Você está na página 1de 154

o LIVRO DE

DANIEL
~ago Mar Cóspio

. --- ----- - ----- ...... _ lfv! ~ Van


,... ,
7)) ~ago
IMPÉRIO
L[DIO ~,
~ ~

~ P t R to

..... '
\)m>o
111r:o
', o Unhas de viagem indicam
~
N ínive •~'-. . . ... . . ca0 direção aproximada em
.... 'f:a01)
.P ... ~O'fl
vez de rotas exatas

<r·"ás ~
"' I 111 p ~!f Assur o ,

.... ~i-o" c
~r;,/"
. .C:a(?oa"-7
1O ;Ê , aa
~ '%
·. âs_O'fl
Ecbátana • ' ~
NaÓ&G ' '""'
'~
0
\<&
~o,Co!)
&-ol) . (ampan;,a
. Opr s•,. • • • • .:01 [}i-o Co .,-,. ' '1
\ ~
\ o>
. traa,o , 8 """t'ae /o'i'e;;e. ,·c
Nabucodonosor voltou depressa pelo deserto, ao
""-?a 16-
"{>
r -1 a" I "" "6,;6,.,.
" 'óf: (SJ9
"o
MAR GRAN DE saber da morte de seu pai (605 a.C.), deixando \

(MAR MEOITERRANEO) cativos para serem levados para Babilônia pelo


exército através da rota mais longa
(0
!f;
" .. ";_CJ
........... à
"-> "''
y'
\

/f'
. .o
Babilônia Susã • "".,..
r Planície
O s0·
\
Nabucodonosor fez três gra ndes ataques à Palestina: \

(I) Em 605 a.C., levando cativos, incluindo Daniel


de Dura
.. .. . ., -<)

(2) Em 597 a.C. levando Jeoaquim e outros, incluindo Ezequiel


o(.0'>\ 0...
n,orílma
'§? .. '·, "'
(3) Em 588-586a.C.. sitiando e destruindo Jerusalém e levando
Zedequ ias e milhares de outros cativos (sobre essas campanhas,
0\:) , ,.
- - - ... ...
' ;s- ,.,.
~

ver Dn l:l -6; 2Rs 25; 2Cr 36)


~,' ',.§.
'' ' ...

Nabon ido foi ao Líbano e depois a Tema '


(552 a.C.), colocand o Belzasar a ca rgo de
Babilônia durante sua longa ausência

O MINISTÉRIO DE DANIEL
Golfo (605-539 a.C.)
de Aqabo ARÁB IA

EG ITO O 5 10 15 20 km
- · Tema ~
4· w
o LIVRO DE
DANIEL

INTRODUÇÃO

1. Título - O livro leva o nome de seu personagem principal, Daniel. A prática no AT


de dar ao livro o nome de seu personagem principal se observa em outros livros como Josué,
Samuel, Ester e Jó. Esse título não indica necessariamente que a pessoa tenha sido o autor
do livro, embora possa ser, como é o caso do livro de Daniel.
2. Autoria - A opinião tradicional de judeus e cristãos é de que o livro foi escrito no
6° século a.C. e que Daniel é o autor. As seguintes evidências favorecem essa opinião:
a. As declarações do livro. O profeta Daniel fala na primeira pessoa em muitas pas-
sagens (Dn 8:1-7, 13-19, 27; 9:2-22; 10:2-5; etc .). Ele decl ara que recebeu pessoalmente a
ordem divina para preservar o livro (12:4) . O fato de haver seções em que o autor se refere a
si mesmo na terceira pessoa (1:6-11, 17, 19, 21; 2:14 -20; etc.) não é estranho, pois essa prá-
tic a é frequente em obras antigas (ver com. de Ed 7:28).
b. Autor fa miliarizado com a história. Somente um homem do 6° século (a .C .), fami -
liarizado com a cultura babilônica, poderia informar alguns dos fatos históricos encontra-
dos no livro. O conhecimento desses fatos se perdeu depois do 6° século a.C ., pois não foi
registrado em outra literatura antiga posterior (ver p. 823, 824). Descobertas arqueológicas
revelaram evidências desses fatos.
c. O testemunho de Jes us Cristo. Ao citar uma passagem do livro, Jesus menciona Daniel
como o autor (l\!It 24:15). Esse testemunho é evidência convincente para todo crente na ins-
piração do NT.
O livro tem duas seções distintas: a primeira (Dn l - 6), basicamente histórica, e a
segunda (7- 12), profética. Contudo, o livro é uma unidade literária . Os seguintes argumen-
tos apoiam essa definição:
1. As diferentes seções do livro estão relacionadas entre si. O uso dos ute nsílios do te m-
plo no banquete de Belsazar pode ser entendido à luz do registro de como os mesmos chega-
ram a Babilônia (Dn 5:3; cf. 1:1, 2). Daniel3:12 faz referênci a a uma medida administrativa
de Nabucodonosor, descrita primeiramente em 2:49. Daniel 9:21 fa z referência a uma visão
anterior (ver Dn 8:15, 16). -4 ~
2 . A parte histórica apresenta uma profecia (Dn 2) intimamente relacionada às profecias
encontradas nos cap. 7 a 12. A visão de Daniel 7 amplia o tema tratado no cap. 2. Os ele-
mentos históricos e proféticos ta mbém estão relacionados . A seção histórica (Dn 1-6) narra o
trato de Deus com a nação babilônica e o papel da mesma no plano divino. Isso ilustra como
Deus lida com todas as nações (ver Ed, 175-177). Como ocorreu com Babilônia, cada um dos
impérios mundiais sucessivos, retratados na porção profética, teve a oportunidade de conhe-
cer a vontade divina e de cooperar com a mesma , e cada um seria medido pela fidelid ade

819
COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

com que cumpriu o propósito divino. Portanto, a ascensão e queda das nações descritas em
Daniel 7 a 12 devem ser entendidas com base nos princípios apresentados na seção histó-
rica relacionados com Babilônia. Isso unifica o livro e esclarece o papel de cada império.
Em gera l, se reconhece a unidade literária do livro, demonstrada na composiç ão, na linh a
geral de pensamento e nas expressões usadas nos dois idiom as (ver p. 823, 824). Os argu-
mentos usados em favor da teoria dos dois autores não têm fundamento.
Na caverna 1 do sítio de Qumran (ver p. 73 -76) foram encontrados três fragmentos do
livro de Daniel, os quais foram publicados por D. Barthélemy e J. T. Milik, em Discoveries
in the ]udaean Desert I: Q umran Cave I (Oxford , 1955), p. 150-152. Os fragmentos provêm
de dois rolos ou de um só, nos quais os cap. 1 e 2 foram copiados por um escriba e o cap. 3
por outro, contendo partes das seções de Daniel 1:10 a 17; 2:2 a 6; e 3:22 a 30 . Uma com-
paração desse texto com o texto massorético mostra 16 variantes, sendo que nenhuma delas
afeta o significado da passagem. Nove dessas 16 variações são de cunho ortográfico que só
afetam uma letra: duas delas parecem ser erros de ortografia; as outras sete se escrevem
também de várias maneiras no texto massorético. Encontram-se quatro acréscimos: um a da
conjunção "e", e uma da partícula "que" antes de um "se"; duas palavras têm uma vogal adi-
cionada . Em um caso, uma vogal que ocorre no texto massorético não está nos fragmentos.
Duas terminações verbais parecem ser erros dos escribas. A li sta mostra que as diferenças
são tão insignificantes que não seriam notadas numa tradução. Esse é um argumento con-
vincente em favor da afirmação de que o texto massorético de Daniel está essencialmente
da mesma forma como estava pelo menos no tempo de Cristo.
Também é interessante o fato de o fragmento de Daniel 2 incluir a passagem em que
ocorre a transição do hebraico para o aramaico (ver com. de Dn 2:4). Nesse ponto, há um
espaço entre a última palavra em hebraico e a primeira palavra em aramaico, o que faz um a
distinção clara entre as seções dos dois idiomas. Também é digno de nota que, em har-
monia com o texto massorético, esses fragmentos não contêm a apócrifa Canção dos Três
Jovens (ver com. de Dn 3:23).
Na caverna 4, de Qumran, encontraram-se fragmentos de couro de três manuscritos de
Daniel, os quais, segundo informações, estão bem preservados e representam porções con -
sideráveis do livro (ver Frank M. Cross, em Biblical Archaeologist, 19 [1 9 56], 85, 86; Cross,
em Revue Biblique, 63 [1956], 58).
Da caverna 6, de Qumran, procedem vários fragmentos de papiro de Daniel, que repre-
sentam os trechos de Daniel 8:20 e 21; 10:8 a 16; e 11:33 a 38 (contendo nove variações
ortográficas secundárias), publicados por M. Baillet, em Discoveries in the ]udaean Desert
III: Les "Petites Grottes" de Qumrân (Oxford, 1962), p. 114-116.
3. Contexto histórico - O livro de Daniel contém o registro de algun s incidentes his-
tóricos da vida do profeta e de seus três amigos, exilados judeus a serviço do governo babilô-
;f,.. nico; apresenta também um registro do sonho profético do rei Nabucodonosor, interpretado
por Daniel, juntamente com registros de visões que o próprio profeta recebeu. Embora
tenha sido escrito em Babilônia durante o exílio e pouco depois disso, o propósito do livro
não era fornec er uma história do exílio judeu ou uma biografia de Daniel. O livro relata as
principais experiências do profeta-estadista e de seus companheiros e foi escrito com obje-
tivos específicos .
A princípio, o profeta fala brevemen te da razão de estar a serv iço do rei de Babilônia
(Dn 1). Ao serem levados para Babilônia, no primeiro cativeiro em 605 a.C. , durante a

820
DANIEL

primeira campanha de Nabucodonosor contra a Síria, Daniel e outros príncipes de sangue


real foram escolhidos para serem treinados para o serviço no governo. Os primeiros 19 anos
de Daniel, em Babilônia, foram os últimos anos da existência de Judá como reino, embora
estivesse sujeito a Babilônia. A inútil política antibabilônica dos últimos reis de Judá pro-
vocou uma catástrofe após outra sobre a nação judaica.
O rei Jeoaquim, durante cujo reinado Daniel foi levado cativo, permaneceu leal a Babilônia
por alguns anos . Contudo, ao final, cedeu à política do partido pró-egípcio de Judá , e se
rebelou. Como resultado, o país sofreu invasões militares, seus cidadãos perderam a liber-
dade e foram levados cativos, e o rei perdeu sua vida. Seu filho e sucessor, Joaquim, após
um breve reinado de apenas três meses, viu os exércitos de Babilônia retornarem para casti-
gar os desleais judeus. Ele e milhares dos principais cidadãos de Judá foram levados cativos
em 597 a.C. Seu sucessor, Zedequias, aparentemente tentou permanecer leal a Babilônia.
Porém, como era fraco e instável, ele não pode resistir por muito tempo às propostas do
Egito e aos sentimentos antibabilônicos de seus principais conselheiros. Como resultado,
Nabucodonosor, cansado das repetidas revoltas na Palestina, decidiu acabar com o reino
de Judá. Por dois anos e meio os exércitos babilônicos assolaram a terra de Judá, tomaram
e destruíram suas cidades, incluindo Jerusalém, com seu templo e seus palácios, e levaram
cativa a maioria dos habitantes de Judá, em 586 a.C .
Daniel estava em Babilônia durante esse período agitado. Ele deve ter visto os exércitos
babilônicos partirem em suas várias campanhas contra sua terra natal, e testemunhado o
retorno vitorioso dos mesmos bem como a chegada de judeus capturados. Entre os cativos
estavam o jovem rei Joaquim com sua família (2Rs 24:10-16) e, mais tarde, o rei Zedequias
(2Rs 25:7), a quem haviam vazado os olhos. Durante esses anos, Daniel também devia estar
ciente da agitação política entre os judeus exilados, que fez com que Nabucodonosor man-
dasse queimar até à morte alguns dos principais instigadores. Foi essa agitação que fez com
que Jeremias enviasse uma carta a seus compatriotas capturados instando-os a levar uma
vida calma e pacífica em Babilônia (Jr 29).
Durante todos esses anos, Daniel e seus três amigos cumpriram com lealdade seus deve-
res como oficiais reais e súditos do reino. Após treinamento, eles se tornaram membros da
elite de sábios que serviam ao rei como conselheiros. Foi então que Daniel teve a oportuni-
dade única de explicar a Nabucodonosor o sonho acerca de impérios futuros (Dn 2). Como
resultado, ele foi indicado para uma posição sumamente importante, a qual parece ter exer-
cido por anos. Esse cargo lhe deu a oportunidade de fazer conhecido ao rei o poder do Deus
dos céus e da terra, a quem ele e seus amigos serviam. Não se sabe por quanto tempo Daniel
ocupou o cargo. Parece que ele o deixou antes de 570 a.C., visto que seu nome não se encon-
tra no "Almanaque da Corte e do Estado", escrito em cuneiforme, que alista os principais ..,. ~
oficiais do governo de Nabucodonosor que estavam no cargo nessa época. Não há outros
almanaques da corte e do estado, da época do reinado de Nabucodonosor. De fato, Daniel
não é mencionado em nenhuma fonte extrabíblica da época.
A ausência do nome de Daniel nesse documento não é estranha, visto não ser sabido por
quanto tempo ele permaneceu no cargo público. Apenas quatro importantes eventos do rei-
nado de Nabucodonosor são registrados no livro de Daniel, e o profeta desempenhou seu
papel em três deles: a educação dos príncipes judeus durante os três primeiros anos do rei-
nado de Nabucodonosor, incluindo o ano de ascensão (Dn 1); a interpretação do sonho de
Nabucodonosor no segundo ano do reinado (Dn 2); a inauguração da imagem na planície

821
COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

de Dura, resultando no livramento extraordinário dos amigos de Daniel num ano não espe-
cificado (Dn 3); e a interpretação do sonho de Nabucodonosor por Daniel, anunciando que
o rei ficari a louco por sete anos, o que provavelmente ocorreu durante os últimos anos do
monarca (Dn 4).
Nada se sabe das atividades de Dani el durante os anos em que Nabucodonosor esteve
in capacitado. Também não há informação sobre o que Daniel fez depois de o rei ter recupe-
rado as faculdades e o trono, e se ele prestou serviços durante os reinados dos sucesso-
res Amei-Marduque (o Evil-Merodaque, da Bíblia), Nergal-sar-usur, Labasi-Marduque e
Nabonido. Contudo, ele viu o poderoso império de Nabucodonosor se tornar moralm ente
fraco e corrupto sob a liderança de reis que assassinaram seus antecessores. Ele também
deve ter testemunhado com interesse especial a rápida ascensão de Ciro, rei da Pérsia, visto
que um homem com esse nome fora mencionado na profecia como o libertador de Israel
(Is 44:28; 45:1). Em 553 a.C ., quando Ciro provavelmente se apoderou do império dos medos,
também é possível que Daniel tenha visto Nabonido apontar seu filho Belsazar para gover-
nar Babilônia, quando Nabonido partiu para conquistar Tema, na Arábia. Foi durante os
primeiros três anos de Belsazar que grandes visões foram dadas ao profeta (Dn 7; 8), e o
homem até então conhecido somente como um intérprete de sonhos e visões se tornou um
dos grandes profetas de todos os tempos.
Os babilônios solicitaram os serviços de Daniel mais uma vez, durante a noite da queda
de Babilônia, em 539 a.C., para ler e interpretar a escritura condenatória na parede da sala
de banquete de Belsazar. Depois de os persas se apoderarem de Babilônia e do império, os
novos governantes fizeram uso dos talentos e da experiência do velho estadista da geração
anterior. Daniel outra vez se tornou o principal conselheiro da coroa. Presume-se que tenha
sido ele quem apresentou as profecias de Isaías ao rei (ver PR, 557), as quais influenciaram
o govern ante persa a proclamar o fim do exílio dos judeus e dar-lhes novamente uma pátria
e um templo. Durante esse último período da carreira pública de Daniel, homens invejo-
sos atentaram contra a vida dele, mas o Senhor interveio de forma maravilhosa e o li vrou
(Dn 6). Daniel teve outras importantes visões durante seus últimos anos de vida, primeira-
mente sob o governo de Dario, o medo (Dn 9; ver Nota Adicional a Daniel 6) e, então, sob
Ciro (Dn 10- 12).
No estudo do livro de Daniel, dois pontos requerem exame cuidadoso:
a. A hi storicidade de Daniel. Desde que o filósofo neoplatônico Porfírio (233-c. 304
d.C.) fez os primeiros grandes ataques à historicidade de Daniel, o livro tem estado sob crí-
ticas, em princípio apenas de for ma esporádica, mas durante os últimos dois séculos, cons-
~ ~ tantemente. Como resultado, a maioria dos eruditos cristãos, atualm ente, considera o livro
como produto de um autor anônimo que teria vivido no período da revolução macabeia, por
volta do 2° século a.C.
Esses eruditos apresentam duas razões principais para designar uma data tão tardi a para
o livro de Daniel: (l) uma vez que algumas profecias apontariam para Antíoco IV Epifânio
(175 -c. 163 a.C.) e sendo que a maioria delas, ao menos aquelas cujo cumprimento foi
demonstrado, teria sido escrita após os eventos descritos terem ocorrido, então as profecias
de Daniel devem datar de um tempo posterior ao do reinado de Antíoco IV; e (2) uma vez
que, segundo eles, as seções históricas de Daniel registram eventos qu e discordam de fatos
históricos conhecidos a partir de fontes disponíveis, então essas discordânc ias podem ser
melhor explicadas quando se assume que o autor estava distante desses eventos , no espaço

822
DANIEL

e no tempo, e por isso possuía apenas um conhecimento limitado do que de fato aconteceu
no 7° e 6° séculos a.C., 400 anos antes.
O primeiro argumento não tem validade diante da crença de que os profetas inspirados
podem prever seguramente o curso geral da história. O segundo deve ser considerado por
alegar que Daniel teria inexatidões históricas, anacronismos e conceitos errôneos. Por essa
razão, apresenta-se um breve estudo sobre a validade histórica do livro de Daniel.
De fato, Daniel descreve alguns eventos ainda não comprovados por documentos dis-
poníveis. Um exemplo é a loucura de Nabucodonosor, não mencionada em nenhum regis-
tro babilônico. A ausência de comprovação de uma incapacidade temporária do maior rei
do império neobabilônico não é algo estranho num tempo em que os registros reais conti-
nham apenas narrativas dignas de louvor (ver com. de Dn 4: 36). Dario, o medo, cujo verda-
deiro lugar na historia não foi estabelecido por fontes extrabíblicas confiáveis, é também um
enigma histórico. Encontram-se sugestões de sua identidade em autores gregos e em infor-
mação frag mentária de fontes cuneiformes (ver Nota Adicional a Daniel 6).
Outras supostas dificuldades históricas que confundiam comentaristas conservadores
dos séculos anteriores têm sido solucionadas pela expansão do conhecimento histórico for-
necido pela arqueologia. Abaixo, estão alistados alguns dos mais importantes problemas já
solucionados:
1. A suposta discrepância cronológica entre Daniell:1 e Jeremias 25:1. Jeremias, que
segundo o critério geral dos eruditos é um a fonte histórica confiável, sincroniza o qu arto
ano de Jeoaquim , de Judá , com o primeiro ano de Nabucodonosor, de Babilônia. Contudo,
Daniel fala que a primeira conquista de Jerusalém por Nabucodonosor ocorreu no terceiro
ano de Jeoaquim, sugerindo que o primeiro ano de Nabucodonosor coincidiria com o ter-
ceiro de Jeoaquim. Antes de a descoberta de registros da époc a revelar diferentes siste-
mas de contagem dos anos de rein ado de antigos reis, os comentaristas achavam difícil
explicar essa aparente discrepância. Buscou-se solucionar a dificuldade por supor uma
corregência de Nabucodonosor com seu pai Nabopolassar (ver vol. 3, p. 80), ou por pres-
supor que Jeremias e Daniel datavam os eventos de acordo com sistemas de contagem
diferentes: Jeremias , segundo o sistema judaico, e Daniel, segundo o babilônico. Ambas
as explic ações estão ultrapassadas.
A dificuldade foi solucionada com a descoberta de que os reis babilônios, como os de
Judá dessa época, contavam os anos de reinado de acordo com o método do "ano da ascen- -<~ ~
são" (ver vol. 2, p. 106). O ano em que um rei babilônio subia ao trono não era computado
como seu primeiro ano oficial, m as meramente o ano de su a ascensão; e seu primeiro ano,
isto é seu primeiro ano completo no calendário, só começava no dia de novo ano seguinte,
quando, numa cerimônia religiosa, ele tomava as mãos do deus babilônico Bel.
Também se sabe, por meio de Josefo (citando Beroso) e pela Crônica Babilônica, que
Nabucodonosor estava numa campanha militar na Palestina contra o Egito quando seu pai
morreu e ele o sucedeu no trono (ver p. 831, 832; também vol. 2, p. 64, 65, 130; vol. 3, p. 80).
Portanto, Daniel e Jeremias estão completamente de acordo . Jeremias sincronizou o primeiro
ano de Nabucodonosor com o quarto ano de Jeoaquim, enquanto Daniel foi levado cativo
no ano de ascensão de Nabucodonosor, que ele identifica como o terceiro ano de Jeoaquim.
2. Nabucodonosor, o grande construtor de Babilônia. De acordo com historiadores gre-
gos, Nabucodonosor teve um papel insignificante na história antiga. Nunca o mencionam
como um grande construtor ou o criador de uma nova e mais poderosa Babilônia. O leitor

823
COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

familiarizado com a história clássica grega sabe que essa honra é comumente atribuída à
rainlg__S_emiramis, a quem se confere um lugar importante na história de Babilônia .
Porém, registros cuneiformes da época, descobertos por arqueólogos durante os últimos
cem anos, mudaram por completo o quadro apresentado pelos autores clássicos. Esses regis-
tros confirmam o relato de Daniel, que atribui a Nabucodonosor a construção (reconstrução)
da "grande Babilônia" (Dn 4:30). Descobriu-se então que Semiramis, chamada Sammu-ramat
em inscrições cuneiformes, era rainha mãe na Assíria, regente de seu filho menor de idade
Adad-Nirari III , e não rainha de Babilônia, como afirmavam as fontes clássicas. As inscri-
ções mostram que ela não teve participação na construção de Babilônia. Por outro lado,
várias inscrições de Nabucodonosor provam que ele foi, em certo sentido, o criador de um a
nova Babilônia, ao reconstruir palácios, templos, a torre -templo da cidade e ao acrescentar
novas construções e fortificações (ver Nota Adicional a Daniel 4).
Ninguém além de um escritor da era neobabilônic a poderia ter tal informação, pois ela
tinha se perdido completamente antes da época helenística. De fato, essa informação no
livro de Daniel se constitui num desafio para eruditos críticos que não acreditam que Daniel
foi escrito no 6°, mas no 2° século. Um exemplo típico do dilema desses pesquisadores é
a seguinte declaração de Robert H. Pfeiffer, da Universidade de H arvard: "Provavelmente
nunca saberemos como nosso autor soube que a nova Babilônia era criação de Nabucodonosor
[.. .],como têm provado as escavações" (Introduction to the Old Testament [Nova York, 1941],
p. 758, 759).
3. Belsazar, rei de Babilônia. O fato de o nome de Belsazar não se encontrar em nenhum
escrito extrabíblico da Antiguidade, enquanto Nabonido sempre é mencionado como o último
rei babilônio antes da conquista persa, foi usado como um dos argumentos mais fortes con-
tra a historicidade do livro de D aniel. No entanto, descobertas a partir da metade do século
19 têm refutado as críticas a Daniel a esse respeito e vindicado o caráter fi dedigno danar-
rativa histórica do profeta sobre Belsazar (sobre a descoberta da identidade de Belsazar por
~ -- orientalistas modernos, ver Nota Adicional a Daniel 5).
b. O s idiomas do livro. Da mesma forma que Esdras (ver vol. 3, p. 343), uma parte do
livro de D aniel foi escrita em hebraico e outra em aramaico. Alguns explicam o uso de dois
idiomas supondo que, no caso de Esdras, o autor tomou documentos aramaicos acompa-
nhados de suas descrições históricas, e os incorporou a seu livro, que além dessas passa-
gens estava escrito em hebraico, idioma nacional de seu povo. Essa interpretação não se
aplica ao livro de Daniel, em que a seção em aramaico começa com Daniel 2:4 e termina
com o último versículo do cap. 7.
A seguir, há uma lista parcial das explicações dos eruditos para o problema, seguidas de
observações de aspectos contraditórios das mesmas:
l. O au tor escreveu os relatos históricos para o povo que falava aramaico, e as profecias,
para os eruditos que falavam hebraico. Porém, o aramaico dos cap. 2 e 7, ambos com gran-
des profecias, indica que essa opinião não é correta.
2. O uso de dois idiomas aponta para a existência de duas fontes. Esta opinião não pode
estar correta, pois o livro tem uma notável unidade, reconhecida até por muitos críticos
radicais (ver p. 819).
3. O livro foi escrito originalmente em um idioma, aramaico ou hebraico, e partes dele
foram tradu zidas mais tarde. Esta opinião não responde a pergunta quanto à razão de terem
sido traduzidas apenas algumas seções para outro idioma e não o livro todo.

824
DANIEL

4. O autor publicou o livro em duas edições, uma em hebraico e outra em ara maico, de
m odo que todos pudessem lê -lo. Durante as perseguições na época dos macabeus, partes do
livro se perderam, e as partes salvas de ambas as edições foram reunidas em um livro sem
alterações. Esta opinião não pode ser comprovada e se baseia em conjec turas.
5. O autor começou a escrever em aram aico no ponto em que os caldeus se dirigiram
"ao rei em aramaico" (Dn 2:4), e continuou nesse idioma enquanto escrevia, mas depois,
quando voltou a escrever (em Dn 8:1), usou o hebraico.
A última opinião parece apontar a solução, pois as várias seções do livro devem ter
sido escritas em épocas diferentes. Como um oficial do governo, Daniel fa lava e escrevia
em vários idiomas. É provável que tenha esc rito algumas narrativas históric as e visões em
hebraico e outras em aramaico. Com base nessa suposição, o cap. 1 foi esc rito em hebraico,
provavelmente no primeiro ano de Ciro, e as narrativas dos cap. 3 a 6, em aramaico, em
épocas diferentes. As visões proféticas foram registradas em sua maior parte em hebra ico
(Dn 8-12), embora a visão do cap. 7 tenha sido escrita em aramaico. O relato do sonho do
Nabucodonosor acerca dos impérios futuros (Dn 2), por outro lado, foi escrito em hebraico até
o ponto em que a fala dos caldeus é introduzida (Dn 2:4), e então é usado o ara maico desse
ponto até o final da narrativa.
Quando, no final da vida, Daniel reuniu todos os seus escritos num só livro, ele deve
ter julgado desnecessário tradu zir certas partes a fim de co nferir ao livro um a unidade lin -
guística, pois sabia que a maioria de seus leitores era bilíngue - fato evidente a partir de
outras fontes. -.. :;;;
Além disso, deve-se observa r que a existência de dois idiomas no livro de Daniel não pode
servir de argumento para uma data posteri or para a origem do livro. Aqueles que datam a
origem de Daniel no 2° século a.C. também enfrentam problemas para explicar por que um
autor hebreu do período macabeu escreveu parte do livro em hebraico e parte em aramaico.
É verdade que as peculiaridades ortográ ficas das seções em aramaico do livro de Daniel
são semelhantes às do aramaico da Ásia O cidental do 4° e 3° séculos devido, possivelmente, a
uma modernização do idioma, característica observável também na maioria dos livros bíblicos
escritos em hebraico. A ortografia não pode revelar a data da escrita de um livro, assim como
a últim a revisão de uma trad ução da Bíblia não pode ser considerada como prova de que essa
Bíblia tenha sido originalmente traduzida no a no de sua impressão. As pec uliaridades orto-
gráficas podem no máximo indicar em que época ocorreram as últimas revisões ortográficas.
Entre os rolos do Mar Morto (ver vol. 1, p. 8-11 ) existem vários fragmentos de Dan iel
que datam do 2° séc ulo a.C. Pelo menos dois deles preservam a seção do capítulo em que
se faz a mudança do hebraico para o aramaico, e mostram claramente o ca ráter bilíngue do
livro naquela época (ver p. 8 19, 820).
4. Tema - O livro de Daniel pode ser considerado um a obra sobre históri a e profec ia.
A profecia preditiva é uma visão antecipada da história; e a história é o cumprimento da pro-
fecia. O elemento preditivo permite ao povo de Deus ver as coisas transitórias à luz da eter-
nidade, leva-o a se manter alerta para agir com eficácia em momentos específicos , facili ta o
preparo pessoal para a crise fina l e, ao cumprir-se a previsão, fornece uma base firme para a fé.
As quatro principais profecias de Daniel apresentam de forma resumida as experiê n-
cias do povo de Deus desde os dias de Da ni el até o fim dos tempos, tendo como contexto
a hi stória mundial. "A cortina é afastada, e pode-se ver acima, para trás e pelos lados as mar-
chas e contramarchas das paixões, do poder e dos interesses humanos- as in strumentalidades

825
COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

do Todo-Poderoso -, exec utando paciente e silenciosamente os conselhos de Sua própri a


vontade" (PR, 500). Cada um a das quatro profecias atinge seu clímax quando "o D eus
do céu" suscita "um reino que não será jamais destruído" (Dn 2:44), quando o "Filho do
hom em" recebe "domínio eterno" (Dn 7:13 , 14), quando a oposição ao "Príncipe dos prín -
cipes" é quebrada "se m esforço de mãos humanas" (Dn 8:25) e quando o povo de Deus é
I iberto para sempre de seus opressores (Dn 12: 1). Portanto, as profecias de Daniel a nte-
c ipam um a sequência históri ca condu zida por Deus, desde o prec ipício do tempo até o
fim dos di as, um vislumbre do tempo que permite àqueles que , como Daniel , se deter-
minam a a mar e servir a De us , sa ind o da incerteza e da angústia presente para a paz e a
segurança da vida eterna.
A seção histórica do livro revela a filosofia da história (ver Ed, 173 -1 84). Essa seção consti-
tui um prefácio para a seção profética. Ao relatar a maneira como Deus lida com o poder babi-
lônico, o livro ajuda a entender o significado da ascensão e queda de outras nações cuja história
é esboçada na porção profética do livro. Sem um claro entendimento da filosofia da história,
conforme revelada na narrativa do papel de Babilônia no plano divino, o papel das outras nações
que sucederam Babilônia não pode ser bem compreendido (sobre a filosofia divina da hi stó-
~ ~ ria, ver com. de Dn 4:17).
Na seção hi stórica do li vro, Daniel, o homem de Deus, fica face a face com Nabucodonosor,
o gênio do mundo gentílico, a fim de que o rei tenh a a oportunidade de conhecer o Deus
de Daniel, o Árbitro da história, e coopera r com Ele. Nabucodonosor não só era o monarca
da maior nação daquele tempo, como também era um sábio e tinh a senso inato da retid ão
e da justiça. De fato , ele era a personalidade principal do mundo gentílico, que governava a
"mais poderosa das nações" (Ez 31: 11). Ele subira ao poder para cumprir um papel especí-
fi co no pla no divino. Deus di sse sobre ele: "Agora, Eu entrega rei tod as estas terras ao pod er
de Nabucodonosor, rei da Babilôni a, Meu servo" (]r 27:6). Visto que os judeus seriam leva-
dos cativos a Babilônia, eles deveriam estar sob o domínio de um rei firme, mas não cru e l
(segundo os padrões da época). A missão de Daniel na corte de Nab ucodonosor era assegu-
rar a submi ssão do rei à vontade de De us, a fim de que o propósito divino fosse cumprido.
N um elos momentos dram áticos da hi stória, Deus reuniu essas du as grandes person a lid a-
des (ver p. 620, 621 ).
Os primeiros quatro capítulos de Daniel narram a forma como Deus assegurou a obe-
diência de Nabucodonosor. Primei ramente, Deus precisava de um homem que rep resen-
tasse os princípios e a política dos cé us na corte babilônica, por isso escolheu Daniel para
ser Seu embaixa dor pessoal perante Nabucodonosor. Os meios que Deus emprego u para
atrair a atenção do mon a rca ao ca tivo Dani el e a ma neira como Nabucodonosor passou a
confi ar primeiramente em Daniel e, então, no Deus elo profeta ilustram como Deus usa as
pessoas para cumprir Sua vontade na Terra. Deus pôde usar Dani el, pois ele era um homem
de princípios, ele caráter sólido, cujo principal objetivo era viver para Deus.
Da niel resolveu firm emente (Dn 1:8) viver em har monia com toda a revelada vontade de
Deus. Primeiramente , Deus o fez alcançar "misericórdia e compreensão" da parte dos ofi-
ciais de Ba bilônia (v. 9). Isso pre parou o ca minho para o segundo passo: a demon stração da
superioridad e física ele Daniel e de seus companheiros (v. 12- 15); e, e m seguida, a demons-
tração da superioridad e intelect ual. "De us deu o conhecimento e a inteli gência em toda cu l-
tu ra e sabedoria" (v. 17), e, como resultado, eles foram consid erados "dez vezes mais doutos"
do que os colegas (v. 20). Dessa forma , em termos de personalidade e no aspecto físico e

826
DANIEL

intelectual, Daniel provou ser superior aos demais e, portanto, ganhou a confiança e o res-
peito de Nabucodonosor.
Esses eventos prepararam N abucodonosor para conhecer o Deus de Daniel. Uma sé ri e
de experiências dramátic as: o sonho do cap. 2, o incrível livramento da forn alh a ardente
(Dn 3) e o sonho do cap. 4 demonstraram ao rei a sabedoria, o poder e a autoridade do
Deus de Daniel. A inferioridade do conhecimento humano, demonstrada na experi ência de
Daniel 2, fez com que Nabucodonosor admitisse: "C ertamente, o vosso Deus é o Deus dos
deuses, e o Senhor dos reis , e o revelador de mistérios" (Dn 2:47). Ele reconheceu espon-
tanea mente que a sabedoria de De us é superior, não apenas à sabedoria humana, mas até
à suposta sabedoria de seus próprios deuses. O incid ente da im agem de ouro e da forn a-
lha ardente levou Nabucodonosor a admitir que o Deus do cé u "livrou os Seus servos"
(Dn 3:28). Sua conclusão foi de que ninguém em todo o reino podia proferir "blasfêmi a con-
tra o Deus" dos hebreus , tendo em vista que "não há outro deus que possa livrar como este"
(v. 29). Nabucodonosor recon heceu que o Deus dos céus não só é sábio, mas também é "' ~
poderoso, não só onisciente, mas onipotente. A terceira experiência: os sete anos durante
os quais sua sabedoria e seu poder altivos fora m temporariamente retirados , ensinou ao
rei não só que "o Altíssimo" é sábio e poderoso, mas que Ele exerce essa sabedori a e esse
poder para governar as questões humanas (Dn 4:32). Ele tem sabedoria, poder e autori-
dade. É digno de nota que o primeiro ato de Nabucodonosor depois de retom ar a razão foi
louvar, exa ltar e glorificar ao Rei do céu e reconhecer qu e Deus "pode humilhar aos qu e
andam na soberba", como ele o fizera por tantos anos (v. 37).
No entanto, as lições que Nabucodonosor ap rendeu pessoalmen te por um período de
muitos anos não beneficiaram seus sucessores no trono de Babilônia. Como o último rei
de Babilônia, Belsazar desafiou abertame nte o Deus dos céus (Dn 5:23), apesar de conh e-
cer a experiência de Nabucodonosor (v. 22). Em vez de trabalhar em harmoni a com o pla no
divino, Babilônia se tornou "opressora, orgulhosa e cru el" (Ed, 176) e, pel a rej eição dos princí-
pios do Céu, o reino operou a própria ruína (Ed, 177). A nação foi pesada na balança e ach ada
em falta (Dn 5:25-28), e o domínio mundi al, passado aos persas.
Ao libertar Daniel da cova dos leões, Deus demonstrou Seu poder e autoridade perante
os governantes do império persa (ver Dn 6:20-23; PR, 55 7) como fez antes com os de
Babilônia. Um decreto de Dario, o medo, reconhecia "o Deus vivo" e admitia que E le "per-
manece para sempre" (v. 26). Mesmo "a lei dos medos e dos persas que não se pod e revo-
gar" (v. 8) teve de ceder diante dos decretos do "Altíssimo", que "tem domínio sobre o rei no
dos hom e ns" (Dn 4:32). Ciro foi favoravelmente impressionado pela evidênc ia mirac ulosa
do pode r divino exibido no livramento de Daniel da cova dos leões (PR, 557). As profecias
que predisseram seu papel na restauração de Jer usalém e do templo (Is 44:26-45:13) ta m-
bém exerceram profunda impressão sobre ele : "O seu coração foi profundamente movido, e
ele se determinou cumprir sua missão divinamente indicada" (PR, 557).
Assim, o livro de Daniel demonstra os princípios segundo os qu a is a sabedoria, o pod er
e a autoridade de Deus atuam por meio da históri a das nações para o cumprimento final do
propósito divino. "Deus exaltou Babilônia para que ela pudesse cumprir este propósito" (Ed, 175).
Ela teve seu período de prova, mas "fracassou; es maeceu su a glória, passou-se o seu poder, e
o lugar foi ocupado por outra nação" (Ed, 177; ver co m. de Dn 4:17).
As quatro visões elo livro de Daniel tratam da luta entre as forças do bem e elo mal sobre
esta terra desde a época de Daniel até o estabelecimento do reino etern o de Cristo. Visto qu e

827
COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

Satanás usa os poderes da Terra para tentar frustrar os planos de Deus e destruir Seu povo,
essas visões apresentam os poderes pelos quais o maligno tem atuado com muito empenho.
A primeira visão (Dn 2) apresenta um panorama da história política. Seu objetivo prin-
cipal era revelar a Nabucodonosor seu papel como governante de Babilônia, e lhe mostrar
"o que há de ser" (v. 29).
Como se fosse um desdobramento da primeira visão, a segunda (Dn 7) enfati za as expe-
riências do povo de Deus durante a soberania dos poderes mencionados na primeira visão
~ ._ e prediz a vitória final dos santos e o juízo de Deus sobre os inimigos (ver v. 14, 18, 26, 27 ).
A terceira visão (Dn 8; 9) complementa a segunda e enfatiza as tentativas de Satanás
para destruir a religião e o povo de Deus.
A quarta visão (Dn l0-12) resume as anteriores e trata o tema de forma mais detalhada.
Ela amplia o assunto da segunda e terceira visões. O foco está no "que há de suceder ao
teu povo nos últimos dias; porque a visão se refere a dias ainda distantes" (Dn 10:14), e "o
tempo indicado era longo" (v. 1, KJV). A narrativa da história em Daniel 11:2 a 39 conduz
aos "últimos dias" (10:14) e aos eventos do "tempo do fim" (11:40).
As profecias de Daniel estão estreitamente relacionadas às do livro do Apocalipse. Na ver-
dade, o Apocalipse trata do mesmo tema, mas dá ênfase especial ao papel da igreja cristã como
povo escolhido de Deus. Dessa forma, detalhes que parecem obscuros no livro de Daniel são
em geral esclarecidos quando observados no livro de Apocalipse. A parte da profecia que se refere
aos últimos dias, Daniel teve ordem de fechar e selar, até "o tempo do fim" (GC, 356), quando,
por meio de estudo diligente do livro, o "saber" de seu conteúdo se multiplicaria (Dn 12:4). Se,
por um lado, a profecia de Daniel acerca dos últimos dias foi selada (Dn 12:4; AA, 585), João
foi especificamente instruído: "Não seles as palavras da profecia deste livro, porque o tempo
está próximo" (Ap 22:10). Assim, para se ter uma interpretação mais clara de qualquer parte
do livro de Daniel que seja obscura, deve-se estudar cuidadosamente o livro de Apocalipse.

5. Esboço.
I. Seção históri ca, l:l-6:28.
A. A instrução de Daniel e de seus companheiros, 1:1-21.
I. A primeira deportação de cativos ele Judá a Babilônia, I: 1, 2.
2. Daniel e seus amigos no treinamento do serviço real, 1:3-7 .
3. Daniel ped e permissão para viver de acordo com sua lei, I :8-16.
4. Instrução el e êxito e aceitação no serviço real, I :17-2 1.
B. O sonho de Nabucodonosor ela grande imagem, 2:1 -49.
l. Nabucodonosor é perturbado por um sonho, 2:1 - 11.
2. Ordenada e anulada a exec ução dos sábios, 2: 12- 16.
3. Daniel recebe sabedoria e mostra gratidão, 2:17-23.
4. Daniel comunica o sonho ao rei, 2:24-35.
5. Daniel interpreta o sonho, 2:36-45 .
6. Nabucodonosor reconhece a grandeza de Deus, 2:46-49 .
C. Os amigos de Daniel são livrados da fornalha ardente, 3:1-30.
I. Nabucodonosor leva nta uma imagem e ordena que todos a adore m, 3:1-7.
2. Os três hebreus fi éis se recusam a adorá-la , 3:8-18.
3. O livramento ela fornalha por meio da intervenção divina, 3:19-25.
4. A confissão e o decreto do re i; os hebrcu s são promovidos, 3:26-30.

828
DANIEL

D. O segundo sonho de Nabucodonosor, sua humilhação e restauração, 4:1 -37.


l. A confissão de Nabucodonosor sobre a sabedoria e o poder de Deus, 4:1-9.
2. Descrição do sonho, 4:10-18.
3. Daniel interpreta o sonho, 4:19-27.
4. A queda e a restauração de Nabucodonosor, 4:28-36.
S. Nabucodonosor louva o Deus dos céus, 4:37.
E. O banquete de Belsazar e a perda da monarquia, S:1-3l.
l. Belsazar profana os utensílios do templo, S:1 -4.
2. A misteriosa escritura na parede, S:S-12.
3. A interpretação de Daniel, S: 13-28.
4. Daniel é honrado. A queda de Babilônia, S:29-3l.
F. Daniel é livrado da cova dos leões, 6:1-28.
l. A promoção de Daniel e a inveja de seus colegas, 6: 1-S.
2. O decreto de Dario restringe as orações, 6:6-9.
3. Daniel transgride o decreto e é condenado, 6:10-17.
4. O livramento de Daniel e a punição dos acusadores, 6:18-24.
S. Reconhecimento público da grandeza do Deus de Daniel, 6:2S-28.
2. Seção profética, 7:1-12: 13.
A. Segunda mensagem profética de Daniel, 7:1 -28.
l. As quatro bestas e o chifre pequeno, 7:1 -8.
2. O juízo e o reino eterno do Filho do homem, 7:9-14.
3. Um anjo interpreta a visão, 7: 1S-27.
4. Impressão sobre Daniel, 7:28.
E. Terceira mensagem profética de Daniel, 8:1-9:27.
l. O carneiro, o bode e os chifres, 8:1-8.
2. O chifre pequeno e sua crueldade, 8:9-12.
3. O tempo profético concernente à purificação do santuário, 8:13, 14.
4. Gabriel interpreta a primeira parte da visão, 8: 1S-26.
S. A enfermidade de Daniel em consequência da visão, 8:27.
6. Daniel ora por restauração e confessa os pecados de seu povo, 9:1-19.
7. Gabriel interpreta o restante da visão, 9:20-27.
C. Quarta mensagem profética de Daniel, 10:1-12:13.
l. O jejum de Daniel, 10:1 -3.
2. O surgimento de "um homem" e seu efeito sobre Daniel, I 0:4-10.
3. A conversa preliminar do "homem" com Daniel, I 0:11-11: I.
4. Uma visão sobre acontecimentos históricos futuros, 11:2- 12:3.
S. A duração das "maravilhas"; promessas pessoais a Daniel, 12:4-13.

829
1:1 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

CAPÍTULO 1
1 No reinado de Jeoaquim, 3 Aspenaz leva Daniel, Hananias, Misael e Azarias. 8 Eles
se recusam a comer das iguarias do rei e prosperam com legumes e água.
17 Eles se destacam em sabedoria.

1 No ano terceiro do reinado de Jeoaquim, rei outros jovens da vossa idade? Assim, poríeis em
de Judá, veio Nabucodonosor, rei da Babilônia, a perigo a minha cabeça para com o rei.
Jerusalém e a sitiou. 11 Então, disse Daniel ao cozinheiro-chefe,
2 O Senhor lhe entregou nas mãos a a quem o chefe dos eunucos havia encarregado
Jeoaquim, rei de Judá, e alguns dos utensílios de cuidar de Daniel, Hananias, Misael e Azarias:
da Casa de Deus; a estes, levou-os para a terra de 12 Experimenta, peço-te, os teus servos dez
Sinar, para a casa do seu deus, e os pôs na casa dias; e que se nos deem legumes a comer e água
do tesouro do seu deus. a beber.
3 Disse o rei a Aspenaz, chefe dos seus eu- 13 Então, se veja diante de ti a nossa aparên-
nucos, que trou xesse alguns dos filhos de Israel, cia e a dos jovens que comem das finas iguarias
tanto da linhagem real como dos nobres, do rei; e, segundo vires, age com os teus servos.
4 jovens sem nenhum defeito, de boa aparên- 14 Ele atendeu e os experimentou dez dias.
cia, instruídos em toda a sabedoria, doutos em 15 No fim dos dez dias, a sua aparência era
ciência, versados no conhecimento e que foss em melhor; estavam eles mais robustos do que todos
~ "' competen tes para assistirem no palácio do rei e os jovens que comiam das finas iguarias do rei .
lhes ensinasse a cultura e a língua dos caldeus. 16 Com isto, o cozinheiro-chefe tirou deles
5 Determinou -lhes o rei a ração diária , das as finas iguarias e o vinho que deviam beber e
finas iguarias da mesa real e do vinho que ele lhes dava legumes.
bebia, e que assim fossem mantidos por três anos, 17 Ora, a estes quatro jovens Deus deu o
ao cabo dos quais assistiriam diante do rei. conhecimento e a inteligência em toda cultu-
6 Entre eles, se achavam, dos fi lhos de Judá, ra e sabedoria ; mas a Daniel deu inteligência de
Daniel , Hananias, Misael e Azarias. todas as visões e sonhos.
7 O chefe dos eunucos lhes pôs outros nomes, 18 Vencido o tempo determinado pelo rei para
a saber: a Daniel, o de Beltessazar; a Hananias, que os trouxessem, o chefe dos eunucos os trou-
o de Sadraque; a Misael, o de Mesaque; e a xe à presença de Nabucodonosor.
Azarias, o de Abede-Nego. 19 Então, o rei falou com eles; e, entre
8 Resolveu Daniel, firmemente, não conta- todos , não foram achados outros como Daniel,
minar-se com as finas iguarias do rei, nem com Hananias, Misael e Azarias; por isso, passaram
o vinho que ele bebia; então, pediu ao chefe dos a assistir diante do rei.
eunucos que lhe permitisse não contaminar-se. 20 Em toda matéria de sabedoria e de in -
9 Ora, Deus concedeu a Daniel misericórdia teligência sobre que o rei lhes fez perguntas,
e compreensão da parte do chefe dos eunucos. os achou dez vezes mais doutos do que todos
lO Disse o chefe dos eunucos a Daniel: Tenho os magos e encantadores que havia em todo o
medo do meu senhor, o rei , que determinou a seu reino.
vossa comida e a vossa bebida; por que, pois, 21 Daniel continuou até ao primeiro ano do
veria ele o vosso rosto mais abatido do que o dos rei Ciro.

830
DANIEL 1:1

1. No ano terceiro. Com base em sin- ocorre com m ais frequência na Bíblia
cronismos bíblicos que relacionam os rei- hebraica do que a or tografia mais correta
nados de vários reis de Judá com o de Nehulwdre'ts (ver Jr 21:2; Ez 26:7; etc.).
Nabucodonosor, cujos anos de reinado em Fontes gregas mostram a mesma troca do
Babilônia foram estabelecidos astronomica- n e r. A LXX traz Nahouchodonosor; mas
mente, o terceiro ano de reinado de Jeoaquim nas obras de Estrabão e como variante em
durou , segundo o calendário judaico, do Josefo se lê Naholwdrosoros .
outono de 606 ao outono de 605 a.C. (ver A presença de N abucodonosor na
vol. 2, p. 129; vol. 3, p. 80). Portanto, os even- Palestina, em 605 a.C ., como indica Daniel
tos registrados neste e no versículo seguinte l:l , é confirmada por meio de dois relatos
devem ter ocorrido em algum momento babilônicos: (l ) uma narrativa do historia-
durante o ano civil judaico que começou dor Beroso, cuja obra perdida foi citada por
no outono de 606 e terminou no outono de Josefo, com relação a esse acontecimento, em
605 a.C. Antes de serem compreendidos os Contra Ápion (1.19); e (2) uma parte de uma
antigos sistemas de contagem dos reinados, crônica babilônica até então desconhecida
este versículo apresentava aos comentaristas (D.]. Wiseman, ed. , Chronicles of Chaldaean
um problema insuperável devido à aparente Kings, 1956), que abarca todo o reinado de
contradição com Jeremias 25:1. Como resul- N abopolassar e os primeiros 11 anos de seu
tado de descobertas arqueológicas modernas, filho Nabucodonosor.
todas as dificuldades históricas e cronológi- Beroso, como cita Josefo, relata que
cas desse ponto em questão desapareceram, Nabu codonosor recebeu a ordem de seu
e as evidências apresentam um quadro com- pai Nabopolassar para conter uma re be-
pletamente harmonioso (ver p. 822, 823). lião no Egito, Fenícia e Celessíria. Depois
A integridade do registro sagrado m ais uma de ter completado a missão, estando ainda
vez foi confirmada (ver p. 822). no oeste, ele recebeu a notícia da morte de
Jeoaquim era o segundo filho de Josias. seu pai. D eixou os cativos, entre os quais
Quando Josias morreu em Megido, o povo alguns judeus, nas mãos de seus generais,
fez de Joacaz, o quarto filho de Josias (ver e voltou para Babilônia pela rota mais curta
com. de 1Cr 3:15), rei no lugar de seu pai. do deserto o mais rápido possível. A pressa
Depois de Joacaz reinar por três meses, Neco, se devia, sem dúvida, ao desejo de impe-
rei do Egito, durante a campanha de verão na dir que um usurpador lhe tomasse o trono.
Mesopotâmia, o depôs e colocou Jeoaquim no Beroso diz que Nabucodonosor deixou
trono (2Rs 23:29-34). O novo governante de judeus cativos com seu s generais quando
Judá, cujo nome foi mudado pelo rei egípcio voltou apres sadamente a Babilônia. Talvez
de Eliaquim ("Meu Deus Se levanta") para Daniel e seus amigos estivessem entre ess es
Jeoaquim ("Yahweh Se levanta"), foi forçado cativos. A declaração de D aniel 1:1 e 2 e
a pagar pesados tributos ao Egito (2Rs 23:34, de Beroso eram os únicos registros antigos
35), mas parece ter permanecido leal a seu conhecidos que falavam dessa campanha
~ .,.. senhor egípcio. de Nabucodonosor até a descoberta dessa
Nabucodonosor. Do heb. Nehulwdne'ts, crônica babilônica. A crônica feita de ano a
a transliteração h ebraica comum do babi- ano proveu, pela primeira vez, datas exatas
lônico Nahü-lmdurri -utsur, que significa da ascensão e da morte de Nabopolassar, da
"Que o [deus] Nahü proteja meu filho" ou ascensão de Nabucodonosor e da captura de
"Que Nahü proteja minha pedra de limite". um rei de Judá, obviamente Jeoaquim , oito
A form a Nehukadne'ts (Nabucodonosor) anos mais tarde. Isso também possibilitou

831
1:2 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

datar a morte de Josias em 609 e a batalha Nabopolassar e o retorno de Nabucodono-


de Carquemis em 605. sor a Babilônia.
Antes se datava a ascensão de Nabuco- 2. Alguns dos utensílios. Sem dúvida,
donosor em agosto de 605, por meio do regis- Nabucodonosor levou os utensílios mais
tro de datas encontradas em tabuletas de valiosos e finos do templo para usar no culto
argila de documentos comerciais de Babi- a seu deus Marduque. Ele deve ter deixado
lônia (ver vol. 3, p. 75, 76). Isso se devia ao apenas o necessário para o ritual diário no
fato de o último desses documentos, do ano templo em Jerusalém. Houve três ocasiões
21 o de Nabopolassar, corresponder a 8 de em que os caldeus levaram utensílios sagra-
agosto, e de o primeiro do novo reinado (sem dos a Babilônia: (1) na campanha registrada ... ~
contar um atribuído antes a julho-agosto, nesta passagem; (2) quando Jerusalém foi
mas depois a outubro) ter sido escrito em tomada no fim do reinado de Joaquim, em
setembro. 597 a .C. (2Rs 24:13); e (3) no fim do rei-
No entanto, a crônica dá o dia exato. nado de Zedequias, quando, em 586 a.C.
Ela conta como, no 21 o ano de seu pai, após longo cerco, Jerusalém foi tomada e des-
Nabucodonosor derrotou os egípcios em truída (2Rs 25:8-15). O saque aos tesouros
Carquemis e subjugou a terra de Hatti (Síria- de Jerusalém pelas forças babilônicas foi o
Palestina). Depois, ao saber da morte de seu cumprimento da profecia de Isaías pronun-
pai, em 8 de ab (aproximadamente 15 de ciada quase um século antes (Is 39:6; sobre
agosto), apressou-se a ir a Babilônia e subiu o destino da arca, ver com. de Jr 37:10).
ao trono em 1o de elul (aproximadamente Terra de Sinar. Comentaristas antigos
7 de setembro). Mais tarde, no ano de sua identificavam este termo com mât Sumêri,
ascensão e de novo no seu 1o ano (que come- "terra de Sumer", ou o sul de Babilônia, mas
çou na primavera de 604), ele retornou ao essa interpretação foi descartada. Na maioria
oeste e recebeu tributos de seus reis vassalos. das referências do AT, Sinar é simplesmente
Isso explica como Daniel pôde ter sido um termo para designar Babilônia. A ori-
levado cativo no terceiro ano de Jeoaquim, o gem da palavra "Sinar" ainda é obscura (ver
ano que antecedeu ao 1o de Nabucodonosor com. de Gn 10:10). Porém, em Gênesis 14:1
(ver p. 822, 823). e 9, Sinar parece ser o nome de uma área ao
Rei da Babilônia. Quando Nabuco- norte da Mesopotâmia chamada de Sanhar,
donosor investiu contra Jerusalém, no ter- em textos cuneiformes. Como em Gênesis
ceiro ano de Jeoaquim. Poucas semanas ou 11:2, Isaías 11:11 e Zacarias 5:11, a Sinar de
no máximo poucos meses antes da morte de Daniel é definitivamente Babilônia.
seu pai, ele ainda não era rei. Mas Daniel, Seu deus. O principal deus dos babilô-
ao registrar os eventos, provavelmente no l 0
nios era Marduque, que, desde a época da
ano de Ciro (v. 21), cerca de 70 anos após os 1a dinastia, mais de mil anos antes, era cha-
mesmos terem ocorrido, chama Nabucodo- mado popularmente de Bêl, "senhor". O tem-
nosor de "rei da Babilônia". Quando Daniel plo mais importante, chamado Esagila, em
chegou a Babilônia como um jovem cativo, cujo átrio ficava a grande torre do edifício,
Nabucodonosor já era rei. A partir de então, Etemenanlú, estava no coração de Babilônia
ele viu Nabucodonosor reinar por 43 anos. (ver Nota Adicional a Daniel4; e também o
Portanto, parece bem natural que Daniel o mapa na p. 876).
chamasse de "rei". É possível também, mas Casa do tesouro. Documentos babi-
pouco provável, que Daniel tenha sido levado lônicos cuneiformes mencionam com fre-
durante o curto intervalo entre a morte de quência os tesouros de Esagila, o grande

832
DANIEL 2:3

templo de Marduque. Não se sabe qual dos como a ausência ou presença de barba, que o
muitos edifícios auxiliares pertencentes a rei era rodeado por oficias que eram eunucos
esse complexo do templo pode ter abrigado literais, bem como por aqueles que não eram .
os tesouros. Contudo, uma casa do tesouro Elas indicam também que os eunucos lite-
de natureza secular foi escavada dentro do rais pareciam ser a maioria. Alguns dos prin-
recinto do palácio. Os escavadores chama- cipais homens da história assíria pertenciam
ram essa construção de Museu do Palácio a essa classe, como, por exemplo, Daiân-
porque encontraram ali muitas esculturas e Ashur, o grão-vizir de Salmaneser III, junto
inscrições de cidades conquistadas. Como com muitos comandantes militares e outros
num museu moderno, objetos de diferentes altos oficiais. Isaías profetizou que alguns dos
partes do império também eram exibidos. descendentes de Ezequias seriam eunucos no
Embora fosse aberto ao público, era proi- palácio do rei de Babilônia (Is 39:7). Alguns
bida a entrada de "pessoas más", de acordo acham que Daniel e seus companheiros se
com uma inscrição da época. Não é impos- incluíam nessa profecia. Daniel, contudo,
sível que muitos tesouros de Jerusalém, é chamado de gebar, "homem" (Dn 5:11).
principalmente do tesouro real, es tivessem A palavra é usada 17 vezes no livro, sendo
armazenados nesse museu, sendo vistos por que dez vezes se refere a Daniel e seus ami-
muitos visitantes. gos, seis a outros oficiais do reino e uma
3. Aspenaz. Este nome ocorre em tex- a "homens m ais poderosos do exército"
tos cuneiformes de Nippur, do 5° século a.C., (Dn 3:20).
numa forma um pouco diferente, Ashpa- Israel. Depois da destruição de Samaria
zanda, mas em textos aramaicos de encanta- em 723/722 a.C., quando as dez tribos do
mento, também de Nippur, na forma Aspenaz. norte deixaram de existir como uma naç ão
Embora o significado ainda seja obscuro, separada, o reino de Judá permaneceu como
crê-se que o nome indique origem persa. o único representante dos descendentes de
É possível que este alto oficial fosse persa. Jacó ou Israel. Portanto, o nome Israel é
Muitos estrangeiros alcançaram cargos ele- empregado com frequência durante o exí-
vados e honra a serviço dos caldeus. lio e no período pós-exílico para designar os <4 ~
Chefe dos seus eunucos. O título representantes do reino do sul (ver Ez 14:1 ;
heb. rah-saris, "chefe dos eunucos", tam- 17:2; Ed 3:1, ll ; etc.).
bém ocorre num texto aramaico , escrito Linhagem real. Quando tomou Jeru-
em 682 a.C. Em inscrições babilônicas, salém, em 605 a.C., Nabucodonosor levou
encontra-se como equivalente o título rab reféns da casa real de Judá bem como d as
sha reshi, literalmente, "o chefe do que está principais famílias da nação. Era um antigo
sobre a cabeça [do rei]". O título aplicava-se costume dos conquistadores tomar nobres
ao homem de confiança do rei. como reféns para garantir a lealdade do ini-
Muitos discutem se o termo saris era migo conquistado. A prática é relatada nos
usado para designar apenas oficiais que registros de Tutmés III , do Egito, que, após
eram eunucos no sentido literal da palavra, derrotar uma aliança entre governantes
isto é, castrados, ou se era usado de forma sírios e palestinos na batalha de Megido, no
geral para designar todo oficial real. Não se século 15 a.C., permitiu que os reis derro-
pode dar uma resposta categórica à questão. tados permanecessem em seus tronos, mas
Contudo, representações pictóricas assírias levou para o Egito um príncipe de cada um
da vida na corte indicam com clareza, ao se de seus inimigos vencidos. No Egito, eles
demonstrar uma diferença nos traços faciais, eram educados segundo o modo de vida

833
1:4 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

egípcio e, quando um dos reis da Palestina exatas, como matemática, embora incluís-
ou da Síria morria, um dos filhos do morto, sem magia e astrologia em suas atividades.
educado no Egito e simpatizante do faraó , Comentaristas se dividem quanto à inter-
era posto no trono. pretação da frase "a cultura e a língua dos
Nobres. Do heb. partemim, um emprés- caldeus". A opinião mais antiga , dos pais da
timo do antigo termo persa fratama, que signi- igreja, interpreta essa frase como um estudo
fica basicamente "principais". Além desta da língua e da literatura aramaica , ao passo
passagem, partemim ocorre na Bíblia somente que muitos comentaristas modernos ten-
em Ester 1:3; e 6:9. A presença desse e de dem a interpretá-la como o conhecimento
outros empréstimos da língua persa, no livro científico e linguístico dos caldeus. Todos os
de Daniel, pode ser explicada pela razoá- conhecidos escritos científicos dessa época
vel suposição de que o primeiro capítulo de foram feitos em tabletes de barro com escrita
Daniel tenha sido escrito no primeiro ano cuneiforme, na língua babilônica. Portanto,
de Ciro, quando a influência persa se tor- deve-se concluir que "a cultura e a língua dos
nou forte (ver Dn 1:21). caldeus" incluía um treinamento na língua e
4. Jovens. Do heb. yeladim. Os jovens na escrita clássica do país, isto é, no idioma
conselheiros levados com o rei Roboão são babilônico e na escrita cuneiforme, além do
chamados de yeladim (lRs 12:8). O mesmo aram aico coloquial. Visto que a proficiência
termo é aplicado a Benjamim, com a idade de na escrita cuneiforme, com suas centenas
cerca de 30 anos, pouco antes de ir ao Egito, de caracteres, não era fácil de se obter, uma
e quando já era pai de lO filhos (Gn 44:20; boa bagagem educacional e habilidade natu-
cf. Gn 46:21). Portanto, não é estranho ver ral para o aprendizado de um novo idioma
a palavra que pode significar "criança" ser eram considerados pré-requisitos desejáveis
aplicada a jovens, dos quais pelo menos um, para a admissão na escola real de futuros
Daniel, tinha atingido a idade de 18 anos cortesãos (ver PR, 480).
(T4, 570). Com relação a isso, deve-se men- 5. Determinou-lhes. Como membros
cionar que, numa época posterior, Xenofonte da escola real para cortesãos, os jovens se
disse que nenhum jovem podia entrar no alimentavam da casa real. O costume é
serviço dos reis persas antes dos 17 anos atestado no período persa posterior, de cuja
(Cyropaedia, i.2). época há mais registros do que do período
Nenhum defeito. Integridade física e neobabilônico.
beleza eram indispensáveis aos oficiais de Ração [...] das finas iguarias. Do
cargo elevado entre os antigos orientais, e são heb. pathbag, um empréstimo do antigo
qualidades bastante desej adas no moderno termo persa patibaga, "porção" ou "manja-
Oriente. res". Pathbag ocorre seis vezes em Daniel (ver
Caldeus. Es te termo (do acadiano , 1:5, 8, 13 , 15, 16; 11:26; sobre tais emprésti-
Kaldu) designa os membros de uma tribo de mos linguísticos, ver com. de Dn 1: 3).
arameus que, primeiramente, se estabelece- Três anos. Isto é, pelo cálculo inclu-
ram na baixa Mesopotâmia e que assumiram sivo (ver vol. 2, p. 104, 105), a partir do ano
o governo de Babilônia quando Nabopolassar da ascensão de Nabucodonosor, quando
fundou a dinastia neobabilônica. O termo Daniel foi levado cativo (ver com. do v. 1),
também se aplica a uma classe de erudi- ao segundo ano do reinado do monarca (ver
tos na corte babilônica que eram os prin- com. do v. 18).
cipais astrônomos da época. Esses sábios 6. Entre eles. Esta expressão mostra
também eram proficientes em ciências que outros jovens foram selecionados para o

834
DANIEL 1:7

treinamento além dos quatro mencionados na corte babilônica, um costume que tem
por nome. Sem dúvida, esses quatro foram muitos paralelos n a história bíblica. José
mencionados devido a sua experiência sin- recebeu um nome egípcio quando iniciou
gular. Sua lealdade inabalável a Deus lhes sua carreira na corte do Egito (Gn 41 :45).
concedeu grandes recompensas em forma O nome de Hadassa foi mud ado para Ester
de honra secular e bênçãos espirituais (ver (Et 2:7), provavelmente ao se tornar rainha.
Dn 2:49; 3:30; 6:2; 10:11). Também se verifica esse costume entre os
Daniel. Isto é, "Deus é meu juiz". No babilônios, em fontes antigas. O rei assírio
AT, este nome ocorre pela primeira vez como Tiglate-Pileser III adotou o nome Pulu (o Pu!
um dos filhos de Davi (ICr 3:1) e depois bíblico) quando se tornou rei de Babilônia
como um sacerdote no 5° século (Ed 8:2; (ver com. de lCr 5:26; vervol. 2, p. 125, 126),
Ne 10:6). Contudo, já era conhecido em uga- e Salmaneser V parece ter usado o nome
rítico (Ras Shamra) , em meados do segundo Ululai no mesmo cargo.
milênio a.C., como nome de um rei lendário, Beltessazar. A transliteração hebraica
justo, a quem alguns eruditos erroneamente e aramaica representa a pronunciação mas-
identificaram com o Daniel mencionado por sorética posterior de um nome babilônico.
Ezequiel (ver Ez 14:14; 28:3). O nome Daniel Embora eruditos tenham proposto várias
era comum entre o povo semita. Isso é evi- identificações com form as babilônicas,
dente por ser encontrado entre os babilônios, nenhuma é totalmente satisfatória. Em vista
sabeus do sul da Arábia, nabateus (os suces- do comentário de Nabucodonosor, muitos
sores dos edomitas) e entre os palmirenes do anos depois, de que o nome babilônico de
norte da Arábia. Daniel foi dado "segundo o nome do meu
Hananias. Ou, "Yahweh é misericor- deus" (Dn 4:8), parece que a primeira sílaba
dioso". Hananias era um nome hebraico "Bel" se refira a Bel, o nome popular do prin-
comum; pelo m enos 14 pessoas com este cipal deus de Babilônia, Marduque. Por essa
nome são mencionadas no AT. O nome tam- razão, a identificação com Balât-shmTi-utsur,
bém se encontra na transliteração acadiana "proteja a vida do rei ", ou Balâtsu-utsur, "pro-
Hananiyama, como nome de um judeu que teja a vida dele", deve ser rejeitada, embora
viveu em Nippur, no 5° século a.C. Em outro ambas as interpretações encontrem apoio
documento cuneiforme de Nippur, o nome entre assiriólogos como o equivalente mais
está gravado em argila, com caracteres ara- próximo da forma hebraica. A sugestão de
maicos. Também é encontrado em inscrições R. O. Wilson de identificar Beltessazar com
judaicas posteriores e nos papiros aramaicos Bêl-lit-shar-utsur, "Bel, proteja o refém do
de Elefantina. rei", dificilmente estaria correta, sendo pouco
Misael. Provavelmente o significado provável que os babilônios tenham dado tal
deste nome seja "quem pertence a Deus?" nome a um cativo, como se deduziria dos
É o nome de vários personagens bíblicos de milhares de nomes babilônicos encontrados
antes e depois do exílio (ver Êx 6:22; Ne 8:4). em documentos cuneiformes. A melhor iden-
Azarias. Ou, "Yahweh ajuda". O nome tificação parece ainda ser a dada por Franz
ocorre na Bíblia com frequ ência. Fora da Delitzsch que considera esse nome uma
Bíblia é encontrado inscrito em jarros de abreviação de Bêl-balâtsu-utsur, "Bel proteja
mão escavados na Palestina e também em a vida do rei". ~~
documentos cuneiformes na forma Azriau. Sadraque. O nome não tem significado
7. Outros nomes. Os nomes dados em babilônico. Alguns eruditos conjecturam
aos jovens hebreus significavam sua adoção que o nome seja uma alteração de Marduque,

835
1:8 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

ao passo que outros tentam explicá-lo com a se os que lhe foram confiados se enfraque-
ajuda de palavras do idioma sumério. lrving cessem fisicamente.
L. Jensen sugeriu que este era o nome do 11. Cozinheiro-chefe. Do heb. meltsar,
deus elamita Shutruk, mas é difícil expli- que, de acordo com registros cuneiformes
car por que os babilônios teriam dado um babilônicos, deriva do acadiano matsaru, que
nome elamita. significa "guardião" ou "defensor". O artigo
Mesaque. Não há explicação satisfa- "o" no hebraico indica que não se trata de
tória quanto à origem deste nome. Como um nome próprio. Portanto, não se sabe
Sadraque, Mesaque não é um nome o nome do oficial subalterno que foi tutor
babilônico. imediato dos jovens hebreus. Embora tivesse
Abede-Nego. Em geral se concorda que sido amigável e simpático para com Daniel,
este nome corresponde a 'Ebed-Nebo, "servo Aspenaz, contudo, hesitou em ajudar o jovem
do deus Nabu", um nome que se encontra cativo. Então, Daniel procurou o oficial que
num papiro aramaico encontrado no Egito. era seu tutor imediato e lhe fez um pedido
8. Não contaminar-se. Há várias razões específico.
por que um judeu piedoso evitaria comer da 12. Dez dias. Este parece ser um período
comida real: (1) os babilônios, como outras curto para se produzir alguma mudança visí-
nações pagãs, comiam carnes imundas (ver vel na aparência e no vigor físico. Mas, graças
CRA, 30); (2) os animais não eram mortos a hábitos de estrita temperança, Daniel e seus
de forma apropriada segundo a lei levítica companheiros já tinham uma aparência sau-
(Lv 17:14, 15); (3) uma porção dos animais dável (ver PR, 482) resultante dos benefícios
era oferecida primeiramente como sacrifício de dieta adequada. Sua recuperação dos rigo-
a deuses pagãos (ver At 15:29); (4) o consumo res da longa marcha desde a Judeia foi, sem
abundante de alimento e bebida insalubres dúvida, mais notável do que a de outros cati-
era contrário aos princípios de estrita tempe- vos que não cultivavam hábitos saudáveis. No
rança; e (5) Daniel e seus amigos desejavam caso de Daniel e de seus três companheiros,
uma alimentação isenta de carne (ver Ellen o poder divino se uniu ao esforço humano ,
G. White, Material Suplementar sobre Dn e o resultado era perceptível (c f. PP, 214).
1:8). Os jovens hebreus se determinaram a A bênção de Deus acompanhou a nobre reso-
não fazer nada que pudesse ser prejudicial ao lução dos jovens de não se contaminar com as
desenvolvimento físico, mental e espiritual. iguarias do rei. Eles sabiam que a indulgência
9. Misericórdia. Isto lembra a experiên- para com alimentos e bebidas estimulantes
cia de José (Gn 39:4, 21), de Esdras (Ed 7:28) os impediria de assegurar pleno desenvolvi-
e de Neemias (Ne 2:8). Sem dúvida, a gen- mento físico e mental. O cozinheiro-chefe
tileza, cortesia e fidelidade demonstradas "supunha que um regime de abstenção tornaria
por esses homens ganharam o favor de seus esses jovens pálidos, de aparência doentia [... ],
superiores (ver PP, 217; CRA, 31). Ao mesmo ao passo que a alimentação [... ] da mesa do rei
tempo, eles atribuíram seu sucesso às bên- os tornaria corados e belos, dando-lhes capaci-
çãos de Deus. O Senhor trabalha com quem dade física superior" (CRA, 31), mas se sur-
coopera com Ele (ver p. 825, 826). preendeu quando viu que os resultados eram
1 O. Em perigo a minha cabeça. contrários às suas suposições.
A frase, literalmente, é "tornais minha cabeça Deus honrou esses jovens por causa de
punível com o rei". A expressão não implica seu firme propósito de fazer o que era certo.
a pena capital, mas simplesmente que o Para eles, a aprovação de Deus era mais esti-
chefe dos eunucos seria responsabilizado mada do que o favor do homem mais poderoso

836
DANIEL l: 17

da terra; mais estimada mesmo que a própria dos caldeus sem adotar os elementos pagãos
vida (ver CRA, 31). Essa firme resolução não mesclados com as mesmas.
nasceu com a pressão das circunstâncias Entre as razões pelas quais os hebreus
~ -- imediatas. Desde a infância, esses jovens preservaram a fé imaculada , podem-se notar
foram treinados com hábitos de estrita tem- as seguintes: (l) Firme resolução em per-
perança. Eles conheciam os efeitos degene- manecer fiéis a Deus. Eles tinham m ais
rativos de uma dieta estimulante, e havia que desejo ou esperança de serem bons.
muito tinham se determinado a não debilitar Tinham vontade de fa zer o que é correto e
as faculdades físicas e mentais pela indulgên- se desviar do mal. A vitória é possível apenas
cia no apetite. No final desse período, eles mediante o correto exercício da vontade (ver
tinham aparência, habilidade física e vigor CC, 48). (2) Dependência do poder de Deus .
mental superiores. Embora valorizassem a capacidade humana
Daniel não recusou as iguarias do rei a e reconhecessem a necessidade de esforço,
fim de parecer diferente. Muitos conside- eles sabiam que essas coisas por si só não
rariam que, sob tais circunstâncias, havia garantiriam o êxito. Reconheciam que, além
motivos plausíveis para se abandonar a disso, deve haver humilde dependência e
adesão estrita aos princípios e que Daniel total confiança no poder de Deus (ver CRA,
tinha mente estreita, era fanático e dema- 154). (3) Cultivo da natureza espiritual e
siado meticuloso. Daniel buscou viver em moral e negação da indulgência com o ape-
paz com todos e cooperar com seus superio- tite. Eles sabiam que pôr de lado os princí-
res contanto que isso não exigisse sacrificar pios uma só vez enfraqueceria o senso do
princípios. Estava disposto a abrir de mão de que é certo e errado, que por sua vez, prova-
honras mundanas, poder, posição e mesmo velmente, os levaria a cometer outros erros
da própria vida se estivesse em jogo a leal- e, ao final, à apostasia completa (ver CRA,
dade a Yahweh. 155). (4) Vida de constante oração. Daniel
Legumes. Do heb. zero'im, "alimento e seus amigos perceberam que a oração era
derivado de plantas", como cereais e vege- uma necessidade, principalmente devido à
tais. De acordo com a tradição judaica, fru- atmosfera maligna que continuamente os
tas vermelhas e tâmaras também se incluíam cercava (ver San, 20).
neste termo. Visto que tâmaras são parte da Visões e sonhos. Daniel e seus amigos
dieta básica na Mesopotâmia, é provável que foram dotados de qualidades mentais excep-
estivessem incluídas (ver com. do v. 8). cionais e compartilhavam a mesma lealdade
17. Estes quatro jovens. Ver com. do v. 4. a Deus. Mas ele foi escolhido como o me n-
O conhecimento e a inteligência. sageiro especial do Céu. Eruditos moder-
A instrução que Daniel e seus três amigos nos que negam o dom de profecia sugerem
receberam foi também um teste de fé . O saber que este versículo indica que Daniel tinha
dos caldeus estava aliado a práticas idóla- um dom especial para aprender o modo cal-
tras e pagãs, e misturava ciência com magia, deu de interpretar sonhos e visões e que , em
conhecimento com superstição. Os aprendi- concursos sobre o tema, ele superou os cole-
zes hebreus se mantiveram distante dessas gas. Daniel não pertencia a essa classe de
coisas. Não se sabe como evitaram conflitos; intérpretes de sonhos. Seu dom profé tico
\
mas, apesar das influências más, eles se ape- \ não era produto de um treinamento bem -
garam à fé de seus pais, como demonstram ' sucedido na escola dos adivinhos, feiticeiros
claramente os eventos posteriores. Os quatro e magos da corte. Ele foi chamado por D eus
jovens aprenderam as habilidades e ciências para realizar uma obra especial e se tornou

