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Português – “Mensagem”

A estrutura tripartida da obra

A sua estrutura tripartida permite contar e refletir sobre a vida e o percurso de Portugal
ao longo dos séculos. Assim, os poemas encontram-se agrupados em três partes que
correspondem às etapas da evolução do Império Português - nascimento, realização e
morte.
O poema começa com a expressão latina "Bendito o Senhor Nosso Deus que nos deu o
sinal" anunciando, de imediato, o sentido simbólico e messiânico (relativo a um messias
ou a movimento ideológico que prega a missão de que estaria investido um homem na
salvação da humanidade) que o percorre.
Brasão
Esta primeira parte corresponde ao nascimento do Império Português, fazendo
referência aos mitos e figuras históricas até D. Sebastião, identificadas nos elementos
dos brasões. Dá conta do Portugal erguido pelo esforço dos heróis e destinado a grandes
feitos. Começa pela localização de Portugal na Europa e em relação ao Mundo,
procurando atestar a sua grandiosidade e o valor simbólico do seu papel na civilização
ocidental, quando afirma "O rosto com que fita é Portugal". Depois, define o mito como
um nada capaz de gerar os impulsos necessários à construção da realidade; apresenta o
Portugal de um povo heroico e guerreiro, construtor do império marítimo; valoriza os
predestinados que construíram o País.

Mar Português
Nesta segunda parte, surge a realização e a vida. Inicia-se com o poema "O Infante", no
qual o poeta exprime a sua conceção messiânica da História, mostrando que o sopro
criador do sonho resulta de uma lógica que implica Deus como causa primeira, o homem
como agente intermediário e a obra como o efeito. Nos outros poemas, evoca uma lista
contra o desconhecido e os elementos naturais, as glórias e as tormentas, considerando
que valeu a pena. Em "Mar Português", Pessoa procura simbolizar a essência do ideal de
ser português vocacionado para o mar e para o sonho.
O Encoberto
A terceira parte corresponde à desintegração, havendo, por isso, um presente de
sofrimento e de mágoa, pois "falta cumprir-se Portugal". Primeiramente, manifesta-se a
esperança e o "sonho português", pois o atual império encontra-se moribundo. Revela-
se a fé de que a morte contenha em si o gérmen da ressurreição. Mais tarde traduz-se a
ânsia e a saudade daquele Salvador que deverá chegar para edificar o Quinto Império.
Fernando Pessoa, anuncia um novo império civilizacional, que acredita ser o português.
O "intenso sofrimento patriótico" leva-o a antever um império que se encontra para
além do material, isto é, um império espiritual.
Dimensão simbólica do herói
O objetivo é colocar em destaque o heroísmo de todos os que ajudaram a construir,
alargar e consolidar o império português. O herói coletivo sofreu, lutou e saiu
engrandecido das tarefas das conquistas e dos Descobrimentos. Mais tarde, num
presente de decadência, de mágoa e de saudade, o povo há de recordar esse passado
grandioso e desejar construir um futuro renascido pela sua grandeza espiritual. O herói
pessoano é contemplativo, embora manifeste capacidade de sonhar; é um mito (porque
foi capaz de criar a realidade) e tem por missão combater a estagnação em que o país
se encontra.

Na obra de Pessoa, a conceção do herói é messiânica, numa conjugação dos planos


espiritual e humano: o desejo divino de unir a Terra levou à escolha e à sagração do
Infante D. Henrique que, com a sua ciência, organização e ação, cumpriu essa tarefa,
sendo, por isso, um representante de Deus, um concretizador da sua obra.
Em Mensagem, o herói é escolhido por Deus e é-lhe confiada uma missão; por isso, a
sua força, a sua vontade e a sua coragem têm origem no além. Na verdade, o herói do
poema épico-lírico é alguém capaz de interpretar a vontade divina e que aceita a missão
que superiormente lhe foi confiada.
O sebastianismo
O sebastianismo é abordado por Fernando Pessoa como mito que exprime o drama de
um País moribundo, a necessitar de acreditar de novo nas suas capacidades e nos valores
que antigamente lhe permitiram a conquista dos mares e a sua afirmação no mundo.
Efetivamente, o desaparecimento de D. Sebastião na batalha de Alcácer Quibir, colocou
o país perante uma crise dinástica e foi o início de um período negro da nossa História.
É neste contexto particular que surge o mito sebastianista tradicional, no qual o
aparecimento do rei querido e desejado, cujo corpo nunca foi identificado, numa manhã
de nevoeiro, conduziria Portugal à antiga grandeza e à conquista da identidade nacional.
Análise da obra
Estrutura da obra: aspetos paratextuais e aspetos simbólicos

Em que medida este livro constitui uma "mensagem" para Portugal?


