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Mensagem

Os símbolos unificantes

Brasão: sinónimo de escudo de armas, distintivo de nobreza, de fidalguia, simboliza a


formação do reino e a nobreza imutável do passado. Na obra, deve ser entendido como o
lugar da memória coletiva onde as qualidades do ser português se fixam, como símbolo de
procura, como possibilidade criadora, como potência do Portugal a haver. Mais do que a
imagem do passado, o Brasão é o futuro que esse passado deixa adivinhar.

 Campo: em heráldica, designa a superfície interior do escudo, no brasão, com duas partes
distintas, no caso do brasão nacional: a dos Castelos e a das Quinas. Espaço com a mesma
simbologia da terra, enquanto princípio passivo, que permite a ação, e enquanto espaço de
fecundidade, de vida (a obra realizada pelos fundadores e construtores do império).

 Castelo: é, ao mesmo tempo, uma morada sólida, resistente à erosão do tempo e um lugar
de difícil acesso, condições que fazem dele, no plano simbólico, o ideal de procura.
Representa, ainda, a energia criativa do mito e permanece na memória coletiva como
objeto de procura interior: os valores da fundação e da defesa da nacionalidade (a força, a
nobreza e a coragem, de inspiração divina) colocados a par do mistério e do enigma como
portadores da origem e do futuro.

 Quinas: transposição heráldica das chagas de Jesus, as chagas abertas no Ser nacional –
reenviam para a «desgraça» e para o sofrimento a pagar pelo alcance da glória, facto que a
vida infeliz dos cinco heróis amplamente confirma. Vencidos, como os cinco reis da
simbologia tradicional, só o são, no entanto, em sentido comum, pois deles o que morreu
foi o «ser que houve, não o que há», ou seja, o que neles existia de mortal, não aquilo que
neles é exemplo da essência do ser português: o sentido do dever e de missão a cumprir, na
«fidelidade à palavra dada e à ideia tida», a fome de grandeza e a «febre do Além» que
bebem a sua inspiração na loucura e no sonho, incompatíveis com o comodismo fácil, em
suma, a incontornável e incansável sofreguidão de Absoluto: «O todo ou o seu nada».

 Coroa: símbolo de perfeição e de poder; promessa de imortalidade. Representada pelo


arquétipo do herói-cavaleiro puro, o Condestável D. Nuno Álvares Pereira, que coroa
simbolicamente o fundador da dinastia de Avis, D. João I.

 Timbre: símbolo do poder e da posse legítima, ligado, também, à ideia de segredo. É uma
marca dada por Deus, que assegura ao ser humano a ascensão a mundos superiores,
através do conhecimento.

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 Grifo: vinca, em termos icónicos, uma dupla natureza celeste (a águia) e terrestre (o leão),
as duas qualidades de sabedoria e de força de Cristo – a atuação dessas duas realidades
positivas na história mítica de Portugal. A cabeça do grifo representa o Espírito, a Sabedoria,
o Sonho inspirado do Alto; as asas transportam o sonho, do plano celeste ao terrestre.

Mar: aponta para um dinamismo próprio – o das transformações (pelo movimento das
águas, possibilita a imagem da transitoriedade, indicando realidades distintas: o vaivém
das águas conduz à imagem da vida e da morte).
Espaço iniciático:
 local onde o ser humano iniciou o seu percurso, visando obter uma transformação, quer
no seu próprio interior, quer ao nível das experiências, entretanto adquiridas e que lhe
permitiram atingir uma outra dimensão na escala da sabedoria humana.

 Elemento de ligação entre o passado e a certeza adivinhada do futuro, é símbolo do ser-se


português: foi-o, no passado, pelo que espelha o português desvendador e dominador de
mundos; sê-lo-á, no futuro, porque, sagrado português, «fornecerá o elemento simbólico
para todo o navegar».

Ondas: ligadas metonimicamente ao mar, representam, no entanto, a passividade, a


inércia, por serem arrastadas por uma força que está para além delas. Aparecem como
projeção do inconsciente humano, que pode ser desperto por uma força superior e cuja
natureza ultrapassa a sua condição.

