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NÚCLEO ARQUEOLÓGICO DA RUA DOS CORREEIROS

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o complexo fabril é constituído


por núcleos de tanques, áreas de pátios
e por parte dos banhos e de
compartimentos de apoio.
Não se localizaram os anmazéns,
e as fomalhas, estas de apoio
aos banhos e à fábrica
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~ N
o 12m J,

16

Séc. IV

As fábricas apresentam vestígios de obras várias


de remodelação, como alteração da capacidade
dos tanques, reconstnuções e ampliações várias

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NÚCLEO ARQUEOLÓGICO DA RUA DOS CORREElROS

Ponmenor de trança com múltiplos cabos,


seguindo-se, ao centro, uma faixa (a branco)
omamentada com diamantes denteados

A área ocupada pelas sala de exposição e do mosaico correspondem a zonas


de apoio à laboração da fábrica e seus respetivos banhos. O espaço balnear
visível é composto por uma sala pavimentada com opus tesselotum e por três
pequenas piscinas (olvei). Este conjunto deve corresponder à zona do
frigidorium (banho frio) sendo os espaços balneares constituídos, entre outras.
pela zona de coldorium (banho quente) e pelo tepidorium (banho tépido).
O mosaico é atribuível à segunda metade do século 111 e é composto por
quatro painéis com uma gama de seis cores. decorados com figuras
Fase de limpeza e geométricas e entrelaçados. de entre os quais sobressaem suásticas .
..=,solldação do mosaico
quadrados. peitas. motivos fusiformes e diamantes.
As zonas industrial e de serviços são delimitadas a sudoeste por uma via da qual
subsiste um troço na atual área de acesso aos colaboradores do Millennium bcp.
Esta via daria acesso a várias unidades fabris entre o Esteiro e a área da atual
Casa dos Bicos. passando junto ao criptopórtico (conhecido por termas da
Rua da Prata). Não é ainda clara a função desta estrutura abobadada,
sobranceira ao rio. apesar de já terem sido avançadas algumas propostas de
identificação. A mais plausível é de que se trate do forum corporativo de
Olisipo (sendo as suas galerias abobadadas usadas como reservatório de água)
com um papel importante na exportação dos preparados piscícolas .

.e"or das lajes retangulares


==.:á.,o que constituem a via romana
- c-se à esquerda o trilho das rodas

Levantamento do lado sueste


da sala do mosaico
e das três pequenas piscinas
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Sec. IV

~ fábrica já se encontra dotada de umas pequenas Uma das vias da cidade fazia a ligação
termas, onde uma sala de acesso apresenta um entre vários núcleos de preparados piscícolas
-iosaico da 2' metade do séc. III junto ao Esteiro e à margem do Tejo
NÚCLEO ARQUEOLÓGICO DA RUA DOS CORREEIROS

Os fomos que abastecem as ânforas


para vazar os preparados píscicolas
localizam-se na margem esquerda do rio T ejo,
área rica em barreiros e matas.
Os centros fabris existem nas duas margens
do estuário do T ejo

