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Estuános do rio T ejo e do rio Sado onde se situa a maior concentração de unidades fabris romanas de preparados piscícolas no atual território Português
NÚCLEO ARQUEOLÓGICO DA RUA DOS CORREEIROS
~.
Nota Prévia
É num clima de gradual abertura entre diferentes instituições que a partir de 1990 o IPPC,
atual IPPAR passa também a desenvolver trabalhos arqueológicos de emergência na Baixa
Pombalina, dando assim resposta às crescentes solicitações, por parte de entidades públicas
e privadas, para a realização de obras de reabilitação e reconversão do interior de prédios
pombalinos, preservando-se, no entanto, a sua fachada.
É neste âmbito que se inserem os trabalhos arqueológicos iniciados em 1991 num conjunto
de edifícios adquiridos pelo Banco Comercial Português (BCP) para instalação da sucursal da
Rua Augusta. Realizaram-se três campanhas arqueológicas a última das quais fói concluída em
abril de 1995.
Por se tratar de .uma zona urbana sistematicamente ocupada, registam-se, em média, 3,50
metros de aterros e de estruturas sobrepostas desde os pavimentos dos prédios pombalinos
até ao nível freático. Dado o bom estado de conservação e feliz disposição dos muros, a sala de
exposição é testemunho da sobreposição de estruturas de diferentes períodos (pré-Pombalino,
Medieval e Romano) de onde se removeram apenas os aterros arqueológicos.
As estruturas habitacionais, industriais e até arruamentos identificados neste núcleo estão por
norma "cortados" pelos alicerces da reconstrução pombalina, dificultando e limitando muitas
vezes a sua interpretação.
De um modo geral as peças expostas caracterizam-se pela sua simplicidade. Trata-se, na sua
grande maioria, de objetos de uso doméstico e de apoio às atividades industrial e piscatória
e que acabam por ilustrar a longa permanência destas atividades na zona baixa da cidade.
A designação de "Núcleo Arqueológico da Rua dos Correeiros" para além de fazer referência
ao seu acesso, traz até nós a "memória" do sistema corporativo, com raiz medieval, de
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agrupamento dos ofícios por ruas, e onde a vertente oficinal está a desaparecer na Baixa
Pombalina.
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Áreas da cave
e da sala de exposição
na fase de obras
As intervenções arqueológicas ultimamente realizadas no núcleo histórico
de construção civil
e de reabilitação
de Lisboa permitem já vislumbrar a importância gradualmente adquirida pelo
povoado que se vai consolidando na colina do castelo até ao antigo esteiro
da Baixa, a partir do século VII a.c..
O resultado dos trabalhos arqueológicos iniciados em 1991 nos edifícios
adquiridos pelo BCP, é demonstrativo da importância e vocação industrial
e portuária atribuída à antiga zona ribeirinha na margem esquerda do braço
de rio que em épocas pré-históricas teria sido navegável em toda a sua extensão,
ou seja, por alturas do largo do Martim Moniz.
10
I I IDADE DO FERRO
Gadir (Cádiz) fundada Sinais do comércio vindo Desenvolve-se uma nova Intensifica-se o comércio
pelos fenícios do Mediterrâneo Oriental urbanização de infiuência marítimo vindo do
passam a ser registados no rio T ejo mediterrânica junto ao antigo Mediterrâneo Oriental
castro na colina do Castelo até às costas atlânticas
NÚCLEO ARQUEOLÓGICO DA RUA DOS CORREElROS
,.TlÂNTICO f ..
Áreas
de colonização
::Ioooopo
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ESTREITODEGIBRALTAR
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Roma
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1 tiA",k.., • Poceia
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"'" entre os séculos VIII a VI a.c.
