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AGRUPAMENTO DE ESCOLAS DE RATES

Ficha informativa 2 – Os Lusíadas


Disciplina: Português- 9º Ano

Nome: _____________________________Nº: ___ Ano: __ Turma: ___ Data: ____ / ___ / ____

Os Lusíadas, Canto I – Início da Narração/ Consílio dos Deuses


A Narração d’ Os Lusíadas inicia-se na estrofe 19, do Canto I, quando os navegadores
portugueses já estão no Oceano Índico («Já no largo oceano navegavam…»). É por isso
que a Narração começa in medias res, ou seja, no meio da ação. Seguidamente, entre as
estrofes 20 e 41, o poeta narra o primeiro Consílio (reunião) dos Deuses do Olimpo.
Posteriormente, o início da viagem será relatado por Vasco da Gama, por meio de uma
analepse.
Classificação do episódio: é um episódio mitológico, devido à intervenção dos deuses.
Estrutura externa: canto I, est. 19 e est. 20-41
Estrutura Interna: narração.
Narrador: Camões.
Plano narrativo: plano da viagem (est. 19 e 42); plano mitológico (est. 20-41).

Resumo Recursos Expressivos


1ª Parte: est.19 Personificação: «Os ventos brandamente respiravam»;
No Oceano Índico, mais concretamente no canal de Adjetivação: «largo Oceano; inquietas ondas»
Moçambique, a armada portuguesa navega com mar e Hipérbato: inversão da ordem direta das palavras na
ventos favoráveis. (Plano da Viagem) frase. “Das naus as velas côncavas inchando”
(inchando as velas côncavas das naus).
2ª Parte: est. 20 (vv1-4) Convocatória
Imediatamente após o início do plano da viagem, Convocação do Consílio
surge o plano mitológico, dando a ideia ao leitor de
que estes dois planos funcionarão paralelamente ao
longo de toda a obra.
Assim, os deuses decidiram juntar-se em Consílio, no
Monte Olimpo, para decidirem sobre o futuro dos
portugueses, se os iam ajudar a chegar à Índia ou não.
3ª Parte: est.20 (vv 5-8) 21 Perífrase: «Pelo neto gentil do velho Atlante.» =
O consílio é convocado por Júpiter, pai dos deuses, por Mercúrio (20)
intermédio de Mercúrio. Respondem a esta chamada Hipérbole: «Alto poder que só pensamento /
deuses de todos os lados e chegam ao Olimpo, onde tem governa […] irado» (21);
lugar a reunião. Perífrase: «A aurora nasce» = nascente; «e o
Caracterização do espaço: luminosidade, brilho, riqueza. claro sol se esconde» = poente.

4ª Parte: est. 22-23 Hipérbole: «Que vibra os feros raios de Vulcano»;