As conservas e molhos são exportados num contentar - a ânfora - devidamente


Unidades fabris de salga ou cetórias isoladas
úcleo de cetárias, Cacilhas (escavado) tamponado. No caso de Olissippo. os principais fornos que produzem o
2 Núcleo de cetárias, Porto Brandão (reconhecido) vasilhame necessário situam-se na margem esquerda do rio Tejo (Muge.
3 NÚCleo de cetárias, Casa dos Bicos (escavado) Benavente. Alcochete e Seixal). Na fase de decadência e de encerramento das
.: Complexo fabril Millennium bcp (escavado)
unidades fabris. a partir de meados do século V. as ânforas ainda em uso no
5 Núcleo de cetárias, Mandarim Chinês (escavado)
ó Cetána. Rua dos Fanqueiros (musealizada)
transporte de salga são do tipo Almagro 50 e 51 C. tendo-se recolhido alguns
úcleo de cetárias, Rua dos Fanqueiros (escavado) exemplares neste complexo fabril. Apresentam fortes semelhanças formais com
8 Cetária, Rua dos Correeiros (escavada) as ânforas produzidas no Porto dos Cacos (Alcochete) e na Quinta do Rouxinol
a Núcleo de cetárias, Cascais (escavado) (Seixal).
Fornos
Da fase de abandono registam-se áreas de derrube da cobertura sobre os pátios
~ Porto dos Cacos. Herdade de Rio Frio. Alcochete
B QUinta do Rouxinol. Corroias e no interior dos tanques. contendo estes igualmente loiça usada na fase
C Garrocheira. Benavente de laboração. Também chegaram até nós restos de salga (espinhas. escamas
D Porto Sabugueiro. Muge e vértebras) depositados no fundo dos tanques.
São vários os locais do Império Romano onde se regista a presença de ânforas
lusitanas. reveladoras de intensa atividade exportadora. como o porto de Óstia.
Marselha. Roma. Trier; Cartago.
Após a queda do Império Romano do Ocidente (476) sob o domínio Visigótico.
as relações comerciais mantêm-se ativas com as regiões da Fócia (Ásia Menor)
e da atual Tunísia. Tanto nos trabalhos arqueológicos no claustro da Sé de Lisboa.
como neste núcleo. regista-se a presença de cerâmicas atribuíveis aos séculos V
e VI. testemunho desses mesmos contactos.

QUinta do Rouxinol

Dois dos principais


locais conhecidos
de fabrico de ânforas.
no estuário do T ejo

Porto dos Cacos


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PERíODO VISIGÓTICO

Séc.v 476

IníCIOda decadência Queda do Império Romano do Ocidente.


da Indústria de preparados piscícolas Continua a atividade mercantil com as
regiões da Ásia Menor e Norte de África
NÚCLEO ARQUEOLÓGICO DA RUA DOS CORREEIROS

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Lisboa muçulmana cintada


pela cerca moura ficando
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alguns bairros extramuros f2
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tal como as necrópoles islâmicas o
(o almocavar) e as paleocristãs ~o
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Após o movimento de conquista militar da Península Ibérica, nos inícios do
século VIII,a ocupação muçulmana da cidade processa-se a partir de 714.
Lisboa mantêm papel preponderante sobre centros urbanos a ela ligados por

•• uma complexa rede de vias fluvais, As antigas vias terrestres romanas que
convergem para a cidade e para a margem esquerda do estuário do Tejo
mantêm-se ativas.
Além do ouro recolhido no Mar da Palha e nas minas de Almada,
e da produção agrícola do seu território, a abundância de peixe do rio Tejo
continua a ser a maior riqueza da cidade.
Na sequência de um forte desenvolvimento comercial a partir, nomeadamente,
do século X - assente numa maior segurança das grandes rotas marítimas com
A flor e o bolbo
têm o valor simbólico
o Oriente - a Lisboa islâmica constitui-se decididamente no maior aglomerado
de conferir aos do ocidente peninsular.
alimentos aqui A cidade portuária de Lisboa segue as tradições mediterrânicas ao
depositados a sanidade
estruturar-se de acordo com dois polos geradores principais: a alcáçova, no alto
necessária
da colina, e a cidade baixa da beira-rio.
Na alcáçova, amuralhada, ficam os paços do alcaide ou do senhor e respetiva
corte, as habitações dos funcionários e dos militares. A medina desenvolve-se até
ao rio, numa malha apertada e labiríntica, protegida pela "Cerca Moura".
Trabalho de consolidação
do mosaico vendo-se na parte inferior
o buraco aberto (silo?) no período islâmico Junto ao rio e ao que resta ainda do esteiro, concentram-se os artesãos,
pescadores e comerciantes na típica azáfama de um porto de abrigo
e da construção e reparação naval. Neste núcleo arqueológico são identificados
alguns vestígios, embora descontínuos, da intensa atividade da cidade baixa
islâmica, como por exemplo de um forno cerâmico. Estão também presentes
compartimentos pavimentados com tijoleira e várias covas abertas diretamente
nas estruturas romanas, posteriormente entulhados com espólio islâmico,
situação que igualmente se verifica no mosaico romano. São reutilizados pelo
menos três tanques de salga, após prévia compartimentação, provavelmente para
funcionarem como silos.
Mais uma vez se verifica que no período Muçulmano sãd reutilizados
equipamentos vários do período Romano, embora muitas vezes Ihes sejam
atribuídas novas funções.

