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DOSSIÊ DO PROFESSOR págin@s 11

TESTES DE AVALIAÇÃO

TESTE DE AVALIAÇÃO 4

GRUPO I
A. Lê o texto que se segue e responde às questões.

Guimarães não descia. No segundo andar surgira uma luz viva, numa janela aberta. Ega
recomeçou a passear lentamente pelo meio do Largo. E agora, pouco a pouco, subia nele uma
incredulidade contra esta catástrofe de dramalhão. Era acaso verosímil que tal se passasse, com um
amigo seu, numa rua de Lisboa, numa casa alugada à mãe Cruges?... Não podia ser! Esses horrores
5 só se produziam na confusão social, no tumulto da Meia Idade! Mas numa sociedade burguesa, bem
policiada, bem escriturada, garantida por tantas leis, documentada por tantos papéis, com tanto
registo de batismo, com tanta certidão de casamento, não podia ser! Não! Não estava no feitio da
vida contemporânea que duas crianças, separadas por uma loucura da mãe, depois de dormirem um
instante no mesmo berço, cresçam em terras distantes, se eduquem, descrevam as parábolas
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remotas dos seus destinos – para quê? Para virem tornar a dormir juntas no mesmo ponto, num leito
0 de concubinagem! Não era possível. Tais coisas pertencem só aos livros, onde vêm, como invenções
subtis da arte, para dar à alma humana um terror novo... Depois levantava os olhos para a janela
alumiada – onde o Sr. Guimarães, decerto, rebuscava os papéis na mala. Ali estava porém esse
homem com a sua história – em que não havia uma discordância, por onde ela pudesse ser
abalada!... E pouco a pouco aquela luz viva, saída do alto, parecia ao Ega penetrar nessa intrincada
desgraça, aclará-la toda, mostrar-lhe bem a lenta evolução. Sim, tudo isso era provável no fundo!
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Essa criança, filha de uma senhora que a levara consigo, cresce, é amante de um brasileiro, vem a
Lisboa, habita Lisboa. Num bairro vizinho vive outro filho dessa mulher, por ela deixado, que cresceu,
é um homem. Pela sua figura, o seu luxo, ele destaca nesta cidade provinciana e pelintra. Ela, por
seu lado, loira, alta, esplêndida, vestida pela Laferrière, flor de uma civilização superior, faz relevo
nesta multidão de mulheres miudinhas e morenas. Na pequenez da Baixa e do Aterro, onde todos se
acotovelavam, os dois fatalmente se cruzam: e com o seu brilho pessoal, muito fatalmente se atraem!
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Há nada mais natural?
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Eça de Queirós, Os Maias, Porto, Porto Editora, 2014 [cap. XVI], pp. 621-622.

1. Indica a reação de Ega perante a revelação de Guimarães.


Documenta a tua resposta com elementos do texto.

2. A paixão de Carlos e Maria Eduarda parece transcender a própria organização social. Segundo Ega, que força
os terá atraído? Justifica.

3. Identifica a perspetiva que está presente neste episódio. Indica as razões da tua resposta.

4. Encontram-se no texto numerosas frases exclamativas, interrogativas e também reticências. Refere o seu valor
expressivo.

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TESTES DE AVALIAÇÃO

GRUPO II
Lê o texto e seleciona a única opção correta.

