Você está na página 1de 23

11.

Arte Portuguesa – o Rococó

Índice
1. Contexto.................................................................................................................................... 1
2. Arquitetura................................................................................................................................. 2
2.1.O Rococó..............................................................................................................................2
2.2.O Pombalino.........................................................................................................................2
2.3.Principais arquitetos............................................................................................................. 4
2.3.1. Carlos Martel.................................................................................................................4
2.3.2. André Soares................................................................................................................4
2.3.3. Mateus Vicente de Oliveira...........................................................................................5
2.3.4. José de Figueiredo Seixas (? - 1773)...........................................................................5
2.3.5. José Francisco de Abreu..............................................................................................6
2.4.Arquitetura religiosa..............................................................................................................6
2.4.1. Basílica da Estrela........................................................................................................6
2.4.2. Santuário da Falperra...................................................................................................9
2.4.3. Igreja do Carmo............................................................................................................ 9
2.4.4. Basílica dos Congregados..........................................................................................10
2.4.5. Igreja e Convento de Nossa Senhora de Jesus / Paroquial das Mercês (Lisboa)......10
2.5.Arquitetura Palaciana......................................................................................................... 12
2.5.1. Palácio do Raio...........................................................................................................12
2.5.2. Palácio do Marquês de Pombal..................................................................................13
2.5.3. Palácio de Queluz.......................................................................................................14
2.6.Arquitetura pública..............................................................................................................15
2.6.1. Arco da Porta Nova - Braga........................................................................................15
3. Escultura.................................................................................................................................. 15
3.1.Escultores...........................................................................................................................15
3.1.1. Machado de Castro.....................................................................................................15
3.2.Obras.................................................................................................................................. 19
3.2.1. Estátua equestre de D. José I.....................................................................................19
4. Azulejo..................................................................................................................................... 20
5. Textos complementares...........................................................................................................21
5.1.Memória e Comemoração na Lisboa de Pombal................................................................21

1. Contexto
A sucessão de D. João V é assegurada pelo seu filho D. José. A abundância de recursos
mantém a política de esplendor e ostentação, graças aos diamantes e metais preciosos do
Brasil, permitindo uma arquitetura de luxo, bem como programas decorativos modernos,
seguindo o gosto da época.
Apesar de ser uma época de esplendor, o Rococó em Portugal é marcado pela pior
catástrofe natural do país e uma das piores acontecida na Europa – o Terramoto de 1755.
1
Na manhã do dia 1 de Novembro de 1755 a cidade de Lisboa ficou praticamente arrasada
após um violento terramoto, seguido de um tsunami e, posteriormente, um gigantesco incêndio,
matando milhares de pessoas. A parte central da cidade ficou arrasada, incluindo o palácio real,
patriarcal, teatro de ópera e principais edifícios públicos. A tragédia chocou a Europa inteira.

2. Arquitetura
2.1. O Rococó
O Rococó (da palavra francesa rocaille, que significa "concha"), entra em Portugal pelo
norte, enquanto Lisboa, devido aos faustos da corte, se mantém agarrada ao Barroco. É uma
arquitetura que segue a grande corrente internacional muito decorada, e, devido ao granito
escuro em contraste com as paredes brancas, de perfil claramente português. A decoração é
naturalista, baseada principalmente em concheados e folhas de acanto, mas também elementos
arquitetónicos e escultura. Tornam-se moda os locais de peregrinação, construídos
frequentemente em locais de relevo acidentado, permitindo imponentes escadórios de grande
efeito cenográfico como Nossa Senhora dos Remédios em Lamego. André Soares destaca-se
na região de Braga, sendo os principais exemplos o Santuário da Falperra, a Igreja dos
Congregados, a Câmara Municipal de Braga e a Casa do Raio, entre muitos outros. O número
de obras e arquitetos é grande e, como o norte de Portugal foi poupado ao terramoto, estes
edifícios são numerosos.
No sul, devido à menor densidade populacional, maior influência da corte e como
consequência do terramoto são menos frequentes. Mas mesmo assim existem vários exemplos
dos quais se destaca o Palácio de Queluz. Executado segundo projeto de Mateus Vicente de
Oliveira torna-se residência da corte durante o reinado de D. Maria I. Feito segundo o gosto
francês para o príncipe D. Pedro, irmão de D. José I, é caracterizado por grande requinte e
elegância. Desenvolve-se em torno de um jardim de buxo com jogos de água e um grande
parque. Os interiores são decorados com pintura, escultura, espelhos, azulejos, estuques e talha
dourada seguindo o gosto francês. A capela, devido à junção de talha, mármores coloridos e
pedras semipreciosas, reflete um gosto clássico invulgar no Rococó português. O edifício vai
recebendo posteriores ampliações durante a época Neoclássica.
A principal igreja Rococó de Lisboa, a Basílica da Estrela, é o último grande edifício
Rococó da cidade, revela a influência a influência do Palácio/Basílica/Convento de Mafra, mas
também não se pode negar semelhanças com as igrejas pombalinas, nomeadamente na
fachada. As elegantes torres sineiras e cúpula não conseguem esconder o vocabulário
pombalino na fachada, apesar da escultura e relevos. O interior é coberto por mármores
coloridos, tentando manter uma tradição oposta ao Pombalino.

2.2. O Pombalino
O Pombalino é de novo, tal como a arquitetura Chã, fruto da necessidade e do espírito de
iniciativa de Portugal.
Recebe este nome devido ao Marquês de Pombal, principal impulsionador da
reconstrução e verdadeiro governante do reino, sem o qual não teria sido possível obra de
tamanha envergadura. Também é fundamental a referência aos arquitetos Manuel da Maia e
Carlos Mardel, verdadeiros autores das propostas apresentadas.
2
É um tipo de arquitetura inteligente e muito bem concebida, por englobar o primeiro
sistema antissísmico e o primeiro método de construção em grande escala pré-fabricado no
mundo. Consiste numa estrutura em madeira flexível inserida nas paredes, pavimentos e
coberturas, posteriormente coberta pelos materiais de construção pré-fabricados, que, como se
dizia na época, “abana mas não cai”. A baixa de Lisboa, área mais afetada, está construída em
zona instável, sendo necessário reforçar toda a área. Recorre-se a outro sistema antissísmico,
composto por uma verdadeira floresta de estacas enterradas. Estas, como estão expostas à
água salgada, não correm o perigo de apodrecer conservando a sua elasticidade natural.
Protegia-se a cidade de modo revolucionário e, sem dúvida, pela primeira vez no mundo, a esta
escala.
O sistema pré-fabricado é completamente inovador para a época. O edifício é inteiramente
fabricado fora da cidade, transportado em peças, e posteriormente montado no local. Pela
primeira vez se constrói uma cidade nestes termos. Apesar de as obras de reconstrução da
cidade se arrastarem até ao século XIX, poucos anos depois, ainda em vida do rei, a população
estava devidamente alojada e com condições inexistentes antes do terramoto.
A cidade é completamente modificada. As ruas de traçado medieval, com aspeto
labiríntico, dão lugar a um traçado retilíneo ortogonal, regularizando a área compreendida entre
as antigas praças da cidade, Rossio e Terreiro do Paço, também corrigidas e ordenadas. Os
espaços são amplos, permitindo condições de iluminação e arejamento inexistentes na cidade
medieval.
A Praça do Comércio, sem o Palácio Real, transferido para a Ajuda, está aberta ao rio
Tejo e destina-se a receber os vários ministérios. É dominada por dois torreões gémeos,
inspirados no antigo torreão do Palácio Real, monumentalizada por uma estátua do rei D. José,
da autoria de Machado de Castro, e recebe um arco de triunfo, construído apenas no século XIX
segundo projeto diferente do original, simbolizando o triunfo sobre o terramoto. É a praça do
poder.
O Rossio perde o antigo e arrasado Hospital de Todos os Santos, e torna-se no “fórum” da
cidade, tentando manter o carácter popular, apesar dos elegantes edifícios. As ruas são
hierarquizadas condicionando a tipologia de edifícios construídos.
O edifício Pombalino é uma estrutura até quatro pisos, com arcadas para lojas no piso
térreo, varandas ou varandins no primeiro andar e cobertura em água furtada. Todas as
construções seguem a mesma tipologia, sendo acrescentados pormenores decorativos na
fachada consoante a importância do local. As construções são isoladas por quebra-fogos e
respeitando a volumetria máxima imposta – considerava-se que os quatro pisos eram os ideais
em caso de nova catástrofe.
A construção dos palácios é também regulamentada, obrigando uma sobriedade sem
ostentação, muito impopular entre a aristocracia, permitindo efeitos decorativos apenas no portal
e janelas um pouco mais elegantes que os prédios de habitação.
As igrejas seguem o espírito da época. O número é drasticamente reduzido, seguindo os
mesmos princípios construtivos, alguma decoração arquitetónica exterior e tipologias bem
definidas. São edifícios de nave única com altares laterais, decoração interna seguindo as
formas do Rococó, materiais fingidos em madeira e estuque, alguma pintura (destacam-se as
obras de Pedro Alexandrino de Carvalho) e escultura. Os espaços são agradáveis, suaves,
3
luminosos e, apesar da construção pré-fabricada, bem ao gosto Rococó. Destacam-se as Igrejas
de Santo António da Sé (no local onde nasceu Santo António), da Encarnação, São Domingos,
Madalena, Mártires e muitas outras. Mantendo o vocabulário estético e elementos decorativos
pré-fabricados houve a preocupação de as individualizar. Em edifícios menos destruídos tentou-
se harmonizar as formas pombalinas com a decoração existente.
O pombalino, apesar de ser imposto de modo despótico em Lisboa, agradou e foi
construído noutros locais, sendo o principal exemplo Vila Real de Santo António no Algarve.
A simplicidade é total. Este espírito de funcionalidade, eliminando tudo o que é supérfluo,
incluindo a decoração, impondo uma sobriedade racional, já não é na verdade completamente
Rococó. Reflete o espírito do iluminismo e um forte carácter neoclássico, ainda sem ordens
arquitetónicas clássica, mas submetendo o acessório à razão. Este pormenor tem sido
sistematicamente esquecido pela história da arte, desejando ver ou Rococó francês ou
neoclassicismo tradicional num programa construtivo renovador e demasiado moderno para a
sua época.

