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Mensagem

A. Contextualização histórico-literária

• Portugal estava estagnado, assente numa economia agraria e dependente das colónias.
• Criou-se o Estado Corporativo, que contava já com Salazar na pasta das Finanças e
organizador do estado novo.
• A proximidade da obra ao regime do Estado Novo trouxe alguns dissabores ao poeta, que foi
acusado de colaborar com a ideologia fascista, mas, logo se distancia do regime.
• Única obra completa de Pessoa publicada em vida e contém 44 poemas.
• Apesar do incidente associado a esta obra, Mensagem é hoje reconhecida como uma obra
capital da poesia portuguesa. Os seus poemas, embora escritos ao longo de 21 anos, têm
como fio condutor da sua unidade a visão mítica da Pátria.

O imaginário épico
❖ Se Camões procurou em Os Lusíadas cantar os feitos gloriosos lusos que deram início ao
grande império que se estendeu pelos vários continentes, Pessoa, em Mensagem, cantou o
fim do império territorial, procurando incentivar o aparecimento de um império de língua,
de cultura e de valores.
❖ Os poemas ligam-se pela exaltação patriótica, pelo simbolismo e pelo espírito épico-lírico
que lhe conferem unidade e equilíbrio. O relato histórico dá lugar à visão subjetiva e
introspetiva dos acontecimentos que contêm valores míticos e simbólicos.
❖ Mensagem estrutura-se numa organização tripartida: Brasão, Mar Português e O Encoberto.
❖ Revivendo o mito sebastianista e anunciando o Quinto Imperio, Pessoa procurou ser a voz
da consciência da identidade de que Portugal necessitava e necessita. Procurou mobilizar o
povo para a importância da ação.
❖ Mensagem é mítica e é simbólica.
❖ Estrutura – traduz a evolução do Imperio Português desde a sua origem, passando pela sua
fase adulta até à morte, a que se seguirá a ressurreição.

❖ 1º Parte – BRASÃO – corresponde ao nascimento, com referência aos mitos e às figuras


históricas até D- Sebastião, identificadas nos elementos dos brasões. Dá conta do Portugal
erguido pelo esforço dos heróis e destinado a grandes feitos.
❖ 2º Parte – MAR PORTUGUÊS – surge a realização e a vida, com referência a personalidades
e a acontecimentos dos Descobrimentos que exigiram uma luta contra o desconhecido e os
elementos naturais. Mas, porque “tudo vale a pena”, a missão foi cumprida.
❖ 3º Parte – O ENCOBERTO – aparece a desintegração, havendo, por isso, um presente de
sofrimento e de magoa. Anseia-se pela regeneração, que será anunciada por símbolos e
avisos. Mostra a imagem do Imperio moribundo, a crença de que a morte contém em si o
gérmen da ressurreição, capaz de provocar o nascimento do império espiritual.
❖ Camões, em Os Lusíadas, e Fernando Pessoa, em Mensagem, cantam, em diferentes
perspetivas, Portugal e a sua história, realçando a expansão marítima e o alargamento da
Fé.
Enquanto o primeiro celebra o apogeu e pressente a decadência do Império, o segundo
retorna às origens e às descobertas marítimas, mas situa-se na fase terminal do processo de
dissolução do mesmo império.
❖ Pessoa é o cantor épico-lírico que canta o Império “à beira-mágoa”, procurando despertar
os espíritos para a necessidade do seu ressurgimento. Se nas duas primeiras partes de
Mensagem é possível uma aproximação a Os Lusíadas, na terceira parte, Pessoa sente-se
investido no cargo de anunciador do Quinto Império, que não pide ser material, mas
civilizacional.
❖ Camões, para cantar o povo narra a viagem de Vasco da Gama e as descobertas; Pessoa
prefere cantar Portugal e o Império, propondo uma interpretação dos seus sonhos, símbolos
e mitos, e tentando despertar o povo para a crença de que o Messias, “O Encoberto”, está a
chegar.