•
•
Grega
Fenícia
•• # Naucratis
Zona de denrube
EGIPTO do fomo ibero-púnico
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Suporte para apoio de ânfora.
com marca de oleiro dupla
representando a estilização de um equídio
II
PERíODO PÚNICO
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~ê.'~:~~">~'~~'\,,:·~'~;~:~~~,, Fábricas de conservo de peixe
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A Casa dos Bicos
B, C R. dos Fanqueiros
D Mil/ennium bcp, R. Augusta
E Mandarim Chinês, R. Augusta
Necrópoles
Reconstituição hipotética F R. das Canastras
• G Praça da Figueira
_ do conjunto ibero-púnico H Área da R. dos Remédios, Alfama
Sagunto
do povoado pré-romano, com o seu sufixo IPO, de origem não
indo-europeia mas eventualmente tartéssica, sugere um importante
Obssippo • •• Augusta relacionamento económico com o sudoeste peninsular tanto por via
·'38a.C ~C",,··.\ 197 c
terrestre (como refere o escritor clássico Avieno), como por via marítima,
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12
PERíODO ROMANO
As estruturas desativadas
~ I Mosaico da 2." metade do séc. 11I junto à saída da cidade
~ J Criptopórtico, R. da Prata são reutilizadas em alguns
K Hipódromo romano casos como necrópoles
@ L Teatro romano
'I M Rua romana do Claustro da Sé
<) N Termas dos Cassios
'#Jt O Templo de Cibe/e
E:f' P Cais romana da R. das Canastras
~ Q Dreno
'><Q<' Esquema viário romano (seg. Vasco Mantas)
~L
Olissippo rece~c;ognome de Felicitas lulia e foi municipium civium Romanorum
categoria jurídico-administrativa com tanto prestígio quanto o de colónia o que
vem mais uma vez testemunhar a sua importância administrativa e económica
e o grau de romanização já atingido, resultado dos intensos contactos comerciais
anteriores à ocupação militar.
O período de renovação urbanística, encetada pelo imperador Augusto
Pré-existências do urbanismo e continuada posteriormente, apetrecha a cidade com vários equipamentos
romano na zona do antigo
emblemáticos dos quais foram já identificados o teatro, as termas dos Cassios,
esteiro da Baixa
o templo de Cibele, o criptopórtico da Rua da Prata e, em inícios de 1995,
o circo.
Da fase de conquista e consolidação do domínio romano no nosso território,
(2" metade do século II a.c. até à primeira metade do século I d.C.),
é identificado, no atual núcleo, parte de uma necrópole onde coexistem
Planta de os rituais de inumação e de cremação .
.rma estrutura
No prolongamento da necrópole para Sul, junto à via, destaca-se a presença
:::e combustão
de umas inéditas "estruturas de combustão" delimitadas por ânforas vinárias
organizada
com ânforas Haltern 70, cortadas deliberadamente ao nível do bojo.
ze oeradarnente
cortadas Nas duas vezes em que se regista uma certa retração no perímetro urbano,
é este local usado como necrópole. A primeira é na sequência de um movimento
de transgressão do rio a partir do século III a.C, que proporciona a acumulação
de, pelo menos, um metro de areia sobre as abandonadas instalações
ibero-púnicas. Este novo contexto é utilizado como necrópole e num segundo
momento esta zona ribeirinha é escolhida para a gradual instalação de unidades
fabris de preparados piscícolas.
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.;;>:>B. C R. dos Fonqueiros sãoreutilizadasem alguns
D Mil/ennium bcp. R. Augusta
E Mandarim Chinês, R. Augusta
K Hipódromo romono
@ L Teatro romano casoscomo necrópoles ~.;
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Necrópoles 'i' M Rua romana do Claustro da Sé
11.\(1.,!.1)1T1
seixos rolados. O pavimento seria em argila. o templo de Cibele, o cnptopo: IICOd,1 /{lI,l d,1 I'
IrllcltJ ,1 ',llo! localização na margem do esteira e ao espólio aqui recolhido, o circo.
I I111'pOI se que esta pequena área urbana esteja de alguma forma Da fase de conquista e consohdaç.io do (kl/nirllÜ
" atividade
II..1d,l(1.1111 portuária e comercial a que, em dado momento, (2a metade do século II a.C. "tl' 01PIIIIH'II,I meUl'
itividade oleira, após o sacrifício de, pelo menos, uma das casas. é identificado, no atual núcleo, parto de: lilflo! 1If'(
Plantade
os rituais de inumação e de CIem"ç;io.