2.3. Principais arquitetos


2.3.1. Carlos Martel
Carlos Mardel (em húngaro: Martell Károly) (Pozsony, Hungria, 1696 - Lisboa, 1763), foi
um engenheiro e arquitecto húngaro. Participou na construção do Aqueduto das Águas Livres e
na construção do Palácio do Marquês de Pombal.
Carlos Mardel nasceu na Hungria, em 1696. Lutou na guerra dos Impérios da Polónia e
Inglaterra. Viaja para Portugal em 1733, onde foi sargento-mor de engenharia da Infantaria. Foi
capitão, e em 1762 atinge o posto de coronel.
Como engenheiro e arquiteto, Mardel teve um dos principais responsáveis pela construção
do Aqueduto das Águas Livres, tendo desenhado a Mãe d'Água, e um arco triunfal, o Arco das
Amoreiras, para festejar a chegada das águas. Da sua autoria são, também, o Chafariz da
Esperança e do Chafariz do Rato; o Palácio do Marquês de Pombal, antiga residência de
Sebastião José de Carvalho e Mello, um solar do século XVIII, em Oeiras; Capela do Solar,
dedicada a Nossa Senhora das Mercês (também em Oeiras)
Em 1747, Mardel é nomeado para o cargo de arquiteto dos paços reais, e das ordens
militares.
Foi um dos principais arquitetos da reconstrução de Lisboa, após o Terramoto de 1755,
juntamente com Eugénio dos Santos. Deixou a sua marca no tipo de telhados que desenhou,
caracterizados por telha de canudo com beirais, de origem alemã. Construiu, aínda, o Palácio da
Inquisição no Rossio.

2.3.2. André Soares


André Soares (Braga, 1720-1769) foi um criador de obras de arquitetura, talha, ferro,
desenho e cartografia. A sua grande capacidade financeira permitiu-lhe não precisar de
trabalhar. Como era corrente na época, as suas obras dividem-se por duas correntes artísticas: o
rococó e o tardobarroco. O rococó chegou a Braga pela mão do arcebispo D. José de Bragança
(1741-1756). André Soares beneficiou do seu apoio ao ser escolhido para desenhar o novo Paço
4
Arquiepiscopal, em que oscilou entre o gosto joanino e os novos valores do rococó.
Rapidamente, porém, mudou para o novo estilo, de que são exemplos a nova fachada da Capela
de Santa Maria Madalena da Falperra e o Palácio do Raio.

2.3.3. Mateus Vicente de Oliveira


Mateus Vicente de Oliveira (1706-1786) foi um arquiteto português. Ele foi aluno de João
Frederico Ludovice e Jean Baptiste Robillon, durante a construção do Palácio Nacional de Mafra,
a qual foi uma tentativa de Portugal de rivalizar com o palácio do rei espanhol no Escorial.
Oliveira trabalhou especialmente com os estilos arquitetónicos Barroco e Rococó. Embora
seja mais conhecido por ter projetado o Palácio Real de Queluz, ele também trabalhou com
muitas outras construções. Em 1779, ele criou a planta da Basílica da Estrela, em Lisboa. A
igreja permaneceu incompleta à época da morte de Oliveira, mas foi continuada por Reinaldo
Manuel dos Santos, responsável pelos detalhes clássicos do exterior da Basílica.

2.3.4. José de Figueiredo Seixas (? - 1773)


José de Figueiredo Seixas, filho de Geraldo Pais Cardoso e de Luísa de Figueiredo,
natural da freguesia de Couto de Cima, Viseu, foi pintor e arquiteto.
A 16 de Setembro de 1728 casou-se na Sé do Porto com Isidora Teresa Angélica e
pensa-se que, nesta cidade, terá residido em diversas artérias: na Rua da Neta, em 1734, na
Rua do Bonjardim, em 1745, na Rua dos Açougues, em 1760 e na Rua da Senhora de Agosto,
em 1761.
Durante a sua carreira desenvolveu diversas atividades artísticas e intelectuais. Foi pintor,
arquiteto, professor e teorizador. Fez pinturas de ornatos na Sé do Porto (1734-1758), sob a
orientação de Nicolau Nasoni, e realizou pinturas para a Capela Nova ou dos Clérigos de Vila
Real, em 1745. Em 1756, riscou a Igreja da Ordem Terceira do Carmo, onde introduziu o rococó
de influência quer francesa, quer alemã, num plano alterado por Nicolau Nasoni em 1762. Em
1758, compôs o segundo projeto da Igreja da Ordem da Lapa, em substituição do de João
Glama Ströberle. Para esta igreja desenhou uma frontaria próxima do estilo inglês, tendo
assumido a direção das obras em 1759. No ano seguinte, pintou o retábulo da capela-mor da
Igreja da ordem Terceira do Carmo, no Porto.
De um modo geral, são-lhe atribuídas a construção da capela do Solar de Mateus e a
fachada da Capela Nova, de Vila Real, datadas de 1743 e 1753, respetivamente. Flávio
Gonçalves colocou a hipótese de José de Figueiredo Seixas ter sido o autor do prédio com os
números 76 a 80 na Rua dos Clérigos, do Palácio dos Pacheco Pereira, situado na Rua de
Belmonte e da Igreja de Nossa Senhora da Vitória. Carlos de Passos sugeriu a sua intervenção
na Igreja da Ordem do Terço.
José de Figueiredo Seixas traduziu a edição italiana do manual " Perspectiva pictorum et
architectorum" de Andrea Pozzo (1642-1709), escreveu a " Arte de edificar" sobre tradições
urbanas (obra desaparecida) e concebeu um trabalho sobre a reforma das estradas, ruas e
cidades do país que enviou a Sebastião José de Carvalho e Melo.
O seu "Tratado da Ruação para emenda das Ruas, das Cidades Vilas e Lugares deste
Reino" (c. 1762) é um trabalho teórico que costuma ser interpretado como uma resposta da

5
cidade do Porto à reconstrução da baixa pombalina, assim como uma tentativa de
sistematização da prática urbanística.
José de Figueiredo Seixas não fez escola. Foi um personagem desconhecido dos
arquitectos, talvez com a honrosa excepção de Reinaldo Oudinot.
Leccionou na "Aula de Riscar do Porto". Em 1760, juntamente com a sua mulher, recebeu
o hábito de irmão da Venerável Ordem Terceira do Carmo pelo facto de ter pintado o retábulo da
igreja que, mais tarde, foi substituído por outro.
Faleceu em 1773, no dia 26 de Março, encontrando-se sepultado na Igreja da Ordem
Terceira do Carmo, sua grande obra-prima.