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PERíODO ISLÂMICO

714 Séc IX Séc X Séc XI

Ocupação muçulmana Forte desenvolvimento A Lisboa islârmca constitui-se


da cidade comercial devido à segurança no maior aglomerado
das rotas marítimas do Ocidente Peninsular
NÚCLEO ARQUEOLÓGICO DA RUA DOS CORREEIROS

Uma das aves enquadrada


por dois "brasões" que decoram
o pichei vindo da região de Saintonge

Pormenor
da fossa medieval

Na sequência do movimento de Reconquista Cristã, iniciado a partir do Norte


da Península Ibérica, a cidade de Lisboa, bem como todo o seu território,
são conquistados aos Muçulmanos em 1147.
°
Em meados do séc. XIII, logo após termo da Reconquista Cristã do território
atualmente português, a corte passa a residir permanentemente em Lisboa.
Fronteira entre cristãos e mouros num primeiro momento, a cidade eleva-se
a capital quando, em 1255-56, D. Afonso IIItransfere para ela a sede
de chancelaria régia.
Exemplar em cerâmica comum
da fossa atribuível aos séc. XIII a XIV
e que inclui um pichei (vasilha antiga
para onde se tira o vinho das pipas)

A "Cerca Moura" já não oferece


condições de defesa
aos novos bainros da zona baixa
da cidade nos séc. XIII e XIV,
dado o enorme surto
de expansão da cidade
'Planta de Tinoco 1650)

»>

• Núcleo Arqueológico
da Rua dos Conreeiros

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PERíODO MEDIEVAL

1147 Séc. XIII

Reconquista Cristã da cidade Lisboa é elevada a capital.


A corte passa a residir na cidade
NÚCLEO ARQUEOLÓGICO DA RUA DOS CORREEIROS

A "Cerca Femandina" constnuída na segunda


metade do séc. XIV, não é mais que uma estnutura
emblemática em inícios do séc. XVI,
ultrapassada pelos novos bairros
e constnuções ribeirinhas
sobre os novos aterros,
(Gravura de G. Beaumo, 1593)

Mosteiro de S, Vicente de Fora


constnuído na segunda metade
do séc. XII e ampliado, em finais
do séc. XVI - inícios do séc. XVII

Fixados os limites fronteiriços e beneficiando do estatuto de capital, estão


a partir de agora abertos os caminhos para que Lisboa desempenhe um
importante papel de entre posto comercial entre as regiões da Europa Atlântica
- necessitada de sal, azeite e vinho - e os portos do Ocidente Mediterrânico,
~o de S, Domingos D, Dinis (1279/1325) incentiva este desenvolvimento económico e administrativo
.nto ao qual vai ser da cidade ao construir o Paço Real da Alcáçova no castelo, ao abrir a Rua Nova
:::0 o grande hospital
dos Mercadores, promovendo a construção de novos cais e de uma segunda
:::e T odos-os- Santos
er'l finais do séc. XV
muralha para proteção da zona Baixa e ainda pelo estabelecimento de acordos
comerciais com outros países,
Como resultado desta forte pressão urbanística e por razões naturais
de salubridade, vai dar-se a ocupação dos últimos vestígios do antigo braço de
rio, agora simples caneiro, transposto por uma ponte - a da Galonha -, situada
por alturas do cruzamento da atual Rua do Ouro com a Rua da Conceição,

Na segunda metade do século XIV, a expansão urbana da cidade já é uma


---;"ento de S, Francisco, realidade nos seus territórios a Norte (Rossio), a Ocidente (o Carmo
_-,a das maiores casas e a Trindade), bem como a Oriente (Santa Clara/Graça), para o que também
religiosas da cidade
contribuiu a instalação de vários mosteiros na periferia urbana, Lisboa passa
de dez paróquias, em finais do século XIII, para vinte e três um século depois,
Entre 1373 - 1376 constroi-se a muralha, conhecida por "Cerca Fernandina", que
integra não só os novos bairros, mas também os bairros de Alfama e Mouraria,
os mosteiros, conventos e suas cercas, áreas livres e ainda hortas e pomares,
A área urbana agora definida e os equipamentos que a apetrecham permitem
que Lisboa emparceire com outras importantes cidades da Europa,
tornando-se assim a grande impulsionadora da expansão quinhentista como
resultado de uma convergência de conhecimentos tecnológicos e de valores
culturais entre o Norte Atlântico e o Sul Mediterrânico,