A obra apresenta uma estrutura simbólica e anuncia um novo destino imperial de
Portugal. Por esta razão, podemos considerar que a obra Mensagem apresenta uma
mensagem para Portugal.
Como está estruturada a obra?
Mensagem é constituída por 44 poemas e está estruturada em três partes distintas:
"Brasão", "Mar Português" e "O Encoberto".
Na primeira parte da obra, materializa-se o esboço da ideia de império que nasce com
D. Dinis. A nação vai cumprindo o seu destino divino e consolidando os ideais nacionais.
Pessoa inspirou-se no brasão das armas nacionais: os sete Castelos, as cinco Quinas, a
par de outros elementos ligados à heráldica, mas apresenta um brasão novo,
reconstruído a partir do brasão do Infante D. Henrique. Na Mensagem, o "Brasão" mais
do que a imagem do passado, cristaliza o lugar da memória coletiva em que as
qualidades de ser português se fixam em personalidades como Ulisses, Viriato, Conde D.
Henrique, D. Teresa, D. Afonso Henriques, D. Dinis e D. João I e D. Filipa de Lencastre.
Estas são as sete "pedras basilares da nacionalidade", pois os seus feitos "visíveis"
antecipam ou prenunciam outros mais importantes.
A segunda parte de Mensagem, constituída por doze poemas, canta o português que
desvendou mundos, "cumpriu o mar" e criou um império material que deixa adivinhar
o seu fim.
A terceira parte, "O Encoberto", anuncia a instauração do Quinto Império.
Em que medida a estrutura da obra é simbólica?
Mensagem está estruturada em três partes distintas: "Brasão" (19 poemas em cinco
partes), "Mar Português" (12 poemas) e "O Encoberto" (13 poemas em três partes). O
número três simboliza a perfeição, a totalidade, e sugere também uma evolução mística,
que culminará no "Quinto Império".
Na primeira parte da obra, os heróis mencionados nos poemas simbolizam a formação
de Portugal, são os heróis fundadores.
A segunda parte de Mensagem, constituída por doze poemas, canta o português que
desvendou mundos, "cumpriu o mar" e criou um império material que deixa adivinhar o
seu fim.
A terceira parte, "O Encoberto", anuncia e antecipa a instauração do "Quinto Império" /
Renascimento, depois do declínio.
O messianismo é, em termos
A estrutura simbólica da obra restritos, a crença na vinda - ou
no retorno - de um enviado
Mensagem - Obra messiânica divino libertador (um messias)
com poderes e atribuições que
Portugal é considerado um ser: aplicará ao cumprimento da
• nascimento; causa de um povo ou um grupo
• idade adulta e realização da obra; oprimido.
• morte e ressurreição.

PRIMEIRA PARTE: Brasão


• Formação de Portugal.
• Nascimento da nação.
• Aspetos únicos que caracterizam Portugal.
• Brasão é constituído por um conjunto de elementos simbólicos.
• Heróis simbólicos: dezassete figuras históricas, fundadoras e míticas que condensam
as qualidades do caráter português.

SEGUNDA PARTE: Mar Português


• Missão de Portugal no mundo: as Descobertas.
• A realização da obra.
• Doze poemas que recriam a saga dos Descobrimentos.
• Heróis da expansão portuguesa.

TERCEIRA PARTE: O Encoberto


• Estagnação/morte após o desastre de Alcácer Quibir (1578).
• Ressurreição: anúncio do ressurgimento da grandeza cultural da nação.
• Destaque para a figura de D. Sebastião: destino e mito
• Mito Sebastianista (transfiguração de uma figura histórica em mito).
• Mito do Quinto Império (criação de um império espiritual indestrutível).
• Mito do Desejado (espera pelo Messias capaz de unificar a nação).
• Mito das Ilhas Afortunadas (mito do lugar ideal).
• Mito do Encoberto (símbolo de Cristo associado à Rosa e ao Quinto Império).
• Poemas (13) que remetem para a natureza espiritual da aventura e a universalidade da
cultura portuguesa.

Por que razão se pode considerar que na obra está presente o nascimento, a vida e a
morte e ressurreição de Portugal?

Cada uma das três partes de Mensagem corresponde, simbolicamente, ao nascimento,


à vida, à morte e ressurreição de Portugal.
Primeira Parte: Nascimento; Fundação da Nacionalidade.
Segunda parte: Vida; Expansão e descobertas.
Terceira parte: Morte e ressurreição; Declínio e renascimento.

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