2.3.5. José Francisco de Abreu


José Francisco de Abreu (Elvas, 1753 -?) foi um arquitecto português, com actividade
confinada ao Alentejo onde riscou a Igreja da Lapa e o edifício da Câmara, em Vila Viçosa, e a
matriz de Portel. Utilizou uma linguagem tardo-barroca disciplinada pela contenção tradicional da
arquitectura alentejana.

2.4. Arquitetura religiosa


2.4.1. Basílica da Estrela
A construção da Basílica da Estrela e do convento das carmelitas descalças, este
ocupado por serviços públicos desde 1885, iniciou-se em finais do séc. XVIII em resultado de um
voto de D. Maria I, nela intervindo os arquitetos Mateus Vicente de Oliveira e Reinaldo Manuel. A
igreja basilical, de nave única e planta em cruz latina, é uma das mais brilhantes realizações do
Barroco tardio, com inclusão de elementos já neoclássicos. A fachada é coroada por frontão
triangular enquadrada por duas torres sineiras com relógios, e decorada com estátuas
monumentais e figurações relevadas alusivas ao mistério do Sagrado Coração de Jesus. No
interior salienta-se o altar-mor, com retábulo da mesma temática, e ainda a tela A Ceia, de
Pompeo Battoni, ou o grupo escultórico da Eucaristia, desenho de Machado de Castro (como no
caso das esculturas do exterior). A classificação inclui os túmulos de D. Maria e do seu
confessor, em monumento fúnebre marmóreo, de feição neoclássica.1

Planta rectangular, composta por convento e basílica adossados, com coberturas


diferenciadas a duas, três e quatro águas.
BASÍLICA de planta longitudinal em cruz latina com os braços em semicírculo, composta
por galilé rectangular, nave única, com capelas retabulares laterais, transepto saliente, capela-
mor pouco profunda, sacristia e dependência adossadas.
Na volumetria do conjunto, destaca-se o zimbório que se levanta sobre tambor vazado por
oito janelas, ladeadas por duplas pilastras, que sustentam o peso da calote da cúpula, em cujos
panos se rasgam dois olhos de boi sobrepostos, o inferior ladeado por plintos que sustentam
pequenos pináculos. O lanternim ostenta oito janelas ladeadas por colunas, coberto por
coruchéu bolboso, rasgado por pequeno óculo e encimado por esfera e cruz.

1
SML, http://www.patrimoniocultural.pt/pt/patrimonio/patrimonio-imovel/pesquisa-do-patrimonio/
classificado-ou-em-vias-de-classificacao/geral/view/71146/
6
O conjunto é construído em lioz branco, com os alçados circunscritos por cunhais
apilastrados, encimados por fogaréus, e remates em cornija e platibanda balaustrada com
algumas gárgulas, sendo os laterais rebocados e pintados.
A fachada principal, a N., é harmónica, com duas torres sineiras a flanquear o corpo que
se desenvolve em dois registos e três panos, o central ligeiramente avançado, com três arcos de
volta perfeita, ladeados por quatro colunas destacadas, de fuste liso e capitéis coríntios, sobre as
quais são visíveis estátuas. No segundo registo, dividido por pilastras, surgem duas janelas com
cornija, a ladear um grupo escultórico representando a "Adoração do Sagrado Coração de
Jesus". Remate em frontão triangular, decorado por um delta luminoso relevado, envolto por
enrolamentos e motivos fitomórficos. Os corpos extremos, que servem de base ao lançamento
das torres sineiras, articulam-se com o central por meio de panos de muro no qual se abrem dois
nichos sobrepostos albergando estatuária.
As torres, de secção quadrada, têm acesso por duas escadas em caracol e evoluem em
quatro registos, observando-se, no primeiro, porta de acesso ao espaço conventual, sucedendo-
se janela sobrepujada por cornija, relógio e, superiormente, as sineiras, ladeadas por colunas,
sendo a cobertura em coruchéu bolboso, rasgado por pequeno óculo, com fogaréus nos ângulos.
As fachadas laterais têm os panos divididos por duplas pilastras e são rasgadas, no nível
superior, por três janelas de moldura simples, que iluminam o interior da basílica.
O volume correspondente ao transepto, com os ângulos côncavos, tem duas janelas.
No alçado E., o corpo da sacristia possui janelas com moldura recortada e frontão e uma
porta de verga recta.
A galilé, com acesso por portões de ferro, protegidos por guarda-ventos, é ampla, coberta
por abóbada de berço com penetrações e pavimento de motivos geométricos em calcário
policromo, tendo três vãos de acesso à igreja com moldura recortada e cornija, os laterais mais
baixos. Neste espaço, surgem quatro nichos, dois entaipados e dois contendo as esculturas da
Virgem e de São José.
O INTERIOR, com as coberturas à mesma altura, possui nave de três tramos, marcados
pelas duplas pilastras sobre plinto comum, que sustentam o entablamento e abóbada de lunetas
com os arcos decorados com rosetas, tendo o pavimento de calcário rosa, preto e branco,
formando elementos florais estilizados.
A entrada é efetuada por portas duplas de madeira, protegidas por guarda-vento.
O coro-alto, com acesso por escada interior em caracol, situa-se sobre a galilé e abre para
a nave por arco de volta perfeita, ladeado por dois pequenos retângulos assentes em pilastras.
Neste, encontra-se um Grande Órgão.
Na nave, existem seis capelas laterais à face, de arcos de volta perfeita de cantaria, com
degrau de acesso projectado em semicírculo e teia de pedra balaustrada com cancelas de
madeira. Em cada uma das capelas, retábulo de cantaria enquadrando telas alusivas à atual ou
à primitiva invocação, que são, no lado do Evangelho, de Santa Teresa, Nossa Senhora do
Monte do Carmo e Mater Dolorosa; no oposto, Santo António, Nossa Senhora da Conceição e
Sagrado Coração de Maria.
O transepto apresenta cobertura semelhante à da nave e, sobre o cruzeiro, uma cúpula
com tambor, assente em pendentes, onde se inscrevem pilastras coríntias duplas e, na calote,