837
1:18 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

o receptor de algumas das m ais importantes A aplicação do antigo método d e cál-


profecias de todos os tempos (ver Dn 7-12). culo inclusivo, que é atestado em vários
18. Vencido o tempo determinado. casos como o modo comum de se contar o
Alguns expositores creem que, quando o tempo (ver vol. 2, p. 120, 121), desfaz a ale-
rei exigiu que os sábios interpretassem seu gação de alguns comentaristas modernos
sonho no segundo ano de seu reinado (Dn de que o cap. 1 contradiz cronologicamente
2: 1), Daniel não foi chamado porque seu o cap. 2. Por exemplo, Jerônimo declaro u
treinamento ainda não estava concluído. que o segundo ano de Daniel 2:1 se refere
Ele e seus amigos teriam sido condenados ao segundo ano após a conquista do Egito;
à mesma sorte dos sábios porque perten- e o erudito judeu Ibn Esdras pensava que
ciam à profissão, embora ainda não fossem fosse o segundo ano após a destruição de
membros dela. Essa hipótese, porém, não Jerusalém. Mais tarde, alguns conjectura-
está corre ta. Os jovens aprendizes deveriam ram que Nabucodonosor reinou com seu pai
ser treinados por três anos a fim de assistir por dois anos (ver vol. 3, p. 80).
;:ê ~ diante do rei (Dn 1:5); ao fim desses dias, 19. Falou com eles. Quando, ao final do
eram levados diante do rei para serem ava- período de treinamento, o chefe dos eunucos
liados. Então "passaram a assistir diante apresentou seus alunos ao rei, um exame
do rei" (ver com. do v. 19) . Essa declaração realizado pessoalmente por Nabucodonosor
indica que o período de três anos de trei- provou que os quatro jovens hebreus eram
namen to terminou antes de o rei os exami- superiores a todos os outros. "Em força e
nar e os achar melhores do que os outros beleza física, em vigor mental e dotes literá-
candidatos. Dificilmente isso poderia ter rios, não tinham rival" (PR, 485 ). Não se diz
acontecido depois que um deles, D aniel, como foi o exame. Por meio de uma descri-
já tivesse recebido altas honras e sido pro- ção posterior das habilidades de Daniel, feita
movido a governador da província e super- pela mãe de Belsazar, que provavelmente era
visor de todos os sábios, e d epois de os filha de Nabucodonosor, sabe-se que Daniel
outros três terem recebido cargos impor- era conhecido como um homem capaz de
tantes (Dn 2:46-49). A sequência lógica e "declaração de enigmas e solução de casos
a ordem da narrativa indicam que o curso difíceis" (Dn 5:12). As perguntas feitas a eles
de três anos de Daniel já havia terminado podem ter incluído explicação de enigmas,
antes do sonho de Nabucodonosor, em seu que era diversão favorita nas cortes do antigo
segundo ano de reinado. Oriente. O exame também pode ter incluído
Tudo isso leva à conclusão de que esse não a solução de problemas matemáticos e astro-
era um período de 36 meses, mas que devem nômicos, matérias em que os babilônios eram
ser contados de forma inclusiva. Eles repre- mestres, conforme revelam os documentos,
sentam (1) o ano em que Nabucodonosor ou uma demonstração da habilidade de ler e
subiu ao trono (ver com. do v. 2), quando os escrever a difícil escrita cuneiforme.
hebreus cativos chegaram a Babilônia e come- A sabedoria superior de Daniel e de seus
çaram o treinamento; (2) o primeiro ano de companheiros não era resultado de sorte ou
Nabucodonosor, o ano calendário que come- destino, ou mesmo de um milagre, como em
çou no primeiro dia do ano novo seguinte geral se entende. Os jovens se aplicaram com
à sua ascensão; e (3) o segundo ano de diligência e consciência aos estudos, e D eus
Nabucodonosor, quando Daniel terminou seu abençoou os esforços deles. O verdadeiro
treinamento e esteve "diante do rei", e o ano em êxito em qualquer empreendimento é asse-
que interpretou o sonho (ver Dn 2:1; e PR, 491). gurado quando se combina esforço humano

838
DANIEL 1:20

com o divino . O esforço humano por si só de necessariamente familiarizado com termos


n ada vale, e o poder divino não torna desne- técnicos egípcios. Daniel conhecia bem os
cessária a cooperação humana (ver PR, 486, livros de Moisés e era um estudante ávido
487; cf. PP, 214). dos escritos sagrados de seu povo (ver Dn
Entre todos. Isto pode ser uma referên- 9:2). O uso deste termo hebraico, empres-
cia aos outros jovens israelitas (v. 3) levados tado do egíp cio, ilustra como o estilo do
a Babilônia com Daniel e seus amigos, mas, profeta e sua escolha das palavras eram
sem dúvida, também aos jovens nobres cati- influenciados pelo vocabulário da Bíblia
vos de outras terras que receberam o mesmo hebraica então disponível.
treinamento que os hebreus. Encantadores. Do heb. 'ashafim, um
Passaram a assistir diante do rei. empréstimo do acadiano ashipu, "exorcista".
Comparar com v. 5; e 2:2. Isto é, ingressaram Adivinhação, magia, exorcismo e astrolo-
no serviço real. A expressão é comum no AT gia eram comuns entre os povos antigos; mas,
(ver Gn 41:46; 1Sm 16:21, 22; 2Cr 9:7; 10:6, em alguns lugares como Babilônia, eram pra-
8; cf. Nm 16:9; 27:21; Dt 10:8; 2Cr 29:11). ticados por homens da ciência. Previam-se
20. De sabedoria e de inteligência. eventos futuros buscando por sinais nas
Literalmente, "sabedoria de entendimento". entranhas de animais sacrificados ou no
Como a maior parte das versões, a ARA voo dos pássaros. Praticava-se a adivinha-
insere um "e" entre os dois substantivos. ção inspecionando- se o fígado de animais
Algun s comentaristas explicam a constru- sacrificados (hepatoscopia), e comparando-
ção hebraica como resultado da intenção do o com fígados "modelos" de argila com ins-
autor de expressar a mais elevada form a de crições. Esses modelos, como os m anuais
inteligência ou ciência, ou de transmitir aos modernos de quiromancia, continham expli-
leitores a ideia de que se tratava de sabedo- cações detalhadas das diferenças de form as e
~ ~~- ria determinada ou regulada pela inteligên- instruções para interpretação. Vários mode-
cia. Isto é, não havia conhecimento mágico los de fígado de argila foram encontrados em
ou ciência sobrenatural. Isso sugeriria que escavações na Mesopotâmia. Antigos adi-
Daniel e seus amigos superaram os homens vinhos tinham muitos métodos. Algumas
de sua profissão em questões de ciências exa- vezes, buscavam conselho derramando óleo
tas , como astronomia e m atemática, e em na água e interpretando a forma como se
estudos linguísticos. Eles tinham domínio da espalhava (lecanomancia), ou sacudindo fle-
escrita cuneiforme, dos idiomas babilônico chas na aljava e observando a direção em que
e aramaico e da escrita quadrada aramaica. caía a primeira (beloma ncia; ver Ez 21:21) .
Magos. Do heb. chartummim, palavra O adivinho interpretava sonhos e inven-
que ocorre apenas no Pentateuco (Gn 41:8, tava fórmul as de encantamento pelas quais
24; Êx 7:11, 22; 8:7, 18) e em Daniel (aqui e se acreditava ser possível afastar espíri-
em 2:2). É um empréstimo do termo egípcio tos maus ou enfermidades. Também pedia
cheri-dem, no qual cheri significa "chefe" ou conselho aos supostos espíritos dos mor-
"homem importante", e dem, "mencionar um tos (necromancia) . Todo governante orien-
nome em magia". Portanto, um cheri-dem tal tinha muitos adivinhos e magos a seu
é um "chefe dos magos" ou "mago princi- serviço. Eles estavam disponíveis em toda
pal". A palavra não era usada em Babilônia ocasião e acompanhavam o rei em campa-
e não se encontra em fontes cuneiformes. nhas militares, expedições de caça e visitas
Com certeza Daniel aprendeu esse termo de estado. Buscava-se o conselho deles para
com a leitura do Pentateuco, e não estaria tomada de decisões, como a que rota seguir,

839
1:21 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

ou a data para se atacar o inimigo. A vida do Daniel 10:1 de que o profeta recebeu uma <C ~
rei era, em grande parte, orientada e gover- visão no terceiro ano de Ciro. O texto, no
nada por esses homens. entanto, não indica necessariamente que a
É um erro supor que os sábios de Babilônia vida de Daniel não se estendeu além do pri-
eram apenas adivinhos e magos. Embora fos- meiro ano de Ciro. Daniel pode ter se referido
sem habilidosos nessas artes, eram também a essa data por causa de eventos especiais
eruditos no verdadeiro sentido da palavra. ocorridos naquele ano. Alguns sugerem que
Assim como na Idade Média, a alquimia era o evento foi o decreto do primeiro ano do
praticada por pessoas instruídas, e a astrologia rei Ciro que marcou o fim do exílio babi-
era, com frequência, praticada por astrônomos lônico (2Cr 36:22, 23; Ed 1:1-4; 6:3). Esse
com habilidades científicas. Os encantado- decreto foi o cumprimento de uma impor-
res e adivinhos da Antiguidade se aplicavam tante profecia que Daniel estudara com aten-
também a estudos estritamente científicos. ção, a saber, a profecia de Jeremias, de que
Seu conhecimento astronômico tinha atingido o exílio duraria 70 anos (Jr 29:10; Dn 9:2).
um surpreendente nível de desenvolvimento, Daniel viveu no exílio desde o primeiro cati-
embora o ápice da astronomia babilônica tenha veiro, em 605 a.C. até o tempo em que o
se dado após a conquista persa. Os astrôno- decreto foi feito por Ciro, provavelmente
mos eram capazes de predizer eclipses lunares no verão de 537 a.C . (ver vol. 3, p. 86, 88).
e solares mediante cálculos. Sua habilidade Daniel pode ter desejado informar seus lei-
matemática era bastante desenvolvida. Eles tores que, embora tivesse sido levado no pri-
empregavam fórmulas cujo descobrimento em meiro cativeiro, ainda estava vivo na época
geral é atribuído erroneamente a matemáti- em que o exílio terminou, cerca de 70 anos
cos gregos. Além disso, eram bons arquitetos, depois. Além disso, parece lógica a conclusão
construtores e médicos. Eles encontravam por de que o cap. 1 e talvez alguns outros capítu-
meios empíricos a cura para muitos males. los não foram escritos até o primeiro ano de
Deve ter sido nessas áreas de conhecimento Ciro. Essa data explica o uso de empréstimos
e habilidade que Daniel e seus três amigos do idioma persa. Daniel, outra vez, ocupava
superaram os encantadores, astrólogos e eru- um cargo oficial, sob o domínio persa, pouco
ditos babilônios. depois da queda de Babilônia (Dn 6:1, 2), e o
21. Até ao primeiro ano. Alguns contato com oficiais persas, sem dúvida, lhe
comentaristas veem uma aparente contra- acrescentou ao vocabulário algumas palavras
dição entre este versículo e a declaração de persas usadas na composição de seu livro.

COMENTÁRIOS DE ELLEN G. WHITE

l-21- Ed, 54, 55; FEC, 5 - CRA, 29; PR, 481; Te, 35, 101, 151, 189,
77-81; PR, 479-490 T4, 570 237, 271; T4, 515, 570;
1, 2- PR, 422 6- PR, 480 T5, 448; T9, 157, 165
1-4- PR, 428 7 - PR, 481 8-12 - CS, 64; PR, 483
2 - Ed, 54; PR, 479 8- CRA, 28, 30, 154; CE, 9- PR, 546
3, 4- PR, 480 43; CG, 166; CS, 50, lO - San, 21
3-5- San, 18 65; CPPE, 478, 496; Ed, 12- CRA, 31; FEC, 79
3-6 - CBV, 148; PP, 592 54; FEC, 78, 86, 227; 12-20 - San, 22
4 - FEC, 77; PR, 484 MCH, 75, 120, 147, 15-17 - PR, 484
4, 5- Te, 271 254; MS, 276; San, 19; 15-20 - CS, 65; FEC, 80

840
DANIEL 2:1

17 - CRA, 31, 154; CS, 50, 17-20 - FEC, 193 MJ, 241; PR, 485
65; PJ, 357; CPPE, 456; 18-20- CS, 65 20 - CS, 50; FEC, 247,
FEC, 87, 225, 247, 339, 19 - CRA, 32; Te, 271 358, 374; MS , 276;Te,
358; MS, 89 19, 20- Ed, 55; MCH, 147; 191; T6, 220

CAPÍTULO 2
1 Nabucodonosor se esquece do sonho e ordena que os caldeus o relatem mediante
promessas e ameaças. 1O Ao reconhecerem sua incapacidade, eles são sentenciados
à morte. 14 Daniel ganha tempo e interpreta o sonho. 19 Ele louva a Deus.
24 Ao fazer deter o decreto, Daniel é levado ao rei. 31 O sonho.
36 A interpretação. 46 Daniel é promovido.

1 No segundo ano do reinado de Nabucodo- portanto, dizei-me o sonho, e saberei que me po-
nosor, teve este um sonho; o seu espírito se per- deis dar-lhe a interpretação.
turbou, e passou-se-lhe o sono. 1O Responderam os caldeus na presença do
2 Então, o rei mandou chamar os magos, os rei e disseram: Não há mortal sobre a terra que
encantadores, os feiticeiros e os caldeus, para que possa revelar o que o rei exige; pois jamais houve
declarassem ao rei quais lhe foram os sonhos; eles rei, por grande e poderoso que tivesse sido, que
vieram e se apresentaram diante do rei. exigisse semelhante coisa de algum mago , encan-
3 Disse-lhes o rei: Tive um sonho, e para tador ou caldeu.
sabê-lo está perturbado o meu espírito. 11 A coisa que o rei exige é difícil, e ninguém
4 Os caldeus disseram ao rei em aram aico : há que a possa revelar diante do rei, senão os deu-
Ó rei, vive eternamente! Dize o sonho a teus ses, e estes não moram com os homens.
servos, e daremos a interpretação. 12 Então, o rei muito se irou e enfureceu; e or-
5 Respondeu o rei e disse aos caldeus: Uma denou que matassem a todos os sábios da Babilônia.
~ ,.. coisa é certa: se não me fizerdes saber o sonho l3 Saiu o decreto, segundo o qual deviam ser
e a sua interpretação, sereis despedaçados, e as mortos os sábios ; e buscaram a Daniel e aos seus
vossas casas serão feitas monturo; companheiros, para que fossem mortos .
6 m as, se me declarardes o sonho e a sua in- 14 Então, Daniel falou, avisada e prudente-
terpretação, recebereis de mim dádivas , prêmios mente, a Arioque , chefe da guarda do rei, que
e grandes honras; portanto, declarai-me o sonho tinha saído para matar os sábios da Babilônia.
e a sua interpretação. 15 E disse a Arioque, encarregado do rei:
7 Responderam segunda vez e disseram: Por que é tão severo o mandado do rei? Então,
Diga o rei o sonho a seus servos, e lhe daremos Arioque explicou o caso a Daniel.
a interpretação. 16 Foi Daniel ter com o rei e lhe pediu
8 Tornou o rei e disse: Bem percebo que que- designasse o tempo, e ele revelaria ao rei a
reis ga nhar tempo, porque vedes que o que eu interpretação.
disse está resolvido, 17 Então, Daniel foi para casa e fe z saber
9 isto é: se não me fazeis saber o sonho, uma o caso a Hananias, Misael e Azarias, seus
só sentença será a vossa; pois combinas tes pala- companheiros,
vras mentirosas e perversas para as proferirdes 18 para que pedissem misericórdia ao Deus
na minha presença, até que se mude a situação; do céu sobre este mistério, a fim de que Daniel e

84 1
2: l COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

seus companheiros não perecessem com o resto se fizess e saber ao rei, e para que entendesses as
dos sábios da Babilônia. cogitações da tua mente.
19 Então, foi revelado o mistério a Daniel 31 Tu, ó rei, estavas vendo, e eis aqu! uma
numa visão de noite; Daniel bendisse o D eus grande estátua; esta, que era imensa e de extraor-
do céu. dinário esplendor, estava em pé diante de ti ; e a
20 Disse Daniel: Seja bendito o nome de sua aparência era terrível. ·~ ~
Deus, de eternidade a eternidade, porque dEle 32 A cabeça era de fino ouro, o peito e os bra-
é a sabedoria e o poder; ços, de prata, o ventre e os quadris, de bron ze;
21 é Ele quem muda o tempo e as estações, 33 as pernas , de ferro, os pés, em par):e, de
remove reis e estabelece reis; Ele dá sabedoria aos ferro, em parte, de barro.
sábios e entendimento aos inteligentes. 34 Quando estavas olhando, uma pedra foi
22 Ele revela o profundo e o escondido; cortada sem auxílio de mãos, fer iu a estátua nos
conhece o que está em trevas, e com Ele mora a luz. pés de ferro e de barro e os esmiuçou.
23 A ti , ó Deus de meus pais, eu Te rendo 35 Então, foi juntamente esmiuçado o ferro, o
graças e Te louvo, porque me deste sabedoria e barro, o bronze, a prata e o ouro, os quais se fize-
poder; e, agora, me fizeste saber o que Te pedi- ram como a palha das eiras no estio, e o vento os
mos, porque nos fi zeste saber este caso do rei. levou, e deles não se viram mais ves tígios. Mas
24 Por isso, Daniel foi ter com Arioque, ao a pedra que feriu a estátua se tornou em grande
qual o rei tinha constituído para exterminar os sá- montanha, que encheu toda a terra.
bios da Babilônia; entrou e lhe disse : Não mates 36 Este é o sonho; e também a sua interpre-
os sábios da Babilônia; introduze-me na presença tação diremos ao rei.
do rei, e revelarei ao rei a interpretação. 37 Tu, ó rei, rei de reis, a quem o Deus do
25 Então, Arioque depressa introduziu Daniel céu conferiu o reino, o poder, a força e a glória;
na presença do rei e lhe disse: Achei um dentre 38 a cujas mãos foram entregues os filhos dos
os filhos dos cativos de Judá, o qual revelará ao homens , onde quer que eles habitem, e os ani-
rei a interpretação . mais do campo e as aves do céu, para que domi -
26 Respondeu o rei e disse a Daniel, cujo nasses sobre todos eles, tu és a cabeça de ouro.
nome era Beltessazar: Podes tu fazer-me saber o 39 Depois de ti, se levantará outro reino, in-
que vi no sonho e a sua interpretação? ferior ao teu; e um terceiro reino, de bron ze, o
27 Respondeu Daniel na presença do rei e qual terá domínio sobre tod a a terra.
disse: O mistéri'o que o rei ex ige, nem encanta- 40 O qu arto reino será forte como ferro; pois
dores, nem magos nem astrólogos o podem re- o ferro a tudo quebra e esmiúça; como o ferro
velar ao rei; quebra todas as coisas, assim ele fará em peda-
28 mas h á um Deus no céu, o qual revela os ços e esmiuçará.
mistérios, poi s fez saber ao rei Nabucodonosor 41 Qu anto ao que viste dos pés e do s a rte-
o que há de ser nos últimos dias. O teu sonho e lhos , em parte, de barro de oleiro e, em parte ,
as visões da tua cabeça, quando estavas no te u de ferro , será esse um rei no div idido; contu-
leito, são estas : do, haverá ne le alguma cois a da firm eza do
29 Estando tu, ó rei, no te u leito, surgiram- ferro, poi s que viste o ferro mistura do com
te pensamentos a respeito do que há de ser de- barro de lodo.
pois disto. Aquele, pois , que revela mistérios te 42 Como os artelhos dos pés eram, em parte,
revelou o qu e há de ser. de ferro e, em parte, de barro, assim , por uma
30 E a mim me foi revelado este mistério, não parte , o reino será fort e e, por ou tra, será frágil.
porque haja em mim mais sabedoria do que em 43 Quanto ao que viste do ferro mistura-
todos os viventes, mas para que a interpretação do com barro de lodo , misturar-se-ão media nte

842
DANIEL 2:1

casamento, mas não se ligarão um ao outro, assim ordenou que lhe fizessem oferta de manjares e
como o ferro não se mistura com o barro. suaves perfumes.
44 Mas, nos dias destes reis, o Deus do céu 47 Disse o rei a Daniel: Certamente, o vosso
suscitará um reino que não será jamais destruído; Deus é o Deus dos deuses, e o Senhor dos reis ,
este reino não passará a outro povo; esmiuçará e o revelador de mistérios, pois pudeste revelar
e consumirá todos estes reinos, mas ele mesmo este mistério.
subsistirá para sempre, 48 Então, o rei engrandeceu a Daniel, e lhe
45 como viste que do monte foi cortada deu muitos e grandes presentes, e o pôs por go-
uma pedra, sem auxílio de mãos, e ela esmiu- vernador de toda a província da Babilônia, como
çou o ferro, o bronze, o barro, a prata e o ouro. também o fez chefe supremo de todos os sábios
O Grande Deus fez saber ao rei o que há de da Babilônia.
ser futuramente. Certo é o sonho, e fiel, a sua 49 A pedido de Daniel, constituiu o rei a
interpretação. Sadraque, Mesaque e Abede-Nego sobre os ne-
46 Então, o rei Nabucodonosor se inclinou, gócios da província da Babilônia; Daniel, porém,
e se prostrou rosto em terra perante Daniel, e permaneceu na corte do rei.

1. No segundo ano. Sobre a iden- O sonho tinha o objetivo de revelar a


tificação do segundo ano do reinado de N abucodonosor que o curso da história é tra-
Nabucodonosor e a explicação de como os çado pelo Altíssimo e está sujeito à Sua von-
três anos do treinamento de Daniel (Dn 1:5, tade. Mostrou-se a Nabucodonosor seu papel
18) se completaram antes do fim do segundo no grande plano celestial, para que pudesse
ano do rei, ver com. de Daniell:l8. ter a oportunidade de cooperar de forma efe-
Sonhos (ARC). Possivelmente o plural tiva com o plano divino.
tem o objetivo de descrever a série de inciden- As lições de história dadas a Nabuco-
tes no sonho. O singular ocorre nos v. 3, 4, 5, donosor foram designadas para instruir
6, etc. Os registros da antiga Mesopotâmia nações e pessoas até o fim dos tempos.
falam de. muitos sonhos de reis. Num des- Outros poderes depois de Babilônia rege-
ses, Gudea viu um homem com uma coroa ram os povos aO' longo dos séculos . Para cada
real sobre a cabeça cuja estatura ia da terra nação, Deus atribuiu um lugar especial em
ao céu. Os antigos consideravam os sonhos Seu grande plano. Quando governantes e
com temor, tratava-os como revelações de povos não aproveitaram sua oportunidade,
suas divindades, e buscavam descobrir sua sua glória foi abatida até o pó. As nações
verdadeira interpretação. hoje deveriam aprender das lições do pas-
O Senhor em Sua providência deu sado. Acima da cena inconstante da diplo-
esse sonho a N abucodonosor. Deus tinha macia internacional, o grande Deus do Céu
uma mensagem para o rei de Babilônia. está em Seu trono "executando paciente e
Havia representantes nos palácios de silenciosamente os conselhos de Sua própria
Nabucodonosor por meio dos quais Deus vontade" (PR, 500). Finalmente, a estabili-
podia comunicar o conhecimento de Si dade e a imutabilidade virão quando o pró-
mesmo. Deus não faz acepção de pessoas, prio Deus, no fim dos tempos, estabelecer
nem de nações. Seu objetivo é salvar a tan- Seu reino, que jamais será destruído (v. 44;
~ ~ tos quantos desejem, de qualquer tribo ou ver com. de Dn 4: 17).
nação. Ele queria salvar os antigos babilônios Deus Se aproximou do rei Nabuco-
tanto quanto desejava salvar Israel. donosor por meio de um sonho porque,

843
2:2 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

evidentemente, esse era o meio mais eficaz de 4. Aramaico. Do heb. 'ammith. A família
impressionar a mente dele com a importân- real e a classe governante do império eram
cia da mensagem transmitida, ganhar a con- caldeus do sul da Mesopotâmia e falavam
fiança e assegurar a cooperação dele. Como aramaico. Portanto, não é de se surpreen-
todos os povos antigos, Nabucodonosor acre- der que os cortesãos do rei falassem com ele
ditava que os sonhos eram um dos meios pe- em aramaico e não em babilônico, a língua
los quais os deuses revelavam sua vontade às da população nativa de Babilônia. Os ara-
pessoas. A sabedoria divina sempre busca os meus eram um ramo importante dos povos
seres humanos onde estão. Ao comunicar Sua semitas, e sua língua incluía muitos dialetos.
vontade às pessoas, Deus pode usar meios Deste versículo em diante até o final do
que sejam menos espetaculares, mas que ser- cap. 7, o registro está em aramaico e não em
vem igualmente para cumprir Seus propósi- hebraico como no restante do livro (sobre as
tos. Ele adapta Seu modo de trabalhar com razões para isso, ver p. 824, 825).
as pessoas à capacidade de cada indivíduo e Ó rei, vive eternamente! A fórmula
ao contexto em que vive (ver mais detalhes a babilônica encontrada em inscrições da
esse respeito no com. de Dn 4: lO). época diz mais ou menos assim: "Que Nabu
Seu espírito se perturbou. Ou, "estava e Marduque deem longos dias e anos eter-
perturbado". O verbo hebraico assim tradu- nos ao rei, meu senhor" (comparar com 1Sm
zido ocorre também em Gênesis 41:8 e no 10:24; 1Rs 1:3 1; Ne 2:3; Dn 3:9; 5:10; 6:21).
Salmo 77:4. O sonho impressionou sobrema- 5. O assunto me tem escapado
neira o rei Nabucodonosor. (ACF). Alguns traduzem a expressão como:
2. Magos. Do heb. charturmnim, um "a coisa está certa comigo" ou "uma coisa é
empréstimo do egípcio (ver com. de Dn 1:20). certa" (ARA). Essas traduções alternativas <t ~
Encantadores. Do heb. 'ashafim, um se baseiam na suposição de que o termo ara-
empréstimo do acadiano (ver com. de Dn 1:20). maico 'azda' seja um adjetivo em vez de verbo.
Feiticeiros. Do h eb. 1nelwshejim, de A tradução da ACF se fun damenta na LXX
uma raiz que significa "usar encantamen- e em Rashi [1040-1105, comentarista bíblico
tos". Os babilônios os chamavam pela palavra judeu], que traduz 'azda' como "foi". Qualquer
cognata hashapu. O melwshefim professava ser que seja o significado adotado não há dúvida
capaz de produzir feitiços (ver com. de Êx 7:11). sobre a incapacidade de Nabucodonosor de
A lei mosaica ordenava pena de morte sobre recordar os detalhes do sonho (ver com. do
os que praticavam magia negra (Lv 20:27; v. 3). O sonho foi tirado do rei propositada-
cf. 1Sm 28:9). mente, para que os sábios n ão lhe dessem
Caldeus. Do heb. Kasdim (ver com . de uma falsa interpretação (ver FEC , 412).
Dn 1:4). Despedaçados. Literalmente, "desmem-
3. Para sabê-lo. Embora o rei tivesse brados". Eles seriam cortados membro por
ficado impressionado com o son ho, quando membro (ver 2 Macabeus l:l 6; Josefo, Anti-
ele se despertou percebeu que lhe era impossí- guidades, xv.8.4). Tal crueldade era comum
vel recordar os detalhes (ver PR, 491 ). Alguns no mundo antigo. Os assírios e babilônios
sugeriram que Nabucodonosor não se esque- eram famosos pela severidade e barbaridade
ceu do sonho e que estava testando a habi- com que tratavam seus ofensores. Assurba-
lidade dos supostos sábios. Mas o rei parece nípal relata que cortava em pedaços gover-
preocupado demais em saber do sonho e de nantes rebeldes.
sua interpretação para usar a ocasião para Monturo. Do aramaico newali, termo
testar os que pretendiam ser seus intérpretes. que, devido à semelhança com uma raiz

844
DANIEL 2:13

acadiana, alguns interpretam como "ruí- humana, e que nenhum rei jamais tinha feito
nas". Outros dão a definição "estrumeira" ou tal pedido irracional a seus súditos .
"monte de lixo", e interpretam a frase como Rei, por grande e poderoso que
indicando que as casas seriam transforma- tivesse sido. "Grande rei ou Sumo rei" (ver
das em "latrinas" (ver 2Rs 10:27). A LXX não 2Rs 18:28) é um antigo título babilônico.
apoia nenhuma dessas interpretações, antes Expressões como "Grande Rei, Poderoso Rei,
diz: "suas casas serão destruídas". Rei da Assíria [ou de Babilônia]" são comuns
8. Ganhar tempo. Literalmente, "com- nas inscrições.
prar tempo". Os sábios estaval ganhando ll. Deuses. Alguns veem neste termo
tempo, e seus repetidos pedidos provocaram dois tipos de deuses. Sugerem que os sábios
a suspeita do rei de que estavam procurando declaravam ter comunicação com alguns
tirar algum proveito da demora. Não se sabe deuses, como divindades subordinadas que
se, neste ponto, ele já estava questionando mantinham suposto contato com os seres
seriamente a habilidade deles de lhe dar as humanos, mas que os deuses superiores
informações que pedia. Sua fé se fundamen- eram inacessíveis. De qualquer forma, os
tava na crença de que os deuses se comu- caldeus estavam revelando as limitações de
nicavam com as pessoas por meio de vários suas práticas.
canais representados por esses homens. Outros sugerem que o plural 'elalún, "deu-
A hesitação deles em cumprir de imediato ses", como o plural heb. 'elohim (ver vol. 1,
o seu pedido, em princípio, provocou a sus- p. 148, 149), podia ser usado para se referir
peita de que tinham conspirado para tomar a uma única divindade, e que, como outros
vantagem. Se o sonho continha a informação politeístas, os caldeus reconheciam uma
de uma atitude a ser tomada num momento divindade suprema. De qualquer modo, os
favorável, a demora resultaria em perdas trá- sábios foram sinceros em admitir que reco-
gicas. Algumas comunicações por meio de nheciam uma inteligência superior, alguma
adivinhações demandavam que ações fossem mente, ou mentes mestras, que tinha sabedo-
tomadas num momento preciso, como acon- ria mais elevada que os seres humanos. Essa
tecia numa conjunção específica de plane- confissão de fracasso forneceu uma exce-
tas. As expressões "ganhar tempo" e "até que lente oportunidade para Daniel revelar algo
se mude a situação" (v. 9) podem se referir a do poder de Deus ao qual servia e adorava.
tal suposto momento oportuno. 12. Ordenou que matassem. A seve-
9. Uma só sentença será a vossa. ridade da sentença não estava fora dos cos-
Literalmente, "vossa lei é uma". A palavra tumes da época. Contudo, era um passo
traduzida como "sentença" pode também ser temerário da parte do rei, porque os homens
"decreto" ou "penalidade". cuja morte tinha ordenado pertenciam à
Até que se mude a situação. Até que o classe instruída da sociedade.
rei esquecesse o assunto ou até que eles des- Babilônia. Possivelmente, apenas a
sem alguma resposta. "Situação", neste caso, cidade e não todo o reino de Babilônia.
também pode se referir ao momento favorá- 13. Buscaram a Daniel. O profeta
vel para levar a cabo a suposta comunicação e seus amigos não teriam sido procurados
com um deus (ver com. do v. 8). se ainda não fizessem parte do grupo dos
10. Não há mortal. Os caldeus se viram "sábios". Portanto, a opinião de que ainda
obrigados a reconhecer a incapacidade de estavam em treinamento não é correta (ver
revelar o sonho. Disseram ao rei que ele com. de Dn 1:18). O fato de terem concluído
estava pedindo algo além da possibilidade o treinamento havia pouco tempo é suficiente

845
2:14 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

para explicar por que não foram chamados vontade revelada (ver lJo 3:22). Tinham a
para interpretar o sonho. O monarca teria consciência de estar onde Deus queria que
chamado apenas os de mais experiência, estivessem e faziam a obra que o Céu dese-
representantes de todo o conhecimento de java. Se na experiência anterior tivessem
sua arte. O rei e os próprios sábios não cha- comprometido seus princípios e sucum-
maram Daniel e seus três amigos , assim bido às tentações que os rodeava na corte,
como médicos especialistas, diante de uma não poderiam ter esperado uma interven-
enfermidade do rei, também não consultam ção divina tão direta nesta crise . A experiên-
colegas inexperientes e recém-formados. cia deles contrastava-se com a do profeta de
É infundada a suposição de que o treina- Judá que, por sua desobediência, perdeu a
mento de Daniel incluísse cursos sobre exor- proteção divina (lRs 13:11-32; ver com. de
cismo e adivinhação (ver com. de Dn 1:20). 1Rs 13:24).
14. Prudentemente. Do aramaico te'em, 19. Visão de noite. Do aramaico chezu,
que também pode ser traduzido como "enten- parecido ao heb. chazon (ver com. de 1Sm
dimento" ou "discrição". Daniel demonstrou 3: 1).
tato ao buscar seu superior. Daniel bendisse. Ao receber a revela-
15. Severo. A LXX diz pihos, que signi- ção divina, a primeira atitude de Daniel foi
fica "amargo" ou "áspero". Alguns eruditos louvar o Revelador de segredos, um exem-
também atribuem esse significado ao ara- plo digno para todos que recebem bênçãos
maico, ao passo que outros insistem que o do Senhor (sobre o significado da expres-
original tem a ideia básica de urgência. são "bendisse o Deus", ver com. do Sl 63:4).
16. Designasse o tempo. Uma das coi- 20. O nome de Deus. A expressão é
sas que enfureceram o rei era que os sábios usada com frequência para denotar o ser, o
estavam tentando adiar a resposta (ver com. poder e a atividade de Deus. Na Bíblia, com
do v. 8). Obviamente o rei ainda estava per- frequência se usa o termo "nome" como sinô-
turbado com o sonho, e pode ter ficado feli z nimo de "caráter".
com a perspectiva de uma solução para o mis- Sabedoria. Aqueles que têm falta de
tério que lhe incomodava. Visto que Daniel sabedoria podem recebê-la de sua verdadeira
não tinha sido consultado previamente, o rei fonte, em resposta à oração com fé (Tg 1:5).
deve ter julgado justo dar-lhe uma oportuni- As jactanciosas pretensões dos babilônios
dade. Em seu contato prévio com esse jovem de que suas divindades possuíam sabedo-
judeu cativo, com certeza Nabucodonosor ria e discernimento se dem onstraram falsas.
tinha ficado impressionado positivamente Divindades pagãs continuamente desapon-
com a sinceridade e habilidade de Daniel. tam seus fiéis.
A fidelidade prévia de Daniel nas pequenas 21. É Ele. O pronome é enfático no ara-
coisas abriu as portas para as maiores. maico. O efeito pode ser mostrado no por-
Interpretação. A solicitação de Daniel tuguês com a tradução "é Ele quem muda".
diferia do pedido dos caldeus. Os sábios O tempo e as estações. As duas pala-
pediram que o rei lhes contasse o sonho. vras são quase sinônima s. A última pode se
Daniel pediu apenas tempo, e assegurou ao referir a um ponto mais específico no tempo,
rei que a interpretação seria dada. e a primeira parece enfatizar mais a ideia de
18. Para que pedissem misericórdia. um período.
Daniel e seus amigos podiam se aproximar Remove reis. Aqui se retrata a verda-
de Deus com fé e confiança porque, até onde deira filosofia da história. Reis e governan-
sabiam e podiam, eles viviam conforme Sua tes estão sob a direção e o controle de um <e ~

846
DANIEL 2:29

Poder todo-poderoso (ver Ed, 173; ver com. parte, ele tinha descoberto alguém que pode-
do v. I; 4:17). ria interpretar o sonho. Porém, Arioque tal-
Aos sábios. O Senhor Se alegra em con- vez não soubesse da entrevista de Daniel com
ceder sabedoria àqueles que a usarão com o rei (v. 16). Neste caso, sua declaração seria
prudência. Ele fez isso com Daniel, e o faz a a forma natural de anunciar a descoberta.
todo que confia plenamente nEle. 26. Beltessazar. Sobre o significado
22. Ele revela. Deus Se revela na natu- deste nome e a razão por que foi dado a
reza (Sll9), na experiência pessoal, por meio Daniel ver com. de Daniel 1:7. Na presença
do dom profético e de outros dons do Espírito de Nabucodonosor, Daniel naturalmente
(I Co 12), assim como de Sua palavra escrita. assumiu seu nome babilônico.
Profundo. Coisas além da compreensão 27. Nem encantadores. Daniel não
até que sejam reveladas. queria se exaltar acima dos sábios. Em vez
Trevas. Aquilo que o ser humano é inca- disso, seu objetivo era fazer com que o rei
paz de ver não está oculto à vista de Deus percebesse a futilidade de confiar no con-
(ver Sll39:12; IJo 1:5). selho e na ajuda desses sábios. Ele esperava
23. Eu Te rendo graças. O pronome é chamar a atenção do rei para o grande Deus
enfático no aramaico. O original diz: "A Ti, dos céus, o Deus a quem Daniel adorava, o
ó Deus de meus pais, dou graças." Deus dos hebreus, cujo povo tinha sido con-
O que Te pedimos. Embora o sonho quistado pelo rei.
tenha sido revelado a Daniel, ele não toma Nem magos. Ver com. de Dn 1:20.
todo o mérito para si, mas inclui seus com- Nem astrólogos. Do aramaico gazerin,
panheiros que oraram com ele. de uma raiz que significa "cortar", "deter-
24. Não mates os sábios. A primeira minar". Portanto, o significado geralmente
preocupação de Daniel foi rogar pelos sábios aceito é "os que decidem" ou "os que deter-
de Babilônia, para que a sentença de morte minam [o destino]". Esses astrólogos adivi-
sobre eles fosse anulada. Eles não tinham nhos acreditavam que podiam determinar o
feito nada para ganhar o indulto, mas foram futuro por meio da posição das estrelas, de
salvos por causa da presença de um justo vários artifícios de cálculos e adivinhação
em seu meio. Isso acontece com frequên- (ver com. de Dn 1:20).
cia. Os justos são "o sal da terra". Eles têm 28. Últimos dias. Ver com. de Is 2:2.
a qualidade de preservar. Devido à presença A mensagem do sonho era para instruir
de Paulo no navio, os marinheiros e todos a Nabucodonosor bem como os governantes
bordo foram salvos (At 27:24). Os ímpios não e o povo acerca do fim dos tempos (ver com.
sabem o quanto devem aos justos. Contudo, do v. I). O esboço da profecia nos conduz
com frequência os ímpios ridicularizam e desde os dias de Nabucodonosor (ver com.
perseguem aqueles a quem deveriam agra- do v. 29) até a segunda vinda de Cristo e
decer pela preservação de sua vida. o fim do mundo (ver com. dos v. 44, 45).
25. Depressa. Possivelmente, devido à Nabucodonosor anelava conhecer o futuro
alegria pelo fato de o segredo ter sido reve- (ver San, 34). Deus lhe revelou o que havia
lado. Ele seria poupado da sangrenta tarefa de acontecer, não para satisfazer sua curio-
de executar os sábios, missão para a qual sem sidade, mas para despertar em sua mente
dúvida não tinha ânimo. um sentido de responsabilidade pessoal para
Achei. Arioque parece atribuir a si com o plano celestial.
mérito indevido, pois sua declaração indica 29. Do que há de ser. No sonho, são des-
que, por meio de grandes esforços de sua critos acontecimentos futuros que começam

847
2:30 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

no tempo de Daniel e Nabucodonosor e se 35. Palha. Para a descrição de como se


estendem até o fim de todas as coisas. fazia a trilha nas antigas terras orientais, ver
30. Para que. Literalmente, "para que com. de Rt 3:2; e Mt 3:12. Visto que não se
façam saber ao rei a interpretação". A LXX atribui um significado particular à "palha"
dá um significado simples à passagem: "mas e ao "vento" que a leva embora (ver com. de
~ .. para que a interpretação fosse dada ao rei, Mt 13:3), é melhor considerá-los como sim-
para que tu possas saber os pensamentos de ples detalhes acrescentados para completar a
teu coração". cena (sobre a palha como ilustração comum,
31. Estátua. Do aramaico tselem, "uma ver com. do SI 1:4; cf. Mt 13:3; ver vol. 3,
estátua", que corresponde ao heb. tselem, que p. 1140).
também pode ser traduzido como "estátua". 36. Diremos. O plural pode indicar que
A ARA traduz o heb. tselem como "imagem" Daniel incluiu seus companheiros consigo.
12 vezes (como no SI 73:20), "imitações" duas Eles se uniram a Daniel em oração fervo-
vezes (como em 1Sm 6:11) e uma vez como rosa para que a interpretação fosse revelada,
"sombra" (Sl39:6), embora "estátua" seja uma e Daniel pode ter desejado reconhecer a par-
tradução adequada em vários casos (como ticipação deles (v. 17, 18).
2Rs 11:18; 2Cr 23:17; Am 5:26). 37. Rei de reis. Este mesmo título é
De extraordinário esplendor. Ou, como encontrado na inscrição do rei persa Aria-
na LXX, "cuja aparência era extraordinária". ramnes, contemporâneo de Nabucodonosor.
Terrível. A palavra ocorre novamente em O Deus do céu conferiu. Em suas
Daniel 7:7 e 19. inscrições, Nabucodonosor atribui seu êxito
32. Fino ouro. Isto é, "ouro puro". como rei a seu deus Marduque; mas Daniel,
Bronze. Ou, "cobre" (ver com. de 2Sm de forma cortês, corrige esse erro. Ele afirma
8:8; lRs 7:47). que é o Deus dos céus quem concedeu esse
33. Pernas. A palavra assim traduzida poder a ele.
parece se referir à parte inferior das pernas. O reino. O território que Nabucodonosor
A palavra traduzida como "coxas" (v. 32, governava tinha uma história longa e diver-
ARC) refere-se à parte superior dos quadris. sificada e estava sob domínio de diferen-
Com estas palavras não é possível saber com tes povos e reinos. Em Gênesis, a cidade de
precisão em que parte da perna se faz a tran- Babilônia fazia parte do reino fundado por
sição de bronze para ferro. Ninrode, o bisneto de Noé (Gn 10:8-10).
Barro. Do aramaico chasaf A partir Existiram várias cidades-estados nos vales do
de um exame dos idiomas cognatos, chasaf Tigre e do Eufrates em época muito antiga.
parece designar um vaso ou pedaço de barro, Mais tarde, alguns povos foram reunidos e
em vez de o barro em si do qual se formam formaram reinos sumérios. Depois do pri-
esses objetos. A palavra para "barro", do ara- meiro período de dominação de Sumer, sur-
maico tin, ocorre nos v. 41 e 43, em relação giu o reino de Acade, com seus grandes reis
a chasaf, e é traduzido como "barro de lodo". semitas, Sargão e Naram-Sin. Porém, esses
Portanto, parece melhor traduzir chasaf no semitas foram substituídos por diferentes
v. 33 como "barro de oleiro" ou "cerâmica", nações, como os guti, elamitas e sumérios.
em vez de simplesmente "barro". Eles, por sua vez, tiveram que dar lugar aos
34. Cortada. Ou, "tirada de uma semitas que fundaram o antigo império babi-
pedreira" ou "extraída". lônico, o qual floresceu na época dos últi-
Sem auxílio de mãos. Isto é, sem a par- mos patriarcas. Esse império amorreu, do
ticipação de agente humano. qual Hamurábi foi o rei mais importante,

848
DANIEL 2:38

chegou a incluir toda a Mesopotâmia e a se Tu és a cabeça. Nabucodonosor era a


expandir até a Síria, como o império aca- personificação do império neobabilônico. As
diano de Sargão. Mais tarde, a Mesopotâmia conquistas militares e o esplendor arquite-
foi tomada pelos hurritas e cassitas, e tônico de Babilônia se deviam, em grande
Babilônia se tornou menos importante do parte, a suas proezas.
que os poderosos impérios heteu e egípcio. De ouro. Usou-se ouro em abundância
Então, ao norte da Mesopotâmia surgiu para embelezar Babilônia. Heródoto descreve
outra potência, o império assírio, que outra com profusão de termos o resplendor do ouro
vez uniu a Mesopotâmia e a Ásia Ocidental nos templos sagrados da cidade. A imagem
ao Mediterrâneo. Após um período de do seu deus , seu trono, a mesa e o altar eram
domínio assírio, Babilônia se tornou nova- feitos de ouro (Heródoto, i.l81, 183; iii.1-7).
mente independente sob o domínio caldeu O profeta Jeremias compara Babilônia a uma
e voltou a assumir a liderança do mundo. taça de ouro (Jr 51:7). Plínio diz que as vestes
Nabopolassar (626-605 a.C.) foi o funda- dos sacerdotes eram entrelaçadas com ouro.
dor do chamado império caldeu ou neobabi- Nabucodonosor se destacava entre os reis
lônico, que teve seu período áureo nos dias da Antiguidade. Ele deixou a seus sucessores
:=.=: ~ de Nabucodonosor (605-562 a.C.) e durou um reino grande e próspero, como se pode
até a conquista de Babilônia pelos medos e notar pela seguinte inscrição:
persas, em 539 (ver vol. 2, p. 77-79; vol. 3, "[Desde] o mar Superior [até] o mar
p. 30-35). Inferior [uma linha destruída] [... ] que
38. Animais do campo. Ver Jr 27:6; Marduque, meu senhor, confiou a mim , fiz
28:14 cf. Gn 1:26. Uma repres entação ade- [... ] da cidade de Babilônia a principal entre
quada do domínio babilônico na época de todos os povos e todas as habitações huma-
Nabucodonosor. O modo como antigos reis nas; seu nome [fiz ou elevei] ao [mais digno]
incluíam o mundo animal em sua esfera de louvor entre as cidades sagradas. [... ] Os san-
domínio é ilustrado por uma declaração de tuários dos meus senhores Nebo e Marduque
Salmaneser III: "Ninurta e Palil, que amam (como um) sábio (governante) [... ] sempre."
m eu sacerdócio, me deram todos os ani- "Nesse tempo, o Líbano (La-ab-na-a-nu),
mais do campo." a montanha [de cedro], a frondosa floresta
A seguinte passagem da chamada inscri- de Marduque, cujo cheiro é doce, cujos altos
ção da "East India House" (Casa da Índia cedros, [seus] pro[dutos], outro deus [não
Oriental) é típica da evidência arqueológica desejou, que] outro rei não derru[bou] [.. .]
que confirma a descrição de Daniel sobre as meu nâbú Marduque [tinha desejado] como
conquistas de Nabucodonosor: enfeite adequado para o palácio do gover-
"Em seu [de Marduque] excelso serviço, nante do céu e da terra, (esse Líbano) sobre
percorri países distantes , montanhas remo- o qual um inimigo estrangeiro estava gover-
tas desde o mar Superior [Mediterrâneo] até nando e roubando sua riquezas - seu povo
o mar Inferior [golfo Pérsico], sendas íngre- foi espalhado, tinha fugido para uma distante
mes, caminhos obstruídos, por onde não se (região). (Confiando) no poder dos meus
pode passar, [onde] não há lugar para pôr o senhores Nebo e Marduque, organizei [meu
pé, [também] rotas não traçadas, [e] cami- exército] para u[ma expedição] ao Líbano.
nhos desérticos. Subjuguei o desobediente; Tornei feliz esse país ao erradicar seus inimi-
capturei os inimigos, estabeleci justiça na gos de todas as partes (literalmente, abaixo
terra; exaltei o povo; bani para longe do meu e acima). Todos seus habitantes espalhados
povo os maus." conduzi de volta a seus lugares (literalmente,

849
2:39 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

reuni e reinstalei). O que nenhum rei ante- "foi constituído rei sobre o reino dos caldeus"
rior fez (eu consegui): cortei íngremes mon- (Dn 9:1) não significa que havia um impé-
tanhas, parti rochas, abri passagens e (assim) rio medo independente depois do babilônico
construí uma estrada reta para o (transporte e antes de os persas assumirem o domínio
de) cedros . Fiz com que o Arahtu flutu[asse] (ver vol. 3, p. 33-41, 84-87). Dario, o medo,
e levasse a Marduque, meu rei , cedros pode- governou Babilônia com permissão do verda-
rosos, altos e fortes, de preciosa beleza e deiro conquistador, Ciro (ver Nota Adicional
excelente qualidade, a produção abundante a Daniel 6), como já sabia Daniel. O profeta
do Líbano, como (se fossem) caules de canas se refere repetidas vezes à nação que con-
(levados) pelo rio. Em Babilônia [armazenei] quistou Babilônia, a qual Dario representava,
madeira de amoreira. Fiz os habitantes do como os "medos e persas" (ver com. de Dn
Líbano viverem em segurança juntos e não 5:28; 6:8, 28), e descreve esse duplo impé-
deixei que ninguém os perturbasse. A fim de rio em outros lugares pelo uso de um só ani-
que ninguém [lhes] fizesse dano, erigi [ali] mal (ver com. de Dn 8:3, 4).
uma estela (mostrando) a mim (como) eterno A origem dos medos e persas não é
rei" (Ancient Near Eastern Texts, p. 307). clara, mas acredita-se que, por volta do ano
39. Outro reino, inferior. Como a 2000 a.C ., várias tribos arianas, conduzidas
prata é inferior ao ouro, o império medo- pelos madai (medos) começaram a migrar
persa seria inferior ao neobabilônico. do que é o atual sul da Rússia para o que,
Alguns comentaristas explicam que o mais tarde, tornou-se o norte da Pérsia, onde
termo "inferior" significa "m ais abaixo na surgiram, pela primeira vez na história, no
imagem" ou "abaixo". A expressão significa 9° século (ver com. de Gn 10:2; ver vol. 3,
corretamente "para baixo", "para a terra", p. 35, 36). Entre esses arianos estavam tam-
~ ~· mas, neste versículo, Daniel fala, n ão da bém os persas, que se estabeleceram nas
posição relativa dos metais, mas de nações. montanhas Zagros, na fronteira com Elão,
Ao se comparar os dois reinos, observa-se mais tarde, no 9° século a.C. Provavelmente
que embora o segundo incluísse mais territó- por volta de 675 a.C., seu governante se esta-
rio, foi certamente inferior em luxo e magni- beleceu como rei da cidade de Ansan. Ali, ele
ficência. Os conquistadores medos e persas e seus descendentes governaram em rela-
adotaram a cultura da complexa civiliza- tiva obscuridade. No começo do 6° século,
ção babilônica, pois a deles era bem menos eles eram vassalos do rei medo, e governa-
desenvolvida. vam um estado fronteiriço relativamente
Esse segundo reino da profecia de Daniel insignificante no grande império medo, que
é cham ado, às vezes, de império medo- se estendia desde a parte oriental da Ásia
persa porque começou como uma coli- Menor pelo norte e leste do império babilô-
gação da Média e da Pérsia. Ele incluía o nico (ver mapa na p. 448; ver vol. 3, p. 35, 36).
mais antigo império medo e as novas aquisi- Em 553 ou 550 a.C., Ciro, que tinha se
ções do conquistador persa Ciro. O segundo tornado rei da Pérsia como vassalo do impé-
reino não pode ser o império medo apenas, rio medo, derrotou Astíages, da Média.
como defendem alguns, para a Pérsia ser Assim os outrora subordinados persas se
o terceiro. O império medo era contempo- tornaram o poder dominante no que h avia
râneo do neobabilônico, não seu sucessor. sido o império medo. Visto que eram o poder
A Média foi conquistada por Ciro, o persa, dominante desde o tempo de Ciro, os per-
antes da queda de Babilônia. O fato de que, sas são mencionados como império persa.
após a morte de Belsazar, Dario, o medo, Mas o antigo prestígio da Média refletiu-se

850
DANIEL 2:39

na frase "medos e persas", aplicada aos con- Nabucodonosor (605-562 a.C .), como con-
quistadores de Babilônia nos dias de Daniel firmam registros escritos.
e mesmo depois (Et 1:19; etc.). A posição A Grécia estava dividida em pequenas
honrosa de Dario, o medo, após a conquista cidades-estados com um idioma comum,
de Babilônia, demonstra o respeito de Ciro mas com pouca ação unificada. Quando se
para com os medos, mesmo quando ele pró- pensa na Grécia antiga visualiza-se princi-
prio tinha realmente o poder (ver vol. 3, palmente a era áurea da civilização grega,
p. 36-38, 85, 86). sob a liderança de Atenas, no 5° século a.C.
Anos antes, sob inspiração divina, o pro- Esse florescimento da cultura grega aconte-
feta Isaías descreveu a obra de Ciro (Is 45:1). ceu após o período de maior esforço unido
Esse conquistador logo derrotou as tribos das cidades-estados autônomas: a exitosa
vizinhas e governou desde Ararate, ao norte, defesa da Grécia contra a Pérsia por volta da
até o sudeste de Babilônia e o golfo Pérsico, época da rainha Ester (sobre as guerras per-
no sul. Para completar seu império, ele der- sas, ver com. de Dn 11 :2; ver também vol. 3,
rotou o rico Creso, de Lídia, em 547 a.C., e p. 44-47).
tomou Babilônia por meio de uma estratégia, "Grécia" (Dn 8:21) não se refere às
em 539 a.C. (vervol. 3, p. 36-40). Ciro reco- cidades-estados autônomas da Grécia clás-
nheceu que o Senhor tinha lhe dado todos sica, mas ao reino macedônico posterior
esses reinos (2Cr 36:23; Ed 1:2; sobre pro- que conquistou a Pérsia. A Macedônia,
fecias a respeito desse império, ver com. de uma nação consanguínea situada ao norte
Dn 7:5; 8:3-7; 11:2). da Grécia propriamente dita, conquistou as
Um terceiro reino. O sucessor do cidades gregas e as incorporou pela pri-
império medo-persa foi o império "grego" meira vez a um estado forte e unificado.
(mais propriamente macedônio ou helenís- Alexandre o Grande, depois de ter herdado
tico), de Alexandre e seus sucessores (ver de seu pai o recém-expandido reino greco-
Dn 8:20, 21). macedônico, se pôs em marcha para esten-
A palavra hebraica para Grécia é Yawan der o domínio macedônico e a cultura grega
(]avã), que é o nome de um dos filhos de em direção ao Oriente, e venceu o impé-
Jafé. Javã é mencionado na genealogia ime- rio persa . A profecia representa o reino da
diatamente depois de Madai, o progenitor Grécia como vindo depois do da Pérsia,
dos medos (ver com. de Gn 10:2). Por volta porque a Grécia nunca se uniu para for-
da época em que os israelitas estavam se mar um reino até a fundação do império
estabelecendo em Canaã, essas tribos indo- macedônico, que substituiu a Pérsia como
europeias, mais tarde chamadas de gregos, o principal poder mundial daquela época
estavam migrando em ondas sucessivas para (sobre profecias paralelas, ver com. de
a região do mar Egeu (a Grécia continental, Dn 7:6; 8:5-8, 21 , 22; 11:2-4).
as ilhas e costas ocidentais da Ásia Menor), O último rei do império persa foi Dario III
conquistando ou expulsando os habitan- (Codomano), que foi derrotado por Alexandre
tes mediterrâneos anteriores. Esses deslo- nas batalhas de Grânico (334 a.C .), Isso (333
~ ... camentos estavam relacionados à migração a.C.) e Arbela ou Gaugamela (331 a.C.; sobre o
dos povos do mar (que incluíam os filisteus) à período de Alexandre e as monarquias helenís-
costa oriental do Mediterrâneo (ver vol. 2, ticas, ver com . de Dn 7:6; ver também o artigo
p. lO, 16, 17). Os gregos jônicos se encontra- "O Período lntertestamentário", no vol. 5).
vam no Egito, na época de Psamético (663- Bronze. Ver com. de 2Sm 8:8. Os solda-
610 a.C.), e em Babilônia, durante o reinado de dos gregos se distinguiam por suas armaduras

851
2:40 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

de bronze. Seus capacetes, escudos e macha- ondas sucessivas por volta da época em que
dinhas eram feitos de bronze. Heródoto outras tribos indoeuropeias se estabeleceram
conta que Psamético, do Egito, viu nos pira- na Grécia. Desde cerca do 8° até o 5° século,
tas invasores gregos o cumprimento de um a cidade-estado latina foi governada por reis
oráculo que predisse "homens de bronze que etruscos vizinhos. A civilização romana rece-
vêm do mar" (Heródoto, i.l52, 154). beu forte influência dos etruscos, que foram
Terá domínio sobre toda a terra. à Itália no 10° século, e principalmente dos
A história registra que o poder de Alexandre gregos, que chegaram dois séculos depois.
se estendeu sobre a Macedônia, Grécia e o Em cerca de 500 a.C., o estado romano
império persa, incluiu o Egito e se expan- se tornou uma república e permaneceu assim
diu pelo Oriente até a Índia. Foi o império por aproximadamente 500 anos. Por volta de
mais extenso do mundo antigo até aquela 265 a.C., toda a Itália estava sob controle
época. Seu domínio era "sobre toda a terra" romano. Por volta do ano 200 a.C., Roma ... ~
no sentido de que nenhum poder na terra se saiu vitoriosa da batalha com seu pode-
igualava a ele, e não porque incluísse todo o roso rival norte-africano Cartago (original-
mundo, ou mesmo o mundo que se conhe- mente uma colônia feníci a) . Desde então,
cia até então. Um "poder mundial" pode Roma dominou o mediterrâneo ocidental e
ser definido como aquele que está acima se tornou mais poderosa do que qualquer
de todos os demais , não necessariamente um dos estados do Oriente, embora ainda
porque governe o mundo todo. Declarações não os tivesse enfrentado. Daí em diante,
superlativas eram usadas comumente por Roma primeiro dominou e depois absorveu,
governantes da Antiguidade. Ciro se autode- um após outro, os três reinos que restaram
nominava "rei do mundo, [.. .] rei dos quatro dos sucessores de Alexandre (ver com. de
cantos do mundo". Xerxes se autodenomi- Dn 7:6) e, assim, tornou-se o poder mundial
nava "o grande rei, o rei dos reis, [... ] o rei seguinte, depois do império de Alexandre.
desse grande e vasto mundo". Esse quarto império foi o que mais durou e
40. O quarto reino. Esta não é a etapa o mais extenso dos quatro, sendo que, no 2°
posterior quando o império de Alexandre se século da era cristã, estendia-se desde a Grã-
dividiu, mas o império seguinte, que con- Bretanha até o Eufrates (sobre uma profecia
quistou o mundo macedônico. Daniel repre- paralela, ver com. de Dn 7:7).
senta as monarquias helenísticas, as divisões Esmiúça. Tudo o qu e foi possível
do império de Alexandre, por meio dos qua- reconstruir da história roma na confirma
tro chifres do bode que simboliza a Grécia essa descrição. Roma conquistou seu terri-
(Dn 8:22), não por um animal separado tório pela força ou pelo medo que inspirava
(comparar com as quatro cabeças do leo- seu poder armado. Em princípio, interveio
pardo; ver com. de Dn 7:6). em questões inte rnacionais numa luta por
Naturalmente, o reino que sucedeu sua sobrevivência contra seu rival, Cartago,
as divisões do império macedônico de e se viu envolvida em guerra após guerra.
Alexandre foi o que Edward Gibbon apro- Depois, esmagando um oponen te após
priadamente chamou de "monarquia de outro, finalm ente, tornou-se um conquis-
ferro" de Roma, embora não fosse uma tador agressivo e invencível do mundo medi-
monarquia no tempo e m que se tornou o terrâneo e da Europa Ocidental. No início
principal poder do mundo. Rom a foi fundada da era cristã e pouco depois, o poder de
muito antes da data tradicional de 753 a.C., ferro das legiões romanas respaldava a Fax
por tribos latinas que chegaram à Itália em Romana (paz romana). Roma e ra o maior

852
DANIEL 2:43

e mais forte império que o mundo havia mostra variações: "Os dedos dos pés certa
conhecido até então. parte de ferro e certa parte de barro, certa
41. Artelhos. Embora mencione os parte do reino será for te e desta [uma parte]
dedos dos pés, Daniel não chama atenção será quebrada. Porque viste o ferro misturado
específica para seu número. Ele diz que o com o barro, haverá mistura na semente dos
reino seria dividido (ver T1 , 361). Muitos homens, e não se fundirão este com aquele,
comentaristas defendem que os dedos dos assim como ferro não se mistura com barro."
pés, dos quais se presume que havia dez, cor- É difícil avaliar a autoridade da LXX; por
respondem aos dez chifres do quarto animal isso é impossível saber até que ponto as tra-
do cap. 7 (ver com. de Dn 7:7). duções acima preservaram as palavras origi-
Barro de lodo. Ver com. do v. 33. No nais de Daniel. Porém, os Papiros de Chester
5° século d.C., Roma tinha perdido sua força Beatty, na seção de Daniel que data do iní-
e tenacidade de ferro, e seus sucessores eram cio do 3° século d.C., contêm a versão LXX
fracos, como a mistura de barro com ferro. em vez da tradução de Teodócio.
42. Por uma parte, o reino será Não se ligarão. A profecia de Daniel
forte. Esses reinos bárbaros diferiam gran- sobreviveu e sobreviverá à prova do tempo.
demente em proeza militar, com o declara Alguns poderes mundiais têm sido fracos,
Edward Gibbon quando se refere às "podero- outros fortes. O nacionalismo continua com
sas monarquias dos francos e visigodos, e os vigor. Tentativas de unir em um grande
reinos dependentes dos suevos e burgúndios". império as diferentes nações que surgiram do
Frágil. Literalmente, "quebradiço". quarto poder fracassaram. Temporariamente,
43. Misturar-se-ão com semente algumas partes se uniram , mas a união não
humana (ARC). M uitos comentaristas apli- se provou pacífica ou permanente.
cam isso aos matrimônios entre membros Também têm havido muitas alianças polí- ~ :;:
da realeza , embora o significado da declara- ticas entre as nações. Estadistas visionários
ção possa ser mais amplo (ver ARA). A pala- procuram de diversas formas construir uma
vra para humana é 'enash, "humanidade". federação de nações que trabalhem com
"Semente" significa descendentes. Portanto, êxito, m as todas essas tentativas têm sido
pode também se tratar de uma indicação frustradas .
gera l de migrações de população, mas que A profecia não declara especificamente
mantêm fortes vínculos com o nacionalismo. que não poderia haver uma união tempo-
A LXX têm muitas variações do texto mas- rária de diferentes elementos, por meio
sorétíco. Os v. 42 e 43 dizem : "Os dedos da forç a das arm as ou dominação polí-
dos pés certa parte de ferro e certa parte tica. Porém, declara que as nações cons -
de barro, certa parte do reino será forte e tituintes, caso se rea lizasse tal união, não
certa parte será quebrada. E como viste o se fundiriam de forma orgânica e p er ma-
ferro misturado com o barro, haverá mistura neceriam mutuamente receosas e hostis.
entre nações [ou entre gerações] de homens, Uma federação criada sobre tal fundamento
mas eles não concordarão [literalmente, 'não está destinada à ruína. O êx ito temporá-
pe nsarão o mesmo'], nem serão amigáveis rio de algum ditador ou n ação deve, por-
uns com os outros, assim como é impossível tanto, não ser rotulado como uma falh a da
misturar ferro com barro." A tradução que profecia de Daniel. No final , Satanás con-
Teodócio fa z de Daniel, que praticamente seguirá uma união temporária de todas as
suplantou a LXX, é mais parecida com o nações (Ap 17:12-18; cf. Ap 16:14; GC, 624),
texto massorético; no entanto, mesmo essa mas esta será breve, e num curto período os

853
2:44 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

elementos que a compõem se voltarão um atos sem protestar. O registro diz apenas que
contra o outro (GC, 656; PE , 290). Nabucodonosor ordenou que se oferecessem
44. Suscitará um reino. Muitos comen- a Daniel oferta de manjares e suaves per-
taristas têm tentado fazer deste detalhe da fumes, mas não diz que isso foi realizado.
profecia um a previsão do primeiro advento Daniel pode ter, com tato, chamado atenção
de Cristo e a conquista subsequente do ao que ele já tinha afirmado, que a revela-
mundo pelo evangelho. Este "reino", porém, ção viera do Deus dos céus e que ele não a
não existiria ao mesmo tempo em que qual- tinha recebido por ser superior em sabedo-
quer um dos demais reinos; ele sucederia a ria (ver com. do v. 30).
fase ferro e barro, que ainda não tinha che- Prostrou rosto em terra. Atitude de
gado quando Cristo estava na Terra. O reino respeito e reverência. Tais expressões de res-
de Deus ainda estava no futuro, como afir- peito são observadas com frequência no AT
mou claramente a Seus discípulos na última (Gn 17:3; 2Sm 9:6; 14:4).
Ceia (Mt 26:29). Será estabelecido quando À lu z da recusa de Pedro à adoração
Cristo vier no dia final para julgar os vivos e de Cornélio (At 10:25, 26), da rejeição de
os mortos (2Tm 4:1; cf. Mt 25:31-34). Paulo e Barnabé da adoração dos homens
45. Pedra. Do aramaico 'eben, idêntico de Listra (At 14:11-18) e da reprovação do
ao heb. 'eben, "uma só pedra", termo usado anjo a João quando este se prostrou a seus
para se referir a lascas de pedras, pedras pés para adorá-lo (Ap 19: lO), é improvável
para se atirar com fund as, pedras talhadas, que Daniel tenh a permitido que o rei o ado-
vasilhas de pedra, pedras preciosas. A pala- rasse. Outros imaginam que, tendo em vista
vra "rocha", com frequência usada em refe- que Deus aceita a sinceridade da motiva-
rência a D eus (Dt 32:4, 18; 1Sm 2:2; etc.), ção quando as pessoas seguem a maior luz
vem do heb. tsur, em vez de 'eben. Não se que têm, Daniel pode ter sido induzido a
pode afirmar que exista uma relação entre não interferir na questão nesse momento.
o símbolo de Daniel para o reino de Deus Muitos comentaristas seguem a sugestão de
e a figura de uma rocha ou pedra usada em Jerônimo de que Nabucodonosor não estava
outra Escritura. A interpretação oferecida por adorando Daniel, mas por meio de Daniel
Daniel é suficiente para identificar o símbolo. adorava o Deus deste. Também chamam
Sem auxílio de mãos. Esse reino tem atenção para o registro de Josefo de como
origem sobre-humana. Será fundado pela Alexandre, o Grande se ajoelhou diante do
poderosa mão de Deus, e não pelas mãos sumo sacerdote judeu , e quando Parmênio,
engen hosas do ser humano. o general do rei, perguntou sobre o signifi-
46. O rei [... ] se inclinou. Do aramaico cado desse ato, Alexandre respondeu: "Eu
segad, palavra que normalmente parece indi- não o adorei, mas ao Deus que o honrou com -c ~
car adoração verdadeira. Pela ordem do texto Seu sumo sacerdócio" (Antiguidades, xi .8.5 ).
original, o rei já estava prostrado com o rosto Contudo, uma leitura atenta do segundo
em terra; então deve significar mais que incli- mand amento do decálogo desaprova todos
nar-se . Segad é usado no cap. 3 para descre- esses atos .
ver a adoração à imagem de ouro exigida pelo Nabucodonosor ainda sabia pouco do
rei, mas recusada pelos hebreus. As palavras verdadeiro D eus, e menos ainda de como
hebraicas para "oferta de manjares" e "suaves adorá-Lo. Até então, seu conhecimento de
perfumes", combinadas com a palavra para Deus estava limitado àquilo que tinha visto
"oferta", também indicam claramente ado- do caráter divino refletido na vida de Daniel
ração . Não se diz se Daniel permitiu esses e do que Daniel tinha lhe falado de Deus.

854
DANIEL 2:49

É possível que, de fato, Nabucodonosor, ao Marduque, o escriba que escreveu as Tábuas


ver em Daniel o representante vivo de Deus, do Destino.
cuja morada não é com os homens (v. li), Nabucodonosor era um homem de inte-
teve a intenção de que os atos de adoração ligência e sabedoria superiores, como reve-
dispostos a Daniel fossem em honra ao Deus lam sua iniciativa de treinamento profissional
de Daniel. Com seu conhecimento limitado para oficiais da corte (Dn 1:3, 4) e sua habi-
do Deus verdadeiro, Nabucodonosor, sem lidade de avaliar a "sabedoria e inteligência"
dúvida, estava fazendo o melhor qu e sabia (v. 18-20). Embora fosse imperfeito o con-
no momento para expressar sua gratidão e ceito de Nabucodonosor sobre o verdadeiro
para honrar Aquele cuja sabedoria e poder Deus, ele teve prova irrefutável de que o Deus
tinham sido demonstrados de form a tão de Daniel era infinitamente mais sábio do
impressionante. que todos os sábios e deuses de Babilônia.
Oferta de manjares. A palavra hebraica Experiências posteriores convenceriam o rei
que corresponde à palavra aramaica usada Nabucodonosor com respeito a outros atr ibu-
aqui, em geral, denota oferta sem derrama- tos do Deus dos céus (ver com. de Dn 3:28,
mento de sangue (ver com. de Dn 9:21). 29; 4:34, 37; ver também p. 826, 827).
Suaves perfumes. Isto é, incenso. 48. Governador. Ou, "principal pre-
47. Vosso Deus é o Deus dos deuses. feito". Daniel não interpretou o sonho com
Ou, "vosso Deus é Deus de deuses". A expres- o objetivo de obter qualquer recompensa do
são está no superlativo. Nabucodonosor, que rei. Seu único propósito era exaltar a De us
chamava seu principal deus , Marduque, de diante do rei e de todo o povo de Babilônia .
"senhor dos deuses", reconhece que o Deus 49. A pedido de Daniel. Daniel não se
de Daniel é infinitamente superior a qual- iludiu com as grandes honras que lhe foram
quer dos deuses babilônicos. conferidas. Ele se lembrou de seus compa-
O Senhor dos reis. É evidente que nheiros. Eles tinham compartilhado seus
Nabucodonosor sabia que esse era um título momentos de oração (v. 18), e também com-
aplicado a Marduque, na históri a babilô- partilhariam a recompensa.
nica da criação. O rei, ano a ano, rece- Na corte do rei. Lugar onde se assen-
bia novamente seu reinado de Marduque tavam os reis do Oriente para julgar e onde
no festival de a no novo. Além disso , seu se reuniam com os conselheiros (ver com.
nome e ra inspirado em Nabu, o filho de de Gn 19:1).

COMENTÁRIOS DE ELLEN G. WHITE

I-49- FEC, 410-413; 16-19- San, 35 31-49 - T7, 161


PR, 491-502; T7, 151 19-26 - PR, 494 37-43- PR, 498, 548
I , 2- FEC, 410 20-22- FEC, 374 38- Ed, 175; PR, 504
I-4- PR, 491 20-28 - FEC, 374 42, 43 - TI, 361
1-5- San, 34 21 - Ed, 175 44 - DTN, 34; TI, 360
4-12- FEC, 410 22 - CBV, 433; T8, 282 44, 45- PR, 503
5-II - PR, 492 24-30 - AA, 13; T6, 227 44-49 - PR, 499
12- San, 34 27, 28 - San, 36 46-49- FEC, 412
12-18 - PR, 493 27-36 - PR, 497 47 - Ed, 56; PR, 503, 513;
13-19 - FEC, 374 28- FEC, 4II San, 36;T6, 220
16-18 - FEC, 411 37- PR, 514

855
3:1 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

CAPÍTULO 3
1 Nahucodonosor dedica uma imagem de ouro em Dura. 8 Sadraque, Mesaque e
Ahede-Nego são acusados de não adorar a imagem. 13 Ao serem ameaçados,
eles testemunham de Deus, 19 que os liberta da fornalha.
26 Nahucodonosor louva a Deus pelo milagre.

