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AGRUPAMENTO DE ESCOLAS DA SENHORA DA HORA Nº 2

FICHA DE AVALIAÇÃO DE PORTUGUÊS – 12º ANO - Turma A dezembro 2011

Versão 1
(Na tua folha de respostas, indica claramente a versão do teste. A ausência desta indicação implica a
anulação do grupo II.)

Objetivos: Avaliar a competência da leitura;


Avaliar a competência da escrita;
Aplicar conhecimentos do funcionamento da língua.

GRUPO I

Lê atentamente o texto abaixo transcrito.

O mistério das cousas, onde está ele?


Onde está ele que não aparece
Pelo menos a mostrar-nos que é mistério?
Que sabe o rio disso e que sabe a árvore?
5 E eu, que não sou mais do que eles, que sei disso?
Sempre que olho para as cousas e penso no que os homens pensam delas,
Rio como um regato que soa fresco numa pedra.

Porque o único sentido oculto das cousas


É elas não terem sentido oculto nenhum.
10 É mais estranho do que todas as estranhezas
E do que os sonhos de todos os poetas
E os pensamentos de todos os filósofos,
Que as cousas sejam realmente o que parecem ser
E não haja nada que compreender.

15 Sim, eis o que os meus sentidos aprenderam sozinhos:


As cousas não têm significação: têm existência.
As cousas são o único sentido oculto das cousas.

Alberto Caeiro, O Guardador de Rebanhos, poema XXXIX

Responde agora, de forma correta e completa, às questões que se seguem.

1. Na primeira estrofe, o poeta interroga-se sobre o “mistério das cousas”.


1.1. Explicita o sentido da pergunta com que inicia esta estrofe.
1.2. Explica de que forma a identificação com a natureza funciona como argumento nessa
interrogação.
1.3. Explica de que modo o poeta se distingue dos outros homens.

2. Explicita o sentido da última estrofe, tendo em conta a sua relação com as outras duas.

3. Refere, fundamentando com expressões do texto, três marcas características da poesia de Caeiro, a
nível temático, presentes neste poema.

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B

Para Ricardo Reis, todo o decurso temporal é perda, é morte.

Num texto expositivo com um mínimo de 80 e um máximo de 130 palavras, elabora uma reflexão sobre a
temática apresentada na afirmação, referindo-te à disciplina que o poeta adota perante a consciência aguda da
efemeridade da vida.

GRUPO II

Lê atentamente o texto que se segue.

Álvaro de Campos queixava-se do facto de uma grande constipação alterar todo o sistema do universo.
Mas uma grande constipação (Álvaro de Campos sabia-o, mesmo a espirrar até à metafísica) não é nada
que não se trate com um pouco de verdade e aspirina. Agora um crash no computador! Imagens e
palavras colapsam de súbito no ecrã e tudo à nossa volta se desmorona, verdades e certezas, razões e
5 convicções. Tentamos, primeiro, compreender, mas um crash de computador é, por definição, algo para
além de qualquer forma de compreensão. Depois experimentamos desesperadamente tudo o que
sabemos, ou julgamos saber, sobre computadores, desligamos a corrente, voltamos a ligá-la, carregamos
em todas teclas que temos à mão, do esc ao enter, do ctrl ao alt, do break ao delete, telefonamos a
amigos e conhecidos que julgávamos experts no assunto e que, afinal, sabem tanto quanto nós, e
10 descobrimos por fim que estamos irremediavelmente sozinhos.
[…]
Foi assim que numa destas madrugadas, com a dead line da crónica à porta, fiz uma descoberta
terrível: já não sabia escrever à mão. Como diabo poderia escrever a crónica à mão? Como contaria eu
3200 caracteres? E sem mail, como a enviaria? Triste condição, diria Álvaro de Campos, para um cronista
15 menor! A crónica era feita afinal de bem frágil matéria (para já não falar do cronista…)
Enquanto esperava por algum obscuro milagre (os crashs de computador têm o condão de renovar a
nossa fé em milagres), tentava lembrar-me da última vez que escrevera uma carta à mão ou da última
carta manuscrita (ou mesmo escrito à máquina) que recebera. Veio-me à memória um poema de Jacques
Prévert: “Um homem escreve uma carta de amor à máquina / e a máquina responde-lhe, etc.” (talvez o
20 poema não seja bem assim, mas é a distante memória que tenho dele…) e dei comigo a perguntar-me se
haverá ainda gente a escrever cartas de amor. E se, havendo, serão escritas em Times, em Arial ou em
Garamond, em corpo 10 ou em corpo 12, em itálico ou em negrito, alinhadas ou justificadas… Ou se terão
antes a perplexa forma de SMS, com um número máximo de caracteres e “emoticons” em vez de palavras
(sorrisos de parênteses, beijos de asterisco). Todas as cartas de amor são / ridículas. / Não seriam cartas
25 de amor se não fossem / ridículas; serão essas cartas de amor ainda melancolicamente ridículas,
formatadas e modeladas, “correcção automática” de gramática e ortografia, “descrições inteligentes” e
sugestões de conclusões “automáticas”?
Ora aí está talvez um assunto para crónica, pensei. Encontrei uma caneta e, tacteando, desatei a
escrever como se o fizesse pela primeira vez. É provável que a contagem dos caracteres (sim, contei-os à
30 mão, um a um, espaços e tudo!) não tenha sido muito rigorosa, mas no fim fitei o computador com
sobranceria. Não digo que tenha sido por isso, mas não é que recomeçou a funcionar?

