Você está na página 1de 6

CONTRIBUIÇÃO PARA O ESTUDO DO TROÇO BALAMA-

,
-MONTEPUEZ (MOÇAMBIQUE) DO CINTURAO OROGENICO
-
DO LÚRIO (<<LÚRIO BELT»)
por

RUI S. AFONSO *

RESUMO
o presente trabalho descreve as formações geológicas de área típica do Cinturão do Lúrio, uma das subprovíncias tectónicas
do «Mozambique Belt». Tenta-se correlacionar as diferentes unidades litostratigráficas cartografadas com as unidades que caracterizam
as quatro fases do <<Lúrio Belt», a saber: 1"-metavulcânica, 1335:1: 60 m. a.; 2"-chafnoquítica à volta de 1000 m.a.; 3a -855:1: 38 m. a.;
4 a - fase de migmatização cuja idade é próxima de 700 m. a.

ABSTRACT
This note reports the typical area of Lúrio Belt, one of the tectonic subprovince of Mozambique Belt. Several lithostra-
tigraphic units are mapped and correlated with four phases ofLúrio Belt, such as: l.st -1335:1:60 m. y. ;2.nd-looo m. y.; 3.rd-855 :1:38
m.y.; 4.th-7oom.y.

1- CONSIDERAÇÕES GERAIS Segue-se a sucessão geológica da área, de baixo


para cima:
A área estudada compreendida entre os meri-
dianos 38° 30' e 39° E e os paralelos 13° e 13° 30' S, 1. Série de rochas verdes, com intercalações de
fica situada a norte de Moçambique (fig. 1) e equi- metassedimentos;
vale a uma superfície de cerca de 3 000 km~. Abrange 2. Dobramentos com eixos E-O e metamor-
parte do concelho de Balama e de Morola e ainda fismo;
parte do distrito de Montepuez cuja capital fica 3. Série calco magnesiana : gnaisse piroxénico
no extremo NE da área. com intercalações de calcário e quartzito;
A cartografia geológica desta área foi efectuada 4. Série grafitosa;
em 1973 através da fotointerpretação e trabalhos de 5. Série granulítica;
campo na escala 1/50000 e reduzida para a escala 6. Série charnoquítica: gnaisse enderbítico e
da carta (fig. 2). gnaisse charnoquítico;
A região cartografada comporta unidades geo- 7. Dobramento NE-SO e metamorfismo;
lógicas do Cinturão do Lúrio (<<Lúrio Belt»). Este 8. Gnaisse pegmatóide;
representa uma subprovíncia do «Mozambique Belt», 9. Intrusão de granito porfiróide;
cinturão móvel (<<mobile belt») contendo rochas do 10. Gnaisse migmatítico;
soco, nomeadamente as do Bulavaiano, Eburniano e 11. Dobramento E-O e metamorfismo;
Quibariano. 12. Instalação do Complexo anortosítico;
A finalidade deste trabalho é tentar enquadrar as 13. Dobramento NE-SO e falhamento N-S;
unidades litostratigráficas a seguir referidas nas 14. Intrusão de diques de piroxenitos e de an-
diferentes fases do Cinturão Orogénico do Lúrio, fibolitos.
tomando em consideração os trabalhos efectuados
pelos geólogos estrangeiros nos países vizinhos e
pelos geólogos portugueses que trabalharam em
Moçambique, nomeadamente J. ARAÚJO (1976) e • Laboratório de Estudos Petrológicos e Paleontológicos
R. AFONSO (1976). do Ultramar.

287
o otil
.~ til
~
~
O
~
:~
O O
til
CD
:g '0 C'
~
.~ ·st O
~
~ 1ií '" -5
-O til

'...CD" ...~O
"::.,.... O
~ .~ -O
'" ~ E! '1:1 1l!
O til
~$
~A -B ~
1~ -8
.rQ '1:1
~d
~ CS
.B.8;;
.S
'1:1
·1 A d
CD
O

~
!l
til
.= A
til
O
,.
-
!~
CD <IS ClO
~=
~ O
til CD
ri:> .8 CD
~
CD

'"'"
~ Eh Eh ]<> ~ ":g ri:>
CD
ri:>
til
<IS

~ 'a01 ·ãd ..g ·ã '5 '"


