Você está na página 1de 20

Rev. d o M useu de A rq u eologia e E tnologia, São P aulo, 9: 3-22, 1999.

A ARQUEOLOGIA E O FATOR GEO

José Luiz de M orais*

The “geo” component concentrates upon the landscape,


defined in the broadest sense to include the intricatelly
related aspects of surface form and morphogenetic
systems. (Bruce G. Gladfelter 1977).

M O RAIS, J.L. A A rqueologia e o fator geo. Rev. do M useu de A rqueologia e Etnologia, São
P au lo , 9: 3-22, 1999.

RESUMO: Neste artigo são enfatizadas as relações entre a Arqueologia, a


Geografia, a Geomorfologia e a Geologia, definidas como “fator geo”. As investiga­
ções arqueológicas realizadas na bacia do Rio Paranapanem a (Projeto Para-
napanema), Estado de São Paulo, reforçam esta abordagem interdisciplinar como
um modelo em Arqueologia de ambiente tropical.

UNITERMOS: Arqueologia Brasileira - Geoarqueologia - Arqueologia da


Paisagem - Projeto Paranapanema.

Neste artigo1 ressaltamos o grau de signifi- ra a expressão ‘fa to r ”: fa to r é aquilo que concor­
cância das possibilidades de relações disciplina­ re para um resultado. Dizemos, então, que as con­
res entre a Arqueologia, a Geografia, a Geomorfo­ tribuições da (G eo)grafia, da (G eo)m orfologia
logia e a Geologia, a partir da definição de uma enti­ e da (Geo)logia para a Arqueologia constituem
dade denominada fa to r “geo ” tendo como enfo­ o fa to r “g e o ” Esta contribuição será sempre en­
que as pesquisas arqueológicas realizadas no tre­ tendida em dupla mão-de-direção, caracterizando
cho paulista da bacia do Rio Paranapanema, no um a verdadeira interd iscip lin arid ad e. O fa to r
âm bito do P rojP ar — P rojeto P aranapanema. “g e o ” integra o uso das geotecnologias, aqui
expressos o sistem a de posicionam ento global
(GPS), o sistema de informações geográficas (SIG),
A propósito do fator “geo”
o sistema de sensoriamento remoto (SSR), a mo­
e conceitos correlatos
delagem digital de terreno (MDT) e os softwares
do sistema CAD (Computer aided design) e CAM
Como ponto de partida adotaremos a defini­
{com puter aided m apping).
ção de Aurélio Buarque de Hollanda Ferreira pa­
Assim, dentre outras possibilidades, o fa to r
geo marca sua importância no conteúdo da disci­
plina arqueológica e seu planejamento: sua apli­
(*) M useu de A rqueologia e E tnologia da U niversidade cação é direta na prática da arqueologia rotineira,
de São Paulo. no resgate arqueológico e nos esquemas de ges­
(1) As idéias expressas neste artigo foram extraídas do Ca­
tão do patrim ônio das com unidades, incluindo
pítulo I da tese de livre-docência intitulada “Perspectivas
G eoam bientais da A rqueologia do P aranapanem a P au­ o segm ento arqueológico.
lista ", d efendida em agosto de 1999 no M useu de A r­ Isto posto, convém expressarmos alguns con­
queologia e E tnologia da USP. ceitos úteis para o prossegim ento do texto. De

3
M O RAIS, J.L. A Arqueologia e o fator geo. Rev. do M useu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 9: 3-22, 1999.

imediato, colocamos o significado de sitio arqueo­ Outro conceito essencial prende-se aos nú­
lógico, definição válida considerando os propó­ cleos de solo antropogênico presentes com es­
sitos deste artigo. Em 1958, Willey & Phillips defi­ pecial ênfase no registro arqueológico de horti­
niram o sitio arqueológico como sendo a menor cultores da Tradição Guarani. Conhecidos tam­
unidade do espaço a ser trabalhada pelo arqueó­ bém por “m anchas de terra-preta” correspon­
logo, podendo ir do pequeno acampamento à gran­ dem aos rem anescentes dos solos de habitação
de cidade. Para Deetz, final dos 70, a possibilida­ e seu cinturão envoltório. No caso do Paranapa-
de de investigar é a determinante do sitio arqueo­ nema, foram primeiramente observadas por L u­
lógico. Plog & Hill consideram sítio qualquer lo­ ciana Pallestrini, quando das escavações do Sítio
calização de artefatos, mesmo que se trate de um, Fonseca, no Município de Itapeva, e do Sítio Jan-
apenas. Mazurowski (citado por Victor Dias, no go Luís, Município de Campina do Monte A le­
Cyberarqueólogo Português) “acrescentou às gre, no final dos anos 60. O conjunto de núcleos
anteriores definições, a importância que tem a de solo antropogênico, entendidos com o rem a­
localização dos objectos p or se poder teorica­ nescentes de uma aldeia, form a um único sítio
mente discernir através desta, o caráter inten­ arqueológico. À época, tal postura foi de extrema
cional ou não dos achados. ” importância contrariando os ditames do P ronapa
O fato é que não existe urna única definição (Program a N acional de Pesquisas A rqueológi­
de sitio arqueológico. Q ualquer um a é válida, cas), que postulavam para cada núcleo de solo
desde que se ajuste a determinado escopo, para a antropogênico o estatuto de um sítio-habitação.
solução de certo problema. Assim, considerare­ Outro assunto de utilidade seria a qualifica­
mos aspectos particulares das definições acima ção das intervenções no registro arqueológico.
propostas, adicionando a idéia do “local de inte­ Consideraremos intervenções no registro arqueo­
resse arqueológico’’ De fato, sitio arqueológico lógico quaisquer atitudes que proporcionem o des­
poderia ser definido à maneira das idéias de Willey monte do sítio: coletas comprobatorias; abertura
& Phillips - “a menor unidade do espaço” - com­ de sondagens, trincheiras ou cortes; tradagens;
plem entada por Deetz - “passível de investiga­ decapagens; retificação de barrancos. Enfim, qual­
ção” - por Plog & Hill - “contendo objetos cultu­ quer ação de responsabilidade de um profissio­
rais” - e por Mazurowski - “portanto intencio­ nal que provoque alteração física no registro (as
nais” Para os efeitos exclusivos da problemática e ações executadas por não profissionais, casuais
dos objetivos definidos neste trabalho, sitio ar­ ou intencionais, são consideradas fatores de des­
queológico será “a menor unidade do espaço pas­ truição do registro). Inserções no sistema de posi­
sível de investigação, dotada de objetos inten­ cionamento global, levantamentos plani-altimé-
cionalmente produzidos ou rearranjados, que tes­ tricos e registros fotográficos não constituem, no
temunham as ações de sociedades do passado. ” nosso entender, intervenções no registro arqueo­
Plog & Hill dão a base do que chamaremos lógico.
local de interesse arqueológico: a descoberta Finalm ente, resta colocarm os algo sobre o
isolada. Por conta da proposta em tela, à deseo- P rojeto P aranapanem a enquanto instrum ento
berta isolada adicionarem os outros com ponen­ de planejamento e gestão. O P rojP ar é um pro­
tes físicos da paisagem: uma cascalheira de lito- gram a interdisciplinar e interinstitucional, cujo
logia diversificada, um dique de arenito silicifica- propósito é identificar e analisar os cenários das
do, um pavimento detrítico (matérias-primas de ocupações humanas e seu meio ambiente. Foi cria­
boa fratura conchoidal), um barreiro (o barro bom do por Luciana Pallestrini, em 1968. A partir de
para a cerámica), um compartimento topomorfoló- 1993, com redirecionam ento dos seus propósi­
gico adequado a determinado tipo de assentamen­ tos, consolidaram -se os enfoques interdiscipli-
to etc.. Todos esses elementos comporão o que pro­ nares referentes ao tema território, desenvolvi­
pomos serem os parámetros do modelo locacio- mento & meio ambiente. Passaram a ser caracteri­
nal, de caráter preditivo, tão úteis para os reco­ zados cenários sócio-econômicos e culturais cro­
nhecimentos de área e os levantamentos extensi­ nologicamente delimitados. As ações do ProjPar,
vos. Tais parâmetros permitem-nos o mapeamen­ preferencialmente embasadas nas evidências ma­
to de locais potencialmente favoráveis ao encon­ teriais da cultura, passaram a abranger momentos
tro de sítios e locais de interesse arqueológico. que vão da pré-história à atualidade, englobando

4
M O RAIS, J.L. A Arqueologia e o fator geo. Rev. do M useu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 9. 3 22, 1999.

assuntos tais com o as estratégias de sobrevivên­ A m b ie n te da Á rea E s tu d a d a " “G e o lo g ia e


cia das populações indígenas ou as formas de ur­ G eom orfologia da Região P esq u isa d a ’ etc..
b an ização . O s su b program as assum em com o Comentou certa vez um geólogo, na condi­
principal objeto de enfoque as coisas relativas ao ção de membro de uma com issão exam inadora,
patrimônio natural e cultural da bacia do Rio Para- algo parecido com: “numa tese de Arqueologia,
napanem a, englobando o patrim ônio arqueoló­ é absolutam ente desnecessário ao arqueólogo
gico, o patrimônio arquitetônico e urbanístico e o preocupar-se tanto com o item ‘Geologia da Area
patrim ônio am biental e paisagístico. A ssim , o Pesquisada quando tratado de m aneira isola­
P rojP ar, hoje, pretende estudar generalidades e da pois, além de ele não servir como subsídio para
particularidades do meio ambiente físico-biótico a pesquisa do qual fa z parte, nunca será refe­
e do meio ambiente sócio-econômico das comu­ rência para os próprios g eó lo g o s” E sta frase,
nidades locais e regionais, de forma interligada, dita há mais de quinze anos, ainda espelha a situa­
em intervalos de tempo previam ente definidos. ção corriqueira no meio científico da arqueolo­
Resumindo, o P rojP ar atua por meio de um plano gia brasileira. De fato, a produção científica é es­
diretor de pesquisa que congrega um conjunto cassa: há poucos artigos publicados, além de al­
de ações com o propósito de definir, analisar e pro­ guns relatórios técnico-científicos. Ao que pare­
por a síntese dos cenários da ocupação humana ce, o forte são os trabalhos acadêmicos (m estra­
da Bacia do Rio Paranapanema, nos respectivos dos e doutorados), principalmente aqueles vincu­
contextos am bientais. lados a projetos de resgate do patrimônio arqueo­
lógico, a maioria concentrados da USP (Afonso
1988, 1995; Kashimoto 1992, 1997; Faccio 1992,
O fator geo na arqueologia brasileira 1998; Mello Araújo 1994; Beltrão 1998; Martins
1999).
A literatura estrangeira, principalmente a de
língua inglesa, tem nos proporcionado ótim os
enfoques relativos ao fa to r geo na Arqueologia, O fator geo como plataforma de
realizados em diversas partes do mundo, desde estudos arqueológicos
o território m etropolitano dos Estados Unidos,
até os países da Á frica intertropical. No Brasil, Investigações científicas têm a função de
todavia, a situação é bem diferente: há pouco o que estabelecer, dentre outros, alinhamentos direcio­
dizer sobre o estado d ’arte das linhas de pesqui­ nais que subsidiem a im plem entação de todos
sa arqueológica que trabalham com o fa to r geo os procedim entos relativos às interfaces possí­
- Geoarqueologia e Arqueologia da Paisagem - veis entre a práxis arqueológica e as ciências da
no país. terra, com ênfase especial na Geografia, Gemorfo-
A literatura arqueológica brasileira é paupér­ logia e Geologia. O uso das chamadas geotecno-
rima em comunicações onde o fa to r geo se revela logias, pela natureza dos seus procedim entos,
com o o enfoque principal. Tal situação decorre também se insere neste quadro.
da manutenção de vários lapsos, relativos à prá­ O fa to r geo se distribui no âmbito de, pelo
tica da interdisciplinaridade no ambiente acadê­ menos, dois subcampos bem consolidados da Ar­
mico. As vozes têm sido sempre bem altas e con­ queologia: a G eoarqueologia e a A rqueologia
tundentes: “a interdisciplinaridade é im pres­ da Paisagem. No caso da Geoarqueologia, per­
cindível ... a Arqueologia é um campo interdisci- cebemos uma identidade bem marcada, enquanto
plinar p or excelência ... uma equipe de Arqueo­ abordagem interdisciplinar. A A rqueologia da
logia deve ser constituída p o r arqueólogos (!), Paisagem , tem se desdobrado em, pelo menos,
geógrafos, botânicos, geomorfólogos, zoólogos, dois enfoques: um de inspiração norte-americana,
etc ... ” Tão falada, mas tão mal exercida, a inter­ ligado à pesquisa de antigos jardins, e outro, de
disciplinaridade com as geociências, vem cam i­ inspiração européia, que se fundam enta ex ata­
nhando tropegam ente no bojo de muitos proje­ mente na interface A rqueologia / Geografia.
tos, aum entando desnecessariam ente o número Na busca da otimização de uma postura inter­
de páginas de relatórios, artigos, dissertações e te­ disciplinar, reiteramos o postulado de que os an­
ses acadêmicas, com capítulos relativos ao “Meio tigos cenários de ocupação humana são reviven-