7
panos com pequeno óculo decorado e painéis de várias tonalidades, rematada por lanternim
com pilastras e uma pequena cúpula.
No braço do lado do Evangelho, ergue-se a Capela do Santíssimo Sacramento,
ligeiramente elevada e protegida por teia, onde se integra um retábulo de pedra, com uma tela
representando a Última Ceia.
No braço oposto, um vão em arco abatido de acesso à Capela do Senhor dos Passos.
A capela-mor, protegida por teia balaustrada, é pouco profunda, com cobertura em
abóbada de lunetas e retábulo de cantaria composto por duas colunas de fuste liso e capitéis
coríntios, enquadrando uma tela que representa "A Consagração da Devoção do Coração de
Jesus", rematado por duplo frontão, um deles interrompido, onde se apoiam dois anjos que
adoram o Crucificado rodeado de glória e resplendor. O conjunto é ladeado por quatro telas
figurando os doutores da Igreja: Santo Agostinho e São Gregório, no lado do Evangelho; Santo
Ambrósio e São Jerónimo no oposto. Neste espaço, existe uma ara de altar, um pequeno
cadeiral e duas portas de acesso à sacristia e à Sala do Presépio respetivamente, sobre as quais
despontam duas tribunas (da Rainha e a do Órgão), que abrem simultaneamente para o
transepto, tendo todas as dependências uma antecâmara.
A sacristia é retangular, com paredes marmoreadas, rasgada, a do lado E., por duas
janelas, possuindo o túmulo de Frei Inácio de São Caetano2, constituído por uma arca em
mármore negro, apoiada em duas pilastras, e encimada por uma peanha suportando uma mitra.
Entre os apoios do monumento, uma escultura em mármore branco figurando um pequeno anjo.
O presépio encontra-se encerrado em armário com portas de vidro, permitindo a visão central e
lateral; apresenta duas cenas centrais, subdivididas por um eixo, a "Adoração dos Pastores",
cena que ofusca a Sagrada Família, no lado direito e "Cortejo dos Reis Magos", que surge no
lado esquerdo; surgem, ainda, o "Anúncio aos Pastores", Fuga para o Egipto", "Massacre dos
Inocentes", "Matança do Porco", cego da sanfona, anões músicos e glória de anjos. As figuras
enquadram-se em grutas e elementos arquitetónicos.
CONVENTO de planta retangular com dois ressaltos, composta por quatro alas
paralelepipédicas, organizadas em torno de dois claustros quadrangulares, com dois pisos. O
alçado principal, a N., apresenta-se organizado em três corpos, sendo o central avançado e
integralmente revestido de cantaria, apresentando, no piso térreo, o único portal de acesso, de
verga curva e sobrepujado de ática. Nos corpos laterais, este nível corresponde a um
embasamento de placagem de cantaria, apenas interrompido pela abertura de duas portas de
serviço. No conjunto da fachada, distinguem-se dois pisos, sendo o primeiro ritmado pela
abertura de dezasseis janelas retangulares coroadas por ática e o segundo por doze janelas
quadradas, duas retangulares, no corpo central, e duas falsas janelas de sacada com verga
curva e ática. No extremo desta fachada, destacando-se em relação ao plano da fachada O., o
edifício vê-se acrescido de um terceiro piso, no qual se abrem duas janelas quadradas. A
fachada O. repete a composição do alçado principal, sendo o pano central destacado apenas

2
Frei Inácio de São Caetano (Chaves, 1719 - Queluz, 1788) foi um inquisidor-geral português.
Ainda adolesceste, entrou para o Convento de Nossa Senhora dos Remédios, tornando-se frade carmelita descalço,
em 1736. Seguiu então para Évora, para se formar em Filosofia, e depois para Coimbra, onde cursou Teologia.
Confessor do paço, foi membro da Real Mesa Censória, vindo a ser nomeado bispo de Penafiel (1770)
e arcebispo de Tessalónica. Continuou, no entanto, a viver em Lisboa, onde exerceu o cargo de inquisidor-geral.

8
pela presença de duas pilastras e pelo coroamento em frontão triangular que invade as
coberturas, surgindo, no extremo direito, um corpo proeminente, acrescido de dois andares, com
fenestrações simples e o piso superior percorrido por varanda.
No INTERIOR, abrem-se dois claustros de planta quadrada com fonte central, divididos
pelas Capelas do Senhor dos Passos e Nossa Senhora do Carmo, cujas alas retangulares
evoluem em dois pisos, desenvolvidas a N., S. e O., sendo, cada uma delas, constituída por
cinco módulos separados por pilastras de cantaria, onde se abrem, no piso térreo, arco de volta
inteira envidraçado e, ao nível do primeiro andar, janelas retangulares. Estas alas dão acesso a
várias salas, atualmente incaracterísticas, mantendo, algumas delas, silhares de azulejo
decorativo, sendo a articulação entre os dois andares efetuada por escadas a N., S. e O.,
destacando-se a monumentalidade da primeira, em dois lanços e com patamar intermédio. Na
ala O., as 16 celas das religiosas, cada uma delas de planta quadrada e com janela, surgindo,
ainda, vestígios de vários oratórios decorados com frontão triangular e pintura mural. No fundo
desta ala, o primitivo noviciado, com oito celas e uma capela dedicada a Jesus, Maria e José,
divididas por um tabique, do espaço das conversas. Distinguem-se, pela primitiva funcionalidade
bem como pela decoração que mantêm: a Portaria, o antigo Locutório que comunica com as
dependências do Convento, a O. e da Basílica, a E.; o antigo refeitório, a O. da entrada principal;
a Sala Nobre ou Sala da Rainha, na ala N. do segundo piso; Sala do Presépio, na ala O. do
claustro S.; Sala da Roda, anexa à última; Sala do torreão N. e, entre os claustros e no
prolongamento do transepto da Igreja, as capelas do Senhor dos Passos e de Nossa Senhora do
Carmo.

2.4.2. Santuário da Falperra


O Santuário da Falperra constituído pela Igreja de Santa Maria Madalena, foi construído
por ordem do arcebispo D. Rodrigo de Moura Teles. Monumento barroco, precedido por
escadório. Exterior muito trabalhado e interior de nave única octogonal decorado também em
estilo barroco com especial destaque para a capela-mor e os azulejos.
A Capela de Santa Maria Madalena da Falperra, saída das mãos do grande André Soares
na década de 50 do século XVIII, é um dos monumentos barrocos mais relevantes do concelho
de Braga.
Apesar das polémicas sobre se a linha de fronteira entre Braga e Guimarães passa atrás
da sacristia ou em frente da fachada, a verdade é que foi erigida voltada à cidade dos arcebispos
e a expensas dos fiéis bracarenses. Mais bracarense é difícil, mesmo que nos anos 60 alguém
se tenha lembrado de desenhar a linha da carta militar um pouco mais à frente do que duas
décadas antes...
A fachada marca pela originalidade dos traços, as duas 'falsas' torres, o janelão central e o
seu enquadramento no retábulo de pedra desenhado pelo arquitecto do Minho. A planta é
inusitada e não se sabe muito bem a quem atribuir a sua autoria.
O traçado rococó continua no interior, onde se podem admirar três retábulos, também de
André Soares, que completam com sublimidade o percurso iniciado no exterior. Saliente-se a
imagem de Cristo na cruz, que preenche o retábulo-mor, encomenda do início do século XX, ao
grandioso escultor bracarense João Evangelista Vieira, e que inspirou o escritor lisboeta Antero
9
de Figueiredo numa das suas grandes obras "O último olhar de Jesus". Para crentes ou não-
crentes, vale a pena admirar!..
O interior está revestido de azulejos do século XVIII do ceramista Policarpo de Oliveira
Fernandes.

2.4.3. Igreja do Carmo


A Igreja do Carmo ou Igreja da Venerável Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo,
localiza-se no cruzamento entre a Praça de Carlos Alberto e a Rua do Carmo, nas proximidades
da Igreja e Torre dos Clérigos, na freguesia portuguesa da Vitória, cidade do Porto.
De estilo barroco/rococó, foi construída na segunda metade do século XVIII, entre 1756 e
1768, pela Ordem Terceira do Carmo, sendo o projeto do arquiteto José Figueiredo Seixas. A
construção do hospital começou mais tarde, ficando concluído em 1801.
Esta igreja está geminada com a Igreja dos Carmelitas, do lado oeste, constituindo um
volume único, embora se diferenciem as duas igrejas.
Foi classificada como Monumento Nacional a 3 de Maio de 2013, em conjunto com a
Igreja dos Carmelitas adjacente.[1]
Fachada
A fachada de cantaria, ricamente trabalhada, possui um portal retangular, ladeado de duas
esculturas religiosas dos profetas Elias e Eliseu executadas em Itália, rematado por um amplo
frontão e no corpo superior da frontaria, coruchéus e esculturas das figuras dos quatro
Evangelistas, revelando influências do estilo “barroco Italiano” criado por Nicolau Nasoni.
Azulejos
A fachada lateral da Igreja do Carmo está revestida por um grandioso painel de azulejos,
representando cenas alusivas à fundação da Ordem Carmelita e ao Monte Carmelo. A
composição foi desenhada por Silvestre Silvestri, pintada por Carlos Branco e executada nas
fábricas do Senhor do Além e da Torrinha, em Vila Nova de Gaia, e datados de 1912.
Interior
No interior da Igreja do Carmo, destaca-se a excelente talha dourada nas capelas laterais
e no altar-mor, a estatuária e diversas pinturas a óleo