1111'01 estrutura
I'JlJ ~C VdO travar entre Roma e Cartago pelo controle das rotas d, combustão No prolongamento da necrópole P,II 01 ';lIl, /111110
(')lill.'llldIS, leva à expulsão definitiva dos cartagineses da Península DI garuzada f1 de umas inéditas "esuutur ,15de coIlIIHI\I.~t)" deI!
'uIIHk, <,l' um longo período de ocupação da bacia mediterrânica pelos , om ;lnforas Haltern 70, cortadas dchbo: dcldll1C'I1!t'dO nível ri,
lr'IIIi';'loId,lInente
I (1111;11
tos, Olissippo (Lisboa), assim se designava a cidade - aglomerado
cortadas
IITlpOIIdl1te e com um porto ativo - foi ocupada em 138 a.c. por Nas duas vezes em que se legi
li!'" Il'lIlI!) 1\IUIO, governador da Hispânia Ulterior. O topónimo Olissippo é este local usado como necrópole. Â P'III" '11,1
',leio 1111'romano, com o seu sufixo IPO, de origem não de li ansgressão do rio d pdl tu cio \(\((110 11/de ,
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eventualmente tartéssica, sugere um importante de, pelo menos, um meti o de dll'ltI ~()Ili I' ,,~, .Ii),
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I cfere o escritor clássico Avieno), como por via marítima, momento l'~ltI 1011dlilJl'll'Il1h" t' c
com a região de Gades (atual Cádiz). r,II)II~ di' pr cp.u .idos prsc (col.t
NÚCLEO ARQUEOLÓGICO DA RUA DOS CORREEIROS/
.r ~:'
À esquerda "leitura"
do atenro que se sobrepõe
aos tanques e pátios
romanos a partir do
nível do pavimento
da loja que aqui existiu
Reconstituíção hipotética
do complexo industrial,
banhos e via romana
14
Séc. 11
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Levantamento do teatro
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romano de Olissippo
Segundo T Hausduld
RUA DE 5 MAMEDE
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~,o complexo fabril da Rua dos Correeiros. a área da cave corresponde
// aJ setor in~ustrial onde o peixe é cortado e salgado nos tanques. Estas unidades
produzem igualmente outros preparados altamente apreciados. tais como molhos
de peixe - gorum. Iiquomen. murio e hol/ec - usados como condimento. Na sua
I , confeção entram restos de peixe. sangue. ovas, mariscos. ostras e outros
Ib- I
I moluscos. tudo macerado em sal. de mistura com especiarias e ervas aromáticas.
A mistura é entretanto aquecida para acelerar o processo de decomposição.
O complexo fabril é construído numa praia fluvial e sobrepõe-se aos vestígios
de uma primeira ocupação ibero-púnica e parte da necrópole romana.
Dispõe-se em socalco para vencer o declive até ao braço de rio. É constituído por
quatro núcleos de tanques. perfazendo um total de vinte e cinco unidades. com
acesso através de cinco pátios. Subsiste um poço romano de planta circular. na
área ibero-púnica. alimentado pelo nível freático. Não se tem uma visão completa
do complexo fabril já que este se prolonga sob a Rua Augusta e o lado norte
do quarteirão.
O período de laboração dos centros de preparados piscícolas é particularmente
longo nos estuários do Tejo e do Sado (século I a V). como é o caso deste
complexo industrial. Verificam-se. assim. momentos de decadência. seguidos
Loiça usada na
de surtos de expansão (como aconteceu no século IV) e até alterações ao nível
:reparação de molhos
de peixe do gosto e da procura. Estes movimentos flutuantes de mercado promovem
reestruturações. restauros. adaptações e até abandono de certas áreas fabris
- fases estas que deixam "marcas" nas estruturas fabris e de serviços.
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Planta do criptopórtico
(conhecido por Termas Romanas
da Rua da Prata) reconstituída por .-I~:;;r..;-,.,';~
Augusto Vieira da Silva i: :",.~:t"+=N_.JeI-
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a partir de plantas anteriores -c:s:~i;=.Ii!Z:-cr.i:rti.
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(1934)
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