O rei Nabucodonosor fez uma imagem de 10 Tu, ó rei, baixaste um decreto pelo qua l
ouro que tinha sessenta côvados de altura e seis todo homem que ouvisse o som da trombeta , do
de largura; levantou-a no campo de Dura, na pro- pífaro, da harpa, da cítara, do saltério, da gaita
víncia da Babilônia. de foles e de toda sorte de música se prostraria
2 Então, o rei Nabucodonosor mandou ajun- e adoraria a imagem de ouro;
ta r os sátrapas, os prefeitos, os governadores, os li e qualquer que não se prostrasse e não ado-
juízes, os tesoureiros, os magistrados, os conse- rasse seria lançado na fornalha de fogo arden te.
lheiros e todos os oficiais das províncias, para 12 Há uns homens judeus, que tu constituís-
que viessem à consagração da imagem que o rei te sobre os negócios da província da Babilônia:
Nabucodonosor tinha levantado. Sadraque, Mesaque e Abede-Nego; estes ho-
3 Então, se ajuntaram os sátrapas , os prefei- mens, ó rei, não fizeram caso de ti, a teus deu-
tos, os governadores, os juízes, os tesoureiros, os ses não servem, nem adoram a imagem de ouro
magistrados, os conselheiros e todos os oficiais que levantaste.
das províncias, para a consagração da imagem que 13 Então, Nabucodonosor, irado e furioso,
o rei Nabucodonosor tinha levantado; e estavam mandou chamar Sadraque, Mesaque e Abecle-
em pé diante da imagem que N abucodonosor Nego. E trouxeram a estes homens perante o rei.
tinha levantado. 14 Falou Nabucoclonosor e lhes disse: É ver-
4 Nisto, o arauto apregoava em alta voz: dade, ó Saclraque, Mesaque e Abecle-Nego, que
Ordena-se a vós outros, ó povos, nações e ho- vós não servis a meus deuses, nem adorais a ima-
mens de todas as línguas: gem ele ouro que levantei?
5 no momento em que ouvirdes o som da 15 Agora, pois, estai dispostos e, quando ou-
trombeta, do pífaro, da harpa, da cítara, do sal- vi reles o som ela trombeta, elo pífaro, ela cítara, ela
tério, da gaita de fol es e de tod a sorte de músi- harpa, elo saltério, da gaita ele foles , prostrai -vos e
ca, vos prostrareis e adorareis a imagem de ouro adorai a imagem que fi z; porém, se não a adorar-
que o rei Nabucodonosor levantou . eles, sereis, no mesmo instante , lançados na for -
6 Qualquer que se não prostrar e não a ado- nalha de fogo ardente. E quem é o deus que vos
rar será, no mesmo instante, lançado na forna- poderá livrar elas minhas mãos?
lha de fogo ardente. 16 Responderam Sadraque, Mesaque e
7 Portanto, quando todos os povos ouviram Abecle-Nego ao rei : Ó Nabucodonosor, quanto a
o som da trombeta, do pífaro, da harpa, da cíta- isto não necessitamos ele te responder.
ra, do saltério e de toda sorte de música , se pros- 17 Se o nosso Deus, a quem servimos, quer
traram os povos, nações e homens de todas as livrar-nos, Ele nos livrará da fornalha ele fogo ar-
línguas e adoraram a imagem de ouro que o rei dente e elas tuas mãos, ó rei .
Nabucodonosor tinha levantado. 18 Se não, fica sabendo, ó rei, que não servi-
8 Ora, no mesmo instante, se chegaram al- remos a teus deuses, nem adoraremos a imagem
guns homens caldeus e acusaram os judeus; de ouro que levantaste.
9 disseram ao rei Nabucodonosor: Ó rei, vive 19 Então, Nabucodonosor se encheu de fúria
eternamente I e, transtornado o aspec to do seu rosto contra

856
DANIEL 3:1

Sadraque, Mesaque eAbede-Nego, ordenou que 26 Então, se chegou Nabucodonosor à porta


se acendesse a fornalha sete vezes mais do que da fornalha sobremaneira acesa, falou e disse:
se costumava. Sadraque, Mesaque e Abede-Nego, servos do
20 Ordenou aos homens mais poderosos que Deus Altíssimo, saí e vinde! Então, Sadraque,
estavam no seu exército que atassem a Sadraque, Mesaque e Abede-Nego saíram do meio do fogo.
Mesaque e Abede-Nego e os lançassem na for- 27 Ajuntaram-se os sátrapas, os prefeitos, os
nalha de fogo ardente. governadores e conselheiros do rei e viram que o
~ !!> 21 Então, estes homens foram atados com os fogo não teve poder algum sobre os corpos des-
seus mantos, suas túnicas e chapéus e suas ou- tes homens; nem foram chamuscados os cabelos
tras roupas e foram lançados na fornalha sobre- da sua cabeça, nem os seus mantos se mudaram,
maneira acesa. nem cheiro de fogo passara sobre eles.
22 Porque a palavra do rei era urgente e a for- 28 Falou Nabucodonosor e disse: Bendito seja
nalha estava sobremaneira acesa, as chamas do o Deus de Sadraque, Mesaque e Abede-Nego,
fogo mataram os homens que lançaram de cima que enviou o Seu anjo e livrou os Seus servos,
para dentro a Sadraque, Mesaque e Abede-Nego. que confiaram nEle, pois não quiseram cumprir
23 Estes três homens, Sadraque, Mesaque e a palavra do rei, preferindo entregar o seu corpo,
Abede-Nego, caíram atados dentro da fornalha a servirem e adorarem a qualquer outro deus,
sobremaneira acesa. senão ao seu Deus.
24 Então, o rei Nabucodonosor se espantou, e 29 Portanto, faço um decreto pelo qual todo
se levantou depressa, e disse aos seus conselhei- povo, nação e língua que disser blasfêmia con-
ros: Não lançamos nós três homens atados den- tra o Deus de Sadraque, Mesaque e Abede-Nego
tro do fogo? Responderam ao rei: É verdade, ó rei. seja despedaçado, e as suas casas sejam feitas em
25 Tornou ele e disse: Eu, porém, vejo quatro monturo; porque não há outro deus que possa li-
homens soltos, que andam passeando dentro do vrar como este.
fogo, sem nenhum dano; e o aspecto do quarto 30 Então, o rei fez prosperar a Sadraque,
é semelhante a um filho dos deuses. Mesaque e Abede-Nego na província da Babilônia.

1. Nabucodonosor. Não se dá nenhuma Nabucodonosor descrita no cap. 4, mas essa


data para os acontecimentos deste capítulo. posição é infundada, como se demonstrará.
O nome do rei é a única indicação de quando É certo que os eventos narrados neste
ocorreram. A LXX e a tradução grega de capítulo ocorreram depois daqueles do cap. 2,
Teodócio datam os eventos no 18° ano de porque Daniel 3:12 e 30 se refere ao texto de
Nabucodonosor. Alguns eruditos conside- 2:49. Além disso, uma comparação das decla-
ram isso como uma interpolação. Eles con- rações de louvor de Nabucodonosor (Dn 3:28,
cluem que os tradutores acreditavam que a 29; 4:34-37) indica que a loucura do rei foi
imagem colossal foi erigida para marcar a um evento posterior. A história secular não
conquista final de Jerusalém. No entanto, ajuda a datar este evento, visto que regis-
essa cidade não foi destruída no 18° ano tros da época não mencionam o incidente.
de Nabucodonosor, mas no 19° (2Rs 25:8- Contudo, um almanaque da corte, escrito
10). A data 580 a.C., sugerida por alguns, em 570/569 a.C., exclui esse ano como pos-
deriva da cronologia de Ussher (ver vol. 1, sível data e torna improvável que o evento
p. 158, 175) e não tem base histórica ade- tivesse ocorrido havia pouco tempo. O alma-
quada. Alguns comentaristas colocam esta naque dá uma lista de todos os principais ofi-
narrativa no período seguinte à loucura de ciais do governo que exerceram algum cargo

857
3: I COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

naquele ano. Daniel e seus três amigos não qual desejava simbolizar a glória perpétua e
são mencionados. Visto que o evento descrito universal de seu império, e um reino que não
no cap. 3 resultou numa promoção dos três seria sucedido por nenhum outro.
hebreus, e, sendo improvável que tivessem sido Sessenta côvados de altura. As medi-
removidos do ofício logo após a promoção, pelo das da imagem testemunh am do uso do sis-
menos os três, um tempo considerável pode ter tema sexagesimal (um sistema b aseado no
passado entre a experiência narrada no cap. 3 número 60) em Babilônia, uso confirmado
e a data do almanaque da corte. também por fontes cuneiformes. O sis tema
A influência do sonho (Dn 2) sobre sexagesimal de cálculo foi uma invenção
os eventos do cap. 3 (ver PR, 504, 505) dos babilônios. Esse sistema tem algumas
implica que os eventos do cap. 3 não podem vantagens sobre o decimal. Por exemplo, 60
ser d atados na última parte do reinado de é divisível por 12 fatores, ao passo que 100 é
Nabucodonosor. Alguns sugerem a data divisível por apenas nove fatores. O sistema
594/ 593, pela seguinte razão: essa data coin- ainda é usado para algumas m edidas, como
cide com o quarto ano de Zedequias, que segundos, minutos, horas , dúzias. Portanto,
nesse ano viajou a Babilônia (Jr 51:59). É pos- era natural que os babilônios construíssem
~ "' sível que a viagem tenha sido feita em res- essa imagem de acordo com medidas do sis-
posta à convocação de Nabucodonosor a tema sexagesimal. A m en ção de ste deta-
todos seus governadores e vassalos , "todos os lhe confere um verdadeiro tom babilônico
oficiais das províncias" (Dn 3:2), para estar à narrativa.
em Babilônia para homenagear a imagem Críticos apontam as proporções da ima-
que o rei tinha erigido. Como Zedequias era gem, 60 x 6 côvados, cerca de 27 x 3 m,
de caráter fraco e vacilante , dificilmente era como evidência do caráter lendário da histó-
de se esperar que tivesse zelo religioso como ria, porque as proporções da figura humana
o que impossibilitou Sadraque, M esaque e são inferiores a 5 x I. No entanto , não se
Abede-Nego de obedecer à ordem do rei. sabe a aparência da imagem. É bem pos-
Porém , datar o evento na época da visita de sível que a parte da imagem em si medisse
Zedequias não passa de uma possibilidade menos que a metade da altura total e fica sse
(ver San, 27). num pedestal de 30 côvados de altura ou
O porquê de não se mencionar Daniel mais, de form a que toda a estrutura, pedes-
na narrativa é uma pergunta sem resposta. tal e imagem, tivesse 60 côvados de altura.
Não é possível saber se ele estava enfermo A Estátua da Liberdade, em Nova York, tem
ou au sente, por causa de importante mis- uma altura total de 92 m , e metade disso é
são. Alguns conjecturam que, envergonhado o pedestal; a imagem tem 46 m dos pés ao
por ter rejeitado a mensagem do sonho, o rei topo da cabeç a. J. A. Montgomery observa
teria feito arranjos para enviar Daniel para que a palavra aramaica tselem , tradu zida
longe, a fim de tratar de questões importan- como "imagem", é usada num a inscrição ara-
tes. Porém, há certeza de que, se fosse pro- maica do 7° século encontrada em Nerab,
vado, Daniel teria se mantido tão leal quanto próximo a Alepo, para descrever um a estela
seus companheiros. que está esculpida parcialmente. Apenas a
Imagem de ouro. A imagem do cap. 2 parte superior está decorada com o relevo do
representava o reino de Nabucodonosor com busto de um corpo humano. Portanto, tselern,
a cabeça de ouro (v. 38). Não satisfeito com "imagem", não se limita à descrição de um a
esse símbolo, o rei id ealizou uma imagem figura humana ou outra representação, mas
feita de ouro d a cabeça aos pés, por meio da pode incluir também o pedestal.

858
DANIEL 3:3

Na história, há paralelos dessa enorme satarpanu a palavra era usada desde a época
imagem. Pausânias (geógrafo grego, c. 115- de Sargão II (722-705 a.C.). A origem deve
180 d.C.) descreve o Apolo Amicleano, uma ser hurrita. É evidente que os persas importa-
coluna estreita, com cabeça, braços e pés na ram esse título oficial do Ocidente. Portanto,
forma humana. Os Colossos de Memnon, da o uso do título na época de Nabucodonosor
antiga Tebas, no alto Egito, foram construí- não está fora de lugar (ver mais sobre isso no
dos de pedra e eram representações do rei com. de Et 3:12).
Amenhotep III. As ruínas ainda permane- No período dos persas, o título designava
cem, com cerca de 20m de altura. O melhor oficiais que regiam satrapias, as maiores divi-
paralelo antigo talvez seja o Colosso de Rodes sões do império.
que representa o deus Hélios. Foi cons- Prefeitos. A palavra aramaica segan pode
truído do material de guerra deixado para ser traduzida como "prefeitos" ou "governado-
trás quando Demétrio Poliorcetes levantou res". Ela vem do acadiano shaknu, qu e tem
seu inútil cerco da ilha em 305-304 a.C. o mesmo significado. Esses oficiais admi-
O Colosso levou 12 anos para ser construído. nistravam as províncias, seções nas quais as
Era feito de folhas de metal que cobriam satrapias es tavam divididas.
uma estrutura, e chegava à altura de 70 côva- Governadores. Do aramaico pechah,
dos , lO côvados a mais que a imagem de um sinônimo de signin (ver com. anterior
Nabucodonosor. Por volta de 225 a.C., um sobre "prefeitos").
terremoto demoliu o Colosso. Ele ficou em Juízes. A palavra aramaica 'adargazar,
ruínas por aproximadamente 900 anos, até "juízes", é encontrada apenas na forma persa
que os sarracenos o venderam como sucata. do período médio andarzaghar, que significa
No campo de Dura. O nome desta pla- "conselheiro". O fato de não ter sido ates-
nície sobrevive no nome de um afluente do tada em textos anteriores não prova que não
Eufrates, chamado Nahr Düra, que desem- existia antes do período persa, porque prati-
boca no Eufrates oito quilômetros abaixo camente toda descoberta de uma nova inscri-
de Hilla. Alguns montes vizinhos também ção revela que palavras antes desconhecidas
~ ~> levam o nom e de Dura. Segundo tradição existiam havia tempo.
corrente entre os habitantes do atual Iraque, Tesoureiros. Ainda não se determinou
os eventos descritos em Daniel 3 acontece- a origem da palavra aramaica gedavar.
ram em Kirkuk, que hoje é o centro dos cam - Magistrados. A palavra aramaica detha-
pos de petróleo iraquianos. A tradição pode var, literalmente, significa "legislador", por-
ter se originado porque antes havia gases de tanto, "juiz". Ela se encontra em. fontes
ignição que escapavam de fissuras no solo cuneiformes na forma cognata datavari.
em vários lugares nessa região, e também Conselheiros. Do aramaico tiftay,
porque havia ali grande quantidade de mate- "xerife" ou "policial". A palavra é encontrada
rial combustível como petróleo e asfalto. A na mesma forma e com o mesmo signifi-
tradição, é claro, deve ser rejeitada. O inci- cado no papiro aramaico de Elefantina (sobre
dente ocorreu próximo a Babilônia. Dura fica esses papiros, ver vol. 3, p. 65-71) .
"na província da Babilônia". Oficiais. O aram aico shilton, "governa-
2. Sátrapas. O termo aramaico dor", do qual deriva o título su ltão. O termo
'achashdarpan, "príncipe" ou "sátrapa", era designa todos os oficiais subalternos de
antigamente considerado de origem persa. importância.
Essa opini ão foi abandonada, pois fon- 3. Então, se ajuntaram os sátrapas.
tes cuneiformes mostram que na form a A repetição de todos os títulos, característica

859
3:4 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

da retórica semita, como a lista subsequente de sons. A palavra em português denota


dos instrumentos musicais (v. 5, 7, 10, 15), uma versão antiga do trombone. O sabeha'
não se encontra na LXX, possivelmente por- ("cítara", ARA) era um instrumento trian-
que tais repetições não eram bem vistas na gular de quatro cordas e um tom. Embora
época. Porém, a tradução grega posterior de o nome apareça em grego como sambulze e
Teodócio preserva a repetição. em latim como sambuca, não tem origem
4. Arauto. Do aramaico lwroz, em ocidental, como demonstrou Lidzbarski.
geral considerada de origem grega (cf. o Os gregos e romanos adotaram o nome dos
gr. l~erux). Há algum tempo , críticos usa- fenícios, junto com os instrumentos musi-
va m esta palavra como prova para a or igem cais, fato confirmado também por Estrabão,
posterior do livro de Daniel. Porém , H . H. que diz qu e a palavra é de origem "bárbara"
Schaeder demonstrou que a palavra é de (Geografia, x.3.l7).
origem iraniana (Iranische Beitriige I [H alie, Saltério. Do aramaico pesanterin. A pala-
1930], p. 56). vra "saltério" d eriva do grego por meio do
5. Trombeta. Sobre os instrumentos latim . O psalterion era um instrumento de
music ais hebreus, ver vol. 3, p. 14-27. Neste corda triangular, com o diapasão acima das
caso, contudo, descreve-se uma orques- cordas.
tra babilônica, na qual vários instrumentos Gaita de foles. Do ara m aico sumpo-
diferem daqueles usados entre os antigos neyah. A palavra ocorre no grego (sump ho-
hebre us. nia) como um termo musical e como nome
Pífaro. Do aramaico mashroqi, que de um instrumento, uma gaita de fol es. A pri-
designa a flauta, assim como a mesma pala- meira referência a este instrumento na lite-
vra em siríaco e mandeano. ratura fora de Daniel encontra-se em Políbio
Harpa. Do aramaico qithros. Em geral, (xxv i.lO ; xxxi.4), que descreve a sumphonia
considera-se que qithros provém do grego como um instrumento que figurava em ane-
btharis ou lúthara, "cítara". Inscrições anti- dotas do rei Antíoco IV. Porém, o instru-
gas não têm provido evidência de derivação mento é representado num relevo heteu de
acadiana ou iraniana. No entanto, não seria Eyuk, uma cidade cerca de 30 km ao norte
estranho encontrar empréstimos de pala- de Boghazkoi , na Anatólia cent ral , de mea-
vras gregas num livro escrito em Babilônia. dos do 2° milênio a.C . O relevo parece indi-
Sabe-se a partir de textos cu neiformes , da car que, como em épocas posteriores, a gaita
época de Nabucodonosor, que jônios e lídios de foles era feita de pele de cachorro.
estavam entre os muitos estrangeiros que tra- Adorareis a imagem de ouro. Até aq ui,
balhavam nas construções. Esses cm·pintei- a narrativa não menciona que se exigiri a a
ros e artesãos podem ter compartilhado com adoração da imagem. O convite enviado a
os babilônios alguns instrumentos musicais todos os oficiais do reino de Nabucodonosor
antes desconhecidos ali. Seria natural que, para se reunirem na planície de Dura,
com sua aceitação pelos babilônios, os nomes segundo o registro, fala apenas da dedicação
i§,. gregos desses instrumentos fossem adotados. da imagem (v. 2), embora os povos da época,
Dessa forma , pode-se explicar facilmente a acostumados a práticas idólatras, podem não
existência de nomes gregos para algun s ins- ter tido dúvida quanto à razão pela qual fora
trumentos musicais. erigida a imagem. Prestar homenagem à ima-
Sambuca (ARC). Uma transliteração gem daria prova de sujeição ao poder do rei,
eq ui vocada do arama ico sabeha' (nos v. 7, 10, mas, ao mesmo tempo, mostraria o reconh e-
15, sabeha'), provavelmente pela semelhança cimento de que os deuses de Babilônia, ou os

860
DANIEL 3:12

deuses do império, eram superiores a todos simples em forma de cone, construídas de


os deuses locais . tijolos. No seu interior são colocados os tijo-
6. Qualquer que se não prostrar. los para serem queimados. Uma abertura
O rei e seus conselheiros, que aparentemente de um lado do muro permite que o com-
esperavam que alguns não obedecessem à bustível seja jogado no interior. O combus- -<t RJ
ordem, ameaçaram com a punição mais cruel tível consiste de uma mistura de óleo cru e
todo aquele que se recusasse a se prostrar. palha. Assim se produz um enorme calor, e
Além dos judeus, cujas convicções religio- pela abertura o observador pode ver os tijo-
sas os proibiam de se ajoelhar diante de ima- los queimados.
gens (Êx 20:5), os povos antigos não tinham 8. Alguns homens caldeus. Obvia-
objeção quanto a adorar ídolos. Portanto, mente, membros da casta de magos-cientistas
a recusa de se ajoelhar diante da imagem e astrólogos-astrônomos e não membros da
de Nabucodonosor seria considerada como nação caldeia, em contraste com cidadãos
prova de hostilidade para com o rei e seu da nação judaica (ver com. de Dn 1:4). Não
governo. Não se sabe se o rei previa a difícil se tratava tanto de antagonismo racial ou
situação em que colocaria seus leais servos nacional, mas de inveja e ciúmes profissio-
judeus. Pode ser que tenha enviado Daniel nal. Os acusadores eram membros da mesma
para longe a fim de poupá-lo da situação (ver casta à qual pertenciam os três judeus.
com. do v. 1). Por seus contatos com Daniel, Acusaram. Do aramaico 'alwlu qart-
o rei deve ter sabido que um judeu fiel se sehon, uma expressão pitoresca, traduzida de
recusaria a adorar a imagem, e que tal recusa forma prosaica como "acusaram". Uma tra-
não poderia ser interpretada como sinal de dução literal seria: "eles comeram os peda-
deslealdade. ços de"; e daí, figurativamente, "caluniaram"
Fornalha de fogo ardente. Embora ou "acusaram". A expressão aramaica, de
não haja muitos exemplos antigos deste tipo significado similar, também se encontra
de pena de morte, alguns são confirma- em acadiano, ugarítico e outros idiomas
dos. Um vem do 2° milênio a.C., no qual semíticos.
servos recebem esta punição. É digno de 9. Ó rei, vive eternamente! Ver com.
nota que a mesma palavra que Daniel usou de Dn 2:4.
para fornalha ('attun) também se encontra 12. Tu constituíste. Uma clara refe-
em textos babilônicos cuneiformes (utü- rência à promoção registrada no final do
num). O segundo exemplo vem do genro de capítulo anterior (Dn 2:49). A menção do
Nabucodonosor, Nergal-sharusur. Numa de elevado cargo desses judeus tinha o propósito
suas inscrições, ele diz ter "queimado até a de enfatizar o perigo resultante da desobe-
morte adversários e desobedientes" (compa- diência desses homens e também de chamar
rar com Jr 29:22). atenção para a seriedade de sua ingratidão
É provável que a fornalha ardente fosse para com seu benfeitor. Por outro lado, o fato
um forno para queimar tijolos. Visto que de os caldeus darem importância à posição
todos os edifícios eram construídos de tijo- oficial a qual esses judeus tinham sido pro-
los, muitos, de tijolos queimados, esses for- movidos pelo rei sugere que a denúncia foi
nos eram abundantes nos arredores da antiga motivada por ciúmes. Suas palavras tam-
Babilônia. Escavações mostram que anti- bém continham insinuações ocultas contra
gos fornos de tijolos eram semelhantes aos o rei, e o acusavam de falta de visão política
atuais, que se encontram naquela área em ao indicar para um alto cargo administra-
grande número. Esses fornos são estruturas tivo prisioneiros de guerra estrangeiros de

861
3:14 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

quem, naturalmente, não se poderia espe- num sentido legal. Em idiom as semelhantes
rar lealdade para com o rei de Babilônia e e em outros diferentes se encontra m analo-
seus deuses. O rei deveria ter previsto isso, gias que mostra m que o sentido é "apresen-
insinuavam. tar uma defesa" ou "apologia". Visto q ue os
14. Nem adorais [...]? A pergunta acusados não negaram a verdade da acusa -
introdutóri a de Nabucodonosor se baseou ção, não senti ra m necessidade de se defen-
na prim eira parte da acusação dos caldeus. der. O caso deles estava nas m ãos de Deus
Certamente todos sa biam que esses ofi ciais (ver v. 17), e deram sua resposta como com-
judeus não adorava m os ídolos babilônicos. pleta submissão à Sua vontade , qualquer q ue
M as, uma vez que o próprio rei reconhecera fosse o res ultado da prova. Pode -se notar,
o Deus q ue servia m como "o Deu s dos deu- pela decla ração fin al, que eles n ão tinh am
ses, e o Senhor dos reis" (Dn 2:47), não havia certeza de q ue sairi am vivos daquela expe-
até então nenhuma razão válida para acusa r riência (v. 18). Se tivessem certeza do I ivra- <e ~
esses homens de atos subversivos . Porém , mento, sua resposta poderi a ser interp retada
uma orde m d ireta havi a sido negligenciada, como ar rogância espiritual. Nes se caso, a ati-
e mes mo desprezada, e a nítida recusa de tude mostrou a firme convicção de que seu
cumprir a ordem real de adorar a imagem , proceder era o único factível, que não neces-
provavelmente, foi interpretada como se a sitava defe sa, nem mais explicações.
tolerân cia do rei para com esses subverso- 17. Se. A frase introdutória deste ver-
res os estivesse levando à desobediência e sículo tem sido tem a de debates e ntre os
rebeli ão . Isso explicaria o ódio e a fúria de comentaristas. As versões bíblicas concor-
N abucodonosor. dam com o sentido de: "Se o nosso D eus ,
15. Quem é o deus[... ]? Esta pergunta a quem servimos, quer livrar-nos, Ele nos
não deve ser con siderada um a blasfêm ia livrará " (ARA); ou : "Se assim for, o nosso
direta contra Deus. No entanto, era um desa- D eus a quem servimos , pode livrar-nos"
fi o dirigido a Yahweh com espírito insolente (T B). No entanto, algun s comentari stas
e um altivo senso de superiorid ade. Alguns interpretam a passagem de fo rm a literal: "Se
comparam es tas palavras com as ditas pelo o nosso Deus , a quem servimos, é capaz de
rei assírio Senaqu eribe: "Não te enga ne o nos livrar." Esta últim a tradu ção não condiz
teu De us, em qu em confias" (Is 37: 10). No com a fé dos três judeus ac usados. As duas
entanto, o caso de Nabu codonosor era dife - primeiras versões refletem de forma fiel a
rente. Senaqueribe elevou se u deus acima de fi rme fé desses homens na onipotência de
Yahweh , o Deu s dos judeus. Nabucodonosor Deus e em Sua sabedoria inescrutável. Deus
declaro u que o livrame nto d a fornalha poderia sa lvá-los se isso fosse o melh or para
ardente era al go q ue nenhum deu s poderia eles e para a glória de Seu nome. O "se" não
dar. Ao afirm ar isso, ele comparo u indireta- deve ser considerado como sin al de dú vida no
mente o D eus dos jude us aos seus deuses, poder de Deus para salvar, mas como si nal de
cuja impotência nesses casos conhecia bem . incerteza se D eus os salvaria ou não .
16. Não necessitamos. D o aramaico A LXX não tem o "se", e a frase toda é
chashach, "ter necessidade de". Algun s inter- uma declaração positiva (v. 16 -1 8): "Pois o
preta m e sta respos ta como ba stante arro - Deus do céu é nosso úni co Sen hor, a quem
gante, e apontam a semelhança da reação de tem em os, e qu e é cap az de nos livrar da
algun s m ártires para com seu s perseguido - fo rn alha ardente; e d as tuas m ãos , ó rei."
res . Contudo, ]. A. Montgomery mostrou que Contudo, os eruditos em gera l preferem o
o termo "respond er" deve ser interpretado texto massorético (ver com. do v. 16).

862
DANIEL 3:25

19. Sete vezes mais. O aramaico 23. Fornalha sobremaneira acessa.


chadshih'ah, literalmente, "um sete", cujo Em continuidade ao v. 23, manuscritos das
significado é "sete vezes", é uma constru- mais antigas traduções de Daniel, a LXX
ção incomum, mas usa-se a mesma forma e a de Teodócio, contêm um longo acrés-
numa carta em aramaico do 5° século a.C ., cimo apócrifo de 68 versículos, chamado
de Elefantina. Alguns gramáticos creem "A Canção dos Três Jovens Santos". A can-
que seja a abreviação de uma expressão ção consiste de três partes: (l) oração de
aramaica comum, enquanto outros, como Azarias (Abede-Nego), composta de confis-
Montgomery, entendem que "pode provir são e súplica (v. 24-45); (2) um interlúdio em
das reminiscências da recitação das tabelas prosa, descrevendo o calor do fogo e a des-
de multiplicação". O intenso calor da forna- cida do anjo do Senhor para esfriar as chamas
lha era, provavelmente, produzido por um (v. 46-50); e (3) a bênção dos três (v. 51-91).
extraordinário suprimento de palha e petró- Embora reconhecido por Jerônimo como ile- <111 ~
leo. O petróleo era obtido dos vários poços gítimo, esse acréscimo apócrifo foi inserido
da Mesopotâmia, que há muito tempo pro- nas Bíblias católico-romanas como canônico.
porcionam esse produto em abundância, hoje Eruditos discutem se a canção é de origem
usado nos fornos de tijolos modernos dessa cristã ou judaica. Vários deles creem que
região (ver com. do v. 6). O propósito desta a obra foi produzida por volta de 100 a .C .
ordem furiosa talvez não foss e aumentar a (ver p. 819, 820).
punição. Um aumento do calor na fornalha 24. E se levantou depressa. Evidente-
não teria aumentado a tortura das vítimas. mente, o rei tinha ido ao lugar de execução,
O rei queria impedir qualquer possibilidade sem dúvida, para ter certeza de que sua
de intervenção (ver Ellen G. White, Material ordem seria cumprida. É provável que, sen-
Suplementar, sobre este versícu lo). tado, observava as vítimas ao serem lançadas
20. Homens mais poderosos. Ou, no fogo.
"alguns homens fortes" ou "soldados mais 25. Semelhante a um filho dos deuses.
fortes do seu exército" (NVI). Talvez a esco- Ou, "ao Filho de Deus" (ACF). Comentaristas
lha de militares de força extraordinária fosse têm interpretado de diferentes formas a
outra medida para eliminar a possibilidade exclamação do atônito Nabucodonosor com
de intervenção divina. respeito ao quarto indivíduo na fornalha.
21. Mantos. As palavras em aramaico Eruditos judeus sempre o identificaram sim-
que descrevem os "mantos" e as "túnicas" plesmente como um anjo. Essa opinião se
ainda não são plenamente compreendidas. reflete na LXX, que traduz a frase "como
Lexicógrafos concordam que esta versão está um anjo de Deus". Antigos intérpretes cris-
correta. tãos (Hipólito, Crisóstomo e outros), por
Chapéus. Do aramaico lwrvelah, palavra outro lado, viram neste quarto personagem
de origem acadiana, conforme mostram tex- a segunda pessoa da Divindade. A maioria
tos cuneiformes, em que ocorre como lwr- dos cristãos conservadores defende essa opi-
vallatu, "boné". Na inscrição de Dario I, em nião, embora comentaristas críticos a descar-
Naqsh-i-Rustam, o termo designa o elmo, tem, bem como diversas versões (ver ARC,
m as em textos babilônicos posteriores está NVI, NTLH).
como "chapéus". A menção dos artigos de O problema está na gramática do ara-
ve stimenta, de material facilmente inflamá- maico e na interpretação. A palavra aramaica
vel, sem dúvida, tem o propósito de enfatizar 'elahin, "deuses", é o plural de 'elah, "deus".
o milagre que se seguiu (ver v. 27). Em alguns casos em que se usa 'elahin, faz-se

863
3:26 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

referência a deuses pagãos (Dn 2: 11, 4 7; 5:4, 27. Os sátrapas. Sobre os oficiais men-
23). Porém, há duas passagens, além da que cionados aqui, ver com. do v. 2.
está em discussão, em que 'elahin pode ser Mantos. Ver com. do v. 21.
interpretado como se referindo ao verdadeiro 28. Bendito seja o Deus. O livramento
Deus (Dn 5: 11, 14). Portanto, a tradução miraculoso dos três homens impressionou o
"Deus" (ACF, KJV) para 'elahin se justifica rei de forma profunda e mudou sua opinião
quando se estabelece que Nabucodonosor anterior e equivocada (v. 15) sobre o Deus dos
estava empregando o termo como um nome hebreus. Nabucodonosor louva o poder desse
próprio. Do ponto de vista gramatical, ambas Deus, anuncia publicamente que esse Deus
as traduções "semelhante ao Filho de Deus", salvou Seus adoradores e decreta que quem
e, "semelhante a um filho dos deuses", estão desonrá-Lo será punido com a morte (v. 29).
corretas. Esse reconhecimento revelou progresso em seu
O contexto mostra que Nabucodonosor conceito sobre Deus (ver Dn 2:47; p. 826, 827).
reconheceu a superioridade do Deus Altís- 29. Faço um decreto. Dessa forma
simo de Israel (ver Dn 3:26, 28, 29; 4:2). Nes- incomum, muitos que de outro modo jamais
sas declarações , o rei não estava se referindo ouviriam falar do Deus dos hebreus foram
a deuses em geral, mas a Deus especifica- apresentados a Ele. Contudo, Nabucodo -
mente. Por essa razão, intérpretes conserva- nosor se excedeu em suas prerrogativas
dores preferem a tradução da ACF e da KJV quando buscou pela força fazer com que
e podem defender com base linguística sua as pessoas honrassem o Deus dos hebreus
preferência (ver PR, 509; Problems in Bible (PR, 511).
Translation, p. 170-173). Despedaçado. Sobre os castigos men-
26. Deus Altíssimo. O reconheci- cionados nesta passagem, ver com. de Dn 2:5.
mento de Nabucodonosor de que o Deus dos 30. Fez prosperar. A forma verbal
hebreus era o "Deus Altíssimo" não implica assim traduzida significa, basicamente,
necessariamente que o rei tinha abandonado "fazer prosperar" e, num sentido mais amplo,
seus conceitos politeístas. Para ele, o Deus de "promover". Não se diz como se realizou esta
Sadraque, Mesaque e Abede-Nego não era o promoção. Os três hebreus podem ter rece-
único Deus verdadeiro, mas simplesmente o bido dinheiro, ou mais influência e poder na
Deus Altíssimo, o principal de todos os deu- administração da província, ou títulos mais
ses, da mesma forma que os gregos chama- elevados. Pela lealdade em face da morte, os
vam Zeus de ho hupsistos theos, "o deus maior". três demonstraram qualidades de caráter que
Confirmou-se o uso deste termo na Fenícia e, tornaram evidente que podiam ter mais res-
mais tarde, em inscrições de Palmira. ponsabilidades do que anteriormente. ·~

COMENTÁRIOS DE ELLEN G. WHITE

1-30 - PR, 503-513 12-18 - San, 37 San, 38;T3,47;T4, 212


1 - PR, 505 16-18 - T5, 43 24-26 - PR, 509
1-6- San, 36 16-20 - LS, 329 25 - MCH, 68 , 317
4, 5 - PR, 506 16-22 - PR, 508 25-27 - AA, 570; LS, 330
4-7- MCH, 68 17-22- MCH, 68 26-29 - San, 39
7 - PR, 506 23 - Ed, 254; T5, 453 27-29- PR, 510; T5, 453
9, 12-15- PR, 507 24, 25 - MCH, 256;

864
DANIEL 4: l

CAPÍTULO 4
1 Nahucodonosor reconhece o domínio de Deus e 4 revela seus sonhos,
os quais os magos não podem interpretm: 8 Daniel ouve o sonho.
19 Ele o interpreta. 28 A história do evento.

1 O rei Nabucodonosor a todos os povos, na- e as aves do céu faziam morada nos seus ramos, e
ções e homens de todas as línguas, que habitam todos os seres viventes se mantinham dela.
em toda a terra: Paz vos seja multiplicada! 13 No meu sonho, quando eu estava no
2 Pareceu-me bem fazer conhecidos os si- meu leito, vi um vigilante, um santo, quedes-
nais e maravilhas que Deus, o Altíssimo, tem cia do céu,
feito para comigo. 14 clamando fortemente e dizendo: Derribai
3 Quão grandes são os Seus sinais, e quão a árvore, cortai-lhe os ramos, derriçai-lhe as fo-
poderosas, as Suas maravilhas! O Seu reino é lhas, espalhai o seu fruto; afugentem-se os ani-
reino sempiterno, e o Seu domínio, de geração mais de debaixo dela e as aves , dos seus ramos.
em geração. 15 Mas a cepa, com as raízes, deixai na terra,
4 Eu, Nabucodonosor, estava tranquilo em atada com cadeias de ferro e de bronze, na erva
minha casa e feliz no meu palácio. do campo. Seja ela molhada do orvalho do céu, e
5 Tive um sonho, que me espantou; e, quan- a sua porção seja, com os animais, a erva da terra.
do estava no meu leito, os pensamentos e as vi- 16 Mude-se-lhe o coração, para que não seja
sões da minha cabeça me turbaram. mais coração de homem, e lhe seja dado cora-
6 Por isso, expedi um decreto, pelo qual fos- ção de animal; e passem sobre ela sete tempos.
sem introduzidos à minha presença todos os sá- 17 Esta sentença é por decreto dos vigilantes,
bios da Babilônia, para que me fizessem saber a e esta ordem, por mandado dos santos; a fim de
interpretação do sonho . que conheçam os viventes que o Altíssimo tem
7 Então, entraram os magos, os encantadores, domínio sobre o reino dos homens; e o dá a quem
os caldeus e os feiticeiros, e lhes contei o sonho; quer e até ao mais humilde dos homens consti-
mas não me fizeram saber a sua interpretação. tui sobre eles.
8 Por fim, se me apresentou Daniel, cujo 18 Isto vi eu, rei Nabucodonosor, em sonhos .
nome é Beltessazar, segundo o nome do meu Tu, pois, ó Beltessazar, dize a interpretação, por-
deus, e no qual há o espírito dos deuses santos; quanto todos os sábios do meu reino não me pu-
e eu lhe contei o sonho, dizendo: deram fazer saber a interpretação, mas tu podes; ..,. ~
9 Beltessazar, chefe dos magos, eu sei que pois há em ti o espírito dos deuses santos.
há em ti o espírito dos deuses santos, e nenhum 19 Então, Daniel, cujo nome era Beltessazar,
mistério te é difícil; eis as visões do sonho que esteve atônito por algum tempo, e os seus pensa-
eu tive; dize-me a sua interpretação. mentos o turbavam. Então, lhe falou o rei e disse:
lO Eram assim as visões da minha cabeça quan- Beltessazar, não te perturbe o sonho, nem a sua
do eu estava no meu leito: eu estava olhando e vi interpretação. Respondeu Beltessazar e disse:
uma árvore no meio da terra, cuja altura era grande; Senhor meu, o sonho seja contra os que te têm
ll crescia a árvore e se tornava forte, de ma- ódio, e a sua interpretação, para os. teus inimigos.
neira que a sua altura chegava até ao céu; e era 20 A árvore que viste, que cresceu e se tor-
vista até aos confins da terra. nou forte, cuja altura chegou até ao céu, e que
12 A sua folhagem era formosa, e o seu fruto, foi vista por toda a terra,
abundante, e havia nel a sustento para todos; de- 21 cuja folhagem era formosa, e o seu fruto ,
baixo dela os animais do campo achavam sombra, abundante, e em que para todos havia sustento,

865
4: l COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

debai xo da qual os animais do campo achavam o meu gra ndioso poder e para glória da minha
sombra, e em cujos ramos as aves do céu fa- majestade?
ziam morada, 31 Falava ainda o rei quando desceu uma voz
22 és tu , ó rei, que cresceste e vieste a ser do céu: A ti se diz, ó rei Na bucodonosor: Já pas-
forte; a tua grandeza cresceu e chega até ao céu, sou ele ti o reino.
e o teu domínio, até à extremidade da terra. 32 Serás ex pulso de entre os homens, e a tua
23 Quanto ao que viu o rei, um vigilante, morada será com os animais do cam po; e far-te-ão
um santo, que descia do céu e que dizia: Cortai comer ervas como os bois, e passar-se-ão sete
a árvore e destruí-a, mas a cepa com as raízes tempos por cima de ti , até que aprendas que o
deixai na terra , atada com cadeias de ferro e Altíssimo tem domínio sobre o re ino dos homens
ele bron ze, na erva elo campo; seja ela molha- e o dá a quem quer.
ela do orvalho elo cé u, e a sua porção seja com 33 No mesmo instante, se cumpriu a pala-
os animais do campo, até que passem sobre ela vra sobre Nabucodonosor; e foi ex pulso de entre
sete tempos, os homens e passou a comer erva como os bois ,
24 esta é a interpretação, ó rei, e es te é o de- o seu corpo foi molhado do orvalho do céu, até
creto do Altíssimo, que virá contra o rei, meu que lhe cresceram os cabelos como as penas da
senhor: águia, e as suas unhas, como as das aves.
25 serás expulso de entre os homens, e a tua 34 Mas ao fim daqueles dias, eu, N abuco-
morada será com os animais do campo, e dar- donosor, levantei os olhos ao céu, tornou-me a
te-ão a comer ervas como aos bois, e serás molha- vir o entendimento, e eu be ndisse o A ltíssimo,
elo do orvalho do céu; e passar-se-ão sete tempos e louvei, e glorifiquei ao que vive pa ra sempre,
por cima de ti, até que conheças que o Altíssimo cujo domínio é sempiterno, e cujo reino é de ge-
tem domín io sobre o reino dos homens e o dá a ração em geração .
quem quer. 35 Todos os moradores da terra são por Ele re-
26 Quanto ao que foi dito, que se deixasse putados em nada ; e, segundo a Sua vontade, E le
a cepa da á rvore com as suas raízes, o teu reino opera com o exército do céu e os moradores da
tornará a ser teu, depois que tiveres con hecido terra; não há quem lhe possa deter a mão, nem
que o Céu domina. lhe dizer: Que fa zes?
27 Portanto, ó rei, aceita o meu conselho 36 Tão logo me tornou a vir o entendimento,
e põe te rmo, pela justiça, em teus pecados e também, para a dignidade do me u reino, tornou-
em tuas iniquidacles, usando de misericórdia me a vir a minha majestade e o meu resp lendor;
para com os pobres; e talvez se prolongue a tua buscaram-me os meus conselheiros e os meus
tranquil idade. grandes ; fui restabe lecido no meu reino, e a mim
28 Todas estas coisas sobrevieram ao rei se me aj untou extraordinária grandeza.
Nabucodonosor. 37 Agora, pois , eu, Nabucodonosor, louvo,
29 Ao cabo de doze meses, passea ndo sobre exalço e glorifico ao Rei do céu, porque todas
o palácio real ela cidade de Babilônia, as Suas obras são verdadeiras, e os Seus ca mi-
30 falou o re i e disse: Não é esta a grande nhos, justos, e pode humilh ar aos que a ndam
Babilônia que eu edifiqu ei para a casa real, com na soberba.

1. A todos os povos. Os eventos no modernos declaram qu e tal edito é his-


cap. 4 estão narrados na forma d e uma pro- toricame nte absurdo. Os argumentos do
clam ação real. Por não encontrare m outros silêncio, porém, nunca são conclusivos. Por
~ "' casos de conversões desse tipo, eruditos outro lado, a conversão de um rei a uma nova

866
DANIE L 4:7

religião ou de us é confirmada em outros do 5° século a. C., é: "A saúde de _ _ qu e o


esc ritos. Por exemplo , o rei Amenhotep IV, Deus do céu busque."
do Egito, abandonou a religião politeísta de 3. Seu reino. A doxologia da segund a
se us ances trais e da nação e fez esforço s parte do v. 3 ocorre novamente com varia-
para introdu zir uma nova religião mono- ções no v. 34 (cf. Dn 7:14, 18).
teísta no rein o. Ele construiu uma nova 4. Tranquilo. Esta frase indica qu e
capital, mudou o próprio nom e, fechou os o rei governava seu reino tranquilam ente.
antigos templos, renunciou os deuses ante- Portanto, os eve ntos deste capítulo perten-
riores, erigiu novos templos ao seu deus e cem à últim a parte de seu reinado de 42
fez tudo o que es tava ao seu alca nce para anos. O rei estava "feli z" em seu pal ácio em
promover a nova religião. Babilônia (ver a Nota Adicional a Da niel 4);
Alé m dis so, pouco se sabe da história e, como o rico in sensato da parábola, c ujos
de Nabucodonosor de fontes sec ulares. campos tinh am produzido abundanteme nte
Portanto, é impossível verificar todos os (Lc 12:16-2 1), ele se esqueceu de sua respon-
eventos do reinado desse monarca a partir sabilidade para com Aquele a quem devia
de fontes da época. De fato , não há fontes sua grandeza.
seculares contemporâneas para a destrui - 5. Espantou. A forma abrupta como se
ção de Je rusalém por Nabucodonosor, ou apresenta o evento ilustra como foi inespe-
mes mo de sua longa campanha contra Tiro, rado (ver Dn 2:1).
embora a historicidade desses eventos não 6. Decreto. Ver Dn 3:29. Como no
seja discutid a. Portanto, não é estranho não son ho do cap. 2, os sábios foram chamados.
e nco ntrar referência em registros babilôni- Porém, neste caso, o rei não tinha esquecido
cos para a enfermidade m ental do rei . Tais o sonho. A ordem do rei para que se inter-
registros, n aturalmente , omitem infor- pretasse o sonho, portanto, foi bem diferente
mações que tratam das desgraças de um da descrita em 2:5 .
herói nacional. A mudança neste capítulo 7. Magos. Dos quatro grupos de sábios
da primeira para a terceira pessoa e de volta alistados neste versículo, os magos e os astró-
p ara a primeira (ver v. 2-27; cf. v. 28-33 ; logos foram apresentados em Daniel 1:20 (ver
3 4 -37) tem sido explic ada supondo-se com. ali), a terceira classe, os caldeus, em 2:2
que Dan iel escreveu o edito sob ordem de (ver com. de Dn 1:4), e a quarta classe, os
Nabucodonosor ou que , como conselheiro- encantadores, em 2:27 (ver com. ali).
c hefe do rei, D aniel tenha acrescentado Não me fizeram saber. Algun s suge-
algumas partes ao edito escrito pelo próprio rem que , uma vez que os sábios de Babilônia
rei. O edito refletia os sentimentos do rei eram especialistas em inte rpretação de
quando sua plena faculdade mental foi res- sonhos e sinais sobrenaturais, talvez tenh am
tabelec ida. "O outrora orgulh oso rei tinha- se oferecido algum tipo ele interpretação. De
tornado um humilde filho de Deus" (PR, 521; fato, o sonho era tão explícito que o próprio
cf. Ellen G . White, Material Suplementar rei pressentiu que contivesse a lguma me n-
so bre Dn 4:37). sagem ruim para si mesmo (ver PR, 516).
Paz vos seja multiplicada! A introdu- Foi isso que o alarmou. Contudo, antigos
ção da proclamação contém um a expressão cortesãos costumavam adular seus sobera -
de bons votos. Os editos, promulgados m ais nos e evitavam dizer-lhe diretamente qual -
ta rde pelos reis persas, eram se melhantes quer coisa desagradável. Portanto, mesmo
n a forma (ver Ed 4: 17; 7:12). Uma fórmula que entendessem parte elo sonho e tivessem
típica nas cartas em aramaico, de Elefantina, uma icleia elo signific ado, eles não teria m

867
4:8 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

tido coragem de dar as conclusões. Caso deram testemunho do Deus a quem ado-
tenham dado alguma explicação, ela se pro- ravam. A expressão, repetida nos v. 9 e
vou insatisfatória para o rei. Eles certamente 18 deste capítulo, mostra claramente que
não poderiam dar a interpretação exata e Nabucodonosor não tinha se esquecido do
detalhada como Daniel o fez mais tarde (ver que aprendeu anteriormente com respeito
PR, 517, 518). Em vez de "não me fizeram ao sublime dom profético desse judeu e
saber" a NVI diz "não puderam interpretá- de seu relacionamento com o único Deus
!@ ~> lo". É verdade que "nenhum dos sábios pôde verdadeiro.
interpretá-lo" (PR, 516). 9. Chefe dos magos. Este termo usado
8. Beltessazar. A narrativa introduz pelo rei é, provavelmente, sinônimo do usado
Daniel primeiramente com o nome judeu, em Daniel2:48: "governador de toda a provín-
pelo qual era conhecido por seus con- cia da Babilônia, como também o fez chefe
terrâneos, e então pelo nome babilônico, supremo de todos os sábios da Babilônia".
dado a ele em honra ao principal deus de A palavra "chefe" (Dn 2:48; 4:9) vem da
Nabucodonosor (ver com. de Dn 1:7). mesma palavra aramaica, rav.
Não se sabe por que Daniel foi mantido Dize-me as visões (ARC). O rei parece
em segundo plano por tanto tempo, embora ordenar a Daniel que lhe diga o sonho e sua
fosse considerado "o chefe dos magos" (v. 9). interpretação, mas ao mesmo tempo passa a
Alguns sugerem que Nabucodonosor que- narrar o sonho (v. lO). A LXX não tem este
ria saber o que os caldeus tinham a dizer versículo nos manuscritos existentes. Ela
sobre este sonho perturbador, antes de ouvir contém o relato dos v. I a 9 de forma abre-
toda a verdade, a qual suspeitava ser desfa- viada. Alguns comentaristas consideram a
vorável (comparar com o caso do rei Acabe, versão grega de Teodócio ("ouve a visão do
1Rs 22:8). Somente depois de a outra casta sonho que tive, e dize-me sua interpretação")
de sábios que se ocupava das ciências ocultas como a melhor solução. Outros ainda, como
se mostrar incapaz de satisfazer o rei, foi que Montgomery, argumentam que a palavra
este mandou chamar o homem que tinha aramaica chzwy (originalmente sem pontos
anteriormente demonstrado habilidade e vocálicos), traduzida como "dize-me" (ARC),
sabedoria superior para interpretar sonhos era originalmente chzy, "eis aqui", como
(Dn 2; cf. 1:17, 20). demonstra o papiro aramaico de Elefantina.
Dos deuses santos. Ou, "do Deus Assim, o texto então seria: "eis as visões do
santo" (ver RSV margem); e ainda "o santo sonho que eu tive; dize-me a sua interpre-
espírito de Deus" (versão de Teodócio). tação" (ARA).
A LXX omite os v. 5b a lOb. O termo ara- 10. Vi uma árvore. A sabedoria divina
maico para "deuses" é 'elahin, usado com com frequência emprega parábolas e metáfo-
frequência para designar deuses falsos (ver ras como veículos de transmissão da verdade.
Jr 10:11; Dn 2:11 , 47; 3:12; 5:4), mas que tam- Esse método impressiona. Os símbolos aju-
bém pode ser aplicado ao verdadeiro Deus dam a pessoa a reter a mensagem e seu con-
(ver com. de Dn 3:25; cf. 5:11, 14). A expres- teúdo na memória por mais tempo do que
são revela o que inspirou a confiança do rei se a mensagem tivesse sido comunicada ele
no poder e entendimento superior de Daniel. outra forma (ver a metáfora ele Ez 31:3-14).
Também revela que Nabucodonosor possuía Os antigos estavam acostumados a ver
um conceito da natureza dessa Divindade um significado em todo sonho incomum.
a quem Daniel devia tal poder e sabedoria. Talvez seja por isso que Deus empregou o
Sem hesitação, Daniel e seus companheiros sonho nesta ocasião.

868
DANIEL 4:17

13. Um vigilante. Do aramaico 'ir, deri- Visto que a interpretação do sonho não
vado do verbo 'ur, "vigiar", e corresponde ao chama atenção para as cadeias, apenas
hebraico 'er, que não significa "manter vigi- conjectura-se a seu respeito. Nos v. 15 e
lante", mas "ser vigilante" ou "o que está 16, há uma mudança de "cepa, com as raí-
desperto", conforme explica a nota sobre zes" para o que isso representava. Alguns,
a palavra no Códice Alexandrino. A LXX como Jerônimo, fazem a transição na frase
traduz a palavra por aggelos, "anjo". Mas considerada e veem cadeias literais no ato
lé,.. Teodócio, em vez de traduzi-la, simplesmente de atar, como as que se necessitariam para
faz a transliteração ir. Os tradutores judeus prender o rei enlouquecido, ou cadeias figu-
Áquila e Símaco a traduzem como egregoros, radas, representando as restrições postas
"o vigilante", termo encontrado no livro de sobre o monarca como resultado de sua
Enoque e outros escritos judaicos apócri- insanidade. Contudo, parece mais natu-
fos para designar os anjos superiores, bons ral aplicar as cadeias à cepa e considerá-las
ou maus, que vigiam e não dormem. Como indicativas do cuidado que seria exercido
designação para anjos, o termo "vigilante" para preservá-la.
ocorre exclusivamente nesta passagem no 16. O coração. Fez-se claramente a
AT. Sugere-se que os caldeus podem ter transição da metáfora da árvore para o objeto
conhecido os anjos com este termo, embora real simbolizado por ela (ver com. do v. 15).
não se tenha evidência disso. O atributo O termo "coração", neste caso, parece indi-
"santo" e a frase "que descia do céu" mos- car natureza. O rei assumiria a natureza de
tram que o vigilante é um mensageiro celes- um animal.
tial. É evidente que se reconhecia o vigilante Sete tempos. A maioria dos intérpretes,
como portador das credencias do Deus do antigos e modernos, explicam o aramaico
céu (ver PR, 518). 'iddan, "tempo", neste caso (também no
15. Mas a cepa[ ... ] deixai. Comparar v. 23, 25, 32; 7:25; 12:7) como "ano". A LXX
comJó 14:8; Is 11:1. Os futuros brotos deste diz "sete anos". Entre os comentaristas mais
tronco (ver Jó 14:7-9) tipificavam, segundo se antigos que defendem essa opinião, figu-
vê pela comparação dos v. 26 e 36, a restaura- ram Josefo (Antiguidades, x.l0.6), Jerônimo,
ção de Nabucodonosor de sua enfermidade, Rashi, Ibn Esdras e Jefé. Comentaristas
e não a continuidade da supremacia de sua modernos também concordam com essa
dinastia, como alguns comentaristas enten- opinião.
dem. Toda a passagem obviamente designa 17. Vigilantes. Ver com. do v. 13. O plu-
um indivíduo e não uma nação. ral pressupõe a existência de um conselho
Com cadeias. Muitos comentaristas ou uma assembleia celestial (ver Jó 1:6-12;
veem nesta declaração uma referência a 2: 1-6).
cadeias de metal presas ao redor de um tronco, Os viventes. Esta frase revela o propó-
talvez para impedi-lo de se rachar ou partir, sito divino de executar a ordem. A maneira
embora tal prática não possa ser demons- de Deus lidar com Babilônia e seu rei deve
trada por meio de fontes antigas. A LXX não mostrar a outras nações e seus reis os resul-
faz menção dessas cadeias. De acordo com tados de se aceitar ou rejeitar o plano divino
essa versão, o v. 15 diz: "E assim disse ele: para as nações.
deixai uma de suas raízes na terra, a fim Que o Altíssimo tem domínio. Nos
de que, com os animais da terra nas mon- assuntos das nações, Deus está sempre "a
tanhas de pasto, ele se alimente como um executar, silenciosamente, pacientemente, os
boi." Teodócio defende o texto massorético. conselhos de Sua própria vontade" (Ed, 173).

869
4:18 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

Às vezes, assim como com o chamado de Quando, em vez de proteger as pessoas, a


Abraão, Ele ordena uma série de even- nação se torna um opressor altivo e cruel,
tos designados a demonstrar a sabedoria sua queda é inevitável (Ed, 176). Quando
de Seus caminhos. Outras vezes, como no rejeitam os princípios divinos, a glória e o
mundo antediluviano, Ele permite que o poder das nações desaparecem , e seu lugar
mal siga seu curso e demonstra a tolice é ocupado por outras (Ed, 177). 'Todos estão
de se opor aos princípios corretos. Mas, pela sua própria escolha decidindo seu des-
ao final , como no livramento dos hebreus tino", e ao rejeitar os princípios divinos pro-
do Egito, Ele intervém pa ra que as for- vocam sua própria ruína (E d, 178, 177).
ças do mal não vençam os instrumentos "O complicado jogo dos acontecimentos
que Ele dispõe para a salvação do mundo. humanos acha-se sob a direção divina. Por
Se Deus ordena, permite ou intervém, "o com- entre as contendas e tumultos das nações,
plicado jogo dos eventos hum anos está sob Aquele que Se assenta acima dos qu erubins
divino controle" e "um divino e soberano dirige os negócios da Terra" e governa "acima
propósito tem manifestamente estado a de tudo para o cumprimento de Seu propó-
operar através dos séculos" (PR, 536, 535; sito" (Ed, 178; ver com. de Dn 10:1 3).
ver Ed, 174 ; Rm 13:1). Ao mais humilde. Do aramaico shefal,
"A cada nação [... ] tem Deus designado "baixo", "humilde". O verbo é traduzido como
g: ~. um lugar em Seu grande plano" e provê "humilhar" (4:37) e "humilhaste" (Dn 5:22).
oportunidade para que cumpra o propósito 18. Saber a interpretação. Ver com.
do "Vigia e Santo" (E d, 178, 177) . Segundo do v. 7.
os desígnios divinos, a função do governo Dos deuses santos. Ver com. do v. 8.
é proteger e manter a nação, dar ao povo 19. Atônito. Do aramaico shemam, que,
a oportunidade de alcançar o propósito do na forma encontrada aqui , significa "pálido",
Criador e permitir que outras nações fa çam "perplexo" ou "perturbado". O último signi-
o mesmo (Ed, 175), a fim de que todos bus- ficado talvez seja o mais apropriado neste
quem "a Deus se, porventura, tateando, o caso. Ao entender o sonho de imediato e
possam achar, bem que não está longe de suas implicações, Daniel deve ter se sentido
cada um de nós" (At 17:27). extremamente perturbado com a responsa-
A força de uma nação é proporcional à bilidade de revelar o terrível significado ao
fidelidade com que cumpre o propósito de rei (ver Dn 2:5).
Deus; seu êxito depende do uso do poder Por algum tempo. Do aramaico sha'ah.
que lhe é confiado; sua conformidade com É impossível definir o período indicado por
os princípios divinos é sempre a medida de sha'ah; pode ser breve ou longo (ver o uso de
sua prosperidade; e seu destino é determi- sha'ah em Dn 3:6, 15; 4:33; 5:5). Deve ter
nado pelas escolhas que seus líderes e povo passado tempo suficiente para que Daniel
fazem com respeito a esses princípios (Ed, revelasse a seu patrono real que "seus pensa-
175, 174, 177, 178; PP, 536). Deus dá sabe- mentos o turbavam [ou o alarmavam]". Sem
doria e poder que fortalece as nações fiéis dúvida, Daniel estava procurando palavras e
a Ele, mas abandona as que atribuem a gló- expressões adequadas para contar ao rei as
ria a conquistas humanas e agem de forma terríveis notícias com respeito a seu futuro.
independente dEle (PR, 501). Então, lhe falou o rei. O fato de
Os seres humanos "que se recusam a sujei- Nabucodonosor passar a falar em terceira
tar-se ao governo de Deus, são de todo inap- pessoa não justifica a conclusão de que outro
tos para governar a si próprios" (GC, 584). falava dele, e que, portanto, o documento

870
DANIEL 4:27

não é genuíno, ou que o versículo inclua um indicassem uma calamidade, os magos foram
dado histórico interpolado no documento. incapazes de determinar a natureza da puni-
Mudanças similares da primeira para a ter- ção. Não se declara o motivo para a expul-
ceira pessoa e vice-versa se encontram em são do rei da sociedade, embora seja provável
outros livros bíblicos (ver Ed 7: 13-15; Et 8:7, que ele o tenha compreendido. Pode-se con-
8) e seculares, antigos e modernos (ver com. cluir que a punição foi a insanidade, não
de Ed 7:28). apenas pelas observações gerais deste ver-
O rei viu a consternação na face de sículo, que descreve seu futuro, mas tam-
Daniel. Pela natureza do sonho, dificil- bém pela declaração de que sua razão foi
mente poderia esperar ouvir algo agradável. restabelecida (v. 34). Não tem fundamento
Contudo, ele encorajou seu fiel cortesão a a afirmação de que o rei foi expulso devido
lhe dizer toda a verdade sem temor de ficar a descontentamentos, ou como resultado de
sujeito a reprovação. uma revolução.
Os que te têm ódio. Embora Daniel 26. Tornará a ser teu. Muitos imagi-
tivesse sido feito cativo pelo rei e sido depor- nam por que o rei insano não foi morto, ou
tado de sua pátria para servir a estrangeiros, por que seus súditos e ministros de estado
os opressores de seu povo, ele não abrigava não colocaram outra pessoa no trono durante
maus sentimentos para com Nabucodonosor. o tempo em que esteve incapacitado. Têm-se
De fato, suas palavras testemunham que era as seguintes explicações: Os supersticiosos
leal ao rei, provavelmente em contraste com daquela época criam que todos os distúrbios
muitos dos judeus de sua época. Por outro mentais eram causados por espíritos malig-
lado, as palavras de Daniel não devem ser nos que assumiam controle de suas víti-
interpretadas necessariamente como mal- mas. Se alguém matasse o insano, o espírito
dade para com os inimigos do rei. A resposta se apoderava do assassino ou instigador do
exibe simplesmente uma reação de um cor- crime; e se sua propriedade fosse confiscada
tesão oriental. ou seu cargo ocupado por outro, uma terrí-
22. És tu. Sem deixar o rei esperar por vel vingança recairia sobre os responsáveis
~ ~ muito tempo, Daniel claramente lhe anun- pela injustiça. Por isso, pessoas insanas eram
ciou, embora o monarca, sem dúvida, já sus- removidas da sociedade e não eram incomo-
peitasse, que a árvore representava a si próprio. dadas (ver 1Sm 21:12-22:1).
Até ao céu. Para alguns, os termos 27. Põe termo [... ] em teus peca-
pelos quais o profeta descreveu a grandeza dos. Um princípio divino é comunicado
de Nabucodonosor podem parecer exagera- ao monarca arrogante. Os juízos de Deus
dos, mas deve-se ter em mente que Daniel podem ser evitados mediante arrependi-
usava linguagem e expressões de um corte- mento e confissão (ver Is 38:1, 2, 5; Jr 18:7-10;
são oriental, com as quais ele e o rei estavam Jn 3:1-10). Por essa razão, Deus anunciou o
acostumados. Esses termos são similares à juízo iminente sobre Nabucodonosor, mas
altiva linguagem de Nabucodonosor, exibida lhe deu um ano inteiro para se arrepender,
em várias de suas inscrições descobertas por e assim evitar a calamidade (ver Dn 4:29).
arqueólogos. Eles também se parecem com Porém, o rei não mudou seu modo de vida
as palavras empregadas pelos predecessores e, como resultado, atraiu sobre si a execução
assírios de Nabucodonosor e outros monar- do juízo. Em contraste, os ninivitas, que tive-
cas orientais. ram 40 dias para se arrepender, aproveita-
25. Com os animais. Embora as pala- ram a oportunidade; assim, eles e a cidade
vras do mensageiro celestial claramente foram poupados (Jn 3:4-10). "Certamente,

871
4:29 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

o SENHOR Deus não fará coisa alguma, sem exageradas de autores clássicos sobre o
primeiro revelar o Seu segredo aos Seus ser- tamanho da Babilônia antiga (ver Nota
vos, os profetas" (Am 3:7). Deus avisa povos Adicional a Daniel4).
e nações da destruição iminente. Ele envia A declaração de Nabucodonosor de ter
uma mensagem ao mundo hoje, advertindo edificado a cidade de Babilônia não deve
que o fim rapidamente se aproxima. Pode ser interpretada como referência à funda-
ser que poucos deem ouvidos a essa adver- ção da cidade, que aconteceu de fato pouco
tência, mas pelo fato de terem sido devida- depois do dilúvio (Gn 11:1-9; cf. Gn 10:10).
mente avisados, não terão desculpas no dia A referência é ao grande trabalho de recons-
da calamidade. trução que seu pai Nabopolassar começou,
Usando de misericórdia. O rei foi e que Nabucodonosor completou. As ativi-
advertido a ser justo para com seus súditos dades de Nabucodonosor como construtor
e a exercer misericórdia para com oprimidos, foram tão extensas que ofuscaram todos os
miseráveis e pobres (ver Mq 6:8). Com fre- feitos prévios. Diz-se que se podia ver pouco
quência, alistam-se essas virtudes em con- do qu e não tinha sido erigido na sua época.
junto (ver SI 72:3, 4; Is 11:4). Isso era verdade quanto aos palácios, tem-
29. Sobre o palácio. Não se sabe de plos, muros e mesmo às residências. O tama-
que palácio Nabucodonosor contemplava a nho da cidade foi mais que duplicado com o
cidade. Possivelmente foi do alto dos famo- acréscimo de novas áreas à antiga Babilônia,
sos jardins suspensos, cujos muros largos como subúrbios em ambas as margens do
e fortes foram escavados, ou do palácio de rio Eufrates.
verão na parte norte da nova cidade, que é 31. Desceu uma voz. Comparar
agora um monte de ruínas conhecido como com Isaías 9:8, em que "desce u" é, literal-
Babil (sobre Babilônia, ver Nota Adicional mente, "caiu". As arrogantes declarações do
a Daniel4). rei foram imediatamente seguidas de sua
30. Que eu edifiquei. Estudiosos da humilhação. Não se declara se esta voz foi
história antiga de Babilônia recordam estas ouvida apenas pelo rei ou se também por
palavras arrogantes ao lerem as declara- seu séquito .
ções do rei nas inscrições preservadas em 33. No mesmo instante, se cumpriu.
meio ao pó e aos escombros das ruínas de Muitos comentaristas identificam a enfermi-
Babilônia. Numa dessas inscrições, o orgu- dade de N abucodonosor com uma forma de
lhoso rei proclama: "Então, eu construí o insanidade em que a pessoa se vê como ani-
palácio, o assento de minha realeza, o vín- mal e imita seu modo de vida.
culo da raça humana, a morada de júbilo Encontrou-se um exemplo antigo dessa
e regozijo" (E. Schrader, K.eilinschriftliche enfermidade mental. Uma tabuleta cunei-
R'" Bibliotheh, vol. 3, parte 2, p. 39). Em outro forme não publicada, do Museu Britânico,
texto, ele diz: "Na Babilônia, cidade que eu menciona um homem que comia pasto como
prefiro, que amo, está o palácio, a admira- uma vaca (F. M. Th. de Liagre Bohl, Opera
ção do povo, o vínculo do país, o palácio bri- Minora [1953], p. 527). Não é necessário
lhante, a morada da majestade no solo de identificar com precisão a enfermidade de
Babilônia" (Ibid, p. 25). As escavações de Nabucodonosor ou igualá-la a algo conhecido
R. Koldewey mostraram que Nabucodonosor pela medicina atual. A experiência pode ter
tinha razões humanas para se orgulhar de sido única. A narrativa é breve, e um diag-
sua criação, embora n ão tenham confir- nóstico preciso feito com tão pouca informa-
mado em todos os detalhes as declarações ção seria inválido.

872
DANIEL 4:37

Penas da águia. A palavra "penas" foi do coração de um homem que aprendeu


acrescentada. O cabelo, quando não cuidado com sua experiência a conhecer e a reve -
e exposto por muito tempo às influências do renciar a Deus.
clima e aos raios de sol, fica crespo e rebelde. 36. Tornou-me a vir. Com a restau-
34. Ao fim daqueles dias. Isto é, ao ração de sua consciência, Nabucodonosor
fim dos "sete tempos" ou sete anos, preditos também reconquistou a dignidade real e o
para a duração da loucura de Nabucodonosor trono. A fim de mostrar a estreita relação
(ver com. do v. 16). entre o restabelecimento da razão e a res-
Levantei os olhos. É importante notar tauraç ão da soberania, este versículo repete
que o restabelecimento da razão ocorreu (ver v. 34) o primeiro elemento da recupe -
quando o rei reconheceu o verdadeiro Deus. ração . O segundo vem imediatamente, no . ,. 8
Quando em oração olhou para os céus, o modo semita simples de narrar. Um narrador
humilhado rei foi elevado da condição de ocidental teria dito: "Quando meu entendi-
um animal bruto à de um ser que tem a ima- mento retornou, também retornaram minha
gem de Deus. Aquele que por anos tinha posição e glória reais."
estado no solo, impotente e rebaixado, foi Buscaram-me. A palavra "buscaram"
mais uma vez elevado à dignidade humana não indica necessariamente que, durante
que Deus concedeu às Suas criaturas forma- o período de insanidade, permitiu-se que o
das segundo Sua imagem. A característica rei vagasse pelos campos e pelo deserto sem
essencial do milagre que aconteceu no caso supervisão, mas a busca de alguém tendo
de Nabucodonosor ainda se repete, embora em conta seu posto oficial. Quando se tor-
de uma form a menos espetacular, na conver- nou conhecido que o rei tinha recuperado
são de cada pecador. a razão, os regentes do estado o levaram de
Bendisse o Altíssimo. O primeiro dese- volta com todo respeito devido, a fim de lhe
jo do outrora altivo rei, após sua terrível expe- restaurar o governo. Durante a insanidade
riência, foi agradecer a Deus, louvá-lo como do rei, esses homens tinham se enca rregado
o Eterno e reconhecer a perpetuidade de das questões do governo.
Seu reino . 37. Louvo, exalço. Esta é a conclu-
35. Reputados em nada. Comparar são da proclamação de Nabucodonosor, na
com Is 40:17. A segunda parte deste versí- qual, como pecador convertido, el e reco-
culo tem um paralelo estreito com Isaías nhece a justiça de Deus. A confissão de
43:13. Alguns sugerem a possibilidade de que Deus é "Rei do céu" expressou sua
que, em sua associação com Daniel, o rei reverência para com o Deus que acabava
tenha conhecido as palavras de Is a ías, e de receber. O monarca curado aprendeu
que essas então lh e vieram à mente. A con- bem a lição (ver PR, 521; Ell en G. White,
fissão foi maravilhosa, vinda da boca de um Material Suplementar, sobre este versículo).
monarca outrora altivo. É o testemunho de N abucodonosor teve compreensão progres-
um converso penitente, uma declaração siva sobre Deus (ver Dn 2:47; 3:28; p. 826) .

NOTAADICIONALA DANIEL 4

Importantes escavações foram realizadas em Babilônia, desde 1899 até 1917, sob a dire-
ção de Robert Koldewey, que trabalhou para a D eutsche Orient-Gesellschaft (Sociedade
Oriental Alemã). Descobriram-se algumas das mais importantes áreas do grande sítio de

873
COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

ruínas da antiga Babilônia, embora grandes áreas não tenham sido tocadas nessas escava-
ções . Babilônia foi uma cidade importante da Mesopotâmia desde o desponta r da histó-
ri a (Gn 11). H amurábi tinha feito dela a capital de sua dinastia . Como sede do santuário
do famoso deus Marduque, foi um centro religioso mesmo durante períodos quando não
des frutava de supremacia política, como, por exemplo, durante o tempo em que a Assíria
era o principal pod er region al. Quando Nabopolassar reconquistou a indepe ndênci a de
Babilônia, a cidade se tornou mais uma vez a metrópole do Oriental Médio. No entanto , foi
principalmente sob o governo de Nabucodonosor, o grand e edificador do império neobabi-
lônico, qu e Babilônia se tornou "ajoia dos reinos, glória e orgulho dos caldeus" (Is 13: 19).
Foi a cidade de Nabucodonosor qu e Koldewey des ente rrou, durante os 18 anos de esca-
vações alemãs. Não se encontrou praticamente nada dos es tágios anteriores da cid ade.
Para isso atribuíram-se du as razões: (l) a mudança do c urso do rio Eufrates elevou o nível
da água, de modo que os estratos da cidade a ntiga estão agora abaixo do nível da água; e
(2) a destruiç ão de Babilônia pelo rei assírio Senaqueribe, em 689 a.C ., foi tão co mpleta
que restou pouco da antiga cidade que pudesse ser descoberto por gerações posterio-
res. Por isso, todas as ruín as atuais visíveis datam do império neobabil ônico e de épocas
posteriores. M esmo essas mostram desolação e confu são incomuns, por duas razões : (l)
grande parte da cidade foi destruída pelo rei Xerxes, da Pérsia , após du as revolt as babi-
lônicas contra seu governo; e (2) as ruín as de Babilônia foram usadas por Sele uco para
construir Sele ucia, por volta de 300 a.C. A maior pa rte das edificações das vilas vizinhas
e da cidade de Hilla, bem como a grande represa do rio Hindiya, fora m construídas com
tijolos de Babilônia.
A despeito dessas desva nt agens , os escavadores tivera m êxito e m e scla recer boa
parte do desen ho da Babilôni a de Nabucodonosor. Nisso , eles tivera m ajuda de a nti gos
documentos cuneiform es e ncontrado s durante as escavações. Esses documentos co n-
têm descri ções detalhadas da cidade, de seus principais edifício s, muros e bairros, de
modo qu e se conhece mais da planta da Babilônia de Na bucodonosor do que de mui -
tas cidades medievais europeias. Portanto, há muita informação di spo nível qu a nto a
ci dade e m c uj as ruas Dani el caminhou e a respeito da qual Nabuc odonosor profe riu as
palavras registradas em Da niel 4:30.
A extensão da antiga Babilônia -Antes que as escavações revelasse m a verdad eira
dimensão da Babilônia de Nabucodonosor e da mais antiga, eruditos se baseavam na des-
R"" crição de H eródoto. Esse hi storiador decl ara ter visitado a Mesopotâmia em meados do
5° século a.C .; e suas declarações, portanto, são com frequência consid eradas as de uma
testemunha ocular. Ele afirma que (i.178, 179) Babilôni a tinha a forma el e um grand e qua-
drado, de 22 km de lado. Essas medidas dariam aos muros da cidade um a extensão total de
88 km , e à cid ade em si uma área de quase 490 quilômetros quadrados. E le també m afirm a
que os muros tinham a espess ura de 30m e altura de 104 metros.
Antes qu e as escavações modernas revelassem o taman ho da antiga Babilônia, os es tu-
diosos tentavam harmonizar as afirmações de Heród oto com as ruín as visíveis. O assi rio-
logista fran cês Jules Oppert , por exemplo, procurou expli ca r a decla ração de H eródoto
estendendo a á rea da cid ade de Babilônia até incluir a Birs N imrud, 19 km a sudoeste das
ruín as de Babilônia, ou a Tell el-Oheimir, l3 km ao leste. Essa explicação é insati sfatóri a.
Já nos dias de Oppert, sabia-se que Birs Nimrud é o sítio da antiga Borsipa, e Tell el-Ohei-
nú.r, o de Kish ; ambas cidades famosas e independentes com muros de proteção sepa rados.