2.4.4. Basílica dos Congregados


A Basílica dos Congregados situa-se na freguesia de São José de São Lázaro em Braga,
Portugal e está incluída no antigo Convento dos Congregados.
A Basílica é da autoria do arquiteto André Soares, construída no século XVI, embora só
terminada no século XX.
O início da construção foi em 1703, sendo benzida em 27 de Outubro de 1717, embora
faltando construir as torres e colocar estátuas nos nichos respetivos da fachada.
Estes trabalhos seriam levados a cabo já no século XX, tendo a torre poente sido
concluída em 1964, por ação do benemérito António Augusto Nogueira da Silva, com projeto do
arquiteto Alberto da Silva Bessa, que se inspirou nas torres do convento de S. Miguel de Refojos.
As estátuas da fachada - São Filipe de Nery e São Martinho de Dume - foram içadas para
os seus locais em 16 de Fevereiro de 1964, e são devidas ao escultor Manuel da Silva Nogueira.

10
2.4.5. Igreja e Convento de Nossa Senhora de Jesus / Paroquial das Mercês (Lisboa)3
A atual configuração resulta em larga medida da reconstrução feita no pós-terramoto,
dentro do estilo dito «pombalino» e segundo projeto do arquiteto Joaquim de Oliveira, com
destaque na igreja para o desenho da fachada e do seu espaçoso adro, sendo a fachada
decorada de pilastras de ordem jónica sobre outras de ordem dórica e a empena ou frontão que
não segue a usual forma triangular.
A reedificação foi lenta como se verifica pelo facto de ter sido no período do governo de
Fr. Manuel do Cenáculo (eleito Provincial no triénio de 1768, e futuro 1.º Bispo de Beja) a
mandar completar o frontispício e muitas outras obras imperfeitas, sendo ainda do seu período a
casa da livraria (hoje pertença da Academia das Ciências) de que se atribuem as pinturas do teto
a Cyrillo Machado.
Entre os artistas e artífices com obra certa em N.S. de Jesus, conhecemos os seguintes
ENTALHADORES: Baltazar dos Reis Couto (1717-1718); Félix Adauto da Cunha (séc.
18); José Freire (1717-1718); Manuel João de Matos (1710).
ORGANEIRO: D. José Martins Fernandes (1721); Augusto Joaquim Claro (séc. 20).
PINTOR de AZULEJOS: António de Oliveira Bernardes (1712-1714).
PEDREIROS: Estácio Correia (1623); Félix da Costa (1714).
PINTORES: Marcos da Cruz (1673-1674); Bento Coelho da Silveira (1708).
PINTORES de DOURADO: Manuel dos Reis (1716); José Gonçalves Soares (1731).
CARPINTEIRO: Custódio Vieira (1711); António Gomes (1714).
OURIVES da PRATA: Sebastião da Silva Nobres (1747).

Nas capelas laterais da Igreja são de admirar os altares de talha, imaginária e pintura
seiscentistas e setecentistas, com as seguintes invocações:
- Nosso Senhor dos Aflitos e Nossa Senhora da Piedade;
- Nossa Senhora da Apresentação e Cadeia;
- São Miguel;
- Nossa Senhora da Conceição;
- Nossa Senhora das Dores;
- Santo António;
- Nossa Senhora do Egipto;
- Santíssimo Sacramento.
No transepto, merecem menção: os altares de talha dourada seiscentista, com fundo de
camarim, frontal de mármore e teia circundante, com as invocações de São José (lado da
Epístola) e Nossa Senhora da Patrocínio (Evangelho); as telas figurando passos da vida de São
Francisco, atribuídas a Marcos da Cruz (m. 1683).
Na capela-mor observa-se, para além do altar-mor, com retábulo em talha, monumentos
fúnebres de elementos da família do fundador, constituídos por essas em mármore integradas

3
Depois da extinção das ordens religiosas (8 de Maio de 1834) estabeleceu-se no Convento de Jesus a Academia
Real das Ciências (1838), na Igreja de Nossa Senhora de Jesus a Igreja Paroquial das Mercês (26 de Abril de
1835), e na Capela dos Terceiros manteve-se a respectiva Ordem Secular.
11
em arcossólios abertos nos muros laterais e encimados por telas figurando o Menino Jesus e
São João, no lado O. e a Sagrada Família a E.

2.4.6. Igreja da Ordem Terceira do Carmo - Porto


A igreja da Ordem Terceira - linguagem rococó que contrasta vivamente com a
austeridade da fachada da Igreja de Nossa Senhora do Carmo.
A Irmandade havia sido instituída em 1736, mas algumas divergências internas levaram a
que os estatutos apenas fossem impressos em 1751, ano em que os carmelitas cederam os
terrenos para a edificação do templo.
De estilo barroco/rococó, foi construída na segunda metade do século XVIII, entre 1756 e
1768, pela Ordem Terceira do Carmo, sendo o projeto do arquiteto José Figueiredo Seixas.
Após novas divergências, a primeira pedra foi lançada em 1756, iniciando-se então a
construção, sob projeto de José de Figueiredo Seixas.
O templo estava concluído em 1762, depois de Nicolau Nasoni ter sido chamado a
avalizar o traçado arquitetónico.
Contudo, as campanhas decorativas prolongaram-se ainda por longos anos, e os
retábulos das seis capelas da nave remontam a 1771, sendo o da capela-mor da autoria de
Francisco Pereira Campanhã e de 1773.
A fachada, profusamente decorada, é flanqueada por duplas pilastras, avançadas em
relação ao corpo principal.
Possui um portal retangular, ladeado de duas esculturas religiosas dos profetas Elias e
Eliseu executadas em Itália, rematado por um amplo frontão e no corpo superior da frontaria,
coruchéus e esculturas das figuras dos quatro Evangelistas, revelando influências do estilo
“barroco Italiano” criado por Nicolau Nasoni
Ao portal e aos nichos com as imagens dos Profetas Elias e Eliseu correspondem, no
segundo registo, e sobre a balaustrada, duas janelas e um nicho central, envidraçado, com a
imagem de Santa Ana, em jaspe.
O tímpano exibe, tal como a igreja dos carmelitas, o brasão da Ordem, e sobre o frontão,
as esculturas dos quatro Evangelistas, executadas entre 1764 e 1765.
Azulejos
A fachada lateral da Igreja do Carmo está revestida por um grandioso painel de azulejos,
representando cenas alusivas à fundação da Ordem Carmelita e ao Monte Carmelo. A
composição foi desenhada por Silvestre Silvestri, pintada por Carlos Branco e executada nas
fábricas do Senhor do Além e da Torrinha, em Vila Nova de Gaia, e datados de 1912.
Interior
No interior da Igreja do Carmo, destaca-se a excelente talha dourada nas capelas
laterais e no altar-mor, a estatuária e diversas pinturas a óleo

2.5. Arquitetura Palaciana


2.5.1. Palácio do Raio
O Palácio do Raio, também referido como Casa do Mexicano localiza-se na freguesia de
São José de São Lázaro, cidade e concelho de Braga, distrito de mesmo nome, em Portugal. É
um dos mais notáveis edifícios de arquitetura civil da cidade, em estilo barroco joanino.
12
Na fachada sobressai a exuberância da decoração, desde logo da porta central ricamente
trabalhada e também das 11 janelas dividas pelos dois pisos. Os ornatos são assimétricos,
dando ao edifício uma dinâmica e um dramatismo que são comuns na obra do arquiteto André
Soares.
Constitui-se em um palácio, erguido entre 1754-1755 por encomenda de João Duarte de
Faria, poderoso comerciante de Braga, com projeto do arquiteto bracarense André Soares.