5
M O RA IS, J.L. A A rqueologia e o fator geo. Rev. do M useu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 9: 3-22, 1999.

ciados pelo concurso das várias disciplinas inse­ dos como meio de comunicação e expressão (Be­
ridas no contexto das ciências humanas e sociais zerra de Meneses 1988).
(especialmente a Arqueologia, a História, a Geo­ Mormente, o registro arqueológico está con­
grafia Humana, a Etnologia, a Antropologia e a So­ tido em pacotes sedimentares, formando camadas
ciologia), das ciências naturais (principalmente a antropogênicas identificáveis na estratificação
Geografia Física, Geologia, Geomorfologia, Biolo­ natural dos depósitos. Muitas vezes, porém, o re­
gia e Botânica) e das ciências exatas e tecnológicas gistro arqueológico pode estar presente em pisos
(Física, Química, Matemática, Informática). e paredes rupestres ou ser constituído por estru­
Na arqueologia brasileira (e em algumas ou­ turas edificadas (no caso brasileiro, trata-se da
tras, também), a construção da interdisciplinaridade Arqueologia Histórica). Os arranjos espaciais são,
- entendida como o máximo aproveitamento das muitas vezes, detectados por evidências laten­
potencialidades de intercomunicação entre duas tes ou intangíveis. A técnica arqueológica, con­
ou mais disciplinas, no encalço de objetivos co­ cretizada nos modos de intervenção no registro
muns - tem sido encaminhada (com importantes arqueológico, incumbe-se de proporcionar os meios
exceções) de modo canhestro. Mormente faz parte necessários para a recuperação, a notificação, a
de uma arqueografia per se ou no ensejo de um leitura, a descrição e a classificação dos materiais
rótulo “sistêm ico” apenas no nível do discurso arqueológicos em seus respectivos contextos (não
(atitude igualmente claudicante pois desprovida há de se ignorar, porém, que a Arqueologia da Pai­
daquela salutar plataform a proporcionada pela sagem , en q u an to subcam po da A rq u eo lo g ia,
arqueografia classificatòria e historicista). postula, em boa parte dos seus procedim entos,
Assim, no mais das vezes, a literatura arqueo­ a não intervenção no registro arqueológico).
lógica nacional tem contado apenas com exaus­ De modo geral, o registro arqueológico dos
tivas descrições m orfológicas, seguidas de in­ ambientes tropicais é pobre em termos de rem a­
fundadas e desconexas afirm ações funcionais, nescentes orgânicos e as perm anências concre­
corroboradas por com plexos exercícios estatís­ tas acabam ficando por conta dos materiais inor­
ticos, tudo isso introduzido (como afirmado ante­ gânicos, portanto de suporte mineral. Neste caso,
riorm ente) por desnecessários capítulos rotula­ incluem -se os artefatos de pedra (abrangendo
dos de “Aspectos Geográficos da Área Investi­ eles próprios e os detritos decorrentes da sua fabri­
g a d a ” ou “G eologia e G eom orfologia da R e­ cação, entendidos em determ inados contextos
g iã o ” ou, ainda (acom panhando jargões mais espaciais) e os utensílios de cerâmica, obtidos por
atuais), “A spectos Am bientais da Região P es­ meio da apropriação de certas formas, a partir da
quisada" Isso contribuiu muito pouco para as plasticidade das argilas. Desse modo, tais tipos
reflexões concernentes às fontes de recursos cul­ de evidências concretas, que se traduzem em as­
turais (no caso, o registro arqueológico), sem di­ pectos materiais da cultura, assumem importân­
zer aos importantes aspectos sociais das com u­ cia capital no reconhecimento dos modos de vida
nidades responsáveis poi esse registro. e das estratégias de interação entre o homem e o
Todavia, muitas das assertivas consagradas meio, considerando-se o universo das com uni­
por qualquer linha de pensamento que direciona dades pretéritas.
o exercício da disciplina são ainda válidas e con­ A vista desta postura, a interdisciplinaridade
vém revisitá-las. Grosso modo, a Arqueologia é a assume, de fato, importância estratégica na verifi­
disciplina que tem por finalidade o estudo dos mo­ cação do design dos antigos cenários das ocupa­
dos de vida de comunidades antigas que deixa­ ções de caçadores-coletores e de horticultores pré-
ram suas marcas em ambientes específicos, identi­ coloniais. Assim, o imbricado campo da intersecção
ficados como sítios arqueológicos. Se o propósito dos procedimentos interdisciplinares direcionam
final é o estudo dos diferentes aspectos sociais, as possibilidades potenciais de interpretação dos
econômicos e culturais das comunidades, consi­ aspectos sócio-econômicos e culturais dos grupos
derando suas formas, funções e mudanças, os meios responsáveis pela produção do registo arqueoló­
para analisá-los são os objetos produzidos por gico (Sotchava 1977, Neustupny 1993).
elas, tais como permanecem no registro arqueoló­ Mencionamos anteriormente que o registro ar­
gico. Tais objetos foram importantes na criação e queológico está contido em pacotes sedimentares
recriação do universo social, devendo ser entendi­ sujeitos aos processos erosivos e deposicionais

6
M O RAIS, J.L. A Arqueologia e o fator geo. Rev. do M useu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 9. 3-22, 1999.

comandados enfaticamente pelas variações climá­ rico-metodológica e regional, a formulação de pla­


ticas. Mencionamos também que a maior parte do nos de investigação científica tem se preocupado
registro arqueológico com põe-se de evidências em definir algumas questões preliminares a serem
inorgânicas processadas a partir das reservas mine­ respondidas com o apoio vital do fa to r geo no
rais. Assim, reconhecemos a importância dos fato­ contexto da A rq u eo lo g ia in totum . “C o m o ?”
res naturais na ordem econômica e social dos gru­ “qual?” “quando?” e “por que?” são perguntas
pos humanos, principalmente no que toca àquelas aplicáveis tanto ao universo da Arqueologia (en­
populações mais antigas. Tais fatos, dentre outros, tenda-se a prática da disciplina arqueológica), co­
reiteram vitalidade crucial das possíveis interfaces mo ao universo da pré-história (entenda-se o m o­
entre a Arqueologia, a Geografia, a Geomorfologia mento pretérito, à época do assentamento). Sem
e a Geologia - isto é, o fa to r geo - na parte que prejuízo de indagações resultantes de outros des­
lhes compete, relativamente ao levantamento dos dobram entos, têm sido elencadas algum as per­
cenários das ocupações humanas do passado. guntas relativas aos antigos cenários das ocupa­
A eficácia de um estudo de Arqueologia Re­ ções humanas pré-coloniais e de contato do Para-
gional (Johnson 1977, Clarke 1977, Fish & Ko- napanem a paulista, a saber:
walewski 1990, Cameron & Tomka 1996) se regis­
- Com o as populações indígenas, en ­
tra na medida que sua estrutura bem focaliza, den­
q u an to co m u n id a d e s, in te g ra v a m -se no
tre outros, o fa to r geo. Assim, esta estrutura con­
meio ambiente e com ele interagiam?
tem plará itens relativos ao contexto da aborda­
- Com o as populações indígenas ad e­
gem e aos objetivos específicos do trabalho ar­
quavam as estratégias de captação de recur­
queológico, além de uma síntese metodológica
sos da fauna e da flora em função dos vários
relativa aos procedimentos da interface com o fa ­
nichos ecológicos regionais?
tor geo. Discrimina, no seu desenvolvimento, o
- Por que as com unidades in d íg en as
m odus fa c ie n d i dos aportes interdisciplinares,
preferiam certos locais em detrimento de ou­
especialmente com a Geografia, a Geomorfologia
tros e em que medida fatores de ordem am­
e a Geologia. Permeia pela aquisição da documenta­
biental determ inavam (ou influenciavam) a
ção visual da paisagem e pelo mapeamento auto­
esco lh a?
m atizado, armazenado em ambiente magnético.
- Quando ocorreram e quais os limites
Inclui um corpo final com conclusões e perspec­
tem porais das sucessivas ocupações in d í­
tivas de encam inham ento futuro, incluindo as
genas m arcadas no registro arqueológico?
mídias ligadas ao potencial de informatização do
- A relação de dependência hom em /
processo, com o uso das geotecnologias.
meio foi mais intensa nas sociedades de caça-
No caso das investigações realizadas no âm­
dores-coletores, por causa da constante bus­
bito do ProjPar, o fa to r geo, juntam ente com os
ca de matérias-primas aptas para o lascamen-
dem ais processos in terd iscip lin ares apontam ,
to (atividade minerária)?
tentativam ente, para am plas possibilidades de
- Como definir e localizar áreas de ocor­
interpretação no nível da demarcação territorial
rências litológicas favoráveis à obtenção de
das comunidades do passado, procedimento que
m atérias-prim as de uso potencial pelas so­
apenas tem sido entendido com o aporte dos de­
ciedades indígenas?
mais subcampos, com o a cadeia operatoria da
- Quais foram os agentes responsáveis
tecnologia lítica e cerâmica.
pelos processos ero siv o s e d ep o sicio n ais
que atuaram no sítio arqueológico a partir do
seu abandono definitivo ou tem porário?
O fator geo e a problem ática arqueológica
- Como os fatores de ordem geográfica,
principalmente parâmetros definidos no sub-
Bem afirm ou Colin R enfrew "... because campo da geografia humana, podem contribuir
archaeology recovers alm ost ali o fits basic data para a localização de sítios arqueológicos?
by excavation, every archaeo lo g ica l problem - Com o a im plem entação das técnicas
starts as a problem in geoarchaeology.’’ Assim, próprias das geociências podem corroborar
a partir da verificação do contexto do ProjPar os níveis interpretativos da disciplina arqueo­
em suas vertentes logístico-adm inistrativa, teó­ lógica?

7
M ORAIS, J.L. A Arqueologia e o fator geo. Rev. do M useu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 9: 3-22, 1999.