><.c ... ri:>
.; .; ·ã .2 .2 ~ .c
OCl:l o .~ ... ::s od '"
::s := d o <a
ii: ~ ~ Cl Cl Çs 8 8
Q
Cl
'CD
til
~
til ã Cl CI UCI ~ o ~ ~ "d
-.>
-<
(.:1
($
~
-t

7:
t';il
ow ~

.+
t·[] --
§J
:::\ O~ ~.
... ,
"
'
"
"
,

~
ln
I.I-l

289
19
I. 1.-SÉRIE DE ROCHAS VERDES eixos orientados na direcção prOXlma de E-O. Os
eixos das dobras estão arqueados devido à intrusão
Deve tratar-se de fácies eugeossinclinal com preen- do granito. Além destas dobras megascópicas, obser-
chimentos de rochas vulcânicas básicas e ultrabásicas vam-se também outras, à escala microscópica o que
bastante dobradas e com intercalações de sedimentos denota esforços dinâmicos secundários.
do tipo «flysch» e molasso.
As rochas vulcânicas são geralmente esverdeadas, I. 1. 4. - Calcádos
com tons variando de verde escuro a cinzento esver-
deado. Por esta· razão designou-se a série pelo nome Os calcários encontram-se com pouca frequência.
de rochas verdes. Ocorrem sob forma de lentÍculas com espessuras de
A sequência litológica da série é a que se segue cerca de 10 m, não representáveis à escala da carta.
de baixo para cima: São intercalados por finos horizontes de quartzitos.
1. Rochas verdes; Trata-se de calcário de grão fino, muito impuro,
2. Gnaisse anfibólico e biotítico; com actinolite, clorite e minerais ferruginosos.
3. Filitos; As bancadas têm direcção de cerca de N 60 0 E,
4. Calcários metamórficos; com inclinação para sudeste.
5. Quartzitos;
6. Conglomerados.
I. 1. 5. - Quartzitos ferruginosos
I. 1.1- Rochas verdes Os quartzitos ocorrem em estreitas bandas inter-
As rochas verdes são antigas lavas básicas e caladas nas rochas verdes. Observaram-se dois tipos:
ultrabásicas do fundo do eugeossinclinal. Estas lavas quartzitos castanhos e quartzitos claros.
estão representadas na área por anfibolitos feldspa- Os quartzitos castanhos são ricos em material
tizados e xistos verdes. Estes são cloríticos e actino- ferruginoso; nos de tons mais escuros há presença de
líticos. minerais de manganês. A espessura é de ordem de
As rochas verdes constituem uma unidade funda- dezena de metros.
mental e predominante. Ocupa a base da série e Os quartzitos claros são pobres em minerais
estima-se que a espessura seja superior a 3 000 m. ferruginosos e ocorrem em delgadas lentículas.
No que diz respeito à estrutura, as rochas verdes
apresentam dobramentos com eixos próximos de I. 1. 6. - Conglomerados
E-O, com flancos quase verticais com vergência para
norte. As dobras são muito apertadas e arqueadas,
.
Os conglomerados apresentam-se em estreita
possivelmente devido às intrusões graníticas que cor- faixa com a direcção ENE-OSO, ao norte do monte
tam e marginam a mancha das rochas em questão. Curri.
O metamorfismo que caracteriza as rochas verdes São formados por calhaus achatados e elípticos,
é o de fácies de «greenchist». Este evoluiu para o grau com o eixo maior orientado na mesma direcção da
mais alto, em vários locais, devido à instalação dos bancada. Os calhaus são geralmente de gnaisse quar-
granitos e piroxenitos. zítico e estão ligados por matriz de quartzo fino,
sericite, biotite, calcite e material ferruginoso.
I. 1. 2. - Gnaisse anfibólico e biotítico
Este gnaisse é leucocrático a leucomesocrático I. 2. - SÉRIE CALCOMAGNESIANA
com pequena percentagem de máficos. Estes são a
hornblenda e a biotite em quantidades variáveis. Dos A série calco magnesiana estende-se desde o
félsicos destaca-se o quartzo, às vezes em formas monte Curri até Montepuez, com direcção predomi-
corroídas, a microclina, a ortose, a plagioclase nante NE-SO. É essencialmente constituída por cal-
(An36 %) e a moscovite. cário cristalino, gnaisse piroxénico e quartzito. A
No que diz respeito à textura, as rochas são sucessão destas unidades litológicas é como a seguir
granoblásticas e, às vezes, porfiroblásticas. se indica, de baixo para cima:
Os referidos gnaisses ocorrem em bandas arquea-
das, intercaladas nas rochas verdes, com foliação - Quartzitos;
paralela à rocha encaixante. - Gnaisse piroxénico;
- Calcário cristalino.
I. 1. 3. - Filitos
1.2.1. - Quartzitos
Dos filitos fazem parte xistos negros ardosíferos,
xistos negros com impregnações de grafite, xistos Os quartzitos, no que diz respeito ao grão e à
argilo-ferruginosos levemente micáceos e xistos lu- composição, apresentam diversos tipos de facies.
zentes com grafite. São de grão fino e bandeados na parte sudoeste da
Ao microscópio, os filitos revelam textura lepi- série e grosseiros na parte nordeste. As cores variam
doblástica com o quartzo alongado e recristalizado, desde branco sacaróide a cinzento. São feldspatiza-
muito abundante, intercalado por sericite, também dos com transição para gnaisse quartzítico.
em grande quantidade. f\.S vezes, nota-se segunda Intercalados nos quartzitos encontram-se lentí-
geração de micas cortando a lineação principal. Dos culas de micaxisto microdobrado com mica branca
opacos há que destacar a grafite e material ferrugi- e xistos felspatizados.
noso. Os xistos situados no contacto com o granito Na composição dos quartzitos além do quartzo,
porfiróide apresentam quiastolite. observa-se, acessoriamente, feldspato, diópsido, óxi-
Os filitos formam dobras muito apertadas, com dos de ferro, grafite e fucsite.