2.5.2. Palácio do Marquês de Pombal


O Palácio do Marquês de Pombal ou Palácio do Conde de Oeiras é um solar típico do
século XVIII que fica localizado na freguesia de Oeiras e São Julião da Barra.
Construído sob a vigia do arquitecto húngaro Carlos Mardel na 2ª metade do século XVIII,
o palácio serviu de residência oficial de Sebastião José de Carvalho e Melo também conhecido
por Conde de Oeiras e Marquês de Pombal, de onde derivou o nome do edifício.
O palácio e jardins caracterizam-se por possuirem elementos arquitectónicos e artísticos
(estuques, azulejos, estátuas, etc.) raros e de grande beleza.
A antiga quinta foi formada através da incorporação de vários casais e quintas; situava-se
junto à Ribeira da Laje onde beneficiava dos terrenos férteis. No seu traçado inicial, a quinta
caracterizava-se por um geometrismo rigoroso, de modo a articular as vertentes recreativa
(jardins e mata) e lucrativa (a propriedade rural).
Na chamada Quinta de Baixo podia encontrar-se o palácio, os jardins e a adega/celeiro.
Esta Quinta estava ligada à Quinta de Cima ou Quinta Grande por um eixo central designado
Avenida ou Rua dos Loureiros. Na Quinta de Cima, localizava-se a Casa da Pesca e a Cascata
do Taveira (ou dos Gigantes). Nesta propriedade fazia-se a produção dos bichos-da-seda. A
terceira quinta designava-se de “Quinta do Marco”, restando na atualidade apenas um edifício.
Era constituída por terrenos de lavoura com vinhas, olivais, e árvores de fruto.
Na 2ª metade do século XX, a propriedade foi vendida e faccionada, tendo a Quinta de
Baixo sido adquirida pela Fundação Calouste Gulbenkian e a Quinta de Cima sido comprada
pelo Estado e dado lugar à Estação Agronómica Nacional.
O conjunto do Palácio, os jardins, a Casa da Pesca e Cascata estão atualmente
classificados como Monumento Nacional.
No presente o Palácio localiza-se no centro da vila, e ao observá-lo pode ter-se uma ideia
da imensa riqueza de Sebastião José de Carvalho e Melo, pois este é um edifício de dimensões
bem palacianas, ornamentado como um palácio real. É hoje um dos melhores exemplares da
casa senhorial portuguesa do século XVIII, seguindo o estilo barroco e rococó.
O palácio situa-se naquilo que era antes a imensa quinta senhorial. Além do palácio,
permanecem no espaço os magníficos jardins, de inspirações fantasiosas, que somente
poderiam provir de um génio como Carvalho e Melo.

Os jardins
Símbolo da sua profunda cultura, típica de um europeu das Luzes, os jardins retém
marcos arquitetónicos de beleza rara e singela como a Cascata dos Poetas ou Gruta Nobre.
Esta é arquitetonicamente muito importante em Portugal devido à sua aparência de gruta,

13
adornada com os bustos dos quatro poetas preferidos de Pombal, entre eles Camões e Virgílio.
Nos jardins encontram-se também estátuas, cascatas, e adornam também o espaço a Casa da
Pesca e os antigos lagares do vinho e do azeite. No século XVIII, era comum a manutenção de
quintas como espaços de lazer e de cultivo. Era nos jardins em torno do palácio que se
realizavam os eventos culturais: teatro, bailado, música, etc. que se realizam ainda no presente,
sobretudo no Verão.
Fazendo parte desta quinta e mesmo ao lado da entrada para o palácio, fica a Capela do
Solar. Desenhada também pela mão do arquiteto Carlos Mardel, foi dedicada a Nossa Senhora
das Mercês e concluída em 1762. Destacam-se os estuques do italiano João Grossi, os três
altares com pinturas de André Gonçalves e a representação da vida da Virgem.
Erguido na segunda metade do século XVIII, o paço, durante os verões de 1775 e 1776
foi residência de veraneios do rei D. José I e da sua família, incluído a esposa, notoriamente.
O Palácio do Conde de Oeiras é sem dúvida um marco da vila de Oeiras e um dos
paços mais bonitos de Portugal, imponente com as suas longas e curvilíneas escadarias de
pedra e o seu austero estilo barroco.

2.5.3.Palácio de Queluz
Deve-se a D. Pedro III a iniciativa da construção, do século XVII, em que trabalharam os
arquitetos portugueses Mateus Vicente de Oliveira e Manuel Caetano de Sousa, e o arquiteto-
escultor francês João Baptista Robillon. As obras começaram em 1755. No teatro real deste
palácio interveio o arquiteto I. de Oliveira Benevides, vindo essa sala a ser inaugurada em 17 de
Dezembro de1778 (1.º aniversário da coroação da Rainha).
Destaca-se, para além do valor arquitetónico e patrimonial, a beleza dos jardins e larga
extensão de mata que o cerca.
Os traços arquitectónicos salientam os estilos barroco, rococó e neoclássico.
A planta apresenta-se complexa, pois corresponde à aglutinação de vários núcleos e a fases
distintas de construção. Porém, pode-se dizer que o palácio se organiza genericamente em L,
enquadrando os jardins por meio de várias salas.
Do lado externo, o palácio abre dois braços curvos. No lado dos jardins, é visível a
articulação das várias fachadas de aparato, nomeadamente a que enquadra o Jardim de
Neptuno ou Jardim Grande. No piso térreo, merece destaque o corpo central de dois andares,
firmado por portas e janelas de sacada. A fachada de cerimónia virada ao Jardim dos
Azereiros ou Jardim de Malta, é constituída por três corpos.
No rio Jamor, que passa nos jardins do palácio, foi construído o Canal dos Azulejos, com
cerca de 130 metros de comprimento. Quando as comportas do canal eram fechadas, criava-se
um plano de água onde era possível passear de barco entre paredes azulejadas, com
representações de portos, palácios e outros temas.
A chamada Quinta de Queluz, que anteriormente pertenceu ao marquês de Castelo
Rodrigo, passou para posse real em 1654 e foi incorporada na Casa do Infantado. O palácio
começou a ser construído em 1747. Daí até finais do século XVIII o edifício ganhou os contornos
que apresenta hoje, nomeadamente com o marcado revestimento azulejar e a construção de
sumptuosos jardins, a cargo de um arquiteto holandês. No jardim chegou a existir uma
pequena praça de touros, que viria a desaparecer.
14
A primeira fase de construção do jardim terminou em 1786. A água para os lagos e
repuxos dos jardins da zona sudoeste era fornecida por dois aquedutos: o aqueduto da Ponte
Pedrinha, proveniente da mina do Pendão no vale do rio Jamor, e o aqueduto da Gargantada,
proveniente da mina da Gargantada no vale da ribeira de Carenque. A zona noroeste era
alimentada por água proveniente da bacia da ribeira das Forcadas.
Em 1794, o palácio tornou-se oficialmente residência oficial da Família Real Portuguesa.
Nele nasceu D. Pedro IV de Portugal (ou D. Pedro I do Brasil), em 12 de outubro de 1798.
Quando da partida dos reis para o Brasil, em 1807, grande parte do recheio do palácio foi
despojado. Em 24 de setembro de 1834, já como rei de Portugal, Pedro IV viria a falecer no
mesmo quarto em que nascera. A partir desta data entrou em declínio, até que em 1908 o rei D.
Manuel II o cedia à Fazenda Nacional.
O desnível entre os jardins e o parque perde relevo perante a sequência de terraços e
galeria porticada por pares de colunas toscanas, rematada por uma monumental escadaria. No
interior, a organização dos compartimentos processa-se em linha. A decoração de algumas salas
é digna de realce, sendo constituída por pintura a fresco (Sala das Açafatas), revestimento a
espelhos, estuque e talha dourada (Toucador da Rainha, Sala do Trono), parquet de madeiras
exóticas (Sala D. Quixote) ou azulejos (Corredor das Mangas). Os jardins são ornamentados
por estátuas.
Até ao final do século XVIII foi azul esmalte. Depois foi pintado de cor de rosa.

