Lê atentamente o poema que se segue.

Horizonte

Ó mar anterior a nós, teus medos


Tinham coral e praias e arvoredos.
Desvendadas a noite e a cerração1,
As tormentas passadas e o mistério,
5 Abria em flor o Longe, e o Sul sidéreo2
‘Splendia sobre as naus da iniciação.

Linha severa da longínqua costa –


Quando a nau se aproxima ergue-se a encosta
Em árvores onde o Longe nada tinha;
10 Mais perto, abre-se a terra em sons e cores;
E, no desembarcar, há aves, flores,
Onde era só, de longe a abstrata linha.

O sonho é ver as formas invisíveis


Da distância imprecisa, e, com sensíveis
15 Movimentos da esp’rança e da vontade,
Buscar na linha fria do horizonte
A árvore, a praia, a flor, a ave, a fonte –
Os beijos merecidos da Verdade.

PESSOA, Fernando, 2008. Poesia do Eu.


2.ª ed. Lisboa: Assírio & Alvim (pp. 363-364)

1. cerração: nevoeiro denso;


2. sidéreo: sideral, relativo aos astros.
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Letras em dia, Português, 12 .° ano

Apresenta as tuas respostas aos itens que se seguem de forma bem estruturada. LDIA12DP © Porto Editora

1 Relaciona a apóstrofe com que se inicia o texto com o conteúdo das duas primeiras estrofes.

2 Interpreta o título do poema, considerando o tom gradativo da segunda sextilha.

3 Explicita a dimensão metafórica da última estrofe.

4 Apresenta uma explicação para o uso do presente na última estrofe.

5 Completa as afirmações abaixo apresentadas, selecionando da tabela a opção adequada a cada


espaço.

Regista apenas as letras – (a), (b) e (c) – e o número que corresponde à opção selecionada em
cada um dos casos.

Na primeira estrofe, o contraste entre o mar anterior e posterior à sua «revelação» é


estruturado pela oposição de palavras que remetem para a ideia de desconhecido e de palavras
que remetem para a ideia de descoberta, tais como (a) .
Na última estrofe, (b) o verso 13 contribui para intensificar o poder do sonho.
Ao longo do poema, o recurso a maiúsculas em «Longe» e «Verdade» aproxima, neste
caso, estas palavras, conferindo-lhes a dimensão (c) .

(a) (b) (c)

1. «Abria» e «praias» 1. a metáfora 1. de algo que é único

2. «Desvendadas» e «mistério» 2. o oxímoro/o paradoxo 2. de conceitos históricos

3. «tormentas» e «Sul» 3. a sinestesia 3. poética

4. «Abria» e «’Splendia» 4. a anástrofe 4. descritiva

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Sugestões de resolução
Letras em dia, Português, 12 .° ano

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Mensagem, p. 11
1. O poema inicia-se com uma apóstrofe ao «mar
anterior» aos descobrimentos, ao qual o sujeito
poético se dirige para explicitar as consequências da
passagem dos portugueses. Aos «medos» (v. 1), à
«noite» (v. 3), à «cerração» (v. 3), às «tormentas»
(v. 4) e ao «mistério» (v. 4) sucedeu o «Longe» (vv.
5 e 9), o mundo novo descoberto pelas «naus da
iniciação» lusitanas (v. 6), caracterizado pelos
«sons» e pelas «cores» (v. 10).

2. A segunda sextilha explicita os sentidos do


«horizonte» anunciados no título, fazendo-o num
tom gradativo que sugere aproximação. De «linha
severa da longínqua costa» (v. 7), realidade dura e
afastada, por intervenção da «nau» (v. 8) o horizonte
coincide com a «encosta» (v. 8), sinédoque do
mundo novo sugerido pelo nome «Longe» (vv. 5 e
9). Aí, numa observação «mais perto» (v. 10),
encontra-se «a terra» de «sons e cores» (v. 10) e,
ao «desembarcar» (v. 11), contacta-se diretamente
com as suas realidades, «aves, flores» (v. 11). A
linha «severa», «longínqua» (v. 7) e «abstrata» (v.
12) que era o «horizonte» ganhou, por intermédio
dos portugueses, uma dimensão de proximidade e
de (nova) realidade.

3. A última estrofe funciona como conclusão –


metafórica – a retirar do exemplo dos portugueses,
explicitado nas sextilhas anteriores. É possível
ultrapassar a «linha fria do horizonte» (v. 16) e
descobrir as «formas invisíveis/Da distância
imprecisa» (vv. 13-14), ou seja, atingir objetivos,
mesmo que aparentemente exigentes, desde que se
invista «esp’rança» e «vontade» (v. 15). A força do
desejo permite alcançar a recompensa que é a
«Verdade» (v. 18).

4. O recurso ao presente justifica-se pela


apresentação de uma definição de sonho,
conferindo, assim, ao enunciado o sentido de
permanência, um carácter de verdade universal.

5. (a) 4.; (b) 2; (c) 1.

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