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. Apesar de se tratar de um mito, o Sebastianismo tem uma origem concreta e real. Começa
com o desaparecimento do Rei D. Sebastião, na Batalha de Alcácer-Quibir, em 1578. Dois anos
depois, quando é anexado a Espanha, Portugal perde a independência. Segundo a lenda, o
jovem monarca (O Desejado ou o Encoberto) não teria morrido e seria o Salvador que voltaria
ao país numa manhã de nevoeiro para o libertar.
. Mensagem retoma o mito sebástico com uma configuração própria. Fernando Pessoa é agora
o profeta que, num contexto nacional difícil e de crise, fala do ressurgimento de Portugal e do
seu futuro traçado por Deus. Nesta obra, D. sebastião é uma figura que surge no título de dois
poemas: mas o seu valor é simbólico e não será o seu regresso «carnal» que Pessoa aguarda; a
noção de salvador terá uma configuração simbólica.
. Mensagem é atravessada por figuras, símbolos (As Ilhas Afortunadas; Nevoeiro;) e avisos (O
Bandarra; Nevoeiro) que anunciam uma nova ERA. Essa Era futura é a do Quinto Império, um
conceito bíblico que o Padre António Vieira, Fernando Pessoa e outros autores atualizaram.
Para o poeta da Mensagem, depois dos impérios Grego, Romano, Cristão (medieval) e Europeu
Marítimo, chegará esse Novo Tempo (cf poema «O Quinto Império»).
. O Quinto Império é um conceito universal, pois envolve toda a humanidade, e não será
conquistado pelas armas. Trata-se de um domínio espiritual, que, por escolha divina, tem
Portugal à cabeça e que se propõe trazer fraternidade, paz, prosperidade a todos os povos.
Será uma espécie de regresso ao Paraíso perdido.
A Natureza épico-lírica da obra
. A par da sua faceta épica, emerge em Mensagem uma dimensão lírica, que se
manifesta numa vertente mais introspetiva dos poemas. Como é característico deste
modo literário, encontramos um sujeito poético que, no seu discurso, dá conta do seu
mundo interior, dos seus sentimentos, das suas reflexões sobre Portugal e o seu
destino. Por vezes, este eu poético assume a voz de todo um povo.
. Há poemas que denunciam esta sua natureza lírica: em muitos casos, o discurso é
assumido por uma figura histórica que sintetiza a sua vida ou comenta o seu destino
(cf «Screvo meu livro à beira-mágoa»).