2.6. Arquitetura pública


2.6.1. Arco da Porta Nova - Braga
O Arco da Porta Nova localiza-se na freguesia da Sé, cidade e concelho de Braga, distrito de
mesmo nome, em Portugal.
Foi uma das portas nas muralhas da cidade, rasgada em 1512, à época do Arcebispo de
Braga, D. Diogo de Sousa.
A sua atual feição data de 1772, por iniciativa do arcebispo D. Gaspar de Bragança, com
projeto do arquiteto bracarense André Soares, num momento histórico em que a cidade rompia
as antigas muralhas, expandindo-se.

2.6.2.
2.7.

3. Escultura
3.1. Escultores
3.1.1. Machado de Castro
n. 19 de junho de 1731.
f. 17 de novembro de 1822.
Escultor e estatuário.
Nasceu em Coimbra a 19 de junho de 1731, faleceu em Lisboa a 17 de novembro de
1822.
Era filho de Manuel Machado Teixeira, organeiro e escultor, que, segundo dizia Machado
de Castro, era dotado dum engenho e habilidade enciclopédica, e de sua primeira mulher, D.
15
Teresa Angélica Taborda. Seu pai, reconhecendo-lhe bastantes aptidões, mandou-o para os
gerais chamados do Pátio aprender gramática latina com os padres jesuítas. Ao mesmo tempo
que o jovem educando exercitava o espírito com o estudo dos livros, aprendia em casa com o
pai os processos de moldar, e exercitava-se na arte de escultura. Foi duplo e poderoso impulso
do seu espírito que lhe imprimiu o seu carácter artístico, e produziu esta individualidade da arte
nacional. Na escola e na oficina, Machado de Castro assombrava os professores pelos rápidos e
prodigiosos progressos que fazia. À medida que a inteligência se ia desenvolvendo, iam
crescendo as suas ambições e aspirações. Aos 15 anos já pensava em ir a Roma ver, admirar e
estudar os grandes génios artísticos. Falecendo sua mãe, seu pai casou em segundas núpcias
com D. Josefa de Cerveira. Machado de Castro começou então a sentir verdadeiramente a falta
dos carinhos maternais, porque a madrasta tratava-o com todos os rigores, e tão exagerados se
tornaram que Machado de castro ainda mais persistiu na ideia de sair da sua terra, para se
aperfeiçoar na sua educação num meio mais desenvolvido que não era Coimbra.
Veio para Lisboa aos quinze anos desejoso de encontrar um artista que o dirigisse e
encaminhasse. Encontrando Nicolau Pinto, escultor em madeira, pediu-lhe licença para
frequentar o seu atelier, e começou logo a auxiliar o mestre nos seus trabalhos. Nicolau Pinto
ficou por tal modo maravilhado da habilidade dessa criança que o acaso lhe trouxera, que não
tardou a encarregá-lo de modelar várias imagens. O jovem aprendiz apresentou modelos tão
perfeitos, que o mestre não duvidou em tomá-los para si, copiando-os em madeira. Em pouco
tempo o discípulo tornou-se superior ao mestre, e por isso procurou encontrar outro com quem
pudesse mais adiantar-se. Lembrou-se então do hábil escultor em pedra José de Almeida, que
estudara em Roma, protegido e sustentado por D. João V, e que passava por ser o primeiro
escultor português dessa época. Resolveu-se a procurá-lo, e José de Almeida recebeu-o
atenciosamente. Machado de Castro começou a executar várias obras, que desde logo
impressionaram o público. A estátua que existe no pórtico da igreja de S. Pedro de Alcântara, foi
um dos primeiros trabalhos, que tornaram conhecido o seu nome. O povo aglomerava-se para
admirar a produção artística do notável escultor. Machado de Castro adquiriu tão grande fama
que muitos artistas o procuravam congratulando-o pelo seu talento superior, não duvidando em
lhe pedirem que compusesse os modelos para as obras de que se haviam encarregado.
Machado de Castro satisfazia a todos os pedidos, recebendo muitos louvores pelo desembaraço
com que trabalhava, e pela graça que respirava em tudo quanto saía das suas mãos.
Com a consciência do seu valor artístico, intentou ir para as obras da grandiosa basílica
de Mafra, onde estavam muitos artistas de merecimento, tendo à frente o professor e ilustre
estatuário romano Alexandre Giusti. O seu ardente desejo de se aperfeiçoar na arte, o obrigou a
sair de Lisboa, onde auferia bons lucros, e ir encerrar-se naquela vila conseguindo dentro em
pouco, em 1756, ser nomeado ajudante do professor romano, situação em que se conservou
durante catorze anos, trabalhando sempre assíduo e com o maior aproveitamento, adquirindo
cada dia novos conhecimentos, e produzindo trabalhos já de excecional valor. Mas em Mafra
esperava-o um novo futuro. Como ali se tornara um ponto de reunião, não só de viajantes
estrangeiros, como de poetas, artistas e sábios portugueses, Machado soube tirar ótimo partido,
para se instruir, com a conversação dos homens doutos. Um dos frequentadores era o poeta
Cândido Lusitano, que não se cansava de admirar as novas produções dos artistas, que
trabalhavam ali. Travou relações com o jovem escultor, e desde logo lhe votou sincera amizade.
16
Reconhecendo o seu desejo de aprender, encarregou-se de lhe dar lições de Retórica, que o
nosso artista aceitou gratamente. Mafra foi, por assim dizer, para Machado de Castro, não só um
centro de educação artística, como uma espécie de universidade onde se lhe deparavam os
melhores livros do seu tempo, como professores que o instruíssem e o iniciassem no movimento
intelectual do século. As novas relações com o poeta e pintor Vieira Lusitano, marcaram assim
uma época na educação literária de Machado de Castro. As novas teorias que se revoltavam
contra a imitação servil dos mestres, contra o fanatismo das regras e que colocava acima de
tudo o entusiasmo e espontaneidade da poesia, a imitação da natureza, foram adotadas para
sempre pelo nosso ilustre artista, tornado um entusiasta discípulo delas. Joaquim Machado de
Castro caracteriza-se, porém, pelo seu bom senso, pela retidão dos seus julgamentos e a lucidez
das suas ideias.
Conservava-se no seu retiro de Mafra entregue ao estudo e ao trabalho, e estava
concluindo um pequeno baixo-relevo, quando em 19 de outubro de 1760 recebeu uma carta de
Domingos da Silva Raposo, ajudante de arquitetura na Casa do Risco das Obras Públicas,
convidando-o para entrar no concurso para a execução da estátua de D. José. Foi aquele artista
o primeiro que lembrou ao marquês de Pombal o nome de Joaquim Machado de Castro. Este
não quis partir sem acabar a obra, e por isso só um mês depois é que veio a Lisboa, onde o
arquiteto Reinaldo Manuel dos Santos lhe entregou dois desenhos iguais ao que deram ao seu
competidor, que era estrangeiro. Machado de Castro dedicou-se ao trabalho, começando a fazer
o seu modelo de cera. Mas uma dificuldade se lhe apresentava: os modelos impossíveis que por
ordem do governo se davam aos concorrentes. Machado de Castro, artista instruído,
consciencioso e correto, e seguindo, além disso, as suas próprias inspirações e não as alheias,
viu-se obrigado a seguir modelos de mau gosto que lhe foram apresentados para se guiar por
eles. Entristeceu, pensando que executando-se a obra por eles, nem o artista nem a pátria
tirariam glória suficiente, por faltarem na imagem do herói os incidentes e circunstâncias, como
ele havia imaginado, um poema épico que pretendia gravar na pedra, que pudesse servir de
estímulo à posteridade. O pobre artista inspirado lutava, não só contra o regime político absoluto,
mas contra a mesma escola autoritária e dogmática de que era adversário. Ou tinha que
abandonar o concurso, o que era desonroso para os seus sentimentos patrióticos, e contrariava
as suas ambições de compor uma obra que o imortalizasse; ou sujeitar-se às ordens
terminantes, dimanadas da autoridade legítima. No fim de muitas lutas consigo próprio, resolveu
