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actividade arqueológica

Escavações no
Largo Duque de Cadaval (Lisboa)
Teresa Miguel Barbosa, Tânia Manuel Casimiro,
Rodolfo Manaia, Telmo Silva e Andreia Torres

s trabalhos arqueológi- Adivisão 2 revelou paredes reves- redor de acesso a outras dependências decimento perante a ajuda prestava à

O cos desenvolvidos no
Largo Duque de Cada-
val - Rossio, em Lisboa (a Sul da Esta-
tidas a estuque branco, bastante danifi-
cado, em função de incêndio que des-
truiu o edifício. Daqui foi recolhido
a Oeste, área que a escavação não
abrangeu.
Aestratigrafia do arqueossítio re-
Coroa. Supomos ter sido por esta épo-
ca, ou nos anos imediatamente subse-
quentes, que o palácio foi edificado.
ção de Comboios do Rossio, no sopé da fragmento de coluna ornamentada a velou seis camadas. O nivelamento da Estilisticamente, a sua organização
colina de São Francisco), tiveram como branco e negro que, devido à ausência actual estrada de alcatrão (C1), que cla- obedece ao género de muitos dos palá-
objectivo o cumprimento de medidas de de bases ao nível do solo, devia per- ramente cortou as estruturas arqueo- cios edificados em Lisboa, bem como
minimização de impacto de obra, cuja tencer ao 2º piso. lógicas, uma vez que o topo dos muros no resto do país, na segunda metade de
finalidade passou pela requalificação Aquando do seu aparecimento, o estava perfeitamente afeiçoado e im- seiscentos. Na capital destacam-se di-
urbana e arquitectónica do local, através compartimento 3 foi interpretado como pregnado de brita. O nível de destruição versos exemplos, como o Palácio de Al-
da instalação de infra-estruturas de uma única sala. Contudo, com a esca- do palácio, definido por nível de incên- vor-Pombal, actualmente o Museu Na-
saneamento e águas pluviais. A inter- vação da camada 2 foi identificada, a dio com desmoronamento do telhado cional de Arte Antiga, o palácio dos
venção foi financiada pela empresa arrancar do muro Norte, parede edifi- (C3). As paredes que, com o enfraque- Condes da Calheta, onde funciona o
Teixeira Duarte Ldª, promotora da obra, cada em estuque e tijolo, cuja espessura cimento da estrutura, derrubaram num jardim-museu Agrícola Tropical, o Pa-
e coordenada por um dos signatários não ultrapassava os 0,15 m, adossada só momento (C2). Nos compartimentos lácio de Fronteira, ou os desaparecidos
(T. M. B.), contactado apenas após a posteriormente, surgindo a sala 4 e 3 e 4 pudemos distinguir um primeiro palácio dos Corte Real (VALE e MAR-
abertura de algumas valas. Os trabalhos criando duas divisões independentes. incêndio e o posterior desmoronamen- QUES 1997), Marialva (SANTOS 2006;
desenvolveram-se em Setembro e Ou- O compartimento 5 parece tratar- to do telhado (C6), caso que não se pa- MARQUES e FERNANDES 2006) ou dos
tubro de 2006, sendo intervencionada -se de via de acesso a pátio central do rece verificar nos outros compartimen- Estaus (PINTO 1995).