290
1.2.2. - Gnaisse piroxénico A litologia desta série consta essencialmente de
granulitos com intercalações de gnaisse com sili-
O gnaisse piroxénico exibe duas fácies: ~ma, de manite, gnaisse quartzo-feldspático e gnaisse porfi-
grão fino e rica de quartzo, outra, de grao gros- roblástico com biotite.
seiro, rica de feldspato. O estudo microscópico dos granulitos revela
O aspecto do gnaisse piroxénico é castanho em textura granoblástica com quartzo, às vezes com
amostra de mão e produz solos avermelhado~ quand~ inclusões de rútilo, pertite, plagioclase ácida, gra-
da alteração. Episodicamente ocorrem gnaIsses leI- nadas, silimanite e traços de biotite.
tosos de grão fino com veios anastomosados de . Intercalada na série granulítica observam-se cu-
piroxena verde alface, como acontece no extremo nhas de gnaisse com diópsido, quartzito e filões de
sudoeste da mancha. piroxenito.
Ao microscópio, o gnaisse piroxénico revela tex- A série em questão exibe um dobramento com
tura granoblástica com vestígios de cizalhamento. eixos arqueados com grande raio de curvatura,
É essencialmente constituído por quartzo fracturado, com a convexidade voltada para noroeste. As dobras
por microclina e por ortose. Acessoriamente contêm são reviradas, com direcção predominante NE-SO,
clinopiroxena diopsídica com estrutura «schiller», com vergência para noroeste. Os flancos das dobras
actinolite, escapolite, moscovite, epídoto e óxidos inclinam de cerca de 60 a 70°,
de ferro.
1.2.3. - Calcário cristalino I. S. - SÉRIE CHARNOQUÍTICA
O calcário cristalino forma faixas intercaladas A faixa da série charnoquítica ocupa grande
nos gnaisses piroxénicos. Destas faixas, a mais parte da área situada a noroeste da carta, com direc-
importante é a de Montepuez, com espessura de ção próxima de NO-SE e distingue-se da litologia
centena de metros. vizinha por apresentar solos avermelhados. Os aflo-
As bancadas de calcários não são uniformes. ramentos são pouco frequentes e só se encontram
Observam-se bancadas de calcário cinzento fétido no leito dos rios. As características principais em
alternantes com as do tipo sacaróide. De quando em amostra de mão são a gnaissosidade bem marcada,
quando detectam-se calcários cor de rosa, azul e cor castanha com diversos tons e brilho ceroso.
amarelo. No que diz respeito à composição, cartografa-
Vários tipos de intercalações lenticulares obser- ram-se dois tipos:
vam-se nos calcários. Destacam-se xisto clorítico e - Gnaisse enderbítico,
sericítico, quartzito fino sacaróide e mafitos ricos - Gnai~se charnoquítico.
em diópsido e actinolite.
No que diz respeito à estrutura, os calcários for- 1.5.1. - Gnaisse enderbítico
