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Semelhanças

Os Lusíadas e Mensagem cantam, em perspetivas diferentes, a grandeza de


Portugal e o sentimento português. O tema do mar, tanto n’ Os Lusíadas como na
Mensagem, surge como o meio através do qual emerge o herói português: no primeiro
caso, tem a ver com a descoberta de novas terras; no segundo caso, prende-se com a
conquista simbólica do absoluto. O mar é, assim, a essência da alma portuguesa, sendo
mesmo salientada em ambas as obras a supremacia dos navegadores lusitanos,
relativamente aos da Antiguidade. No entanto, também ao mar se associam o
sofrimento e as lágrimas, como consequência inevitável do domínio sobre o mesmo.
Tanto Os Lusíadas como a Mensagem são obras publicadas no trajeto final da
vida dos seus autores, que acalentam a esperança num futuro ainda por cumprir e
representam o grito do apelo à ressurreição dos valores da pátria: “Ó Portugal, hoje és
nevoeiro.../ É a hora!” (Fernando Pessoa); Pessoa transforma o Rei Desejado em mito,
profetizando um império espiritual e cultural, o império da língua portuguesa: “Minha
pátria é a língua portuguesa”. De igual forma, Camões salienta, na sua epopeia, o valor
da poesia, por exemplo, nas reflexões em que lamenta o desprezo dos portugueses
pela atividade poética (Canto V, est. 92- 100) ou quando promete a D. Sebastião
cantar os seus feitos futuros (Canto X, est. 145-156);

Diferenças

Ao longo das duas obras, Camões e Pessoa relembram grandiosos feitos dos portugueses a fim
de, a partir de um passado de glória, fazer ressurgir os valores e a grandeza da nação, com
vista à construção de um novo império: o poeta renascentista (Camões) preconiza um império
terreno e material – a conquista do Norte de África e do Império no Oriente; o poeta da
modernidade (Pessoa) vaticina um império espiritual e cultural – o Quinto Império. Ao autor
da Mensagem, não interessa a conquista, a colonização nem a evangelização, pois acredita que
a superioridade ao nível cultural permitiria a hegemonia de Portugal no mundo. Segundo
Pessoa, o império da cultura e da língua portuguesa, cujo motor seria a inteligência de um
Super-Camões, alargar-se-ia a uma dimensão universal da qual resultaria a paz;

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