- De que forma os estudos laboratoriais fa to r geo em determ inado estudo arqueológico


de amostras de sedimentos (ou de solos) po­ realizado no âmbito do P rojP ar:
dem consubstanciar as tentativas de recons­
P rom over abordagens de caráter am ­
tituição do paleoambiente à época de uma ocu­
biental, com o propósito de subsidiar a tenta­
pação específica?
tiva de identificação das estratégias de sobre­
Para responderm os (sem o conseguir, m ui­ vivência das comunidades indígenas do pas­
tas vezes) estas e outras perguntas são necessá­ sado.
rios aportes interdisciplinares corretos no contex­
Este objetivo tem sentido bastante genéri­
to do fa to r geo. A natureza do questionamento
co, perm eado pelas possíveis interfaces entre
não permite assumirmos uma simples multidisci-
as especialidades que concorrem para as aborda­
plinaridade com sínteses geográficas, geológicas
gens ambientais. Trata-se, por exemplo, de veri­
e geom orfológicas a suportar respostas genéri­
ficar (em associação com a botânica) a possibili­
cas. Há de se permear os caminhos da parceria,
dade de identificação dos possíveis manejos da
com dupla mão de direção no complexo campo in-
flora, representada pela floresta tropical ou pe­
terdisciplinar.
las manchas de cerrado. A recorrência de certas
espécies de uso medicinal ou para alimentação,
Comentando objetivos implícitos associada aos encontros fortuitos de im plem en­
tos líticos, com provadamente associados ao tra­
A leitura das questões elencadas perm ite balho agrícola (eventualmente descartados), po­
vislum brar objetivos implícitos no seu conjun­ de diagnosticar o manejo da floresta. Certamente,
to. Convém fazermos uma tentativa de explicitá- no presente estágio da investigação, esta afirma­
los neste ponto, não sem antes inseri-los no con­ ção tem caráter altamente especulativo e depen­
texto ambiental do Projeto Paranapanema. Este de dos estudos realizados nos raros remanescen­
é caracterizado pela bacia do Rio Paranapanema, tes de floresta primária.
em suas vertentes paulistas, parcialm ente inte­ O rganizar o quadro de parâm etros locacio-
gradas no Planalto A tlântico (trecho da secção nais relativo aos assentam entos indígenas, com
superior) e no Planalto Meridional. Rochas mais o propósito de subsidiar um modelo locacional
antigas servem de substrato 'ao s pacotes sedi­ de caráter preditivo que direcione os levantamen­
mentares recentes - alúvios e colúvios - que even­ tos arqueológicos sistem áticos.
tualmente incluem os restos de ocupações huma­ Este propósito foi plenamente alcançado, com
nas indígenas pré-coloniais e de contato. a definição de parâmetros locacionais de assen­
A transição entre os climas tropicais (com carac­ tamentos indígenas pré-coloniais (Elbert 1988,
terísticas continentais, no oeste, e atlânticas, no Kipnis 1996).
leste) e subtropicais, associadas às condições pe­ Determinar e avaliar os processos erosivos e
dológicas, permitiu o surgimento e a manutenção deposicionais naturais e artificialm ente induzi­
de uma massa florestal (floresta estacionai semi- dos, responsáveis pela degradação ou agradação
decidual, floresta ombrófila densa e floresta om- dos pacotes sedimentares que contêm o registro
brófila mista), com alguns trechos de vegetação arqueológico, colaborando para a determ inação
arbustiva do tipo savana, mais conhecida por “cer­ do estado de conservação dos sítios e encam i­
rado” nhando, se for o caso, a verificação dos graus de
Tais condições ambientais parecem ter sido bioturbação.
bastante favoráveis ao estabelecim ento das po­ A im plem entação de técnicas esp ecíficas
pulações indígenas do passado, até a invasão dos dos campos da Geomorfologia e da Geologia tem
posseiros (meados do século XIX) e dos cafezais perm itido a aquisição de dados interessantes a
(primeira década deste século), afirmação corro­ respeito desta abordagem. Verificações pontuais
borada pela densidade de sítios arqueológicos alim entaram sínteses regionais consid eran d o ,
nos vários com partim entos am bientais. principalmente, o grande eixo fluvial que é o Para­
Relembrado o contexto ambiental e com base napanema: isto permitiu diagnosticar diferenças
no corpo de questões aventado anteriorm ente, m arcantes entre secções longitudinais e tran s­
acabam por se explicitar os objetivos ligados ao versais do vale , no que toca à gênese, à situação

8
M O RAIS, J.L. A Arqueologia e o fator geo. Rev. do M useu de A rqueologia e Etnologia, São Paulo, 9: 3-22, 1999.

topomorfológica e à degradação de colinas e ter­ A p artir daqui serão pontuados sep arad a­
raços cujos sedim entos m ascaram im portantes mente discursos relativos à metodologia dos sub-
dados do registro arqueológico. No caso da bio- campos que alavancam o fa to r geo, ou seja a Geoar­
turbação, os procedimentos estão sendo encam i­ queologia e a A rqueologia da Paisagem.
nhados a partir da necessária coleta de dados (Mel­
lo Araújo, 1994).
Identificar as fontes de m atéria-prim a utili­ Geoarqueologia
zadas pelas com unidades pré-coloniais, colabo­
rando para o mapeamento dos possíveis marcos G eoarqueologia é um term o relativam ente
e fronteiras dos territórios de captação de recur­ recente na literatura arqueológica. Grosso modo,
sos, no que concerne às atividades minerárias, en­ refere-se às possibilidades de relação disciplinar
globando minerais e rochas de boa fratura con- entre a Arqueologia e as chamadas geociências.
choidal (líticos) e argilas (cerâmicas). Bastante consolidada, principalmente nas inves­
Colaborar nos procedimentos de leitura dos tigações de origem ou de inspiração anglo-ameri­
objetos e conjuntos líticos e cerâmicos enquan­ cana, a G eoarqueologia deverá ser considerada
to documentos arqueológicos, recompondo a se­ subcampo da Arqueologia in totum. Ela não existe
qüência de gestos técnicos utilizada no proces­ enquanto disciplina autônoma, posto que cons­
samento da matéria-prima. titui parte da disciplina arqueológica (H assan
Estes dois objetivos se prendem às cadeias 1979, Gladfelter 1981, Butzer 1982, Wagstaff 1987,
operatorias relativas ao processam ento dos im­ Leach 1992, Waters 1992, Rapp & Hill 1998).
plementos líticos e cerâmicos pelas comunidades Assim, a figura do geoarqueólogo jamais se
pré-coloniais e, possivelmente, de contato com as confundirá com a do geólogo ou do geomorfólo-
frentes de colonização ibérica e brasileira. Esta go enquanto profissionais agregados a um pro­
cadeia, em síntese, envolve a busca da matéria- grama de Arqueologia, em caráter transitório. Do
prima (a pedra lascável ou o barro bom), as técni­ g eo a rq u eó lo g o (que ro tin e ira m e n te tem seu
cas de processamento (muito particulares em ca­ nascedouro acadêmico na Geografia ou na G eo­
da caso), o uso do instrumental (que acaba por logia) exigimos, antes de tudo, formação especí­
tipificar as funções do assentamento ou de seto­ fica em A rqueologia, o que inclui sólida base
res dos assentamentos) e o seu descarte. Tanto teórica, m etodológica e técnica. Do geólogo e
na análise dos materiais líticos, como dos cerâmi­ do geomorfólogo (o último sempre originário de
cos, tem sido crucial o aporte do fator geo na qua­ um curso de Geografia) exigimos, antes de tudo,
lificação das fontes de matérias-primas ou na in­ feelin g para as coisas da Arqueologia, qualida­
terpretação da sua distribuição pela área de pes­ de corroborada na formação específica nas res­
quisa (Vilhena-Vialou 1980; Caldarelli 1983; M o­ pectivas áreas. Entendemos, porém, que a Geoar­
rais 1983, 1988; Afonso 1995). queologia só será possível com o concurso dos
Contribuir para o desenvolvimento de aspec­ três profissionais.
tos teóricos, metodológicos e técnicos dos sub- A Geoarqueologia atua exatamente na inter-
campos G eoarqueologia e A rqueologia da Pai­ secção disciplinar, respondendo às questões for­
sagem. muladas pela Arqueologia. Certamente a recípro­
Contribuir para a definição dos cenários de ca pode se tornar verdadeira quando, além dos
ocupação indígena da bacia do Paranapanem a avanços obtidos pela própria Arqueologia, exis­
paulista, adicionando dados à memória regional tirem respostas plausíveis para os cam pos das
e nacional. geociências envolvidos no conjunto. É o que acon­
Os dois objetivos podem ser com entados tece, com certa freqüência, nos estudos geológi­
conjuntam ente, na medida que tratam dos pos­ cos e geomorfológicos relativos ao Quaternário,
síveis avanços em várias vertentes, decorrentes quando a presença do registro arqueológico po­
da aplicação dos procedimentos do fa to r geo. E, de indicar cronologias seqüenciais concernentes
neste caso, o comentário é remetido ao conteúdo à gênese e ao desenvolvim ento dos pacotes se­
global deste artigo. Generalidades e, quando for dim entares.
o caso, especifidades decorrentes do questiona­ O termo Geoarqueologia foi introduzido por
mento proposto serão retomadas durante o texto. Butzer já no início dos anos 70. Em um de seus

9
M ORAIS, J.L. A Arqueologia e o fator geo. Rev. do M useu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 9: 3-22, 1999.

textos, este autor dá uma conotação ecológica ao upon the geom orphological context o f artifacts
termo: “G eo-archaeology contributes fa r more is what is mean by 'geoarchaeology' This desig­
than stra tig ra p h ie inform ations. In the ideal nation by itself implies a need to integrate data
case it is basic fo r the identification o f m icro­ from many, often diverse, field s and to emphasize
environments (...) When the practitioner is suffi­ that both the 'm an' and the ‘la n d ’ elements as
ciently attu n ed to and a llow ed to particip a te w ell as their interrelationships are im portant
in e x ca v a tio n stra te g y a n d im p le m e n ta tio n , fo r understanding prehistoric activity and asso­
geo-archaeology can resolve fu rth er aspects at cia tio n s. The geo co m p o n en t co n c en tra tes
the research inteface; burial, preservation, and upon the landscape, d efin ed in the b ro a d est
contextual factors critical to the recognition o f sense to include the intricatelly related aspects
primary, semi-primary or secundary sites. It can o f surface form and m orphogenetic system s. ”
fu rth er be argued that a functional classification (Gladfelter 1977).
o f Stone Age sites into categories such as quar­ Outro autor, Fekri Hassan, define o termo da
ry/workshop, kill/butchery, or cam p/living can seguinte maneira: “Geoarchaeology is the con­
only be properly made with the close collabo­ tribution fro m earth sciences to the resolution
ration o f a geo-archaeologist. Finally, the geo­ o f geology-related problem s in archaeology. ”
archaeologist can probably contribute signifi­ (Hassan 1979).
cant information on the availability and limita­ Além do com entário transcrito, este último
tion o f environm ental resources, or help gene­ autor enfatiza que a esfera de ação da Geoarqueo­
rate higher-level interpretations such as cultu­ logia é extensa, abrangendo:
ral adaptations o f adaptative radiation. ” (But- A localização de sitios arqueológicos por
zer 1982). meio de diversas técnicas específicas do cam­
Renfrew vai mais adiante, chegando a consi­ po das geociéncias.
derar a Geoarqueologia uma verdadeira discipli­ A avaliação das paleopaisagens em ter­
na: “This discipline employs the skills o f the geo­ mos das possibilidades de assentam ento.
logical scientist, using his concern fo r soils, se­ Os estudos da estratigrafía regional e da
diments, and landforms to focus these upon the microestratigrafia local.
archaeological site', and to investigate the cir- A análise de sedimentos para a com pre­
cunstances which governed its location, its fo r ­ ensão dos processos de formação dos sitios
mation as a deposit and its subsequent preser­ arqueológicos.
vation and life history. This new discipline o f As análises paleoam bientais envolven­
geoarchaeology is prim arily concerned with the do estudos geomorfológicos, estratigráficos
context in w hich archaeological rem ains are e sedimentares com o estudo dos solos, dos
found. A nd since archaeology, or at least p re­ remanescentes da flora e da fauna e dos pó-
historic archaeology, recovers almost all its ba­ lens.
sic data by excavation, every archaeological pro­ O estudo tecnológico dos artefatos com
blem starts as a problem in geoarchaeology. ” o propósito de se determinar práticas de ma­
(Renfrew 1976). nufatura associadas às fontes de m atérias-
A propósito do termo Geoarqueologia, Bru­ primas.
ce G. Gladfelter comenta: “The contributions o f A avaliação da dinâmica das relações en­
tre as atividades humanas e a paisagem.
the earth sciences, particularly geomorphology
and sedim entary petrography, to the interpre­ A conservação e a preservação de sítios
arqueológicos.
ta tio n a n d en v iro n m e n ta l re co n stru ctio n o f
A geocronologia e a arqueometria (Lam ­
archaeological contexts is called 'geoarchaeo­
bert 1997).
logy' (...) For the archaeologist, prone to focus
n a rro w ly on hum an ad a p ta tio n s to e n v iro n ­ Gladfelter (1981) também afirma que, para o
ment, evaluation o f p rehistoric behavior m ust geoarqueólogo, o contexto ambiental se estende
also include reconstruction o f the 'p h y sic a l’ dos fatores locacionais específicos de cada sí­
surroundings, by im plem enting contributions tio, até as implicações zonais mais amplas, sendo
fro m the earth sciences and other disciplines. que o contexto físico pode ser identificado em vá­
Such an approach to m a n ’s p a st that fo c u ses rias escalas. Por exemplo, um sítio arqueológico