mam pequeno anticlinório na região de Montepuez.
Noutros locais, formam dobras monoclinais, como O gnaisse enderbítico (TILLEY, 1936) é a rocha
acontece na região de Balama. predominante da série e serve de fundo ao gnaisse
charnoquítico. Trata-se de gnaisse mesocrático a
1.3. - SÉRIE GRAFITOSA melanocrático com cor azul esverdeada quando são
e acastanhada quando alterado.
A série grafitosa distribui-se numa faixa orien- Ao microscópico, o gnaisse enderbítico revela
tada na direcção NE-SO, encaixada em gnaisse textura granoblástica com: plagioclase cuja composi-
pegmatóide. ção varia de An 30 % a An 40 %, hiperstena, às
É caracterizada essencialmente por: xisto quartzí- vezes em vias de alteração, mirmequite, clinopiro-
tico, quartzito, micaxisto e gnaisse, todos eles ricos xena opacos com estrutura em corona, biotite,
em grafite e fucsite. Intercalados na série observam-se: anfíbola sódica e apatite. Nos tipos mais ácidos apa-
diopsiditos esbranquiçados a esverdeados, leptinitos, rece o quartzo com agulhas de rútilo e microclina-
aplitos e pegmatitos com mica branca. -pertite.
Um corte perpendicular à orientação da série, no No que diz respeito à origem, o gnaisse enderbí-
sentido da inclinação, a SO do monte Pomue, denota tico estará possivelmente ligado às rochas eruptivas
a seguinte litologia, de baixo para cima: da família dos dioritos, como se depreende da sua
- Gnaisse grafitoso; composição.
- Leptinito com grafite, pirite e com óxidos de
manganês; 1.5.2. - Gnaisse chamoquitico
- Quartzito xistificado com grafite;
- Xisto quartzítico com grafite e fucsite. O gnaisse charnoquítico forma faixas intercaladas
No que diz respeito à estrutura, a série grafitosa no gnaisse enderbítico; Difere deste por ser leuco-
apresenta dobramento monoclinal arqueado com a crático e leucomesocrático e ainda por exibir porfi-
direcção N 35° E na parte NE e N 45° E na parte SOo roblastos de feldspato. Estes, em alguns afloramentos,
A inclinação do flanco é próxima de 60° para no- atingem dimensões de 4 cm no sentido do compri-
roeste. mento e 2 cm de largura. Intercalados neste gnaisse
porfiroblástico observam-se lentes de gnaisse sem
1.4. - SÉRIE GRANULITICA porfiroblastos. .
A composição do gnaisse charnoquítico é a
A série granulítica ocorre sob a forma de: seguinte: quartzo, mirmequite, microclina-pertite,
- Delgadas bandas contornando a série calco- plagioclase ácida, hiperstena, clinopiroxena, apatite
magnesiana; e minerais opacos. A hiperstena desaparece nos
- Faixas com espessuras de centenas de metros exemplares que apresentam textura de cizalhamento.
intercaladas nos enderbitos; Em sua substituição aparece biotite, quartzo e gra-
- Cunhas nos gnaisses pegmatóides. nada.