área com cerca de trinta metros de com- complexo. O pavimento apresentava tos. As camadas 4 e 5 revelam a existên- O local não ofereceu cerâmica em
primento por quatro metros de largura. empedrado de seixos (típico de arrua- cia de soalho em madeira (C4) e o res- abundância, mas a recolha é represen-
Foram identificados nove com- mento), organizado, com excelente pectivo nível de nivelamento (C5) no tativa do contexto e cronologia sugeri-
partimentos, que acreditamos coincidi- qualidade. A ausência de derrubes e Compartimento 2. dos. Foram identificados pouco mais de
rem com algumas das dependências do cinzas revela que se tratava de zona a Deste modo, e tendo em conta os duas dezenas de objectos, os quais
Palácio dos Duques de Cadaval, o qual, céu aberto. O material exumado neste dados que aferimos da análise estrati- podem ser atribuídos funcionalmente a
segundo informações históricas e carto- contexto era constituído, quase exclu- gráfica, podemos considerar que a des- louça de mesa e louça de cozinha. Entre
gráficas, ruiu com o terramoto de 1755. sivamente, por objectos de metal, gran- truição do Palácio Duque de Cadaval estes consideramos cerâmica comum,
O compartimento 1 ofereceu pare- de parte deles identificados como ar- não se deveu ao terramoto propriamen- cerâmica vidrada, faiança e porcelana,
des revestidas a azulejo, com motivos reios de cavalos, argolas para os pren- te dito, mas ao incêndio daí decorrente. com formas e decorações idênticas às
geométricos e vegetalistas. Apresentava der e objectos similares. Ainterpretação das estruturas exu- que têm sido recolhidas em Lisboa em
vários tipos de padrões que coincidiam O compartimento 6 apresentava madas no Largo Duque de Cadaval contextos do Terramoto (DIOGO e TRIN-
em ambas paredes, formando padroni- chão argamassado e paredes sem reves- passou pelo estudo da sua disposição. DADE 1995).
zado, em tons de amarelo e azul, ca- timento. A partir daquele acedia-se, Estamos perante diversos comparti- De entre as centenas de fragmen-
racterístico de meados do século XVII. através de três degraus em pedra de mentos de palácio, um deles podendo tos de vidro recolhidos na escavação,
No corte Este, o lambrim dos azulejos lioz, a sala de grandes dimensões, pavi- mesmo ter servido de entrada a pátio apenas cinco deles correspondem a va-
inflectia para cima, denotando a pre- mentada a tijoleira. O compartimento 8 central. O próprio topónimo sugere a silhas tipologicamente atribuídas à pri-
sença de escada, facto que nos levou a encontra-se anexo ao 7, por entrada si- habitação em Lisboa da família dos meira metade do século XVII (CUSTÓ-
considerar este compartimento como tuada a Sul daquele. Por ser de peque- duques de Cadaval, título criado em DIO 2002). O restante espólio vítreo é o
corredor de acesso a primeiro andar. nas dimensões, parece tratar-se de cor- 1640, após a Restauração, como agra- resultado da destruição das janelas.