1871. O ano em que Eça de Queirós se tornou um caso sério


As obras literárias e jornalísticas da juventude de Eça e o seu ímpeto de reformar o país,
nem que fosse pela sátira, serão os grandes temas do Congresso “Eça de Queirós, 150 Anos”,
que se realiza em Lisboa e Sintra a 14 e 15 de outubro. Mas muito mais estará em cima da
mesa, até porque Eça é inesgotável.
5 “Que uma vez se ponha a galhofa ao serviço da justiça!”, lê-se na abertura do primeiro
número de As Farpas, assinadas, nessa fase inicial, por uma parceria de jovens autores, que muito
daria que falar nos anos seguintes, José Maria Eça de Queirós e José Duarte Ramalho Ortigão. O
ano era 1871, reinava em Portugal D. Luís I e muito havia a satirizar sobre as contradições da
sociedade portuguesa. Aos dois rapazes (Eça, com 26 anos, Ramalho com 35) não lhes doeu as
mãos. Doravante, das elites que se pavoneavam no Chiado com mais adereços do que ideias, ao
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próprio monarca, ninguém estaria a salvo.
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Esse ano de 1871, que marca tanto o início da publicação de As Farpas como a realização das
Conferências do Casino, estará em foco nos próximos dias 14 e 15, no 2.º congresso internacional
“Eça de Queirós, 150 anos”, que terá lugar na Biblioteca Nacional de Portugal e no Palácio Valenças,
em Sintra. Renato Epifânio, do MIL – Movimento Internacional Lusófono que organiza o evento,
explica ao DN que, na origem deste segundo congresso, esteve o muito que ficou por dizer... no
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5 primeiro, em 2019: “Organizado sob o mote dos 150 anos da reportagem sobre a abertura do Canal
do Suez que Eça fez para o DN, mobilizou muita gente, não só em Portugal, nem sequer só nos
países de língua portuguesa, porque a comunidade internacional queirosiana continua a ser muito
forte, até mesmo fora das ‘fronteiras’ da lusofonia. Como constatámos que muito ficou por dizer, foi
lançada a ideia de se fazer outro em 2020, sobre O Mistério da Estrada de Sintra, cujos 150 anos se
assinalaram no ano passado. Como tal não foi possível devido à pandemia, adiámos para este ano,
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0 já com novas efemérides: Os 150 anos do início da publicação de As Farpas e da realização das
Conferências do Casino.” No entanto, salienta Renato Epifânio, “embora parte importante das
comunicações se centre nestes temas, também teremos outras, dada a riqueza de leituras que a
obra de Eça sempre suscita.” Isto sem esquecer O Mistério da Estrada de Sintra, publicada em 1870
como folhetim do DN, também assinada pela muito fértil parceria Eça e Ramalho Ortigão.
Após a quinta conferência do Casino, em 1871, o governo ordena o encerramento do evento
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alegando que “as preleções expõem e procuram sustentar doutrinas e proposições que atacam a
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religião e as instituições do Estado.”
O ano de 1871, que é o da derrota da França na Guerra Franco-Prussiana, da Comuna de Paris e
da constituição do Império alemão (com o rei da Prússia, Guilherme I, a tornar-se imperador ou
kaiser), não será, de facto, uma data qualquer na vida e obra de Eça de Queirós. Numa entrevista ao
DN (16/08/2020), o autor do Dicionário de Eça de Queirós e também de uma biografia do escritor
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0 (editada pela Almedina) A. Campos Matos falava das consequências literárias da reportagem no
Suez: “É aí que se dá a grande viragem de Eça fantasista para Eça observador da realidade. A
realidade geográfica, nova, que ele vê avidamente... ele vê o Egito avidamente e já com
conhecimento teórico, faz uma revolução na escrita dele.” Renato Epifânio não poderia estar mais de
acordo: “A reportagem no Suez foi uma prova de fogo para Eça de Queirós como autor. É a partir daí
que ele se irá afirmar.”
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5 Maria João Martins, Diário de Notícias, 10/10/2021.

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TESTES DE AVALIAÇÃO

5. A oração “que se realiza em Lisboa e Sintra a 14 e 15 de outubro” (ll. 2-3) desempenha a função sintática de

(A) complemento do nome.

(B) modificador do grupo verbal.

(C) modificador do nome apositivo.

(D) modificador do nome restritivo.

6. Indica a função sintática desempenhada pela expressão “de jovens autores” (l. 6).

7. Classifica a oração “que, na origem deste segundo congresso, esteve o muito que ficou por dizer...” (ll. 16-17).

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