Terra: projeção do Céu, representa o seu princípio passivo – funciona como recetáculo da
vontade de Deus. Espaço de recompensa: é porto que espera os portugueses, após um
longo período de viagem marítima. Simboliza o seio materno: o regresso à terra é o
regresso ao elemento natural e natal do ser humano.

Ilha: associada metonimicamente à terra. Pelo seu difícil acesso, representa um centro
espiritual e primordial – é necessário sabedoria e passar por algumas provações para a
alcançar. Local paradisíaco onde impera a paz, situa-se no domínio do sagrado, longe das
massas profanas. Surge como recompensa, como uma conquista, como um prémio
merecido, após as tormentas: a promessa de felicidade na terra.

Nau: simboliza a viagem interior, as provações, o caminho a percorrer em direção ao


heroísmo. Conduz à aquisição do conhecimento de novos mundo e de novas gentes,
elevando os navegadores à condição de heróis.

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Padrão: monumento de pedra que os navegadores portugueses erigiam em cada nova
terra descoberta, simboliza a consumação da etapa penúltima desse «porto sempre por
achar».

Mostrengo: simboliza o desconhecido, os medos, os perigos e os obstáculos que os


navegadores tiveram de enfrentar e vencer. O «Homem do Leme» pisa, como
representante de um Povo, um terreno proibido, enfrentando o desconhecido com a
audácia que a sua humana condição permite e a vontade que o transcende exige. Mais do
que uma vitória sobre o Mostrengo, assistimos à vitória do herói sobre si mesmo, sobre
aquilo que ele tem de mortal. O mistério da ultrapassagem que a insistência no número
Três simboliza é, pois, essa morte do corpo que faz surgir, imortal, a alma interna do herói.
Um herói que, participando do divino, se torna arquétipo do Portugal futuro.

Noite: simboliza a morte, a inércia, o caos, ao qual deverá suceder-se a luz, a vida. Implica
a possibilidade de renascimento, a reconquista de um espaço espiritual perdido, a
possibilidade de ação dos portugueses, depois de um período de inação.

Manhã: símbolo da harmonia entre os seres humanos, é um tempo de luz, de vida, de


promessa e de felicidade – no poema «Antemanhã», é o Mostrengo que interpela os
portugueses, no sentido de os acordar do seu sono letárgico, de modo a poderem
reconquistar a glória perdida.

Nevoeiro (O Encoberto): simboliza a indefinição, a indiferenciação das formas e a


hipótese de revelação de novas realidades. É esta promessa de uma nova existência que
determina o valor simbólico do nevoeiro, associado à esperança e à regeneração.

Graal: simboliza o dom da vida e a espiritualidade. Surge associado a Cristo, que morreu
para salvar a Humanidade e cuja representação é o cálice utilizado na celebração da santa
eucaristia. A demanda do Santo Graal corresponde a um amadurecimento interior
progressivo com vista à obtenção de um estado de perfeição cada vez maior, pois só a
transformação do ser humano material num ser espiritual lhe poderá proporcionar a visão
do cálice sagrado.

Fontes consultadas:
 Artur Veríssimo, Dicionário da Mensagem, Lisboa, Areal
Editores, 2000.
 Conceição Jacinto e Gabriela Lança, A Análise do Texto –
Mensagem, Fernando Pessoa, Porto, Porto Editora, 1998.
 Jean Chevalier & Alain Gheerbrant, Dicionário dos
Símbolos, 2.ª Fontes
ed., Lisboa, Editorial Teorema, 2010.
consultadas:
 Artur Veríssimo, Dicionário da Mensagem, Lisboa, Areal Editores, 2000.
 Conceição Jacinto e Gabriela Lança, A Análise do Texto – Mensagem,
Fernando Pessoa, Porto, Porto Editora, 1998. 3
 Jean Chevalier & Alain Gheerbrant, Dicionário dos Símbolos, 2.ª ed., Lisboa,
Editorial Teorema, 2010.

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