874
DANIEL

Visto que jamais se encontrou um muro que rodeasse tanto Babilônia como também Borsipa
ou Kish, e uma vez que tal muro não é mencionado em nenhum dos documentos contempo-
râneos que descreve a cidade antiga, o cálculo de Oppert, baseado na declaração de Heródoto
a respeito da extensão dos muros de Babilônia, não pode ser aceito.
As escavações revelaram que, antes da época de Nabucodonosor, a cidade era quase qua-
drada, com muros de 1,5 km de extensão de cada lado: a cidade interna, no mapa da p. 876.
Os palácios e prédios administrativos estavam na parte noroeste da cidade, e ao sul deles
ficava o principal conjunto de templos chamado Esagila, dedicado a Marduque, principal
deus de Babilônia. O rio Eufrates fluía ao longo do muro ocidental de Babilônia.
Quando Babilônia foi capital do vasto império, no tempo de Nabopolassar e Nabucodonosor,
precisou ser aumentada. Construiu-se uma nova área às margens ocidentais do Eufrates.
A extensão é conhecida, mas poucas escavações foram realizadas nessa parte. O que se
sabe de seus templos e ruas foi reunido a partir de documentos cuneiformes que descre-
vem essa área. Ela estava ligada à cidade antiga por uma ponte que ficava sobre oito pila-
res, como revelaram as escavações.
Nabucodonosor também construiu um novo palácio distante e ao norte da antiga cidade,
o famoso palácio de verão. Construiu-se um grande muro externo para envolver o palácio.
O novo muro ampliou muito a área da cidade. Não existe evidência de um muro ao longo
do rio desde o palácio de verão até a antiga área do palácio. Portanto, conclui-se que o rio
em si era considerado uma proteção suficientemente forte.
Os muros, que ainda podem ser vistos como monturos grandes e altos, estendiam-se por
aproximadamente 20 km. Essa é a extensão total dos muros de ambas as cidades, interna
e externa. A circunferência da cidade de Nabucodonosor, incluindo as áreas ribeirinhas,
desde o palácio de verão até o setor do antigo palácio, tinha cerca de 15 km.
Escavações modernas mostram que a descrição de Heródoto quanto às dimensões dos
muros precisa ser modificada. As fortificações que rodeavam a cidade interna consistiam
de muros duplos: o interno, com 6,5 m de espessura, e o externo, com 3,7 m de espessura.
O sistema de fortificações externas também era duplo, com um preenchimento de cas -
calho entre ambos os muros e um caminho na parte superior, de acordo com Heródoto.
A espessura de cada um deles era a seguinte: muro interno, 7,1 m; espaço para preencher,
11,2 m; muro externo, 7,8 m, com uma espécie de reforço na base, de 3,3 m de espes-
sura. Portanto, o total da espessura dessa fortificação externa era de 29,4 m. Das suas
muitas torres, 15 foram escavadas.
As escavações nada dizem sobre a altura dos muros, visto que restam apenas as bases, e
em nenhuma parte têm mais que 12 m, como na porta de Ishtar. Parece inconcebível que
mesmo um muro duplo, com a espessura de base de 29 m, possa ter tido 104 m de altura.
Não se conhece nenhum tipo de muro de cidade, antiga ou moderna, com essas propor-
ções. Portanto, a declaração de Heródoto com respeito à altura do muro de Babilônia não ~ 3!
deve ser considerada literalmente.
Quais as razões para essas inconsistências? É dada a seguinte explicação: Quando
Heródoto visitou Babilônia, em grande parte a cidade jazia em ruínas, tendo sido destruída
por Xerxes após duas revoltas contra seu governo. Templos, palácios e todas as fortifica-
ções foram totalmente demolidos. Na época de sua visita, Heródoto precisou depender de
informações orais com respeito às dimensões das antigas construções, a aparência dos edi-
fícios e o tamanho da cidade e dos muros. Visto que não falava a língua dos babilônicos,

875
10 15 20km

BABILÔNIA E SEUS
ARREDORES
(6" séc. a.C .)
*De acordo com Eckhard Unger
(Baby/on. Oie Heilige Stadt)
atual. tendo seu antigo cu rso alterado
próximo a Babilônia e Borsipa.
o
L-------~--------~
500 lOOOm As linhas que se estendem do rio são
ca nais de irrigação modernos que
sem dúvida são similares aos antigos

I
I
I
I
I

A- Templo do festival de Ano Novo


'I
B-Templo de Ninmech I
C- Templo de Bel
D- Templo de Adad
E-Templo de Shamash
F- Templo de lshtar de Acade
G- Etemenanki (torre do templo)
H - Tem plo de Marduque
1-Templo de Gula
J- Templo de Ninurta
DANIEL

mas dependia de um guia de fala grega, ele pode, devido a dificuldades de tradução, ter
recebido informação inexata. Algumas de suas declarações errôneas podem dever-se a lapsos
de memória.
O assiriologista F. M. Th. de Liagre Bohl apresentou outra explicação. Ele sugere que
Heródoto pode ter considerado toda a fortaleza de Babilônia, incluindo as áreas que ficavam
dentro da região que podia ser inundada em tempos de perigo. Bohl destaca que é extrema-
mente difícil a um leigo distinguir entre os diques de canais secos e o restante de muros de
cidades antigas. A única diferença é a ausência de fragmentos de cerâmica nos diques. H á
fragmentos de cerâmica em abundância próximos aos antigos muros da cidade. Portanto,
deve-se considerar possível que Heródoto tenha tomado por restos dos muros da cidade
alguns dos muitos diques (ver Ex Oriente Lux, n. lO, 1945-48, p. 498, n. 28).
Embora a antiga Babilônia não tivesse o tamanho fantástico que Heródoto lhe atribuiu ,
ela era enorme numa época em que as cidades eram pequenas para os padrões modernos.
Seu perímetro de 17,5 km suplantava o de 12,5 km de Nínive, a capital do império assí-
rio; o dos muros da Roma imperial, de lO km; e os 6,5 km dos muros de Atenas na época
do apogeu dessa cidade, no 5° século a.C. Essa comparação com outras cidades famos as da
Antiguidade mostra que Babilônia era, com a possível exceção da antiga Tebas, no Egito,
então em ruínas, a maior de todas as capitais antigas , embora fosse bem menor do que os
escritores clássicos a retratam. É compreensível que Nabucodonosor se sentisse no direito de
se vangloriar por ter edificado "a grande Babilônia" com o seu "grandioso poder" (Dn 4:30).
Uma cidade de templos e palácios - Pelo fato de Babilônia abrigar o santuário do
deus Marduque, considerado o senhor do céu e da terra , o principal de todos os deuses, os
antigos babilônicos consideravam sua cidade o "umbigo" do mundo. Por isso, Babilônia era
um centro religioso sem comparação. Um tablete cuneiforme do tempo de Nabucodonosor
alista 53 templos dedicados a deuses importantes, 955 pequenos santuários e 384 altares de
rua, todos dentro dos limites da cidade. Em comparação, Assur, uma das principais cidades
da Assíria, com seus 34 templos e capelas, fa zia uma impressão relativamente pobre. Pode-se
entender bem por que os babilônios se orgulhavam da cidade, dizendo: "Babilônia é a origem
e o centro de todas as terras". Seu orgulho se reflete nas famosas palavras de Nabucodonosor
citadas no com. de Daniel 4:30 e também numa antiga canção de louvor (como a de
E. Ebeling, Keilschrifttexte aus Assur religiosen Inhalts, Parte I [Leipzig, 1915], N. 8):
"Ó Babilônia, quem te contempla se enche de regozijo,
Quem habita em Babilônia vive mais,
Quem fala mal de Babilônia é como aquele que mata a própria mãe.
Babilônia é como uma doce tamareira, cujo fruto é agradável ao olhar."
O centro da glória de Babilônia era a famos a torre-templo Etemenanlú, "a pedra funda-
mental do céu e da terra", com uma base quadrada de 90 m de cada lado e, provavelmente,
91 ,4 m de altura. Esse edifício foi superado em altura nos tempos antigos apenas pelas duas
grandes pirâmides de Gizé, no Egito. A torre deve ter sido construída no local onde estava a
torre de Babel. A estrutura de tijolos consistia de sete níveis, dos quais o menor e mais ele-
vado era um santuário dedicado a Marduque, o principal deus de Babilônia (ver mais deta-
lhes, no com. de Gn ll :9). ~ ;g
Um grande conjunto de templos, chamado Esagila, literalmente, "o que levanta a cabeça",
rodeava a torre Etemenanlú. Seus átrios e edifícios foram o cenário de muitas cerimônias
religiosas realizadas em honra a Marduque. Grandes e coloridas procissões terminavam

877
COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

nesse lugar. Com exceção do grande templo de Amon, em Karnak, Esagila foi o m aior e
mais famoso de todos os templos do Oriente antigo. Na época em que Nabucodonosor subiu
ao trono, ele já tinh a uma longa e gloriosa histór ia, e o novo rei reconstruiu inteirame nte e
embelezou grandes espaços do conjunto de templos, incluindo a torre E temenanhi.
Tanto e m número como em taman ho, os palácios de Babilônia revelavam ostentação inco-
mum . Dura nte seu longo reinado de 43 a nos, Nabucodonosor construiu três grandes caste-
los ou palácios . Um deles ficava dentro da cidade interna, os outros, fora. Um e ra o palácio
de verão, na parte ma is ao norte do novo qu arteirão oriental. O monturo que cobre suas
ruín as é o m ais alto entre tod as as ruínas da antiga Babilônia, e é o úni co lugar que aind a
leva o antigo nome Babil. Contudo, a completa destruição desse palácio na Antiguidade e o
subsequente saque de tijolos de sua estrutura não deixa ram muito para os arqueólogos des-
cobrirem. Por isso, sabe-se pouco sobre o pa lácio.
Outro grande palácio, que os escavadores chamam de palácio central estava imediata mente
fora do muro norte da cidade interna. Esse também foi constru ído por Nabucodonosor. Os arqueó-
logos encontraram essa grande construção também num estado sum amente desolado, com exce-
ção de uma parte, o museu de antiguidades. Ali, objetos va liosos do passado glorioso da hi stória
babilônica, como estátuas antigas, inscrições e troféus de guerra, foram reunidos e exibidos "para
que os homens contemplem", como expressou Nabucodonosor em uma das inscrições.
O palácio do sul ficava no canto noroeste da cidade interna e continha, entre outros edifí-
cios, os famosos jardins suspensos, uma das sete maravilhas do mundo a ntigo. Um grande edi-
fício abobadado tinha em seu topo um jardim irrigado por um sistema de canos por meio dos
quais se bombeava água. Segundo Diodoro, Nabucodonosor construiu esse maravi lhoso edifício
pa ra que su a esposa meda [da Média] encontrasse, na Babilônia plana e sem árvores, um substi-
tuto das colinas arborizadas de sua pátria, da qual sentia falta. Nas abóbadas abaixo dos jardins
suspensos armazenavam-se provisões de cereais, azeite, frutas e especiarias para as necessi-
dades da corte e de seus dependentes. Escavadores encontraram , nessas salas, documentos
administrativos, alguns dos quais mencionam que o rei Joaquim , de Jud á, recebia rações reais .
Junto aos jardins suspensos ficava um extenso conjunto de edifícios, salas e quartos que
tinh am substituído o palácio menor de Nabopolassar, pai de Nabucodonosor. Esse palácio do
sul era conside rado a res idência oficial do rei, lugar de todas as cerimônias do estado. Ao centro
ficava a grande sala do trono, com 17 por 52 m e, possivelmente, 18 m de altura. Essa imensa
sala pode ter sido onde Belsazar promoveu o banquete de sua última noite de vida, pois nenhuma
outra sala do palácio era grande o suficiente para acomodar mil convidados (ver Dn 5:1 ).
Um a das estrutura s coloridas dessa cidade era a famosa porta de Ishtar, junto ao palá-
cio do sul, que formava uma das entradas pelo norte da cidade interna. Essa era a mais bela
das portas de Babilônia, pois por e la passava o "caminho da procissão", qu e levava dos dife-
rentes palácios reais ao templo Esagila. Felizmente, essa porta não foi tão completa mente
destruíd a como os demais edifícios de Babilônia e é a ma is impressionante de todas as ruí-
nas da cidade. Tem altura de aproxim adamente 12m.
As estruturas interiores dos muros e portas da cidade, dos palácios e templos eram de tijo-
los crus. As coberturas extern as consistiam de tij olos queim ados e, em alguns casos, esma lta-
dos. Os tijolos externos dos muros da cidade eram amarelos; os da porta, azuis; os dos palácios,
rosa; e os dos templos, brancos. A porta Ishtar era uma estrutura dupl a, por ca usa dos muros
R"' duplos. Tinha 50 m de extensão e consistia de quatro estruturas se melhantes a torres de
es pess uras e alturas variadas. Os muros eram de tijolos cujas superfícies esmaltadas formavam

878
DANIEL 5:1

figuras de anim ais em relevo. Havia pelo menos 575 deles, incluind o bois amarelos, co m li stras
decorativas de pelo azul , e patas e chifres verdes. Eles se alternavam com animais mitológicos
ama relos, chamados sirrush, que tinham cabeças e ca ud as de serpentes, corpos com escamas
e pés de águi a e gato (ver ilustração na p. 95 1, e em Dicionário Bíblico Adventista, fi g. 137).
O acesso à porta de Ishtar (ve r ilustração na p. 951) tinh a muros de defesa de ambos
os lados da ru a. Nesses muros havia leões feitos com tijolos esmaltados e em re levo, bra n-
cos com jubas amarel as ou ama relos com jubas vermelhas (que com o tempo fic aram ver-
des), num fundo azu l.
Assim e ra a cidade colorida e poderosa que o rei Nabucodonosor construiu: a joia das
nações. Seu orgulho por ela se reflete nas insc ri ções que deixou para a posteridade. Um a
de las, no Museu de Berlim , di z:
"Fiz de Babilônia , a cidade sa nta, a glória dos grandes de uses, mais destacada que antes,
e promovi sua reconstrução. Fiz com que o santuário dos deuses e deusas fosse ilumin ado
como o di a. Nenhum rei entre todos os reis jamais criou, nenhum rei anterior jamais cons-
truiu, o que construí magnifi camente para Marduque. Promovi ao máximo o complexo de
Esagila, e a renovação de Babilônia ma is do qu e se fez antes. Todas minh as obras va li osas,
o embelezamen to dos santu ários dos grandes deuses , que eu empreendi ma is do qu e me us
ancestrais reais, escrevi num documento para gerações futuras . Todos os meus feitos, que
escrevi neste documento, lerão os que saibam ler e lembrarão a glóri a dos grandes deuses.
Que minha vida seja longa, que me regozij e em meus descendentes; que minh a descendên -
cia governe sobre o povo de cabeça negra por toda a eternidade, e que a menção do meu
nome seja procl amado pa ra o bem em todas as épocas futuras ."

COMENTÁRIOS DE ELLEN G. WHITE

1-37- PR, 514-521 ; T8, 126 13 - Ed, 177 30-32 - PR, 519
7- PR, 516 14 - T8, 127 31- Ed , 176; PR, 533
9- PR, 517 17- OTN, 129; PR, 500 33 -35 - PR, 520
10, 11- PR, 515 18-22-PR, 517 34 - Ev, 88; PR, 514
11 , 12- Ed , 175 23-27- PR, 518 35 - T8 , 180
12- 17 - PR , 516 27 - Ed, 174; PR, 502 36, 37- PR, 521
30-Ed, 175;T8, 127

CAPÍTULO 5
1 O banquete de Belsazar. 5 Uma escritura, desconhecida para os magos, perturba o rei.
1O Por recomendação da rainha, Daniel se apresenta. 17 Ele reprova o rei
por seu orgulho e idolatria, 25 lê e interpreta a escritura.
30 Medos e persas se apoderam do império.

I O rei Belsaza r deu um grande banquete a 2 Enquanto Be lsazar be bia e apreciava o


m i.l dos seus grandes e bebeu vinho na presen - vin ho, m ando u trazer os utensílios de ouro e
ça dos mil. de prata que Nabucodonosor, seu pa i, tirara do

879
5: I COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

templo, que estava em Jerusalém, para que neles se achara m neste Daniel, a quem o rei pusera o
bebessem o rei e os seus grandes, as suas mulhe- nome de Beltessazar; chame-se , pois , a Daniel,
res e concubinas. e ele dará a interpretação.
3 Então, trouxeram os utensílios de ouro, que 13 Então, Daniel foi introduzido à presença
foram tirados do templo da Casa de Deus que do rei. Falou o rei e di sse a Daniel: És tu aqu ele
estava em Jeru salém, e beberam neles o rei, os Daniel, dos cativos de Judá, que o rei, meu pai,
seus grandes e as suas mulheres e concubinas . trouxe de Judá?
4 Bebera m o vinho e deram louvores aos deu- 14 Tenho ouvido dizer a te u respeito que o es-
ses de ouro, de prata, de bronze, de ferro, de ma- pírito dos deuses está em ti , e que em ti se acham
R.,. deira e de pedra. luz, inteligência e excelente sabedoria .
5 No mesmo in stante, apa receram uns dedos 15 Acabam de ser introduzidos à minha pre-
de mão de homem e escreviam, defronte do can- sença os sábios e os encantadores , para lerem
deeiro, na caiadura da parede do palácio real; e o esta escritura e me fazerem saber a sua interpre-
rei via os dedos que estava m escrevendo. tação; mas não puderam dar a interpretação des-
6 Então, se mudou o semblante do rei, e os tas palavras.
seus pensamentos o turbaram; as juntas dos seus 16 Eu, porém , tenho ouvido di zer de ti que
lombos se relaxaram, e os seus joelhos batiam podes dar interpretações e solucionar casos difí-
um no outro. ceis; agora, se puderes ler esta escritura e fazer-
7 O rei ordenou, em voz alta, que se introdu- me saber a sua interpretação, serás vestido de
zissem os encantadores, os caldeus e os feiticei- púrpura, terás cadeia de ouro ao pescoço e serás
ros; falou o rei e disse aos sábios da Babilônia: o terceiro no meu reino.
Qualquer que ler esta escritura e me declarar a 17 Então, respondeu Danie l e disse na pre-
sua interpretação será vestido de púrpura, trará sença do rei: Os teus presentes fiqu em contigo,
uma cadeia de ouro ao pescoço e será o tercei- e dá os teus prêmios a outrem; tod avia, lere i ao
ro no meu reino. rei a escritura e lhe farei saber a interpretação.
8 Então, entraram todos os sábios do rei; mas 18 Ó rei! Deus, o Altíssimo, de u a Nabu-
não puderam ler a escritura, nem fazer saber ao codonosor, teu pai, o rei no e gra ndeza, glória e
rei a sua interpretação. majestade.
9 Com isto, se perturbou muito o rei Belsazar, 19 Por causa da grandeza que lhe deu , povos,
e mudou-se-lhe o sembl ante; e os seus grandes nações e homens de todas as língua s tremiam e
estava m sobressaltados. temiam diante dele ; matava a quem queria e a
10 A rainha- m ãe, por causa do que havia quem queria deixava com vida; a quem queria
acontecido ao rei e aos seus grandes, entrou na exaltava e a quem queria abatia.
casa do banquete e disse: Ó rei, vive etern amen- 20 Quando, porém, o seu coração se elevou,
te! Não te turbem os teus pensamentos, nem se e o seu es pírito se tornou soberbo e ar rogante,
mude o teu semblan te. foi derribado do seu trono real, e passo u dele a
li Há no teu reino um homem que tem o espí- sua glória.
rito dos deuses santos; nos dias de teu pai, se achou 21 Foi expulso dentre os filhos dos homens,
nele luz, e inteligência, e sabedoria como a sabe- o seu coração foi feito seme lha nte ao dos a ni-
doria dos deuses; teu pai, o rei Na bucodonosor, mais, e a sua morada foi com os jumentos mon-
sim, teu pai, ó rei, o constituiu chefe dos magos, teses; deram-lhe a comer erva como aos bois, e
dos encantadores, dos caldeus e dos feiticeiros, do orvalho do céu foi molhado o seu corpo, até
12 porquanto espírito excelente, conhecimen- que conheceu que Deus, o Altíssimo, tem do-
to e inteligê ncia , interpretação de sonhos, de- mínio sobre o reino dos homens e a quem quer
c laração de enigmas e solução de casos difíceis constitui sobre ele .

880
DANIEL 5:1

22 Tu, Belsazar, que és seu filho, não humi- MENE, MENE, TEQUEL e PARSIM.
lhaste o teu coração, ainda que sabias tudo isto. 26 Esta é a interpretação daquilo: MENE: <1g
23 E te levantaste contra o Senhor do céu, Contou Deus o teu reino e deu cabo dele.
pois foram trazi dos os utensílios da casa dEl e 27 TEQUEL: Pesado foste na balança e acha-
perante ti, e tu, e os teus grandes, e as tua s do em falta.
mulheres, e as tu as concubinas bebes tes vinho 28 PERES: Dividido foi o teu reino e dado aos
neles; além disso, deste louvores aos deuses medos e aos persas.
de prata, de ouro, de bronze, de ferro, de ma- 29 Então, mandou Belsazar que vestissem
deira e de pedra, que não veem, não ouvem, Daniel de púrpura, e lhe pusessem cadeia de ouro
nem sabem; mas a Deus, em cuja mão está a ao pescoço, e proclamassem que passaria a ser o
tua vida e todos os teus caminhos , a Ele não terceiro no governo do seu reino.
glorificas te . 30 Naquela mesma noite, foi morto Belsazar,
24 Então, da parte dEle foi enviada aquela rei dos caldeus.
mão que traçou esta escritura. 31 E Dario, o medo, com cerca de sessenta e
25 Esta, pois, é a escritura que se traçou: dois anos, se apoderou do reino.

1. O rei. Quando Nabonido estava no do império neobabilônico (ver Nota Adicional


Líbano se recuperando de uma enfermi- a Daniel 5).
dade, pouco antes de sair para uma cam- Um grande banquete. Pode-se con-
panha contra Tema, na Arábia ocidental, cluir dos v. 28 e 30 que o banquete ocor-
chamou seu filho mais velho (Belsazar), e reu durante a noite em que Babilônia caiu
"lhe confiou o reino" (ver Nota Adicional diante dos exércitos de Ciro. Xenofonte
a Daniel 5). Isso foi no "terceiro ano". Se preservou a tradição de que, na época da
ocorreu no terceiro ano de reinado, isso foi queda de Babilônia, "ocorreu um banquete
no inverno de 553/552 a.C. Alguns erudi- em Babilônia , durante o qual toda Babilônia
tos creem que esse ano foi o terceiro depois bebeu e se divertiu a noite toda" (Cyropaedia,
da conclusão do templo em Harã. Se assim vii.5.l5). É inexplicável que Belsazar ten ha
foi, a indicação de Belsazar como corre- dado um banquete imediatamente depois da
gente ocorreu dois ou três anos mais tarde queda de Sipar, e apenas alguns dias depois
da data indicada, mas algum tempo antes da batalha perdida em Opis (ver vol. 3, p. 34).
do sétimo ano de reinado de Nabonido, Ao que parece, ele se sentia completamente
quando estava em Tema. Dessa época em seguro em sua capital, protegido por fortes
diante, Belsazar controlou os assuntos de muros e um sistema de canais que pode-
Babilônia como corregente com seu pai, riam, em caso de perigo, inundar a região
enquanto Nabonido residiu em Tema por circundante, e assim dificultar a um inva-
muitos anos. De acordo com o "Relato em sor o acesso à cidade (ver PR , 523).
Verso de Nabonido", Belsazar tinha o "rei- É fato conhecido que era comum antigos
nado". Portanto, Daniel não cometeu erro monarcas darem banquetes para seus cor-
algum quando chamou Belsazar de "rei", tesãos. Uma esteJa descoberta em Nimrud,
embora críticos anteriormente declarassem a antiga Calá, menciona o fato de que o rei
que Daniel tinh a errado. Assurnasirpal 11 deu uma grande festa na inau -
Belsazar. O nome babilônico Bêl-shar- guração de um novo palácio. Declara-se que
·utsur significa "Bel, proteja o reil" Belsazar serviu alimento, vinho e proveu alojamento
era o primogênito de Nabonido, o último rei a 69.5 7 4 pessoas, por 1O dias. O historiador

881
5: 2 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

grego Ctésias declara que os reis persas ali- de 1Cr 2:7; sobre a as cendência de Bel saza r
mentavam 15 mil pessoas todos os dias, e que desde N abucodonosor, ver N ota Adicional
Alexandre , o Grande, teve 1O mil convidados a Daniel 5). Por si só, a expressão "seu pai"
na sua festa de casamento. Festa semelhante poderia também ser e ntendida no sentid o
também é descrita em Ester 1: 3 a 12. de "seu predecessor". Um exemplo desse
Na presença dos mil. A ênfase dada ao emprego se e ncontra num a insc rição assí-
fato de Belsazar beber diante de seus convi- ria qu e ch ama o rei israelita, Jeú , "filh o de
dados parece indicar qu e em Babilônia exis- Onri ", embora os dois não fosse m consa n-
tia o mesm o costume el a corte pe rsa, onde guíneos. N a verd ade , Je ú exterminou tod a
o rei geralmente comia numa sala separada, a casa de Onri (2 Rs 9; 10).
e ap e nas em ocasiões excepcion ais , com Suas mulheres e concubinas. As duas
seus convidados. O ba nquete ele Belsazar palavras aramaicas tradu zid as como "mulhe-
parece ter sido uma ocasião assim. O ban - res" e "concubin as" são sin ônim as, e am bas
quete deve ter ocorrido no maior sa lão elo significa m "concubinas". Uma pode repre-
palácio (ver p. 877, 878) . sentar um a classe superior. Sugere-se qu e a
2. Apreciava o vinho. Algun s creem classe de concubin as pode te r consistido de
que estas p alavras indicam que Belsazar mulheres de lares resp eitáveis, ou m es mo
estava bêbado qua ndo deu a ordem de trazer el a nobreza; e a outra classe seria de mulh e-
os utensílios sagrados de Jerusalém. Outros res levadas por dinh eiro ou capturadas em
explicam que a frase significa que a ordem guerra. Embora as mulheres pa rticipassem
foi dada após a refeição, no momento que do banquete, como di z esta passagem, parece
o vinho começou a ser servido. Recorrem a que a "rainh a" não se encontrava entre os que
declarações gregas clássicas que dizem que bebiam vinh o. Sua entrada na sa la de ba n-
os pe rsas tinh am o costume de beber vinho quete é descrita depoi s que se vê a escritu ra
após a refeição. Contudo, era incomum para na parede (v. 10). A LXX n ão faz referên-
um ori ental profanar objetos sagrados de cia à participação de mulheres no banqu ete.
outras religiões. Portanto, não seria natural Alguns creem que seja porque, de acordo
que Belsaza r ordenasse isso enqu anto esti- com o costum e dos gregos, as esposas não
e; ~ vesse no controle de su a razão (ver PR, 523).
00
participavam de tais festas.
Utensílios. Os utensílios do templo 4. Deram louvores aos deuses. O s
foram levados de Jeru sa lém em três oca- louvores dos pagãos bêbados eram em honra
siões: (l ) uma parte deles na época em que aos deuses babil ônicos, cuj as imagens enfei-
Nabucodonosor levou cativos de Jerusalém, tavam os vários te mplos da c idade.
em 605 a. C . (Dn l:l , 2); (2) a m aioria dos 5. Na caiadura da parede. Se a grand e
uten sílios restantes de metais preciosos sala do trono escavada por Koldewey, no palá-
quando o rei Joaquim foi levado cativo, em cio do sul da Babilônia de N abucodonosor
597 (2Rs 24:1 2, 13); e (3) o restante dos obje- (ver p. 877, 878), foi o cená rio deste ban-
tos , a maioria de bron ze, quando o templo foi quete, não é difícil im aginar o que aconteceu
destruído, em 586 (2 Rs 25:1 3-1 7). no momento fatal descrito aqui . A sala tinha
Seu pai. Parece qu e Be lsa zar era neto 17 por 52 m. No centro de um dos lados,
do grande rei (ver PR , 522); su a mãe era pro- oposto à entrada , hav ia um vão, onde devia
vavelm ente filha de N abucodonosor (ve r p. estar o trono. As paredes eram cobertas de
886-888). A palavra "pai" deve ser interpre- gesso branco e fino. Pode-se imaginar q ue
tada como "avô " ou "a ncestra l", como em o ca ndelabro, ou cand eeiro, estava próximo
mui tas outras passage ns da Bíblia (ver com . ao trono do rei. Naqu ela ép oca se usava m

882
DANIEL 5:8

candeeiros com várias lâmpadas de azeite. (ver Nota Adicional a Daniel 5), comenta-
Diante do candeeiro, do outro lado da sala, ristas podiam apenas conjecturar quanto à
surgiu a misteriosa mão e escreveu no gesso, identidade do segundo governante do reino.
de forma que Belsazar a viu. Não se explica A existência de tal governante estava implí-
se a escritura tinha a forma de letras pinta- cita na promessa de tornar o leitor da mis-
das ou se foi talhada no gesso. teriosa escritura na parede "o terceiro" no
Via os dedos. Não se declara quanto da reino. A rainha-mãe, a esposa de Belsazar,
mão era visível. A palavra aramaica pas, tra- ou um filho foram apontados. Pensou-se,
duzida como "parte" (ARC), algumas vezes é claro, que o próprio Belsazar fosse o pri-
é interpretada como "palma", e outras para meiro governante do império. Mas, uma vez
designar a mão até o punho, em contraste que se soube que ele era apenas um corre-
com o antebraço. gente com seu pai, e, portanto, o segundo no
6. As juntas [... ] se relaxaram. Comparar reino, ficou claro por que ele não podia con-
com Is 21:3. A consciência acusada suscitou o ferir posição mais elevada no reino do que
terror, que encheu o rei de terríveis pressenti- "o terceiro".
mentos. Seus pensamentos devem ter se apro- 8. Então, entraram todos os sábios.
fundado em trevas ao perceber o perigo mortal Alguns viram uma contradição entre esta
ao qual o império tinha sido exposto devido declaração e o relato do versículo anterior
a erros políticos do passado, por sua própria que registra palavras do rei dirigidas aos
vida e atos imorais, pela recente e desastrosa sábios. A explicação mais natural é que as
derrota de seu exército e pelos atos sacrílegos. palavras do rei registradas no v. 7 foram ditas
Não é de se surpreender que "seus pensamen- aos sábios que já estavam presentes no ban-
tos o turbaram". quete quando a escritura apareceu na parede.
7. Encantadores. Ver com. de Dn 1:20. O v. 8, então, se aplica a "todos os sábios do
Caldeus. Ver com. de Dn 1:4. rei", incluindo aqueles que foram à sala de
Feiticeiros. Ver com. de Dn 2:27. banquetes em resposta à ordem de Belsazar.
Púrpura. Do aramaico 'argewan. Antiga- Não puderam ler. Não se declara a
mente, a púrpura real tinha uma cor vinho razão, e qualquer explicação que se ofereça
escuro, próximo ao carmesim. Evidências não passa de conjectura. Aparentemente, as
documentais do tempo dos persas (Et 8:15; palavras estavam em aramaico (ver com. dos
Xenofonte, Anahasis, i.5.8), dos medos (Xeno- v. 26-28), mas eram tão poucas e misterio-
fonte, Cyropaedia, i.3.2; ii.4.6) e de períodos sas que mesmo o conhecimento de cada uma
posteriores confirmam que púrpura era a cor não revelaria a mensagem contida nelas. Não
da realeza na Antiguidade. Daniel confirma se diz se o rei não conseguiu lê-las devido
esse costume no período neobabilônico, que a ter bebido vinho demais, ou se as letras
precedeu ao persa. não podiam ser distinguidas devido a seu
g;.. Cadeia de ouro. O costume de honrar deslumbrante brilho (ver Ellen G. White,
os favoritos entre os servidores públicos da Material Suplementar, sobre os v. 5-9), ou se
coroa concedendo-lhes cadeias de ouro, con- a escritura era singular, decifrável somente
decorações ou colares já existia no Egito mui- por meio de iluminação divina. A conjectura
tos séculos antes (ver com. de Gn 41 :42). Isso de que os caracteres estavam em hebraico
era comum entre as nações antigas. antigo, sendo ilegíveis para os babilônios, não
O terceiro no meu reino. Antes que parece plausível. É extremamente imprová-
se compreendesse plenamente o lugar de vel que os sábios de Babilônia não pudes-
Belsazar no reino e sua relação com Nabonido sem ler esses antigos caracteres semitas, que

883
5: lO COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

tinham sido usados não só pelos hebreus , respeito do distinto serviço de Daniel no pas-
mas também pelos fenícios e outros povos sado e sobre a elevada posição do profeta no
da Ásia Ocidental. governo de Nabucodonosor é aparentemente
10. A rainha-mãe. Desde a época de nova para Belsazar. Isso sugere que Daniel
Josefo (Antiguidades, x.ll.2), comentaris- não tinha assumido nenhum cargo nesse rei-
tas consideram esta "rainha" como a mãe ou nado, antes do evento narrado aqui. Por isso, •8
avó do rei (ver PR, 527). De acordo com o talvez poucos o conhecessem, ou mesmo nin-
costume oriental, ninguém a não ser a mãe guém, no séquito do rei.
de um monarca ousaria entrar na presença Nabucodonosor, sim teu pai. Ver com.
do rei sem ser chamada. Mesmo sua esposa do v. 2.
colocaria a própria vida em risco se fi zesse Magos. Ver com. de Dn 1:20; cf. 2:2, 27.
isso (ver Et 4:11, 16). Cartas cuneiformes 12. Casos difíceis. Do aramaico qitrin,
babilônicas escritas por alguns reis às suas literalmente, "nó". A palavra foi mais tarde
mães mostram um notável tom respeitoso e usada como um termo mágico na Síria e na
revelam claramente a posição elevada que Arábia. Neste caso, o significado parece ser
ocupavam as mães reais. Essa elevada posi- "tarefas difíceis" ou "problemas".
ção de rainha-mãe também pode ser dedu- 13. És tu aquele Daniel [...]? Esta
zida do fato de que quando, em 547 a.C., frase também pode ser traduzida como: 'Tu
a mãe de Nabonido, avó de Belsazar, mor- és aquele Daniel". Se fosse essa a tradução
reu em Dur Karâshu, no Eufrates, acima de correta, a saudação sugeriria que Belsazar
Sipar, houve um prolongado luto oficial na conhecia a origem de Daniel, mas que não
corte. O fato de que ela morrera antes dos tinha tido nenhuma relação direta com ele.
eventos descritos neste capítulo era desco- Daniel não era mais o chefe dos magos na
nhecido aos comentaristas que identificavam corte (Dn 2:48, 49).
a "rainha" como a avó de Belsazar. Parece que, com a morte de Nabucodo-
Ó rei, vive eternamente! Ver com. de nosor, a política que Daniel defendia tinha
Dn 2:4 sobre esta saudação comum. se tornado desfavorável na corte de Babilô-
11. Há no teu reino um homem. nia, e que, como resultado, ele fora retirado
Não é estranho que D aniel não estivesse do serviço público. É evidente que Belsazar
entre o grupo de sábios chamados pelo rei. e seus predecessores sabiam tudo sobre o
Seu período de serviço público tinha, sem modo como Deus lidara com Nabucodonosor
dúvida, terminado algum tempo antes, tal- (Dn 5:22), mas tinham rejeitado abertamen-
vez com a morte de Nabucodonosor, ou ainda te a política deste último de reconhecer o
antes (ver p. 821, 822). Contudo, devia ser verdadeiro Deus e cooperar com Sua vonta-
bem conhecido pelos representantes da gera- de (Dn 4:28-37; 5:23). O fato de Daniel ter,
ção anterior, à qual pertencia a mãe do rei mais tarde, entrado para o serviço da Pér-
(sobre as possíveis razões de sua aposenta- sia (Dn 6:1-3) indica que sua aposentadoria
doria, ver com. do v. 13). durante os últimos anos do império babilô-
O espírito dos deuses santos. Com- nico não se deveu a problemas de saúde ou
parar com a declaração de Nabucodonosor idade avançada. A severa reprovação a Bel-
(Dn 4:8, 9). A semelhança apoia a probabi- sazar (Dn 5:22, 23) evidencia a hostilidade
lidade, sugerida também por outra evidên- do rei contra os princípios e a política de go-
cia, de que a rainha era parente próximo de verno que Daniel representava. Sua desapro-
Nabucodonosor, provavelmente sua filha vação da política oficial babilônica pode ter
(ver p. 886-888). A informação que ela dá a sido um dos fatores que levou os primeiros

884
DANIEL 5:27

governantes do império persa a favorecê-lo. Aquela mão. Ver com. do v. 5.


14. Espírito dos deuses. Em con- Esta escritura. A inscrição ainda era
traste com as palavras da rainha (v. 11) e de visível na parede.
Nabucodonosor (Dn 4:8), Belsazar omite o 25. Esta, pois, é a escritura. Daniel
adjetivo "santo" em relação a "deuses". leu as palavras escritas na parede, aparente-
17. Fiquem contigo. Alguns imaginam mente quatro palavras em aramaico. É inú-
que como um vidente divinamente ilumi- til especular sobre a natureza da escritura e
nado, Daniel recusou a distinção e o lugar de sua relação com alguma escrita conhecida
honra prometido ao intérprete, a fim de evi- (ver com. do v. 8). Mas, mesmo depois de
tar qualquer aparência de interesse próprio lidas, as palavras não poderiam ser com-
na presença do rei. Isso pode ser verdade. preendidas a não ser mediante iluminação
Também é possível que Daniel, sabendo divina. Uma verdade estava expressa em
que o reino de Belsazar estava prestes a fin- cada palavra-chave, daí a necessidade de
dar, não tinha interesse em receber quais- interpretação.
quer favores do homem que naquela mesma 26. MENE. O termo aramaico mene' é
noite, por atos e palavras, tinha blasfemado um particípio passivo do verbo "enumerar" ou
do Deus dos céus e da terra. Mesmo nesse "contar" e, sozinho, significa, simplesmente,
tempo, na velhice, Daniel não se oporia em "enumerado" ou "contado". Por meio de ilu-
princípio a aceitar uma posição no governo, minação divina, Daniel extraiu desta palavra <4 ~
como demonstra o fato de que, pouco tempo a interpretação: "Contou Deus o teu reino, e
depois, ele ocupou mais uma vez um cargo deu cabo dele."
oficial (Dn 6:21). Sem dúvida, o cargo foi 27. TEQUEL. Os eruditos judeus, cha-
aceito porque Daniel sentiu que poderia mados massoretas, que em algum período
exercer influência positiva sobre o rei e ser do 7° ao 9° século da era cristã adicionaram
um instrumento nas mãos de Deus para sons vocálicos aos manuscritos bíblicos (ver
libertar seu povo do exílio. No entanto, tal- vol. 1, p. 12, 13), apontaram o termo ara-
vez Daniel tenha sentido que aceitar honra maico teqel como um substantivo. Da mesma
ou dignidade de Belsazar não só seria inútil, forma que mene' (ver com. do v. 26), deveria
mas poderia até ser prejudicial e perigoso. obviamente ser apontado como um particí-
18. Nabucodonosor. Antes que Daniel pio passivo (teqil). A forma teqel, provavel-
lesse e interpretasse a escritura, relembrou mente, foi escolhida pelos massoretas devido
ao rei a experiência de Nabucodonosor como à sua semelhança de som com mene'. Teqil
resultado de sua recusa em cumprir o destino é o verbo "pesar". Daniel informou de ime-
divino com respeito a si mesmo e à sua nação. diato ao rei o ato divino. Belsazar foi achado
Além disso, Nabucodonosor tinha sido mais em falta de dignidade moral.
poderoso e prudente do que Belsazar. O pro- 27. Achado em falta. Estas terríveis
feta mostrou a Belsazar como ele, o neto, palavras de condenação, dirigidas ao disso-
tinha agido impiamente para com Deus, luto rei de Babilônia, condenam todos que,
Senhor de sua vida, e nada tinha aprendido como Belsazar, negligenciam as oportunida-
com a experiência de Nabucodonosor. des que Deus provê. No juízo investigativo
24. Então. Referência ao momento que está em andamento (ver com. de Dn 7:10),
então recente de embriaguez e orgia, os seres humanos são pesados nas balanças
quando Belsazar louvou seus deuses e bebeu do santuário para ver se seu caráter moral e
vinho nos utensílios sagrados do templo de estado espiritual cmTespondem aos benefí-
Jerusalém, conforme descrito no v. 23. cios e bênçãos que Deus lhes tem conferido.

885
5:28 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

Não há como apelar das decisões desse tribu- no palácio, e não se tornado efetiva devido
nal. Tendo em vista a solenidade deste tempo, aos eventos que se sucederam.
todos devem vigiar para que o momento deci- 30. Naquela mesma noite. Embora
sivo, que determina para sempre o destino de Belsazar não seja mencion ado em fontes
cada um, não os encontre despreparados e cuneiformes que descrevem a queda de Babi-
"em falta" (ver 2Co 5:10; Ap 22:11 , 12). lônia, Xenofonte declara que "o rei ímpio"
28. PERES. Esta palavra não é um par- de Babilônia, cujo nome não se menciona
ticípio passivo como as duas mene' e teqil, no relato, foi morto quando o comandante
embora a vocalização indique que os mas- do exército de Ciro, Cobrias, entrou no palá-
soretas a consideraram como um a forma cio (Cyropaedia, vii.5.30). Embora se deva
verbal. É um substantivo, neste caso no sin- reconhecer que a narrativa de Xenofonte não
gular. A forma plural apareceu na inscrição é historicamente confiável em todos os deta-
(v. 25). Ali também está ligada às palavras lhes, muitas de suas declarações se baseiam
anteriores pela conjunção we, "e". O we apa- em fatos. De acordo com fontes cuneifor-
rece como u na palavra upharsin. Is so se deve mes, Nabonido estava ausente de Babilônia
à diferença entre upharsin e peres. Peres sig- na época de sua queda. Quando Nabonido
nifica "parte" ou "porção" e, se a forma plural se rendeu, Ciro o enviou à distante Carma-
upharsin (v. 25) é adotada, pode ser traduzida nia. Portanto, o rei que foi morto durante a
como "pedaços". A interpretação de Daniel: tomada de Babilônia só poderia ter sido Bel-
"dividido foi o teu reino", também pode- sazar. Há um resumo da história de Belsa-
ria ser traduzida como: "teu reino está que- zar na Nota Adicional a Daniel 5.
brado em pedaços". O significado não é que 31. Dario, o medo. O governante men-
o reino seria dividido em duas partes, uma cionado neste versículo e no cap. 6 é uma
aos medos e outra aos persas. O reino seria figura obscura para a história secular. A Nota
dividido em pedaços, destruído e dissolvido. Adicional a Daniel6 apresenta uma pesquisa
Isso se daria por meio dos medos e persas. breve das várias identificações propostas
É interessante que a forma aramaica peres por comentaristas, bem como uma possível
contenha as consonantes das palavras ara- solução para os vários problemas históricos
maicas (ver vol. 1, p. 1, 2) para Pérsia e per- envolvidos.
sas, que estavam naquele momento às portas A conj unç ão "e", com a qual o versículo • 1?,
de Babilônia. se inici a, mostra que o autor do livro relacio-
29. Então, mandou Belsazar. O rei nou estreitamente a morte de Belsazar, regis-
cumpriu a promessa feita a Daniel, embora trada no versículo anterior, com a ascensão
Daniel tenha indicado claramente que não de "Dario, o medo", ao trono. Nas edições
estava interessado nas honras oferecidas. Por impressas da Bíblia Hebraica, este versículo
causa da embriaguez de Belsazar, pode não é o primeiro do cap. 6. Contudo, a maio-
ter sido possível deter sua atitude. Alguns ria das versões modernas, seguindo a LXX,
alegam que não foi possível exaltar a Daniel unem o v. 31 ao cap. 5. Isso é preferível.
como o terceiro, porque, de acordo com o Não há diferença entre a grafia do nome
v. 30, Belsazar foi morto naquela mesma de Dario, mencionado aqui e a de "Dario, rei
noite. Isso se baseia na suposição de que a da Pérsia", em Esdras 4:24 (ver com. ali) e
proclamação foi feita em público nas ruas da a grafia registrada em outras partes. Não há
cidade. Mas as palavras do rei não apoiam diferença em aramaico, nem em hebraico,
tal suposição. A proclamação pode ter sido tampouco em português.
feita apenas diante dos príncipes reunidos Sessenta e dois anos. A avançada

886
DANIEL 5:3 1

id ade de Dario foi talvez responsável pela de Dario (Dn 9:1, 2; ll:l ). A morte do rei
brevidade de seu rein ado. O livro de Daniel ocorreu "ce rca de doi s anos após a queda
menciona ape nas o primeiro ano de reinado de Babilônia" (PR, 556, 55 7).

NOTA ADICIONAL A DANIEL 5

Um dos maiores enigmas para os comentaristas bíblicos através dos séc ulos tem
sido a identid ade de Belsazar. Até 1861, não se havi a desco berto n enhuma refe rência
a ess e rei nos registros antigos. O nom e Belsazar e ra conhecido ape nas pelo livro de
Daniel e por obras que tom aram o nome e mpres tado de D aniel, como, por exemplo , o
livro apócrifo de Baruqu e e os esc ritos de Jos efo. Hou ve muitas tentat ivas de ha rmo-
nizar a históri a sec ular com os registros bíblicos. A difi c uldade se ace ntuou pelo fato
de que várias fontes antigas alistava m os reis de Babilôni a até o final da história dessa
n ação, e tod as me ncionavam Nabonido, escrito de form as diferentes, como o últim o rei
a ntes de Ciro, que foi o prim eiro rei da Pérs ia. Uma vez que Ciro conquistou Babil ôni a
e suc ede u seu último rei , parec ia não h ave r lugar para Belsazar na linh agem rea l.
O livro de Daniel, contudo, coloca os evento s que im edi a tamente precede ram a qu eda
de Babilônia durante o reinado de Belsazar, um "filho " de Nabucodonosor (ver com. de
Dn 5:2), qu e perdeu sua vida durante a noite da conquista de Babilônia pelos invaso-
res medos e persas (Dn 5: 30).
Das várias tentativas de se explicar as apa rentes discrepâncias entre o registro bíblico e
outras fontes antigas alistam-se as seguintes (segundo Raymond P. Dougherty, Nabonidus
and Belsazar, p. 13, 14):
Belsazar é (l) outro nome do filho de Nabucodonosor conh ecido como Evil-Merodaque;
(2) irm ão de Evii-Merodaqu e; (3) filho de Evi i-Merodaque , portanto, neto de Nabucodonosor;
(4) outro nome para Nergal-shar-usur, genro de Nabucodonosor; (5) outro nome para Labashi-
Marduque, filh o de Nergal-shar-usur; (6) outro nome para Nabonido; e (7) filho de Na bonido
e de uma filh a de Nabucodonosor.
De acordo com outra opinião, defendida pela maiori a dos eruditos críticos antes da des-
coberta do nome de Belsaza r em fontes cuneiformes no final do século 19, o nome Belsazar
era um a invenção do autor do livro de Daniel , que, como afirm am esses críticos , viveu na
época dos macabeus, no 2° século a.C .
Essa lista de opiniões divergentes demonstra a natureza e extensão dos problemas hi stó-
ricos que confrontaram os intérpretes do livro de Daniel, que parece apresentar mais difi-
culd ades do que qualquer outro livro do AT. Uma das grandes vitórias da arqueologia bíblica
do século 19 é que a identidade e o cargo de Belsazar foram completamente estabelecidos a
partir de documentos da época, confirm ando assi m a confiabilidade de Daniel 5. A extre ma
importância dessa conquista demanda breve revisão do tema.
Em 1861, H. F. Talbot publicou alguns textos encontrados no templo da lu a, em Ur, no
]ournal of the Royal Asiatic Society (vol. 19, p. 195 ). O s textos continham uma oração ele
Nabonido e m favor ele Bel-shar-utsur, seu filho mais velho. Vários escritores, entre os qu ais
George Rawlinson, irmão do famoso decifrador de escrita cuneiforme, id e ntificou esse Bel-
shar-utsur com o Belsazar da Bíblia. Outros rejeitaram essa identificação, entre os quais o
próprio Talbot, que em 1875 publicou uma lista de seus argum entos junto com um a nova

887
COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

tradução do texto, mencionando Belsazar (Records of the Past, vo!. 5, p. 143-148). Sete anos
g~ mais tarde (1882), Theophilus G . Pinches publicou um texto encontrado no ano anterior,
que agora é chamado de Crônica de Nabonido. Esse texto descreve a tomada de Babilônia
por Ciro, e afirma também que Nabonido ficou em Tema por muitos anos enquanto seu filho
estava em Babilônia . Embora, na época, Pinches não tenha compreendido por completo o
texto, e tenha identificado Tema incorretamente, que fica no oeste da Arábia, ele fez várias
deduções ac uradas sobre Belsazar. El e observou, por exemplo, que Belsazar "parece ter sido
comandante-em-chefe do exército, provavelmente tinha mais influê ncia no reino do que
seu pai e, portanto, era considerado rei" (Transactions of the Society of Biblical Archaeology,
vol. 7 [1882], p. 150) .
Nos anos seguintes, se descobriram mais textos que lançaram luz sobre as várias fun-
ções e importantes funções que Belsaza r, filho de Nabonido, desempenhou antes e durante
o reinado do pai. Porém, nenhum desses textos chamava Belsazar de rei como o faz a Bíblia.
Contudo, vários eruditos, com base nas evidências cumulativas, sugeriam o que, mais tarde
provou-se correto, que os dois reis deviam ter sido corregentes. Em 1916, Pinches publicou
um texto em que Nabonido e Belsazar foram invocados juntos num juramento. Ele afir-
mou que textos como esses indicavam que Belsazar deve ter tido "uma posição de vice-rei",
embora tenha declarado que "ainda temos que descobrir qua l a posição exata de Belsaza r
em Babilônia" (Proceedings of the Society of Biblical Archaeology, vo!. 38 [1916] , p. 30).
A confirmação de que havia uma corregência entre Nabonido e Belsazar finalmente ocor-
reu em 1924, quando Sidney Smith publicou o chamado "Relato em Verso de Nabonido",
do Museu Britânico, no qual se fa z a clara declaração de que Nabonido "confiou o reinado"
a seu filho mais velho (Babilonians Historical Texts [London , 1924], p. 88; ver tradução de
Oppenheim em Ancient Near Eastern Texts, Ed. por Pritchard [Princeton, 1950], p. 313).
Esse texto eliminou todas as dúvidas de que Belsazar tinha sido rei e foi um golpe severo
contra os eruditos da Alta Crítica que afirmavam que o livro de Daniel tinha sido escrito
no 2° século a.C. O dilema deles se reflete nas palavras de R. H. Pfeiffer, da Universidade
de Harvard, que declara:
"Presume-se que jamais saberemos como nosso autor soube[.. .] que Belsazar, mencionado
apenas nos registros babilônicos, em Daniel, e em Baruque 1:11 , que é baseado em Daniel,
atuava como rei quando Ciro conquistou Babilônia" (Introduction to the Old Testament [New
York, 1941], p. 758, 759).
A descoberta de tantos textos cuneiformes que esclarecem a respeito do reinado de
Nabonido e Belsazar levaram Raymond P. Dougherty, da Universidade de Yale, a reunir todo
o material, cuneiforme e clássico, em uma monografia, que foi publicada em 1929, com o
título Nabonidus and Belsazar (New Haven, 1929, 216 p.).
Inscrições cuneiformes indicam que Nabonido era filho do príncipe de Harã, Nabu-balâtsu-
iqbi, e da sacerdotisa do templo da lua, em Harã. Depois de os medos e os babilônios terem
conquistado Harã, em 610 a.C ., a mãe de Nabonido foi , possivelmente, levada como uma dis-
tinta prisioneira ao harém de Nabucodonosor, de forma que Nabonido cresceu na corte sob as
vistas do grande rei. É muito provável que ele seja o "Labineto" de Heródoto (i.74), que atuava
como mediador da paz entre os lídios e os persas, em 585 a.C. Isso parece evidente a partir das
seguintes observações: Heródoto chama o rei de Babilônia que reinava na época da queda de
Sarcles, em 546, de Labineto (i.77). Mais tarde, ele identifica o pai do governante de Babilônia,
na época ele sua queda em 539, com o mesmo nome (i.l88). Sabe-se que Nabonido era rei ele

888
DANIEL

Babilônia, em 546, e também que ele era pai de Belsazar. O fato de, em 585, Nabonido ter
sido escolhido para atuar como representante diplomático de Nabucodonosor era uma elevada
honra, e mostra que o jovem deve ter sido um favorito do rei naquela época. É possível, como
imagina Dougherty, que sua esposa Nitocris, a qual Heródoto descreve como uma mulher
sábia (i.185, 188), fosse filha de Nabucodonosor com uma princesa egípc ia.
Porém, a relação familiar entre Belsazar, filho de Nabonido, e Nabucodonosor ainda não
está definitivamente estabelecida a partir de registros da época.
Devido à falta de informações mais completas , é impossível, no presente, determinar ... ~
com precisão como devem ser entendidas as repetidas declarações de Daniel 5, de que
Nabucodonosor era pai de Belsazar. De acordo com o emprego na Bíblia , "pai" pode sig-
nificar também "avô" ou "a ncestral" (ver com. de lCr 2:7). Sugerem-se três interpreta-
ções: (1) Nabonido era genro de Nabucodonosor, e Belsazar era neto de Nabucodonosor
por parte de mãe. (2) Nabonido foi chamado de filho porque sua mãe pertencia ao harém
de Nabucodonosor e, portanto, era seu enteado. (3) Belsazar era filho apenas no sen-
tido aná logo de Jeú, rei de Israel, a quem as inscrições assírias da época chamam de
"filh o de Onri".
Registros cuneiformes lançaram muita luz sobre Belsazar, seu posto e suas atividades
durante os anos em que foi corregente com seu pai. Depois de conferir o reinado a Belsaza r,
em 553/ 552 a.C., ou pouco depois (ver com. de Dn 5:1), Nabonido conduziu uma expe-
dição exitosa contra Tema, e residiu ali por muitos anos. Durante esse período, Belsazar
at uou como rei em Babilônia e comandante-em-chefe do exército. Embora documentos
legais continuassem a ser datados segundo os anos de reinado de Nabonido, o fato de os
nomes de pai e filho terem sido pronunciados juntos em juramentos, ao passo que, no rei-
nado de outros reis, usava-se apenas um nome, revela claramente o reinado em conjunto
de Nabonido e Belsazar.
Informações de fontes seculares, brevemente esboçadas, confirmam a exatidão histó-
rica de Daniel 5. Na conclusão de sua monografia sobre Belsazar e Nabonido, Dougherty
expressou sua convicção:
"De todos os registros não babilônicos que tratam da situação no fim do império neoba-
bilônico, o quinto capítulo de Daniel segue com precisão a literatura cuneiforrn.e quanto ao que
se refere aos notáveis eventos. O relato das Escrituras pode ser interpretado como superior,
pois emprega o nome Belsazar, porque lhe atribui poder real e porque reconhece a existên-
cia de um governo duplo no reino. Documentos cuneiformes babilônicos do 6° século a.C .
proporcionam uma clara evidência da exatidão desses três pontos históricos básicos conti-
dos na narrativa bíblica que trata da queda de Babilônia. Os textos cuneiformes escritos sob
influênc ia persa no 6° século a.C. não p reservaram o nome de Belsazar, mas seu papel como
príncipe herdeiro com poder real durante a permanência de Nabonido na Arábia é descrito
de forma convincente. Dois famosos historiadores gregos do 5° e 4° sécu los a.C. não me n-
ciona m Belsazar pelo nome e apenas insinuam vagamente a verdadeira situação política qu e
existia na época de Nabonido. Anais gregos do início do 3° século a.C. até o 1° século a.C.
não dizem nada a respeito de Belsazar e da importância que teve durante o último rein ado
do império neobabilônico. Toda a informação encontrada nos documentos disponíveis com
data posterior aos textos cuneiformes do 6° sécu lo a.C. e anteriores aos escritos de Josefo
do 1o século d .C. não puderam fornecer material necessário para o contexto histórico do
5° capítulo de Daniel " (op. cit., p. 199, 200).

889
6:1 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

COMENTÁRIOS DE ELLEN G. WHITE

1-31 - PR, 522-538; TM, 25-29 - PR, 530 43, 54, 58 , 83, 266 ,
434-436 25- TM, 436 409, 439, 452; T 3,
1,2 -PR, 523 27 - CC, 155, 569; PJ, 185, 370, 522, 538;
3-5- PR, 524 267; CS, 142; CPPE, T4, 311, 339, 385,
4 - PJ, 259 348; PE , 37, 246; 386, 470; TS, 83,
6- TM, 436 FEC, 228, 468 ; CC, 116, 154, 279, 397,
6-8 - PR, 527 491 ; LS , 117; MS 411 , 420, 435 ; T6,
10-16 - PR, 528 151 , 164, 195; MJ, 230, 405; T 7, 120;
17-24 - PR, 529 229; PR, 219; TM , TS, 14, 247
23, 24 - MS, 151 ; T5, 244 237, 286, 440, 450; 27-31 - Te, 49
24-28- T4, 14 T1, 126, 152, 260, 30 - PJ, 259; PR, 531
263, 317, 406; T2 ,

CAPÍTULO 6
1 Daniel é promovido a ch,efe dos sátrapas, 4 Na conspiração contra ele, obtém-se
um, decreto, 1O Daniel, acusado de violar o decreto, é lançado na cova
dos leões, 18 Ele é salvo, 24 Seus adversários são devorados,
e 25 Deus é magnificado por meio de um novo decreto.

Pareceu bem a Dario constituir sobre o 7 Todos os presidentes do reino, os prefeitos e sá-
reino a cento e vinte sátrapas, que estivessem trapas, conselheiros e govern adores concordaram em
por todo o reino ; que o rei estabeleça um decreto e faça firme o inter-
2 e sobre eles, três presiden tes, dos quais dito que todo homem que, por espaço de trinta dias,
Daniel e ra um , aos quais estes sátrapas dessem fi zer petição a qualquer deus ou a qua lquer homem
conta, pa ra q ue o rei não sofresse dano. e não a ti, ó rei , seja lançado na cova dos leões.
3 E ntão, o mes mo Danie l se distinguiu des- 8 Agora , pois, ó re i, sanciona o interdito e as-
tes presidentes e sát rapas, porque nele hav ia um sina a escritura, para que não seja mud ada, se-
espír ito excelente; e o rei pensava em estabele- gundo a lei dos medos e dos persas, que se não
cê-lo sobre tod o o reino. pode revogar.
4 E ntão, os presidentes e os sátrapas p ro- 9 Por esta causa, o rei Dario assinou a escri-
curavam ocas ião para acusar a D a ni e l a res- tura e o interdito.
peito do reino ; mas não puderam ac há- la, nem 10 Daniel, poi s, quando soube que a escritura
c ulpa a lgu m a; porque e le era fie l, e não se estava assi nada, ent rou em sua casa e, em cima,
ac hava nele ne nhum erro nem c ulp a. no seu quarto, onde hav ia ja nelas abertas do lado
5 Disseram , pois, estes homens: Nu nca ac ha- de Jerusa lém, três vezes por dia , se punha de joe-
remos ocasião alguma para acusar a este Daniel, se lhos, e orava , e clava graças, diante elo seu Deus,
não a procurarmos co ntra ele na le i do seu Deus. como costum ava fa zer.
6 Então, estes presidentes e sá trapas foram li Então, aqueles homens fora m juntos, e,
juntos ao re i e lhe di sseram: Ó re i Dar io, vive tendo achado a Daniel a orar e a suplicar, dian -
etern amente! te do seu Deus,

890
DANIEL 6:1

12 se apresentaram ao rei, e, a respeito do 20 Chegando-se ele à cova, c hamou por


inte rdito real , lhe disseram: Não assinaste um Daniel com voz triste; disse o rei a Daniel: Da nie l,
interdito que, por espaço de trinta dias, todo servo do Deus vivo! Da r-se-ia o caso que o te u
homem que fizesse petição a qualquer deus ou a Deus, a quem tu continuamente serves, ten ha
qualquer homem e não a ti, ó rei, fosse lançado podido livrar-te dos leões?
na cova dos leões? Respondeu o rei e disse: Esta 21 Então, Daniel fa lou ao rei: Ó rei , vive
pa lavra é certa, segundo a lei dos medos e dos eternamente!
persas, que se não pode revogar. 22 O meu Deus enviou o Seu anjo e fechou a
13 Então, responderam e disseram ao rei: boca aos leões, para que não me fizessem dano,
Esse Daniel, que é dos exilados de Judá, não faz porque foi ac hada em mim inocência di ante dEle;
caso ele ti, ó rei, nem elo interdito que assinaste; também contra ti, ó rei, não cometi delito a lgum . -<~ §l
antes, três vezes por dia, fa z a sua oração. 23 Então, o rei se a legrou sobremaneira e
14 Tendo o rei ouvido estas coisas, ficou mandou tirar a Daniel da cova; assim, foi t irado
muito penalizado e determinou consigo mesmo Daniel da cova, e nenhum dano se achou nele,
livrar a Daniel; e, até ao pôr elo sol, se empenhou porque crera no seu Deus.
por salvá- lo. 24 Ordenou o rei , e foram trazidos aq ue les
15 Então, aqueles homens foram juntos ao rei homens que tinham acusado a Da niel, e foram
e lhe disseram: Sabe, ó rei, que é lei dos medos e lançados na cova dos leões, eles, seus filh os e
elos persas que nenhum interdito ou decreto que suas mulheres; e ainda não tinha m chegado ao
o rei sancione se pode mudar. fundo da cova, e já os leões se apoderaram de les,
16 Então, o rei ordenou que trouxessem a e lh es esmiga lharam todos os ossos.
Da niel e o lançassem na cova dos leões . Disse 25 Então, o rei Dario escreveu aos povos, na-
o rei a Danie l: O teu Deus , a quem tu conti- ções e homens de todas as línguas que habita m
nuamente serves, que Ele te livre. em toda a terra: Paz vos seja multiplicada!
17 Foi tra zid a uma pedra e posta sobre a boca 26 Faço um dec reto pe lo qual, em todo o do-
da cova; selou-a o rei com o seu próprio anel e mínio elo meu re ino, os homens tremam e temam
com o elos seus gra ndes, para que nada se mu - perante o Deus de Daniel , porque Ele é o Deus
dasse a respeito ele Daniel. vivo e que perm a nece para sempre ; o Seu reino
18 Então, o rei se dirigiu para o seu palácio, não será destruído, e o Seu domínio não terá fim.
passou a noite e m jejum e não deixou trazer à 27 E le livra, e sa lva, e faz sinais e maravilhas
sua presença instrumentos de música; e fugiu no céu e na terra; foi Ele quem livrou a Daniel
dele o sono. do poder dos leões.
19 Pela manhã, ao romper elo dia , levantou -se 28 D a niel, pois, prosperou no reinado de
o rei e fo i com pressa à cova elos leões. Dario e no reinado de Ciro, o persa.

l. Sátrapas. Do arama ico 'achashdar- (2 1, 23, 29), indi ca nd o que o rei , provavel-
1?an (ver com. de Dn 3:2). Os vários detalhes mente, mudou os números bem como o
da adm ini stração da província do império tamanho das satrapias duran te seu rein ado.
persa antes da reorganização de D a ri o I Algun s historiadores gregos usam o termo
ainda são obscuros . Heródoto (iii .89) declara "sá trapa" para designar oficias inferiores,
qu e Dario I criou 20 satrapias como prin- como fez Daniel, aparentemente , quando
cipais divisões do império. Cada satrap ia usou o termo para designar governadores de
foi dividid a em provínc ias . As in scrições províncias (comparar com as 127 províncias
de Dario dão diferentes totais de satrapias de Et 1:1 , n a é poca de Xerxes).

89 1
6:2 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

2. Três presidentes. Este corpo admi- posição que, de acordo com suas expectati-
nistrativo não é mencionado em fontes vas, deveria ser deles.
seculares. Há uma completa falta de evidên- Nenhum erro. A despeito de sua idade
cia documentária contemporânea quanto à avançada, então com cerca de 80 anos,
organização do império persa antes do rei- Daniel era capaz de cumprir seus deveres
nado de Dario I. de estado de forma tal que nenhum erro ou
Daniel era um. O profeta avançado falta pudesse ser encontrado nele. Isso se · ~
em idade logo se distinguiu pelo serviço devia à sua integridade e à confiança na dire-
consciencioso. ção infalível de seu Pai celestial. Amar e ser-
Não sofresse dano. A razão para a com- vir a Deus era para ele mais importante que
plicada organização da administração civil a própria vida. A adesão estrita às leis de
na Pérsia é descrita em cores vívidas. Pre- saúde desde a juventude, sem dúvida , lhe
cauções era m tomadas pelo sistema imperial deu vigor bem acima do que era comum em
para evitar perdas em arrecadação de impos- homens de sua id ade.
tos e outros danos (ver Ed 4:13-16). 5. Na lei do seu Deus. Um exame
3. Espírito excelente. Esta não foi a atento aos hábitos de Daniel, uma observa-
primeira vez que observadores reais tinham ção minuciosa de seu trato com companhei-
notado um "espírito" singular e m Daniel. ros e subordinados e cuidadosa verificação
Nabucodonosor tinha tes temunh ado que dos registros não revelaram irregularidades
Danie l possuía o "espírito dos deuses san- que dessem motivos a queixas ou acusações.
tos" (Dn 4:8). A rainha mãe repetiu a expres- Contudo, os inimigos de Daniel descobriram
são na entrevista com Belsazar na última que ele jamais adorava em nenhum dos tem-
noite deste (5: 11). Na mesma ocasião, ela plos de Babilônia , nem participava de qual-
chamou atenção para o "espírito excelente" quer cerimônia religiosa pagã. Sem dúvid a,
observado em Daniel (5:12). Sem dúvida, notaram que todos os sábados, o dia de des-
esse espírito se manifestou, não apenas canso prescrito na "lei do seu Deus", ele se
na solução de "casos difíceis " (5: 12), mas ausentava de seu escritório. Certamente,
també m na sua integridade, fidelidade ina- imaginaram que seus momentos de oração
balável, lea ldade ao dever e sinceridade interferiam no cumprimento de seus deve-
de palavras e atos, qualidad es raramente res oficiais.
vistas em servidores civis daquela época. 6. Estes presidentes e sátrapas. Não
Uma breve convivência com esse es tadista há necessidade de se supor que todos os
ancião, sobrevivente da era áurea do império governadores do império te nham se reu-
neobab ilônico , foi suficiente para convencer nido diante do rei para tratar dessa ques-
Dario de que Daniel seria uma escolh a sábia tão. Sem dúvida, apa recera m apenas aqueles
como chefe administrador do novo império que tinh am ciúmes da posição de Daniel. Se
e conselheiro da coroa. todos tivessem sido chamados para a oca-
4. Acusar a Daniel. Em seu plano sião, o rei teria suspeitado, principalmente,
para elevar Daniel ao posto civil mais alto se Daniel não estivesse entre eles. Os maqui-
do governo, sem dúvida, o rei agiu de acordo nadores talvez tenham calculado que, se ape-
com os interesses da coroa e do império. nas alguns se aproxim assem do rei com o
Porém , não levou em consideração os ciú- pedido, as chances de envolver o monarca
m es que naturalmente surgiriam entre os seriam maiores do que se esperassem até
dignitários medos e persas quando um judeu, que todos os governadores de todo o impé rio
ex-ministro dos babilônios, ocupasse uma pudessem se reunir para estar diante dele.