10
M O RAIS, J.L. A Arqueologia e o fator geo. Rev. do M useu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 9. 3-22, 1999.

situado junto a um antigo canal fluvial será anali­ de setembro de 1995, em Santiago de Com poste­
sado sob os seguintes aspectos: la, E spanha.2
De fato, uma afirmação feliz, que satisfaz não
O ambiente geomórfico imediato ou mi­
apenas aos arqueólogos com formação em Geo­
cro-ambiente deposicional, quer seja um ban­
grafia (ou com algum feelin g para esta discipli­
co de cascalhos ou de areia, um terraço ou
na), bem como diagnostica de forma simples, mas
um a planície de inundação abandonada.
com profundidade, o elevado teor interdisciplinar
A paisagem circundante (ou entorno de
desta linha de pesquisa em Arqueologia, pois é
ambientação), quer seja uma extensa planície
verdade que ambas - Geografia e Arqueologia -
aluvial ou um vale encaixado.
são interdisciplinares na sua essência.
O ambiente morfogenético regional em
N ascida britânica, a A rqueologia da Paisa­
m acro-escala.
gem - landscape archaeology - milita na inter-
Mais recentemente, Leach afirmou que: “A r­ secção de vários ramos de núcleos disciplinares,
chaeologists work in a geologic medium. Their recorrendo aos dados da Biogeografia, G eocarto­
interests lie in a particular subjet o f the geolo­ grafia, Geografia Humana e Econômica, Geopolíti­
gic realm - the surficial subset - directly affec­ ca, G eoarqueologia, Z ooarqueologia, A rqueo-
ting and affected by human actions. The archeo- botânica, bem com o aos de outras disciplinas,
lo g is t’s initial extraction o f inform ation fro m tais como História, Antropologia, Sociologia, A r­
the m edium is by geologic means, althouth the quitetura, Urbanismo e Ecologia. Entender a Geo­
information itself may be nongeological. There­ grafia e o meio ambiente de uma determinada área
fore, in this restricted sense o f the respective scien­ é, assim, um importante aspecto da pesquisa ar­
ces, that is, in terms o f its techniques, archaeo­ queológica. Permite, outrossim, que um olhar iso­
logy may be considered as a subset o f geology. lado no passado possa ser inserido em um con­
The archaeological subfield o f geoarchaeology texto amplo e melhor compreensível.
explicitly claim ties with both geology and a r­ Em uma perspectiva mais recente, a Arqueo­
chaeology, and claim s itse lf to be the interm e­ logia da Paisagem aproxima-se bastante do con­
shing o f the two fie ld s .” (Leach 1992). De fato, texto do D esenho A mbiental. A expressão D e­
esta arqueóloga de M innesota tenta, no seu tex­ senho A m biental corresponde ao term o inglês
to, definir objetivos de significância antropológi­ environm ental design ou conservation design.
ca para este subcampo, relacionados, prim eira­ Trata-se de uma ação integradora de conhecimen­
mente, com a cultura material (o objeto resulta de to e experiência, não apenas junto às áreas de Pla­
um suporte geológico - por exemplo, a pedra), nejamento e Arquitetura, mas também de uma ati­
com as atitudes culturais (o caso do estatuto sim­ vidade de com unicação e diálogo entre aquelas
bólico do ocre), com os padrões de subsistência e as demais áreas do conhecimento, envolvendo o
(o papel da Geografia no desenvolvimento sus­ meio cultural em que vivemos. De fato, o desenho
tentável, o manejo dos solos, etc.) e, finalmente, ambiental não envolve apenas a idéia do projeto
com os padrões de assentamento (a correlação do mas também (e principalmente) a idéia de um pro­
estabelecim ento de caçadores-coletores com as cesso. Para isso, o desenho ambiental pressupõe
fontes de matéria-prima lítica, por exemplo). o conceito ecossistêmico em que a ação antròpica
esteja incluída.

Arqueologia da Paisagem
(2) A m aior parte da literatu ra concernente à A rq u eo ­
logia da Paisagem está disponível na R ede M undial de
“Não há necessidade de repetir que sob o C om putadores. Em centenas de hom e p a g es, a Internet
termo ‘arqueologia da paisagem ' nós entende­ o ferece farto m aterial de apoio ao desenvolvim ento do
m os b a sic a m en te a união de duas ciên cia s: tem a. Assim , em seguida à bibliografia, apresentarem os
Geografia e Arqueologia. ” Com estas palavras, v árias U RLs ou e-m ails, d estacan d o -se a p ro d u ção da
U n iversidade de S antiago de C om postela, que m antém
G ennadii A fanasiev, da A cadem ia de Ciências
várias páginas com os p a p ers do F irst A nn u a l M eeting
da Rússia, abriu a sessão por ele dirigida no âm bi­ da E uropean A sso cia tio n o f A rchaeologists. N a au sên ­
to do Prim eiro E ncontro A nual da Associação cia de refe rên cia b ib lio g ráfica, rem etem o s o le ito r às
Européia de Arqueólogos, realizada entre 20 e 24 fontes eletrônicas arroladas ao térm ino da bibliografia.

11
MORAIS, J.L. A Arqueologia e o fator geo. Rev. do M useu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 9: 3-22, 1999.

Inevitáveis tam bém são as ligações da A r­ logia, particularm ente neste ramo da d iscip li­
queologia da Paisagem com as coisas do patri­ na cham ado ‘A rqueologia da Paisagem. ”
m ônio, considerando seus vários com ponentes Um outro ramo da Arqueologia se avizinha
(arqueológico, ambiental e paisagístico, arquite­ bastante da A rqueologia da Paisagem. Trata-se
tônico e urbanístico). “Os resultados das inves­ da Arqueologia Ambiental - environm ental ar­
tigações no arcabouço da Arqueologia da Pai­ chaeology - definida pela Associação de Arqueo-
sagem introduzem uma extraordinária contri­ logia Ambiental como “o campo geral de aplica­
buição ao problem a de organização da preser­ ção das ciências naturais à arqueologia” Este
vação da herança arqueológica européia” con­ ramo, de certa forma, é abrangido pela Arqueo-
tinua Afanasiev, no seu discurso de introdução. logia da Paisagem, posto que a Geografia, enquanto
De fato, eles permitem perceber melhor os proble­ parceira da A rqueologia, co stu m a tratar com
mas ligados com a organização e o gerenciamen­ competência o meio ambiente físico-biótico.
to da herança arqueológica. Pela natureza de sua metodologia e técnicas
Por outro lado, com o advento e a crescente aplicáveis - que perpassam pelo uso quase abu­
consolidação da legislação brasileira de proteção sivo das g eo tec n o lo g ia s - a A rq u eo lo g ia da
ao meio am biente, a A rqueologia da Paisagem Paisagem é uma arqueologia “não destrutiva”
vem à tona mais uma vez. Haja vista a sua inser­ A propósito, explica M artin Gojda, ao relatar o
ção temática nos estudos e relatórios de impac­ desenvolvim ento de um extenso projeto de le­
to ambiental relativos às obras e empreedimentos vantamento na Boêmia, República Tcheca: “Acre­
potencialmente lesivos ao meio ambiente. dita-se que uma das coisas mais importantes a
A ndrew Flem ing, da U niversity o f Wales, ser fe ita neste período de atividades de cons­
Reino Unido, permeia pelo conceito de Arqueo­ trução em larga escala, é o levantamento da pai­
logia da Paisagem: “Landscape Archaeology is sagem histórica da Boêmia de modo a identifi­
a term once used to describe a narrowly-defined car a quantidade e a distribuição espacial dos
set o f field methods, such a field-walking, air pho­ sítios arqueológicos. E a com binação de dois
to interpretation or the identification and re­ a p p ro a c h e s não d e s tr u tiv o s dos a s s e n ta ­
cording o f earthw orks - essentially the Field m entos antigos - o reconhecim ento aéreo e a
Archaeology o f O.G.S. Crawford (1953). These prospecção p o r terra ( ‘p lo u g h -w a lk in g ’) que
methods retain their validity, but finding 'sites1, nós aplicam os em áreas cu id a d o sa m en te s e ­
reconstructing 'settlement patterns' and explo­ lecionadas ( ‘landscape transects ’). ”
ring a site ’s surroundings are now seen to repre­ Assim, a Arqueologia da Paisagem, sem des­
sent a rather lim ited agenda. A rchaeologists merecer a atividade de escavação, faz justiça ao
are beginning to discuss the m eanings o f past levantamento arqueológico (Schiffer et al. 1978,
la n d sca p es, a n d to th in k a b o u t the ch o ices Dunnel & Dancey 1983). A obrigatoriedade de se
w hich they fa c e in landscape interpretation. definir graus de significância aplicáveis aos sítios
They are starting to explore the recursive rela­ a serem escavados tem consolidado a idéia dos
tio n ships betw een the cultural landscape (at “levantamentos de área”, fato corroborado pelos
varying scales), social action and perceptions recentes avanços no campo das geotecnologias.
o f the world. This perspective in turn stimulates E a fidelidade do levantamento arqueológico tem
new approaches, often originating within other mexido com o próprio conceito de sítio arqueoló­
disciplines. A cynic might argue that the use o f gico, como foi discutido na introdução deste tra­
the term ‘landscape by archaeologists is now balho.
so broad and diffuse that it has became m eanin­ A boa qualidade da pesquisa no cam po da
gless, but it could also be argued that is preci­ A rqueologia da Paisagem depende do uso das
sely the breadth o f the concept which gives the geotecnologias, técnicas modernas para estabe­
value, bringing together m any o f our current lecer, registrar e gerenciar paisagens e seus com ­
theoretical preoccupations... ” ponentes. O uso do GPS (global positioning sys­
Martin Kuna, da Academia de Ciências de tem), do SIG (sistem a de inform ação geográfi­
Praga, República Tcheca, afirma que “a distri­ ca), dos SGBDs (sistemas de gerenciam ento de
buição espacial de sítios arqueológicos perten­ banco de dados), dos SSRs (sistemas de senso­
ce aos níveis cruciais da explanação em arqueo­ riamente remoto), dos softwares do sistema CAD

12
M O RAIS, J.L. A Arqueologia e o fator geo. Rev. do M useu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 9. 3 22, 1999.