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adenda CENTRO DE ARQUEOLOGIA DE ALMADA
electrónica 8 al-madan online adenda electrónica ISSN 0871-066X | IIª Série (15) | Dezembro 2007
primeira noticia acerca das
Fossas Escavadas na
Rocha do Casarão da Mesquita 4
(S. Manços, Évora)
Fig. 1 − Parede Norte do Compartimento 1. Susana Nunes, Mónica Corga, Lília Basílio, Maria Teresa Ferreira,
Rui Couto, Miguel Almeida e Maria João Neves
Parcas são as informações acerca Bibliografia [Dryas Arqueologia Lda. e Styx, Estudos de Antropologia Lda.]
de objectos em metal, tanto de adorno
como de construção, para contextos CLARCK, J. (2000) − The Medieval Horse
and its Equipment, c. 1150-1450. London:
modernos, em Portugal. Amaioria dos
Museum of London.
metais oferecidos pelo Largo Duque de CUSTÓDIO, J. (2002) − Real Fábrica de Vi-
Cadaval pode ser identificado com five- o âmbito do acompa- venção de Arqueologia preventiva com
las, cuja funcionalidade seria a de pren-
der os arreios dos cavalos (CLARCK
2000). A recolha, maioritariamente
dros de Coina (1719-1747). Aspectos
históricos, artísticos e arqueológicos.
Lisboa: IPPAR.
DIOGO, D. e TRINDADE, L. (1995) − “Cerâ-
micas da Época do Terramoto de 1755
N nhamento arqueológico
da empreitada de Apro-
veitamento Hidroagrícola do Monte
o objectivo de avaliar a extensão, o es-
tado de conservação e proceder à recu-
peração dos vestígios identificados em
efectuada no compartimento 5, zona Novo, promovida pela Empresa de acompanhamento arqueológico.
Provenientes de Lisboa”. In Actas das 2ªs
que julgamos ter assistido à passagem Desenvolvimento e Infra-estruturas do Sendo a atribuição cronológica
Jornadas de Cerâmica Medieval e Pós-
e permanência de muitos equídeos, -Medieval. Métodos e resultados para o Alqueva, S.A. (EDIA), foi identificada rigorosa destes contextos ainda uma
sugere aquela funcionalidade. As deze- seu estudo. Tondela: Câmara Municipal no sítio do Casarão da Mesquita 4 questão científica controversa, adoptá-
nas de pregos, dobradiças e fechaduras de Tondela, pp. 349-354. (S. Manços, Évora, Évora) a presença mos nesta intervenção um protocolo
recolhidos, considerando o seu estado MARQUES, A. e FERNANDES, L. (2006) − de fossas escavadas no substrato geo- metodológico capaz de garantir a recu-
de degradação, apenas nos permitem “Palácio dos Marqueses de Marialva. lógico do local (Fig. 1). peração individualizada do espólio
inferir acerca dos materiais utilizados na Intervenção arqueológica na Praça Luís Estruturas desta mesma tipologia arqueológico incluído em cada um dos
de Camões (Lisboa, 1999-2000)”. Patri-
edificação de tectos, portas ou mesmo têm vindo a ser reconhecidas noutros níveis de enchimento das fossas (Fig. 2).
mónio Estudos. Lisboa: IPPAR. 9: 195-206.
armários. PEREIRA (1993) − Hospital Real de Todos- sítios na mesma zona, nomeadamente Mais, para maior controlo estratigráfi-
A pouca abundância de espólio -os-Santos: séculos XV a XVIII. Lisboa: nos sítios do Casarão da Mesquita 3 (tra- co, a escavação destes preenchimentos
mostra que, ainda que não consigamos Câmara Municipal de Lisboa. balhos dirigidos por Luís Arez do Car- realizou-se sistematicamente em duas
atribuir funcionalidade específica a PINTO, M. (1995) − “Um Palácio no Rossio: mo, informação pessoal EDIA) e do metades, registando-se sempre a secção
cada um dos compartimentos, não ciclos de vida (séculos XV a XIX)”. In Monte da Cabida 3 (trabalhos de Joke estratigráfica mediana dos níveis de
devemos considerar a sua ocupação Actas das Sessões Iº Colóquio Temático Dewulf, informação EDIA). Trata-se enchimento das estruturas negativas
“O Município de Lisboa e a Dinâmica
doméstica, devido à ausência de objec- Urbana (séculos XVI-XIX)”. Lisboa:
em ambos os casos de sítios compostos escavadas.
tos do quotidiano habitacional. CMA, pp.163-175. por conjuntos de estruturas negativas,
A estratigrafia demonstrou ter si- SANTOS, Vasco (2006) − “Copa e Área de preenchidas por depósitos interestra- Implantadas num cabeço suave,
do abandonado num único momento, Serviço do Palácio dos Marqueses de tificados que contêm materiais arqueo- estas fossas, num total de 68, apresen-
aquando da sua destruição, em meados Marialva”. Património Estudos. Lisboa: lógicos diversos e, por vezes, também tavam formas, dimensões e preenchi-
do século XVIII. O espólio exumado, IPPAR. 9: 207-212. inumações humanas atribuídas a épo- mentos variados, incluindo em alguns
VALE, A. e MARQUES, J. (1997) − “Escava-
tanto construtivo como utilitário, confir- cas pré-históricas. casos elementos pétreos (alguns de
ções Arqueológicas no Largo do Corpo
ma aquela cronologia. Santo (Lisboa): estruturas do Palácio
No Casarão da Mesquita 4, uma grande dimensão), fragmentos de mate-
Os azulejos, cerâmicas, vidros e Corte-Real”. In IIº Colóquio Temático equipa da Dryas Arqueologia liderada riais cerâmicos, fragmentos de vidro,
metais podem ser atribuídos a produ- Lisboa Ribeirinha. Lisboa: Câmara Mu- pelos signatários levou a cabo, em escória, metais, fauna malacológica e
ções nacionais e orientais da primeira nicipal de Lisboa. Agosto / Setembro de 2007, uma inter- mamalógica.
metade de setecentos.

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Comp. 9 Fig. 2 − Planta da área escavada.

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