892
DANIEL 6:8

Vive eternamente! Ver com. de Dn 2:4. o "filho de Re", o deus-sol, e a Dario como
7. Todos. Sem dúvida, uma mentira, "o filho de deus". Portanto, não é necess á-
pois é duvidoso que todos tivessem sido rio recorrer aos imperadores romanos para
consultados. encontrar os primeiros paralelos históricos
Todo homem que [... ] fizer petição. com a ordem mencion ada em Daniel 6:7,
Um decreto desta natureza teria sido total- como fazem alguns eruditos críticos.
mente estranho aos persas, que tinham a Cova dos leões. A literatura e as obras
reputação de ser tolerantes quanto a ques- de arte daquela época com frequência retra-
tões religiosas. É impensável que um homem tam reis da Antiguidade, como os do Egito,
como Ciro teria assinado tal decreto. Porém, Assíria e Pérsia, envolvidos na caça a animais
Dario, o medo, evidentemente tinha uma for- selvagens. Em geral, se caçavam leões, mas
mação diferente . Sabe-se pouco sobre o que também panteras, touros selvagens e elefan-
os medos pensavam com respeito à tolerân- tes. Há relatos de reis vassalos que envia-
cia religiosa. Ciro, o rei persa, reconstruiu ram animais selvagens capturados para seus
templos de nações destruídas pelos babilô- senhores reais, na Mesopotâmia, como tri-
nios, e mostrou assim espírito de tolerâ ncia buto. Eles eram expostos como símbolos do
para com as práticas e os sentimentos religio- poder imperial do monarca e para diver-
sos de outros povos. Por outro lado, Dario I são do rei e de seus amigos. Embora não se
declarou que o falso Esmérdis, seu prede- tenha conhecimento, a partir de registros da
cessor, um mago da Média que governou época dos persas, de exemplos de puniç ão
por cerca de meio ano, em 522 a.C., mos- do culpado, lançando-o às feras, essas fon-
trou seu espírito de intolerância ao destruir tes falam de formas extraordinariamente bár- ~ ~
templos. Embora generalizações sejam pas- baras de se aplicar pena de morte por parte
síveis de erro, deve-se contar com a possibi- de reis persas.
lidade de os medos, ou ao menos alguns de 8. Para que não seja mudada. A imu-
seus governantes, terem menos tolerância tabilidade da lei dos "medos e persas" era
religiosa do que os persas. conhecida (ver Et 1: 19; 8:8). Escritores gre-
Também se observou que a ordem de gos também confirmam essa característica.
orar por um mês a ninguém senão ao rei , Por exemplo, Diodoro de Sicília (À'Vii.30)
embora nesse caso se dirigisse em especí- descreve a atitude de Dario II para com a
fico a Daniel, pode ter sido sugerida por um sentença de morte sobre Charidemos. Ele
costume religioso nacional mais antigo entre afirma que o rei, depois de pronunciar a sen-
os medos, segundo o qual se rendiam honras tença de morte, se arrependeu e se culpou
divinas ao rei. Heródoto (i.199) observa que por ter cometido um grave erro no julga-
Deioces, um dos primeiros reis conhecidos mento; contudo, era impossível desfazer o
dos medos, fez de si mesmo objeto de reve- que tinha sido feito pela autoridade real.
rente pavor aos olhos de seus súditos, ao se Dos medos e dos persas. Eruditos da
retirar da presença dos homens comuns, para Alta Crítica com frequência apontam a pre-
convencer o povo que era diferente deles. sença desta expressão no livro de Dani el,
É evidente que mesmo os reis persas esti- usada num tempo em que os persas tinham ,
veram , ocasionalmente, dispostos a aceitar na verdade, mais controle do ant igo impé -
honras divinas, pelo fato de que, no Egito, rio do que os medos, como prova da suposta
permitiam que atributos divinos foss em autoria tardia do livro. Alegavam que o
acrescentados aos seus nomes. Inscrições termo seria usado apenas numa época em
em hieróglifos se referem a Cambises como que o povo já tivesse se esquecido da rea l

893
6:10 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

situação política. Documentos da época De joelhos. A Bíblia apresenta dife-


provaram qu e essa opinião é incorreta . rentes posições para oração. Houve servos
Esses docume ntos se referem aos pers as de Deus que oraram se ntados, como Davi
como "medo s", e aos "medos e persas", como (2Sm 7:18); inclinando-se, como Eliézer
o faz a Bíblia. Os documentos cuneifor- (Gn 24:26) e Elias (lRs 18:42); e, em vários
mes tamb ém mencionam vários reis per- casos, em pé, como Ana (lSm 1:26). A mais
sas pelo título "rei dos medos", bem como comum é a posição ajoelhada, da qual se têm
pelo título costum eiro "rei da Pérsia". Visto os seguintes exemplos: Esdras (Ed 9:5), Jes us
que Dario era medo, é natural que qualqu er (Lc 22:41), Es tevão (At 7:60 ; ver mais a esse
cortesão que se referisse, em sua prese nça, respeito em PR, 48; OE , 178).
à lei do país falasse da "lei dos medos e 11. Tendo achado a Daniel a orar.
dos pers as". Os maquin adores não tivera m que esperar
10. Sua casa. A casa de Daniel, prova- muito para ver Daniel desc umprir a proibi-
velmente, tinha um teto plano , como a maio- ção do rei . Com ou sem decreto, o hom em
ria das casas ta nto antiga s quanto atuais, de Deus sentia que deveria continuar seus
na Mesopotâmia. Em geral, num canto há hábitos de oração. Para ele, Deus era a fonte
um cômodo elevado acima do teto plano de toda sabedoria e êxito. O favor do Cé u
que contém janelas em treliça para ventila- era mais importante que a própria vid a. Sua
ção. Tais cômodos eram lugares id eais para conduta era o res ultado natural da confiança
recolhimento. em De us.
Janelas abertas. Uma expressão ara- 13. Dos exilados. A forma da acusa-
maica idêntica é usada num pap iro de Ele- ção revela todo o ódio e menosprezo que
fantina. O papiro descreve um a casa com esses homens sentiam por Daniel. Eles não
"ja nelas abertas" na parte baixa e acima se referiram à dignidade de seu posto, mas o
(Cowley, n. 25, linha 6). Outro papiro fala caracterizaram meram ente como um estra n-
de uma casa cuja "única janela se abre a dois geiro, um exil ado judeu. Sem dúvida, espe-
compartime ntos" (Kraeling, n. 12, linha 21). ravam com isso coloca r sua conduta so b
As janelas abertas da casa de Daniel estava m suspeita de ser um ato de rebelião contra
na direção de Jerusalém, a cid ade que tinha a autoridade. De fato, questionaram como
deixado quando rapaz e provavelmente nunca poderia um homem a quem o rei tinh a hon -
mais viu. Daniel tinha o costume judaico de rado tanto e que tinh a todos os motivos para ... ~
se voltar em direção a Jerusa lém para orar demonstra r gratidão por meio de estrita obe-
(ver 1Rs 8:33 , 35; SI 5:7; 28:2). diência aos decretos reais, ser tão insole nte
Três vezes por dia. Na tradição judaica de modo a desafiar abertamente as ordens
posterior, orar três vezes ao di a ocorria na ter- reais? As palavras deles foram planejadas de
ceira, sexta e non a horas do dia (contadas a modo a levar Dario a considerar Daniel como
partir do nascer do sol). A terceira e a nona ingrato, ou mesmo traidor.
horas correspondiam ao momen to dos sacri- 14. Livrar a Daniel. O mon a rca viu
fícios da manhã e da tarde. O salmista seguia a armadilha que lhe tinh am preparado.
a mesma prática (SI 55: 17). Mais tarde, orar Quando lhe propuseram o decreto, os ho -
três vezes ao dia se tornou costume de todo mens tinham recorrido a li sonjas, e o velho
judeu ortodoxo que vive de acordo com as rei tinha concordado sem perceber o com-
regras rabínicas (Bera lwth, iv.1). Este cos- plô por trás do plano dos homens e m
tume também parece ter sido adotado pela cujo julgamento estava acostumado a con-
igreja cristã primitiva (Didaquê, 8). fiar. De repente, percebeu que a origem de

894
DANIEL 6:20

toda a questão não era como havia imagi- da cova dos leões tão logo todos se re ti-
nado: trazer honra ao seu reino e à sua pes- rassem do local da execução. Por isso, foi
soa, mas privá-lo de um amigo verdadeiro e selada tanto por eles quanto pelo rei para
servo público de confiança. A despeito de assegurar que a pedra não seria tocada
seus esforços quase frenéticos, o rei não pôde durante a noite.
encontrar uma desculpa legal para salvar Da- Tumbas egípcias seladas podem servir
niel e, ao mesmo tempo, preservar o concei- para ilustrar a técnica de selamento de uma
to básico da inviolabilidade da lei dos medos entrada. Depois que a porta era fechada pela
e dos persas. última vez, era coberta de reboco, e então
15. Foram juntos. Pela segunda vez, era selada toda a superfície ou se passava
naquele dia, os inimigos de Daniel foram um selo em forma de rolo. Talvez tenham
ao rei, então ao entardecer. Esperaram por seguido procedimento semelhante ao fechar
várias horas a execução do veredito; quando a cova dos leões. É provável que o selamento
nada ocorreu, voltaram a procurar o rei e tenha sido feito mediante selos cilíndricos,
insolentemente reivindicaram sua presa. comuns entre os assírios, babilônios e per-
Sabiam que tinham direito legal de ordenar sas. Escavações na Mesopotâmia mostraram
a execução de Daniel, pois não havia brecha vários exemplos desses selos.
n a lei pela qual pudesse escapar. 18. Instrumentos de música. Do ara-
16. Que Ele te livre. Observa-se o maico dachawan. A palavra é obscura. Na
notável contraste entre as palavras do rei Bíblia ocorre apenas nesta passagem. Para o
com as de Nabucodonosor ditas em ocasião comentarista medieva l judeu Rashi, o signi-
similar (Dn 3: 15). Dario devia conhecer os ficado desta palavra é "mesas". lbn Esdras,
milagres que Deus tinha realizado nos dias outro erudito judeu , interpretou a palavra
de Nabucodonosor e Belsazar. como "instrumentos musicais". Sua inter-
17. Foi trazida uma pedra. Ainda não pretação pode ter influenciado alguns tra-
se escavou nenhuma cova de leões; por isso, dutores. Entre as muitas interpretações
é impossível reconstruir um quadro exato encontradas em traduções e comentários,
de tal lugar. todas baseadas em conjecturas, podem-se
Selou-a. O selamento oficial por parte alistar as seguintes: "alimentos", "músicos",
do rei e de seus grandes tinha um duplo "dançarinas", "perfumes", recepcionis-
propósito. Servia como garantia ao rei de tas" e "concubinas". A tradução da NVI,
que Daniel não seria morto por nenhum "divertimento", busca uma leitura não
outro meio, no caso de não ser atacado pelos comprometedora.
leões . Pelo fato de Dario ter a esperança de 19. Pela manhã, ao romper do dia.
que o Deus de Daniel o salvasse dos leões, Do aramaico shefarpar, "amanhecer". O sig-
n aturalmente, ele tomaria precauções con- nificado da passagem é claramente revelado
tra qualquer interferência da parte dos na tradução de Keil: "O rei, tão logo se levan-
homens que es tavam determinados a tirar tou, ao amanhecer, foi depressa com a pri-
a vida de Daniel. Por outro lado , o sela- meira luz."
menta garantia aos inimigos de Daniel que 20. Triste. Do aramaico 'atsib, "triste",
nenhum esforço poderia ser feito para salvá- "sofrido", "cheio de ansiedade". A voz é um ... ~
lo, no caso de ele não ser imediatamente reflexo das emoções. É difícil às pessoas es-
desp edaçado pelos animais. Os conselhei- conder seus sentimentos mais íntimos. O rei
ros de Dario podiam desconfiar de que os tinha passado pela dura prova de ver seu
amigos de Daniel ou o rei tentass em salvá-lo servo mais fiel jogado aos leões. Essa terrível

895
6:21 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

experiência foi seguida de uma noite longa e onde os leões eram mantidos não poderia ser
insone. Não é de surpreender que a voz reve- ampla o suficiente p ara receber 122 homens
la sse seu remorso, inquietação e ansiedade. com suas famílias. Além disso, n ão poderia
Servo do Deus vivo. As palavras de haver leões suficientes em Babilônia p ara
Dario revelam o quanto conhecia do Deus e devorar tantas vítimas. No e ntanto, a Bíblia
da religião de D aniel. O fato de o rei chamar não declara que esse tenha sido o número dos
o Deus de Daniel de "o Deus vivo" sugere que condenados à morte . Esses eruditos críticos
Daniel tinha lhe falado sobre a natureza e o tiram a conclusão de que os 120 príncipes e
poder do verdadeiro D eu s. os dois presidentes dos v. 1 e 2 estavam envol-
21. Ó rei, vive eternamente. Sobre vidos no caso. No entanto, o número de p es-
esta saudação, ver com. de Dn 2:4. soas envolvidas é apenas uma esp eculação.
22. Fechou a boca aos leões. O escri- Seus filhos. Tanto H eródoto (iii.ll9)
tor da epístola aos Hebreus cita essa expe- quanto Amiano Marcelino (xxiii.6 , 81) testi-
riência de Daniel e atribui o livramento do ficam que condenar à morte esposas e filhos,
profe ta ao poder da fé (Hb 11:33). com um réu, era costume n a Pérsia.
Foi achada em mim inocência. 26. Faço um decreto. Após o livra-
Supõe-se que D aniel n ão se defendeu antes mento dos amigos de Daniel da fornalha
de ser la nçado aos leões. Qualquer palavra ardente, Nabucodonosor tinha promul-
dita naquele momento poderia ter sido inter- gado um edito a todas as nações de se u
pretada p or seus inimigos como fraqueza ou reino, proibindo-as, sob p ena de morte, de
sinal de medo. Porém , depois que Deus con- dizer qualquer coisa contra o Deus desses
siderou conveniente salvar sua vida, Daniel hebreus (Dn 3:29 ). De modo semelhante,
declarou su a inocência . como res ultado do livramento de Daniel da
23. Tirar a Daniel da cova. Cumpriram- cova dos leões, Dario promulgou um edito
se as exigências do decreto real. Ess e que ordenava todas as nações de seu reino a
decreto não tinha exigido a execu ção do temer e revere nciar o Deus de Daniel. N ão
transgressor, m as apenas que fo sse "lan- se deve concluir disso que o rei tenha aban-
çado na cova dos leões" (v. 7). É claro que donado o politeísm o dos m edos. D ario reco-
n ão havia dúvidas de que essas p alavras nheceu o D eus de Daniel como o De us vivo,
indicavam pena de morte. Daniel tinha sido cujo reino e domínio são eterno s, mas n ão
lançado n a cova dos leões e n ão h avia res - se afirma que O reconhece u com o o único
triçõe s legais que impedissem o rei de tirá- e verdadeiro Deus (ver p. 826, 827 ).
lo dali. 28. No reinado. A repetição destas
24. Foram lançados na cova dos palavras não indica uma separação do reino
leões. Irado, o rei agiu da forma típica dos persa em relação ao medo, m as apenas uma
déspotas de sua época. A história antiga distinção de governantes, sendo um medo
dá muitos exemplos de atos assim. Alguns e outro persa. A construção d a frase p er-
comentaristas questionam esta narrativa mite interpretar que Ciro foi corregente com
como n ão histórica afirmando que a cova Dario ou seu sucessor.

NOTAADICIONALA DANIEL 6

As diferente s opiniões defendidas quanto à identidade de D ario, o medo, merecem


consideração. Antes dos achados arqueológicos, desde por volta d a metade do século 19,

896
DANIEL

o livro de Daniel apresentava vários problemas históricos, a maioria dos quais foi solucio-
nada de forma satisfatória (ver Introdução, p. 822, 823). Dos problemas que restaram, o
que se refere à pessoa e ao cargo de Dario é o maior. No entanto, a maneira como outras <11 ~
declarações históricas da Bíblia têm sido confirmadas justifica a expectativa de que esse
problema também o poderá ser.
Eruditos da Alta Crítica ofereceram a explicação simples, porém inaceitável, de que as
seções históricas de Daniel são lendárias e que Dario é um personagem fictício criado pelo
autor, no 2o século a.C. O fato de não haver confirmação secular de certas declarações
bíblicas não é razão para se questionar a confiabilidade e exatidão histórica das Escrituras
Sagradas. Muitas declarações bíblicas, outrora colocadas em dúvida por eruditos críticos,
provaram estar em total harmonia com os fatos da história antiga, conforme revelados pela
arqueologia.
As declarações bíblicas referentes a Dario podem ser resumidas assim:
l. Dario descendia dos medos (Dn 5:31; 9:1; 11:1).
2. Era "filho de Assuero" (Dn 9:1).
3. Foi "constituído rei sobre o reino dos caldeus" (Dn 9:1), portanto, "se apoderou do
reino" (5:31).
4. Tinha "cerca de" 62 anos na época em que Babilônia foi conquistada (Dn 5:30, 31).
5. Apenas seu primeiro ano de reinado é mencionado (Dn 9:1; 11:1).
6. Designou "cento e vinte sátrapas" sobre todo o reino, com "três presidentes" como
seus superiores (Dn 6:1, 2).
7. Ciro sucedeu Dario ou reinou com ele ao mesmo tempo (Dn 6:28).
A partir dessas evidências, se deduz que, após a queda de Babilônia, o império babilô-
nico foi governado por Dario, talvez durante a primeira parte do reinado de Ciro, segundo o
cômputo de Babilônia. Dario, filho de Assuero (em grego, Xerxes), é chamado de "medo", em
contraste com Ciro, que é chamado de "persa" (Dn 6:28). Ele já estava com 62 anos quando
Babilônia foi conquistada, e supõe-se que morreu pouco tempo depois.
Nenhuma fonte não bíblica conhecida, exceto as que se baseiam em Daniel (como
Josefo), menciona um Dario como governante do império babilônico antes de Dario I (522-
486 a.C.) . Esperam-se descobertas que lancem luz à figura de Dario, o medo. Enquanto
isso, intérpretes bíblicos buscam identificar Dario, o medo, com algum dos person agens
históricos da época de Ciro conhecidos por outro nome. Josefo declara que o Dario do
livro de Daniel "tinha outro nome entre os gregos" (Antiguidades, x.ll.4). Várias identifi-
cações são propostas:
l. Dario, o medo, foi Astíages, o último governante do reino da Média antes de Ciro se
apoderar do império. Astíages era filho de Ciáxares I, cujo nome, afirma-se, pode ser iden-
tificado linguisticamente com o de Assuero de Daniel 9:1, embora em outra parte Assuero
seja mencionado como Xerxes (ver com. de Et 1:1). Visto que Astíages começou a reinar por
volta de 585 a.C., ele teria idade avançada na época da queda de Babilônia, em 539 a.C.,
como se diz a respeito de Dario (D n 5:31). Esse fato confere certa plausibilidade à identi-
ficação sugerida .
Há objeções a essa identificação. Segundo fontes gregas, Astíages era avô de Ciro. Quando
Ciro era jovem, Astíages tentou matá-lo várias vezes. Mais tarde, quando era rei vassalo sobre
tribos persas, Ciro se rebelou contra seu senhor e depôs Astíages, em 553/552 ou 550 a.C. ,
constituindo-o governador de Hircânia, ao sul do mar Cáspio. Nem mesmo documentos

897
COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

gregos insinuam que Astíages tenha se associado a Ciro para conquistar Babilônia , em 539.
Além disso, é duvidoso que Astíages, contemporâneo de N abucodonosor e cunhado do
gra nd e rei babilônio, ainda estivesse vivo naquela época. Portanto, é bem improvável que
os dois sejam a mesma pessoa.
2. Dario, o medo, era Cambises, filho de Ciro. Cambises é mencion ado em vá rios table-
tes cuneiform es com o título de rei de Babilônia, corregente com seu pai C iro, a quem esses
tabletes cha mam de "rei das terras". Porém, a cor regência com seu pai é o único fator a favor
da identificação de Cambises com o Dario de Daniel. Em todos os outros aspectos , Cambises
não se ajusta ao quadro aprese ntado na Bíblia. E le não poderia ter 62 anos , em 539 a.C . Ele
~ ... não era um medo, m as persa como seu pa i. E e le não era filho de Assuero. D evido a essas
dificuld ades, a identificação de Cambises como Dario deve ser rejeitada.
3. Dario, o medo, era Cobrias (a opinião mais defendida). Segundo Xenofonte (Ciropedia ,
vii), Cobrias foi um general ancião que tomou Babilônia para Ciro. A Crônica de Nabonido,
um importante doc umento cuneiforme que descreve a queda de Babilônia , o menciona. Ali,
diz que "Ugbaru, o governador de Cutium, e o exército de Ciro e ntraram e m Babilônia sem
batalha", no dia 16 de tisri. Após descrever a entrada de Ciro em Babilônia , també m men-
ciona um certo "Gubaru, seu governador", que "nomeou [sub-]governadores em Babilônia".
Além di sso, depois de narrar como os deuses levados por Nabonid o a Babilônia foram devol-
vidos a suas respectivas c id ades , o tablete declara qu e "no mês de arah.sh.amnu, na noite do
dia ll , Ugbaru morreu". A frase seguinte está incompleta, e os eruditos di scordam quanto a
se ela se refere à morte de Ugbaru ou à morte de um personagem da realeza. A frase seguinte
men ciona que houve luto oficial em todo o país por sete dias.
Alguns consideram Ugbaru e Gubaru como diferentes grafia s do mesmo nome que repre-
sentam Cobrias das fontes gregas. Porém, Ugbaru morreu no mês de arah.shamnu, no ano da
queda de Babilônia ou no seguinte, ao passo que houve outro Gubaru, que viveu por muitos anos
como governador sobre as satrapias de Babilônia e da grande Síria, e que, mais ta rde, tornou-
se sogro de Dario I, o grande, como confirmam documentos da época. De acordo com essa
opinião, Ugbaru e Gubaru da Crônica de Nabonido devem ser pessoas diferentes. O primeiro
morreu logo depois de tomar Babilônia. O último foi por muito tempo governador de Babilônia.
O s que identifi ca m Dario, o medo, com Cobrias e igualam Ugbaru a Gubaru indicam
que Cobrias é ap resentado como o que tomou Babilônia, e que, na prática, tornou -se seu
governan te. Portan to, poderia ter sido chamado de "rei", embora registros da época o cha-
mem apenas de governador. O fato de ele , segundo a C rônica de Na bonido, se r mencionado
constituindo governadores so bre Babilônia, parece corroborar com o qu e di z Daniel 6:1 e 2,
em qu e essa tare fa é atribuída a Dario, o medo. Explica -se que o nome Gubaru é de origem
persa, e sua antiga posição como governador de Gutium , uma província qu e faz divisa com
a Médi a, parece admitir a possibilid ade de que fosse medo.
Embora es sa identificação de Dario com Ugbaru (Cobrias) ten ha mai s a se u favor do que
as dua s mencionadas prev iamente, existem objeções a essa opinião. Cobrias é chamado de
governador, não de rei. Visto que viveu muitos anos após a qu eda de Babilônia, devia estar
com bem menos de 62 a nos em 539 a .C.
Um a alternativa à teoria de Cobrias, baseada numa reinterpretação da Crônica de
Nabonido, propõe qu e Dario, o medo, não foi Gubaru, o último governador segundo as
tabuletas, mas Ugham!Gubaru da Crônica de Nabonido, govern ador de Cutium que tomou
Babilônia para Ciro e morreu em amhshamnu, não três semanas, mas um ano e três semanas

898
DANIEL

depois. Isso daria tempo para que ocorresse o even to narrado em Daniel 6 durante seu
governo "sobre o reino dos caldeus" (Dn 9:1). Aplicado a Ugbaru/Gubaru, o termo rei seria
apenas um título de cortesia. Ciro, que já era rei da Pérsia, Média e Lídia antes de conquis-
tar Babilônia, era o governante de facto de todo o império.
4. Dario, o medo, era Ciáxares li, filho de Astíages. Ellen G. White diz que Ciro era sobri-
nho e general de Dario (PR, 523, 556, 557). Por sua vez, Xenofonte afirma: (1) que Ciro, neto
de Astíages por sua mãe Mandana, tinha conhecido seu tio Ciáxares durante os anos que
Ciro passou na corte de seu avô medo (Cyropaedia, i.3. 1; 4.1, 6-9, 20-22; 5.2); (2) que Ciáxares
sucede u seu pai no trono como rei da Média, após a morte deste (i.5 .2); (3) que, ao conquis-
tar Babilônia, Ciro visitou seu tio com presentes e lhe ofereceu um palácio em Babi lônia;
Ciáxares aceitou os presentes e deu a Ciro sua fi lha, bem como o reino (vii i.5.17-20).
Embora não se possam aceitar os detalhes da história conforme fornecidos por Xenofonte ,
é possível que o escritor grego preserve corretamente a tradição de que Ciáxares foi o último
governante médio, e que era sogro de Ciro bem como amigo íntimo do grande comandante ~ ~
persa. Se esses pontos podem ser aceitos como fatos históricos, pode-se presumir que C iro,
depois de se rebelar contra Astíages, permitiu que Ciáxares governasse como rei nomin al
para satisfazer os medos. Ao mesmo tempo, todos no reino sabiam que o verdadeiro sobe-
rano era Ciro, e que Ciáxares era uma figura decorativa. Nesse caso, Dario, o medo, pode
ser identificado com Ciáxares li, que, presumivelmente, tinha ido a Babilônia a convite de
Ciro para atuar como rei.
Supondo-se que Xenofonte estivesse correto, é possível demonstrar que Ciáxares II era
ava nçado em idade na época da queda de Babilônia com base no seguinte: Ciáxares II
era sogro de Ciro. O próprio Ciro, provavelmente, tinha pelo menos 40 anos na época,
e isso é evidente pelo fato de que seu filho, Cambises, era maduro o suficiente para
representá-lo oficialmente durante as atividades do dia de ano novo . Portanto, Ciáxares
li poderia ter tido 62 anos por ocasião da queda de Babilônia, idade que Daniel atribuiu
a Dario, o medo. Sua idade relativamente ava nçada , numa época em que a maiori a das
pessoas morri a cedo, pode ter sido responsável pelo fato de ele não ter sobrevivido à queda
de Babilônia por muito tempo. Isso explicaria por qu e Daniel menciona apenas seu pri-
meiro ano de reinado. Xenofonte não inform a mais nada sobre Ciáxares pouco depois da
conquista de Babilônia.
A declaração de Daniel de que Dario era "filho" de Assuero, provavelmente, deve ser
entendida como sendo "neto" de Assuero. Há muitas demon strações de que a palavra hebraica
para "filho" pode significar "neto" ou até mesmo um descendente mais remoto (ver com. de
2Rs 8:26). A palavra "Assuero" vem do heb. 'Achashwerosh, que pode ser uma tradução de
Uvaxshtrah, a antiga grafia persa de Ciáxares I, mas não de Astíages.
Se após sua chegada a Babilônia, Dario se tornou um amigo especial de Daniel, é com -
preensível que o profeta datasse as visões recebidas durante esse breve reinado com base
nos anos de reinado de Dario (Dn 9:1; 1l:l), em vez de nos anos de reinado de Ciro. Porém,
após o ano creditado a Dario, Daniel datou os eventos com base nos anos de reinado de
Ciro (Dn 1:21 ; 10:1).
Evidências da época que poderiam esclarecer essa reconstrução da hi stória de Ciáxares li
são ambíguas e escassas. Existe uma possível referência a Ciáxares na Crônica de Na bonido.
Visto que é certo que Gubaru viveu por muitos anos após a conquista de Babilônia, ao passo
que Ugbaru morreu logo, e houve luto nacional por alguém importante durante o mesmo

899
7:1 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

mês, é possível ver Ciáxares 11 como o Ugbaru da Crônica de Nabonido. Ou, o nome de
Ciáxares podia estar na linha incompleta que fala da morte de alguém importante para
o qual se decretou luto nacional. Contudo, parece haver um erro na primeira menção de
Ugbaru na Crônica de Nabonido. O nome Ugbaru é erro de um escriba que o confundiu
com Gubaru, ou o título "governador de Gutium" foi por engano transferido pelo autor do
tablete de Gubaru para Ugbaru.
Outra evidência possível da época pode estar na menção dupla de um Ciáxares na gra nde
inscrição de Behistun, de Dario I (sobre essa inscrição, ver vol. 1, p. 79, 90). Entre os vários
pretendentes ao trono, contra os quais Dario I lutou , estavam dois que afirmavam ser da famí-
lia de Ciáxares. O Ciáxares em questão pode ter sido tanto Ciáxares I, pai de Astíages, ou,
possivelmente, Ciáxares 11, sogro de C iro, e último rei nominal da Média.
Este resumo torna claro que ainda existem muitos fatores obscuros n a solução da iden-
tidade de Dario, o medo, a partir de fontes históricas e arqueológicas. Contudo, conside-
rando todas as possibilidades, este Comentário favorece a quarta propos ta.

COMENTÁRIOS DE ELLEN G. WHITE

1-28 - PR, 539-548; T1, 6-9- PR, 540 17-24- San, 35


295, 296 7 - San, 43 20 -27 - PR, 544
1-4 - San, 42 lO - CS, 423; OE , 178; 22 - MCH , 317; T5,
1-5 - PR, 539 PR, 48 , 541; San, 43; 453, 527
3, 4 - T1 , 295 T I , 296;T4, 373, 569; 22-28 - PR, 557; TM ,
4- Ed, 56 ; FEC, 305; T5, 43 , 45 3, 527 443; TI, 296
MCH, 75; PR, 546; 12, l3- PR, 542 25-27 - Ed, 56
~ ~~- T7, 248 14-16 - San, 44 26 - PR, 545
4-10 - T4, 368 14-17 - PR, 543 27- T2, 54
5- San, 43 16 - AA, 575; Ed, 254; 28- PR, 545
T4, 448, 525

CAPÍTULO 7
1 Daniel tem a visão de quatro animais e 9 do reino de Deus. 15 A interpretação.

I No prime iro ano de Belsa zar, rei da 4 O primeiro era como leão e tinh a asas de
Bab il ônia , teve Daniel um sonho e visões a nte águia; enquanto e u olhava, foram-lh e arranca-
seus olhos , q uando estava no seu le ito ; esc re- das as asas , foi leva ntado da terra e posto em
veu logo o so nho e re lato u a sum a de tod as dois pés, como home m; e lhe foi dada mente
as coisas. de homem.
2 Falou Da niel e disse : Eu estava olhando, 5 Continue i olhando, e eis aqui o segu ndo
durante a min ha visão da noite, e eis que os qu a- anim al, semelhante a um urso, o qu al se leva n-
tro ventos do céu agi tavam o mar Grande. tou sobre um dos seus lados; na boca, entre os
3 Quatro a nimais, grandes , diferentes uns dentes , trazia três costelas; e lhe diziam: Levanta-
dos outros, subiam do mar. te, devora mui ta carne.

900
DANIEL 7: l

6 Depois disto, continuei olhando, e eis aqui ele me disse e me fez saber a interpretação das
outro, semelhante a um leopardo, e tinha nas cos- coisas:
tas quatro asas de ave; tinha também este anim al 17 Estes grandes animais, que são quatro, são
quatro cabeças, e foi-lhe dado domínio. quatro reis que se levantarão da terra.
7 Depois disto, eu continuava olhando nas 18 Mas os santos do Altíssimo receberão o <11 ~
visões da noite, e eis aqui o quarto animal, ter- reino e o possuirão para todo o sempre, de eter-
rível, espantoso e sobremodo forte, o qual tinha nidade em eternidade.
grandes dentes de ferro ; ele devorava, e fa zia em 19 Então, tive desejo de conhecer a verdade
pedaços, e pisava aos pés o que sobejava; era di- a respeito do quarto animal , que era diferente
ferente de todos os animais que apareceram antes de todos os outros, muito terrível, cujos dentes
dele e tinha dez chifres. eram de ferro , cujas unhas era m de bronze, que
8 Estando eu a observar os chifres, eis que devorava, fa zia e m pedaços e pisava aos pés o
entre eles subiu outro pequeno, diante do qual que sobejava;
três dos primeiros chifres foram arrancados; e eis 20 e também a respeito dos dez chifres que
que neste chifre havia olhos, como os de homem, tinha na cabeça e do outro que subiu, dian -
e uma boca que falava com insolência. te do qual caíram três, daquele chifre que
9 Continuei olhando, até que foram postos tinha olhos e uma boca que falava com inso-
uns tronos, e o Ancião de Dias se assentou; sua lên c ia e parecia mais robusto do que os seus
veste era branca como a neve, e os cabelos da ca- companheiros.
beça, como a pura lã ; o seu trono eram chamas 21 Eu olhava e eis que este chifre fazia guerra
de fogo, e suas rodas eram fogo ardente. contra os santos e prevalecia contra eles,
lO Um rio de fogo manava e saía de diante 22 até que veio o Ancião de Dias e fez jus-
dele; milhares de milhares O serviam, e miría- tiça aos santos do Altíssimo; e veio o tempo e m
des de miríades estavam diante dEle; assentou- que os santos possuíram o reino.
se o tribunal , e se abriram os livros. 23 Então, ele disse: O quarto animal será um
li Então, estive olhando, por causa da voz das quarto reino na terra, o qual será diferente de
insolentes palavras que o chifre proferia; estive todos os reinos; e devorará toda a terra, e a pisa-
olhando e vi que o animal foi morto, e o seu corpo rá aos pés, e a fará em pedaços.
desfeito e entregue para ser queimado. 24 Os dez chifres correspondem a dez reis
12 Quanto aos outros animais, foi-lhes tirado que se levantarão daquele mesmo reino; e, de -
o domínio; todavia, foi-lhes dada prolongação de pois deles, se levantará outro, o qual será dife-
vida por um prazo e um tempo . rente dos primeiros, e aba terá a três reis.
13 Eu estava olhando nas minhas visões da 25 Proferirá palavras contra o Altíssimo, ma-
noite, e eis que vinha com as nuvens do céu um goará os santos do Altíssimo e cuidará em mudar
como o Filho do Homem, e dirigiu -se ao Ancião os tempos e a lei; e os santos lhe serão entregues
de Dias, e O fizeram chegar até ele. nas mãos, por um tempo, dois tempos e metade
14 Foi-Lhe dado domínio, e glória, e o reino, de um tempo.
para que os povos, nações e homens de todas as lín- 26 Mas, depois, se assentará o tribunal para
guas O servissem; o Seu domínio é domínio eterno, lhe tirar o domínio, para o destruir e o consu-
que não passará, e o Seu reino jamais será destruído. mir até ao fim.
15 Quanto a mim, Daniel, o meu espírito foi 27 O reino, e o domínio, e a majestade dos
alarmado dentro de mim , e as visões da minha reinos debaixo de todo o céu serão dados ao povo
cabeça me perturbaram. dos santos do Altíssimo; o Seu reino será reino
16 Cheguei-me a um dos que estavam perto eterno, e todos os domínios O servirão e Lh e
e lhe pedi a verdade acerca de tudo isto. Assim, obedecerão .

901
7:1 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

28 Aqui, terminou o assunto. Quanto a perturbaram, e o meu rosto se empalideceu; mas


mim , Daniel, os meus pensamentos muito me guardei estas coisas no coração.

1. No primeiro ano de Belsazar. Escreveu. A fim de que se preservasse


Deve-se observar que Daniel não apresenta para gerações futuras.
as inform ações de se u livro numa ordem A suma de todas as coisas. As pa la-
cronológic a estrita. Os eventos dos cap. 5 vras aramaicas assim tradu zidas são d ifí-
e 6 aconteceram depois dos registrados no ceis de se verter para o português. A pa lav ra
cap. 7. Mas, sem dúvida, por razões de con- para "suma" é re'sh, qu e significa "ca beça"
tinuidade, a narrativa histórica se completa ou "começo". A versão original grega diz:
nos cap. 1 a 6 (sobre a identidade e papel eis lwphalaia logon , que pode ser interpre-
de Belsazar na história , ver Nota Adic ional tado como "um resumo". É evidente que o
a Daniel 5). significado da expressão é que Dani e l ano-
Teve Daniel um sonho. Literalmente, tou e re latou o conteúdo principa l do sonho.
"viu um sonho". Num sonho, o Senhor deu Alguns tradu zem a fras e como "os detalhes
a Daniel uma visão da futura história do importa ntes".
mundo. 2 . Ventos. Do aramaico ru.ach, equi-
A profecia ele Daniel 7 abrange essenci al- valente ao heb. ru.ach, que tem um a varie-
mente o mesmo período histórico do sonho dade de significado s, como ar e "vento"
do cap. 2; e am bos abrangem desde os di as (Êx 10:13; Jr 2:24), "hálito" (Jó 19:17), "espí- <4 ~
do profeta até o estabelecimento do reino de rito" humano (SI 32:2) e "Espírito" divino
Deus. Nabucodonosor viu os poderes mun- (S I 51:12, KJV). Num sentido metafórico, a
di ais represe ntados por um a grande está- palavra também é usad a para falar de coisas
tua de metal; Daniel os viu como animais e vãs e va zias (Jr 5:13). Quando e mpregada
chifres, e também viu aspectos da históri a numa visão simbóli ca, como neste caso, a
relacionados à experiência do povo de De us palavra parece indica r atividade ou alguma
e ao cumprimento do plano divino. A pro- forma de energia, deter minada exa tam ente
fecia de D aniel 2 trata de questões políti- pelo contexto. Por exemplo, o "vento" d a
cas, em grande parte. Em primeiro lugar, visão simbólica de Ezequiel, que fez revi-
ela foi dada para instruir Nabucodonosor e ver os ossos secos, represen tava a ene rgia
assegu rar sua cooperação no plano divino divina revivendo a inerte nação de Isra el
(ver com. de Dn 2: 1). A visão não tem (Ez 37:9-14). Os "ventos" de Daniel, que
como te ma a relação do povo de Deus com agitavam o grande mar, fazendo com que
mudanças políticas. A profecia de Daniel 7, emergissem quatro animais, ou impé rios,
como as do restante do livro , foram dadas represent ava m esses movimentos diplo-
em especial para o povo de Deus a fim de mático s, bélicos, políticos ou el e outra
que pudesse e ntender seu papel no plano natureza, que moveriam a história desse
di vi no. A profecia inspirada dos eventos período.
futuros foi apresentada tendo como pano de Os "quatro ventos", dos quatro pontos car-
fundo o contexto do grande conflito entre deais , sem dúvida, representam a atividade
Cristo e Satanás. Os esforços do arqui- política em várias partes ela Terra (Jr 49: 36;
in i migo para destruir "os santos" foram des- cf. Dn 8:8; 11:4; Zc 2:6; 6:5).
mascarados, e a vitória final da verdade Agitavam. Do aramaico guach . A forma
é assegurad a. do verbo sugere ação continuada.

902
DAN IEL 7:5

Mar Grande. Não se especifica nenhum adequadamente o impeno babilônico no


corpo de d'água, como o Mar Mediterrâneo. auge de sua glória. O leão é notáve l por sua
O mar simboli za as nações do mundo - o força , enquanto a águia é famosa pelo pode r
"gra nde m ar" da humanidade em todas as e alcance de seu voo. O poder de Nabucodo-
eras (ver Ap 17:15 ; cf. Is 17:12; Jr 46:7). nosor foi sentido não apenas em Babilônia,
3. Quatro animais. A apli cação do mas do Mediterrâneo até o golfo Pérsico, e
símbolo não é deixada à especulação. De da Ásia Menor ao Egito. Assim , é adequado
acord o com o v. 17, os quatro anim a is repre- representar o alca nce do poder de Babilônia
se nta m "quatro reis, qu e se levantarão da por um leão com asas de águia.
terra". E m vez de "reis", a LXX, Teodócio Arrancadas. O leão já não podia voar
e a Vulgata trazem "reinos". O qua rto ani- como a águia sobre sua presa. Sem dúvida,
mal é especifica mente chamado de "quarto isso se refere ao período em que govern a ntes
reino" (v. 23). Em geral, se aceita que esses menos poderosos sucederam Nabucodonosor
quatro animais representam os mesmos qua- no reino de Babilônia, quando o poder dos
tro p oderes simboli zados pela estátua de caldeus perdeu sua glória. Al guns sugerem
Daniel 2. uma possível referência também à exper iên-
Diferentes. Esta diversid ade é ilustrada cia de Nabu codonosor, quando por sete a nos
pelos meta is, em Daniel 2: 38 a 40. foi privado não só de se u trono, mas também
Subiam. Os poderes representados não de sua razão (Dn 4: 31-33).
são contemporâneos, mas sucessivos. Levantado. Um leão que se levanta
4. Leão [... ] asas de águia. Um sím- como homem indica a perda das caracter ís-
bolo apropri ado para Babilônia. O leão alado tic as de leão.
é encontrado em objetos de arte babilônicos . Mente de homem. O apelido do re i
A combinação de leão e águia e ra comum . Ric ardo, Coração de Leão, representava sua
Vi a-se com frequ ência um leão com asas de coragem e ous adia incomuns. E m contra-
águi a, às vezes, com garras ou bico. Uma partida, um leão com "mente de homem"
combinação semelhante era de águia com indicari a covardia e timid ez. Nos seus anos
cabeça de leão. O leão alado é uma das for- de declínio, Babilônia se enfraquece u pela
m as des te anim al que, com frequ ência, é arrogânc ia e luxúri a, e caiu como presa dos
representado em combate junto a Marduqu e, medos e persas. ~~
o padroeiro da cidade de Babilônia (sobre Alguns veem n a expressão "me nte de
essa co mbinação de leão e águia, ver S. H. homem" o desapa recimento da caracterís-
Langdon, Semitic Mythology; T he M ythology tica anim al de vorac id ade e ferocidade e a
of All Races, vol. 13; p. 118, 277-282; vertam- humanização do rei de Babilônia. Isso pode-
bé m, na mesma obra, Fig. 51 , na p. 106, o ria ser aplic ado a N abucodonosor após sua
leão alado; e p. 116, 117, a águi a com cabeça experiênci a humilh a nte, mas não seria um a
de leão; ver ainda ilustrações da combinação representação adequ ada do reino nos se us
de vários animais babilônicos e assírios em últimos anos.
L. E. Froom, Pro phetic Faith of Our Fathers, 5. Um urso. O império persa, ou medo -
vol. 1, p. 50, 52). persa, correspondente à prata da estátua (ve r
Outros profetas se referem ao rei Na bu- com . de Dn 2:39). Co mo a prata é inferior ao
cod onosor co m fi guras semelh antes (]r 4: 7; ouro, assim , ao menos em alguns aspectos,
50:1 7, 44 ; Lm 4:19; Ez 17:3 , 12 ; H c 1:8) . o urso é inferior ao leão. Contudo, o urso é
O leão , com o rei dos animais, e a águi a , cruel e voraz , ca racterísticas atribuídas aos
com o rainh a das aves, repre sent avam medos (Is 13:17, 18).

90 3
7:6 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

Sobre um dos seus lados. O intér- fatores que impulsionavam o jovem rei a levar
prete (v. 16) não explica esta característica da avante seus planos estavam a ambição pes-
visão. Porém, uma comparação com Daniel soal, a necessidade de expansão econômica,
8:3 e 20 sugere que o reino era composto de o desejo de difundir a cultura grega e um a
duas partes: os medos e os persas, sendo que animosidade natural contra os persas, devido
os últimos se tornaram o poder dominante a conflitos anteriores com seus compatriotas.
poucos anos antes do império duplo conquis- Em 334 a .C., Alexandre cruzou o
tar Babilônia (ver com. de Dn 2:39). H elesponto e entrou no território persa
Três costelas. Estas não são menc iona- com apenas 35 mil homens , a insignifica nte
das na interpretação (v. 17-27); no entanto, soma de 70 talentos e provisões para apenas
muitos comentaristas as consideram um sím- um mês. A campanha rendeu uma série de
bolo dos três poderes principais conquistados vitórias. A primeira delas foi alcançada em
pelo império medo-persa: Lídia, Babilônia e Grânico, a segunda em Isso, no ano seguinte,
Egito (ver com. de Is 41:6). e outra em Tiro, um ano depois. Ao passar
E lhe diziam. Não se identifica quem pela Palestina, Alexandre conquistou Gaza
fala. O sujeito deve ser considerado de forma e, então, entrou no Egito praticamente sem
impessoal: "foi dito". enfrentar oposição. Ali, em 331 a.C., ele fun-
6. Semelhante a um leopardo. O leo- dou a cidade de Alexandria. Declarou-se
pardo é um a nimal feroz e carnívoro, notá- sucessor dos faraós, e suas tropas o aclama-
vel por sua velocidade e agilidade (ver Hc ram como um de us . Quando novamente,
1:8; cf. Os 13:7). nesse ano, iniciou sua jornada, ele dirigiu
O poder que sucederia o império persa é seus exércitos para a Mesopotâmia, o cora-
ide ntific ado em Daniel 8:21 como "Grécia". ção do império persa. Os persas se posiciona-
Essa "Grécia", porém, não deve ser confun- ram perto de Arbela, ao leste da junção dos
dida com a Grécia do período clássico, visto rios Tigre e Grande Zab, mas as forças per-
que este período precedeu a queda da Pérsia. sas foram derrotadas e fugiram. As fabulosas
A "G récia" apresentada em Daniel é o impé- riquezas do maior império do mundo esta-
rio semigrego macedônico de Alexandre, o vam à disposição do jovem rei, com 25 anos .
Grande (ver com. de Dn 2:39), que inaugu- Após uma organização preliminar de
rou o que é chamado de período helenís- seu império, Alexandre prosseguiu em suas
tico . Antes de Alexandre, não se podia fazer conquistas em direção ao norte e ao leste.
referência ao "primeiro rei " (Dn 8:21) de um Por volta de 329 a.C., ele já havia tomado
império grego que fosse "um rei poderoso" Maracanda, atual Samarcanda, no Uzbe-
com "grande domínio" (Dn 11:3). quistão. Dois anos mais tarde, invadiu o
Em 336 a.C., Alexandre assumiu o trono noroeste da Índia. Porém, pouco depo is de
da Macedônia, um estado semigrego na fron- cruzar o rio Indo , suas tropas se rec usa-
teira norte da Grécia. O pai de Alexandre, ram a ir além, e ele se viu obrigado a ceder.
Felipe, já tinh a unido a maioria das cida- Ao retornar à Pérsia e Mesopotâmia , Alexan-
des-estados da Grécia sob seu domínio, dre foi confrontado com a grandiosa tarefa
por volta de 338 a.C. Alexandre provou de organizar a administração de seus territó-
sua índole subjugando revoltas na Grécia rios. Em 323 a.C., ele estabeleceu sua capital
e Trácia. Após a ordem ter sido restaurada em Babilônia, cidade que ainda preservava
em seu próprio reino, Alexandre se lançou resquícios da glória dos tempos de Nabuco- ~ ~
à tarefa de conquistar o império persa, uma donosor. No mesmo ano , depois de se exce-
ambição que herdou de seu pai . Entre os der na bebida, Alexandre adoeceu e morreu

904
DANIEL 7:6

de "febre do pântano", o que se imagina ser da coalizão de quatro poderosos líderes:


o nome antigo da malária, ou de enfermi- Cassandro, Lisímaco, Seleuco e Ptolomeu ,
dade semelhante. que tinham a intenção de dividir o territó-
Quatro asas de ave. Embora o leo- rio entre eles. Em 306, juntamente com seu
pardo seja um animal veloz, sua agilidade filho Demétrio, Antígono se declarou rei
natural parece inadequada para descrever a de todo o império e sucessor de Alexandre.
surpreendente velocidade das conquistas de Diante disso, os quatro aliados abandona-
Alexandre. A visão mostrava o animal com ram seus títulos de sátrapas e se declara-
asas que lhe foram acrescentadas, não duas, ram reis de seus respectivos territór ios (ver
mas quatro, indicando velocidade superla- p. 824, mapa B).
tiva. O símbolo descreve adequadamente A longa luta de vida ou morte entre os
a rapidez fulminante com que Alexandre e defensores da unidade, sob o governo de
os macedônios, em menos de uma década, Antígono e Dem étrio, e os partidários da
chegaram a se apoderar do maior império divisão do império entre os quatro generais
do mundo até então. Na Antiguidade, não foi decidida na batalha de Ipso, em 301 a .C .
existiu outro exemplo de movimentos tão Antígono foi morto, Demétrio fugiu, e o ter-
rápidos de tropas em escala tão extensa e ritório foi dividido. Isso deixou, com exceção
bem-sucedida. de pequenos fragmentos, quatro reinos inde-
Quatro cabeças. Obviamente, equiva - pendentes (ver p. 909, mapa C) no luga r do
lem aos quatro chifres do bode, que represen- imenso império que Alexandre tinha con-
tava os quatro reinos (mais tarde reduzidos a quistado, mas não fora capaz de consolidar.
três) que ocuparam o território conquistado Ptolomeu tinha o Egito, a Palestina e parte
por Alexandre (ver com. de Dn 8:8, 20-22). da Síria; Cassandro tinha Macedônia, com
No entanto, por alguns anos, os generais soberania nominal sobre a Grécia; Lisímaco
macedônios de Alexandre tentaram preser- ficou com a Trácia e grande parte da Ásia
var, em teoria se não na prática, a unidade do Menor; e Seleuco ficou com a maior parte
vasto império. Alexandre morreu sem plane- do que fora o império persa: parte da Ásia
jar a sucessão de seu trono. Primeiramente, Menor, norte da Síria, Mesopotâmia e regiões
seu meio-irmão Felipe, deficiente mental, e ao oriente. Demétrio, redu zido ao controle de
depois seu filho póstumo Alexandre foram uma frota e de algumas cidades costeiras,
os governantes titulares sob a regência de um não tinh a reino. No entanto, mais tarde , ele
ou outro dos generais; então, o império foi deslocou os herdeiros de Cassandro e fun-
dividido num grande número de províncias, dou a dinastia dos Antígonas, na Macedônia.
as mais importantes das quais eram contro- Cerca de 20 anos depois da divisão, os
ladas por cerca de seis generais que atuavam quatro reinos foram reduzidos a três, pois
como sátrapas (ver p. 908, mapa A). Lisímaco foi eliminado (ver p. 909, mapa D).
Mas a autoridade central, isto é, a regên- Grande parte de seu território foi tomado
cia dos dois reis marionetes, nunca foi forte o pelo império selêucida, mas parte foi inva-
suficiente para unir o vasto império. Depois dida pelos gau leses , ou se desintegrou em
de 12 anos de lutas internas, durante os pequenos estados independentes, sendo
quais o controle de diversas partes do ter- Pérgamo o mais importante deles. Contudo,
ritório mudou repetidamente, ambos os reis a Macedônia, o Egito e o império selêucida
foram mortos. Então, Antígono surgiu como (às vezes, conhecido como Síria, pois a parte
o último dos pretendentes ao poder central oriental logo se perdeu) con tinuara m como
sobre todo o império. Ele encontrou oposição as três principais divisões do antigo império

905
7: 7 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

de Alexandre , até serem anexados, um a um , retratado pelas pernas de ferro da grande


pelo império romano. estátua (ver com. de Dn 2:40).
Muitos historiadore s, principalme nte A história mostra cl aramente que o poder
autores de livros escolares, que precisa m mundial que sucede u o terceiro impéri o
e li minar detalhes para dar um a visão glo- dessa profeci a é Rom a. No entanto, a tra n-
bal, passam por alto a divisão em qu atro siç ão foi gradual, de modo qu e é impossível
e só men cionam a posterior e permane nte apontar para um evento específico que indi -
divisão em três reinos principais que man- que o momento da mud ança. Como foi vi sto,
tiveram su a identidade até a época do impé- o império de Alexandre foi dividido depois de
rio romano. 301 em qu atro (depois três) re inos hele nísti-
Algun s tentam encontra r a continu ação cos (ver co m. de Dn 8:8), e sua substitui ção
dos quatro reinos até o período romano, con- pelo império romano foi um proce sso gra-
~ .,. tando Pérgamo como sucessor do breve reino dual de várias etapas importantes. Esc ritores
de Lisímaco. M as , quando se fala de três divergem qu anto à data qu e indica a h ege~
reinos principais e do reino bem menor de mania do império romano.
Pérgamo, ou de três reinos mais um grupo de Por volta de 200 a.C. , quando Ca rtago
estados menores, é notável qu e, no momento já não era mais um a rival (embora fosse des-
crítico, quando fracassou a última esperança truíd a apenas meio séc ul o depois), Rom a
de unificar o império de Alexandre, e a divi- domin ava o Mediterrâ neo ocidenta l e tinh a
são foi inevitável, todo o território, com exce- começado a se relacion a r com o Oriente,
ção de fragmentos menores, se dividiu em onde se torn ari a domina nte também. Em 197
qu atro reinos (ver p. 90 9, mapa C), conforme a.C. , Roma derrotou a Macedôni a e colocou
especificado pela profecia (Dn 8: 22). os estados gregos sob sua proteção. Em 190,
O império de Alexandre, mesmo em su a Rom a derrotou Antíoco JII e tomou o territó-
fase dividid a, ainda era um a continu ação rio sel êucid a pelo leste até os montes Tauros .
e rea lização do idea l de seu fundador: um Em 168, na batalha de Pidna, Rom a aca bou
mundo greco -macedônico-asiático de povos com a monarquia na Macedôni a, dividindo-a
di versos unidos pelo idiom a, pensamento e e m quatro confederações; e, provavelm ente
pela civil ização dos gregos. Exceto pel a cen- no mesmo ano, advertiu Antíoco IV a abando-
tralização política , o mundo helenístico cons- nar a ideia de atacar o Egito. Em 146, Roma
tituía um a unidade como fora sob o domíni o anexou a Macedôni a como província e pôs a
de Alexa ndre, e e m certos as pec tos mais do maiori a das cidades gregas sob o gove rn ador
que fora antes. Es se império foi re presen- da M acedônia.
tado adequada me nte por um único animal Se a dom in ação roma na do Orie nte for
com vá rias ca beças (ou em Dn 8, com vários contad a desde a data em qu e os monarcas
chifres; sobre o helenism o e o surgimento de dos três reinos helenísti cos foram elimin ados
Roma, ver artigo sobre o período intertesta- pelo poder roma no, o ano 168 pode ser con-
me ntário no vo l. 5). siderado como o primeiro passo no processo.
7. O quarto animal. C o mparar com Porém, os reis selêucid as e ptoloma icos per-
o v. 19. Talvez não houve sse n a natureza maneceram em seus tronos até muito depois,
nenhuma se melhança pela qu al se pud esse até o ano 63 , na Síria, e 30, no Egito. Se as
designar essa entidade horrend a, pois não datas da a nexação desses três re inos co mo
se fa z nenhum a comparação co mo ocorre províncias rom anas forem escolhidas, essas
co m os três primeiros anim a is. Porém, não datas seri a m 146, 64 e 30 a.C. , respecti va-
há dúvida de que representa o mesmo poder mente. Alguns histori adores enfati zam 168

906
DANIE L 7:8

porque, por volta desse ano, Roma tinha con- reinos fundados no território do império.
quistado a Macedônia e salvado o Egito de A seguinte é um a delas: ostrogodos, visigo-
ca ir nas mãos do reino selêucida , ao proibir dos , francos, vândalos, suevos, alam an os,
a invasão de Antíoco IV. Isso demonstra que anglo- saxões, hérulos, lombardos e bur-
Roma, na prática, já controlava os três reinos, gúndios. Alguns preferem alistar os hunos
embora tivesse conquistado apenas um deles. no lugar dos a lamanos . Contudo, os hunos
Não se pode dar um a data única para desapareceram cedo sem deixar um reino
um processo gradual. A despeito da esco- estabelecido. O período foi de grandes trans-
lha da data ou das datas mais importantes, tornos, confusão e mudança , durante o qual
a mudança do poder para Roma é clara, e a um grande número de es tados assegurou a
absorção do território de Alexandre desde a independência.
Macedô nia até o Eufrates se completou em 8. Outro pequeno. Literalmente, "outro
30 a.C. (ver artigo sobre o período intertes- chifre , um pequeno". Embora pequeno no
tamentário no vol. 5). início, este chifre é descrito, mais ta rde,
Grandes dentes de ferro. Estes enor- como "mais robusto do que os seus com pa -
m es dentes metálicos retratam crueldade nh eiros", literalmente, "maior que seus com-
e força. Assim como o animal devorava e pa nheiros". Ele simboliza a continuação do
fazia em pedaços sua presa com esses den- poder romano por meio da igreja roman a.
tes grotescos, também Roma devorou nações "Das ruínas da Roma política, surgiu o
e povos em suas conquistas. Algumas vezes, grande império moral na 'form a gigante' da
cidades inteiras foram destruídas, como no igreja romana" (A. C. Flick, The Rise of the
caso de Corinto, em 146 a.C. , outras vezes Medieval Church [1900], p. 150; ver també m
~ .. reinos, como a Macedônia e os domínios o com. dos v. 24, 25).
selêucidas, qu e foram divididos e converti- "Sob o império romano, os papas não
dos em províncias . tinh am poderes seculares. Mas, quando o
Pisava aos pés o que sobejava. Quan- império roma no se desintegrou e seu lugar
do não destruía ou subjugava um povo, Rom a foi ocupado por vários reinos bárba ros, a
o empregava como escravo ou o vendi a como igreja católica roma na não só se tornou inde -
tal. Na intensidade de seu poder destruidor, pendente desses estados em assuntos reli-
Roma superou os reinos qu e antes governa- giosos, mas também dominou as questões
ram o mundo. seculares . Algumas vezes, sob governadores
Dez chifres. Explicado como "dez reis" como Carlos Magno (768-8 14 d.C .), Otto,
(v. 24). Se os "quatro reis" do v. 17 represen- o Grande (936 -9 73) e H enr iqu e III (1039-
tam reinos (ver com. do v. 3) parale los aos 1056), o poder civil controlou a igreja até
quatro impérios do cap. 2, então há razão certo ponto. Mas, em geral, sob o fraco sis-
para entender esses "dez reis" também como tema pol ítico do feudalismo, a igreja be m
re inos, assim como os quatro chi fres do bode organizada, unificada e centralizada , tendo
são "quatro reinos" (Dn 8:22). As sucessi- o papa como o cabeça, não era apenas inde-
vas invasões do império romano por parte pendente em questões eclesiástic as, mas
de várias tribos germânicas e a substitui ção também controlava qu estões c ivis" (Carl
dele por vários estados separados ou mon a r- Conrad Eckhardt , The Papacy and \A/orld-
quias são fatos bem comprovados pela hi s- Affairs [193 7], p. 1).
tóri a. Devido ao fato de que pe lo menos 20 Diante. Do aram a ico qodham, palav ra
tribos bárbaras invadi ram o império romano, que aparece com freguência em Da niel , sig-
comentaristas compilaram várias listas de nificando "antes", no que se refere a tempo,

907
DO IMP É HIO DE
ALEXAN DHE
APÓS SUA MOHTE
(323 a.C.)

Imedi atamente após a morte de Alexandre, em como na época de Alexandre. Logo irrompeu
323 a.C. , seus generais repartiram entre si as entre os líderes uma luta pela supremacia, na qual
províncias do império. Eles as governaram Pérdicas e outros foram eliminados, enquanto
nominalmente sob a autoridade da regência dos vários generais usavam manobras para alcançar o
dois reis-fantoches , o meio irmão de Alexandre , poder. Em 32 I a.C . os exércitos se encontraram
Felipe, deficiente mental , e o bebê Alexandre , para a última distribuição formal. Surgiram novos
nascido após a morte do pai . Antípater estava no nomes, como Seleuco, para sátrapa de Babilônia.
comando na Europa; na Ásia, Pérdicas tin ha O novo regente, Antípater, permaneceu apenas
control e dos reis. Outros líderes comandavam as dois anos, e a luta pelo domínio continuou por
principais províncias. As do oriente permaneceram muito tem po entre os principais generais.

MAR GRANDE
( ;',<! A R !.! f D i rf /'I íl ,j N i- 0 I

PHI NC IPAIS TEHHITÓHIOS


DO II'viPÉRIO DEALEXANDHE
(31 I a C)

A trégua de 311 a.C . pôs fim a um a guerra de Cassandro (filho de Antípater), Lisímaco e
impasse, da qua l Antígono eme rgiu como o Ptolom e u, com os quai s Sele uco buscou
mai s Forte dos cin co líderes principais, embora refúgio, mas envolve u outros líde res de men os
suas te ntativas de controlar todo o império importância. Houve vários conflitos na Grécia,
te nh am sido obstruídas pe los outros quatro. nas ilhas e em toda parte, e as fronteiras se
A gue rra começo u logo após o assassinato de alteravam repetida me nte. Sele uco retomou
Fe lipe (3 I 7). Antígono expul sou Sel euco de Babil ôni a (3 12) e, e m seguida, consolidou as
Babilônia (3 16) e reivindi co u autoridade de provín c ias orie nta is. Não muito depois da
rege nte sobre os outros sátrapas. A lu ta trégua, o segundo herdeiro de Alexandre foi
principal foi e ntre Antígono e a coalizão de morto , e a luta pe lo poder continuou . 1~
Território estendido

!MAR :'.'!DI TI RRÀN~O) '


'
'
'

O IMPÉRIO DE ALEXANDRE
DIVIDIDO EM QUATRO REINOS
(301 a.C. )

Em 30 1 a.C. estabeleceu-se a questão da unificação seu território, dividido por Lisímaco e Seleuco.
ou divisão do império de Alexandre. A fase final do Demétrio ficou sem reino, com apenas uma frota,
longo conflito começou quando Antígono se algumas cidades costei ras e um ponto de apoio na
declarou rei de todo o império em 306 a.C. Uunto Grécia. Desse momento em diante, não havia
com seu filho Demétrio). Então, os quatro aliados, esperança de um império unificado. Portanto,
Cassandro, Lisímaco, Seleuco e Ptolomeu assumiram surgiram quatro reinos principais (mais fragmentos
o título real nos seus respectivos territórios. menores). Essa repartição decis iva do império de
A questão de um reino ou quatro foi decidida na Alexandre não foi permanente. Mais tarde, um dos
batalha de Isso, em 30 I a.C. Antígono foi morto, e quatro reinos foi eliminado.

---·-

Território estendido
em direção ao leste,
próximo ao rio Indo
MAR GRANDE
( ~IAH ~:EO; T EH~ANEO•

OS TRÊS PRINCIPAI S REINOS


DO IMP ÉR IO DE ALEXANDRE
(280 a.C.)

Depois de Seleuco ter derrotado e matado Lisíma- reis selêucidas, embora quase imediatamente
co, em 28 1 a.C., três grandes reinos helen ísticos após a morte de Lisímaco os gau leses invasores
dominaram os antigos territórios do império grego: tomaram parte dela, e outros fragmentos desapa-
Macedônia , o império se lêucida (S íria) e o Egito. receram (o território de Lisímaco finalmente se
A Macedônia, anteriormente assu mida por Lisíma- tornou um agrupamento de pequenos estados,
co, não ficou com Seleuco, qu e morreu em 280, incluindo Pérgamo). Mais tarde, os selêucidas
antes de assumi-la. Em seguida , ela ficou com perderam tudo, exceto a Síria. Antes do te mpo
Antfgono, filho de Demétrio, e daí em diante de Cristo, os três reinos he lenísticos -
passou à dinastia dos antígonas. Por algun s anos, Macedônia, Síria e Egito- tornaram-se provín-
grandes áreas da Ásia Menor foram governadas pelos cias roman as. -4 ~
7:8 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

ou "na presença de". A frase " diante do qual " que governava a metade oriental do império
pode ser interpretada como "dar lugar a ele". romano em Constantinopla, enviou Belisário,
Três dos primeiros chifres. O "chi- o mais hábil de seus generais. Belisário ven-
fre pequeno" é um símbolo da Roma papal. ceu por completo os vândalos em 534.
Portanto, arrancar os três chifres simboli za Essa vitória fez dos ostrogodos o único
a destruição de três das nações bárbaras. poder ariano sobrevivente na Itália qu e
Entre os principais obstáculos para o surgi- pudesse perturbar a hegemonia do papado no
mento da Roma papal, como poder político, Ocidente (ver Hodgkin, op. cit., vol. 3, cap.
estavam os héru los, os vândalos e os ostrogo- 15). Depois de ter elimin ado os vândalos, em
dos. Os três apoiavam o arianismo, que foi o 534 d.C. , Belisário começou sua campanha
maior rival do catolicismo na época . contra os ostrogodos na Itália. Embora essa
Os hérulos foram a primeira das tri- campanha tenha durado 20 anos até os exér-
bos bárbaras a governar Roma. Eles consti- citos imperiais obterem a vitória completa
tuíam tropas auxi liares alemãs de Roma que (ver H odgkin, op. cit., vol. 5, p. 3-66), a ação
se revoltaram e, em 476 d.C., depuseram o decisiva ocorreu no início dela. Os os tro-
jovem Rômulo Augusto, último imperador do godos , que foram expulsos de Roma, volta-
Ocidente. À frente dos hérulos e de outras ram e a sitiaram em 537. O cerco durou um
tribos mercenárias estava Odoacro que se ano; mas, em 538, Justiniano enviou outro
declarou rei de Roma. Odovacar, um ariano, exército à Itália e, em março, os ostrogodos
embora tolerante para com os católicos, era abandonara m o cerco (ver Hodgkin , op. cit.,
odiado pelos italianos. Por sugestão do impe- vol. 4, p. 73-113, 210-252; C harles Diehl,
rador Zeno, do Oriente, Teodorico, líder dos "Justinian", em Cmnbridge Medieval History,
ostrogodos, foi o seguinte a invadir a Itália. vol. 2, p. 15). É verdade que eles voltaram a
Ele chegou ali em 489, e em 493 assegurou entrar na cidade em 540, mas sua ocupação
a rendição de Odovacar para, logo depois, o foi breve. A retirada de Roma, em 538, mar-
matar (ver T homas Hodgkin , Italy and Her cou o verdadeiro fim do poder ostrogodo,
Invaders, vol. 3, p. 180-213). em bora não da nação dos ostrogodos. Assim,
No que se refere à igreja romana, a che- foi "arrancado" o último dos três chifres que
gada de Teodorico não teve nenhuma altera- ficavam no caminho do "chi fre pequeno".
ção para melhor, só uma mudança de líderes. Ju stiniano foi notável n ão apenas pelo
Teodorico era ariano tanto quanto seu pre- êxito em reunir temporariamente a Itália e
decessor no trono da Itália. Embora ele fosse algum as regiões do Ocidente com a metade
tolerante para com as diferentes religiões de oriental do que tinha sido o império ro mano,
~ ~~- seu rei no, as ambições desmedidas do pon- mas também pela organização das leis exis-
tífice romano não podiam se concreti zar sob tentes no império, incluindo novos ed itos do
um sistema que conferia apenas tolerância. próprio Justiniano, num código uni ficado.
Enquanto isso, os vândalos, liderados por Incorporadas a esse código imperia l esta-
Genserico, tinh am se estabe lecido no norte vam duas cartas oficiais de Ju stiniano, que
da África, e tomado Cartago, em 439 d.C. tinham toda força de edito real, nas quais
Como eram arianos fanáticos e guerreiros, ele legalmente confirmava o bispo de Roma
constituíam uma ameaça à supremacia da como "cabeça de todas as igrejas santas" e
igreja católica no Ocidente. Eles eram into- "cabeça de todos os sacerdotes santos de
lerantes para com os católicos, os quais cha- Deus" (Código de Justiniano, livro 1, título
mavam de hereges. Para auxiliar a causa dos 1). Na última carta, ele também ap rovou as
católicos no Ocidente, o imperador Ju stiniano, atividades do papa como punidor de hereges.

9 10
DAN IEL 7:9

Embora esse reconhecimento legal da Alguns consideram signifi ca tivo que


supremacia eclesiástica do papa tenha ocor- Virgílio, o papa que ocupava o ca rgo e m
rido em 533 d.C ., é óbvio que o edito impe- 538 , tivesse substituído, no ano anterior,
rial não podia se efetivar enquan to o reino um papa que tinha es tado sob influê n-
aria no dos ostrogodos estivesse no controle cia gótica. O novo papa devia seu cargo à
de Roma e da maior parte da Itália. Só depois imperatriz Teodora, e foi consid e rado por
que o domínio dos ostrogodos fosse quebran- Justiniano como o meio para unir toda s as
tado é que o papado estaria livre pa ra exercer igrejas, no Oriente e no Ocidente, sob seu
o seu poder. Em 538, pela primeira vez desde próprio domínio imperial. Ressalta-se qu e, a
o fim da linhagem imperial do Ocidente, partir de Virgílio, os papas foram se tornando
a cidade de Rom a ficou livre da dominação mais e mais estadistas do que ecles iásticos
do reino ariano. Naquele ano, o reino ostro- e, com frequência, chegaram a ser governan-
godo foi ferido de morte (embora os ostrogo- tes de estados (Charles Bemont e G. Monod,
dos tenham sobrevivido mais alguns anos Medieval Europe, p. 121).
como povo). É por isso que 538 é uma data Neste chifre. Visto que os dez ch ifres
mais importante que 533. representam o império romano dividido após
Resumindo: (I) Antes de 533 d.C., o papa sua queda (ver com. do v. 7), o chifre pequeno
já tinha sido reconhecido de forma ampla, deve representar algum poder que viri a a
embora não universal, como bispo supre mo existir entre eles e substituir alguns desses
das igrejas do Ocidente, e tinha exerc ido reinos (ver citação no com. de Dn 8:23).
influência política considerável, de tempos Olhos. Em geral, símbolo de inteligê n-
em tempos, sob o patrocínio dos imperadores cia. Em contraste com os bárbaros, que era m
ocidentais. (2) Em 533, Justiniano reconh e- em grande pa rte iletrados, o poder represe n-
ceu a supremacia eclesiástica do papa como tado pelo "chifre pequeno" era notável por
"cabeça de todas as igrejas santas" tanto no sua inteligência, perspicácia e prev isão.
Oriente como no Ocidente, e esse reconhe- Que falava com insolência. Ver com .
cimento legal foi incorporado ao código de do v. 25.
leis imperiais, em 534. (3) Em 538, o papado 9. Foram postos. Do aramaico remah,
ficou efetivamente livre do domínio dos rei- palavra que significa "colocar" ou "estabele-
nos arianos que sucederam os imperadores cer", embora também possa significar "lan-
ocidentais no controle de Roma e da Itália. çar" (Dn 3:20; 6:1 6, 24). A LXX traz tithemi ,
Daí em diante, o papado pôde ampliar seu que é definido como "estabelecer", "colocar"
poder eclesiástico. Os outros reinos se tor- ou "erigir". A tradução "foram postos" parece
naram católicos, um a um ; e, visto que os se basear numa interpretação que conside-
di stantes imperadores do Oriente não reti- rou os tronos como pertencentes aos anim ais.
veram o controle da Itália, o papa se proje- Aqui se mostra uma representação simbólica
tava, com frequência , como figura principal do grande juízo final, que determin a o des-
no Ocidente nos turbulentos acontecimentos tino de hom ens e nações.
qu e se seguiram. O papado adquiriu governo O Ancião de Dias. A expressão é des-
territorial e, finalmen te , alca nçou o apogeu criti va, não um título. O original aramaico
do domínio político, bem como religioso não tem o artigo definido, que é acrescen-
na Europa (ver Nota Adiciona l a Daniel 7). tado aqui e usado nos v. 13 e 22 como um
Embora esse domínio tenha se dado bem artigo de referência, isto é, com a funç ão de
depois, pôd e-se encontrar o ponto decisivo se referir ao Ser descrito a ntes. Deus, o Pai,
~ .,. no período de Justiniano. é representado.