(com puter aided design) e CAM (com puter a i­ a arq u eó lo g a S olange C ald arelli, da em p resa
ded mapping), maximiza os resultados pretendi­ Scientia Consultoria Científica, em caráter pio­
dos pelo profissional que escolhe percorrer esse neiro, propôs recentemente o tema “registro ar­
caminho. Estes instrumentos digitais de levanta­ queo ló g ico da p a is a g e m ” com o um dos p ro ­
mento, ligados ao esboço e à modelagem de rele­ gramas de mitigação dos impactos ambientais aos
vo, perm item -nos a produção de alta qualidade sítios arqueológicos na área de influência da U si­
com economia. na Piraju, no Rio Paranapanema.
A política de prestação de serviços da U ni­ A dentrando questões ligadas aos aspectos
dade Arqueológica da Universidade de Lancas­ metodológicos, o primeiro a ser ressaltado é a ten­
ter, Reino Unido tem por base o seguinte pressu­ tativa de adoção da perspectiva holística no de­
posto: “O ur historically im portant landscapes senvolvim ento das investigações arqueológicas
are more than ju s t a collection o f archaeologi­ do Paranapanema, sob a ótica da Arqueologia da
cal sites, they are a living historical documenta­ Paisagem, partilhando da crescente iniciativa de
ry that provide a sense o f place to local com m u­ uma corrente científica que, baseada nos precei­
nities. The recognition and analysis o f such lan­ tos da Declaração de Veneza (1986), enfatiza a
dscapes is a requirem ent o f any developm ent premissa “a unidade do universo, fam osa visão
which is likely to lead to widespread environ­ holística, é, definitivamente, a que associa ciên­
m ental and habitat change. H istoric landscape cia e tradição” (Randon 1991). Esta postura vem
recording and analysis is a prerequisite o f any consolidando o enfoque patrimonial da Arqueo­
p lan to conserve landscape qualities and m a­ logia. De fato, o conhecimento científico chegou
nage change within a landscape. ” aos seus confins e, por isso, é hora de ele come­
Assim, entendermos o entorno de ambienta- çar a dialogar com outras formas de conhecim en­
ção onde se insere um sítio arqueológico, cons­ to. A ssim , reconhecendo as diferenças fu n d a­
truído e reconstruído em função do uso e da ocupa­ mentais entre ciência e tradição, pode-se frisar
ção do solo, ajuda-nos na tarefa de entender a vida não a sua oposição mas, sim, a sua com plem enta­
pregressa e a cultura. ridade. E a ótica patrimonial - o patrim ônio da
Robin Boast, da Cambridge University, Rei­ comunidade como bem de uso comum do povo
no Unido, levanta uma crítica bastante pertinente, - acaba por ganhar sentido.
ao enfoque puram ente “natural” das paisagens A interdisciplinaridade e a transdisciplina-
que, na realidade, são produtos de algumas rela­ ridade que têm orientado a investigação no Para­
ções importantes, como homem/meio ou homem/ napanema são, em si, uma aplicação holística, pois
homem: “Landscapes studies have long focused refletem a intenção de construir pontes sobre as
on the location and fu nction o f activities over fronteiras disciplinares, bem como entre as disci­
space and time, focu sin g on sites, their catch­ plinas e a tradição. Neste caso, convém notar que
m ents and economies. In other words, landsca­ transdisciplinaridade, de acordo com Basarab Ni-
pe archeology has had very little to do with lan­ colescu (citado por Ribeiro Franco 1987), signi­
dscapes - with landscapes as social space ... fica “o encontro da ciência moderna com a tra­
The landscape does not exist passively as a pla- dição (esta última entendida como transmissão
taform on which social functions take place nor da sa b e d o ria ). A tr a n s d is c ip lin a r id a d e vai
simply as a resource to be exploited, rather the além da inter, pluri e m ultidisciplinaridade, as
b uilt landscape is socially constructed. ” quais apenas integram as várias disciplinas do
Pouco praticada em terras brasileiras, a Ar­ ramo do conhecim ento. T ransdisciplinaridade
queologia da Paisagem com eça a despontar ti­ significa união entre os ramos da ciência com
midamente no âm bito do universo acadêmico e os cam inhos vivos da espiritualidade, a qual
na iniciativa privada (arqueologia por contrato). não prescinde da interação hemisférica do cére­
No primeiro caso, cum pre destacar as idéias de bro humano. ”
Tânia Andrade Lima, arqueóloga do Museu N a­ A mesma Declaração de Veneza anteriormente
cional da Universidade Federal do Rio de Janei­ citada continua afirmando que: “De certa form a,
ro, que vem alardeando a possibilidade de novas essa abordagem transdisciplinar está escrita em
abordagens em arqueologia brasileira, incluin­ nosso próprio cérebro através da interação dinâ­
do aí a Arqueologia da Paisagem. Por outro lado, mica entre seus dois hemisférios. O estudo conjunto

13
M ORAIS, J.L. A Arqueologia e o fator geo. Rev. do M useu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 9: 3-22, 1999.

da natureza e do imaginário, do universo e do ed ifício num a fo rm a de trabalho cooperativo


homem poderia, assim, aproximar-se m elhor do que se chama ‘Arquitetura Total’ Essa tendên­
real e permitir-nos enfrentar melhor os diferentes cia fa z p a rte das transform ações conceituais
desafios de nossa época ... Recomendamos a ur­ derivadas da visão ecossistêmica e da Hipótese
gência da pesquisa de novos métodos de educa­ de Gaia e pode ser considerada como vertente
ção, capazes de levar em conta os avanços da holística no p ro cesso de criação a rq u itetô n i­
ciência que agora se hamonizam com as grandes ca. ” (Ribeiro Franco 1997).
tradições culturais, cuja preservação e cujo estu­ M ais esp ecificam en te, explanações sobre
do mais profundo parecem fundamentais. ” métodos e técnicas em Arqueologia da Paisagem
O paradigma holístico está vinculado à con­ passam, necessariamente, pelos conceitos de sí­
cepção sistêmica, entendida como a maneira de tio arqueológico, local de interesse arqueológi­
ver todos os fenômenos ou eventos de um todo co e levantamento arqueológico (assunto já ven­
coordenados entre si, de modo que funcionem co­ tilado na introdução deste artigo).
mo uma estrutura organizada. “Em resposta à cri­ Se bem que nunca formalmente explicitado, o
se global da consciência humana, surge uma conceito de sítio sempre esteve muito preso ao
nova cosmovisão baseada numa holoepistem o- ato de escavar (Clark 1996). Todavia, vários fato­
logia (holos, do grego totalidade), que integra res, especialmente de ordem econômica (a esca­
e vai além da epistem ologia cartesiana e da vação é onerosa), técnica (há instrumentos mo­
concepção dialética clássica. O novo paradig­ dernos que rastreiam os assentamentos, sem to­
ma h o lístico que desponta d esen vo lveu -se a cá-los) e preservacionista (a escavação desmon­
p a rtir de uma concepção sistêm ica na qual a ta o sítio), vêm colaborando para que se firme a
abordagem dos fenôm enos e eventos se dá de idéia da “fidelidade” do levantamento (ou da pros-
maneira inter-relacionada e interdependente. ” pecção, como entendem alguns). A Arqueologia
(Ribeiro Franco 1997). da Paisagem pouco intervém no registro arqueo­
Tal postura acompanha a abordagem sistê­ lógico, esforçando-se para mostrar que é possível
mica do mundo no qual todos os elementos, inclu­ reconstituir concretam ente a m aneira com o as
sive as sociedades humanas, interagem em uma populações organizaram o seu espaço.
imensa rede de relações. Num sentido metafórico, A abordagem da paisagem (D ollfus 1982;
trata-se de uma gigantesca “wide world w e b ” Santos 1985, 1996; Santos & Souza 1986; Santos
da Rede Mundial de Computadores. Assim, natu­ et al. 1994) ou dos entornos de ambientação de sítios
reza e sociedade fundem-se em uma totalidade e locais de interesse arqueológico vem se firman­
organizada. Visão ecossistêm ica e holística se do cada vez mais com o uso dos modernos ins­
integram e interagem na medida que tratam de trumentos hoje disponíveis: sistemas de senso-
relações e de totalidade. Em uma abordagem am­ riam ento remoto (imagens de satélites e a “ve­
biental, concluímos que os recursos da Terra não lha” foto aérea), SIGs, GPSs (incluindo as total
são inesgotáveis e que, portanto, é mais que de­ stations), SGBDs etc.. E assim, o conceito de sí­
sejável a união das sociedades hum anas entre tio, sempre em mudança, vem se alargando cada
si e com a natureza, em sistema de cooperação e vez mais (sobre o conceito de sítio arqueológico,
não de competição. “A visão evolutiva da dinâ­ relembramos definição anteriormente exposta).
mica entre os pólos da competição e da coope­ Talvez a melhor proposta m etodológica da
ração nasceu da Teoria dos Ecossistemas e se Arqueologia da Paisagem seja a do sta ff da Lan-
transform a agora, na década de 1990, numa caster University Archaeological Unit, que se ins­
teoria transdisciplinar conhecida como a busca pira em três níveis de registro da paisagem.
da ‘Q ualidade Total’ a qual está sendo testa­
da p o r vários sistemas organizacionais no mun­ N ível l - Levantam entos E stim ativos
do, desde p eq u en a s em presas, a té em presas
multinacionais. No campo da arquitetura, nota- Corresponde à fa se inicial do projeto, sen­
se hoje, especialmente nos EUA e no Japão, uma do a mais elementar forma de levantamento. O b­
tendência na busca da integração das d isc i­ jetiva localizar e promover um levantamento bási­
plinas, tais como o planejamento territorial, ur­ co estimativo de sítios e locais de interesse arqueo­
banism o, paisagism o e o próprio desenho do lógico anteriorm ente identificados, sob a ótica

14
M O RAIS, J.L. A Arqueologia e o fator geo. Rev. do M useu de A rqueologia e Etnologia, São Paulo, 9: 3-22, 1999.

da A rqueologia da Paisagem ; cobre áreas ex ­ da natureza finita dos bens arqueológicos e n ­


tensas. O ponto central e vários outros pontos quanto recurso cultural. Resta, então, trabalhar a
dos sítios são registrados com o auxílio de total comunidade detentora do patrimônio arqueológi­
stations. Descrições sumárias para a base de da­ co em tela para que esta herança seja preservada.
dos serão elaboradas. E ste levantam ento pro­ Corroborando as iniciativas ligadas à Arqueo­
porciona subsídios para o estabelecimento de es­ logia da Paisagem, deverão ser ativados procedi­
quemas preliminares e genéricos de manejo, pro­ mentos próprios da Arqueometria, especialm ente
porcionando a elaboração de MDTs (m odela­ as datações. Justificamos tal incremento em fun­
gens digitais de terreno) de pequena escala. Fo­ ção da necessidade de se obter referências cro­
tografias aéreas e imagens de satélite são utiliza­ nológicas mais apuradas, com o propósito de es­
das nesta fase. clarecer o quadro das migrações humanas em pe­
ríodos pré-coloniais e históricos.
N ível 2 - Levantam entos Avaliatórios No caso da pasta de cerâmica, podem ser uti­
lizados m étodos nucleares não destrutivos. Se­
C orrespondem à fa s e de identificação. Os gundo Appoloni et al. (1997), as análises densi-
levantam entos avaliatórios definem a extensão tométricas determinam parâmetros de tecnologia
e a forma dos sítios e dos locais de interesse ar­ cerâmica como homogeneidade, presença de ca­
q u eológico individ u alm en te, relacionando-os cos moídos ou outros antiplásticos. Além disso,
com a topomorfologia, considerando os parâme­ a composição da pasta de cerâmica pode identifi­
tros do m odelo locacional. P roporciona regis­ car a região onde a argila foi coletada por meio da
tros m ais detalhados para análises acadêm icas investigação de depósitos próxim os aos sítios
do desenvolvim ento da paisagem ; cobre áreas arqueológicos.
menores. A tividades específicas de Geoarqueo-
logia deverão ser encaminhadas. O levantamen­
O fator geo no Paranapanema
to avaliatório deve ser projetado para gradativa-
mente alcançar o nível 3, promovendo a aquisi­
ção de pontos e dados adicionais. Neste nível é O fa to r geo estará presente em todos os m o­
possível registrar cenas e paisagens notáveis, mentos da vida do planejamento de investigação
dem onstrando o desenvolvimento e o crescimen­ arqueológica inserido no P rojP ar . N este caso,
to de atividades e ações humanas em determina­ os pesquisadores têm se valido das seguintes pos­
dos locais. MDTs mais pontuais poderão ser ela­ sibilidades de interface (Hassan 1979, Gladfelter
boradas (entornos de am bientação). 1981,Goudie 1987):
Organização territorial da área a ser pes­
N ível 3 — Levantam entos M itigatorios quisada, adotando-se como ponto de partida
a delimitação das microbacias hidrográficas.
Correspondem à fa se de manejo ou geren­ Opcionalmente, poderão ser definidos e de­
ciam ento. R epresentam o registro paisagístico limitados módulos de levantamento arqueo­
mais compreensivo de um sítio ou um local de in­ lógico, a partir da fixação de coordenadas pla­
teresse arqueológico, quando as geotecnologias nas de referência (coordenadas do Sistem a
são usadas em sua maior profundidade. A gera­ UTM).
ção de modelagens digitais de terreno é em escala E stu d o s lito e stra tig rá fic o s reg io n a is,
grande. O produto é o mapeamento na forma de abrangendo o cinturão envoltório dos con­
co nstruções isom étricas do terreno, o m apea­ juntos de sítios arqueológicos. Esta medida
mento bidimensional de detalhe ou a construção é bastante útil no sentido de se localizar e
de maquetes. A fase 3 provê um arcabouço que mapear fontes de m atérias-prim as enquanto
permite ativar o gerenciamento detalhado dos re­ locais para o desenvolvim ento de ativ id a­
gistros arqueológicos identificados nos levanta­ des mineratórias (Andrefsky 1994).
mentos. Nesta fase decide-se, por exemplo, se o Registro e análise das evidências arqueo­
sítio será preservado in situ ou se a sua preserva­ lógicas de atividades de extração (minerais,
ção far-se-á por meio do registro de suas estrutu­ vegetais e animais) e de produção (agricultu­
ras. A preservação in situ é preferível em função ra) (Higgs & Vita-Finzi 1972, Holliday 1992).