O comerciante de Augsburg [akob 11


(1459-1525), banqueiro do imperador Carlos V,
e o seu contabilista Matthaus Schwarz no escritório
Desenho. cerca de 518
21

1279-1325 Séc. XIV 1373-76

Grande desenvolvimento económico Novos bairros a Norte Constnução da Cerca Femandina


e administrativo com o rei D, Dinis, e na zona ribeirinha para defesa da nova área urlbana
Constnução do Paço Real na alcáçova
do Castelo
Continuando este movimento de remodelação urbana, a zona baixa procura,
Entre a Colina
do Canrno e Trindade a partir da segunda metade do século XV, dar resposta ao intenso comércio
e a do Castelo resultante da Expansão. O caneiro da Baixa é coberto e dá origem à Rua Nova
fica a zona baixa, do Cano, coincidente "grosso modo" com a parte inferior da atual Rua do Ouro.
novo centro administrativo
Os aterros sobre a margem do Tejo vão incrementar-se, dando origem a novas
e económico a partir
do séc. XVI
áreas residenciais e comerciais e à instalação de equipamentos e serviços vários.
Pormenores da Panorâmica de Lisboa D. Manuel I, ao edificar o seu palácio na nova área conquistada ao rio, tendo
da Biblioteca de Leyde séc. XVI
anexa a "Casa da lndia", promove a deslocação do centro administrativo
e económico da colina do castelo para a Baixa.
Anruamentos A tranferência da "Casa da índia" para junto do palácio real evidencia o controlo
anteriores a 1755 sobre direto que o rei exerce sobre a atividade mercantil, intensamente desenvolvida
os quais é edificado
pela abertura do mercado Oriental, após a chegada em maio de 1498, da
o quarteirão pombalino
onde se situa expedição comandada por Vasco da Gama a Calecute, na costa ocidental indiana.
o núcleo arqueológico
A instalação de novos estaleiros na área ocidental da cidade, o povoamento
das colinas das Chagas e de Santa Catarina, a instalação de novos conventos,
quintas e palácios de veraneio, promovem, a partir do século XVI,
o desenvolvimento da cidade ao longo do rio, marca urbana ainda hoje
bem patente.
Em meados do século XVI vivem aqui cerca de 100000 habitantes, entre
os quais à volta de 10 000 são escravos negros e mercadores estrangeiros
ou feitores das grandes casas mercantis e bancárias europeias.
O espaço urbano de modelo radial que vigora na Baixa a partir do século XIII
Zona ribeirinha e portuária,
(modelo associado à época medieval cristã), tem por centro a igreja, donde
salientando-se o grande número
de embarcações irradiam várias artérias. Os novos aterros sobre o Tejo permitem um certo
ordenamento racional e as duas vias principais - Rua Nova e Rua dos Ourives
do Ouro - apresentam-se largas e ortogonais entre si, o que é próprio
de um urbanismo planeado.
O quarteirão pombalino onde se integra o núcleo arqueológico encontra-se
sobre parte da malha urbana medieval da freguesia de S. Julião, tendo-se
identificado dois troços da Rua dos Carapaceiros e da Rua do Chancudo,
ruas que subsistiram até ao Terramoto de 1755.

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Séc. XV 1498 Séc. XVI

Os Descobrimentos Marítimos e o comércio A expedição comandada D. Manuel I constrói o seu palácio


daí resultante leva a que se proceda a novos por Vasco da Gama chega a nos novos atenros dando origem
atenros do Esteiro e da margem do T ejo para Calecute, na costa ocidental ao T e nreiro do Paço - novo centro
novas nuas e equipamentos portuários indiana administrativo e económico

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