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Excerto de “Caminhos para a intertextualidade no triângulo Eneida – Lusíadas – Mensagem. Uma leitura didática”,
de Sandra Nabais, 2012 (Relatório apresentado para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do grau de
Mestre em Ensino do Português e das Línguas Clássicas no 3.º Ciclo do Ensino Básico e no Ensino Secundário)
(…) É difícil e até escusado pesar na balança as duas obras, pois ambas são singulares e geniais;
pertencem a fases e épocas distintas da formação do império e foram pensadas com propósitos
diferentes.
Camões pretende eternizar os feitos passados dos portugueses e Fernando Pessoa pretende
despertar os portugueses para o futuro, lembrando-lhes que podem voltar a ser gloriosos. Os
Lusíadas e a Mensagem são obras de caráter épico que pretendem enaltecer os descobrimentos
portugueses e o valor do povo lusitano. Embora apresentem semelhanças, têm também
diferenças ao nível da forma e do conteúdo. Como semelhanças, podemos apontar o tema, que
é Portugal e o seu passado glorioso. É no mar e na guerra que os nossos heróis superam os
limites humanos e provam a sua superioridade relativamente aos povos antigos. A glória
conseguida tem o preço do sofrimento e das lágrimas, mas o mais importante é a luta pela
afirmação do ideal patriótico. Tanto uma como outra têm uma estrutura rigorosamente
pensada e evocam o passado com intenção de construir o futuro.
Os Lusíadas são dedicados a D. Sebastião, o monarca reinante, em cuja presença são lidos, para
o fazer sentir-se orgulhoso do povo que governa e levá-lo a continuar a obra dos seus ilustres
antepassados. Camões, na “Dedicatória”, descreve-nos um rei em quem a nação deposita as
suas esperanças para um futuro que será a continuação de um passado de dilatação da fé e do
império. Exalta-o como um rei escolhido por Deus ou pelo Destino para salvar a pátria da crise
em que se encontrava, prenunciando, assim, o sebastianismo que Pessoa reclamará. Este
monarca torna-se a figura mítica central da Mensagem, no séc. XX, o que prova que não morreu
na memória do povo e que permanece oculto pelo nevoeiro, desde a batalha de Alcácer-Quibir,
à espera da “hora” para conduzir os portugueses ao caminho certo. Assim, em ambas as obras,
D. Sebastião simboliza a crença num futuro melhor e no cumprimento do Império.