15
M ORAIS, J.L. A A rqueologia e o fator geo. Rev. do M useu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 9: 3-22, 1999.

Análises petrográficas de matérias-primas Identificação de parâmetros locacionais


(por exemplo, cerâmicas e líticos), com o propó­ como base para a definição de um modelo lo-
sito de se elucidar a cadeia de gestos técnicos cacional de caráter preditivo, de absoluta uti­
necessários para a obtenção de artefatos, as lidade na fase de levantamento arqueológi­
possibilidades de comércio e rede de troca, co (Chorley, H aggett 1974, 1975a, 1975b;
bem como os limites das áreas de captação de Redman 1973; B oard 1975; H odder 1976;
recursos litológicos (Higgs & VitaFinzi 1972; Ambler 1984; Gorenflo & Gale 1990; Kipnis
Hayden 1979; Morais, 1981/82; 1983; 1987; 1996).
Caldarelli 1983; Kelly 1988; Afonso 1995). Registro das mudanças nos padrões de
Estudos geom orfológicos, clim áticos e estabelecimento locais e a amplitude de seus
hidrológicos regionais, de grande importân­ reflex o s em term os am b ien tais regionais
cia para a com preensão dos processos que (Chang 1972, Carr 1984, Roberts 1987).
determinaram o enterramento do registro ar­ Análise das relações entre os padrões de
queológico (A b’Sáber 1969a,1969b, 1989; assentamento e detalhes das formas de uso
Rick 1976; Schiffer 1987; Dunnel 1988; Lar- da terra, bem como das evidências de degra­
son 1992; Kuehn 1993; Will & Clark 1996; dação da paisagem e erosão do solo (Creme-
Waters 1998;Camilli 1988). ens et al. 1998).
Conservação do registro arqueológico in Detecção da qualidade e intensidade do
situ, a partir da seleção e adoção de medidas uso da terra, sugeridas pela presença de itens
mitigatorias que minimizem os impactos natu­ da cultura m aterial nos registros arqueoló­
rais e antrópicos sobre ele (Rick 1976, Stafford gicos (Gallay 1986, Camilli 1988, Holliday
etal. 1992, Shelley 1993, McFaul etalii 1994, 1992).
Pãrssinen et alii 1996, Waters & Kuehn 1996, Verificação da “produção de paisagens”
Walker et alii 1997, Guccione et al. 1998). por populações indígenas pré-coloniais e de
Análises sedim entológicas dos depósi­ contato (Johson 1977, Galicia 1990, Rouge-
tos arqueológicos, que colaborarão nos pro­ rie & Beroutchachvili 1991, Rossignol & Wan-
cedim entos de reconstrução dos paleoam - dsnider 1992).
bientes e de algumas características das ativi­ Estudo dos primordios da urbanização:
dades humanas (verificação de resíduos mi­ desenho urbano e ciclos econômicos da apro­
croscópicos, por exemplo) (Bertrand 1972). priação do espaço, em termos de A rqueolo­
Verificação das relações possíveis ho­ gia Histórica (Wagstaff 1987, Funari 1997).
mem / meio, de crucial importância no trata­ Estudo da implantação e do desenvolvi­
mento da articulação dos sistemas culturais mento de rotas (sistemas locais e interregio-
com o meio ambiente circundante (Delpoux nais) e suas relações com as mudanças de pa­
1974, Shackley 1981, Butzer 1982, Mooers & drões de povoam ento pré-coloniais e colo­
Dobbs 1993). niais (Hodder 1991, Rochefort 1998).

M ORAIS, J.L. de. Archaeology and geo com ponent. Rev. do M useu de Arqueologia e Etnologia,
São Paulo, 9: 3-22,1999.

ABSTRACT: Relations among archaeology, geography, geomorphology and geology,


defined as “geo component”, are emphatized in this article. Archaeological investigations
in Paranapanema River Basin (Paranapanema Project), São Paulo State, reinforces this
interdisciplinary approach as a model in tropical archaeology.

UNITERMS: Brazilian Archaeology - Geoarchaeology - Landscape Archaeology


- Paranapanema Project.

16
M O RAIS, J.L. A Arqueologia e o fator geo. Rev. do M useu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 9. 3-22, 1999.

R eferências bibliográficas

A B ’SA BER, A.N. C A M IL L I, E.L.


1969a Form ações quaternárias em áreas de reverso de 1988 In terp retin g L ong-T erm L and-U se P attern s
cuesta em São Paulo. G eom orfologia, São Pau­ from A rch eo lo g ical L an d scap es. A m erica n
lo, IG-USP, 16. A rch eo lo g y, 7 (1): 57-65.
1969b Os baixos chapadões do oeste paulista. G eo­ CARR, Ch.
m orfologia, São Paulo, IG-USP, 17. 1984 The N ature of O rganization o f Intrasite A r­
1989 P áleo-C lim as Q uaternários e Pré-H istória da chaeological Records and Spatial Analytic Ap­
A m érica Tropical. D édalo, São Paulo, publi­ proaches to their Investigation. A dvances in
cação avulsa: 9-25. A rchaeological M ethod a n d Theory, 7 N ew
A FO N SO , M.C. York, Academic Press: 103-222.
1988 A ocupação pré-histórica na região de Serra CHANG, K.C.
A zu l e São Sim ão: um estudo geoarqueoló- 1972 Settlem ents Patterns in Archaeology. Addison-
gico). D issertação de M estrado, São Paulo, Wesley M odule in Anthropology, 24.
F FLC H -U SP. CHORLEY, R.J.; P. HAGGETT
1995 C a ça d o res-coletores pré -h istó rico s: estudo 1974 M odelos integrados em geografia. São P au­
g eo a rq u eo ló g ico da bacia do R ib eirã o do lo: Edusp.
Q ueim ador (m édio Tietê, SP). Tese de Douto­ 1975a M odelos sócio-econôm icos em geografia. São
rado, São Paulo, FFLCH-USP. Paulo: Edusp.
AMBLER, JR . 1975b M odelos físico s e de inform ação em geografia.
1 9 8 4 The Use and Abuse o f Predective M odeling São Paulo: Edusp.
in Cultural Resource M anagem ent. Am erican CLARK, A.
A n tiq u ity, 4 (2): 140-146. 1996 Seeing Beneath the Soil. P rospecting M etho­
ANDREFSK Y, Jr., W. ds in A rchaeology. London: B.T. Batisford Ltd.
1994 The G eological O ccurrence o f L ithic M ate­ CLARKE, D.L.
rial and S tone Tool P ro d u ctio n S trategies. 1977 Spatial Archaeology. London: Academic Press.
G eoarchaeology: An International Journal, CREMEENS, D.L.; HART, J.P.; DARMODY, R.G.
9 (5): 3 7 5-391. 1998 Com plex Pedostratigraphy o f a Terrace Fragi-
A P P O L O N I, C.R . pan at the Memorial Park Site, Central Penn­
1997 E studo de cerâm ica arqueológica do Paraná sylvania. G eoarchaeology: An International
p o r té c n ic a s n u c le a r e s n ão d e s tru tiv a s . Journal, 13 (4): 339-359.
R e v is ta , d o M u se u de A r q u e o lo g ia e DELPOUX, M.
E tn o lo g ia , S upl., 2: 135-149. 1974 E cossistem a e Paisgagem. M étodos em Q ues­
BERTRA ND , G. tão, São Paulo, IG-USP, 7.
1972 Paisagem e G eografia Física Global. Esboço DOLLFUS, O.
M etodológico. Caderno de Ciências da Terra 1982 O Espaço Geográfico. São Paulo: Difel.
do IG-USP, 13. DUNNEL, R.C.
BEZERRA DE MENESES, U.T. 1988 L o w -D en sity A rch eo lo g ical R eco rd s from
1988 A rq u eo lo g ia de Salvam ento no B rasil: uma Plowed Surfaces: Some Preliminary Considera­
avaliação crítica. C onferência apresentada no tions. Am erican A rcheology, 7 (1): 29-37.
Sem inário sobre Salvamento Arqueológico. Rio D U N N EL, R.C.; W.S. DA N C EY
de Janeiro, SPHAN. 1983 The Siteless Survey: A Regional Scale D ata
BOARD, C. C ollection Strategy. A dvances in A rchaeolo­
1975 Os m apas com o m odelos. R.J. C horley; P. gical M ethod and Theory, 6: 267-285.
H ag g ett (E d s.) M o d elo s só c io -eco n ô m ic o s ELBERT, J.I.
em geog ra fia . São P aulo, E dusp: 139-184. 1988 M odeling Hum an System s and “Predicting” the
B U T Z E R , K.W. A rc h e o lo g ic a l R e c o rd : T he U n a v o id a b le
1982 A rchaeology as Human Ecology Cambridge: Relationship o f T heory and M ethod. Am erican
C am bridge U niversity Press. Archeology, 7(1): 3-7.
CALDARELLI, SB . FÁCCIO, N.B.
1983 L iç õ e s da P ed ra . A s p e c to s da o c u p a ç ã o 1992 Estudo do Sítio A lvim no contexto do Projeto
p ré -h is tó ric a no m éd io vale do R io Tietê. P aranapanem a. D issertação de M estrado, São
T ese de D o u to ra d o , S ão P a u lo , F F L C H - Paulo, FFLCH-USP.
USP. 1998 A rq u e o lo g ia d o s C e n á rio s da O c u p a ç õ e s
CA M ER O N , C M ; T O M K A , S.A. (Eds.) H o rtic u lto ra s da C apivara, B aixo P a ra n a ­
19 9 6 A b a n d o n m e n t o f S e ttle m e n ts a n d R egions. p a n e m a . T ese de D o u to ra d o , S ão P a u lo ,
E th n o a r c h a e o lo g ic a l a n d A r c h a e o lo g ic a l FFLC H -U SP.
Approaches. C am bridge: C am bridge U niver­ FISH, S.K.; KOW ALEW SK I, S.A. (Eds.)
sity P ress. 19 9 0 The Archaeology o f Regions. A Case fo r Full-

17
M ORAIS, J.L. A Arqueologia e o fator geo. Rev. do M useu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 9: 3-22, 1999.