Manuel António Pina, in Visão, 23 de Setembro de 2004, texto com supressões

1. Para cada um dos cinco itens que seguem, indica a alínea correta de acordo com o sentido do texto.

1.1. A presença tutelar de Álvaro de Campos ao longo do texto é motivada


A. pela referência à escrita à máquina.
B. pela partilha de uma adesão incondicional ao progresso.
C. pela referência ao caráter ridículo das cartas de amor.
Versã o 1
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D. pelas referências do autor à cosmovisão deste heterónimo usadas como estratégia para lidar com a
situação que gerou o texto.

1.2. A experiência relatada no texto adquire relevo jornalístico porque apresenta


A. a dificuldade de um indivíduo específico em lidar com as novas tecnologias.
B. uma reflexão sobre a vivência de momentos de transição tecnológica por parte dos indivíduos.
C. uma reflexão sobre a incapacidade humana de adaptação às novas tecnologias.
D. a impossibilidade de coexistência entre as novas tecnologias e práticas de caráter mais arcaico.

1.3. Na expressão “ perplexa forma de SMS” (linha 23) está presente


A. uma antítese.
B. uma hipálage.
C. uma metáfora.
D. uma hipérbole.

1.4. No excerto que vai desde “É provável (…)” até “recomeçou a funcionar?” (ll. 29-31), o uso do
modo conjuntivo
A. veicula a certeza do enunciador face ao que afirma.
B. confere ao conteúdo do enunciado o caráter de uma conjetura.
C. marca o caráter assertivo do enunciado.
D. expressa uma relação lógica de causa-efeito.

1.5. A presença de diversos empréstimos externos e estrangeirismos sublinha


A. o caráter inovador da realidade com que o enunciador tem de lidar.
B. a vasta cultura do enunciador.
C. a profunda e inultrapassável desorientação do enunciador.
D. a rejeição liminar do progresso tecnológico por parte do enunciador.

2. Identifica a função sintática dos elementos sublinhados nas frases seguintes:


a) “…descobrimos por fim que estamos irremediavelmente sozinhos…” (l. 10)
b) “…serão essas cartas de amor ainda melancolicamente ridículas…”(l. 25)

3. Classifica a oração “que a contagem dos caracteres não tenha sido muito rigorosa” (ll. 29/30).

4. Identifica a classe e a subclasse dos vocábulos sublinhados nas expressões seguintes:


a) “Álvaro de Campos queixava-se…” (l.1)
b) “…se não fossem ridículas…” (l. 25)

GRUPO III

“Tornou-se chocantemente óbvio que a nossa tecnologia excedeu a nossa humanidade.”

Albert Einstein

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Num texto bem estruturado, com um mínimo de cento e cinquenta e um máximo de trezentas palavras,
apresenta uma reflexão sobre o tema: o papel da tecnologia na sociedade atual.
Para fundamentares o teu ponto de vista, recorre, no mínimo, a dois argumentos, ilustrando cada um deles
com, pelo menos, um exemplo significativo.

FIM

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