291
1.5.3. - Estrutura confere à rocha original umas vezes aspecto ban-
deado, outras, aspecto difuso.
Os charnoquitos apresentam dois tipos de dobra- Mineralogicamente é constituído por quartzo,
mento: um com orientação geral NE-SO com dobras microclina, biotite, apatite, esfena e alanite.
muito apertadas, quase verticais e com vergência Quanto à estrutura, o gnaisse migmatítico apre-
para noroeste e outro com orientação próximo de senta dobramento com eixos orientados na direcção
N-S, originando dobras falhas, como acontece na E-O. As dobras fecham-se em cunha do lado oeste,
parte noroeste das faixas da série charnoquítica. de encontro às formações da série calco magnesiana.

1.6. - GNAISSE PEGMATÓIDE


1.9. - COMPLEXO GABRO-ANORTOSÍTICO
O gnaisse pegmatóide distribui-se em faixas
orientadas na direcção predominante NE-SO. Ocorre O complexo gabro-anortosítico situa-se no canto
em bancadas concordantes com as séries encaixan- noroeste da carta, alongado no sentido NE-SO e
tes. Estas são a série granulítica e a série calco ma- ocupa superfície de cerca de 270 km2 • Este complexo
gnesiana. prolonga-se para noroeste, fora da área estudada.
Trata-se de rochas grosseiras, laminadas e leu- É constituído por gabros, anortositos, dioritos,
cocráticas. Às vezes, são mascaradas por óxidos cas- piroxenitos e anfibolitos. Episodicamente observam-
tanhos de ferro, nomeadamente no tecto e muro. -se encraves de calcário cristalino.
Ao microscópio, o gnaisse pegmatóide apre- O complexo é discordante com a rocha regional
senta quartzo em bandas, microclina com inter- encaixante de natureza charnoquítica. Esta é cor-
crescimentos de quartzo e ainda sericite. tada por numerosos filões satélites, da mesma natu-
O gnaisse pegmatóide exibe um dobramento reza do complexo. Muitos destes filões apresentam
monoclinal com o eixo na direcção próxima de NE- efeitos de cisalhamento. A instalação do complexo
-SO e inclinando de cerca 40° a 60° para noroeste. parece estar estruturalmente controlada por sistema
de falhamento de direcção N-S e E-O.
1.7. - GRANITO PORFIRÓIDE
1.9.1. - Gabros e dioritos
1.7.1. - Tipos de ocorrência
A jusante do rio Palavala, no canto noroeste da
O granito porfiróide ocorre sob a forma de lacó- carta, situa-se uma mancha constituída por gabros e
lito, facólito e lopólito. dioritos. Trata-se de rochas mesocráticas a mela no-
O lacólito situa-se no extremo sul da área carto- crátiéas orientadas na direcção N 85° E. Os planos
grafada e é responsável pela elevação denominada de gnaissosidade mergulham de cerca de 70° para
monte Curri. Apresenta estrutura periclinal em doma. norte.
Esta intrusão deflectiu as formações encaixantes de Intercalados ou cortando as rochas em questão,
rochas verdes cuja acomodação deu origem às dobras aparecem filões de dolerito, de microgranito e de
apertadas com os eixos arqueados. piroxenitos.
O facólito situa-se a norte do monte Curri e está Ao microscópio, os gabros e os dioritos revelam
instalado em forma de cela na charneira do anticlinal composição essencialmente formada por plagio-
das rochas da série calco magnesiana. clases arqueadas (cuja composição varia de 32 a 50 %
Finalmente, o lopólito situa-se na parte sudeste de anortite) e por piroxenas. Estas são do tipo clino
da área, ocupando superfície de cerca de 170 km 2 • e ortopiroxenas em quantidades variáveis. Além
A intrusão provocou a deflecção das rochas da série destas, acessoriamente, observam-se biotite, apatite,
verde. esfena e opacos. Nos exemplares de composição
mais ácida detecta-se quartzo. .
1.7.2. - Composição A presença de hiperstena em maior ou igual
quantidade em relação a clinopiroxena leva-nos a
O granito pOlfiróide é leucocrático a leucomeso- classificar os gabros em noritos e hiperitos.
crático com estrutura gnaissóide na bordadura e No que diz respeito à composição de plagioclases,
maciça no centro. a percentagem de anortite relativamente baixa, em
Ao microscópio apresenta textura porfiroblástica. relação à composição normal dos gabros, deve-se
Os porfiroblastos são de microclina e de ortose atin- atribuir ao metamorfismo retrógrado e ao de tipo
gindo dimensões máximas de 5 cm de compri- dinâmico. O efeito deste último metamorfismo está
mento e 2 cm de largura. A mesóstase é hipidiomór- patenteado no terreno, por brechas de falha, rochas
fica constituída por quartzo, microclina, biotite, pla- estiradas e milonitos.
gioclase, moscovite e opacos.
1.9.2. - Anortositos
1.7.3. - Filões
Trata-se de rochas esbranquiçadas de grão gros-
O granito porfiróide é cortado por filões de micro- seiro, apresentando, em certos lugares, fácies pegma-
granito com a composição da rocha hospedeira, por títica, com cristais de feldspato atingindo o compri-
aplito-pegmatitos, por lamprófiros e por filões de mento de 10 cm. Têm aspecto maciço no centro da
quartzo. mancha e ligeiramente orientado na bordadura da
mesma.
1.8. - GNAISSE MIGMATÍTICO Na parte sul da mancha dos anortositos encon-
tram-se encraves de calcário e brechas carbonatíti-
O gnaisse migmatítico distribui-se a sul de Mon- caso Estas são formadas por fragmentos de plagio-
tepuez. Trata-se de gnaisse leucocrático e leucomeso- clase e microclina envolvidos por matriz calcítica e
crático, invadido por trama félsica. Esta invasão limonítica.