9 11
7:10 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

Sua veste. Deve-se ter cautela ao inter- a fim de que Deus possa ser vindicado ao
pretar as visões simbólicas. "Ninguém jamais aceitar alguns e rejeitar outros. Satanás rei-
viu a Deus" (Jo 1:18). Daniel viu apenas uma vindica todos os seres humanos como seus
representação da Divindade. Não se pode súditos. Aqueles pelos quais Jesus intercede
saber até que ponto a representação reflete a em juízo, Satanás acusa diante de Deus; mas
realidade. Na visão, a Divindade é represen- Jesus alega a fé e o arrependimento deles.
tada de várias formas, e a forma que assume Como resultado do juízo, se obterá um regis-
em geral tem a ver com o objetivo didático tro daqueles que serão cidadãos do futuro
da visão. Numa visão do segundo advento, reino de Cristo. Esse registro inclui nomes
João viu Jesus sentado num cavalo branco, de homens e mulheres de toda nação, tribo,
com vestes tingidas de sangue e com uma língua e povo. João fala dos remidos na nova · ~
espada que saía de Sua boca (Ap 19: 11-15). Terra como "as nações" dos salvos (Ap 21:24 ).
Obviamente, não se espera ver o Salvador E se abriram os livros. Comparar com
vestido assim, armado e montado a cavalo, Ap 20:12. Os seguintes registros são conside-
quando voltar. No entanto, cada um desses rados: (l) o livro da vida, no qual está regis-
elementos tem valor ilustrativo (ver com. de trado o nome daqueles que aceitaram servir
Ap 19:11-15). Na visão de Daniel, pode-se a Deus; (2) o livro da memória, um registro
ver na veste branca um símbolo de pureza e das boas obras dos santos; e (3) um memorial
no cabelo branco um sinal de antiguidade, dos pecados (cf. GC, 480, 481). Ao comentar
mas ir além do simbolismo e especular sobre uma visão da fase executiva do juízo, no final
a aparência dAquele que habita "em luz ina- dos mil anos, Ellen G . White faz a seguinte
cessível, a quem homem algum jamais viu" classificação: (1) o livro da vida, que registra
(1Tm 6: 16) é entrar no campo da especulação as boas obras dos santos; (2) o livro da morte,
(ver T8, 279). Não se pode negar que Deus com o registro das más obras dos impeniten-
é um Ser pessoal. "Deus é espírito; não obs- tes, (3) o livro dos estatutos, a Bíblia, segundo
tante é um Ser pessoal, pois o homem foi cujas normas todos são julgados (PE, 52).
criado à Sua imagem" (T8, 263). "Ninguém 11. Estive olhando. Na visão profé-
deve alimentar a especulação a respeito da tica, Daniel viu que um evento seguia rapi-
natureza divina. Nesse assunto, o silêncio é damente a outro. Nota-se a repetição das
eloquência" (T8, 279; sobre a interpretação frases "estive olhando" e "vi" em toda a nar-
de visões simbólicas, ver com. de Ez 1:10). rativa das visões. Estas frases introduzem a
10. Milhares de milhares. Estes repre- transição de uma cena à seguinte.
sentam os anjos celestiais que ministram Insolentes palavras. Ver com. do v. 25.
diante do Senhor e cumprem sempre Sua Foi morto. Isto representa o fim do sis-
vontade. Os anjos desempenham uma parte tema ou da organização, simbolizado pelo
importante no juízo. Eles são tanto ministros chifre. Paulo apresenta o mesmo poder com
quanto testemunhas (GC, 479). o título "homem da iniquidade", "filho da
Assentou-se. Ou, "começou a se assen- perdição", "o iníquo", e fala de sua destrui-
tar". Daniel viu o juízo final em suas duas ção na segunda vinda de Cristo (2Ts 2:3-8;
fases, investigativa e executiva. cf. Ap 19:19-21).
No juízo investigativo, serão avaliados os 12. Foi-lhes tirado o domínio. O ter-
registros de todos que alguma vez professaram ritório de Babilônia foi dominado pela Pérsia,
lealdade a Cristo. A investigação não é condu- mas os súditos de Babilônia não foram ani-
zida com fins de informar a Deus ou a Cristo, quilados. Da mesma forma, quando a
mas para a informação de todo o universo, Macedônia conquistou a Pérsia e quando

912
DANIEL 7:25

fosse Deus na Terra, único soberano dos e outros. As autoridades civis, portanto, eram
fiéis de Cristo, chefe de reis , com plenitude obrigadas pelos papas, sob pena de excomu-
de poder, a quem foi conferida pelo Deus nhão, a executar as sentenças legais que con-
onipotente a direção não só do reino ter- denavam hereges impenitentes à fogueira"
reno, mas também do celestial. [... ] O Papa (José Bléitzer, art. "Inquisition", vol. 8, p. 34).
tem taman ha autoridade e tanto poder que Cuidará. Do aramaico sebar, "esforçar-
pode modificar, explicar ou interpretar até se", "tentar" (NVI). Indica-se tentativa deli-
as leis divinas. [... ] O Papa pode mudar a lei berada (ver GC, 446).
divina, visto que seu poder não é de homem , Tempos. Do aramaico zimnin (singu lar,
mas de Deus, e ele atua como vice-regente zeman), um termo que denota tempo fixo,
de Deus na Terra com amplo poder de atar como em Daniel 3:7, 8; 4:36; 6:10 e 13 , ou
e soltar suas ovelhas. [...] Qualquer coisa um período de tempo, como em 2:16; e 7:12.
que se diga que faz o próprio Senhor Deus, Em Dani el2:21 , há uma sugestão quanto ao
e o Redentor, isso faz Seu vicário, contanto significado da expressão "mudar os tempos",
que não faça n ada contrário à fé" (tradu- e m que se usam juntas outra vez as mes-
zido de Lucius Ferraris, "Papa li", Prompta mas palavras aramaicas para "mudança" e
Bibliotheca, vo!. 6, p . 25-29). "tempos". Porém, Daniel ali atribui a Deus
Magoará. Este fato é descrito anterior- a prerrogativa de "m udar tempos". Só Deus
mente nas palavras: "este chifre fazia guerra tem o destino das nações sob Seu controle.
contra os santos e prevalecia contra eles" É E le que "remove reis e estabelece reis"
(v. 21). A frase retrata perseguição contínua (Dn 2:21). "Em cima, e em toda a m ar-
e implacável. O papado reconhece que per- cha e contramarcha dos interesses, pode-
seguiu e defende esse fato como um exercí- rio e paixões humanas, [está] a força de um
cio legítimo de poder supostamente dado a Ser todo misericordioso, a executar, silen-
ele por Cristo. A Catholic Encyclopedia diz: ciosamente, pacientemente, os conselhos
"Na bula 'Ad exstirpanda' (1252), Inocêncio de Sua própria vontade" (Ed, 173). É Deus
IV diz: 'quando aqueles condenados como que também determina o "tempo" (ara maico
culpados de heresia forem entregues ao zeman) quando os santos possuirão o reino
poder civil pelo bispo ou seu represen- (Dn 7:22). O esforço do chifre pequeno para
tante , ou a Inqui sição, o magistrado-chefe mudar os "tempos" indicaria uma tentativa
da cidade deve levá-los imediatamente e, deliberada de exercer a prerrogativa de Deus
dentro de cinco dias no máximo, executar de dirigir o curso da história human a . .. ~
as leis contra eles.' [... ] Não pode restar Lei. Do aramaico dath, termo empregado
nenhuma dúvida quanto a quais regula- para se referir tanto à lei hum ana (Dn 2:9,
mentos civis se indicam, pois as passagens 13, 15; 6:8, 12, 15) quanto à divina (Ed 7:12,
que ordenam queimar os hereges impen iten- 14, 21 , 25 , 26). Neste caso, é evidente que
tes foram inseridas nos decretos papais das se refere à lei divina, visto que a lei huma na
constituições imperiais 'Com missis nobis' é mudada segundo a vontade das autorida-
e 'Inconsutibilem tunicam'. A bula men- des , e tais mudanças dificilmente seriam o
cionada 'Ad exstirpanda' permaneceu dali tema da profecia. Ao indagar sobre como o
em diante como documento fundamental papado se esforçou para mudar a lei divina,
da Inquisição, renovada ou reforçada por encontramos a resposta na grande apostasia
vários papas, como Alexandre IV (1254- dos primeiros séculos da era cristã que intro-
1261), Clemente IV (1265-1268), Nicolau duziu inúmeras doutrinas e práticas contrá-
IV (1288-1292), Bonifácio VIII (1294-1303) rias à vontade de Deus, conforme revelada

915
7:25 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

nas Escrituras Sagradas. A mudança mais haver nenhuma referência histórica à obser-
audaciosa tem que ver com o dia semanal vância cristã do domingo como dia sagrado
de adoração. A igreja romana admite aber- antes da revolta judaica, apontam o período
tamente a responsabilidade de introduzir a de 135 a 150 d.C. como o tempo quando os
adoração no domingo, afirmando que tem cristãos começaram a atribuir a santidade do
o direito de fazer tais mudanças (ver CC, sábado ao primeiro dia da semana.
446). Um catecismo autorizado para sacer- Porém, a observância do domingo não
dotes diz: "Mas a Igreja de Deus [isto é, a substituiu de imediato a do sábado, mas a
igreja romana] em sua sabedoria ordenou acompanhou e a complementou . Por vários
que a celebração do sábado deve ser trans- séculos , os cristãos observaram ambos os
ferida para o 'dia do Senhor"' (Catechism of dias. No começo do 3o século, por exemplo,
the Council of Ti·ent, tradução de Donovan, Tertuliano observou que Cristo não invali-
1829 ed., p. 358). Esse catecismo foi escrito dou o sábado. Pouco depois, no livro apócrifo
por ordem do Concílio de Trento e publicado Epístola dos Apóstolos (ii. 36), advertiam-se
sob o pontificado de Pio V. os cristãos a "observarem o sábado e a festa
Na época do NT, os cristãos observavam do dia do Senhor".
o sábado, o sétimo dia da semana (ver com. No início do 4o século, o domingo tinha
de At 17:2). A transição do sábado para o alcançado uma clara preferência oficial sobre
domingo foi um processo gradual que come- o sábado. Em seu Commentary on Psalm 92,
çou antes de 150 d.C. e continuou por cerca Eusébio, principal historiador da igreja desse
de três séculos . As primeiras referências his- período, escreveu: "tudo o que era dever
tóricas à observância do domingo por cristãos fazer no sábado foi transferido para o dia do
professas ocorrem na Epístola de Barnabé Senhor, como mais propriamente perten-
(cap. 15) e na obra de Justino Mártir (First cente a ele, porque esse dia tem primazia e
Apology, cap. 67), que datam de cerca de é mais honroso que o sábado judaico."
150 d.C. Ambas condenam a observân- A primeira ação oficial da Igreja Católica
cia do sábado e instam a que se observe o que expressa preferência pelo domingo
domingo. As primeiras referências autênticas foi tomada no Concílio de Laodiceia, no
ao domingo como o "dia do Senhor" vêm do 4° século. O cânon 29 desse concílio esti-
livro apócrifo Evangelho Segundo Pedro e de pula que os "cristãos não devem judaizar e
Clemente de Alexandria (Miscelânias, v. 14) ficar sem trabalhar no sábado; mas devem
do fim do 2° século. honrar o dia do Senhor [domingo] de forma
Antes da revolta judaica, sob a liderança especial e, sendo cristãos, devem, se possí-
de Bar Kokhba, 132-135 d.C., o império vel, não fazer nenhuma obra nesse dia ; con-
romano reconhecia o judaísmo como uma tudo, se forem encontrados judaizando, serão
religião legal, e o cristianismo, como uma excluídos de Cristo". Esse concílio dispôs
seita judaica. Mas, como resultado dessa que houvesse culto no dia de sábado, mas
revolta, os judeus e o judaísmo foram desa- designou que esse dia fosse um dia de tra-
creditados. Para evitar a perseguição que se balho. É digno de nota que esta, a primeira
seguiu a partir de então, os cristãos buscaram lei eclesiástica que ordena a observância do
por todos os meios possíveis deixar claro que domingo, especifique o "judaizar" como a
não eram judeus. Repetidas referências de razão de se evitar a observância do sábado.
escritores cristãos dos três séculos seguintes Além disso, a rígida proibição da observância
à observância do sábado como uma prática do sábado é evidência de que muitos ainda
"judaizante", juntamente com o fato de não estavam "judaizando" nesse dia. De fato,

916
DANIEL 7:25

escritores do 4° e 5° séculos repetidamente Daniel 4:16, 23, 25 e 32, em que a palavra ,


advertem seus companheiros cristãos contra sem dúvida, significa "um ano" (ver com. de
essa prática. Por exemplo, por volta do ano Dn 4:16). A palavra traduzida como "tem-
~ .,. 400, Crisóstomo observou que muitos ainda pos", também de 'iddan, era apontada pelos
observavam o sábado da forma judaica, e, massoretas como plural, mas eruditos con-
portanto, "judaizavam". cordam que deveria ser apontada como dual,
Registros da época também revelam que indicando assim "dois tempos". A palavra
as igrejas em Alexandria e Roma foram as mais traduzida como "metade", pelag, tam-
principais responsáveis por promover a obser- bém pode ser traduzida como "meio" (NVI).
vância do domingo. Por volta de 440 d.C., o Ao se comparar essa passagem com
historiador da igreja Sócrates escreveu que outras profecias paralelas que se referem
"embora quase todas as igrejas do mundo ao mesmo período, mas que o designam de
celebrem os mistérios sagrados no sábado, outra maneira, pode-se calcular o total de
toda semana, os cristãos de Alexandria e de tempo compreendido. Em Apocalipse 12:14,
Roma, devido a uma antiga tradição, para- o período é denominado como "um tempo,
ram de fazer isso" (Ecclesiastical History, tempos e metade de um tempo". Um pouco
v. 22). Por volta da mesma época, Sozomeno antes, faz-se menção ao mesmo período com
escreveu que "o povo de Constantinopla, e a designação "mil duzentos e sessenta dias"
de quase todo lugar, se reúne aos sábados, (Ap 12:6). Em Apocalipse 11:2 e 3, a expres-
bem como no primeiro dia da semana, cos- são "mil duzentos e sessenta dias" corres-
tume que nunca se observa em Roma ou ponde a "quarenta e dois meses". Assim, fica
Alexandria". claro que um período de três tempos e meio
Três fatos estão claros: (1) O conceito equivale a 42 meses, que, por sua vez, equi-
da santidade do domingo entre os cristãos valem a 1. 260 dias, e que um "tempo" repre-
se originou, basicamente, na tentativa de se senta 12 meses ou 360 dias, período que
evitar práticas que tenderiam a identificá- corresponde a um ano profético. Contudo,
los com os judeus e, assim , atrair persegui- um ano profético de 360 dias, ou 12 meses
ção. (2) A igreja em Roma logo desenvolveu de 30 dias, não deve ser confundido com um
uma preferência pelo domingo; e a impor- ano judaico, que era um ano lunar de exten-
tância cada vez maior dada ao domingo na são variável (com meses de 29 dias e de 30
igreja primitiva, em detrimento do sábado, dias) nem com o ca lendário solar de 365 dias
seguiu muito de perto o crescimento gra- (ver vol. 2, p. 96, 97). Um ano profético sig-
dual do poder de Roma. (3) Finalmente, a nifica 360 dias proféticos, mas um dia pro-
influência romana prevaleceu para fazer da fético representa um ano solar.
observância do domingo uma lei da igreja, Essa distinção deve ser explicada da
como fez com muitas outras práticas, como seguinte forma: um ano profético de 360
a adoração a Maria, a veneração de santos e dias não é literal, mas simbólico; portanto,
anjos, o uso de imagens e oração pelos mor- seus 360 dias são proféticos, não dias literais.
tos. A alegada santidade do domingo está Pelo princípio dia-ano, conforme ilustrado
sobre a mesma base dessas outras práticas em Números 14:34 e Ezequiel 4:6, um dia na
não bíblicas introduzidas na igreja pelo bispo profecia simbólica significa um ano literal.
de Roma. Assim, um ano profético, ou "tempo", repre-
Um tempo, dois tempos e metade de senta 360 anos literais e naturais. Da mesma
um tempo. O termo aramaico 'iddan , aqui forma, um período de 1.260 ou 2.300 dias
traduzido como "tempo", ocorre também em ou qualquer outro número de dias proféticos

917
7:26 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

significa a mesma quantidade de anos literais exército de Napoleão, na Itália, colocaram


e reais (isto é, anos solares completos mar- o papa à mercê do governo revolucionário
cados pelas estações, controladas pelo sol). fran cês , que então o advertiu de que a reli-
Embora o número de dias em cada ano lunar gião romana seria sempre 1mmiga irrecon -
variasse, o calendário judaico era corrigido ciliável da República; e acrescentou: "existe
pela adiç ão ocasional de um mês extra (ver um a coisa ai nda mais essencial para alc an-
vol. 2, p. 89), de modo que, para os escrito- çar o fim desejado, e essa é destruir, se pos-
res bíblicos, uma longa série de anos sempre sível, o centro da unidade da igreja roman a; e
era igual ao mesmo número de anos solares depende de vossa senhoria, que reúne em sua
naturais (sobre a aplicação histórica do prin- pessoa as qualidades mais distintas do ge ne-
cípio dia-ano, ver p. 26-64). ral e do hábil político, alcançar essa meta
A validade do princípio dia-ano tem sido se a considera factível " (ibid., p. 158). Em
demonstrada pelo cumprimento preciso de resposta a essas instruções, e por ordem de
várias profecias calculadas por meio desse Napoleão, o G eneral M . Berthier invadiu
método, principalmente os 1.260 dias e as Roma com um exército francês, proclamou
70 sem anas. Um período de três anos e meio que o governo político do papado chega ra ao
literais seria insuficiente para o cumpri- fim, e levou o papa prisioneiro para a França,
mento do requisito das profecias de 1.260 onde morreu no exílio.
~ IP dias com re speito ao papado. Mas, quando A derrota do papado, em 1798, marcou
pelo princípio dia-ano o período se estende o clímax de uma longa série d e eventos
a 1.260 anos, a profecia tem um cumpri- relacionada com seu declínio progressivo,
mento singular. e foi também a conclusão do p er íodo pro-
Em julho de 1790, trinta bispos católi- fético de 1.260 anos (ver Nota Adicional a
cos romanos compareceram diante dos líde- Dani el 7).
res do governo revolucionário da França para 26. Depois, se assentará o tribunal.
protestar pela legislação que tornava inde- Ver com. dos v. 9-11. O veredito será sen-
pendentes os clérigos franceses da jurisdi- tença de morte para o papado. Esse poder
ção do papa e os fazia responsáveis diretos continuará sua guerra contra os santos até o
perante o governo. Perguntaram se os líde- fim e, então, seu domínio será retirado para
res da revolução deixariam todas as religiões sempre, e será consumido.
livres "com exceção daquela que uma vez foi 27. Serão dados. Eis um vislumbre con-
suprema , que foi mantida pela piedade de solador do resultado final de toda a turbulên-
nossos pais e por todas as leis do Estado, e cia e perseguição pelas quai s terão passado
que tem sido por mil e duzentos anos a reli- os santos. Esta é uma bendita prom e ssa.
gião nacional?" (A. Aulard, Christianity and Cristo em breve voltará para busc a r Seus
the French Revolution, p. 70). santos e os levar para que desfrutem seu
O período profético do "chifre pequeno" reino eterno e sua recompensa.
começou em 538 d.C., quando os ostra- Todos os domínios. Na Terra restau-
gados abandonaram o cerco a Roma , e o rada, morada dos justos, não haverá discórdia
bispo de Roma , liberto do controle ariano, nem descontentamento. Todo o universo pul -
ficou livre para exercer as prerrogativas do sará em completa harm on ia. Todos os salvos
decreto de Justiniano, de 533, e a partir de obedecerão voluntariam ente a D eus e habi-
então aumentar a autoridade da "Santa Sé" tarão na Sua presença para sempre .
(ver com . do v. 8). Exatamente 1.260 anos 28. Meus pensamentos muito me
depois (1798), as vitórias espetaculares do perturbaram. Ou, "me assustaram".

918
DANIEL 7:28

Rosto. Do aramaico ziw, que de acordo sen tido de "aparência". A revelação da histó-
com alguns eruditos significa "semblante", e ria futura dos santos surpreendeu e entriste-
segundo outros, "brilho", provavelmente no ceu sobremaneira o profeta.

NOTAADICIONALA DANIEL 7

O desenvolvimento da grande apostasia que culminou com o papado foi um processo


gradual ao longo de séculos. O mesmo se deu com o declínio desse poder.
Com respeito ao futuro, Jesus advertiu Seus discípulos: "Vede que ninguém vos engane",
pois "levantar-se-ão muitos falsos profetas e enganarão a muitos", "operand o grandes sinais
e prodígios" para recomendar suas pretensões más, a fim de "enganar, se possível, os pró-
prios eleitos" (Mt 24:4, li , 24).
Paulo declarou que surgiria m "homens falando coisas pervertidas para arrastar os discí-
pulos atrás deles" (At 20:30). O resultado seria uma "apostasia" durante a qual se revelaria o ~ ~
poder ao qual se refere como "homem da iniquidade" e "mistério da iniquidade", e se oporia à
verdade, se exaltaria sobre Deus e usurparia a autoridade de Deus sobre a igreja (2Ts 2:3, 4).
Essa entidade, que segundo a advertência de Paulo já estava operando de forma limitada (v. 7),
operaria "segundo a eficácia de Satanás, com todo poder, e sinais, e prodígios da mentira" (v. 9).
Seu crescimento sutil seria camuflado de forma tão astuta que somente os que sinceramente
cressem e amassem a verdade estariam seguros frente a suas declarações enganosas (v. 10-12).
Antes do fim do 1o século, o apóstolo João escreveu que "muitos falsos profetas têm saído
pelo mundo fora" (lJo 4:1); e, um pouco mais tarde, ele disse que "muitos enganadores têm
saído pelo mundo fora" (2Jo 7). Isso, disse ele, é o "espírito do anticristo, a respeito do qual
tendes ouvido que vem e, presentemente, já está no mundo" (lJo 4:3).
Essas previsões advertiam sobre a presença de forças si ni st ras já operantes na igreja,
forças que pressagiavam heresia, cisma e apostasia de grandes proporções. Pretendendo
possuir privilégios e autoridade que pertencem apenas a Deus, porém, operando media nte
princípios satânicos e por meio de métodos satânicos , esse instrumento, ao final, engana-
ria a maioria dos cristãos para que aceitassem sua liderança e, assim, controlaria a igreja
(ver At 20:29, 30; 2Ts 2:3-12).
Nos tempos apostólicos, cada congregação local escolhi a seus próprios oficiais e regu-
lava sua própria conduta. Contudo, a igreja universal era "um corpo" em virtude da operação
invisível do Espírito Santo, e da direção dos apóstolos, que unia crentes em todos os luga-
res em "um só Senhor, um a só fé, um só batismo" (ver Ef 4: 3-6). Líderes das igrejas locais
deveriam ser homens "cheios do Espírito" (At 6:3), escolhidos, qualificados e dirigidos pelo
Espírito Santo (ver At 13:2), apontados (At 6:5) e ordenados pela igreja (At 13:3).
No entanto, à medida que a igreja abandonou seu "primeiro amor" (Ap 2:4), perdeu sua
pureza de doutrina, seus elevados padrões de conduta pessoal e o laço invisível de uni ão
provi do pelo Espírito Santo. Na adoração, o forma lismo assumiu o lugar da simplicidade.
A popularidade e o poder pessoal passaram a determinar cada vez mai s as escolh as dos líde-
res , que assumiram mais autorid ade sobre a igreja local e, depois, buscaram estender sua
autorid ade sobre as igrejas vizin has.
A administração da igreja local sob a direção do Espírito Santo, finalmente , foi substi-
tuída pelo auto ritarismo eclesiástico nas mãos de um único oficial, o bispo, a quem cada

919
COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

membro da igreja estava sujeito pessoalmente e pelo qual tinha acesso à salvação. Daí em
diante, a liderança pensou apenas em governar a igreja em vez de servi-la, e o "maior" já não
se considerava "servo de todos". Assim, gradualmente se desenvolveu o conceito de uma hie-
rarquia sacerdotal que se interpôs entre o cristão, como indivíduo, e o Senhor.
De acordo com escritos atribuídos a Inácio de Antioquia, que morreu por volta de 117
d.C., a presença do bispo era essencial à celebração de ritos religiosos e à direção de ques-
tões da igreja. Irineu, falecido por vo,lta do ano 200, catalogava os bispos das diferentes igre-
jas de acordo com a idade e importância das igrejas que presidiam. Dava honra especial às
igrejas fundadas pelos apóstolos e defendia que todas as outras deveriam concordar com a
igreja de Roma quanto a questões de fé e doutrina . Tertuliano, falecido em 225, ensinava a
supremacia do bispo sobre os presbíteros, anciãos escolhidos pela igreja local.
Cipriano, que morreu por volta de 258, é considerado o fundador da hierarquia católica
romana. Ele defendia a teoria de que há apenas uma igreja verdadeira e que, fora dela, não
há salvação. Defendeu a ideia de que Pedro tinha fundado a igreja em Roma e de que o bispo
da igreja de Roma deveria, portanto, ser honrado sobre os outros bispos, e suas opiniões e
decisões deveriam prevalecer sempre. Enfatizou a importância da sucessão apostólica direta,
afirmou que o sacerdócio do clero era literal e que nenhuma igreja deveria celebrar ritos reli-
giosos ou conduzir
I
suas questões sem a presença e o consentimento do bispo.
~ .. Fatores que contribuíram para a ascensão e, finalmente, a supremacia do bispo de Roma
foram: (1) Como capital do império e metrópole do mundo civilizado, Roma era o lugar natu-
ral para a sede da igreja universal. (2) A igreja de Roma era a única no Ocidente que afirmava
ter origem apostólica, o que, naquele tempo, fazia parecer natural que o bispo de Roma tivesse
prioridade sobre os demais. Roma ocupava uma posição bastante honrosa mesmo antes do ano
100 d.C. (3) A mudança da capital política de Roma para Constantinopla, por Constantino
(330), deixou o bispo de Roma relativamente livre do controle imperial; e, a partir de então, o
imperador quase sempre apoiou as reivindicações do bispo de Roma contra as dos outros bis-
pos. (4) Em parte, o imperador Justiniano apoiou fortemente o bispo de Roma e fez avançar
seus interesses por meio de um edito imperial que reconhecia sua supremacia sobre as igrejas
do Oriente e do Ocidente, edito que não pôde se tornar plenamente efetivo até o declínio do
domínio ostrogodo sobre Roma, em 538. (5) O êxito da igreja de Roma em resistir a vários movi-
mentos chamados éticos, em especial o gnosticismo e montanismo, lhe rendeu grande reputa-
ção de ortodoxia. Certas facções que em outras partes estavam em contendas, com frequência,
apelavam ao bispo de Roma para que fosse o árbitro de suas diferenças. (6) Controvérsias teo-
lógicas, que dividiram e enfraqueceram a igreja no Oriente, deixaram a igreja de Roma livre
para se dedicar a problemas mais práticos e para tirar vantagem de oportunidades que surgi-
ram para estender sua autoridade. (7) Repetidos casos de êxito em evitar ou mitigar ataques
bárbaros contra Roma aumentaram o prestígio político do papado e, com frequência, na ausên-
cia de liderança civil, o papa cumpriu na cidade as funções essenciais de um governo secular.
(8) Invasões islâmicas constituíram um obstáculo para a igreja no Oriente, eliminando o único
rival importante de Roma. (9) Os invasores bárbaros do Ocidente já estavam, em sua maio-
ria, nominalmente convertidos ao cristianismo, e essas invasões livravam o papa do controle
imperial. (lO) Com a conversão de Clóvis (496), rei dos francos, o papado fundou um exército
forte para defender seus interesses e ajudar efetivamente a converter outras tribos bárbaras.
Professando o cristianismo, Constantino, o Grande (que morreu por volta de 337), vin-
culou a igreja ao estado, subordinando a igreja ao poder civil, e fez da igreja um instrumento

920
DANIEL

da política do estado. Sua reorga nização da ad ministração política do império romano se tor-
nou o padrão para a administração eclesiástica da igreja romana, e assim da hierarquia católica
romana. Por volta de 343, o Concílio de Sárdica atribuiu ao bispo de Roma jurisdição sobre os
bispos metropolitanos ou arcebispos. O papa Inocêncio I (que morreu por volta de 417) reivin-
dicava jurisdição suprema sobre todo o mundo cristão, mas não foi capaz de exercer esse poder.
Agostinho (que morreu por volta de 430), um dos grandes pais da igreja e fundador da
teologia medieval, defendia que Roma sempre tivera supremacia sobre as igrejas. Sua obra
clássica A Cidade de Deus ressalta o ideal católico de uma igreja universa l que controlasse
um estado universal, e isso forneceu a base teórica para o papado na Idade Média.
Leão I, o Grande, que morreu em 461 , foi o primeiro bispo de Roma a proclamar que
Pedro tinha sido o primeiro papa, a afirmar a sucessão do papado a partir de Pedro, a sus-
tentar que a primazia havia sido legada diretamente por Jesus Cristo e a obter êxito em
aplicar esses princípios à administração papal. Leão I conferiu à teoria do poder papal sua
forma definitiva e fez desse poder uma realid ade. Foi ele que obteve um edito do imperador
declarando que as decisões papais teriam força de lei. Com o apoio imperial, ele se colo-
cou acima dos concílios da igreja, assumindo o direito de definir doutrinas e ditar decisões.
Seu êxito em persuadir Átila a não entrar em Roma (452) e sua tentativa de deter Genserico
(455) aumentaram seu prestígio e o do papado. Leão I, o Grande, foi definitivamente um
líder secular bem como espiritual para o povo cristão. Pretensões ao poder papal feitas por
papas posteriores se basearam em grande parte na suposta autoridade de documentos fal-
sificados conhecidos como "fraudes piedosas", como a chamada Doação de Constantino.
A conversão de Clóvis, líder dos francos, à fé romana, por volta do ano 496, quando a
maioria dos invasores bárbaros ainda era ariana, deu ao papa um forte ali ado político dis-
posto a lutar as batalhas da igreja. Por mais de 12 séculos, a espada da França, a "filha mais ... ~
velh a" do papado, foi uma agente eficaz para a conversão de homens à igreja de Roma e para
manter a autoridade papal.
O pontificado do papa Gregório I, o Grande (que morreu em 604), o primeiro dos prela-
dos medievais da igreja, marca a transição dos tempos antigos para os medievais. Gregório
ousadamente assumiu o papel, embora não o título, de imperador no Ocidente. Ele lançou
as bases para o poder papal na Idade Média, e é de sua administração em particular que
datam posteriores reivindicações absolutistas do papado. Grandes esforços missionários ini-
ciados por Gregório, o Grande, ampliaram em muito a influência e a autoridade de Roma.
Quando, mais de um século depois, os lombardos ameaçaram invadir a Itália, o papa
apelou a Pepino, rei dos francos, para auxiliá-lo. Respondendo ao pedido, Pepino derrotou
por completo os lombardos e, em 756, entregou ao papa o território que tinha tirado deles.
Essa dádiva, comumente conhecida como Doação de Pepino, marca a origem dos estados
papais e o início formal do governo temporal do papado.
No 7° e no 8° séc ulos, em termos gerais, o poder papal esteve em baixa. O grande papa
seguinte e um dos maiores foi Gregório VII (que morreu em 1085). Ele proclamou que a
igreja romana jamais tinha errado e jamais poderia errar, que o papa é juiz supremo, que
não pode ser julgado por ninguém, que não há apelo à sua decisão, que ele somente tem
direito à homenagem de todos os príncipes e que apenas ele pode depor reis e imperadores.
Por dois séculos, houve uma luta constante entre papa e imperador pela supremacia.
Às vezes um , às vezes outro alcançou êxito temporário. O pontificado de Inocêncio III (que
morreu em 1216) encontrou o papado no apogeu de seu poder, e durante o sécu lo seguinte

921
COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

esteve no zênite de sua glória. Afirmando ser o vicário de Cristo, Inocêncio III exerceu todas
as prerrogativas reivindicadas por Gregório mais de um século antes.
Um século depois de Inocêncio III, o papa me dieval ideal Bonifácio VIII (que mor-
reu em 1303) tentou governar como seus ilustres predecessores tinham feito , porém não
obteve o mesmo êxito. Ele foi o último papa a tentar exercer autoridade universal con-
forme instituída por Gregório VII e mantida por Inocêncio III. A decadência do poder do
papado se tornou completamente evidente durante o chamado cativeiro babilônico (1309-
1377), quando os franceses transferiram à força a sede do papado de Roma para Avignon,
na França. Logo depois do retorno a Roma, começou o que se conhece como o Grande
Cisma (1378-1417). Durante esse tempo, houve ao menos dois e, às vezes, três papas
rivais, cada um denunciando e excomungando seus rivais e afirmando ser o verdadeiro
papa. Como resu ltado, o papado sofreu perda irreparável de prestígio aos olhos da Europa.
Bem antes da época da Reforma, se levantaram muitas vozes dentro e fora da Igreja
Católica criticando suas declarações arrogantes e seus muitos abusos de poder tanto
secular quanto espiritual. Além disso, o renascimento cultural (Renascença), na Europa
Ocidental, a era da descoberta, o crescimento de estados nacionais fortes, a invenção da
imprensa e vários outros fatores contribuíram para a perda gradativa do poder papal. Por
volta da época de Martinho Lutero, muito havia sido feito para minar a autoridade do
bispo de Roma.
Durante a Reforma, que se entende ter começado em 1517, com a divulgação das Noventa
e Cinco Teses, o poder papal foi expulso de grandes regiões da Europa do norte. Esforços do
papado para combater a Reforma resultaram na criação da Inquisição, do lndex e na organi-
zação da ordem jesuíta. Os jesuítas se tornaram o exército intelectual e espiritu al da igreja
para extermínio do protestantismo. Por aproximadamente três séculos, a igreja de Roma tra-
vou uma luta vigorosa que gradualmente se enfraqueceu diante das forças que batalhavam
pela liberdade civil e religiosa.
Fina lmente, durante a Revolução Francesa, a Igreja Católica foi proscrita da França, a
primeira nação da Europa a patrocinar a causa católica. Por mais de 12 séculos, a França
~ ~ havia defendido as declarações e lutado nas bata-lhas da igreja. Foi a nação onde os prin-
cípios papais tinham sido testados de forma mais plena do que em qualquer outro lugar, e
achados em falta. Em 1798, o governo francês ordenou que o exército que estava na Itália,
sob o comando do general Berthier, levasse o papa prisioneiro. Embora o papado tivesse con-
tinuado, seu pod er foi tirado e, desde então, nunca mais exerceu o mesmo tipo ou medida
de poder que teve outrora. Em 1870, os estados papais foram completame nte absorvidos ao
reino unido da Itália, e o poder temporal que o papado tinha exercido por mais de mil anos
chegara ao fim. O papa tonou-se voluntariamente "prisioneiro do Va ticano" até que seu poder
temporal foi restaurado, em 1929 (ver com. de Dn 7:25).
Esse breve resumo demonstra que a ascensão do poder papal foi um processo gradua l
que se alongou por séculos. O mesmo se deu com seu declínio. É possível dizer qu e o pri -
meiro processo se desenvolveu desde cerca de 100 d.C. a 756; o segundo, de cerca de 1303
a 1870 d.C. O papado esteve no auge de seu poder desde a época de Gregório VII (1073-
1085) até Bonifácio VIII (1294 -13 03). Está claro que não é possível dar datas que marquem
um a transição precisa da irrelevância à supremacia, ou entre a suprem acia e a relativa irre-
levância. Da mesma forma, como se dá em todos os processos históricos , o surgimento e a
queda do papado fora m acontecimentos graduais.

922
DANIEL 8:1

Porém, por volta de 538 d.C. o papado estava completamente form ado e operante em diver-
sos aspectos e, em cerca de 1798 - 1.260 anos depois, ele tinha perdido praticamente todo o
poder que ac umulou ao longo de séculos. A profecia atribuiu 1.260 anos ao papado para uma
demonstração de seus princípios, políticas e objetivos. Desse modo, essas duas datas deve-
riam ser consideradas como marco do início e do final do período profético do poder papal.

COMENTÁRIOS DE ELLEN G. WHITE

1-28- PR, 548, 553, 554 13- Ed, 132; GC, 422 LS , 101 ; PR, 178, 183,
2, 3 - GC, 440 13, 14 - GC, 424, 426 , 480 184; HR, 328, 331, 382;
9, 10 - GC, 479 14 - GC, 427 T1, 76; T9, 230
10 - PE, 52; GC, 414, 480, 18- LA, 540; MC H, 273 ; 27 - DTN, 828; PE, 151 ,
512; LS, 241; CBV, 417; PP, 342 280, 295; GC, 347, 614;
MJ, 330; PP, 339, 357; 22 - GC, 661 MDC, 108; PP, 170; HR,
T1, 100; T4, 384, 453, 25- DTN, 763; Ev, 233; PE, 44, 403; T9, 219
482 33; GC, 51, 54, 439, 446; 28 - PR, 553

CAPÍTULO 8
1 A visão do carneiro e do bode. 13 Os dois mil e trezentos anos.
15 Gabriel consola Daniel e interpreta a visão.

1 No ano terceiro do reinado do rei Belsazar, 6 dirigiu-se ao carneiro que tinha os dois chi-
eu, Daniel , tive uma visão depois daque la que e u fres, o qual eu tinh a visto diante do rio; e correu
tivera a princípio . contra ele com todo o seu furioso poder. ..,. ~
2 Quando a visão me veio, pareceu-me estar 7 Vi-o chegar perto do ca rneiro, e, enfureci-
eu na cid adela de Susã, que é província de Elão, do contra ele, o feriu e lhe quebrou os dois chifres,
e vi que estava junto ao rio Ulai. pois não havia força no carneiro para lhe resistir; e
3 Então , leva ntei os olhos e vi, e eis qu e, o bode o lançou por terra e o pisou aos pés, e não
diante do rio, estava um carneiro , o qual tinha houve quem pudesse li vrar o carn eiro do poder dele.
dois chifres, e os dois chifres eram a ltos, mas 8 O bode se engrandeceu sobremaneira; e, na
um, mais alto do que o outro ; e o mais alto subiu sua força, qu ebrou-se-lhe o grande chifre, e em
por último. seu lugar saíram quatro chifres notáveis, pa ra os
4 Vi que o carneiro dava marradas pa ra o quatro ventos do céu.
ocidente, e para o norte , e para o sul; e ne - 9 De um dos chifres saiu um chifre pequeno
nhum do s a nimais lh e podia resistir, ne m hav ia e se tornou muito fort e para o sul , para o orie n-
qu e m pudesse livra r-s e do se u poder; e le, te e para a te rra gloriosa.
porém, fazia segundo a sua vo ntad e e, assim, lO Cresceu até ating ir o exército dos céus ;
se e ngra ndec ia . a a lg uns do exé rcito e das estrel as lançou por
5 Estando eu observa ndo, eis que um bode terra e os pisou.
vinha do ocidente sobre toda a te rra, mas sem 11 Sim, e ngrandeceu-se até ao príncipe do
tocar no chão ; este bode tinha um c hifre notá- exército; dele tirou o sacrifício diário e o luga r
vel e ntre os olh os; do seu santuário foi deitado aba ixo.

923
8: l COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

I 2 O exército lhe foi entregue, com o sacrifí- 20 Aq uele ca rneiro com dois chifres, que
cio diário, por causa das transgressões; e deitou viste, são os reis da Média e da Pérsia;
por terra a verdade ; e o que fez prosperou. 21 mas o bode peludo é o rei da Grécia; o chi-
13 Depois, ouvi um santo que falava; e disse fre grande entre os olhos é o primeiro rei;
outro santo àquele que falava: Até quando dura - 22 o ter sido quebrado, levantando-se quatro em
rá a visão do sacrifício diário e da transgressão lugar dele, significa que quatro reinos se levantarão
assoladora, visão na qual é entregue o santuário deste povo, mas não com força igual à que ele tinha.
e o exército, a fim de serem pisados? 23 Mas, no fim do seu reinado, quando os
14 Ele me disse: Até duas mil e trezenta s prevaricadores acabarem , levantar-se-á um rei de
tardes e manhãs; e o santuário será purificado. feroz catadura e especiali sta em intrigas.
15 Have ndo eu, Daniel, tido a visão, procurei 24 Grande é o seu poder, mas não por sua
entendê-la, e eis que se me apresentou diante própria força ; causará estupendas destruições ,
uma como aparência de home m. prosperará e fará o que lhe aprouver; destruirá
16 E ouvi um a voz de homem de entre as mar- os poderosos e o povo santo.
gens do Ulai, a qu al gritou e disse: Gabriel, dá a 25 Por sua astúcia nos seus empreendimen-
entender a este a visão. tos, fará prosperar o engano, no seu coração se
17 Veio, pois , para perto donde eu estava ; engrandecerá e destruirá a muitos que vivem
ao chegar ele, fiquei amedrontado e prostrei- despreoc upadamente; levantar-se-á contra o
me com o rosto em terra ; mas ele me disse: Príncipe dos prín cipes, ma s será quebrado sem
Entende, filho do homem , pois esta visão se re- esforço de mãos humanas .
fere ao tempo do fim. 26 A visão da tarde e da manhã , que foi dita ,
18 Falava ele comigo quando caí sem senti- é verdadeira; tu , porém, preserva a visão, porque
dos, rosto em terra ; ele, porém, me tocou e me se refere a dia s ainda mui di stantes.
pôs em pé no luga r onde eu me achava; 27 Eu, Daniel, enfraqu eci e estive enfermo
19 e disse: Eis que te farei saber o que há de alguns dias; então, me levantei e tratei dos ne-
acontecer no último tempo da ira , porque esta gócios do rei. Espantava- me com a visão, e não
visão se refere ao tempo determ inado do fim. havia quem a entendesse .

1. No ano terceiro. Ver com . sobre o transportados em visão, m as não tra nspor-
reinado d e Belsaza r, n a Nota Adicional a tados de fato, como a "visita" de Ezequiel a "' ~
Danie l 5. Começa ndo com o cap. 8, o autor Jerusalém (ver com. de Ez 8:3) e a de João ao
volta a usar o h e braico (ver p. 824, 825), que d eserto (Ap 17:3). Ta mbém se pode m men-
ele emprega deste ponto até o fin al do livro. cionar as experiê nc ias d e E llen G. White
A princípio. Sem dúvid a , um a referên- (ver PE , 32, 39). Por outro lado, não se pode
cia à visão do cap. 7. provar que Danie l não esteve fisic a mente
2. Estar eu na cidadela de Susã. É dis- em Susã, nessa ocasião. Não é difícil ima -
cutido se o profeta Daniel esteve fisic amente ginar que, em su as viage ns a negócios ofi-
em Susã ou se apenas em visão. O contexto ciais ou por outra razão, e le fosse à a ntiga
não implica n ecessariam ente presen ça cor- capital de E lão. Na época d a visão, se for
pora l. A frase "quando a visão me veio" considerado 55 3 como o l o a no de Belsazar,
deve ser ente ndida como a lgo para introdu - Elão ainda era, provavelmente , um a provín-
zir uma série d e eventos contemplados em cia babilônica , embora tenha passado para
visão, sem que n e cessariamente h aja pre- as mãos de Ciro algum tempo antes d e este
sença real. Há outros exemplos de profetas tomar Babilônia. Josefo afirm a que o profeta

924
DANIEL 8:9

esteve de fato em Susã na época da visão 5. Bode. Identificado pelo anjo como
(Antiguidades, x.11.7). representante da Grécia (v. 21), isto é, o
Cidadela. Do heb. birah, "cidadela" ou império macedônico de Alexandre (ver com .
"acrópole". No hebraico, o termo acompa- de Dn 7:6).
nha a palavra Susã. A fras e pode ser tradu- Vinha do ocidente. A Grécia ficava a
zida como "Susã, a praça forte" (BJ), segundo oeste do império persa.
a forma do nome mais familiar nos tem- Sem tocar no chão. Esta descrição de
pos modernos. Segundo o historiador grego grande rapidez descreve adequadamente a
Xenofonte, reis persas, posteriormente, usa- surpreendente velocidade das conquistas de
ram a cidade como residência de inverno, e Alexandre (ver com. de Dn 7:6).
passavam o restante do ano em Babilônia ou Chifre notável. De acordo com o v. 21
em Ecbátana (para mais informações sobre (ver também a profecia paralela, Dn 11 :3 , 4),
Susã, ver Et 1: 2). esse chifre representa o primeiro grande rei
Ulai. Do assírio Ula, um rio não identifi- grego, isto é, Alexandre o Grande (ver com.
cado. Escritores clássicos localizam Susã em de Dn 7:6).
Eulaeo (Karun) ou em Choaspes (Kerkha). 7. Enfurecido. Do heb. marar, na forma
Alguns eruditos a consideram como um encontrada aqui , "estar enfurecido". A lin-
canal entre os rios Joaspes e Coprates. guagem deste versículo retrata a totalidade
3. Um carneiro, o qual tinha dois da sujeição da Pérsia a Alexandre. O poder
chifres. O anjo mais adiante identifica do império persa foi quebrado por completo.
esse símbolo como representante dos reis O país foi assolado, seus exércitos foram fei-
da Médi a e da Pérsia (v. 20). tos em pedaços e espalhados, e suas cida-
Mais alto do que o outro. Embora des, saqueadas. A cidade real de Persépolis,
tenha se levantado depois da Média, a Pérsia cujas ruínas ainda permanecem como monu-
se tornou o poder dominante quando Ciro mento de seu antigo esplendor, foi destruída
derrotou Astíages, da Média, em 553 ou 550. pelo fogo.
Contudo, os medos não eram tratados como 8. O bode se engrandeceu sobrema-
inferiores ou um povo subjugado, mas sim neira. Ou, "se magnificou sobremaneira"
como confederados (ver com. de Dn 2:39). (ver com. dos v. 4, 9).
4. Dava marradas para o ocidente. E, na sua força. A profecia predisse a
C iro conquistou a Lídia, em 547 a.C ., e queda de Alexandre enquanto seu império
Babilônia, em 539. Cambises estendeu as estivesse no auge de seu poder. Aos 32 anos,
conquistas até o sul, ao Egito e à Núbia, em ainda jovem, o grande líder morreu de uma
525. Dario Histaspes foi para o norte contra febre agravada, sem dúvida, por sua própria
os escitianos, em 513 (ver vol. 3, p. 39-44). intemperança (ver com. de Dn 7:6).
O império medo-persa abrangia um ter- Quatro chifres notáveis. Sobre os qua-
ritório muito maior que seu predecessor, tro reinos macedônicos (ou helenísticos) nos
Babilônia. Os exércitos da Pérsia tinham quais se dividiu o império de Alexandre, ver
tanto êxito que, nos dias de Assuero (Et l:l), com. de Daniel 7:6; 11:3, 4.
o império se estendia da Índia à Etiópia, as 9. De um dos chifres. No hebraico, esta
extremidades leste e sul do mundo conhe- frase apresenta confusão de gênero. A pala-
cido da época. Um título comum do monarca vra "deles" (como traduz a AA), hem, é mas-
persa era "rei de reis" ou "rei dos países". culina. Isso indica que, gramaticalmente, o <11 *
E, assim, se engrandecia. Literalmente, antecedente é "ventos" (v. 8) e não "chifres",
"fazia grandes coisas", "se fez grande". visto que "ventos" pode ser tanto masculino

925
8:9 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

como feminino, mas "chifres", apenas femi- interpretativo. Como nas parábolas, certo-s
nino. Por outro lado, a palavra para "um", elementos são necessários para se completar a
'achath, é feminino, sugerindo "chifres" como ilustração, mas não são em si mesmos significa-
o antecedente. 'Achath poderia, claro, se refe- tivos. Só uma palavra inspirada pode determi-
rir à palavra para "ventos", que ocorre com nar quais desses têm valor interpretativo. Visto
mais frequência no feminino. Mas é questio- que, nesse caso, a palavra inspirada, isto é, o v.
nável que o escritor fosse atribuir dois gêne- 23, fala apenas do tempo em que o poder repre-
ros diferentes ao mesmo substantivo em uma sentado por esse chifre surgiria, e nada diz a
relação de contexto tão estreita. Para se ter respeito de sua origem geográfica, não há razão
uma concordância gramatical, 'achath deve- para se enfatizar a frase "de um deles".
ria ser mudado para o masculino, fazendo Visto que a visão de Daniel 8 é paralela
com que toda a frase se referisse claramente aos esboços proféticos dos cap. 2 e 7, e visto
a "ventos"; ou a palavra para "deles" deveria que em ambos os esboços o poder que sucede
ser mudada para o feminino, mas nesse caso a Grécia é Roma (ver com. de Dn 2:40; 7:7),
a referência seria ambígua, dado que "vento" a compreensão razoável, nesse caso, é que o
ou "chifres" pode ser o antecedente. Vários poder do "chifre" descrito no v. 9 também se
manuscritos em hebraico têm a palavra para aplica a Roma. Essa interpretação se con-
"deles" no feminino. Se esses manuscritos firma pelo fato de que Roma precisamente
refletem o significado correto, a passagem cumpre as várias especificações da visão.
ainda seria ambígua. Um chifre pequeno. Este "chifre
Comentaristas que interpretam o "chi- pequeno" representa Roma em ambas as
fre pequeno" do v. 9 como Roma não podem fases, pagã e papal. Daniel viu Roma, pri-
explicar satisfatoriamente como se poderia meiramente, em sua fase pagã e imperial,
dizer que Roma surgiu de uma das divi- guerreando contra o povo judeu e os cristãos
sões do império de Alexandre. Mas, se primitivos e, depois, na fase papal, seguindo
"deles" se refere a "ventos", então toda difi- até o presente e o futuro, guerreando contra
culdade desaparece. A passagem simples- a igreja verdadeira (sobre essa dupla aplica-
mente afirma, nesse caso, que de um dos ção, ver com. dos v. 13, 23).
quatro pontos cardeais surgiria outro poder. Muito. Do heb. yether, que significa basi-
Roma surge ao oriente. Na explicação lite- camente "restante". Em poucos casos, como
ral dos símbolos da visão, é dito que Roma neste, o termo descreve o que está acima da
surge "no fim do seu reinado" (v. 23), isto é, o medida, no sentido de deixar um resto. É
"reinado" dos quatro chifres. Porém, o v. 23 traduzido como "excelente" (Gn 49:3), "lar-
se refere apenas à época quando o "chifre gueza" (Sl 31:23) e "ainda maior" (Is 56:12).
pequeno" surgiria e não diz nada do lugar A palavra traduzida como "sobremaneira",
de seu surgimento, ao passo que o v. 9 tem em Daniel8:8, é me'od, a palavra mais comu-
a ver exclusivamente com sua localização. mente utilizada para significar "muito" (66
Deve-se lembrar que o profeta dá um breve vezes na ARA). No AT, me'od é traduzida
relato dos símbolos proféticos, como lhe foram como "grande", "sobremodo" e "sobrema-
apresentados. Ele ainda não está interpre- neira" 54 vezes (Nm 22:3; Gn 15:1; 1Rs 1:4;
tando a visão. A interpretação dessa parte da etc.). Não se pode argumentar que yether
visão ocorre no v. 23. Uma regra importante (Dn 8:9) represente um grau maior que
ao se interpretar os símbolos de uma visão é me'od. Qualquer predomínio de Roma sobre
dar interpretação apenas àqueles elementos a Grécia deve se provar historicamente, não
da representação destinados a ter um valor com base nestas palavras.

926
DANIEL 8 :11

Para o sul. O Egito foi, durante muito interrompido, e ele prosperou; e o lugar santo
tempo, um protetorado não oficial de Roma. ficará desolado." Não há como determin ar
Se u destino já estava nas mãos de Roma em até que ponto essa versão reflete mais perfei-
168 a.C., quando se ordenou que Antíoco tame nte o texto original de Danie l. O texto
Epifânio, que buscava fazer gu erra contra massorético refletido na ARA parece no todo
os ptolomeus , se retirasse do país. O Egito, ser a tradução mais natural.
ainda sobre a administração de se us gover- Sacrifício diário. Do heb. tanúd ,
;;i; l'- nantes ptolomaicos, foi um peão da polític a palavra que ocorre 103 vezes no AT, usada
romana oriental por muitos anos, antes de se tanto como advérbio quanto como adjetivo.
tornar provínci a romana, em 30 a.C. Indica algo "contínuo" ou que dura "conti-
Para o oriente. O império selêucida nuamente", e se aplica a vários conceitos ,
perdeu suas terras mais ocidentais para como emprego contínuo (Ez 39:14), sustento
Roma, em 190 a.C. e, fin almente, tornou- permanente (2Sm 9:7-13), tristeza contínua
se a província rom ana da Síria, em 65 a.C. (SI 38:17), esperanç a contínua (SI 7 1:14),
ou pouco depois. provocaç ão contínu a (Is 65: 3), etc. É usa da ,
Para a terra gloriosa. Do heb. tsevi, com frequ ência, em relação ao ritual do san-
"ornamento", "decoração", "glória". Aqui, tuário para descrever várias características
refere-se a Jerusalém ou a Palestina. Tsevi de seus serviços regulares , como o "pão co n-
é traduzido como "gloriosa" em Danielll:l6 tínuo" que era mantido sobre a mesa da pro-
e 41. A Palestina foi incorporada ao império posi ção (Nm 4:7), a lâmpada que devia estar
romano em 63 a.C. acesa continu amente (Êx 27:20), o fogo qu e
10. Exército dos céus. Daniel aind a devia ser mantido acesso no altar (Lv 6: 13),
descreve o que viu em visão. Uma vez que o os holocaustos que devi a m ser oferecidos di a
anjo, depois, dá a interpretação (v. 24), não se após dia (Nm 28:3, 6) e o incenso que dev ia
é deixado no escuro quanto ao significado do ser oferecido de manhã e à tarde (Êx 30:7, 8).
que é descrito aqui. O "exército" e as "estre- A palavra em si não significa "diariamente",
las" obviamente representam "os poderosos mas simplesmente "contínuo" ou "reg ular".
e o povo santo" (v. 24). Das 103 ocorrências , ela é tradu zida na
E os pisou. Isto se refere à fúria com que ARA como "diário" apen as nas cinco ocor-
Roma perseguiu o povo de Deus através dos rências em Daniel (8:11, 12, 13; 11:31; 12:11).
séculos. No tempo dos tiranos pagãos Nero, A idei a de "diário" se derivou , evidentemente ,
Décio e Diocleciano e, depois, no período não da palavra em si, mas daquilo com o que
papal, Roma jamais hesitou em tratar com estava associada.
dureza aqueles a quem condenou. Em Daniel 8:11 , tamid tem o artigo defi-
11. Príncipe do exército. O v. 25 fala nido e, portanto, é usado como adj etivo.
deste m esmo poder que se levanta contra Além disso, se apre senta independe nte-
o Príncipe dos príncipes . A referência é a mente, sem um substantivo. No Talmude
Cristo, que foi crucificado sob a autoridade quando tamid é usado de forma indep en-
de Roma (ver com. de Dn 9:25; 11:22). dente, como neste caso, a palavra denota o
Dele. Do heb. mimrnennu. O hebraico sacrifício diário. Os tradutores das versões
desta passagem apresenta dificuldades de que acrescentaram a palavra "sacrifício",
tradução. Uma traduç ão bem diferente se obviamente entenderam que o holocausto
encontra na versão grega de Teodócio. Ela diário era o tema da profecia.
di z: "E [isso será] até o capitão ter livrado Quanto ao significado de tarnid , nesta
o cativeiro: e por causa dele o sacrifício foi passagem , há três pontos de vista principais:

927
8:12 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

l. O termo "diário" se refere exclusiva- com respeito a suas atividades podem tam-
mente aos sacrifícios oferecidos no templo bém ser compreendidas como aplicadas à
em Jerusalém. Alguns eruditos que defen- Roma pagã, bem como à Roma papal. Assim,
dem esta ideia aplicam a retirada do "diá- o "diário" pode também se referir ao templo
rio" à interrupção do serviço do templo por terrestre e a seus serviços; e a retirada do
Antíoco Epifânio, por um período de três "diário" pode apontar para a desolação do
anos, 168-165 ou 167-164 a.C. (ver com. de templo pelas legiões romanas, em 70 d.C. e
Dn 11:14). Outros a aplicam à desolação do a consequente cessação dos serviços sacrifi-
~ .,.. templo pelos romanos, em 70 d.C. cais. Foi a esse aspecto da atividade da "abo-
2. O termo "diário" significa "paganismo", minação desoladora" que Cristo se referiu ao
em contraste com "a abominação desoladora" falar dos eventos então futuros (ver com. de
(Dn 11:31), ou o papado. Ambos os termos Dn 11:31; cf. Mt 24:15-20; Lc 21:20).
identificam poderes perseguidores. A pala- Ao comentar sobre esses três pontos de
vra para "diário", com o significado correto vista, pode-se dizer que o primeiro fica des-
de "contínuo", se refere à longa continuidade cartado pelo fato de Antíoco não se ajustar
da oposição de Satanás à obra de Cristo por aos períodos de tempo ou a outras especi-
meio do paganismo. A retirada do diário e ficações da profecia (ver com. de Dn 9:25).
o estabelecimento da "abominação desola- Tanto a segunda interpretação quanto a
dora" representa a Roma papal substituindo a terceira são defendidas por eruditos adven-
Roma pagã, e esse evento é o mesmo descrito tistas, contudo a terceira tem mais aceitação.
em 2 Tessalonicenses 2:7 e Apocalipse 13:2. Alguns consideram que o "diário" se refere ao
3. O termo "diário" ("contínuo") se refere paganismo, e outros que o "diário" se refere
ao ministério sacerdotal contínuo de Cristo ao ministério sacerdotal do Senhor. Talvez
no santuário celestial (Hb 7:25; 1Jo 2:1) e essa seja uma das passagens das Escrituras
à verdadeira adoração de Cristo na era do acerca da qual é preciso ainda mais luz a fim
evangelho. A retirada do "diário" representa de se chegar a uma conclusão definitiva. Assim
a substituição pelo papado da união voluntá- como ocorre com outras passagens difíceis das
ria de todos os crentes em Cristo pela união Escrituras, a salvação não depende do entendi-
obrigatória com uma igreja visível, da autori- mento completo do significado de Daniel8:ll
dade de um cabeça visível (o papa) no lugar (sobre o desenvolvimento histórico do segundo
de Cristo, a cabeça invisível da igreja, de e do terceiro pontos de vista, ver p. 47-52).
uma hierarquia sacerdotal no lugar do acesso Lugar. Do heb. malwn. A palavra é usada
direto a Cristo para todos os crentes, de um na frase "para a Casa de Deus, para a restau-
sistema de salvação por obras ordenadas pela rarem no seu lugar" (Ed 2:68). A referência
igreja no lugar da salvação pela fé em Cristo principal, neste caso, deve ser à destruição
e, mais particularmente, do confessionário de Jerusalém (ver Dn 9:26).
e da missa no lugar da obra mediadora de 12. Exército. Do heb. tsava', que geral-
Cristo como sumo sacerdote nas cortes celes- mente significa "hoste" ou "exército" e, algu-
tiais. Esse sistema desviou por completo a mas vezes, "serviço", como trabalho voluntário
atenção do ser humano de Cristo e, assim, ou militar (ver Jó 7:1; 10:17; 14:14; Is 40:2).
o privou dos benefícios de Seu ministério. Interpretada como "hoste" ou "exército", a
Além disso, visto que esse terceiro ponto previsão pode se referir às multidões que caí-
de vista defende que o "chifre pequeno" é ram sob a influência desse poder. O poder se
um símbolo da Roma imperial bem como da tornaria grandioso, "mas não por sua própria
Roma papal (ver com. dos v. 9, 13), previsões força" (Dn 8:24; ver com. de Dn 10:1).

928
DANIE L 8: 14

Deitou por terra a verdade. O papado ]osefo provaram-se inúteis. [. . .] O professor


e ncheu a verdade de tradição e a obscureceu Driver tem razão ao declarar: 'Parece impos-
com a superstição. sível encontrar dois eventos sepa rados por
13. Até quando [... ]? O hebraico di z, 2.3 00 dias (= 6 a nos e 4 m eses) que corres-
literalmente: "Até quando a visão, o contínuo, panda à descrição"' (Charles H . H . Wright ,
a transgressão desoladora dar o santuário e Daniel and His Prophecies, 1906, p. 18 6,
o exército a serem pisados." 187). A única forma de se d ar consistên-
Sacrifício diário. Ver com. do v. 11. cia a esses "dias" é computá-los no sentido
Da transgressão assoladora. Este profético mediante a aplicação do princí-
termo aponta para ambos os sistemas pagão pio dia-ano.
e papal da religião falsa em conflito com a O tempo mencionado aqui é específico
religião de Deus (ver com. dos v. 9, 11). e definido, mas, em Daniel 8, não se indica
Santuário. Ver com. do v. 14. ne nhuma d ata para seu início. Porém , no
Exército. Ver com. do v. lO. cap. 9, m enciona-se essa data de forma espe-
14. Ele me disse. A LXX, Teodócio e a cífica (ver com. de Dn 9:25 ). Ela se mostrará
~ "' Siríaca dizem "a ele". ser 457 a.C. A partir dessa data como início,
Tardes e manhãs. Do heb . 'ereh hoqer, os 2.300 dias profé ticos, que representa m o
literalmente, "tarde manhã", expressão que mesmo número de anos solares (ver com . de
se compara à desc rição dos dias da cria- Dn 7:25), chegam ao ano 1844 d .C. H á evi-
ção: "Houve tarde e manhã, o primeiro dia" dência contextual de que Daniel 9:24 a 27
(Gn 1:5), etc. Na LXX, a palavra "dias" vem fornece uma explicação da visão de Da niel
depois da expressão "tardes e m anhãs". 8:13 a 14, e de que localiza o ponto de partid a
Na tentativa d e fazer coincidir, ainda dos 2.300 dias ou anos (ver com. de Dn 9:21;
que aproximada mente , este p eríodo com sobre a validade da data 457 a.C., ver com.
os três anos da devastação do te mplo p or de Dn 9:25 ; sobre uma edição da LXX em
parte de Antíoco IV, alguns sutilmente con- que ocorre "2.400" em vez de "2.300", citada
taram as "2.3 00 tardes e m anh ãs" como com frequência há algum tempo, ver p. 58).
1.150 dias lite ra is. Santuário. Visto que os 2.300 a nos
A respeito disso, C. F. Keil advertiu que o conduzem a uma data ta rdia da era cristã,
período profético das 2.300 tardes e manhãs este santu ário n ão pode ser o templo em
n ão pode ser ente ndido como "2.300 meio- Jerusalém , destruído em 70 d.C. O santu ário
dias nem como 1.150 dias inteiros, porque da nova aliança é claramente o celestial, "que
tarde e manhã na criação constitu em não a o Senhor erigiu, não o homem" (Hb 8:2; GC,
metade, mas o dia inteiro". Depois de citar 411-417). Cristo é o sumo sacerdote desse
essa declaração, Edward Young diz: "Por isso, santuário (Hb 8:1). João anteviu um tempo
devemos entender que a frase significa 2.300 quando se daria atenção especial ao "sa n-
dias" (The Prophecy of Daniel, p. 174). tuá rio de D e us , o seu altar e os que naquele
Comentaristas tê m tent ado, mas sem adoram" (Ap 11:1). Os símbolos e mpregados
êxito, encontrar algum aco ntecime nto pelo revelado r são notavelmente similares aos
na história que se ajuste ao período de empregados e m Daniel 8:11 a 13.
2.300 dias literais. Como observa Wright: Será purificado. Do h eb. tsadhaq, "ser
"Contudo, todos os esforços para harmoni- justo", "ser reto". O verbo ocorre n a forma
zar o período, seja de 2.300 dias ou de 1.150 nifal apenas nesta passagem, o que sugere um
dias, com qualquer époc a histórica precis a significado especial ao termo. Lexicógrafos
m e ncionada no livro dos Macabeus ou em e tradutores sugerem significados diversos,

929
8:15 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

como "ser posto em retidão" ou "ser posto "justos e verdadeiros são os Teus caminhos"
num a condição reta", "ser retificado", "ser (Ap 15:3), "Tu és justo" (Ap 16:5), e, "verda-
decla rado reto", "ser justificado" e "ser vin- deiros e justos são os Teus juízos" (Ap 16:7).
dicado". A tradução "será purificado" é a tra- O próprio Satanás será levado a reconhecer a
duç ão da LXX, que aqui apresenta a forma justiça de Deus (ver GC, 670, 671). A palavra
verbal lwtharisthesetai. Não se sabe se os tradu zida como "justo" é dilwios, equivalente
trad utores da LXX adaptaram o significado ao termo heb. tsadhiq, derivado de tsadhaq,
do heb. tsadhaq ou se traduziram a partir forma da qual se tradu z "será purificado", em
de manu scritos empregando uma palavra Daniel 8:14. Portanto, o heb. tsadhaq pode
hebraica diferente, talvez tahar, a palavra transmitir a ideia adicional ele que o cará-
hebraica comum para "estar limpo", "limpar". ter de Deus será completamente vindicado
A Vulgata tem a forma mundabitur, qu e tam- como o clímax da "hora do Seu juízo" (Ap
bém significa "limpo" (ver com. de Dn 9:24). 14:7), que começou em 1844 (ver Problems
Para determinar o acontecimento rela- in Bible Translation, p. 174- 177).
cionado ao santuário celestial referido neste 15. Procurei entendê-la. Daniel não
versículo, é útil examinar os serviços do san- entendeu o significado do que tinha visto.
tuário terrestre, pois os sacerdotes desse san- Muitas vezes, os portadores de uma mensa-
tuário ministravam "em figura e sombra das gem profética precisam estudar essa men -
coisas celestes" (Hb 8:5). Os serviços no sagem a fim de descobrir seu significado
tabernáculo do deserto e no templo consis- (lPe 1: 10-12). É dever do profeta relatarfiel-
tiam de duas divisões principais: os diários mente o que viu e ouviu (ver Ap 1:11).
e os anuais. A ministração diári a de Cristo 16. Gabriel. No AT, o nome Gabriel
como sumo sacerdote foi tipificada nos ser- ocorre apenas aqui e em Daniel 9:21.
viços diários. O Dia da Expiação anual tipi- O NT relata a aparição deste ser celestial
!.,. ficava uma obra que Cristo realizaria no para anunciar o nascimento de João Batista
fin al dos tempos (pa ra uma discussão deta- (Lc 1:11-20) e, mais uma vez, para anunciar a
lhada dessas duas fases do ministério sacer- Maria o nascimento do Messias (Lc 1:26-33).
dotal, ver com. de Lv 1:16; ver também GC, O visitante angélico declarou de si mesmo:
418-432). A profecia de Daniel8:14 anuncia "Eu sou Gabriel, que assisto diante de Deus"
o tempo para o início dessa obra especial. (Lc 1:19). Gabriel ocupa a posição da qual
A purificação do santuário celestial com- Satanás caiu (ver OTN, 693; cf. OTN, 99).
preende toda a obra do juízo final, que começa Gabriel também foi o portador das mensa-
com a fase investigativa e termina com a fase gens proféticas a João (Ap l:l ; cf. OTN, 99;
executiva, que resulta na erradicação perma- ver com. de Lc 1:19).
nente do pecado de todo o universo. 17. Tempo do fim. O período revelado
Um aspecto importan te do juízo fin al é a na visão alcança até o tempo quando o poder
vindicação do caráter de Deus pera nte todos desolador será destruído, um evento asso-
os seres do universo. As ac usações falsas que ciado à vinda de Jesus (2Ts 2:8).
Satanás apresentou contra o governo de Deus Ao se buscar uma interpretação dos sím-
serão demonstradas sem fundamento. No bolos desta visão, deve-se ter em mente o
fin al, se verá que Deus foi completamente fato de que os últimos eventos representa-
justo na escolha de determinados indivíduos dos nela serão cumpridos no fim ela históri a
para comporem Seu futuro reino, e ao impe- do mundo. Qualquer explicação que encon-
dir outros ele entrarem ali. Os atos finais de tre um cumprimento completo da visão num
Deus despertarão nas pessoas a confissão: período anterior, como a época dos maca beus

930
DANIE L 8 :2 5

(ver com. de Dn 8:25) não desvenda clara- coisas, e a maneira mais apropriada e frutí-
mente as especificações do anjo, e deve ser fera de descrever o caráter dessa Igreja. Ela
considerada errônea e enganosa. ainda governa as nações. [... ] É uma criação
19. No último tempo da ira. Ver com . política, e tão imponente como um império
de v. 17. mundial, por ser a continuidade do império
20. Aquele carneiro. Ver com. dos v. 3, 4. romano. O papa, que se autodenomina 'Rei'
21. Peludo. Do heb. sa'ir, que também e 'Pontífice Máximo' é o sucessor de César"
é usado de form a independente para descre- (Adolf Harnack, What Is Cr-isthianity? [Nova
ver um bode (Gn 37:31; Lv 4:2 3; etc.; sobre a York; G. P. Putnam's Sons, 1903], p. 269,
interpretação, ver com. de Dn 8:5). 270, itálicos no original).
O chifre grande. Um símbolo de Os prevaricadores. As versões gre-
Alexandre, o Grande, o "primeiro rei " do gas trazem "pecados", tradução que pode
império greco -macedônico que substituiria ser obtida do hebraico por meio de uma
o império persa (ver com. dos v. 5-8; Dn 7:6). mudança na pontuação m assorética.
22. Quatro reinos. Comparar com o v. 8 Acabarem. Pode ser uma referência a
e com Dn 11 :4; sobre os reinos helenísticos várias nações, ou talvez em específico aos
que surgiram do império de Alexandre, ver judeus, que encheram a taça de sua iniqui-
com. de Dn 7:6. O cumprimento exato destes dade (ver Gn 15:16; Ed , 173-177).
detalhes da visão garante que o que se segue Levantar-se-á. Isto é, assumirá poder.
certamente acontecerá conforme predito. Feroz catadura. Provável alusão à Deu-
23. No fim do seu reinado. Isto teronômio 28:49 a 55.
é, depois que as divisões do império de Intrigas. Do heb. chidhoth, "enigm as"
Alexandre tivessem existido por algum (Nm 12:8; Jz 14:12; Ez 17:2) ou "perguntas
tempo. O império romano surgiu de form a difíceis" (lRs 10:1). Alguns creem que o sig-
gradual e conquistou a supremacia só depois nificado n esta passagem seja "linguagem
que as divisões do império macedônico se ambígua" ou "duplicidade".
enfraqueceram. A profecia se aplica a Roma 24. Não por sua própria força. Com-
em suas form as pagã e papal. Parece haver parar com "o exército lhe foi entregue" (v. 12).
uma combinação de aplicações, com alguns Alguns veem aqui referência ao fato de o
elementos que se aplicam a ambas as for- papado reduzir o poder civil à subserviência
m as, outros mais especificamente a uma ou e fazer com que a espada do estado se levan-
a outra (ver com. de Dn 8: 11). É fato histó- tasse em favor de seus objetivos religiosos.
~ "' rico que a Roma papal foi a continuação do Causará estupendas destruições.
império romano: "Quaisquer tenham sido os Este poder perseguiu até à morte os que se
elementos romanos que os bárbaros e aria- opuseram às suas afirmações blasfemas, e
nos deixaram [... ] foram [... ] postos sob a teria eliminado "o povo santo" se o Senhor
proteção do bispo de Roma, que era a prin- não tivesse intervindo.
cipal pessoa ali depois do desaparecimento 25. Astúcia. Ou, "engano". Os métodos
do imperador. [... ] A igreja romana, dessa deste poder são a sutileza e o engano.
forma, secretamente se colocou no lugar do Que vivem despreocupadamente.
império mundial romano, do qual é a conti- Isto é, enquanto muitos sentem que es tão
nuação real; o império não pereceu, apenas vivendo em segurança, serão destruídos
passou por uma transformação. [.. .] isso não inadvertidamente.
é mera 'observação sagaz', mas o reconhe- Príncipe dos príncipes. É evid en te
cimento histórico do verdadeiro estado de que se refere ao mesmo ser designado como

93 1
8:26 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

"príncipe do exército", no v. 11, ninguém poder dificilmente poderia ser atribuído a


além de Cristo. Foi um governador romano qualquer coisa além de sua própria força
que sentenciou Cristo à morte, mãos roma- (v. 22); sua astúcia e estratégia mais fra-
nas O pregaram na cruz, e uma lança romana cassaram que prosperaram (v. 25) ; ele não
perfurou Seu lado. se levantou contra nenhum "Príncipe dos ""t
Sem esforço de mãos humanas. Isto príncipes" judeu (v. 25); ele deitou a ver-
implica que o próprio Senhor, ao final, des- dade por terra (v. 12) de forma temporária
truirá esse poder (ver Dn 2:34). O sistema e não teve êxito, pois isso levou os judeus
eclesiástico representado por esse poder a defenderem sua fé contra o helenismo.
continuará até que seja destruído sem Muito embora tenha dito palavras arrogan-
esforço de mãos humanas, na segunda vinda tes, oprimido o povo de Deus e profanado
de Cristo (ver 2Ts 2:8). o templo, durante um breve período, e se
Alguns comentaristas defendem o ponto possam alegar alguns outros pontos parcial-
de vista de que o poder do "chifre pequeno" mente verdadeiros quanto às suas ativida-
(em Dn 8) simboliza Antíoco Epifânio (ver des, é óbvio que não se encontra em Antíoco
com. de Dn 11:14). No entanto, um exame um cumprimento adequado de muitas espe-
cuidadoso da profecia torna evidente que cificações da profecia (ver mais no com. do
esse rei selêucida perseguidor não cumpre v. 14; Dn 9:25; 11:31).
as especificações reveladas. Os quatro chi- 26. Da tarde e da manhã. Clara refe-
fres do bode (Dn 8:8) eram reinos (v. 22), e rência à profecia do v. 14 (ver com. ali). Neste
é natural esperar que o "chifre pequeno" seja momento, o anjo não dá mais esclarecimen-
também um reino. Mas Antíoco foi apenas tos da visão dos 2.300 dias, mas apenas enfa-
um rei do império selêucida, portanto, parte tiza sua veracidade.
de um chifre. Sendo assim, ele não poderia Preserva. Comparar com instruções
ser outro chifre. Além disso, esse chifre se similares registradas em Daniel 12:4 (ver
tornou muito forte para o sul, para o oriente com. ali).
e para a terra gloriosa da Palestina (v. 9). A dias ainda mui distantes. O cum-
A entrada de Antíoco no Egito terminou em primento dos vários detalhes da visão deste
humilhação diante dos romanos. Seus êxi- capítulo se estenderia ao futuro distante.
tos na Palestina foram breves e seu avanço 27. Eu, Daniel, enfraqueci. Sem dúvida,
ao oriente foi interrompido por sua morte. Daniel estava profundamente preocupado com
Sua política de impor o helenismo fracassou os eventos revelados. Em vez de prever um fim
por completo, e a sagacidade não lhe rendeu imediato à ira, Gabriel informou ao profeta que
prosperidade notável (v. 12). o fim se daria num futuro distante.
Além disso, Antíoco não viveu no final E não havia quem a entendesse. Mais
(v. 23) dos reinos helenísticos divididos, informações foram dadas depois (ver com.
mas em cerca da metade do período; seu de Dn 9:23).

COMENTÁRIOS DE ELLEN G. WHITE

1-27- PR, 548, 553, 554 243, 250, 253; CC, 326 , 375 , 377; T1, 52, 58
12 - PE, 74 328, 352, 399, 40~ 41~ 16 - OTN, 234
13, 14- PR, 554 424,426,457, 486; LS, 26, 27 - PR, 554
14- Ev, 223; PE, 42, 54, 63, 58, 63, 278; HR, 369, 27 - GC , 325

932
DANIEL 9:1

CAPÍTULO 9
1 Daniel considera o tempo do cativeiro, 3 faz confissão de pecados e 16 ora pela
restauração de Jerusalém . 20 Gabriel lhe informa sobre as setenta semanas.

l No primeiro ano de Dario, filho de Assuero, derramaram sobre nós, porque temos pecado
da linhagem dos medos, o qual foi constituído rei contra Ti.
sobre o reino dos caldeus, 12 Ele confirmou a Sua palavra, que falou
2 no primeiro ano do seu reinado, eu, Daniel, contra nós e contra os nossos juízes que nos jul-
entendi, pelos livros, que o número de anos, de gavam, e fez vir sobre nós grande mal, porquan-
que falara o SENHOR ao profeta Jeremias, que to nunca, debaixo de todo o céu , aconteceu o que
haviam de durar as assolações de Jerusalém, era se deu em Jerusalém.
de setenta anos. 13 Como está escrito na Lei de Moisés, todo
3 Voltei o rosto ao Senhor Deus, para O bus- este mal nos sobreveio; apesar disso, não temos
car com oração e súplicas, com jejum, pano de implorado o favor do SENHOR, nosso Deus , para
saco e cinza. nos convertermos das nossas iniquidades e nos
4 Orei ao SENHOR, meu Deus, confessei e aplicarmos à Tua verdade.
disse: ahl Senhor! Deus grande e temível, que 14 Por isso, o SENHOR cuidou em trazer sobre
guardas a aliança e a misericórdia para com os nós o mal e o fez vir sobre nós; pois justo é o
que Te amam e guardam os Teus mandamentos ; SENHOR, nosso Deus, em todas as Suas obras que
5 temos pecado e cometido iniquidades, proce- faz, pois não obedecemos à Sua voz.
demos perversamente e fomos rebeldes, apartan- 15 Na verdade , ó Senhor, nosso Deus, que ti-
do-nos dos Teus mandamentos e dos Teus juízos; raste o Teu povo da terra do Egito com mão pode-
6 e não demos ouvidos aos Teus servos , os rosa, e a Ti mesmo adquiriste renome, como hoje
profetas, que em Teu nome falaram aos nossos se vê, temos pecado e procedido perversamente.
reis, nossos príncipes e nossos pais, como tam- 16 Ó Senhor, segundo todas as Tuas justiças,
bém a todo o povo da terra. aparte-se a Tua ira e o Teu furor da Tua cidade
7 A Ti, ó Senhor, pertence a justiça, mas a de Jerusalém, do Teu santo monte, porquanto,
nós , o corar de vergonha, como hoje se vê; aos ho- por causa dos nossos pecados e por causa das ini-
mens de Judá, os moradores de Jerusalém, todo quidades de nossos pais, se tornaram Jerusalém
o Israel, quer os de perto, quer os de longe, em e o Teu povo opróbrio para todos os que estão
todas as terras por onde os tens lançado, por causa em redor de nós.
das suas transgressões que cometeram contra Ti. 17 Agora, pois, ó Deus nosso, ouve a oração
8 Ó SENHOR, a nós pertence o corar de ver- do Teu servo e as suas súplicas e sobre o Teu
gonha, aos nossos reis, aos nossos príncipes e santuário assolado faze resplandecer o rosto, por
aos nossos pais, porque temos pecado contra Ti. amor do Senhor.
9 Ao Senhor, nosso Deus, pertence a misericór- 18 Inclina, ó Deus meu, os ouvidos e ouve; abre
dia e o perdão, pois nos temos rebelado contra Ele os olhos e olha para a nossa desolação e para a cida-
lO e não obedecemos à voz do SENHOR, nosso de que é chamada pelo Teu nome, porque não lança-
~ ,._ Deus, para andarmos nas Suas leis, que nos deu mos as nossas súplicas perante a Tua face fiados em
por intermédio de Seus servos, os profetas. nossas justiças, mas em Tuas muitas misericórdias.
11 Sim, todo o Israel transgrediu a Tua lei, 19 Ó Senhor, ouve; ó Senhor, perdoa; ó
desviando-se, para não obedecer à Tua voz; por Senhor, atende-nos e age; não Te retardes, por
isso, a maldição e as imprecações que estão amor de Ti mesmo, ó Deus meu; porque a Tua ci-
escritas na Lei de Moisés, servo de Deus, se dade e o Teu povo são chamados pelo Teu nome.

933
9:1 C O M E NTÁRIO BÍ BLICO ADVENT ISTA

20 Fa lava eu ainda, e orava, e confessava o etern a, para se lar a visão e a profecia e pa ra ungi r
meu pecado e o pecado do meu povo de Israel, e o Santo dos Santos .
lançava a minha súplica perante a face do SE NHOH , 25 Sabe e entende : desde a saída da ordem
meu Deus, pelo monte santo do meu Deus. para restaurar e para edi fica r Jeru sa lém, até ao
21 Fa lava eu, digo, falava aind a na oração, Ungido, ao Príncipe, sete semanas e sessenta e
quando o homem Gabriel, que eu tinh a observa- duas semanas; as praças e as circun va lações se
do na minha visão ao princípio, veio rapidamente, reecl ificarão, mas em tempos angustiosos.
voando, e me tocou à hora do sacrifício da tarde. 26 Depois das sessenta e duas semanas , será
22 Ele queria instruir-me, fa lou comigo e disse: morto o Ungido e já não estará; e o povo de um
Daniel, agora, saí para Fazer-te entender o sentido. príncipe que há de vir destruirá a cidade e o sa n-
23 No princíp io das tu as súplicas, saiu a tuário, e o seu fim será num dilúvio, e até ao fim
ordem, e eu vim , para to dec lara r, porqu e és mui haverá guerra; desolações são determin adas .
amado; considera, pois, a coisa e entende a visão. 27 Ele fará firm e aliança com muitos, por
24 Setenta se manas estão deter mi nadas um a semana; na metade ela sema na, fará cessar
sobre o teu povo e sobre a tu a santa cidade, para o sacrifício e a oferta de manja res; sobre a asa das
fazer cessar a transgressão, para dar fim aos peca- abomi nações virá o assolador, até que a des trui -
dos, para expi ar a iniquidade, para traze r a justiça ção, que está determinada, se derrame sobre ele.