Camões + Pessoa = Poetas da Ausência; do império que houve e do império que poderá haver

❖ Apesar de conter poemas breves, garante uma unidade histórica e logica, sequencial e
coerente. A estrutura tripartida permite contar e refletir sobre a vida e o percurso de
Portugal ao longo dos séculos.
O SEU SIMBOLISMO

1º parte
Brasão

o Correspondente ao nascimento do Império português, fazendo referência aos mitos e às


figuras históricas até D. Sebastião, identificadas nos elementos dos brasões
o Desenha o Portugal erguido pelo esforço dos heróis e destinado a grandes feitos
o Inicia a localização de Portugal na Europa e em relação ao Mundo, procurando atestar a sua
grandiosidade e o valor simbólico do seu papel na civilização ocidental.
o Define o mito como um nada capaz de gerar os impulsos necessários à construção da
realidade.
o Apresenta um povo heroico e guerreiro, construtor do império terrestre e que se expandiu
para o mar.
o Valoriza os predestinados que construíram o País.
o Refere as mulheres portuguesas, mães dos fundadores.
2º parte
Mar Português

o Corresponde à realização e à vida


o Procura simbolizar a essência do ideal de ser português vocacionado para o mar e para o
sonho.
o Inicia-se com o poema “O Infante”, no qual o poeta exprime a sua conceção messiânica da
História, mostrando que o sopro criador do sonho resulta de uma lógica que implica Deus
como causa primeira, o homem como agente intermedio e a obra como efeito.
o Evoca-se, nos outros poemas, a gesta dos Descobrimentos, as personalidades e os
acontecimentos que exigiram uma luta contra o desconhecido e os elementos naturais, as
glorias e as tormentas, considerando que “valeu a pena”.
o Renova-se o sonho no último poema da segunda parte – “Prece”.
3º parte
O Encoberto

o Corresponde à desintegração, havendo, por isso, um presente de sofrimentos e de mágoa,


pois “falta cumprir-se Portugal”
o Encontra-se tripartida em “Símbolos”, “Avisos” e “Tempos” – com os primeiros, manifesta-
se a esperança e o “sonho português”, pois o atual Império encontra-se moribundo
o Nos três avisos são definidos os espaços de Portugal; com cinco tempos traduz-se a ansia e a
saudade daquele Salvador que, na “Hora”, deverá chegar, para edificar o Quinto Império,
moral e civilizacional
o Revela-se a fé de que a morte contenha em si o gérmen da ressurreição.

B. Dimensão simbólica do herói

❖ O conceito de herói é indissociável da intervenção divina, é uma figura que, com trabalho e
esforço, percorre um caminho sofrido.
❖ O objetivo é colocar em destaque o heroísmo de todos os que ajudaram a construir, alargar
e consolidar o império português.
❖ O herói coletivo sofreu, lutou e saiu engrandecido das tarefas das conquistas e dos
Descobrimentos. Mais tarde, num presente de decadência, de magoa e de saudade, o povo
há de recordar esse passado grandioso e desejar construir um futuro renascido pela sua
grandeza espiritual.
❖ O herói é escolhido por Deus e é-lhe confiada uma missão. Na verdade, o herói é alguém
que é capaz de interpretar a vontade divina e que aceita a missão que superiormente lhe foi
confiada.
C. Exaltação patriótica

❖ Pessoa anuncia um novo império civilizacional, que acredita ser o português.


❖ O que se espera dos Portugueses?
Mensagem celebra as qualidades dos portugueses que, no passado, ajudaram a
construir um país e que, no futuro, o deverão ajudar a reerguer-se. Há assim uma voz
saudosa e magoada do passado, mas, ao mesmo tempo, há o sonho de um novo império,
alimentando pelo sentimento sebastianista.
De facto, a obra destaca os heróis que, com sacrifício, conquistaram, defenderam ou
desvendaram territórios, mares, cidades, levando a claridade “até ao fim do mundo”.
Pessoa destaca a força de outrora de um povo dominador, possuidor de um império
territorial espalhado por vários continentes. Tudo isto aconteceu porque houve vontade,
esforço, dedicação e capacidade de sofrimento.
Agora, para que esse elogie continue a ser merecido e para que “possa cumprir-se
Portugal”, cabe a este país e a este povo guiar a Europa e o Mundo, até atingir um novo
Império, que terá de ser cultural e civilizacional.
D. O sebastianismo e o Quinto Império

❖ Em mensagem, a figura histórica de D. Sebastião assume a dimensão simbólica do


Encoberto.
❖ O sebastianismo é abordado por Pessoa como mito que exprime o drama de um País
moribundo “à beira-mágoa”, a necessitar de acreditar de novo nas suas capacidades e nos
valores que antigamente lhe permitiram a conquista dos mares e a sua afirmação no
mundo.
❖ O desaparecimento de D. Sebastião na batalha de Alcácer Quibir, colocou o país perante
uma crise dinástica e foi o início de um período negro na história, com a perda da
independência e a anexação a Espanha.
❖ É neste contexto particular que surge o mito sebastianista tradicional, no qual o
aparecimento do rei querido e desejado, cujo corpo nunca foi identificado, numa manhã de
nevoeiro, conduziria Portugal à antiga grandeza e à conquista da identidade nacional.

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