292
Os anortositos são formados, essencialmente, por 800 m. a., baseada na interpretação de valores obti-
plagioclases com a composição média de 50 % An. dos pelo método de RbjSr (ARAÚJO, 1976).
Acessoriamente têm hiperstena, clinopiroxena, apa- - Finalmente, o Complexo gabro-anortosítico
tite, espinela verde, calcite, anfíbola secundária e do Popue tem semelhanças, no que diz respeito à
opacos. instalação, à litologia e ao metamorfismo, com o
Efeitos de metamorfismo dinâmico estão impres- Complexo gabro-anortosítico de Tete, embora não
sos nas plagioclases que se mostran arqueadas. atinja as dimensões deste.

1.9.3. - Piroxenitos e anfibolitos AGRADECIMENTOS

São numerosos os filões de piroxenitos e de anfi- O autor agradece aos geólogos G. Jourde, J. Trottreau e J.
Wolf pela valiosa crítica feita ao relatório preliminar de 1972 do
bolitos cuja granularidade é média a grosseira. qual resultou o presente trabalho. Fica também grato ao colector
Cortam o Complexo gabro-anortosítico e as rochas A. Meneses pela inestimável ajuda em trabalhos de campo.
circundantes em duas direcções predominantes:
N 80° E eN-S. BIBLIOGRAFIA
Os piroxenitos são constituídos quase exclusi-
vamente por clinopiroxenas. Em pequenas quanti- AFONSO, R. S. (1976) - A geologia de Moçambique - Notícia
dades observam-se plagioclase (An 44 %), apatite, explicativa da Carta Geológica de Moçambique, 1/2000000.
anfíbola secundária e opacos. Alguns piroxenitos Direc. Servo Geol. Minas Moçambique, Maputo.
- (1976a) - Contribuição para o conhecimento da tectónica de
apresentam segregações de ilmenite. Moçambique - Notícia explicativa da Carta Tectónica de
Os anfibolitos são formados essencialmente por Moçambique, 1/2000 000. Direc. Servo Geol. Minas Moçam-
hornblenda. Em quantidades menores, encontram-se bique, Maputo.
associados, também, plagioclase básica e opacos. ARAúJO, J. R. (1976) - Mozambique Belt: uma interpretação geo-
cronológica. Memórias e Notícias, Pub. Mus. Lab. Min.
GeoI. Univ. Coimbra, n.O 81, pp. 86-102.
CUFFORD, N. T. (1968) - Radiometric dating and pre-Silurian
II. - CONCLUSÕES geology of Mrica - Radiometric dating for geologist.
Hamilton & Farquhar, London.
A cartografia das unidades litostratigráficas do - (1970) - The Structural Framework of Mrica. ln Mrican mag-
matism and tectonics. Oliver & Boyd, Edinburg.
troço Balama-Montepuez do Cinturão do Lúrio COELHO, A. V. P. (1969) - O Complexo gabro-anortosítico de
permitiu-nos correlacionar as referidas unidades com Tete. Boi. Servo Geol. Minas, Lourenço-Marques, n.O 35.
as unidades litostratigráficas vizinhas, cujas idades HARLAND, W. B. (1968) - On the principIe of a date Precambrian
absolutas são conhecidas, e enquadrá-las nas quatro Stratigraphical Standard Scale. 23th lnt. Geol. Cong., Praga,
sect. 4"pp. 253-265.
fases do Cinturão do Lúrio. Eis as correlações: HEpWORTH, V. V. (1964) - The charnoquites of Southern West
a) A série de rochas verdes e a série calcomagne- Nile, Uganda, and their paragenesis. 22th lnt. Geol. Cong.,
siana assemelham-se, pela litologia, estilo de defor- New Delhi, sect. XIII-i3, pp. 169-184.