1. No primeiro ano de Dario. Sobre condicional de muitas promessas di vinas (ver


a identidade e d ata de Da rio, o medo, ver Jr 18 :7- 1O). Ele pode ter te mido qu e a impe-
N ota Adicion al a D a nie l 6 . É raro que o nitência de seu povo pudesse adia r o cump r i-
primeiro-ministro de um reino conq uistado mento da pro messa (ver Sa n , 48). Alé m disso,
seja apon tado como alto oficial pelo conquis- a visão de Daniel 8 prev ia m ais desolação do
tador, m as isso aconteceu com Daniel. Por santuário e da cidade . Sua falta de en te ndi-
ca usa de suas h abilidades e integridade, os menta da "visão da ta rde e da m anhã" (v. 26)
persas não o exec uta ram , e sim lhe deram deve tê-lo deixado profunda m e nte p erplexo.
um p os to elevado. 4. Orei. O s v. 4 a 19 registra m u ma das
2. Entendi, pelos livros. E mbora mais notáveis orações do AT. É uma oração
ocupado com os negócios do reino, o profe- e m favor do povo de Deu s, feita por um cora-
ta n ão parou de es tudar a Palavra de Deus. ção sincero.
Daniel, obvia m ente, estava perplexo qua n to Deus grande e temível. C ompa rar com
~ ~ a com o relacionar o que lhe fo ra revelado n a Ne 1:5; 9:32 . A pa lavra tradu zid a como "temí-
visão do cap. 8 aos eventos do futuro imedia- vel" (heb. n ora') s ig nific a "q ue inspira pavor"
to: o retorno dos judeu s no final dos 70 anos ou "reverenci ado" (ver com . de Sl111:9).
(Jr 29: 10; ver com . de Dn 9 :21). Que guardas a aliança. Daniel começa
Setenta anos . Sobre a data destes anos, su a oração reco nhecend o a fideli dade de
ver vo l. 3, p. 86, 87. Este período estava quase Deus. O Senh or nunca fa lha e m m a n ter
expirando. Não é de surpreender que a ate n- Suas promessas. E le é um Deu s que guarda
ção de Daniel estivesse voltada a esta profe- a alia nça. E le c umprirá Sua parte no acordo.
cia de tempo. Ele estava an sioso para qu e o Se a aliança falhar, a c ul pa é do se r huma no
Senhor libe rtasse Seu povo cativo. (ver Hb 8:8).
3. Para O buscar com oração. Embora Os que Te amam. O am o r a D e us e
o Senhor tivesse prometido libertar Seu povo a g ua rd a de Seu s m a n da m e ntos se mpre
no tempo indicado, Daniel sa bi a da natureza andam juntos. Aque les que a ma m a D e us

934
DANIEL 9:2 1

são admoestados a demonstrarem esse amor do cativeiro egípcio e baseia sua petição no
por meio da observância de Seus mandamen- grande ato de misericórdia do Senhor por
tos (Jo 14:15). Um requisito essencial acom- ocasião do êxodo .
panha o outro. O amor a Deus resultará na 16. Justiças. No hebraico, o substan-
obediência feliz e voluntária. A igreja verda- tivo está no plural, sugerindo, sem dúvida,
deira no fim dos tempos é distinguida pela os muitos atos de justiça realizados por Deus
guarda dos mandamentos (Ap 12:17). em favor de Seu povo. Daniel não apresenta
5. Temos pecado. Comparar com 1Rs se u p edido com base e m alguma bondade
8:47; SI 106:6. Daniel se identific a com seu do povo; para fundamentar sua petiç ão, ele
povo. Não há justiça própria em sua oração. cita as ações bondosas do Senhor para com
6. Os profetas. Sempre foi dever dos Israel no passado.
profetas despertar a atenção do povo para a Teu santo monte. Israel deveria ter sido
negligência para com os preceitos divinos , luz para o mundo todo (ver com. de 2Sm 22:44,
bem como dar instruções em caso de emer- 50; lRs 8:43; 2Rs 23:27), mas, devido à rebe-
gência. No entanto, a direção divina bon- lião obstinada, Jerusalém e Israel se torn aram ,. ~
dosamente proposta foi ignorada quase por objeto de escárnio entre as nações da terra.
completo. O pecado do povo não se devi a à 17. Santuário. A mente de Dani el
ignorância, mas à desobediênci a voluntária. estava centrada no santuário em Jerusalém .
7. Justiça. Daniel contrasta a justiça Durante os muitos anos de cativeiro, a cidade
de Deus com a injustiça de Israel. Em todo e o santuário permaneceram em ruínas, mas
Seu trato com a hum anidade em gera l e com o tempo pa ra a reconstrução estava próximo.
Israel, em particula r, Deus sempre mani- Faze resplandecer o rosto. Expressão
festou justiça. c ujo significado é "olhar com favor" (ve r
9. A misericórdia e o perdão. Lite- Nm 6:25).
ralmente, "compaixão e perdão". Apesar da 19. Retardes. Do heb. 'achar, "demo-
rebelião e da apostasia de Israel, Daniel per- rar", "hesitar". Daniel estava ansioso para que
maneceu confiante no Senhor que, por causa o livramento prometido não fosse adiado.
de Sua grande mi sericórdia, estava pronto a O Senhor Se alegra diante da súplica para
perdoar aqueles que fossem a Ele com o cora- se apressar a prometida salvação.
ção con trito. Confiantemente, Daniel roga a 21. Gabriel. Ver Dn 8:15, 16. Este é o
Deus pelo povo de Israel. Ele ressalta a com- mesmo ser que explicou as primeiras três
paixão divina em contraste com a pecami- partes da visão de Daniel 8. Ele voltou com
nosidade do povo. o propósito de completar a tarefa.
ll. A maldição. Moisés tinha predito Alguns co mentaristas não percebem a
que uma maldição cairia sobre todos que estreita conexão entre os cap. 8 e 9, nem a
voluntariamente fossem desobedientes à lei relação entre os 2.300 "dias" de Daniel 8: 14
de Deus (Lv 26: 14-41; Dt 28:15-68). Esse e as 70 "semanas" de Daniel 9:24. Contudo,
tratamento era merecido. o contexto requer precisamente essa rela-
Servo de Deus. Moises é chamado ção, como demonstram os seguintes dados:
assim (Dt 34:5; Js 1:13). l. Todos os símbolos da visão de Daniel
13. Como está escrito. Ver Dt 29 :21 , 27. 8:2 a 14 são explicados plenamente nos v. 15
14. Cuidou. Do heb. sh.aqad, que signi- a 26, com exceção dos 2.300 "dias" dos v. 13
fica "estar alerta", "estar desperto". e 14 (ver GC, 325). De fato, os v. 13 e 14 são
15. Que tiraste o Teu povo. Daniel explicados nos v. 24 e 25, exceto o elemento de
cita o grande livramento dos filhos de Israel tem.po envolvido. No v. 26, Gabriel menciona

93 5
9:21 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

o elemento de tempo, mas interrompe a expli- o problema do cap. 8 deixa claro, sem dúvida,
cação antes de dizer algo sobre isso. que Daniel tinha o problema em mente ao
2. Daniel sabia que os 70 anos de cati- orar. Ele pensava que a visão dos 2.300 "dias"
veiro preditos pelo profeta Jeremias estavam de desolação do santuário e de perseguição
quase no fim (Dn 9:2; ver vol. 3, p. 79-82, ao povo de Deus indicava que Deus adiaria
83-87; ver com. de Jr 25:11). a restauração (Dn 9:19).
3. Daniel não entendeu o período de 8. Em resposta a essa oração, Gabriel,
2.300 dias, a única parte da visão não expli- que tinha sido enviado para explicar a visão
cada até então (Dn 8:26); evidentemente, ele de Daniel 8 (v. 15-19), mas que ainda não
temia que indicasse uma extensão do cati- tinha concluído a explicação, saudou Daniel
veiro e a continuidade da desolação do san- com o anúncio: "Agora, saí, para fazer-te
tuário (ver Dn 9:19). Sabia que a promessa entender o sentido" (Dn 9:22).
de restauração dependia do arrependimento 9. A explicação de Daniel 9:24 a 27 é
sincero de Israel (ver p. 21; San, 48). claramente a resposta do Céu à oração de
4. A perspectiva de uma terrível per- Daniel (v. 23) e a solução do problema sobre
seguição durante o curso dos 2.300 "dias" o qual ele orava. Houve uma ordem original
(Dn 8:10-13, 23-25) era mais do que Daniel a Gabriel para explicar a visão a Daniel (8:16)
podia suportar e, em resultado, ele enfraque- e uma renovação dessa ordem no momento
ceu e esteve enfermo alguns dias (Dn 8:27; da oração de Daniel (9:23). Gabriel orienta <41 ~
GC, 325). Por isso, o anjo interrompeu a o profeta para que entenda e saiba o signi-
explicação da visão nesse momento. ficado da visão (8:17, 19) e usa expressões
5. Durante o intervalo que precedeu o semelhantes em Daniel 9:23.
retorno do anjo (Dn 9:21), Daniel se voltou lO. Foi dito a Daniel: "considera, pois, a
para as profecias de Jeremias em busca de coisa e entende a visão" (9:23), isto é, a visão
um claro entendimento do propósito divino que tinha tido "ao princípio" (v. 21). Isso só
no cativeiro (ver p . 18) principalmente com pode se referir à visão de Daniel 8:2 a 14,
respeito aos 70 anos (Dn 9:2). visto que nenhuma outra visão tinha sido
6. Concluindo que a transgressão de dada desde então. No entanto, Daniel já
Israel como nação era a causa do que ele tinha entendido a visão, exceto os 2.300 "dias"
evidentemente considerava ser uma exten- (comparar as palavras "dá a entender a este
são dos 70 anos, Daniel intercedeu com mais a visão" (8:16) com "entende a visão" (9:23).
fervor junto a Deus por perdão, pelo retorno 11. Sendo assim, o contexto esclarece,
dos exilados e pela restauração do santuá- sem deixar dúvidas, que a explicação de
rio desolado em Jerusalém (ver Dn 9:3-19). Daniel 9:24 a 27 é uma continuação que
Sua oração se encerra com uma reiteração do completa a explicação iniciada em Daniel
pedido para que Deus perdoasse os pecados 8:15 a 26, e que a fala de 9:24 a 27 trata
da nação e que não postergasse a restaura- exclusivamente da parte não explicada da
ção prometida (v. 19). visão, isto é, o fator tempo, os 2.300 "dias" de
7. A parte não explicada da visão do cap. 8 Daniel8:13 e 14. O anjo é Gabriel em ambos
previa que "o santuário e o exército" seriam os casos (8:16; 9:21), o tema é idêntico, e o
"pisados" (v. 13, 14, 24) por um período contexto torna evidente que a fala de Gabriel
de 2.300 "dias". Na oração, Daniel roga a em 9:24 retoma o fio da explicação no ponto
Deus que o tempo determinado para o cati- em que foi interrompida em Daniel 8:26.
veiro não se estendesse (ver v. 16-19). Uma Rapidamente. É consolador saber que
atenta comparação da oração do cap. 9 com o Céu está próximo da Terra. Sempre que

936
DAN IEL 9:24

Seus filhos precisam de ajuda e pedem por de dias". Setenta semanas de anos seria m
ela, o Senhor envia um anjo para atender 490 anos literais, sem necessidade de apli-
sem demora. car o princípio dia-ano (ver com. de Dn 7:25).
E me tocou. Do heb. naga', que pode sig- Estão determinadas. Do heb. chathah,
nific ar simplesmente "alcançou", ou "aproxi- palavra que ocorre só nesta passagem da
mou". Não fica claro o significado neste caso. Bíblia. Ela ocorre no hebraico pós-bíblico com
Sacrifício. Do heb. minchah. Na lei leví- o significado "cortar", "separar", "determinar",
tica, esta é a palavra comum para oferta de "decretar". A LXX diz hinõ, "decidir", "jul-
manjares. Uma oferta específica de flor de gar", etc. A versão de Teodócio diz suntenmõ,
farinha acompanhava o sacrifício da tarde e da "reduzir", "abreviar", etc., significado que se
manhã (ver Nm 28:3-8). Daniel orava na hora reflete na tradução da Vulgata, abbreviare.
em que se fazia a oferta da tarde, no templo. Deve-se determinar o mati z exato de signifi-
22. Entender. Sem dúvida, isto se refere cado a partir do contexto. Tendo em vista o
à visão mencionada em Daniel8:26 e 27, que fato de que Daniel 9 é uma apresentação da
"não havia quem entendesse" (8:27). Daniel parte não explicada da visão de Daniel8 (ver
não podi a entender a relação entre os 70 anos com. de Dn 9:3, 21-23), e visto que a parte
de cativeiro preditos por Jerem ias (Jr 29:10) e não explicada tinha a ver com os 2.300 "dias",
os 2.300 dias-anos que deviam se passar antes é lógico concluir que as 70 semanas, ou 490
da purificação do santuário. Ele se enfraque- anos, seriam "cortadas" desse período m ais
ceu quando o anjo lhe informou que a visão se longo. Além disso, na ausência de evidên-
referia "a dias ainda mui distantes" (Dn 8:26). cia contrária, pode-se supor que as 70 sema-
23. Entende a visão. Uma referência à nas seriam cortadas do início desse período.
"visão da tarde e da manhã" (Dn 8:26). Nas À luz dessas observações, a tradução de cha-
últimas pa lavras a Daniel, em sua visita ante- thah como "cortadas" parece singularmente
rior, Gabriel declarou que a visão das 2.300 apropriada. Visto que os 490 anos foram espe-
tardes e m anh ãs era "verdadeira". Assim, cialmente atribuídos aos judeus com respeito <41 ~
em Daniel 9:24, o instrutor divino retoma o ao seu papel como povo escolhido de Deus ,
assunto onde parou, em 8:26. as traduções "determinar" e "decretar" tam-
24. Setenta semanas. Esta expressão bém são apropriadas neste contexto.
parece uma introdução um tanto abrupta. Mas Teu povo. Os 490 anos se aplicava m em
o anjo tinha vindo com o propósito específico especial ao povo judeu.
de fazer com que Daniel entendesse a visão; Para fazer cessar. Do heb. lekalle', da
então, de imediato, começou a explicá-l a. raiz kela', "restringir". A passagem pode se
A palavra traduzida como "semanas", sha- referir ao poder res tritivo que Deus exerce-
vua', desc reve um período de sete dias con- ria sobre as forças do mal durante o período
secutivos (ver Gn 29:27; Dt 16:9; Dn 10:2). determinado aos judeus . No entanto, cerca
No pseudoepígrafo livro dos Jubileus , bem de 40 manuscritos heb raicos trazem lehalleh,
como na Mishnah, shavua' é usada para indi- forma que claramente vem de lzalah, "com-
car um período de sete anos. Aqui, eviden- pletar". Se kalah é a raiz, então é evidente
temente, se trata de semanas de anos e não que a passagem se refere ao fato de que , den-
semanas de dias, pois, em Daniel 10:2 e 3, tro desse período, os judeus completariam a
quando o profeta deseja especificar que as medida de sua iniquidade. Deus tinha supor-
"semanas" mencionadas são semanas de sete tado os israelitas por muito tempo, dado a
"dias", ele usa a expressão hebraica (shavua' eles muitas oportunidades, mas eles conti-
yamim) que significa, literalmente, "semana nuamente O desapontaram (ver p. 19, 20).

937
9:25 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

Para dar fim aos pecados. Esta frase Messias, no tempo especificado na profecia,
pode ter um significado paralelo à que a pre- garante que os outros aspectos da profecia,
cede, "cessar a transgressão". Alguns erudi- em particular os 2 .300 dias proféticos, se
tos observam que a palavra traduzida como cumprirão com a mesma exatidão.
"pecados" (do heb. chatta'oth ou chatta'th, de O Santo dos Santos. Do heb. qo-
acordo com alguns manuscritos e os mas- desh qodash-im, "algo ou alguém santíssi-
soretas) pode significar "pecados" ou "ofer- mo". A expressão em hebraico se aplica ao
tas pelo pecado". Das 290 ocorrências no altar (Êx 29:37; 40:10), a outros utensílios
AT, chatta'th significa "pecado" 155 vezes, e mobília do tabernáculo (Êx 30:29), ao in-
e "oferta pelo pecado" 135 vezes . Se "ofer- censo sagrado (Êx 30:36), a ofertas de man-
tas pelo pecado" é o significado pretendido, jares específicas (Lv 2:3 , 10; 6:17; 10:12),
sugere-se a seguinte interpretação: Quando, à oferta pela culpa (Lv 7:1, 6), ao pão da
no ca lvário, Cristo Se tornou o antítipo das proposição (Lv 24:5-9), a coisas consagra-
ofertas sacrificais do santuário, não era mais das (Lv 27:28), a todo o limite do templo
necessário que o pecador trouxesse sua (Nm 18:10; Ez 43:12) e ao Santo dos Santos
oferta (ver Jo 1:29). Porém, a forma plural (Êx 26:33, 34). Em nenhuma ocorrência a
chatta'oth quase sempre descreve pecados frase se aplica a pessoas, a menos, como su-
e, apenas uma vez, a menos que esta seja gerem alguns, que seja aplicada dessa forma
também uma exceção, indica ofertas pelo no texto em questão e em l Crônicas 23:13 .
pecado (Ne 10:33). Este último texto pode ser traduzido como:
Para expiar a iniquidade. Do heb. "Arão foi separado para ungi-lo como pessoa
lwfar, que em geral se traduz como "fazer santíssima", embora também possa ser tra-
expiação" (ver Êx 30:10; Lv 4:20; etc.). Por duzido como na ARA ("pa ra servir no Santo
meio de Seu sacrifício vicário no calvário, dos Santos"). Eruditos judeus e muitos co-
Cristo tornou possível a reconciliação de mentaristas cristãos defendem que a refe-
todos os que aceitam Seu sacrifício. rênci a é ao Messias.
Justiça eterna. Cristo não veio à Terra Tendo em vista que não se pode demons-
simplesme nte para fazer com que os peca- trar que a frase em hebraico se refira, e m
dos fossem apagados, mas para reconciliar a outros casos, definitivamente a uma pes-
humanidade com Deus. Ele veio para tornar soa, e visto que o santuário ce lestial está em
possível imputar e compartilhar Sua justiça questão nos aspectos mais amplos da visão
ao pecador penitente. Quando os seres huma- (ver com. de Dn 8:14), é razoável concluir que
nos O aceitam, E le lhes confere a veste de Daniel está falando da unção do santuário
Sua justiça, e eles ficam na presença de Deus celestia l antes do início do ministério sumo
como se nunca houvessem pecado (ver CC, sacerdotal de Cristo.
62). Deus ama os arrependidos e os crentes 25. Desde a saída da ordem. No
assim como a Seu único Filho e, por amor a tempo em que a visão foi dada , Jerusalém e
Cristo, os aceita em Sua família. Por meio de o templo ainda estavam em ruína s. O Céu
Sua vida, morte e ressurreição, Cristo dis- anuncia, então, que uma ordem seria dad a 4 ~
ponibilizou a justiça eterna a todo filho de para reconstruí-los e restaurá-los, e que , a
Adão que, com fé, se di spõe a aceitá-Lo. partir dessa data, passa ria um núm ero defi-
Para selar. Neste caso, evidentemente, nido de anos até o tão es perado Messias .
n ão no sentido de "fechar", mas de "con- No livro de Esdras, registram -se três
firmar" ou "ratificar". O cumprimento das decretos que tratam da repatriação elos
previsões re lacionad as à prim e ira vinda do judeus: o prim eiro, no primeiro ano de Ciro,

938
DANIEL 9:25

cerca de 537 a.C. (Ed l:l-4); o segundo, no como Christos, palavra que vem do verbo
reinado de Dario I, pouco depois de 520 chrio, "ungir", e, portanto, significa "um
(Ed 6:1-12); e o terceiro, no sétimo ano de ungido". O título "Cristo" é uma translitera-
Artaxerxes, 458/457 a.C. (Ed 7:1-26; ver mais ção de Christos. Na história posterior judaica,
informações no vol. 3, p. 87-95). o termo mashiach foi aplicado ao esperado
Nesses decretos, nem Ciro nem Dario Libertador que viria (ver Jo 1:41; 4:25, 26).
dispuseram medidas efetivas para a restau- Daniel predisse que o tão esperado
ração do estado civil como uma unidade Príncipe Messias surgiria num tempo espe-
completa, embora se tenha prometido uma cífico. Jesus Se referiu a esse tempo quando
restauração de ambos os governos religioso declarou: "o tempo está cumprido" (Me 1:15;
e civil na profecia de Daniel. O decreto do OTN, 233). Jesus foi ungido na ocasião de
sétimo ano de Artaxerxes foi o primeiro a Seu batismo, no outono de 27 d.C. (ver Lc
dar plena autonomia ao estado judeu, então 3:21, 22; At 10:38; cf. Lc 4:18).
sujeito ao domínio persa. Príncipe. Ver com. de Dn 11:22.
Um dos papiros de data dupla encon- Sete semanas e sessenta e duas se-
trados na colônia judaica de Elefantina, no manas. O método natural de se calcular
Egito (ver vol. 3, p. 94-99), foi escrito no ano estas semanas é considerá-las consecutivas,
da ascensão de Artaxerxes, em janeiro de isto é, as 62 semanas começam onde termi-
464 a.C. Esse é o único documento conhe- nam as sete semanas. Estas divisões com-
cido desse ano. Comparado com outros põem as 70 semanas mencionadas no v. 24
registros antigos, pode-se deduzir que, pelo dessa forma: 7 + 62 + 1 = 70 (sobre a últi-
cômputo judaico, o "início de seu reinado" ma semana, ver com. do v. 27).
ou "ano de ascensão" (vervol. 2, p. 121-123), Começando com o outono de 457 a.C.,
começou após o ano novo judaico de 465 a.C. quando o decreto entrou em vigor, 69 sema-
e terminou no ano novo seguinte, no outono nas proféticas, ou 483 anos, vão até o batismo
de 464. Portanto, seu "primeiro ano" (ou pri- de Jesus, em 27 d.C. Deve-se notar que, se os
meiro ano-calendário completo) teria sido do 483 anos tivessem sido computados desde o
outono de 464 ao outono de 463. O sétimo início de 457 a.C., teriam se estendido até o
ano de Artaxerxes, então, se estenderia do final de 26 d.C., pois 483 anos requerem 457
outono de 458 ao outono de 457. As especi- anos a.C. completos mais 26 anos d.C. com-
ficações do decreto não foram completadas pletos. Visto que o período começou muitos
até depois de Esdras ter voltado de Babilônia, meses depois do início de 457 a.C., ele ter-
o que aconteceu no último verão ou começo minaria o mesmo número de meses depois
do outono de 457 a.C. (sobre uma discussão do final de 26, isto é, em 27 d.C. Isso se
de Ed 7 e da exatidão histórica da data de deve ao fato de que os historiadores (dife-
457 a.C. como o sétimo ano de Artaxerxes, rentemente dos astrônomos) nunca contam
ver vol. 3, p. 91-95; para uma discussão com- o ano zero (ver vol. 1, p. 156). Alguns têm se
pleta do tema, ver S. H. Horn e L. H. Wood, perguntado como Cristo pode ter iniciado
The Chronology of Esdras 7 [ed. rev. 1970]). Sua obra em 27 d.C., se o registro diz que
Ungido. Do heb. mashiach, do verbo Ele tinha cerca de 30 anos quando começou
1nashach, "ungir". Portanto, Mashiach des- seu ministério público (Lc 3:23). Isso se deve
creve um "ungido", como o sumo sacerdote ao fato de que, quando a era cristã foi com-
(Lv 4:3, 5, 16), os reis de Israel (lSm 24:6, lO; putada pela primeira vez, houve um erro de
2Sm 19:21), Ciro (Is 45:1), etc. A versão grega cerca de quatro anos. É evidente que Cristo
de Teodócio traduz Mashiach, literalmente, não nasceu no ano 1 (um) da era cristã, visto

939
9:26 COM ENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

que, quando Ele nasceu, Herodes, o Grande, "sete semanas", ou 49 anos , pois afirmam
ainda era vivo, e Herodes morreu no ano 4 que representam o tempo durante o qual a
a.C. (ver Mt 2:13-20). construção das praças e das circunvalações
Alguns eruditos modernos dão uma estaria concluída. Porém, a informação his-
interpretação totalmente diferente des- tórica desse período é extremamente escassa.
~ .,_ ses períodos . O "messias" é identificado Pouco se sabe da condição de Jerusalém na
como Ciro, Zorobabel ou o su mo sacerdote época de Artaxerxes até Alexandre . O que
Josué (ver Ed 3:2; 3:1, 3; 6:11-13). A "ordem se pode saber com base na Bíblia e em fon-
para restaurar e para edificar" é conside- tes históricas é fragmentário.
rada por alguns como a ordem dada por Tempos angustiosos. Para uma breve
meio de Jeremias de que Jerusalém deve- história deste período, ver vol. 3, p. 59-65.
ria ser reconstruída (ver Jr 29:10). Tais eru- 26. Depois das sessenta e duas sema-
ditos acreditam que essa "ordem" entrou nas. A morte do Messias ocorreria não dentro
em vigor em 586 a.C., ano da destruição de deste período, mas depois de sua conclusão.
Jerusalém, e que as "sete semanas", ou 49 Esta expressão não pretende fixar o tempo exato
anos, se estendem até aproxim ada mente o quando ocorreriam os eventos calamitosos da
decreto de Ciro. Além disso, defendem que morte do Messias. Isso é feito no v. 27, em que
as 62 semanas, ou 434 anos, vão até a era o evento é localizado "na metade da semana".
dos macabeus. Entendem ainda a aliança da Morto. De acordo com esta declara-
70" semana como a união de Antíoco com os ção profética, o Messias não surgiria como
judeus apóstatas. Traduzem "na metade da os judeus O esperavam - um conquista-
semana" (Dn 9:27) como "meia semana" (ver dor e emancipador glorioso. Em vez disso,
com . de Dn 9:27) e aplicam a "meia semana" Ele teria um a morte violenta; seria "tirado"
à profanação do templo feita por Antíoco, de (ARC; sobre o significado deste termo como
168 a 165 a.C. (ver 1 Macabeus 1:54; 4:52, "matar", "destr uir", ver Gn 9:11).
53). Tradutores dessa escola de interpreta- Já não estará. Literalmente, "e nada
ção seguem outra pontuação em Daniel 9:25 para ele". O significado desta frase não está
para favorecer essa ideia. claro. Sugeriram-se muitos sentidos possí-
Como demonstrado acima, apenas uma veis, como "e não terá nada", "e não houve
distorção das cifras cronológicas permite quem o ajudasse".
que esses eruditos cheguem aos eventos que, E o povo. A tradução "e eles [os judeus)
segundo eles, cumprem os requisitos profé- não mais serão Seu povo", encontrada em algu-
ticos. Quando essas cifras são aplicadas a mas versões, não corresponde ao hebra ico.
Cristo, Seu ministério e Sua morte e ao evan- A cidade e o santuário. Prediz-se a des-
gelho aos judeus, tem-se um perfeito sincro- truição do templo e da cidade de Jerusa lém.
nismo (ver mais detalhes no com. de Dn 8:25). Isto se c umpriu pela mão dos romanos,
Praças. Do heb. rechov, "um lugar amplo". em 70 d.C. Os soldados romanos tomaram
Circunvalações. Do heb. charu.ts, usado tochas e as colocaram na parte de madeira no
com este sentido apenas nesta passagem do interior do templo, que foi logo demolido por
AT. No hebraico da Mishnah, significa "um completo. No lugar de "o povo de um príncipe
fosso". No acadiano, a palavra significa "fosso que há de vir", a LXX traz "o rei das nações".
da cidade". "Muro" é a tradução da versão Num dilúvio. Isto é, no sentido de ser
grega de Teodócio e da Vulgata. esmagador (ver Is 8:7, 8).
E [... ] se reedificarão. Alguns intérpre- Desolações são determinadas. A pas-
tes dão significado especial ao período das sagem pode ser traduzida, literalmente, como

940
DANIEL 9:27

"até o fim [haverá] guerras, uma determina- Também se deve notar que o cumpri-
ção de ruínas". mento das previsões da profecia com res-
27. Ele fará firme aliança com mui- peito às 70 semanas era para "selar a visão"
tos. "Ele" é o Messias dos versículos anterio- (v. 24), isto é, a visão do período mais longo
res. Essa interpretação do versículo faz das de 2.300 "dias" (ver com. do v. 21). O cum-
70 semanas, ou 490 anos, da profecia uma primento exato dos eventos preditos para a
unidade consistente e contínua. As decla- 70° semana, que tem a ver com o ministério
rações feitas encontram um único cumpri- e a crucifixão do Senhor, fornece evidência
mento no tempo do Messias. A confirmação incontestável da certeza dos eventos predi-
da aliança pode ser considerada como a con- tos para o final dos 2 .300 dias-anos.
tinuação da nação judaica como o povo esco- Na metade. Do heb. chatsi, palavra que
lhido de Deus no período mencionado. Por pode significar tanto "metade" (Êx 24:6; 25:10,
outro lado, a confirmação pode ser a da 17; etc.) como "meio" (Êx 27:5; 38:4; etc .),
aliança eterna (ver com. de Dn 11:28). sendo que o significado particular a ser atri-
Por uma semana. Esta semana, a 70°, buído em cada caso é determinado pelo con-
começou em 27 d.C., com o início do minis- texto. Várias versões mais modernas trazem
~ "' tério público de Cristo, na ocasião de Seu "meio". Essa tradução se baseia na suposição
batismo. Estendeu-se mais além da cruci- de que o contexto fala de Antíoco Epifânio,
fixão, "na metade da semana", na primavera que, por um período de cerca de três anos, sus-
de 31 d.C., até a rejeição dos judeus como pendeu os serviços do templo em Jerusalém.
povo da aliança, no outono de 34 d.C. Os Antíoco, porém, não se enquadra na cronolo-
490 anos contados desde 457 a.C . termi- gia profética. Ele não pode ser o tema dessa
nam em 34 d.C. (ver com. do v. 25, sobre o profecia. Como já se mostrou, os períodos pro-
método de cômputo). A "vinha" foi, então, féticos vão até a época do Messias, e o cum-
arrendada a "outros lavradores" (Mt 21:41; primento deve estar em Seus dias.
cf. Is 5:1-7; GC, 328, 410). Por cerca de três A metade da semana seria a tempo-
anos e meio, as autoridades em Jerusalém rada da Páscoa de 31 d.C., três anos e meio
toleraram a pregação dos apóstolos , mas, depois do batismo de Cristo, no outono de
finalmente, o rancor se traduziu no ape- 27 d.C. (sobre evidências quanto à duração
drejamento de Estevão, o primeiro mártir do ministério público de Cristo, ver com.
cristão, e na perseguição geral à igreja nas- de Mt 4: 12; para um estudo das palavras
cente. Até esse tempo, os apóstolos e outros "meio" e "metade", ver Problems in Bible
obreiros cristãos tinham aplicado seus esfor- Translation, p . 184-187) .
ços, em grande parte, nas imediações de Cessar. Os sacrifícios rituais tiveram
Jerusalém (ver At 1:8; 8: 1). seu cumprimento no sacrifício de Cristo.
Visto que as 70 semanas, ou 490 anos, A ruptura do véu do templo por uma mão
fazem parte de um período mais longo de invisível, no instante da morte de Cristo, foi
2.300 anos e, visto que os primeiros 490 o anúncio do Céu de que os sacrifícios e
anos do período se estendem até o outono oblações tinham terminado sua vigência (ver
de 34 d.C., é possível calcular a data final Mt 27:51).
dos 2.300 anos . Ao se acrescentar ao ano 34 Asa. O desolador é retratado de forma poé-
d.C. os 1.810 anos restantes dos 2.300 anos, tica como sendo levado sobre a asa das abo-
chega-se ao outono de 1844, como o tempo minações. Isso se refere, ao menos em parte,
em que o santuário celestial seria purificado aos horrores e atrocidades que a nação judaica
(ver com. de Dn 8:14). sofreu nas mãos dos romanos, em 70 d.C.

941
10:1 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

Assolador. Ou, "desolador". O próprio A destruição. Isto é, o fim do que havia de


desolador seria, finalmente, destruído (ver acontecer com a nação judaica. Triste é o destino
com. de Mt 23:38). daqueles que rejeitam a esperança de salvação.

COMENTÁRIOS DE ELLEN G. WHITE

1- PR, 556 17-19 - PR, 556 24- T7, 149


2- PR, 554 18- GC, 470 24, 25- DTN , 233; PR, 698
3-9- PR, 555 18, 19- San, 47 24-27 - GC, 323, 326, 351
4-6- San, 46 19 - T4, 534 25- DTN, 31, 98, 579;
5 - San, 48 20- GC, 470 GC, 313, 327, 345, 347;
5-7 - TS, 636 21- San, 48 PR, 556
15- GC, 470 22 , 23 - GC , 325 27 - DTN, 233; GC, 327;
16 - PR, 555 23- FEC, 87; PR, 555; PR,699 ·~
16, 17 - San, 48 TS, 635

CAPÍTULO 10
1 Depois de se humilhar, Daniel tem uma visão. 1O Afligido pelo
temor, ele é consolado pelo anjo.

l No terceiro ano de Ciro, rei da Pérsia, foi reve- caiu sobre eles grande temor, e fugiram e se
lada uma palavra a Daniel, cujo nome é Beltessazar; esconderam.
a palavra era verdadeira e envolvia grande conflito; 8 Fiquei , pois, eu só e contemplei esta gran-
ele entendeu a palavra e teve a inteligência da visão. de visão, e não restou força em mim ; o meu
2 Naqueles di as, eu, Daniel , pranteei duran- rosto mudou de cor e se desfigurou, e não reti-
te três semanas. ve força alguma .
3 Manjar desejável não comi, nem carne, nem 9 Contudo, ouvi a voz das Suas palavras; e,
vinho entraram na minha boca, nem me ungi ouvindo-a , caí sem sentidos, rosto em terra.
com óleo algum, até que passaram as três sema- lO Eis que certa mão me tocou, sacudiu-me
nas inteiras. e me pôs sobre os meus joelhos e as palmas das
4 No dia vinte e quatro do primeiro mês, es- minhas mãos.
tando eu à borda do grande rio Tigre, ll Ele me disse: Daniel, homem muito amado,
5 levantei os olhos e olhei, e eis um homem está atento às palavras que te vou dizer; levanta-te
vestido de linho, cujos ombros estavam cingidos sobre os pés, porque eis que te sou enviado. Ao falar
de ouro puro de Ufaz; ele comigo esta palavra, eu me pus em pé, tremendo.
6 o Seu corpo era como o berilo, o Seu rosto, 12 Então, me disse: Não temas, Daniel, por-
como um re lâmpago, os Seus olhos, como tochas que, desde o primeiro dia em que aplicaste o cora-
de fogo, os Seus braços e os Seus pés brilhavam ção a compreender e a humilhar-te perante o teu
como bronze polido; e a voz das Suas palavras era Deus, foram ouvidas as tuas palavras; e, por causa
como o estrondo de muita gente. das tuas palavras, é que e u vim.
7 Só eu, Daniel, tive aquela visão; os homens 13 Mas o príncipe do re ino da Pérsia me re-
que estavam comigo nada viram; não obstante, sistiu por vinte e um dias; porém Miguel, um dos

942
DANIEL 10:1

primeiros príncipes, veio para ajudar-me, e eu ob- não me resta já força alguma, nem fôlego ficou
tive vitória sobre os reis da Pérsia. em mim.
14 Agora, vim para fazer-te entender o que há 18 Então, me tornou a tocar aquele semelhan-
de suceder ao teu povo nos últimos dias; porque te a um homem e me fortaleceu;
a visão se refere a dias ainda distantes . 19 e disse: Não temas, homem muito amado!
15 Ao falar ele comigo estas palavras, dirigi Paz seja contigo! Sê forte, sê forte. Ao falar ele
o olhar para a terra e calei. comigo, fiquei fortalecido e disse: fala, meu se-
16 E eis que uma como semelhança dos fi- nhor, pois me fortaleceste .
lhos dos homens me tocou os lábios; então, passei 20 E ele disse: Sabes por que eu vim a ti? Eu
a falar e disse àquele que estava diante de mim : tornarei a pelejar contra o príncipe dos persas;
meu senhor, por causa da visão me sobrevieram e, saindo eu, eis que virá o príncipe da Grécia.
dores, e não me ficou força alguma . 21 Mas eu te declararei o que está expresso na
17 Como, pois, pode o servo do meu senhor escritura da verdade; e ninguém há que esteja ao meu
falar com o meu senhor? Porque, quanto a mim, lado contra aqueles, a não ser Miguel, vosso príncipe.

1. No terceiro ano de Ciro. Contado Babilônia, e os uniu sob seu governo para for-
a partir da queda de Babilônia, pela prima- mar o maior império já conhecido até então.
vera ou outono, o terceiro ano de Ciro seria Foi com tal monarca que Daniel e seu povo
em 536/535 a.C. (ver com. de Dn 10:4; e de tiveram que lidar, e com quem contenderam
Ed 1: 1). Ao que tudo indica, Daniel estava os poderes do Céu (Dn 10:13, 20).
próximo ao fim de sua vida (ver Dn 12:13), Uma palavra. Expressão singular usada
com cerca de 88 anos, se considerado que por Daniel para descrever sua quarta grande
tinha 18 quando foi levado cativo (ver T4, profecia (Dn 10- 12), que foi, aparentemente,
570), em 605 a.C. (ver com. de Dn 1:1). Daniel revelada sem uma representação simbólica
~ 11> 10:1 introduz a seção final do livro, e o cap. 10 prévia e sem qualquer alusão a símbolos
apresenta as circunstâncias que rodeavam (cf. Dn 7:16-24; 8:20-26). A palavra marah,
Daniel na ocasião de sua quarta grande profe- "visão", dos v. 7, 8 e 16, se refere simples-
cia, registrada nos cap. 11 e 12. A parte prin- mente à aparição dos dois seres celestiais que
cipal da narrativa profética começa em 11:12 visitaram Daniel, mencionados nos v. 5, 6,
e termina em 12:4. O restante do cap. 12 é e 10 a 12, respectivamente. Por isso, alguns
um tipo de epílogo da profecia (sobre a forma têm considerado que o quarto esboço profé-
de contar os anos partindo da primavera ou tico é uma explicação adicional, mais deta-
do outono, ver vol. 2, p. 93-95). lhada, de eventos retratados simbolicamente
Rei da Pérsia. Esta é a única profecia na "visão" de Daniel8:1 a 14. Desse modo, os
de Daniel datada com base no reinado de cap. 10 a 12 seriam interpretados com base
Ciro, que é chamado de "rei da Pérsia", o na visão dos cap. 8 e 9. Porém, a relação entre
que sugere que todo o império era gover- os cap. 10 a 12 e 8 e 9, de nenhum modo, é
nado pelos persas, em contraste com o título tão clara ou certa quanto a relação entre os
mais limitado "rei sobre o reino dos caldeus", cap. 8 e 9 (ver com. de Dn 9:21).
atribuído a Dario (Dn 9:1). Após surgir de Beltessazar. Ver com. de Dn 1:7.
uma relativa obscuridade como príncipe do Grande conflito. Do heb. tsava', cujo
pequeno país de Ansan, localizado nas mon- significado exato, neste caso, é duvidoso.
tanhas do Irã, Ciro derrotou sucessivamente, A frase traduz uma única palavra hebraica.
em poucos anos, os reinos da Média, Lídia e Tsava' ocorre cerca de 500 vezes no AT no

943
10:2 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

sentido de "exército", "hoste", "guerra" e "ser- não se cumprisse por causa dos falsos rela-
viço". Sua forma plural, tseva'oth, constitui tos enviados pelos samaritanos à corte da
parte do título divino "SENHOR, Deus dos Pérsia , na tentativa de interromper as obras -4 ~
Exércitos". Visto que todas as outras vezes de reconstrução. O fato significativo de que,
que se usa esta palavra aparentemente, têm a durante essas três semanas, o a njo esteve
ver com exército ou guerra, ou serviço pesado, lutando para influenciar Ciro (v. 12, 13)
essas definições devam ser usadas aqui , como indica que estava em jogo uma decisão vital
o fazem as versões portuguesas (a KJV tra- do rei . Enquanto orava por mais esclareci-
duz o termo aqui por "tempo determinado", mento a respeito dos temas que ainda não
assim como em Jó 7:1; e 14:14). Este texto de tinham sido explicados em visões anteriores,
Daniel parece enfatizar uma intensidade de sem dúvida, o profeta passou a outro período
luta, em vez de um período de tempo extenso. de intercessão intensa (ver Dn 9:3-19) para
Ele entendeu. Em contraste com as que a obra do adversário fosse detida e as
três outras visões (Dn 2; 7; 8-9), que foram promessas divinas de restauração pudessem
expressas em linguagem simbólica, esta se cumprir em favor do povo escolhido.
revelação final foi dada em grande parte em 3. Manjar desejável. Durante o jejum
linguagem literal. O anjo afirmou especifi- de Daniel, ele comeu apenas alimento sim-
camente que tinha vindo para fazer Daniel ples, o suficiente para manter sua força .
"entender o que há de suceder ao teu povo Nem me ungi. O uso de óleos para sua-
nos últimos dias" (Dn 10:14). Esse é o tema vizar a pele era muito comum entre os povos
dos cap. 11 e 12. Só no final desta visão (Dn antigos, principalmente entre os que viviam
12:8) é que Daniel tem uma revelação sobre a em países onde o clima era muito quente e
qual confessa: "eu ouvi, porém não entendi ". seco. Durante o período de jejum e oração,
2. Pranteei. Daniel não afirma especifi- o profeta achou conveniente se abster desse
camente o motivo para o pranto, mas pode- luxo pessoal.
se ter um indício nos eventos que estavam 4. No dia vinte e quatro. Esta é a
ocorrendo entre os judeus da Palestina nessa única data no livro de Daniel em que se
época. Evidentemente, foi uma crise séria menciona o dia exato de um mês. É claro
que resultou nas três semanas de pranto de que nada se diz quanto a se o cômputo foi
Daniel. Foi, provavelmente, por volta dessa feito com base no calendário persa-babilô-
época que surgiu oposição por parte dos nico (que pode ter sido usado por Ezequiel,
samaritanos contra os judeus, que sob as contemporâneo de Daniel) , ou de acordo
ordens de Zorobabel, tinham recém-retor- com o calendário judaico (usado mais tarde
nado do exílio (E d 4:1-5 ; ver PR, 571, 572). por Esdras e Neemias). Se a data dada por
Se os eventos des te capítulo ocorreram antes Daniel se baseia no calendário pers a-babilô-
ou depois de os judeus terem de fato lançado nico (em que o ano começa na primavera),
a pedra fundam ental do templo (Ed 3:8-10) o primeiro mês do terceiro ano de Ciro teria
depende de diferentes interpretações da cro- sido em março/a bril de 536 a.C. Se, por outro
nologia desse período (ver vol. 3, p. 88), e lado, Daniel fez a contagem pelo método
da possibilidade de Daniel ter usado uma judaico (em que o ano se iniciava no outono),
contagem diferente da que os judeus usa- o primeiro mês do terceiro ano de Ciro teria
vam na Palestina naquela época de transi- sido 12 meses mais tarde e corresponderia a
ção. O período de pranto de Daniel parece março/abril de 535 a.C. (para uma explicação
ter sido concomitante com a séria ameaça das diferenças entre os calendários babilô-
de que, depois de tudo, o decreto de Ciro nico e judaico, ver vol. 2, p. 96-106).

944
DANIEL 10:13

Visto que as três semanas de jejum de Dn 8:18; Jn 1:5, 6. Aqui parece significar
Daniel terminaram no dia 24 do primeiro "estar assombrado".
mês, elas devem ter começado no quarto dia, 10. Mão me tocou. Comparar com Ez
e assim seu jejum se estendeu pela Páscoa. 2:2; 3:24; Ap 1:17. É evidente que esta mão
Mas não se sabe até que ponto se observava é de Gabriel (PR, 571, 572).
essa festa no cativeiro. E me pôs sobre os meus joelhos. Do
Tigre. Este substantivo hebraico repre- heb. nua'. Na forma usada aqui, nua' signi-
senta o acadiano Idiqlat e o antigo persa Tigrã, fica, literalmente, "fazer tremer", "camba-
que passou para as línguas modernas como lear". Embora Daniel tenha sido levantado
"Tigre". Este é o menor dos dois grandes rios de sua prostração, a força que lhe restava
da Mesopotâmia. Menciona-se um rio com o não era suficiente para que não tremesse.
mesmo nome em Gênesis 2:14. Contudo, ali 11. Muito amado. Do heb. chmnu-
a referência é a um rio antediluviano. Não se dhoth, traduzido como "desejável", no v. 3. ~ ~
afirma com precisão onde, no Tigre, aconte- Esta foi a segunda vez que a Daniel assegu-
ceu o evento narrado em seguida. rou-se o amor de Deus (ver Dn 9:23).
5. Um homem. O Ser celestial apareceu 12. Não temas. Comparar com Ap 1:17.
em forma humana (ver Gn 18:2; Dn 7:13; Ap Sem dúvida, estas palavras encorajaram o pro-
1:13). A descrição se assemelha à que João feta pessoalmente na presença do anjo, pois
fez quando Cristo Se revelou a ele. De fato, ele se pôs "em pé, tremendo" (v. 11); e tam-
foi o mesmo Ser que apareceu a Daniel (ver bém reasseguraram a Daniel que, embora ele
San, 50; CC, 470, 471). tivesse orado por três semanas sem resposta
Ufaz. Não se sabe a localização de Ufaz. aparente, desde o princípio, Deus tinha ouvido
O nome ocorre apenas nesta passagem e em sua súplica e enviou o anjo para lhe atender.
Jeremias 10:9, em que Ufaz é novamente Daniel não precisava temer por seu povo, pois
identificada como rica em ouro. Alguns suge- Deus o tinha ouvido e estava no controle.
rem que é o mesmo que Ofir, famosa por seu 13. Príncipe. Do heb. sar, palavra que
ouro (ver 1Rs 9:28). Isso não é impossível. Os ocorre 420 vezes no AT, mas nunca com o sig-
nomes Ufaz e Ofir são semelhantes quando nificado de "rei". Ela se refere aos principais
escritos em caracteres hebraicos. servos de um rei (Gn 40:2, traduzida como
6. Berilo. Do heb. tarshish, indicando "chefe"), a governadores locais (lRs 22:26,
talvez o lugar no qual o produto era obtido. "governador"), aos subordinados de Moisés
Tochas de fogo. Comparar com Ap 1:14. (Êx 18:21, "chefes"), aos nobres e ofici ai s
Bronze polido. Comparar com Ap 1:15. de Israel (lCr 22:17; Jr 34:21, "príncipes")
7. Só eu, Daniel, tive aquela visão. e, principalmente, a comandantes milita-
A revelação foi dada apenas ao servo escolhido res (lRs 1:25; 1Cr 12:21, "capitães"). Com
do Senhor. Contudo, a presença de um ser ce- este último sentido, ela ocorre na expres-
lestial foi sentida por aqueles que estavam com são sar hatsava', "comandante do exército"
o profeta (comparar com a experiência de Saulo (a mesma expressão traduzida como "prín-
e seus companheiros, em At 9:3-7; 22:6-9). cipe do exército", em Dn 8:11), numa dos
8. Não restou força. Comparar com óstracos de Laquis, uma carta escrita por
Ap 1: 17; sobre o estado físico dos profetas um oficial judeu ao seu superior, provavel-
em visão, ver F. O. Nicho!, Ellen G. White mente no momento da conquista de Judá por
and Her Critics, p. 51-61. Nabucodonosor, em 588-586 a.C., na época
9. Sem sentidos. Do heb. radham, pala- em que Daniel já estava em Babilônia (ver
vra que ocorre também em Jz 4:21; SI 76:6; vol. 2, p. 81, 82; ver Jr 34:7).

945
lO: 13 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

O ser celestial que apareceu a Josué, em profundo" do plano da redenção, que era "rei-
Jericó, é chamado de "o príncipe [heb. sar] do vindicar o caráter de Deus perante o universo".
exército do SENHOR" (Js 5:14, 15). Daniel usa E que, "perante todo o universo, [a morte de
esta palavra com frequência para se referir a Cristo] justificaria a Deus e Seu Filho, em Seu
seres sobrenaturais (Dn 8:11, 25; 10:13, 21; trato com a rebelião de Satanás" (PP, 68, 69;
12:1). Com base nessas observações, alguns cf. DTN, 625). "Todavia, Satanás não foi então
conjecturam que sar indica um ser sobre- destruído [na morte de Cristo]. Os anjos não
natural que, naquele tempo, se opunha aos perceberam, nem mesmo aí, tudo quanto se
anjos de Deus e que estava tentando dirigir achava envolvido no grande conflito. Os prin-
as resoluções do reino da Pérsia contra os cípios em jogo deviam ser mais plenamente
interesses do povo de Deus. Satanás sempre revelados" (DTN, 761; ver com. de Dn 4:17).
esteve ansioso por se declarar príncipe deste A fim de refutar a declaração de Satanás
mundo. A questão básica era o bem-estar do de que Deus é um tirano, o Pai celestial con-
povo de Deus em luta contra seus vizinhos siderou conveniente reter Sua mão e per-
pagãos. Visto que Miguel é declarado como mitir ao adversário uma oportunidade de
"príncipe [sar], o defensor dos filhos do teu demonstrar seus métodos e buscar ganhar
povo" (Dn 12:1), não parece irrazoável consi- homens para sua causa. Deus não força a
derar o "príncipe do reino da Pérsia" como um vontade das pessoas. Ele permite a Satanás
falso "anjo guardião" desse reino, um perten- um grau de liberdade , enquanto, por meio
cente às hostes do adversário. Está claro que de Seu Espírito e Seus a njos , insta com os
o conflito era contra os poderes das trevas: seres humanos para que resistam o mal e -<~ ~
"Durante três semanas Gabriel se empenhou sigam o bem. Dessa form a, Deus demonstra
em luta com os poderes das trevas, procurando ao universo expectante que Ele é um Deus
conter as influências em operação na mente de de amor, e não o que Satanás O acusa de ser.
Ciro. [.. .] Tudo que o Céu podia fazer em favor Foi por essa razão que a oração de Daniel
do povo de Deus foi feito. A vitória foi final- não foi respondida de imediato. A resposta
mente ganha ; as forças do inimigo foram con- se demorou até que o rei da Pérsia escolheu
tidas todos os dias de Ciro e todos os dias de o bem , por sua própria vontade.
seu filho Cambises" (PR, 572). Aqui se revela a verdadeira filosofia da
Por outro lado , sar pode ser usado no história . Deus estabeleceu o objetivo último,
sentido comum de "governante" e, nesse que certamente será alcançado. Por meio de
sentido, se referiria a Ciro, rei da Pérsia. Seu Espírito, Ele trabalha no coração do ser
Compreendida dessa form a, veem-se os anjos humano para que coopere com Ele a fim de
do Céu lutando com o rei, para que desse um que o objetivo seja alcançado. No enta nto, a
vereditu favorável aos judeus. decisão sobre qu al caminho deve seguir está
Mas o príncipe [...] me resistiu. O pro- totalmente nas mãos de cada um . Assim, os
feta dá um vislumbre da grande luta entre eventos da história são influenciados pela
as forças do bem e do mal. Pode-se pergun- ação de agentes sobrenaturais e pela livre
tar: por que o Senhor permitiu que os pode- escolha humana. O resultado final , porém,
res do mal lutassem pelo controle da mente vem de Deus. Neste capítulo, como talvez
de Ciro por 21 dias, enquanto Daniel con- em nenhum outro na Bíblia, se descortinao
tinuava em pranto e súplica? Essa pergunta véu que separa o Céu da Terra, e é revelada
deve ser respondida tendo-se em mente o a luta entre os poderes da lu z e das trevas.
fato de que esses eventos devem ser enten- Miguel. Do heb. Milw'el, literalmente,
didos à luz do "propósito ainda mais vasto e "quem [é] como Deus?" Ele é descrito como

946
DANIEL 10:14

"um dos príncipes principais [heb. sarim]". de Ciro" (ver PR, 572). Quando Miguel, o
Mais tarde , Ele é descrito como o protetor Filho de Deus, entrou na luta, os poderes
particular de Israel (Dn 12:1). Sua identidade do Céu obtiveram vitória, e o mal foi for-
não é definida de forma definitiva, mas çado a recuar. A palavra traduzida como
uma comparação com outras passagens O "fiquei" (ARC) também é usada no sen -
identifica com Cristo. Judas 9 o chama de tido de "permanecer" quando outros se
"o arcanjo". De acordo com I Tessalonicenses foram ou se distanciaram. Assim, usa-se
4:16, a "voz do arcanjo" está associada à res- esse verbo no caso de Jacó, quando perma-
surreição dos santos, na segunda vinda de neceu no ribeiro de Jaboque (Gn 32:24), e
Jesus. Cristo declarou que os mortos se dos pagãos, que Israel permitiu que perma-
levantarão de seus túmulos quando ouvirem necessem no país (IRs 9:20, 21). Também
a voz do Filho do Homem ()o 5:28). Portanto, é a palavra usada por Elias para se referir
parece claro que Miguel é o próprio Senhor a si mesmo quando acreditou que todos
Jesus (ver PE, 164; cf. DTN, 421). os demais tinham se desviado da adoração
Miguel, como o nome de um ser celestial, verdadeira a Yahweh: "e eu fiquei só" (IRs
ocorre na Bíblia apenas em passagens apo- 19:10, 14). Na forma como o anjo usou essa
calípticas (Dn 10:13, 21; 12:1; Jd 9; Ap 12:7), palavra, poderia significar que, com a vinda
em casos em que Cristo está em conflito de Miguel, o anjo mal foi forçado a se reti-
direto com Satanás. O nome em hebraico, rar, e o anjo de Deus ficou "ali com os reis
cujo significado é "quem é como Deus?", da Pérsia". "A vitória foi finalmente ganha; as
é tanto uma pergunta quanto um desafio. forças do inimigo foram contidas" (PR, 572).
Tendo em vista que a rebelião de Satanás Duas traduções que sugerem essa mesm a
é basicamente uma tentativa de se colo- ideia são as de Lutero: "ali ganhei a vitó -
car no trono de Deus e ser "semelhante ao ria com os reis da Pérsia", e Knox: "a ali, na
Altíssimo" (Is 14:14), o nome Miguel é muito corte da Pérsia, me tornei dono do campo".
apropriado para Aquele que assumiu a tarefa Reis da Pérsia. Dois manuscritos
de vindicar o caráter de Deus e refutar as hebraicos dizem "reino da Pérsia". As ver-
pretensões de Satanás. sões antigas dizem "rei da Pérsia".
Eu obtive vitória. A ARC diz "eu fiquei 14. Nos últimos dias. Do heb. be'acharith
ali". A LXX, seguida por Teodócio, diz: "e hayyami1n, "na última parte [ou fim] dos dias".
eu o [Miguel] deixei ali". Essa tradução é Esta é uma expressão usada com frequência
adotada por várias versões modernas , sem na profecia bíblica , que aponta para a parte -c ~
dúvida, porque não pareceu claro por que o final de um dado período da história ao qual
anjo diria que ele foi deixado (ver ARC) com o profeta se refere. Jacó usou o termo "dias
os reis da Pérsia quando Miguel tinha vindo vindouros" com referência à sorte final de
em seu auxílio. Essa tradução pode se com- cada uma das doze tribos na terra de Canaã
parar com a declaração: "Porém, Miguel veio (Gn 49:1); Balaão aplicou o termo ao primeiro
em seu auxílio e, então, permaneceu com advento de Cristo (Nm 24:14); Moisés o usou
os reis da Pérsia" (Ellen G. White, Material num sentido geral com respeito ao futuro
Suplementar sobre Dn 10:12, 13). distante, quando Israel sofreria tribulação
Alguns veem outro significado pos- (Dt 4:30). A expressão pode se referir, e com
sível no texto hebraico. A lut a descrita frequência o faz, diretamente aos eventos
era basicamente entre os anjos de Deus finais da história (ver com. de Is 2:2).
e "os poderes das trevas, procurando con- Dias ainda distantes. No texto
ter as influências em operação na mente hebraico, não há a palavra "muito" (ARC).

947
lO: 16 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

A palavra "dias", neste caso, parece ter o persas". Esdras 4:4 a 24 mostra que essa luta
mesmo significado que o da frase anterior. continuou até bem depois do tempo da visão
O anjo veio para dizer a Daniel o que acon- de Daniel. "As forças do inimigo foram con-
teceria com os santos ao longo dos séculos, tidas todos os dias de Ciro, e todos os dias de
até a segunda vinda de Cristo. A ênfase desta seu filho Cambises, que reinou cerca de sete
frase final do versículo não é tanto sobre o anos e meio" (PR, 572).
quanto está distante o tempo em perspectiva, Príncipe da Grécia. A palavra hebraica
mas sobre o fato de que o Senhor ainda tem aqui para "príncipe", sar, é a mesma empre-
mais verdades a transmitir a Daniel em visão. gada antes (ver com. do v. 13). O anjo falou
Literalmente, este versículo diz: "e eu vim a Daniel que voltaria para continuar a luta
para fazer-te entender o que acontecerá a seu contra os poderes das trevas que conten-
povo na última parte dos dias, pois ainda há diam pelo controle da mente do rei da Pérsia.
uma visão para os dias". Então, ele olhou mais adiante para o futuro
16. Como semelhança. Gabriel velou e indicou que, quando finalmente pudesse
seu brilho e apareceu em forma humana se retirar da luta, haveria uma revolução
(ver San, 52). nas questões do mundo. Enquanto o anjo
Da visão. Alguns comentaristas consi- de Deus conteve as forças do mal que bus-
deram que Daniel aqui se refere à visão dos cavam dominar o governo persa, esse império
cap. 8 e 9; outros creem que foi a revelação se manteve . Mas, quando a influência divina
deste momento que o afligiu tanto. Em vista se retirou e o controle dos líderes da nação
de que o termo "visão", em ambos os v. l e foi deixado inteiramente aos poderes das tre-
14, parece se aplicar à revelação dos cap. lO vas, logo veio a ruína do império. Liderados
a 12, e também porque esta declaração de por Alexandre, os exércitos da Grécia arra-
Daniel é uma continuação lógica de sua saram o mundo e rapidamente extermina-
reação (v. 15) à declaração do anjo sobre "a ram o império persa.
visão" (v. 14), parece razoável concluir que A verdade declarada pelo anjo, neste ver-
o profeta está falando da visão que estava sículo, esclarece a revelação que se segue.
tendo da glória divina. A profecia dada em seguida, um registro de
19. Muito amado. Ver com. do v. ll. guerra após guerra, assume mais relevân-
20. Contra o príncipe. Pode-se enten- cia quando entendida à luz do que o anjo
der que o anjo lutaria "ao lado" do príncipe da acaba de dizer. Enquanto os seres humanos
Pérsia ou que lutaria "contra" ele. As versões lutam entre si pelo poder terreno, por trás das
gregas também são ambíguas. A preposição cenas, e oculta aos olhos humanos, ocorre
meta, "com", que se usa em grego, pode indi- uma luta ainda maior, da qual os altos e bai-
car aliança (como em lJo l :3) ou hostilidade xos dos acontecimentos terrenos são apenas
(como em Ap 2: 16). Porém, o hebraico desta um reflexo (ver Ed, 173). Assim como se mos-
passagem parece indicar claramente seu sig- tra que o povo de Deus é preservado ao longo
nificado. O verbo lacham, "lutar", é usado de sua história turbulenta, registrada profe-
28 vezes no AT, seguido, como aqui, pela ticamente por Daniel, é certo que, na luta · ~
preposição 'im, "com". Nesses casos, o con- maior, as legiões de luz terão vitória sobre
texto indica claramente que a palavra deve os poderes das trevas.
ser considerada no sentido de "contra" (ver 21. Expresso. Do heb. rasham, "inscre-
Dt 20:4; 2Rs 13:12; Jr 41:12; Dn ll:ll). Por- ver", "anotar".
tanto, parece certo que o anjo está falando de Escritura. Do heb . kethav, literal-
um conflito posterior entre ele e o "príncipe dos mente, "uma escrita", do verbo lwthav,

948
DANIEL 11:1

escrever". Os planos e propósitos eternos interessado" (PR, 571). O significado prová-


de Deus se apresentam como se estivessem vel da passagem é que Miguel e Gabriel assu-
registrados (ver Sl139:16; At 17:26; vertam- miram a obra especial de contender com as
bém com. de Dn 4:17). hostes de Satanás, que tentavam assumir o
Ninguém há que esteja ao meu lado. controle dos impérios desta terra.
Esta frase também pode ser traduzida como: Vosso príncipe. O fato de se falar espe-
"não há quem se esforce". Não se pode con- cificamente de Miguel como vosso príncipe,
siderar que isso signifique que ninguém se O coloca em contraste marcante com o "prín-
preocupava com a luta, com exceção dos cipe dos persas" (v. 13, 20) e "o príncipe da
dois seres celestiais mencionados aqui. "Era Grécia" (v. 20). Miguel foi o vitorioso ao lado
uma controvérsia na qual todo o Céu estava de Deus nesse grande conflito.

COMENTÁRIOS DE ELLEN G. WHITE

1- T6, 406 8 - OTN, 246; GC, 471 ; 13 - PR, 572


2-6 - San, 49 MDC , 15; CC, 29 15, 16, 19-San, 51
7, 8 - San, 50 11- GC, 470 21- OTN, 99
11 -13 - San, 51

CAPÍTULO 11
1 A derrota da Pérsia pelo reino da Grécia . 5 Alianças e conflitos entre
os reis do Sul e do Norte. 30 A invasão e a tirania dos romanos.

l Mas eu , no primeiro ano de Dario, o medo, 6 Mas, ao cabo de anos, eles se aliarão um
me levantei para o fortalecer e animar. com o outro; a filha do rei do Sul casará com o
2 Agora, eu te declararei a verdade: eis que rei do Norte, para estabelecer a concórdia; ela,
ainda três reis se levantarão na Pérsia, e o quarto porém, não conservará a força do seu braço, e
será cumulado de grandes riquezas mais do que ele não permanecerá, nem o seu braço, porque
todos; e, tornado forte por suas riquezas, empre- ela será entregue, e bem assi m os que a trouxe-
gará tudo contra o reino da Grécia. ram, e seu pai , e o que a tomou por sua naque-
3 Depois, se levantará um rei poderoso, que les tempos.
reinará com grande domínio e fará o que lhe 7 Mas, de um renovo da linhagem dela, um
aprouver. se levantará em seu lugar, e ava nçará contra o
4 Mas, no auge, o seu reino será quebrado e exército do rei do Norte, e entrará na sua forta-
repartido para os quatro ventos do céu; mas não leza, e agirá contra eles, e prevalecerá.
para a sua posteridade, nem tampouco segun- 8 Também aos seus deuses com a multidão
do o poder com que reinou, porque o seu reino das suas imagens fundidas, com os seus obje-
será arrancado e passará a outros fora de seus tos preciosos de prata e ouro levará como despo-
descendentes. jo para o Egito; por alguns anos, ele deixa rá em
5 O rei do Sul será forte , como também um paz o rei do Norte.
de seus príncipes; este será mais forte do que ele, 9 Mas, depois, este avançará contra o reino
e reinará , e será grande o seu domínio. do rei do Sul e tornará para a sua terra.

949
ll:l COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

lO Os seus filhos farão guerra e reunirão 22 As forças inundantes serão arrasadas de


numerosas forças ; um deles virá apressadamen- diante dele; serão quebrantadas, como também
te, arrasará tudo e passará adiante; e, voltando o Príncipe da aliança.
~ .,_ à guerra, a levará até à fortaleza do rei do Sul. 23 Apesar da aliança com ele, usará de en-
ll Então, este se exasperará, sairá e peleja- gano; subirá e se tornará forte com pouca gente.
rá contra ele, contra o rei do Norte; este porá em 24 Virá também caladamente aos lugares
campo grande multidão, mas a sua multidão será mais férteis da província e fará o que nunca fi-
entregue nas mãos daquele. zeram seus pais, nem os pais de seus pais: repar-
12 A multidão será levada, e o coração dele tirá entre eles a presa, os despojos e os bens; e
se exaltará; ele derribará miríades, porém não maquinará os seus projetos contra as fortalezas,
prevalecerá. mas por certo tempo.
l3 Porque o rei do Norte tornará, e porá em 25 Suscitará a sua força e o seu ânimo con-
campo multidão maior do que a primeira, e, ao tra o rei do Sul, à frente de grande exército; o rei
cabo de tempos, isto é, de anos, virá à pressa com do Sul sairá à batalha com grande e mui podero-
grande exército e abundantes provisões. so exército, mas não prevalecerá, porque maqui-
14 Naqueles tempos , se levantarão muitos narão projetos contra ele.
contra o rei do Sul; também os dados à violência 26 Os que comerem os seus manjares o des-
dentre o teu povo se levantarão para cumprirem truirão, e o exército dele será arrasado, e muitos
a profecia, mas cairão. cairão traspassados.
15 O rei do Norte virá, levantará baluartes e 27 Também estes dois reis se empenharão
tomará cidades fortificadas; os braços do Sul não em fa zer o mal e a uma só mesa falarão menti-
poderão resistir, nem o seu povo escolhido, pois ras; porém isso não prosperará, porque o fim virá
não haverá força para resistir. no tempo determinado.
16 O que, pois, vier contra ele fará o que bem 28 Então, o homem vil tornará para a sua
quiser, e ninguém poderá resistir a ele; estará na terra com grande riqueza, e o seu coração será
terra gloriosa, e tudo estará em suas mãos . contra a santa aliança; ele fará o que lhe aprou-
17 Resolverá vir com a força de todo o seu ver e tornará para a sua terra.
reino, e entrará em acordo com ele, e lhe dará 29 No tempo determinado, tornará a avan-
uma jovem em casamento, para destruir o seu çar contra o Sul; mas não será nesta última vez
reino; isto, porém, não vingará, nem será para a como foi na primeira,
sua vantagem. 30 porque virão contra ele navios de Quitim,
18 Depois, se voltará para as terras do mar que lhe causarão tristeza ; voltará, e se indigna-
e tomará muitas; mas um príncipe fará cessar- rá contra a santa aliança, e fará o que lhe aprou-
lhe o opróbrio e ainda fará recair este opróbrio ver; e, tendo voltado, atenderá aos que tiverem
sobre aquele. desamparado a santa aliança.
19 Então, voltará para as fortalezas da sua pró- 31 Dele sairão forças que profanarão o san-
pria terra; mas tropeçará, e cairá, e não será achado. tuário, a fortaleza nossa, e tirarão o sacrifício diá-
20 Levantar-se-á, depois, em lugar dele, um rio, estabelecendo a abominação desoladora.
que fará passar um exator pela terra mais glorio- 32 Aos violadores da aliança, ele, com lison-
sa do seu reino; mas, em poucos dias, será des- jas, perverterá, mas o povo que conhece ao seu
truído, e isto sem ira nem batalha. Deus se tornará forte e ativo.
21 Depois, se levantará em seu lugar um 33 Os sábios entre o povo ensinarão a muitos;
homem vil, ao qual não tinham dado a digni- todavia, cairão pela espada e pelo fogo, pelo cati-
dade real; mas ele virá caladamente e tomará o veiro e pelo roubo, por algum tempo.
reino, com intrigas . 34 Ao caírem eles , serão ajudados com

950
DANIEL 11:2

pequeno socorro; mas muitos se ajuntarão a eles fá-los-á reinar sobre muitos , e lhes repartirá a
com lisonjas. terra por prêmio.
35 Alguns dos sábios cairão para serem pro- 40 No tempo do fim, o rei do Sul lutará com
vados, purificados e embranquecidos, até ao ele, e o rei do Norte arremeterá contra ele com
~ .,. t empo do fim, porque se dará ainda no tempo carros, cavaleiros e com muitos navios, e entrará
determinado. nas suas terras , e as inundará, e passará.
36 Este rei fará segundo a sua vontade, e se 41 Entrará também na terra gloriosa, e mui-
levantará, e se engrandecerá sobre todo deus; tos sucumbirão, mas do seu poder escaparão
contra o Deus dos deuses falará coisas incríveis estes: Edom, e Moabe, e as primícias dos filhos
e será próspero, até que se cumpra a indignação; de Amom.
porque aquilo que está determinado será feito. 42 Estenderá a mão também contra as terras,
37 Não terá respeito aos deuses de seus pais, e a terra do Egito não escapará.
nem ao desejo de mulheres, nem a qualquer deus, 43 Apoderar-se-á dos tesouros de ouro e de
porque sobre tudo se engrandecerá. prata e de todas as coisas preciosas do Egito; os
38 Mas, em lugar dos deuses, honrará o deus líbios e os etíopes o seguirão.
das fortalezas; a um deus que seus pais não conhe- 44 Mas, pelos rumores do Oriente e do
ceram, honrará com ouro, com prata, com pedras Norte, será perturbado e sairá com grande furor,
preciosas e coisas agradáveis. para destruir e exterminar a muitos.
39 Com o auxílio de um deus estran ho, 45 Armará as suas tendas palacianas entre os
agirá contra as poderosas fortalezas, e aos que mares contra o glorioso monte santo; mas che-
o reconhecerem, multiplicar-lhes-á a honra, e gará ao seu fim, e não haverá quem o socorra.

1. Mas eu. Este versículo é uma con- é, sem dúvida, aos três reis que sucederam
tinuação da declaração do anjo, em Daniel Ciro no trono da Pérsia: Cambises (530-
10:21. A divisão do capítulo neste ponto foi 522 a.C.), o falso Esmérdis (Gaumata, cujo
imprópria. Dá a impressão de que uma nova nome babilônico era Bardiya; ver vol. 3, p.
parte do livro começa aqui, quando a narra- 376, 377), um usurpador (522 a.C.), e Dario I
tiva é claramente contínua. Gabriel informa (522 -486 a.C.).
a Daniel que Dario, o medo, foi honrado O quarto. Comentaristas em geral con-
pelo Céu (ver PR, 556). A visão foi dada no cordam que o contexto aponta Xerxes como
terceiro ano de Ciro (Dn 10:1). O anjo está "o quarto" rei, mas diferem quanto à enume-
contando a Daniel sobre o evento ocorrido ração dos vários reis referidos neste versículo.
no primeiro ano de Dario. Naquele ano, Alguns defendem que "o quarto" rei, assim
Dario, o medo, foi honrado pelo Céu com designado, na verdade, era o último dos três
uma visita do anjo Gabriel "para o animar e que ainda se levantariam. Consideram Ciro
fortalecer" (PR, 556). como o primeiro dos quatro e omitem o falso
2. A verdade. O conteúdo da quarta Esmérdis, porque não era de linhagem legí-
grande revelação em Daniel começa com tima e ficou no trono apenas alguns meses.
este versículo. Tudo o que antecede, de 10:1 Outros omitem Ciro como o primeiro dos
a 11:1, serve de pano de fundo e introdu- quatro e incluem o falso Esmérdis como
ção à visão. um dos três que o seguiriam. Seja como for,
Três reis se levantarão na Pérsia. Xerxes é "o quarto". Porém, dos dois pon-
Visto que esta visão foi dada a Daniel no tos de vista, o segundo parece representar
terceiro ano de Ciro (Dn 10:1), a referência melhor o sentido natural do texto.

951
11:2 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

Grandes riquezas mais do que todos. manobra efetiva. Sob os constantes ataques
Xerxes é identificado com o Assuero do gregos, muitos foram afundados, e somente
livro de Ester (ver vol. 3, p. 507; ver tam- uma fração da frota escapou. Com essa vitó-
bém com. de Et l:l). O registro diz que ele ria grega, as forças marítimas persas foram
se orgulhava das "riquezas da glória do seu eliminadas na luta contra a Grécia. No ano
reino" (ver Et 1:4, 6, 7). Heródoto, que escre- seguinte, 479 a.C., os gregos decisivamente
veu extensa mente sobre Xerxes, fez um relato derrotaram as tropas persas, em Plateia, e as
vívido e detalhado de seu poderio militar expulsaram de vez do solo grego.
(vii.20, 21, 40, 41, 61-80). A tradução deste texto na ARC e NVI
Empregará tudo. Esta passagem pode se ajusta de forma notável ao fato de que
ser traduzida de duas maneiras. Em geral Xerxes empregou "todos contra o reino da
~ .,. se interpreta que Xerxes agitaria todas as Grécia". No entanto, é possível tradu zir a
nações do mundo contra a Grécia. Esse é um frase um tanto obscura do hebraico desta
fato bem conhecido da história. Na época passagem de forma diferente. O problema
de Xerxes, a península grega era a única é se a palavra hebraica 'eth, traduzida como
área importante do Mediterrâneo oriental "contra", deve ser entendida como a pre-
que não estava sob o domínio persa . Em posição "contra" ou se ela é um sinal do
490 a.C., Dario, o grande, predecessor de complemento direto do verbo. Com outros
Xerxes, enquanto tentava subjugar os gregos, verbos que denotam conflito e guerra, 'eth
foi vencido na batalha de Maratona. Com a é, às vezes, empregada assim (ver Gn 14:2).
ascensão de Xerxes, foram feitos novos pla- Contudo, o verbo aqui traduzido como
nos para a conquista da Grécia. Heródoto "empregará" ocorre mais 12 vezes no AT,
(vii .61-80) enumera mais de 40 nações que seguido de 'eth, e em cada uma dessas pas-
ofereceram tropas para o exército de Xerxes . sagens o contexto indica claramente que 'eth
Do vasto exército, faziam parte soldados de deve ser considerada como sinal do com-
países tão distantes como Índia, Etiópia, plemento direto do verbo. Se, neste caso,
Arábia e Armênia. Mesmo os cartagineses, 'eth tem esse sentido, a passagem diri a :
aparentemente, foram induzidos a se junta- "Levantará a todo o reino da Grécia".
rem à contenda, atacando a colônia grega de Caso se prefira essa última tradução da
Siracusa, na Sicília. passagem, é razoáve l a seguinte interpreta-
Por volta de 480 a.C., o vasto império ção: partindo da vas ta perspectiva da histó-
persa estava em guerra contra os gregos. As ria mundial, a guerra entre os persas e os
cidades-estados gregas, que tão frequente- gregos constitui um dos mais decisivos fatos
mente guerreavam entre si, se uniram para históricos. A história subsequente da Europa
salvar sua liberdade. Em princípio, os gre- e do mundo poderia ter sido bem dife-
gos enfrentaram uma série de obstáculos. rente se o resultado em Salamina e Plateia
Foram derrotados em Termópilas, e Atenas tivesse sido outro . A civilização ocidental,
foi tomada e parcialmente incendi ada pelos então limitada quase que exclusivamente à
persas. Depois, a maré virou. A marinha Grécia, salvou-se de ser engolida pelo des-
grega, comandada por Temístocles, foi blo- potismo do império persa. Os estados gre-
queada por uma esquadra persa superior na gos tiveram um sentimento de união que não
baía de Salamina, na costa de Ática, pró- conheciam. A vitória em Salamina mostrou a
ximo a de Atenas. Pouco depois de a batalha Atenas a importância do poder marítimo e,
ter começado, os navios persas estavam em logo, a cidade se estabeleceu como a cabeça
uma formação demasiado estreita para uma de um império marítimo. Por esse prisma,

952
A Concepção de um Artista de Parte da Antiga Babilônia
A pintura de J. Bardin (so b a orien tação de Ec kh ard Unger) se baseia nas ev idências e ncontradas em escava-
ções . O es pec tador vê a antiga Babilôni a como deve ter sido à vista de Nabucodonosor. A magni fice nte porta de
Ishtar com vá ri as torres (centro), ai nda a ma is impressionante ruína da Babilônia era coberta co m tijolos azui s
es ma ltados , com touros e dragões em relevo. O a mplo Camin ho das Proc issões atravessava a porta que liga-
va templos e pa lác ios importa ntes da cidade e era o ce nário de muitas proc issões de festivais coloridos. Sobre o
muro (il direita, abaixo) está uma série el e leões ele tijolos esma ltaclos. O edifício bra nco à es querda é o templ o
ele N inm ac h. A famosa construção conhec id a como os Jardins Suspensos de Babil ôn ia (à direita, ac im a) forma
parte el a á rea do pa lác io. Ao fundo está o zigurate (Etema nanki) no grand e complexo el o templo de Marcluqu e
conh ec ido como Esagila (ve r mapa na p. 876 e a desc ri ção ela cidade na Nota Adi cion a l a Da niel 4).