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Júpiter senta-se num trono de estrelas, enquanto os outros «De outra pedra mais clara que diamante.»
deuses ocupam, hierarquicamente, assentos cravados de Adjetivação: «Com gesto alto, severo e soberano».
ouro e pedras preciosas. Nas filas da frente, ficavam os (caracterização física e psicológica de Júpiter)
mais antigos e poderosos, nas filas de trás os mais novos. Símbolos do poder: coroa e cetro.
Caracterização da divindade máxima:
Iniciado o consílio, falou em primeiro lugar Júpiter.
Carácter divino – “Do rosto respirava um ar
Estatuto de chefe supremo dos deuses – detentor do poder:
divino / Que divino tornara um corpo humano”
“Alto poder”
“ Que do poder mais alto lhe foi dado”
“ Gesto alto, severo e soberano”
“ voz grave e horrenda” (autoritário/impõe respeito)
“ com hua coroa e ceptro” ( símbolos do poder).
5ª Parte: 24-29
O Discurso de Júpiter divide-se em vários momentos, que Apóstrofe / Perífrase: «Eternos moradores do luzente,»
se relacionam com o passado, o presente e o futuro dos
= Deuses; (24)
portugueses, e tem como objetivo central convencer os
deuses de que a decisão de ajudar os nautas é a única Perífrase: «forte gente de Luso» = povo português;
possível e a mais justa.
(24)
1º momento (est.24): dirigindo-se aos deuses, Júpiter
recorda-lhes que os Fados (o destino) já decidiram que os Perífrase: «gente de Rómulo» = romanos (26);
portugueses teriam êxito na sua missão e seriam superiores
Perífrase: «Onde o dia é comprido e onde breve» = sul
aos povos da Antiguidade: assírios, persas, gregos e
romanos; do Equador; (27)
2º momento (est. 25-26): Júpiter recorda o passado glorioso
Perífrase: «A ver os berços onde nasce o dia» = Terras
dos portugueses, que venceram os mouros e castelhanos e,
recuando até ao passado mais longínquo, refere as figuras do Oriente (27)
de Viriato e de Sertório, que venceram os romanos. Neste
Metáfora: “lenho leve”- aponta para a fragilidade da
momento do seu discurso, o pai dos deuses prova sobretudo
que os portugueses são um povo de heróis desde as suas embarcação.
origens.
Perífrase: «Do mar que vê do Sol a roxa entrada» =
3º momento (est.27): centrando-se no presente, Júpiter
refere-se à viagem que os portugueses fazem no momento, Oceano Índico (28)
referindo a fragilidade do homem face aos elementos da
natureza (“cometendo/ o duvidoso mar num lenho leve”).
Porém, esta fragilidade humana contrasta com a coragem
que caracteriza o povo português que não teme as
dificuldades dos ventos contrários, dirigindo-se à Índia, o
que faz dele um herói capaz do que nunca foi feito.
4º momento (est. 28): Júpiter apresenta a primeira profecia
do poema, quando refere que o “Fado eterno” determinou
que os portugueses tivessem o domínio do Oriente. Ora,
como, segundo a crença, os Fados são mais poderosos do
que os próprios deuses, era certo que os portugueses
chegariam à Índia, onde exerceriam o seu domínio.
5º momento (est. 29): atendendo a todos os aspetos
gloriosos associados aos portugueses, Júpiter decide que os
nautas deverão ser protegidos até à Índia.

6ª Parte: 30 vv1-4 Hipérbato (inversão violenta da ordem normal


Apesar da determinação de Júpiter, os deuses não chegam a um das palavras na frase): «Estas palavras Júpiter
acordo e instala-se a desordem no Olimpo. dezia».

7ª Parte: 30-32 Perífrase: «Hua gente fortíssima de Espanha» =


O primeiro a reagir é Baco, deus do vinho e muito os portugueses; (31)
venerado na Índia, mostrando-se desfavorável à decisão Perífrase: De quantos bebem a água do Parnaso»

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tomada. Baco, que dominava o Oriente, sabia que, se os = poetas
portugueses lá chegassem, tomariam conta do seu
território. Para além disso, temia deixar de ser cantado
pelos poetas, que, face à glória dos portugueses,
esqueceriam o deus. No fundo, Baco receava o
esquecimento que o levaria a perder a sua condição de
deus.
8ª Parte: 33-34 (vv.1-4) Perífrase: «onde a gente belígera se estende» = os
Vénus, por sua vez, coloca-se ao lado de Júpiter, a favor dos portugueses (34)
portugueses. São três as razões que levam a deusa do amor a
adotar esta posição:
 Os portugueses têm qualidades semelhantes às do povo
de Vénus, os romanos, em particular no espírito
guerreiro;
 A língua que falam é semelhante ao latim, a língua dos
romanos;
 Os portugueses celebrarão a deusa por onde passarem,
designadamente no Oriente, onde a Deusa quis sempre
ser celebrada.
9ª Parte: 34 (vv.5-8) 35 Personificação / hipérbole: «Rompendo os ramos
vão da mata escura/ com ímpeto e braveza
Perante opiniões tão contrárias, gerou-se uma enorme desmedida; / Brama toda a montanha, o som
discussão e tumulto no Olimpo. Esta discussão reflete-se murmura, / Rompem-se folhas, ferve a serra
na natureza e é comparada a um ciclone. erguida.»
Comparação: “Qual Austro fero, ou Bóreas na
espessura / De silvestre arvoredo abastecida”. ( A
violência da discussão é comparada à violência da
natureza numa tempestade).
10ª Parte: 36-37 Anáfora: «Ou porque […] Ou porque»;
Marte surge em defesa de Vénus, sem que saibamos quais Dupla adjetivação: «medonho e irado»;
as suas verdadeiras motivações: o amor antigo que sente Hipérbole: «O céu tremeu, e Apolo, de torvado, /
pela deusa, o reconhecimento do valor dos portugueses e Um pouco a luz perdeu, como ínfiado»;
é descrito como um deus tão poderoso, que ninguém ousa
contestá-lo.
(Marte aparece com uma força e autoridade quase igual à
de Júpiter. Não era só por se tratar do deus da Guerra, a
intenção do poeta era mostrar o deus da guerra como
símbolo da força, da coragem e da vitória. Marte aparece
a personificar a força dos portugueses.)
11ª Parte: 38-40 Invocação / Perífrase: «E tu, Padre de grande
No seu discurso, Marte começa por mostrar a falsidade fortaleza,» = Júpiter
das razões de Baco. Este teria inveja dos portugueses, Perífrase: “Quem parece que é suspeito”. (Baco)
pelo facto de chegarem à Índia, que era o seu domínio.
(38,39)
Termina o seu discurso, apelando a Júpiter para que
cumpra a sua determinação inicial de apoiar os
portugueses. Além do mais, seria fraqueza voltar atrás
numa decisão já tomada. Sugere ainda que envie
Mercúrio para ajudar os portugueses (40).