C overage Survey. W ashington: S m ithsonian P a ra n á . T ese de D o u to ra d o , S ão P a u lo ,


In stitu tio n P ress. F FLC H -U SP.
G ALICIA , X. de KELLY, R.L.
1 9 9 0 A rqueología del Paisaje. El área Bocelo-Fure- 1988 H unter-G atherer L and Use and Regional Geo-
los entre los tiem pos paleolíticos y medievales. m orphology: Im plications for A rcheological
D irección X eral do Patrim onio Histórico e D o­ Survey. American Archeology, 7 (1): 49-56.
cum ental, La Coruña. KIPNIS, R.
GALLAY, A. 1996 O uso de modelos preditivos para diagnosticar
1986 L ’A rchéologie Demain. Paris: Belfond. recursos arqueológicos em áreas a serem afeta­
GLADFELTER, B.G. das por empreendim entos de impacto ambiental.
1977 Geoarchaeology: The Geomorphologist and Ar­ A tas do Sim pósio sobre Política N acional do
chaeology. American Antiquity, 42 (4): 519-538. M eio Am biente e Patrimônio Cultural. Goiânia,
1981 Developm ents and Directions in Geoarchaeo­ UCG: 34-40.
logy. M .B . S chiffer (E d.) A d va n ces in A r ­ KUEHN, D.D.
c h a e o lo g ica l M eth o d a n d T heory, 4. New 1993 Landforms and A rchaeological Site Location in
York, A cadem ic Press: 343-364. the Little M issouri Badlands: A New Look at
G O R EN FLO , L.J.; G ALE, N. Some W ell-Established Patterns. G eoarchaeo­
1990 M apping Regional Settlem ent in Information logy: A n International Journal, 8 (4): 313-332.
Space. Journal o f Anthrpological Archaeology, LAMBERT, J.B.
9:240-274. 1997 Traces o f the Past. Unraveling the Secrets o f
GOUDDE, A.S. A rch a eo lo g y through C hem istry. R eading,
1987 Geography and Archaeology: the grow th of a M assachusetts: H elix Books.
relationship. J.M. W agstaff (Ed.) Landscape & LARSON, M.L.
C u ltu re. G e o g ra p h ic a l & A r c h a e o lo g ic a l 1992 Site Formation Processes in the Cody and Early
Perspectives. New York, Basil Blackwel: 11-25. Plains Archaic Levels at the Ladie Creek Site,
GUCCÍONE, M J.;SIERZCHULA, M.C.; LAFFERTYffl, RH. W yoming. Geoarchaeology: An International
1998 Site Preservation along an Active M eandering Journal, 7(2): 103-120.
and Avulsing River: The Red River, Arkansas. LEACH, E.K.
Geoarchaeology: An International Journal, 13 1992 On the Definition of Geoarchaeology. Geoar­
(5): 475-500. chaeology: An International Journal, 7 (5):
HASSAN, F.A. 405^117.
1979 G eoarchaeology: the Geologist and A rchaeo­ MARTINS, D.C.
logy. Am erican Antiquity, 44 (2): 267-270. 1999 Arqueologia da Serra da Mesa: Planejamento,
HAYDEN, B. (Ed.) Gestão e Resultados de um Projeto de Salvamento
1979 Lithic Use-Wear Analysis. New York: Academic Arqueológico. Tese de Doutorado, São Paulo,
Press. FFLCH-USP.
HIGGS, E.S; VITA-FTNZI, C. McFAUL, M.; TRAUGH, K.L.; SMITH, G.D.; DOERING, W.;
19 7 2 P reh isto ric econom ies: a territorial approa­ ZIER, C.J.
ch. E.S. H ig g s (E d.) P apers in E conom ic 1994 Geoarchaeologic Analysis of South Platte River
Prehistory. Cam bridge, Cam bridge University Terraces: Kersey, Colorado. Geoarchaeology:
P ress: 27-36. An International Journal, 9 (5): 345-374.
H O D D E R , I. M ELLO A R A U JO , A.G.
1976 Spatial A nalysis in A rchaeology. Cambridge: 1994 Levantam ento arqueológico da área do alto
Cam bridge U niversity Press. Taquari, E stado de São Paulo, com ênfase na
1991 Reading the past. Current approaches to in­ abordagem dos sítios líticos. D issertação de
terpretation in archaeology. Cambridge: Cam­ Mestrado, São Paulo, FFLCH-USP.
bridge University Press. MOOERS, H.D.; DOBBS, C. A.
HOLLIDAY, V.T (Ed.) 1993 Holocene Landscape Evolution and D evelop­
1992 So ils in A rchaeology. L andscape E volution ment o f Models for Hum an Interaction w ith the
an d Human Occupation. Washington: Sm ith­ Environment: An Example from the Mississipi
sonian Institution Press. H ead w a ters R egion. G eo a rc h a e o lo g y : A n
JOHNSON, G.A. International Journal, 8 (6): 475-492.
1977 Aspects o f Regional Analysis in Archaeology. MORAIS, J.L.
A nnual Review o f A nthropology, 6: 479-508. 1981/ Os artefatos em sílex de Santa Bárbara d ’Oeste,
KASHIMOTO, E.M. 1982 SP. Revista do M useu Paulista, São Paulo, 28:
1992 G eo a rq u eo lo g ia do B aixo P aranapanem a: 101-114.
urna perspectiva geográfica de estabecimentos 1983 A utilização dos afloramentos litológicos pelo
hum anos pré-históricos. Dissertação de M es­ homem pré-histórico brasileiro: análise do trata­
trado, São Paulo, FFLCH-USP. mento da matéria-prima. Coleção Museu Paulista,
1998 Variáveis am bientais e arqueologia do A lto Arqueologia, São Paulo, volume 7.

18
M O RAIS, J.L. A Arqueologia e o fator geo. Rev. do M useu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 9: 3-22, 1999.

19 87 A propósito do estudo das indústrias líticas. SCH IFFER , M.B.


R evista do M useu Paulista, São P aulo, 32: 1987 F orm ation p ro c esses o f the arc h a eo lo g ica l
155-184. record. A lbuquerque: U niversity o f N ew M e­
N E U S T U P N Y , E. xico Press.
19 93 A rc h a e o lo g ic a l M ethod. C am bridge: C am ­ SHACK LEY, M.
bridge U niversity Press. 1981 E n v ir o n m e n ta l A r c h a e o lo g y . L o n d o n :
PÀRSSINEN, M.H.; SALO J.S.; RÀSÀNEN, M.E. G eorge A llen & Unwin.
1 9 9 6 R iv e r F l o o d p la in R e lo c a t io n s a n d th e SH ELLEY , Ph.H .
A b a n d o n m e n t o f A b o rig in e S e ttle m e n ts 1993 A G eoarchaeological A pproach to the A naly­
in th e U p p er A m azon B asin: A H isto rical sis o f Secondary Lithic D eposits. G eoarchaeo­
C ase S tu d y o f San M iguel de C u n ib o s at logy: An International Journal, 5 (1 ): 59-72.
th e M id d le U c a y a li R iv er. G e o a r c h a e o ­ SOTCHAVA, V.B.
lo g y : A n I n te r n a tio n a l J o u r n a l, 11 (4 ): 1977 O E studo de G eossistem as. M étodos em Q ues­
3 4 5 -3 5 9 . tão, São Paulo, IG-USP, 16.
R A N D O N , M.
STAFFORD, C.R.; LEIGH, D.S.; ASCH, D.L.
1991 A ciência face aos confins do conhecim ento.
1992 Prehistoric Settlem ent and L andscape Change
Brandão & Crema (Eds.) O novo paradigma ho-
on Alluvial Fans in the U pper M ississippi River
lístico. São Paulo, Summus Ed.: 39-47.
Valley. G eoa rch a eo lo g y: A n In te rn a tio n a l
RAPP, G., Jr.; HILL, Ch.L.
Journal, 7(4): 287-314.
1998 Geoarchaeology. The E arth-Science A pproa­
VILHENA-VIALOU, A.
ch to A rchaeological Interpretation. New H a­
1980 Tecnotipologia das indústrias líticas do Sítio
ven: Yale U niversity Press.
A lm eid a no seu quadro natural, arq u eo et-
REDMAN, Ch.L.
nológico e regional. Tese de D outorado, São
1973 M ultistage Fieldw ork and Analytical Techni­
Paulo, FFLCH-USP.
ques. Am erican A ntiquity, 38 (1) 61-79.
WAGSTAFF, J.M. (Ed.)
RENFREW, C.
1987 Landscape & Culture. G eographical & A r ­
1976 Introduction. Archaeology and the Earth Scien­
chaeological P erspectives. New York: Basil
ces. D.A. D avidson; M .L. S hackley (Eds.)
Blackwel.
Geoarchaeology. Earth Science and the Past.
1987 The New A rchaeology and Geography. J.M .
London, Duckworth: xxxxxxxxxxxx.
W agstaff (Ed.) Landscape & Culture. G eo­
RIBEIRO FRANCO, M. A.
graphical & Archaeological Perspectives. New
19 9 7 D esenho A m biental. Uma Introdução à A r ­
York, Basil Blackwel: 26-36.
q u ite tu ra da P a isa g em com o P a radigm a
E cológico. São Paulo: A nnablum e/F apesp. W ALKER, I.J.; D ESLO G ES, J R.; CR A W FO RD , G.W.;
SMITH, D.G.
R ICK , J.W.
19 7 6 D ow slope m ovem ent and archaeological in- 1997 F lo o d p la in F o rm a tio n P ro c e s s e s an d
trasite spatial analysis. A m erican A ntiquity, A rch aeo lo g ical Im p lic a tio n s at the G ran d
41 (2): 133-144. B anks S ite, L ow er G rand R iver, S outhern,
ROBERTS, B.K. O ntario. G eoarchaeology: A n In tern a tio n a l
198 7 L a n d s c a p e A rc h a e o lo g y . W a g s ta ff, J.M . Jo u rn a l, 12 (8): 865-887.
(E d.) L a n d sca p e & C ulture. G eographical W ATERS, M .R.
& A rch a eo lo g ica l P erspectives. New York, 1992 P rinciples o f Geoarchaeology. A North A m e­
Basil B lackw el: 77-95. rican Perspective. Tucson: The U niversity of
RO SSIG N O L, J.; W AND SNIDER, L.A. (Eds.) A rizona Press.
1992 Space, Time, and A rchaeological Landscapes. 1998 The Effect o f Landscape and Hydrologic Va­
New York: Plenum Press. riables on the Prehistoric Salado: G eoarchaeo­
ROUGERIE, G.; BEROUTCHACHVIU, N. logical Investigations in the Tonto Basin, A ri­
1991 G éossystèm es et Paysages. Bilan et M ethode. z o n a. G e o a r c h a e o lo g y : A n In te r n a tio n a l
Paris: Armand Colin. Journal, 13 (2): 105-160.
SANTOS, M. WATERS, M.R.; KUEHN, D.D.
1985 Espaço & M étodo. São Paulo: Nobel. 1996 The G eoarchaeology o f Place: The E ffect of
199 6 P o r u m a g e o g r a fia n o v a . S ão P a u lo : G eological Processes on The Preservation and
H u citec. Interpretation o f the A rchaeological Record.
SAN TOS, M .; SO U ZA , M .A. (O rgs.) American Antiquity, 61 (3): 483-497.
1986 O Espaço Interdisciplinar. São Paulo: Nobel. WILL, R.T.; CLARK, J. A.
SANTOS, M.; SOUZA, M.A.; SILVEIRA, M.L. (Orgs.) 19% S tone A rtifact M ovem ent on Im poundm ent
1994 T erritó rio : G lo b a b a liza ç ã o e F r a g m e n ta ­ Shorelines: A Case Study from M aine. A m e­
ção. São Paulo: H ucitec/A npur. rican A ntiquity, 61 (3): 499-519.

19
M O RAIS, J.L. A Arqueologia e o fator geo. Rev. do M useu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 9: 3-22, 1999.

Fontes eletronicas

LUAU - L a n c a s t e r U n iv e r s it y A r c h a e o l o g ic a l U n it

h ttp ://w w w .lan c.ac.uk


L a n d sca p e A rch a eo lo g y (last m odified on 1996)
L an d sca p e S u rvey (last m odified on 1996)
The North West W etlands Survey (NW W S) (last m odified on 1996)
r.new m an @ lancaster.ac.uk: i.quarterm aine @ lancaster.ac.uk
L a n d sca p e A rch a eo lo g y - Survey L evels (last m odified on 1996)
P a la eo b o ta n ic R esearch (last m odified on 1996)
j .dodds @ lan caster.ac.uk
B u ild in g s A rch a eo lo g y (last m odified on 1996)
j.i.w o o d @ lan caster.ac.u k

U n iv e r s it y o f D u n d e e
http://w w w .dundee.ac.uk
U nderstanding P eople through the H um an Sciences - O verview
h ttp ://w w w -p h il.p h ilen g l.d u n d ee.ac .u k /staff/rav /u p h s/
H olism in S o cial Science
h ttp ://w w w -p h il.p h ilen g l.d u n d ee.ac .u k /m a g en /u p h s/h o lism .h tm

US ARM Y - US A r m y C o r p s o f E n g in e e r s
h ttp://w w w .w ex.arm y.m il
C ultural R esource M anagem ent S upport to M ilitary Installations (projects 1-25) (last m odified on ?)