953
Batalha de Isso, entre Alexandre, o Grande e Dario 111, 333 a.C.
Es~e mosaico, descob erto em 1831- hoj e faz parte do acervo do museu de Nápoles- foi ava li ado como "de loncre o mais belo mosa ico preservado da ant iguida-
de". E um a cóp ia do 1° ou 2° século a.C. de uma pintura feita por volta de 300 a.C. pelo famoso artista grego FiYoxeno de Eretria. Esse mosaico, originalmente,
media cerca de 1,5 x 4,5 metros. Foi fe ito com, aproxi madamente, 1,5 milhão de pequenas peças de pedra em vários tons , 1/30 por J/2 0 de um centímetro de di-
âmetro cada peça e colocado no piso da "Casa do Fau no", uma das mais lu xuosas mansões rom a nas da antiga Pompeia. O mosaico foi severa me nte da nificado no
terremoto de 63, d.C ., como se pode observar na pintura, mas sofreu pouco dano quando foi coberto pelas c in zas do vulcão Vesúvio, quando Pompeia foi destru-
ída em 79 d.C. A esquerda, sobre o cavalo, está Alexand re, o jovem rei grego; ao ce ntro, está Dario III com ves tes persas típic as em seu carro. Sobre a batalha de
Isso ver comentário de Daniel 7:6 (p. 904).
DANIEL 11:5

a última frase de Daniel 11:2 forma um con- Dessa forma, não houve um descendente de
texto apropriado para Daniel 11:3. Alexandre que pudesse governar.
Grécia. Do heb. Yawan, transliterado 5. O rei do Sul. Deste versículo em
como "Javã" em Gênesis 10:2 (ver com. ali). diante, e em grande parte do capítulo, a
Os gregos, ou jônios, eram descendentes de profecia foca os dois reinos que surgiram
Javã (ver com. de Dn 2:39). do império de Alexandre com os quais os
3. Um rei poderoso. Do heb. melelz judeus, como povo de Deus, tiveram muito
gibor, "um rei valente [guerreiro]". Clara refe- a ver. Esses reinos foram a Síria, governada
rência a Alexandre, o Grande (336-323 a.C.). pelos selêucidas, e o Egito, comandado pelos
Grande domínio. O domínio de Ale- ptolomeus. A partir do ponto de vista geográ-
xandre se estendia desde a Macedônia e a fico da Palestina, o primeiro ficava ao norte,
Grécia até o noroeste da Índia, desde o Egito e o último, ao sul. A tradução grega original,
ao rio Jaxartes, ao leste do Mar Cáspio - o de fato, traz "rei do Egito" em vez de "rei do
maior império do mundo até aquela época Sul"; o v. 8 também aponta o Egito como rei
(ver com. de Dn 2:39; 7:6). do Sul. Pode-se demonstrar uma designação
4. No auge. Alexandre acabara de atin- similar a partir de fontes históricas. Uma das
gir o auge de seu poder quando foi quebrado. inscrições mais conhecidas do sul da Arábia
Em 323 a.C, esse rei, que governou desde (Glaser n. 1155) se refere a uma guerra entre
o Adriático até o Indo, adoeceu repentina- a Pérsia e o Egito e chama os respectivos reis
mente e, 11 dias depois, estava morto (ver de senhor do Norte e senhor do Sul.
com. de Dn 7:6) . No momento da história ao qual se refere
Será quebrado. Alexandre não deixou este versículo, o rei do Egito era Ptolomeu I
nenhum sucessor de sua família imediata Soter (também chamado Ptolomeu Lago,
que pudesse manter unidos os territórios que 305-283 a.C.), um dos melhores generais
conquistou. Alguns dos principais generais de Alexandre, que estabeleceu a monarquia
~ "' tentaram, por vários anos, manter o império helenística que mais perdurou.
intacto em nome do meio irmão de Alexandre Um de seus príncipes. Evidentemente
e de seu filho póstumo (ambos sob a tutela de se aplica a Seleuco I Nicator (305-281 a.C.),
regentes). Mas, em menos de 25 anos após a outro general de Alexandre, que se tornou
morte de Alexandre, uma coalizão de quatro governador da maior parte asiática do impé-
generais tinha derrotado Antígono, o último rio. A referência a ele como "um de seus [de
aspirante ao controle de todo o império, e o Ptolomeu] príncipes" (do heb. sarim, "gene-
território de Alexandre foi dividido em qua- rais"; ver com. de Dn 10:13) provavelmente
tro reinos e, mais tarde, em três (sobre essa deve ser entendida com base em suas rela-
divisão, ver com. de Dn 7:7; 8:22; ver tam- ções com Ptolomeu. Em 316 a.C., Seleuco
bém mapas das p. 908, 909). foi expulso de Babilônia, que ele havia domi-
Os quatro ventos. Representando os nado desde 321, por seu rival Antígono (ver
quatro pontos cardeais. A mesma divisão é com. de Dn 7:6). Daí em diante, Seleuco
representada pelas quatro cabeças do "leo- se colocou sob o comando de Ptolomeu,
pardo" (ver com. de Dn 7:6) e pelos quatro a quem ajudou a derrotar Demétrio, filho
chifres do bode (ver com. de Dn 8:8, 22). de Antígono, em Gaza, em 312 a.C. Pouco
Não para a sua posteridade. O filho depois disso, Seleuco conseguiu reconquis-
póstumo de Alexandre foi chamado de tar seus territórios na Mesopotâmia.
rei, mas foi morto ainda criança, na luta Mais forte do que ele. Isto é, Seleuco,
entre os generais pelo domínio do império. que num momento poderia ser considerado

955
11:6 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

um dos "príncipes" de Ptolomeu, se tornou Os que a trouxeram. Muitas das damas


mais forte do que o rei egípcio. Quando de companhia egípcias de Berenice perece-
Seleuco morreu , em 281 a.C., seu reino se ram com ela.
estendia do Helesponto até o norte da Índi a. E seu pai. Do heb. yoledhah, correta-
Arria no, o principal historiador antigo desse mente, de acordo com a tradição massorética,
período, declara que Seleuco foi "o maior rei "seu originador". Isso certamente se aplicaria
dos que sucederam Alexandre, tinha mais ao pai de Berenice, Ptolomeu II, que tinha
mentalidade real e governou sobre a maior morrido pouco antes no Egito. Contudo,
parte do território, depois de Alexandre" não está claro por que sua morte seria men-
(Anabasis of Alexandre, vii.22). cionada aqui, visto que não tinha nen huma
6. Ao cabo de anos. A visão profética relação com a vingança de Laodicei a. Várias
focali za uma crise que ocorreu 35 anos após traduções antigas trazem yaldah, "serva",
a morte de Seleuco I. sem dúvida tendo em me nte o séquito de
Eles se aliarão um com o outro. Berenice. Uma simples muda nça na pontua-
Para solidificar a paz entre os dois rei- ção vocálica permite ler "seu filho" (ver BJ).
nos, depois de uma guerra longa e custosa, Isso, é claro, se referiria ao filho morto por
Antíoco 11 Theos , o divino (261-246 a.C.), ordem de Laodiceia.
neto de Seleuco I, se casou com Berenice, O que a tomou por sua. Provavelmente
filha do rei egípcio, Ptolomeu II Filadelfo. Antíoco, marido de Berenice.
Antíoco também depôs sua primeira esposa 7. De um renovo da linhagem dela.
e irmã, Laodiceia, de sua posição prioritária Ptolomeu III Evergetes, filho de Ptolomeu 11
e excluiu seus filhos da sucessão do trono. e irmão de Berenice, sucedeu seu pai em
Rei do Norte. Este termo é usado pela 246 a.C., e invadiu a Síria em vingança pelo
primeira vez nesta profecia e, neste con- assassinato de sua irmã.
texto, se refere aos selêucidas, cujos territó- Prevalecerá. Ptolomeu III deve ter
rios estavam ao norte da Palestina. O então obtido êxito em sua campanha contra
"rei do Norte" era Seleuco II Calínico (246- Seleuco li. Avançou triunfalmente terra
226 a.C.), filho de Antíoco II e Laodiceia adentro pelo menos até a Mesopotâmia
(sobre as expressões "rei do Norte" e "rei do - embora se vangloriasse de ter ido até a
Sul", ver com. do v. 5 e de Is 41:25). Báctria- e estabeleceu o poderio marítimo
Não conservará a força. D epois de do Egito no Mediterrâneo.
nascido um filho do novo casamento, houve 8. Seus deuses. O Decreto de Canopo
uma reconciliação entre Antíoco e Laodiceia. (239/238 a.C.) declara, em honra a Ptolo-
Ele não permanecerá. Antíoco morreu meu 111: "e as imagens sagradas levadas do
repentinamente, envenenado por Laodiceia, país pelos persas, tendo o rei feito uma ca mpa-
segundo a opinião popular. nha estrangeira, recuperou-as ao Egito, e res-
O seu braço. Esta também é a tradu- taurou aos templos o que tinha sido levado de
ção da LXX. Devido a uma simples mudança cada um deles" (tradução em]. P. Mahaffy,
~ ~~- nas vogais hebraicas, muitas versões anti- A History of Egypt Under the Ptolemaic
gas (Teodócio, Símaco, Vulgata) trazem "sua Dynasty [Nova York: Charles Scribner's
semente". Isso se referiria ao filho de Antíoco Sons, 1899], p. 113). Jerônimo (Commen-
com Berenice, a quem Laodiceia matou. tariorum in Danielem Liber, cap. XI, in]. P.
Será entregue. Isto é, Berenice, que Migne, Patrologia Latina, vol. 25, co!. 561)
junto com seu filho, foi morta pelos parti- declara que Ptolomeu III levou de volta ao
dários de Laodiceia. Egito um imenso despojo.

956
DANIEL 11: 13

Egito. Esta única menção (até o v. 42) do 11. Este se exasperará. Sobre esta
verdadeiro nome do país do "rei do Sul" esta- expressão, ver com. de Dn 8:7. Em 217 a.C.,
belece, sem dúvida, a identidade dessa nação. Ptolomeu IV encontrou Antíoco em Ráfia,
Ele deixará em paz. Literalmente, "ele próximo à fronteira da Palestina com o Egito.
permanecerá", isto é, "deixará em paz" o rei Ele. Este versículo se torna mais claro
do Norte. Embora seja possível traduzir o quando se reconhece que a passagem está
hebraico como faz a ARC ("Ele persistirá na forma de um paralelismo hebraico inver-
contra"), o fato de Ptolomeu III ter morrido tido, no qual o primeiro e o quarto elemen-
em 222 a.C., e não dois anos após Seleuco III, tos, e o segundo e o terceiro, são paralelos.
faz com que essa tradução não seja signifi- Assim, neste versículo, as referências são: rei
cativa. Por outro lado, visto que, nos seus do sul, rei do norte, ele (rei do norte), daquele
últimos anos, Ptolomeu não se envolveu em (rei do sul; ver vol. 3, p. 12).
nenhuma guerra de importância, a tradução Sua multidão. Políbio, o principal his-
da ARA parece mais apropriada. toriador antigo desse período, declara que
9. Rei do Sul. No texto hebraico desta o exército de Antíoco era constituído de 62
frase, "rei do Sul" pode ser entendido como mil soldados de infantaria, 6 mil cavaleiros
o sujeito da frase (como o fazem a KJV, e 102 elefantes (Histories, v.79). As tropas de
Vulgata e Siríaca), ou como o fazem a LXX, Ptolomeu deviam ser mais ou menos equi-
Teodócio, ARA, ARC e NVI, em que "rei do valentes em número (comparar com a refe-
Sul" é ligado a "reino". A tradução "entrará rência a "miríades", no v. 12).
no reino do rei do Sul" (ARC) parece prefe- Será entregue nas mãos daquele.
rível, pois segue mais naturalmente a ordem A batalha de Ráfia (217 a.C.), entre
das palavras hebraicas. Caso essa tradução Antíoco III e Ptolomeu IV, resultou numa
seja aceita, o versículo, sem dúvida, deve ser derrota esmagadora para o primeiro, de
interpretado como uma referência ao fato quem se diz ter perdido 1O mil soldados e
de que, depois de Ptolomeu III ter voltado 300 cavaleiros, além de 4 mil prisioneiros.
ao Egito, Seleuco reestabeleceu sua autori- 12. Ele. Isto é, Ptolomeu IV.
dade e marchou contra esse país, esperando Não prevalecerá. Indolente e disso-
retomar suas riquezas e reaver seu prestígio. luto, Ptolomeu não soube aproveitar sua
Tornará para a sua terra. Seleuco foi vitória em Ráfia. No meio tempo, durante
derrotado e forçado a voltar para a Síria de os anos 212-204 a.C. Antíoco 111 empregou
mãos vazias (em cerca de 240 a.C.). suas energias para recuperar seus territórios
10. Os seus filhos. Isto é, os dois filhos orientais e realizou campanhas exitosas até a
de Seleuco li: Seleuco III Cerauno Soter fronteira da Índia. A morte de Ptolomeu IV
(226/225-223/222 a.C.), que foi assassinado (205? a.C.) foi ocultada durante algum
depois de um curto reinado, e Antíoco III, o tempo; então um filho, de quatro ou cinco
Grande (223/222 -188/187 a.C.). anos o sucedeu como Ptolomeu V Epifânio
Arrasará tudo e passará adiante. Em (204 -180 a.C.).
219 a.C., Antíoco III iniciou sua campanha 13. Tornará. A ascensão do pequeno
contra o sul da Síria e a Palestina, retomando Ptolomeu V deu a Antíoco III a oportunidade
Selêucia, porto de Antioquia. Depois ini- de se vingar dos egípcios. Em 201 a.C., ele
ciou uma campanha sistemática para con- invadiu outra vez a Palestina.
quistar a Palestina de seu rival, Ptolomeu Ao cabo de tempos. Literalmente, "no
IV Filopator (222-204 a.C.), durante a qual final de tempos, anos". A referência é, prova-
~ .,.. entrou na Transjordânia. velmente, ao período de 16 anos (217-201 a.C.)

957
1l:l4 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

entre a batalha de Ráfia (ver com. do v. 11) e ameaçou a sobrevivência da religião judaica
a segunda campanha de Antíoco contra o sul. e a identidade dos judeus como povo.
14. Naqueles tempos. A partir deste Finalmente, os judeus se rebelaram e
versículo, as interpretações do restante do expulsaram da Judeia as forças de Antíoco.
capítulo diferem muito. Um grupo de comen- Eles tiveram êxito em repelir um exérci to
taristas considera que os v. 14 a 45 conti- enviado por Antíoco com o propósito espe-
nuam a narrar a história subsequente dos cífico de exterminá-los como nação. Livres
reis selêucidas e ptolomaicos. Outros defen- mais uma vez do opressor, restauraram o
dem que, a partir do v. 14, o grande impé- templo , fizeram um novo altar e oferece-
rio mundial seguinte, Roma, entra em cena, ram sacrifícios novamente (l Macabeus
e que os v. 14 a 35 esboçam o curso desse 4:36-54). Ao fazer aliança com Roma, pou- <11 ~
império e da igreja cristã. cos anos depois (161 a.C.), os judeus des-
Neste ou num ponto posterior do capítulo, frutaram, por quase um século, de relativa
muitos comentaristas encontram referências independência e prosperidade sob a proteção
a Antíoco IV (Epifânio), que governou de 175 romana, até a Judeia se tornar uma provín-
a 164/163 a.C., e à crise nacional que sua cia romana, em 63 a.C. Os que afirmam que
política de helenização acarretou aos judeus. Antíoco Epifânio é mencionado nos v. 14 e
É inegável que a tentativa de Antíoco de for- 15 consideram que os "dados à violência" são
çar os judeus a abandonar sua religião nacio- os judeus que se tornaram traidores de seus
nal e sua cultura e adotar em lugar delas próprios conterrâneos e ajudaram Antíoco na
a religião, cultura e língua dos gregos é o exec ução de seus decretos e políticas cruéis
evento mais significativo da história judaica e blasfemos (para um relato detalhado das
de todo o período intertestamentário. amargas experiências dos judeus durante
A ameaça de Antíoco Epifânio confron- esse tempo, ver 1 Macabeus 1 e 2; Josefo,
tou os judeus com uma crise comparável às Antiguidades, xii.6, 7; Guerra dos Judeus, i.l).
crises causadas pelo faraó , por Senaqueribe, É possível que Daniel 11 se refira à
Nabucodonosor, Hamã e Tito. Durante seu crise provocada pelas políticas de Antíoco
breve reinado de 12 anos, Antíoco quase Epifânio, embora existam consideráveis
exterminou a religião e a cultura dos judeus. diferenças de opinião quanto a que parte da
Ele tirou todos os tesouros do santuário, profecia fala desse rei . Reconhecer que as
saqueou Jerusalém, deixou a cidade e seus atividades de Antíoco Epifânio estão men-
muros em ruínas, matou milhares de judeus cionadas em Daniel 11 não requer que ele
e exilou outros como escravos. Um edito real seja considerado o tema da profecia dos
ordenava-lhes que abandonassem os rituais cap. 7 e 8, assim como a menção de outros
de sua religião e vivessem como pagãos . reis selêucidas não requer que sejam consi-
Eles foram forçados a erigir altares pagãos derados tema da profecia desses capítulos.
em todas as cidades da Judeia, a oferecer Os dados à violência dentre teu
neles carne de porco e a entregar todas as povo. Literalmente, "os filhos dos quebran-
cópias das Escrituras para serem rasgadas e tadores do teu povo". Caso se entenda que
queimadas. Antíoco ofereceu carne de porco "os dados à violência" são do "teu povo", a
diante de um ídolo pagão no templo judaico. frase se aplicaria àqueles dentre os judeus
A interrupção dos sacrifícios (em 168-165 ou que viram na luta internacional de sua época
167-164 a.C., de acordo com dois métodos de uma oportunidade de fomentar seus interes-
computar o tempo na era selêucida; ver nota ses nacion ais, e que estavam dispostos a ir
de rodapé, no vol. 5, p. 25, paginação lateral) além dos limites da lei para alcançar seus

958
DANIEL 11:18

objetivos. Por outro lado, se a expressão for 17. Entrará em acordo. Do heb. yesha-
entendida de forma objetiva, a passagem sig- rim. O significado desta passagem é obscuro.
nificaria "aqueles que agem com violência A frase diz, literalmente, "e os retos com ele
contra teu povo". Nesse sentido, seria uma e ele fará" (ver ARC). Algumas versões con-
referência aos romanos, que ao final (63 a.C.) sideram yesharim equivalente a mesharim,
privaram os judeus de sua independência e, "integridade" ou "equidade". Emprega-se
mais tarde (em 70 e 135 d.C.), destruíram o mesharim no v. 6 para se referir a um acordo
templo e a cidade de Jerusalém. Foi, de fato, justo entre os reis do norte e do sul. Se mesha-
durante o reinado de Antíoco III (ver com. rim é a interpretação correta, pode haver aqui
dos v. 10-13) que os romanos, a fim de pro- uma referência ao fato de que, quando mor-
teger os interesses de seus aliados Pérgamo, reu, em 51 a.C. , Ptolomeu XI Auletes colo-
Rodes , Atenas e Egito, interferiram pela pri- cou seus dois filhos, Cleópatra e Ptolomeu
meira vez nas questões da Síria e do Egito. XII, sob a tutela de Roma .
15. Rei do Norte. Após as observações Uma filha das mulheres (ARC).
do v. 14, que podem ser um parêntese, este Expressão incomum, que possivelmente enfa-
versículo dá continuidade à narrativa iniciada tiza a feminilidade da mulher em questão.
no v. l3 acerca da segunda campanha de Alguns aplicam esta expressão a Cleópatra,
Antíoco na Palestina. filha de Ptolomeu XI. Ela foi posta sob a tutela .,.$
Baluartes. Do heb. solelah, "um outeiro", de Roma, em 51 a.C., e três anos depois setor-
isto é, "fortes". nou amante de Júlio César, que tinha invadido
Cidades fortificadas. Do heb. 'ir mibt- o Egito. Depois de Júlio César ter sido assas-
saroth, literalmente, "uma cidade de forti- sinado, Cleópatra voltou suas afeições para
ficações". A referência é, possivelmente, a Marco Antônio, rival de Otaviano (mais tarde,
Gaza, tomada por Antíoco III, em 201 a.C., Augusto), herdeiro de César, que derrotou as
depois de longo cerco. Alguns comentaris- forças aliadas de Cleópatra e Marco Antônio,
tas entendem que esta passagem se refere em Ácio (31 a.C.). No ano seguinte, o suicídio
a Sidom, onde Antíoco cercou um exército de Marco Antônio (planejado por Cleópatra,
egípcio nessa mesma guerra e, depois de um segundo a opinião de alguns) abriu o cami-
cerco, forçou-o a se render. nho para o novo vencedor. Então, Cleópatra
Braços. Símbolo de força (ver v. 22 , 31). se suicidou ao se dar conta de que não pode-
16. Terra gloriosa. Isto é, Palestina ria conquistar Otaviano.
(ver com . de Dn 8:9). De acordo com o ponto Com Cleópatra, findou a dinastia ptolo-
de vista de que os romanos são referidos maica do Egito e, de 30 a.C. em diante, o Egito
no v. 14, acredita-se que a conquista des- foi uma província do império romano. A con-
crita aqui seja a de Pompeu, que em 63 a.C., duta desonesta de Cleópatra se ajusta bem às
interveio numa disputa entre os irmãos especificações da última frase deste versículo,
Hircano e Aristóbulo, rivais na luta pelo pois Cleópatra não era a favor de César, mas
trono da Judeia. Os defensores se fecharam de seus próprios interesses políticos.
atrás dos muros do templo e, por três meses, 18. As terras do mar. Do heb. 'iyyim.
resistiram aos romanos. Foi nessa ocasião Guerras em outras partes do império fize-
que, de acordo com Josefo (Antiguidades, ram com que Júlio César deixasse o Egito.
xiv.4.4), Pompeu levantou o véu e contem- O partido de Pompeu foi logo derrotado nas
plou o santo dos santos, então vazio, pois terras costeiras da África. Na Síria e Ásia
a arca estava escondida desde o exílio (ver Menor, César teve êxito contra Farnaces,
com. de Jr 37: 10). rei de Ponto.

959
11: 19 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

Um príncipe. Do heb. qatsin, alguém mas se tornou filho de Augusto por adoção e
de autoridade, em geral, um príncipe como foi apontado como herdeiro do império ape-
em Isaías 1:10, ou mais especificamente um nas quando adulto.
comandante militar, como em Josué 10:24. Caladamente. Quando Augusto mor-
Ainda. O hebraico da última frase deste reu, Tibério ascendeu ao trono de forma
versículo é obscuro. A seguinte tradução pro- pacífica. Ele era apenas o filho adotivo de
vavelmente reflete o sentido do texto: "fará seu predecessor, e sua ascensão deveu-se, em
tornar sobre ele o seu opróbrio" (ARC). grande parte, às manobras de sua mãe, Lívia.
19. Tropeçará, e cairá. Em 44 a.C., 22. As forças inundantes. "Forças"
Júlio César foi assassinado em Roma. aqui denota poder militar (ver v. 6, 15). O qua-
20. Um exator. Do heb. ma'avir noges, dro é de exércitos que se assemelham a uma
literalmente, "alguém que faz passar um inundação (ver Dn 9:26). Tibério teve êxito
opressor". O particípio noges, do verbo nagas, ao conduzir várias campanhas militares,
"oprimir", "exigir", é usado com relação aos tanto na Alemanha quanto no Oriente, nas
feitores de Israel no Egito (Êx 3:7) e a opres- fronteiras da Armênia e Pártia.
sores es trangeiros (Is 9:4). A passagem se Príncipe da aliança. Identificado com
refere a um rei que enviaria opressores ou o Príncipe que confirma a aliança em Daniel
exatores por todo seu reino . A maioria dos 9:25 a 27 (ver 8: 11). A profecia do cap. 9 deixa
comentaristas entende que a referência é a claro que se trata do Messias, Jesus Cristo. Foi
um cobrador de impostos, que, antigamente, no reinado de Tibério (14-37 d.C.) e por ordem
para o homem comum era a própria perso- de seu procurador na Judeia , Pôncio Pilatos,
nificação da opressão real. Lucas 2:1 regis- que Jesus foi crucificado, no ano 31 d.C.
tra que , "naqueles dias , foi publicado um 23. Apesar da aliança. Alguns comen-
decreto de César Augusto, convocando toda taristas sugerem que, aqui, Daniel retrocede <1 ~
a população do império para recensear-se no tempo e se refere à aliança de auxílio e
[literalmente, "inscrever-se" ou "registrar- amizade entre os judeus e os romanos , em
se", ver com. de Lc 2:1]". Considera-se que 161 a.C. (ver Josefo, Antiguidades, xii.10.6).
Augusto, sucessor de Júlio César, estabele- Esse ponto de vista supõe que a expressão
ceu o império romano e, depois de um rei- hebraica traduzida como "tempo" no v. 24
nado de mais de 40 anos, morreu em paz em designa um "tempo" profético de 360 anos
seu leito, em 14 d.C. (ver com. de Dn 7:25; 11:24). Outros, que
21. Um homem vil. Isto é, alguém defendem a continuidade cronológica da nar-
desprezado ou pouco estimado. Augusto foi rativa profética de Daniel 11 , encontram uma
sucedido por Tibério (14-37 d.C.). Alguns referência à política romana de obter o que
historiadores defendem que houve uma hoje seria chamado de "pacto de assistên-
tentativa deliberada por parte de Suetônio, cia mútua", como, por exemplo, a aliança de
Sêneca e Tácito para denegrir a imagem de auxílio e amizade com os judeus. Nesses tra-
Tibério. Sem dúvida, o quadro foi exagerado. tados, os romanos reconheciam os partici-
No entanto, existem evidências suficientes pantes como "aliados" e tinham o objetivo de,
que mostram que Tibério era excêntrico, mal supostamente, proteger e promover interesses
compreendido e não amado pelo povo. mútuos. Assim, Roma parecia amiga e prote-
Ao qual não tinham dado. Literal- tora, apenas para astuciosamente fazer valer
mente , "não deram". Provavelmente a refe- esses acordos em benefício próprio. Ela com
rência é ao fato de que Tibério não estava frequência impunha os fardos das conquistas
originalmente na linha de sucessão ao trono, sobre seus "aliados", mas, em geral, reservava

960
DANIEL 11:27

as recompensas para si. Ao final, esses "alia- realeza. Desde os dias dos primeiros Césares,
dos" eram absorvidos pelo império romano. intrigas palacianas marcaram a ascensão e
24. Por certo tempo. Do heb. 'ad-'eth, "até a queda dos imperadores romanos. Em anos
um tempo". Esta expressão indica um [ponto posteriores, particularmente, quando um
do] tempo quando as artimanhas do poder após outro oficial do exército ocupou o trono
aqui apresentado seriam eliminadas. É pro- dos Césares, com frequência pelo preço da
vável que, neste caso, a palavra 'eth, "tempo", cabeça de seu predecessor, cumpriu-se com
não deva ser considerada um período especí- singular exatidão a previsão de que favori-
fico de tempo, nem como um período de tempo tos da realeza se levantariam e destruiriam
profético. A palavra traduzida como "tempos" aqueles que tinham se tornado seus amigos
(Dn 4:16; 7:25) é do aramaico 'iddanin e do e, como resultado, "muitos" cairiam traspas-
hebraico mo'adim (Dn 12:7). 'Ad-'eth parece sados. No antigo Oriente, esperava-se que os
indicar um tempo indeterminado. O poder que comiam alimento fornecido por outra
maligno agiria até que atingisse o limite espe- pessoa se mantivessem leais a ela.
cificado por Deus (ver Dn 11:27; cf. 12:1). Arrasado. A Siríaca e a Vulgata trazem
Os que acreditam que aqui se indica um "ser lavado" ou "ser arrastado". De acordo com
tempo profético veem nos eventos narra- a explicação mencionada (v. 24), este versí-
dos uma referência ao período de tempo em culo descreve o destino de Marco Antônio.
que a cidade de Roma permaneceria como Quando Cleópatra, temendo pelo estrondo da
sede do império. Considera-se que 31 a.C. batalha, se retirou de Ácio, levando seus 60
foi a data inicial, o ano da batalha de Ácio, navios da marinha egípcia, Marco Antônio a
quando Augusto triunfou sobre Marco seguiu e, com isso concedeu vitória a Augusto.
Antônio e Cleópatra. A contar de 31 a.C., Os que apoiavam Marco Antônio passaram
360 anos chegam a 330 d.C., o ano em que para o lado de Augusto. Finalmente, Marco
a sede do império foi transferida de Roma Antônio cometeu suicídio. De acordo com os
para Constantinopla. que enfatizam a continuidade cronológica do
Alguns veem na declaração deste versí- capítulo (ver com. do v. 23), é predita aqui a
culo uma previsão da política romana para situação política instável que marcou os rei-
com as regiões conquistadas pelo império. nados de Nero e Diocleciano.
A história registra que o despojo da con- 27. Estes [... ] se empenharão em
quista era generosamente distribuído entre fazer o mal. Alguns consideram que esta
a nobreza e os comandantes do exército, e frase é uma referência a intrigas de Otaviano
que era uma prática comum que até o sol- (mais tarde, Augusto) e Antônio, ambos aspi- ... ~
dado raso recebesse terras nas regiões con- rantes ao controle do império. Outros veem
quistadas. "Por certo tempo" (um período uma referência à luta pelo poder durante
considerável de tempo, de fato), nenhuma os últimos anos do reinado de Diocleciano
fortaleza foi capaz de resistir à pressão das (284-305 d.C.) e durante os anos entre a
invencíveis legiões romanas. morte deste e o tempo em que Constantino,
25. Suscitará a sua força. De acordo o Grande (306-337), conseguiu unir nova-
com a explicação mencionada antes (ver com. mente o império (323 ou 324).
do v. 24), este versículo se refere à luta entre Tempo determinado. Homens maus e
Augusto e Antônio, que culminou com a suas maquinações duram apenas até quando
batalha de Ácio e com a derrota de Antônio. Deus permite. A verdadeira filosofia da
26. Os que comerem. Alguns veem história se demonstra no livro de Daniel:
nesta frase uma referência aos favoritos da "Segundo a Sua vontade, Ele opera com o

961
ll :28 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

exército do Céu e os moradores da terra; não 30. Quitim. O nome de Quitim ocorre
há quem Lhe possa deter a mão" (Dn 4:35). várias vezes no AT e em escritos judaicos
28. Então, o homem vil tornará. posteriores, sendo usado de várias formas
Alguns expositores consideram que isto interessantes. Quitim é mencionado como
seja uma previsão do cerco e da destruição filho de Javã e neto de Jafé (ver com. de
de Jerusalém por Tito, em 70 d.C. Outros, Gn 10:4; cf lCr 1:7). A área ocupada pelos
que defendem a continuidade cronológica descendentes de Quitim foi provavelmente
da narrativa profética (ver com. do v. 23), Chipre. A principal cidade fenícia de Chipre,
veem uma descrição mais ampla da obra de na costa sudeste, era conhecida em fenício
Constantino, o Grande. como Kt, em grego como Kition e em latim
Contra a santa aliança. Fala-se de como Citium. Balaão declara na sua profe-
Cristo como o "príncipe da aliança" (v. 22), cia (Nm 24:24) que "homens virão das costas
e aquele que "fará firme alia nça com muitos [direção] de Quitim em suas naus; afligi-
por uma semana" (Dn 9:27). Esta ali ança é rão a Assur". Alguns aplicam essa profecia
o plano da salvação, traçado na eternidade à derrota da Pérsia n a Mesopotâmia por
e confirmado pela morte de Cristo. Então, Alexandre, o Grande, que saiu das costas
parece razoável entender o poder aq ui men- do Mediterrâneo (ver com. de Nm 24:24). As
cionado como um que tenazmente se oporia "terras do mar de Chipre" (]r 2:10; Ez 27:6),
a esse plano e a seu efeito na vida dos seres aparentemente, referem-se também às cos-
humanos . Alguns veem uma referência tas do Mediterrâneo.
específica à invasão da Judeia pelos romanos Na literatura judaica extra-bíblica, o
e à tomada e destruição de Jerusalém, em termo ocorre em l Macabeus l: l, ao se des-
70 d .C . Outros sugerem que Constantino crever a Macedônia. Além disso, dois dos
seja o tema da profecia e observam que, rolos do Mar Morto contêm esse nome .
embora professasse ter se convertido à fé As formas htyy 'shwr, "Q uitim de Assur"
cristã , Constantino estava na verdade "con- (Assíria), e hhtyym bmtsrym, "a Quitim no
tra a santa aliança", sendo que seu objetivo Egito", são usadas na obra A Guerra do Filhos
era fazer uso do cristianismo como um ins- da Luz contra os Filhos das Trevas. As designa-
trumento para unir o império e solidifi- ções podem talvez se referir aos selêucidas
car seu domínio. Ele fez grandes favores à e aos ptolomeus: os reis do Norte e do Sul.
igreja, mas em troca esperava que a igreja A associação geográfica do termo Quitim
apoiasse sua política. com as terras costeiras do Mediterrâneo
29. Não será. De acordo com a inter- parece ter se perdido totalmente, e Quitim
pretação de que aqui se esboça a carreira de passou a ser um termo genérico para
Constantino, sugere-se o seguinte: a despeito designar os inimigos dos judeus . O chamado
de todas as tentativas de Constantino para "Comentário de Habacuque", entre os rolos
reavivar a antiga glória e o poder do impé- do Mar Morto, também menciona Quitim.
rio romano, seus esforços tiveram um êxito O autor dessa obra cria que as profecias de
apenas parcial. Habacuque se referiam às dificuldades dos
Na primeira. A passagem pode ser judeus em seus próprios di as (provavelmente
traduzida como: "esta vez não será como por volta de meados do 1° século a.C .). Ele
a primeira". Alguns creem que a referên- interpretou Habacuque 1:6 a 11, em que o
cia seja à mudança da sede do império para profeta descreve os caldeus, como referência -.. ~
Constantinopla. Essa mudança foi apontada a Quitim, que estava despojando os judeus
como sinal da queda do império. de sua época . No contexto histórico dessa

962
DANIEL 11 :31

obra o termo talvez se aplique aos romanos "Dele sairão forças"; isto é, forças pertencen-
(vervol. 1, p. 8-11). tes a esse poder surgiriam para realizar a obra
Com relação a isso, é interessante de profanação descrita aqui.
observar que na LXX, traduzida talvez no Sairão. Isto é, "se levantarão".
2° século a.C., Daniel 11:30 diz "romanos" Profanarão. Do heb. chalal. Palavra
em vez de "Quitim". Portanto, parece claro hebraica que indica que algo sagrado foi
que, embora a palavra Kittim originalmente tornado profano. A palavra é empregada
se referisse a Chipre e a seus habitantes, para indicar a profanação de um altar de
mais tarde, teve seu significado ampliado de pedra pelo uso de uma ferramenta sobre
modo a incluir as costas do Mediterrâneo ao ele (Êx 20:25) e a profanação do sábado
oeste da Palestina e, ainda mais tarde, apli- (Êx 31 :-14) . Também descreve os atos dos
cou-se a opressores estrangeiros em geral, que profanaram o nome de Deus ao sacri-
viessem eles do sul (Egito), do norte (Síria) ficarem os filhos a deuses pagãos (Lv 20:3 ;
ou do oeste (Macedônia e Roma). ver com. de Lv 18:21).
Com respeito à época em que foi escrito, O santuário, a fortaleza nossa. Lite-
o livro de Daniel está bem mais próximo ralmente, "o lugar santo, o refúgio". Estas
das referências a Quitim de Jeremias e palavras estão em aposição. Alguns enten-
Ezequiel do que das referências de origem dem que elas se aplicam à cidade de Roma,
pós-bíblica, que talvez tenham surgido como sede do poder no mundo antigo. Segundo
uma extensão do emprego de "Quitim" na essa ideia, são preditos aqui os ataques des-
Bíblia. Contudo, a fraseologia deste versí- trutivos de poderes bárbaros.
culo relembra Números 24:24, em que se faz Outros creem que o santuário celestial é
referência a conquistadores do ocidente (ver o tema em questão. A palavra heb. ma'oz, tra-
com. ali). Embora nem todos os estudiosos duzida como "fortaleza", vem do verbo 'azaz,
da Bíblia estejam de acordo com a referência "ser forte", e é usada várias vezes neste capí-
histórica exata de "Quitim" neste versículo, tulo (v. 7, 10, 19, 38, 39), embora não seja
parece claro que, ao interpretar esta passa- traduzida uniformemente.
gem, deve-se levar em conta dois pensamen- O santuário terreno em Jerusalém era
tos. Primeiro, geograficamente, na época de cercado de fortificações. O santuário celes-
Daniel, a palavra se referia a terras e povos tial, onde Cristo pleiteia Seu sangue em favor
do ocidente; e, segundo, a ênfase já pode ter de pecadores, é o supremo lugar de refúgio.
estado no processo de mudança do signifi- Sendo assim , entende-se que esta passagem
cado geográfico da palavra à ideia de Quitim descreve a ação do grande poder apóstata da
como invasores e destruidores procedentes história cristã que substituiu o verdadeiro
de qualquer parte. sacrifício de Cristo e Sua ministração como
Alguns veem nos "navios de Quitim" uma sumo sacerdote no santuário celestial por
referência às hordas bárbaras que invadiram um falso sacrifício e uma falsa ministração.
e destruíram o império romano ocidental. Sacrifício diário. Ver com. de Dn 8: ll.
Aliança. Ver com. do v. 28. Alguns veem Abominação desoladora. A obra do
nessa indignação uma referência aos esfor- papado é aqui predita. Esta é a primeira vez
ços de Roma para destruir a santa aliança por que a expressão ocorre no livro de Daniel,
meio da supressão das Sagradas Escrituras e embora haja palavras similares na frase
do ataque àqueles que criam nelas. "sobre a asa das abominações virá o assolador"
31. Dele. Do heb. mimmennu. Esta pala- (Dn 9:27; na LXX, essa frase diz "sobre o tem-
vra modifica o sujeito e não o verbo da frase: plo abominação de desolações"). As palavras

963
11:32 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

de Cristo sobre o "abominável da desolação" de ação em favor da vontade do Altíssimo.


~ .,. (Mt 24: 15) devem ser consideradas como O cristianismo não pode ser passivo. Todo
uma aplicação particular dessa primeira refe- filho de Deus tem uma missão a cumprir.
rência de Daniel9:27 em vez de Daniel11 :31. 33. Ensinarão a muitos. A ordem de
Ao falar da iminente destruição de Jerusalém, Cristo "Ide, portanto, fazei discípulos de
que ocorreu em 70 d.C., Jesus identificou os todas as nações" (Mt 28:19) é tão imperativa
exércitos romanos que cercariam a cidade em tempos de perseguição como em perío-
como "o abominável da desolação de que falou dos de paz e, com frequência, se prova mais
o profeta Daniel" (Mt 24:15; cf. Lc 21:20). eficaz em tempos adversos.
Tendo em vista o fato de Daniel 9:27 fazer Cairão. Durante os séculos em que o
parte da explicação do anjo sobre o conteúdo verdadeiro povo de Deus foi mais duramente
de 8:11 a 13, a conclusão natural é que Daniel perseguido, os corajosos o suficiente para per-
8:11 a 13 é uma profecia dupla (similar à de manecer e testemunhar de suas convicções se
Mt 24; ver OTN, 628) que se aplica tanto à tornaram objetos particulares de perseguição.
destruição do templo e de Jerusalém pelos Algum tempo. O texto hebraico, a LXX
romanos como à obra do papado na era cristã. e a versão de Teodócio dizem simplesmente
Deve-se observar também que a refe- "dias". Contudo, existem alguns manuscritos
rência explícita de Jesus à obra do "abomi- hebraicos que trazem a palavra rabim, "mui-
nável da desolação", como ainda no futuro tos" (ARC). O período a que se refere aqui é
naquela época, torna claro que Antíoco claramente o mesmo dos 1.260 anos (Dn 7:25;
Epifânio, de fato, não cumpre essa profe- 12:7; Ap 12:6, 14; 13:5); tempo durante o qual
cia (ver com. de Dn 8:25). o poder apóstata blasfemou de Deus da forma
32. Aliança. Ver com. do v. 28. mais desafiante, exercendo autoridade usur-
Ele. Isto é, o papado. padora e perseguindo os que rejeitavam essa
Lisonjas. Do heb. chalaqqoth, "coisas autoridade (ver com. de Dn 7:25).
lisas, escorregadias" (ver Dn 8:25). O método 34. Pequeno socorro. Embora, em Sua
de Satanás consiste em fazer seu caminho sabedoria, Deus nem sempre considerasse
parecer mais fácil do que o de Deus. Através apropriado livrar Seus santos da morte, todo
da história cristã, o povo de Deus tem se mártir teve a oportunidade de saber que sua
mantido fiel ao "apertado [... ] caminho que vida estava "oculta juntamente com Cristo,
conduz para a vida", como Cristo o descre- em Deus" (Cl 3:3).
veu (Mt 7:14). Durante os amargos dias de apostasia
E ativo. Do heb. 'asah, "fazer", "agir". e perseguição, descritos em Daniel 11:33,
Como no v. 28, as expressões "ativo" e "proe- Deus repetidamente enviou a Seu povo
zas" (ARC) são acrescentadas, como se acres- oprimido "um pequeno socorro" por meio
centa "o que lhe aprouver", no v. 28, ao verbo de líderes que falavam em meio à escuri-
'asah. Sem dúvida, esta passagem se refere dão, apelando para o retorno aos princípios
àqueles que, nas terras sob jurisdição de das Escrituras. Dentre os quais estavam os
Roma e fora dela, resistiram às usurpações ministros valdenses do século 12 em diante,
papais e mantiveram a fé viva, como, por John Wycliffe, na Ingl aterra, no século
exemplo, os valdenses, os albigenses e outros. 14; e John Huss e Jerônimo de Praga, no
A igreja verdadeira se distingue não ape- século 15. No século 16, a grande agitação
nas pelo fato de que o povo de Deus reage na vida política, econômica, social e reli-
ao pecado, resistindo à tentação, mas muito giosa da Europa, que em seu alcance espiri-
mais por levar adiante um programa positivo tual tornou possível a Reforma Protestante,

964
DANIEL 11: 36

acrescentou muitas vozes mais fiéis às ouvi- da Revolução Francesa era não apenas anti-
das nas gerações anteriores. clerical, mas também ateísta , e que essa filo -
35. Embranquecidos. Às vezes, Deus sofia se difundiu amplamente nos séculos 19
permite que Seus filhos sofram, mesmo até e 20. Além disso, essa revolução e suas con-
a morte, para que o caráter seja purificado e sequências marcam o fim do período profé-
preparado para o Céu. Mesmo Cristo "apren- tico de 1.260 anos.
deu a obediência pelas coisas que sofreu" Os que defendem que "este rei" é o
(Hb 5:8; compare com Ap 6:11). mesmo poder descrito no v. 32 apontam
Tempo do fim. Do heb. 'eth qets. Esta para o fato de que, no hebraico, o artigo
expressão ocorre também em Daniel 8:17; definido precede a palavra "rei". Isso indica-
11:40; e 12:4 e 9. No contexto de Danielll:35, ria que o poder ao qual se refere aqui já foi
'eth qets parece estar claramente relacionado mencionado antes. Alegam que a referê ncia
~ .,. aos 1.260 anos, marcando o fim deste período. ao "tempo do fim", no v. 35, pode apontar
Estas passagens das Escrituras apontam para adiante e não indica necessariamente que
o ano 1798 d.C. como o início do "tempo do os v. 36 a 39 devem ser colocados exclusiva-
fim" (ver OTN, 234; T5, 9, lO; GC, 356). mente após o início desse tempo, em 1798
Tempo determinado. Do heb. mo'ed, (ver com. do v. 35), especialmente visto que
do verbo ya'ad, "apontar". Mo'ed, uma pala- somente no v. 40 se diz que um evento se
vra hebraica comum, se aplicava às reuniões daria "no tempo do fim". Eles entendem que
de Israel com Deus (Êx 23:15; ver com. de a descrição desse poder nos v. 36 a 39 não
Lv 23:2). A palavra era usada tanto para a indica o ateísmo, mas sim uma tentativa de
data da reunião (Os 12:9) quanto para o lugar suplantar todos os outros poderes religiosos.
(SI 74:8). Em Danielll:35, tem-se a ideia de Os que defendem esse ponto de vista tam-
tempo. Ainda mais importante é o fato de bém chamam atenção para o paralelismo dos
que é um tempo determinado . "O tempo do cap. 2 e 7; 8 e 9; e concluem que é possível
fim" é um tempo determinado no programa encontrar o mesmo paralelismo no cap. 11,
divino dos acontecimentos. e que ele tem a ver com a culminação do
36. Este rei. Eruditos adventistas do mesmo poder apóstata descrito nas outras
sétimo dia defendem dois pontos de vista profecias do livro de Daniel.
com relação à interpretação dos v. 36 a 39. E se engrandecerá. De acordo com
Uma interpretação identifica o poder des- o ponto de vista de que aqui se descreve a
crito aqui como a França revolucionária de França revolucionária, entende-se que estas
1789 e anos seguintes. A outra defende que palavras descrevem os excessos do ateísmo
este é o mesmo poder apóstata, perseguidor cometidos por alguns dos líderes mais radi-
descrito nos versículos anteriores. cais da Revolução. Como exemplo disso,
Os que entendem que "este rei" se refere em 26 de novembro de 1793, a Comuna, ou
ao poder francês durante a Revolução enfati- corpo governante da cidade de Paris, aboliu
zam que este deve ser um novo poder apre- oficialmente todas as religiões na capital da
sentado aqui, pois ele é menciondado logo França. Embora essa ação tenha sido rever-
depois de "tempo do fim" e, supostamente, tida pela Assembleia Nacional poucos di as
deve cumprir certas especificações não men- depois, ela ilustra a influência do ateísmo
cionadas em relação ao poder descrito nos durante esse período.
versículos anteriores, principalmente que Aqueles que entendem que estes versí-
sua vontade será manifesta em favor do culos se aplicam ao grande poder apóstata
ateísmo. É um fato histórico que o espírito da história cristã consideram esta passagem

965
11:37 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

paralela a Daniel8:11, 25; 2 Tessalonicenses expressão. Alguns a consideram como nome


2:4; e Apocalipse 13:2, 6; e 18:7. Entendem próprio, "o deus Mauzzim". Contudo, não se
que a profecia deste versículo se cumpre na conhece em parte alguma um deus com tal
pretensão do papa em ser o vicário de Cristo nome. Visto que ma'uzzim parece ser o plural
na Terra, no poder reivindicado pelo clero e da palavra hebraica ma'oz, "refúgio", "forta-
no "poder das chaves": a autoridade para abrir leza", que ocorre repetidamente neste capí-
e fechar as portas do Céu aos seres humanos. tulo (v. 7, lO, 19, 31), parece melhor entender
Falará coisas incríveis. De acordo com estas palavras como "o deus das fortalezas"
o ponto de vista de que a França é o tema ou "deus dos refúgios".
em questão, esta frase se refere às palavras Alguns interpretam este versículo como
arrogantes dos revolucionários que aboliram uma referência ao culto da Razão instituído
a religião e estabeleceram o culto à deusa em Paris, em 1793 . Ao perceberem a neces-
Razão. Quando, mais tarde, se introduziu o sidade da religião para que a França perma-
culto ao Ser Supremo, os reacionários torna- necesse forte a fim de cumprir seu objetivo
ram claro que ele não devia ser identificado em difundir a revolução pela Europa, alguns
com o Deus da religião cristã. dos líderes em Paris tentaram estabelecer
Sobre o cumprimento desta passagem uma nova religião, tendo a razão personi-
segundo o ponto de vista de que o papado ficada como deusa. Isso foi seguido, mais
~ ,.. é o tema em questão aqui, ver com. de tarde, pelo culto ao "Ser Supremo" (a natu-
Daniel 7:11, 25; cf. 2 Tessalonicenses 2:4; e reza deificada), que pode ser considerado
Apocalipse 13:5 e 6. como o "deus das fortalezas" ou forças.
37. Desejo de mulheres. Os que acre- Outros entendem que se faz referência
ditam que a referência é à França veem o aqui às orações dirigidas à virgem Maria; e
cumprimento desta passagem na declara- ainda outros à aliança de Roma com poderes
ção dos revolucionários de que o casamento civis e seus esforços premeditados para con-
era um mero contrato civil, que sem forma- seguir que as nações fizessem sua vontade.
lidades poderia ser dissolvido pelas partes Coisas agradáveis. Do heb. chamu-
envolvidas. Já os que acreditam ser ao papado dhoth, "coisas desejáveis, preciosas". Uma
veem uma possível referência à importância palavra similar da mesma raiz é empregada
que esse poder dá ao celibato e à virgindade. em Isaías 44:9 para descrever os custosos
Nem a qualquer deus. De acordo com ornamentos com os quais os pagãos enfeita-
a primeira posição, as palavras se aplicam ao vam suas imagens. Alguns veem o cumpri-
poder ateu francês revolucionário que tentou mento desta passagem nos presentes valiosos
abolir a religião no país (ver com. do v. 36). concedidos às imagens da Virgem e dos san-
Segundo a outra posição, as palavras devem tos (ver Ap 17:4; 18:16).
ser entendidas num sentido comparativo, isto 39. Agirá contra as poderosas for-
é, o poder descrito não é ateu, mas se con- talezas. Esta passagem é obscura e foi tra-
sidera porta-voz de Deus e não dá a Deus a duzida de várias formas. O verbo traduzido
honra devida. Ele busca de forma blasfema como "agirá", 'asah, significando "fazer", "ope-
se colocar no lugar dEle (ver 2Ts 2:4). rar", não tem objeto direto e é seguido de
38. Em lugar. Do heb. 'al-lwnno, "em seu duas preposições, le, "a" ou "para", e 'im,
lugar", isto é, no lugar do verdadeiro Deus. "com". O verbo 'asah, sem objeto e seguido
Deus das fortalezas. Do heb. 'eloah de le, como aqui, tem o sentido de "traba-
ma'uzzim. Comentaristas divergem consi- lhar para [alguém]" (como em Gn 30:30;
deravelmente quanto à interpretação desta 1Sm 14:6; Ez 29:20). Seguido de 'im, 'asah

966
DANIEL 11:45

tem o sentido de "trabalhar com" (como em que os v. 40 a 45 têm seu cumprimento no


1Sm 14:45). Tendo em vista esses empregos, colapso do império otomano, em 1922 (ver
parece razoável traduzir a passagem como: com. do v. 45).
"e trabalhará para os refúgios mais fortes 45. Chegará ao seu fim. Ver previsões
(ma'uzzim) com um deus estranho". Visto que similares nas profecias paralelas do cap. 2
'eloah ma'uzzim (v. 38) parece ser equivalente (v. 34, 35, 44, 45 ), do cap. 7 (v. 11, 26), dos
a "um deus que seus pais não conheceram", cap. 8 e 9 (8:19, 25 ; 9:27) e em outras pas-
é de se esperar que, neste caso, identifique- sagens das Escrituras (Is 14:6; 47:11-15;
se com o "deus estranho". ]r 50:32; 1Ts 5:3; Ap 18:6-8, 19, 21).
Alguns veem nesta passagem uma refe- Em geral, os adventistas do sétimo dia
rência ao lugar estratégico que o ateísmo e as defendem que o cumprimento do v. 45 ainda
ideias racionalistas ocuparam entre os líderes está no futuro. As palavras prudentes ditas
da França durante a Revolução. Outros veem pelo pioneiro adventista Tiago White, em
uma descrição do apoio que a igreja romana 1877, com respeito à cautela na interpreta-
deu ao culto aos "protetores", os santos, às ção de profecias ainda não cumpridas, são
festividades realizadas em várias cidades ao um conselho válido ainda hoje:
redor do mundo, em honra ao sacrifício da "Ao interpretar profecias não cumpridas,
missa e à virgem Maria. sobre as quais a história não está escrita, o
Repartirá a terra. Alguns entendem que estudioso deve apresentar suas suposições sem
estas palavras descrevem a divisão das grandes exagerado dogmatismo, do contrário poderá se
propriedades da nobreza da França, e à venda encontrar extraviado no terreno da fantasia.
dessas propriedades pelo governo a peque- "Existem pessoas que se preocupam
nos proprietários. Estima-se que dois terços mais com a verdade futura do que com a
das propriedades rurais francesas foram con- presente. Veem pouca luz no caminho por
fiscados pelo governo durante a Revolução. onde andam, mas pensam que há grande
Outros acreditam que estas palavras têm luz adiante deles.
seu cumprimento no domínio papal sobre "Posições tomadas sobre a questão do
governantes temporais e no frequente recebi- Oriente se baseiam em profecias que ainda
~ ... mento de rendas por parte deles. Sugeriu-se não se cumpriram. Nesse caso, deveríamos
que a divisão do Novo Mundo, entre andar com cautela e tomar posições cuida-
Espanha e Portugal, pelo papa Alexandre VI, dosas, do contrário poderemos estar remo-
em 1493, pode ser considerado um exemplo vendo os marcos estabelecid os firmemente
do cumprimento desta passagem. no movimento adventista. Pode-se dizer
40. Tempo do fim. Aqui o rei do Norte que há um acordo geral sobre esse tema,
e o rei do Sul são mencionados pela primeira e que todas as atenções estão voltadas para
vez desde os v. 14 e 15. Eruditos adventistas a presente guerra entre a Turquia e a Rússia
do sétimo dia que entendem que o tema dos como o cumprimento dessa parte da profe-
v. 36 a 39 é a conduta da França durante a cia que dará grande confirmação da fé no
Revolução defendem que a Turquia é o rei do breve alto clamor e na conclusão de nossa
Norte dos v. 40 a 45. Os que aplicam os v. 36 mensagem . Mas é inquietante pensar qual
a 39 ao papado encontram aqui um quadro será o resultado desse dogmatismo quanto
profético do clímax de sua carreira. Alguns às profecias não cumpridas se as coisas não
do último grupo identificam o papado como ocorrerem como se espera tão confiada-
o rei do Norte, ao passo que outros fazem mente" (Tiago White, RH, 29 de novem-
distinção entre os dois. Alguns consideram bro de 1877).

967
12:1 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

COMENTÁRIOS DE ELLEN G. WHITE

1-45- T9, 14 1- PR, 556 35, 40 -CC, 356

CAPÍTULO 12
1 Miguel libertará o Seu povo das tribulações.
5 Daniel é informado a respeito dos tempos.

l Nesse tempo, se levantará Miguel, o gran- estava sobre as águas do rio , quando levantou
de príncipe, o defensor dos filhos do teu povo, a mão direita e a esquerda ao céu e jurou, por
e haverá tempo de angústia, qual nunca houve, Aquele que vive eternamente, que isso seria
desde que houve nação até àquele tempo; mas, depois de um tempo, dois tempos e metade de
naquele tempo, será salvo o teu povo, todo aque- um tempo. E, quando se acabar a destruição
le que for achado inscrito no livro. do poder do povo santo, estas coisas todas se
2 Muitos dos que dormem no pó da terra res- cumprirão.
suscitarão, uns para a vida eterna, e outros para 8 Eu ouvi, porém não entendi; então, eu
vergonha e horror eterno. disse: meu senhor, qual será o fim destas coisas?
3 Os que forem sábios, pois, resplandecerão 9 Ele respondeu: Vai, Daniel, porque estas pala-
como o fulgor do firmamento; e os que a muitos vras estão encerradas e seladas até ao tempo do fim.
conduzirem à justiça, como as estrelas, sempre I O Muitos serão purificados, embranqueci-
e eternamente. dos e provados; mas os perversos procederão per-
4 Tu, porém, Daniel, encerra as palavras e versamente, e nenhum de les entenderá, mas os
sela o livro, até ao tempo do fim; muitos o esqua- sábios entenderão.
drinharão, e o saber se multiplicará. li Depois do tempo em que o sacrifício diá-
5 Então, eu, Daniel, olhei, e eis que esta- rio for tirado, e posta a abominação desoladora,
~ "' vam em pé outros dois, um, de um lado do rio, o haverá ainda mil duzentos e noventa dias.
outro, do outro lado. 12 Bem-aventurado o que espera e chega até
6 Um deles disse ao homem vestido de linho, mil trezentos e trinta e cinco dias.
que estava sobre as águas do rio: Quando se 13 Tu, porém, segue o teu caminho até ao
cumprirão estas maravilhas? fim; pois descansarás e, ao fim dos dias, te le-
7 Ouvi o homem vestido de linho, que vantarás para receber a tua herança.

1. Nesse tempo. Do heb. ba'eth hahi'. "nesse tempo" não especificam se os eventos
Alguns defendem que estas palavras se refe- previstos aqui ocorrerão de forma simultânea
rem à frase be'eth qets, "no tempo do fim" aos de Daniel 11:45, se os precedem ou se os
(Dn 11 :40); isto é, que os eventos a serem nar- seguem imediatamente. O importante é que
rados ocorrem dentro desse período de tempo. os eventos do último versículo do cap. 11 e
No entanto, o contexto justifica a conclusão os do primeiro versículo do 12 estão estrei-
de que "nesse tempo" se refere ao tempo do tamente ligados no que se refere ao tempo.
desaparecimento do poder descrito no final Levantará. Do heb. 'a111ad, a mesma
do cap. 11. Deve-se observar que as palavras palavra é usada mais adiante para descrever

968
DANIEL 12:4

a atitude de Miguel em relação aos "filhos É esse sentimento que gara nte que a iniqui-
do teu povo". O sentido claramente é que dade jamais torn ará a perturbar a harmonia
Cristo Se levanta para livrar Seu povo (ver do universo.
CC , 613, 633, 641, 642, 657). 3. Os que forem sábios. Do heb. ham-
Miguel. Ver com . de Dn 10:13. O Cam- maslúlim, do verbo salwl, "ser prudente". Essa
peão divino do grande conflito age para livrar forma pode ser entendida num sentido sim-
Seu povo. ples, como "os que forem prudentes" ou "os
Príncipe. Do heb. 'sar (ver com. de Dn que tiverem discernimento"; ou num sen-
10:13). tido causativo, como "aqueles que fa zem com
O defensor. Do heb. ha'omed 'al, "que se que haja discernimento", isto é, "aqueles que
levanta sobre", isto é, para proteger. ensinam". A pessoa que realmente tem di s-
Tempo de angústia. Quando cessar a cernimento das coisas de Deus percebe que
obra intercessória de Cristo e o Espírito de elas devem ser compartilhadas com outros .
Deus for retirado da Terra, então todos os A sabedoria divina leva a pessoa a ser um ins-
poderes das trevas que estiveram retidos des- trutor dessa sabedoria a outros . Em Daniel
cerão com indescritível fúria sobre o mundo. 11:33, maslúlim é traduzido como "sábios",
Haverá uma cena de conflito tal que nin- e são apresentados como perseguidos por
guém poderá descrever (ver GC , 613, 614). seus esforços fiéis . Neste versículo, eles são
Salvo. Comparar com Dn 7: 18, 22 , 27; recompensados com a glória eterna (compa-
10:14. Que consolo é saber que nesse grande rar com o v. lO).
conflito a vitória é certa! 4. Encerra as palavras. Admoestação
No livro. Isto é, o livro da vida (ver com. similar é dada com respeito à visão a nterior
de Dn 7: lO ; cf. Fp 4:3; Ap 13:8; 20: 15 ; de Daniel (8:26). Essa instrução não se aplica
21:27; 22:19) . a todo o livro de Daniel, pois uma parte da
2. Ressuscitarão. Uma ressurreiç ão mensagem foi entendida e tem sido uma bên-
especial precede o segundo advento de ção aos crentes por séc ulos . Ela se aplica
Cristo. "Todos os que morreram na fé da à parte da profecia de Daniel que fa la dos
mensagem do terceiro anjo" se levantarão últimos dias (AA, 585; OTN, 234). A men-
nessa hora. Além disso, os que contempla- sagem, baseada no cumprimento dessas pro-
ram com zombaria a crucifixão de Cristo e os fecias , não poderia ser proclamada antes que
que mais violentamente se opusera m ao povo esse tempo chegasse (ver GC, 356; compa-
de Deus serão levantados de seus túm ulos rar com o "livrinho aberto" na mão do anjo
para ver o c umprimento da promessa divina de Ap 10:1 , 2; ver também TM, 115).
e o triunfo da verdade (ver GC, 637; Ap 1:7). Muitos o esquadrinharão. Do h eb.
Horror. Do heb. der'on , pa lavra que shut, palavra que ocorre 13 vezes no AT
ocorre apenas nesta passagem e em Isaías (N m 11:8; 2Sm 24:2, 8; 2Cr 16:9; Jó 1:7; 2:2;
66 :24. Está relacionada à palavra árabe dara', ]r 5:1; 49: 3; Ez 27:8, 26; Dn 12:4; Am 8: 12;
"repelir", e tem o sentido de "aborrecimento". Zc 4:10). Na maioria dessas ocorrências sina
Depois de testemunhar durante milênios a descreve o ato físico de vagar.
grande controvérsia e ver quão terrível é o Muitos intérpretes creem que shut é
pecado, os habitantes do universo sentirão usado aqui num se ntido metafórico e que
por ele grande repulsa. Quando a controvér- descreve uma fervorosa investigaç ão da
sia findar e o nome de Deus for totalmente Bíblia , resultando num aumento do conhe-
vindic ado, todo o universo terá horror ao cimento com respeito às profecias do livro
pecado e a tudo o que ele contaminou. de Daniel (ver cf. OTN, 234; GC, 356).

969
12:5 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

Outros creem que Daniel prevê a multipli- Do rio. Isto é, o Hidekel, ou Tigre (ver
cação de viagens e dos meios de transporte com. de Dn 10:4).
como os que marcaram o século 19. 6. Homem vestido de linho. Daniel
A LXX traz uma tradução bem diferente: tinha visto este Ser celestial no início de sua
"E tu, Daniel, cubra as ordens e sela o livro visão (ver Dn 10:5, 6).
até o tempo do fim, até que muitos enlou- A referência de Daniel ao "rio" (v. 5) e ao
queçam e a terra se encherá de injustiça." "homem vestido de linho", sem fazer um a
A versão de Teodócio se aproxim a do texto identificação mais comple ta, sugere que o ..,. ~
massorético: "E tu, Daniel, fecha as palavras cap. 10, que apresenta os dois, é parte dessa
e sela o livro até o tempo do fim; até mui- mesma visão.
tos serem instruídos, e o saber aumentará ." Quando [... ]? O anjo formula a pergunta
O saber se multiplicará. Esta frase que deve ter ocupado a mente de Daniel.
deve ser considerada a sequencia lógica da A ânsia do profeta era pela rápid a e com-
fras e que a antecede: quando o livro selado pleta restauração dos judeus (ver com. de
for aberto, no tempo do fim, o conheci- Dn 10:2). O decreto de Ciro já tinh a sido
mento das verdades contidas nessas profe- promulgado (Ed 1:1 ; cf. Dn 10:1), mas havia
cias aumentará (ver PR, 547; cf. Ap 10:1, 2). muito a ser feito . Após o longo e complexo
No final do século 18 e início do sécu lo 19, relato das vicissitudes posteriores que o povo
despertou-se um novo interesse pelas profe- de Deus sofreria, o profeta naturalmente
cias de Daniel e Apocalipse em diferentes estava ansioso por saber quando ocorreriam
lugares do mundo. O estudo dessas profecias "estas maravilhas" e quando seria cumprida
difundiu a crença de que o segundo advento a promessa "será salvo o teu povo" (Dn 12:1).
de Cristo estava próximo. Vários estudio- Daniel não entendeu por completo a relação
sos na Inglaterra, Joseph Wolff no Oriente do que viu com o futuro. Uma porção da pro-
Médio, Manuel Lacunza na América do Sul e fecia estava selada e seria entendid a apenas
Guilherme Miller nos Estados Unidos , junto no "tempo do fim" (Dn 12:4).
com outros estudiosos das profecias, decla- 7. A mão direita e a esquerda. Ver
raram, com base no estudo das profecias de Dt 32:40. O ato de levantar ambas as mãos
Daniel, que o segundo advento estava pres- indica que máxima solenidade e segurança
tes a ocorrer. Essa convicção se tornou a força estavam atreladas à declaração.
motivadora de um movimento mundial. Por Aquele que vive. Não poderia
Esta profecia também foi interpretada haver maior juramento (ver Hb 6:13; cf.
como indício dos estupendos avanços da ciên- Ap 10:5, 6).
cia e do conhecimento geral no século 19, Um tempo, dois tempos e metade de
avanços que tornaram possível uma procla- um tempo. Isto é, o período de 1.260 anos,
mação extensa da mensagem dessas profecias. 538-1798 d.C. , que ocorre primeiramente em
5. Eu, Daniel, olhei. Os v. 5 a 13 for- Daniel 7:25 (ver co m. ali). Ali , usa- se a pala-
mam um epílogo da visão dos cap. 10 a 12 e vra 'idan, "um tempo especificado" ou um
podem ser considerados, num sentido menos "tempo definido". Nesta passagem, usa-se
literal, como um epílogo de todo o livro. seu equivalente hebraico, mo'ed, palavra que
Outros dois. Aparecem então dois seres enfatizao fato de o Ser celestial falar de um
celestiais que se juntam ao que narra a pro- "tempo determinado" (ver com. de Dn 11:35).
fecia a Daniel. Alguns sugerem que tal- Deus jurou cumprir Seu compromisso.
vez sejam os dois "santos" mencionados em 8. Não entendi. No versíc ulo introdu-
Daniel 8:13. tório desta visão (Dn 10:1), Daniel afirma

970
DANIEL 12:12

que "teve a inteligência da visão". No decor- estabelecer a abominação. O foco deve estar
rer da visão, o anjo assegurou ao profeta sobre a retirada preparatória em vez de no
que tinha vindo para lh e fazer "entender" estabelecimento subsequente.
(Dn 10:14). A revelação que se seguiu foi As palavras desta passagem são seme-
dada em linguagem literal. Depois que se lhantes às de Daniel 8:11 e 12 e de 11:31 (ver
introduziu o fa tor tempo de 1.260 anos , com. ali) e devem se referir ao mesmo evento.
em resposta à pergunta "quando? ", Daniel Mil duzentos e noventa dias. Este
confessou: "não entend i". Portanto, a parte período é mencionado em conexão com "um
dessa visão q ue Dan iel não entendeu deve tempo, dois tempos e metade de um tempo"
ser o fa tor tempo. Ele estava orando pela (v. 7), ou 1.260 dias, e os eventos a ocorre-
rápida restauração do templo (ver com. de rem no final desse período são presumive l-
Dn 10:2), um problema imediato. Ele pare- mente idênticos. Então, é razoável entender
ceu incapaz de ajustar o fator tempo à con- que esses dois períodos abrangem aproxima-
cepção de uma breve libertação de seu povo. damente o mesmo tempo histórico. O exce-
O fim. Embora já lhe tivesse sido orde- dente dos 1.290 sobre os 1.260 talvez deva
nado selar esta parte da revelação (v. 4), ser entendido tendo-se em vista o fato de
o profeta ainda queria saber mais de seu que o início dos 1.290 dias se relacion a com <tgg
significado. a retirada do "sacrifício diário", preparatório
9. Vai. Não se permitiu que o vidente ao estabelecimento da "abominação".
e respeitável servo de Deus soubesse todo Os que mantêm o ponto de vista de que
o significado das revelações comu nicadas. "diário" representa o "pagan ismo" (ver com.
O completo significado seria apreciado ape- de Dn 8:11) subtraem 1.290 de 1.798 e che-
nas por aqueles que veriam o cumprimento gam à data de 508 d .C. Eles veem os even-
histórico dessas profecias, pois somente tos que cercam essa data, como a conversão
então o mundo poderia receber uma men- de C lóvis, rei dos francos, à fé católica, e a
sagem baseada no fato de que seu cumpri- vitória sobre os godos, como passos impor-
mento tinha chegado (ver GC, 356). tantes para o estabelecimento da suprema-
10. Serão purificados, embranque- cia da Igreja Católica no Ocidente.
cidos. Ou, "se purificarão a si mesmos e Os que defendem o ponto de vista de
se embranquecerão", ou ainda "se mostrarão que "diário" se refere ao ministério sacer-
puros e brancos". Embora não possa por si dotal contínuo de Cristo no santuário celes -
mesmo se purificar, o ser humano pode mos- tial e ao verdadeiro culto a Cristo na era do
trar por sua vida qu e Deus o purificou. Isso evangelho (ver com. d e Dn 8:11) não e ncon-
contrasta com a fra se seguinte: "mas os per- tram explicação satisfatória para esse texto .
versos procederão perversa mente". Creem que essa é um a das passagens das
Entenderão. Uma garantia de que, nos Escrituras sobre as quais o futuro proje-
últimos dias, quem estudar as profecias com tará mais lu z.
afinco e inteligência entenderá a mensagem 12. Bem-aventurado. Os períodos de
de D eus para seu tempo. tempo dos v. 7, ll e 12 alcançam o "tempo
11. Sacrifício diário. Ver com. de Dn 8:11. do fi m" a que se referem os v. 4 e 9. "Bem-
For tirado. A frase pode ser tradu zida , aventurado" (ver com. de Mt 5:3), di z o anjo ,
literalmente, como "e desde o tempo da reti- é aquele que testem unha os eventos dramá-
rada do sacrifício contínu o a fim de esta- ticos das cenas finais da história da Terra.
belecer a abomi nação". Isso indicaria que a Então, as seções do livro de Danie l que
"retirada" foi feita com a intenção direta de foram seladas seriam entendidas (ver com.

971
12:13 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

de Dn 12:4), e logo "os santos do Altíssimo" América, em geral conhecido como movi-
receberão "o reino, e o possuirão para todo mento milerita.
o sempre" (Dn 7:18). 13. Segue o teu caminho. O cumpri-
Espera. Isto implica que se pode espe- mento das profecias de Daniel deve alcan-
rar que o seguinte período profético con- çar um futuro distante. Daniel descansaria no
tinue além do fim dos 1.290 anos. Se os túmulo, mas "'no fim dos dias', isto é, na conclu-
1.290 e os 1.335 anos começam ao mesmo são do período da história deste mundo, lhe seria
tempo, esse segundo período chega ao ano permitido outra vez estar em sua posição e em seu
de 1843, um a data importante com rela- lugar" (PR, 547; ver também Ellen G. White,
ção ao grande despertar adventista na Material Suplementar sobre este versículo).

COMENTÁRIOS DE ELLEN G. WHITE

1 - PJ, 179; Ev, 241; PE, 33, 2 - GC, 637, 644; PE, 285 FEC, 409 ; GC, 356, 360;
34, 36, 43, 56, 67, 71, 85, 3- CE, 70; CM, 155; SC, PR, 547
282; GC, 481, 613, 622 , 109; PE , 61 ; FEC, 199; 8-13- TM, 115
635, 649; LS, 101, 117; OE, 145 ; LS , 254; MCH, 9, lO - PR, 547
MS, 38;PP, 201, 256; Tl , 247, 325; Tl, 11 2, 512; lO- PJ, 155; OTN, 234 ; PE ,
125, 203, 206, 353; T4, T5, 449, 488, 621; T6, 140; T2, 184; T4, 527;
251; T5, 152, 212; T8, 451; T7, 26, 249 T5, 452
50; T9, 17, 210, 244 4 - AA, 585; OTN, 234; 13 - PR, 547 <4 ~

972

Você também pode gostar