12ª Parte: 41 Mavorte valeroso = Marte

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Júpiter concorda com Marte e o consílio termina com a
decisão de ajudar os portugueses. Júpiter deu por
terminado o consílio e, depois de mandar servir um belo
banquete, despediu-se dos deuses, que voltaram às suas
moradas habituais.

CONCLUSÃO DO CONSÍLIO DOS DEUSES

Importa referir que este episódio mitológico é muito importante. Repara que nele se tecem rasgados
elogios ao nosso povo. É o próprio Júpiter, pai dos deuses, quem elogia a coragem e ousadia dos portugueses.
Engrandece-se, sobretudo, as descobertas marítimas, uma vez que este consílio se realiza, exclusivamente, para
tomar uma decisão sobre o apoio a dar aos marinheiros portugueses. Os temores de Baco também concorrem
para glorificar o nosso povo, uma vez que estes mortais conseguem provocar medo e inveja a um deus.

Com a análise deste episódio, também ficamos a saber que Vénus será a grande protetora dos portugueses e
Baco uma força opositora, simbolizando todos os obstáculos e interesses estabelecidos no Oriente, que
dificultam o domínio português.

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PARTE C (Exame de 2010)

Lê as estrofes 33 e 34 do Canto I de Os Lusíadas e responde, de forma completa e bem estruturada, ao item 9.

9. Redige um texto expositivo, com um mínimo de 70 e um máximo de 100 palavras, no qual explicites o
conteúdo das estrofes 33 e 34.
O teu texto deve incluir:
• uma parte introdutória, em que identifiques o episódio a que pertencem as estrofes e as duas
personagens que, nestas estrofes, defendem posições opostas relativamente aos portugueses;
• uma parte de desenvolvimento, na qual indiques o motivo da discussão entre essas duas personagens
e três razões que suportam a posição sustentada pela personagem que defende os portugueses;
• uma parte final, em que justifiques a importância deste episódio na glorificação do herói de
Os Lusíadas.

Cenário de resposta
Identifica o episódio:
(a) «Consílio dos Deuses (no Olimpo)».
Identifica as duas personagens:
(b) Vénus e Baco.
Indica o motivo da discussão:
(c) os deuses discutem o sucesso da viagem dos portugueses.
Indica três razões que suportam a posição defendida por Vénus:
(d), (e), (f) considera os portugueses muito semelhantes aos romanos / reconhece aos portugueses enorme
coragem / vê os portugueses como um povo predestinado ao sucesso / considera a língua
portuguesa muito próxima do latim / sabe que será celebrada nos locais onde os portugueses
chegarem.
Justifica a importância do episódio na glorificação do herói:
(g) o destino do herói é de tal forma importante que obriga os deuses a reunirem-se em assembleia.

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