I n t e r n e t A r c h a e o l o g y O f f ic e - U n iv e r s it y o f Y o r k
h ttp ://a d s.ah d s.ac.u k
A rch a eo lo g ists U sing G IS (last m odified on 1996)
a p m 9 @ v o rk .a c .u k
ian .jo h n so n @ an tiq u ity .su .ed u .au
G il l in g s , M.; G o o d r i c k , G. Sensous and R eflexive GIS Exploring Visualisation and VRML, text search, 1996

U n iv e r s it y o f T e x a s
http://w w w .utexas.edu/depts/grg
G IS in A rch a eo logy (last m odified on ?)
id ig @ u tx v m x .cc.u tex as.ed u

C o r n e l l U n iv e r s it y
http://w w w .cornell.edu
L a b o ra to ry in L a ndscape A rch a eo lo g y (1997-98 course d escrip tio n s)
Urban A rch a eo lo g y (1997-98 course d escrip tio n s)

ESRI C o n s e r v a t io n P r o g r a m R e s o u r c e s : A r c h a e o l o g y & A n t h r o p o l o g y
h ttp ://w w w .esri.co m /b ase/u sers/co n serv atio n
Sites o f In terest f o r M apping / G IS (last m odified on 1997)

U n iv e r s it y o f C h ic a g o , O r ie n t a l I n s t it u t e
h ttp://w w w .oi.uchicago.edu
U pper M eso p o tam ia L andscape P roject, 1992-93 A n n u a l R ep o rt (revised: 1997)

K vam m e, K.L.
http://w eb .b u .ed u /archaeologv/w w w /facultv/kvam m e/sieber.htm l
L a n d sca p e A rch a eo lo g y in W estern C olorado (1988-94)

U n iv e r s it y o f N e w c a s t l e
h ttp ://.n c l.a c .u k /~ n a rc h a e /
T yne-Solw ay A n cien t L andscapes In itia tive (P ublications): “L andscape A rch a eo lo g y in T yn ed a le”, 102
p p , by C h risto p h er Tolan-Sm ith. 1996.
c h ris.to la n -sm ith @ n c l.a c .u k

20
M O RAIS, J.L. A A rqueologia e o fator geo. Rev. do M useu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 9: 3-22, 1999.

B ir n b a u m , Ch. A.
h ttp ://w w w .o ld h o u s e jo u r n a l.c o m /n o te b o o k /n p s b rie fs /b rie f3 6 .a s p
P ro tectin g C u ltural L andscapes: P lanning, T reatm ent a n d M a n a g em en t o f H isto ric L a n d sca p e s (brief)

U n iv e r s id a d e d e S a n t ia g o d e C o m p o s t e l a
h ttp ://w w w - g ta r p a .u s c .e s
G rupo de In vestig a ció n en A rq u eo lo g ía del P aisage
G rupo de In ven ta rio y P rospección
G rupo de T ecnologías de la Inform ación
p h ib la n @ u s c .e s

Resúmenes de las Comunicaciones del “First Annual M eeting de la European Association o f Archaeologists

1 - L a n d sca p e A rch a eo lo g y T hrough E urope: P roblem s. M eth o d s a n d Techniques


( G e n n a d ii E. A f a n a s ie v , c h a i r m a n )
K o v a l e v s k a y a , V.B. L andscape A rchaeology o f C entral C iscaucasia (6'h- I2 'h C entury A .D .) (Institute o f
A rchaeology Ran, M oscow, R ussia).
G o j d a , M. The Com bination o f A erial and G round Survey in Bohem inan Landscapes Studies (Institute o f
A rchaeology, Prague, C zech R epublic).
C o n t r e r a s , F.; R o d r íg u e z , I.; M o l in a , F.; E s q u iv e l , J.A .; P e ñ a , J.A. Site, Territory and A rcheological Inform ation
System s (U niversidad de G ranada, Spain).
M c A d a m , R. The O xford-A arhus A n a ly tic a l D atabase P roject: Trying do P ublish L a n d sca p es (O xford
A rch aeo lo g ical U nity, U .K .).

2 - N ew A p p ro a ch es In L andscape A rchaeology
( A n d r e w F l e m in g , c h a i r m a n )
K una, M. Why Are Archaeological Sites Where The Are? (Institute o f Archaeology, Prague, Czech Republic).
M aclade, J; P i c a z o , M. T im ing S pace: te m p o r a litie s a n d so c ia l re p ro d u ctio n in the a rc h a e o lo g y o f
settlem en t (M cdonald Institute for A rchaeological R esearch, U niversity o f C am bridge, U .K .; U niversität
P om peu Fabra, B arcelona, Spain).
G r a m s c h , A. Landscape: o f m aking and seeing (Institue F ür U r Und F rühgeschichte, B erlin, G erm any).
L a n d i n , D .C .; R o u r a , F.I. Take a Walk on the W ild Side: p a ttern s o f m ovem ents to explain p a ttern s o f
h u n tin g site lo ca tio n s (U n iv ersid ad e de S antiago de C o m postela; S erv icio s T écnicos de A rq u eo lo x ia,
C onselleria de Cultura, Spain).
E n a m o r a d o , V.M. A b o u t Som e Tugur on the O ccidental B order (Tagr A l-A dne) o f G ranada: space and
p op u la tio n (U niversidad de M álaga, Spain).
A r t e a g a , O . N atural P rocess and H istorical P rocess: A ndalusian C oasts and A rchaeology (U niversidad
de Sevilla, Spain).

3 - E n viro n m en ta l A rc h a e o lo e v
( P il a r L ó p e z , c h a i r m a n )
D reslerov á, D. Climatic Change and Human Response (Czech Academy of Sciences, Prague, Czech Republic).
J äger, K .D . A r c h a e o lo g ic a l E vid en ce o f H o lo cen e C lim a tic O s c illa tio n s in C e n tra l E u ro p e (M artin
L u th e r U n iv ersität, H alle, G erm any).
B a k e l s , C. Growing Grain fo r Others: how to detect surplus production (Universiy of Leiden, The Netherlands).
L e b e d e v a , E. A n c ie n t A g ric u ltu re in the E a stern E urope: the p ro b le m s o f the in v e stig a tio n (R u ssian
Academ y o f Sciences, M oscow, Russia).
A n t ip a n a , Y.Y.; M a s l o v , S.P. The Plains o f Crimea in the Border A ncient and M iddle Ages: man, environment,
econom y (R ussian A cadem y o f S ciences; M oscow State U niversty, R ussia)
M o r a l e s , A; H e r n á n d e z , F; R o s e l l ó , E. The C hanging F aunal E xploitation F allacy: a case stu d y fr o m
Cueva de N erja (S. Spain; 14,000 5,000 B.P.) (U niversidad A utónom a de M adrid, Spain).

4 - A rc h a e o lo e v a n d the C h aneing o f R ural L andscapes


( P eter F o w l e r , c h a ir m a n )
M e r c e r , R.J. The R evolution o f R ural Landscape in Scotland and an A rchaeological R esponse to C urrent
D evelo p m en ts (R oyal C om m ission on the A ncient and H istorical M onum ents o f S cotland, U .K .).
D a r v il l , T.; F u l t o n , A.; K in g , N. The M onuments at Risk Survey in England (Bournem outh University, U.K.).
F a i r c l o u g h , G. T hrough the H edge B ackw ards: h erita g e m a n eg em e n t a n d sh a p in g the E n g lish R u ra l
L a n d sca p e (E n g lish H eritage, U .K .).
G o n z a l o , M.A.; C e r r il l o y M a r t in de C á c e r e s , E.; B r ia s , J.M. Rural Landscape in the A m broz Valley (C dceres)
fro m a D iachronic P erspective o f its A rchaeological Heritage. A nalysis o f the problem o f its m anagem ent
a n d conserva tio n (U niversidad de E xtrem adura, C áceres, Spain).

21
M O RAIS, J.L. A Arqueologia e o fator geo. Rev. do M useu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 9: 3-22, 1999.

K ovalev, A. R ussian R eform s and the Fate o f A rchaeological M onum ents (R ussian Institute for C ultural
and N atural H eritage, St. Petersburg, Russia).
De La T o r r e , N.Z.; M a t a , F.H.; L o p e z , M .C. The M anor o f Otiñar, Jaén (1834-1975): a hereditary vindi­
cation o f recent p a st (D elegación Provincial de C ultura, Jaén, Spain).
K a l a n d , S.H.H. H eathlands - The A tlantic L andscape o f E urope: an exem ple fro m N orw ay (U niversity of
B ergen, N orw ay).

5 - B u ilding L andscapes: S patial R egularities in M aterial C ulture


( R o b in B o a s t , c h a i r m a n )
H olto rf, C. M egaliths and their R eceptions in the L andscape (U niversity o f W alles, L am peter, U .K .).
B oyd, B. Breaking Down the N ature - Culture D ichotom y in P rehistory: a view fro m the Levant (Corpus
C hrist C ollege, C am bridge, U.K.).
B u j e d o , N . T . ; V a r g a s , M . J . L . C ogotas I E xcise Ceram ic and its E nvironm ental C ontext (Spain).
F e r n a n d e s , I.C.; M a r t ín e z , P.P. From the Landscape to Potery: spatial regularities in m aterial culture (Uni­
versidad de Santiago, Spain).
B e r g h , S. To Be Seen or not To Be Seen. That is the Difference: a regional study o f monuments, visibility and
landscape in C õil Irra, Co. Sligo, Irela n d (R iksantikvarieam betct, S tockolm , Sw eden).

6 - The A rch a eology o f Wealth. P restiee and Value: L andscape and M aterial Culture
( A l a s d a ir W h it t l e , c h a i r m a n )
C h apm a n , J. The Significance o f Time-Value and Place-Value in E uropean Prehistory (U niversity o f N ew ­
castle, U .K .).
M ü l l e r , J. The A ccum ulation o f P restige in a Late N eolithic Landscape: Central G erm any and the adap­
ta tion o f ritu a l and tech n o lo g ica l innovations (Freie U niversität, B erlin, G erm any).
P y d y n , A. The U niversal a n d R ela tive C h a ra cter o f Social, E conom ic a n d S ym b o lic Value: exam ples
fro m the study o f cross-cultural exchange in C entral E urope in the transition fro m the Late B ronze A ge
to the E a rly Iron A ge (O xford U niversity, U .K .).
P a l a v e s t r a , A. Princely Tombs as Landmarks in the Central Balkans Iron Age (Institute f o r Balkans Studies,
B elgrade, Yugoslavia).
M o r i l l o , S.R. The Bow and the Arrow in Greece During the Late Bronze A ge and the Early Iron A ge (Uni­
versidade de Vigo, O urense, Spain).
L a p a t in , K .D .S . F aith, R en ew a l a n d P ow er: C h ryse lep h a n tin e S ta tu a ry in C la ssic a l G reece (B oston
U niversity, U .S .A .).
R ie c k h o f f , S. Jewellery, Wealth, Power: social structures in Early Bronze A ge cem eteries in South Germany
(U n iv ersität L eipzig, G erm any).

7 - Urban A rch a eo lo g y
( V ir g íl io H ip ó l it o C o r r e ia , c h a i r m a n )
N ix o n , T.J.P. E valuating L ondon (M useum o f L ondon, A rchaeology S ervice, UK).
O norato, A.M . The Urban A rchaeological P roject in Grenade (U niversidad de G ranada, Spain).
M ir a j , L. Urban Archaeology in Albania: the case o f Durres as a particular one (Museum of Dyrrah, Albania).
M a r t in s , M .; D e l g a d o , M. D iscovering Bracara Augusta: an urban archaeologica p ro je ct (U niversity of
B raga, P ortugal).
K r a u s e , G. P ro b lem s a n d C hances o f U rban A rc h a eo lo g y in G erm any (K u ltu r-U n d S ta d h isto risc h e s
M useum , D uisburg, G erm any).
T a l l ó n - N ie t o , M.J.; P u e n t e s E.R. M inim ising Risks in Urban A rchaeology: urban planing and archaeological
p ractice (D irección Xeral de Patrim onio H istórico, C onsellería de Cultura, Santiago, Spain).
A v n i , G. D eveloping Jerusalem - R escue E scavations, Conservation, and P reservation o f A rchaeological
Sites to the P ublic (Israel A ntiquities Authority, Jerusalem , Israel).

Recebido p a ra publicação em 20 de setem bro de 1999

22

Você também pode gostar