GIRAUP, P. (1964) - Les roches à caracter charnoquitique de la
mação e tipo de metamorfismo, aos metavulcanitos Série d'un Ouzzal en Ahagar (Sabara Central). Essai de
e aos gnaisses plagioclásicos do Grupo de Nampula de nomencIature des séries charnoquitiques. 22th ln!. Geol.
cuja idade é de 1335 + 60 m. a. (Quad. I-A, AFONSO, Cong., New Delhi, sect. Xli, pp. 1-22.
1976). Esta idade corresponde ao evento termotec- JOURDE, G. & WOLF, J. P. (1974) - Contribuição para o conheci-
mento da geologia da área da Foz do Lúrio. Rei. lned.
tónico da Fase 1 da Orogenia do Lúrio. Servo Geol. Minas, Lourenço-Marques.
b) As séries granulítica e charnoquítica correla- MACDONALD, R. (1964) - Charnoquites in the West Nile Distrit
cionam-se com os granulitos e charnoquitos da of Uganda. A systematic study in Groves type area. 22th
região Entre Rios-Chire, datados de 970 ± 30 m. a. lnt. Geol. Cong., New Delhi, sect. XIII, pp. 227-249.
OBERHOLZER, W. F. (1968) - A geologia da mancha de Manica.
Este evento corresponde à Fase 2 da mesma orogenia. Rel.lned. Servo Geol. Minas, Lourenço-Marques, n.O 462.
c) O gnaisse pegmatóide e o granito porfiróide OBERHOLZER, W. F. & AFONSO, R. S. (1976) - Carta Tectónica de
são rochas pouco afectadas pela anatexia e asseme- Moçambique, 1/2 000 000. Servo Geol. Minas, Maputo.
PINA MENDES, F. (1975) - O Cinturão de Moçambique (Grupo
lham-se aos gnaisses granitóides da área do lago Orógeno Barueides). Lourenço-Marques.
Chiuta cuja idade é de 855 + 38 m. a. Esta cronolo- RAVICH, M. G. (1968) - Regional metamorphism and uItrameta-
gia corresponde à Fase 3. morphism of cristaline-Basement of the Antartic and
d) O gnaisse migmatítico corresponde ao episó- other Gondwan Platform. 23 th lnt. Geol. Cong., Praga,
sect. XIII-4, pp. 203-214.
dio termo tectónico da Fase 4 da migmatização e de SEDERHOLM, J. J. (1967) - Granites and Migmatites. Oliver &
anatexia, cuja idade é de cerca de 700 m. a. Podem-se Boyd, London.
correlacionar os referidos gnaisses com os gnaisses SIMPSON, E. S. W. (1970) - The anorthosite of Southern Angola.
migmatíticos da região de Chiure cuja idade é 710 ± ln Mrican magmatism and tectonics. Oliver & Boyd, Edin-
±47 m. a. burgo
TILLEY, C. E. (1936) - Enderbite, a new member of the char-
Para as restantes unidades litostratigráficas, tais nockite series. Geol. Mag., London, voI. 73, pp. 312-316.
como, a série grafitosa e o Complexo gabro-anorto- VAIL, J. R. (1965) - EstrutUra e geocronologia da parte orien aI
sítico, propomos a seguinte interpretação: da África central, com referência a Moçambique. Boi. Serv.
Geol. Min., Lourenço-Marques, n.O 33.
- A série xistosa, onde estão englobados os xis- VIUOEN, M. J. & VIUOEN, R. P. (1969) - Archaen vulcanicity and
tos, micaxistos e os quartzitos com grafite, da faixa continental evolution in the Barbeton region, Transval. ln
Montepuez-Balama, envolvida orogenicamente com African magmatism and tectonism. Clifford & Gass, Edin-
o gnaisse pegmatóide. é atribuída idade entre 700 e burgo

293

Você também pode gostar