dar princípio ao seu primeiro e pequeno modelo nos fins de dezembro de 1770. Logo nos
primeiros dias de janeiro de 1771 voltou ao referido modelo de cera, em cuja matéria o fez, por
conservar sempre a medida, conforme o petipé, livre das diminuições do barro.
Concluído o primeiro modelo com as alterações que entendeu, e que tinham sido
concedidas, como artista de génio mais conhecedor das artes, foi avisado para comparecer no
paço no dia 21 de março, juntamente com o seu competidor, que levou dois modelos, um
conforme as severas instruções que também lhe haviam sido dadas, e outro da sua lavra. Este
concorrente era italiano e dispunha de grandes proteções que foram a causa da guerra de que
Machado de Castro foi vítima até à sua morte. O rei, comparando os modelos apresentados,
decidiu-se pelo nosso ilustre artista, dirigindo-lhe palavras muito lisonjeiras. No dia seguinte
recebeu aviso de que estava encarregado da obra, e que a aprontasse o mais breve possível. Ao
começar o segundo modelo em barro, que devia servir de guia ao modelo grande, depararam-se
17
novas dificuldades, oferecidas pelos secretários de estado e o mundo oficial. Machado de
Castro, com o talento de que era dotado desejou corrigir algumas coisas do primeiro modelo,
afim de que a sua obra ficasse como ele ambicionava. Felizmente encontrou um dos melhores
cavalos dessa época, que o marquês de Marialva pôs à sua disposição para servir de modelo.
Era um cavalo espanhol de fina raça, que dava pelo nome de Gentil. A 10 de julho do mesmo
ano de 1771 recebeu ordem para a execução do modelo em grande. Machado de Castro seguiu
neste trabalho um método próprio, e que lhe parecia mais afeiçoado para a obra sair perfeita,
afastando-se dos métodos ensinados por outros professores. Começou os trabalhos a 16 de
outubro de 1771, e ordenaram-lhe que os acabasse a 10 de março de 1772. Machado cumpriu
as ordens recebidas neste curto espaço de cinco meses, tempo verdadeiramente prodigioso,
porque no modelo grande foi que o escultor corrigiu e alterou nos salientes e cavados, de modo
a produzir o desejado efeito, aumentando ou diminuindo algumas partes, conforme lhe indicavam
os seus estudos e observações. A 11 de outubro de 1773 começaram os trabalhos para a
fundição, que se completaram a 18 de dezembro do mesmo ano. Nos princípios de abril de 1775
foi perfeitamente concluído o colossal monumento, que ainda hoje se admira na Praça do
Comércio, vulgo Terreiro do Paço.
Em 15 de outubro de 1774 fundiu-se a grandiosa estátua, num só jacto e com uma
perfeição tanto mais admirável, quanto era este o primeiro trabalho no género que se executava
no país. Bartolomeu da Costa, distinto engenheiro, o fundidor da estátua, tornou-se tão célebre
como o escultor, pela grande obra patriótica que se erigiu. Os processos por ele empregados
foram os mais perfeitos e conhecidos no seu tempo; e quando a estátua saiu dos seus moldes
foi tal o entusiasmo do público, que por muitos anos o escultor Machado de Castro foi
injustamente esquecido pelo fundidor. A inauguração do colossal monumento realizou-se a 6 de
junho do mesmo ano de 1775, aniversário natalício do rei D. José. Na História do Reinado de el-
rei D. José, de Luz Soriano, vol. II, e no presente vol. do Portugal, pág. 331 e seguintes, vêm
minuciosamente descritos o trabalho que deu a condução da grandiosa estátua para o Terreiro
do Paço, as festas pomposas que se fizeram na sua inauguração e a descrição do monumento e
dos carros triunfais, que compunham o cortejo cívico, que então se realizou. No Dicionário
Universal Português, dirigido por Fernandes Costa, também se encontra um artigo interessante a
este respeito e a biografia de Joaquim Machado de Castro, no vol. VI, pág. 140 e seguintes.
Depois desta obra imortal, temos a registar outras do nosso notável artista, como a Fé
suplantando a heresia, que se admirava no frontispício do palácio da Inquisição, e que não
sabemos onde hoje existe; a estátua de Neptuno do antigo chafariz do Loreto, e que está
actualmente no museu arqueológico do Carmo. D. Maria I, quando construiu o convento da
Estrela, encarregou-o de todas as esculturas e baixos-relevos. Neste edifício teve a honra de
desempenhar o mesmo papel que em Mafra desempenhara o seu professor e amigo Alexandre
Giusti. Foi ele o autor do baixo-relevo do frontispício; das duas belas estátuas de Nossa Senhora
e de S. José, que se vêem debaixo da arcada da entrada; também são dele as estátuas
sobrepostas nas quatro colunas, representando a Fé, a Adoração, a Gratidão e a Liberalidade.
Cada uma é um desenho diferente, cada uma tem uma expressão própria e característica.
Também são trabalhos seus as estátuas de Santo Elias, S. João da Cruz, Santa Teresa e Santa
Maria Madalena de Pazzi. Esta obra foi começada em 1777 e concluída em 1783. Todas as
esculturas de madeira e barro que adornam interiormente o edifício, são obras por ele
18
executadas e dirigidas. Na Patriarcal também deixou muitas obras: as imagens de Nossa
Senhora e de S. José, as dos santos apóstolos Simão, Judas Tadeu e Matias: dirigiu a escultura
do Baldaquino de S. Vicente e a dos modelos da Custódia cravada de pedras preciosas e a Pia
Batismal. Esculpiu em madeira a imagem de S. João Baptista, que foi para Almeirim, e a imagem
de Nossa Senhora da Encarnação, que se venera atualmente na paroquial igreja deste nome, e
que foi exposta ao público em 24 de março de 1803, depois de se ter reedificado a igreja, que
ficara muito danificada pelo incêndio que se deu ali em 18 de junho de 1802. Joaquim Machado
de Castro também se revelou na escultura civil. Além da estátua equestre, vêem-se as três belas
estátuas no vestíbulo do palácio da Ajuda., que representam a Generosidade, a Gratidão e o
Conselho; a estátua de D. Maria I, em mármore de Carrara, que existe à entrada da Biblioteca
Nacional de Lisboa, a qual foi executada pelos seus discípulos Faustino José Rodrigues e
Feliciano José Lopes. São seus trabalhos as estátuas de Alpheu e Arethusa, e os bustos de
Homero, Virgílio, Camões e Tasso, existentes na casa de Oeiras. Na quinta de Caxias também
se encontram muitas estátuas em barro, de tamanho natural; e na quinta de Queluz admiram-se
ricos vasos de barro ornados de festões e flores. Foi também o autor de muitos túmulos ricos,
como: o da rainha D. Mariana Vitória, que está na igreja de S. Francisco de Paula; o da rainha D.
Maria Ana de Áustria, no hospício de S. João Nepomuceno; D. Afonso IV, em bronze, que está
na capela-mor da sé de Lisboa; e o do infante D. Pedro Carlos, que foi para o Brasil. Compôs um
grande presépio para o convento da Estrela, outro para D. Maria I, outro para D. Carlota
Joaquina, outros para os príncipes, e outro que existe na sé de Lisboa.
Pina Manique, intendente geral da Polícia, empregou todos os esforços para desenvolver
entre nós o gosto pela pintura e escultura, e para isso criou na Casa Pia uma aula de desenho; e
como em Portugal não existisse uma aula de nu, resolveu fundar uma sociedade para esse fim.
Procurou os melhores artistas para diretores desta academia, que se organizou em 16 de maio
de 1780, sendo o número de sócios de cinquenta e um, em que figuravam Joaquim Machado de
Castro e muitos outros professores, alunos e amadores das artes. Manique desejou que no dia
24 de dezembro de 1787, por meio de uma sessão académica, a que assistisse toda a corte,
realizada na Casa Pia, se mostrasse a público as vantagens do desenho. Foi Machado de
Castro o encarregado de falar a esse auditório seleto e composto das primeiras celebridades do
país, e proferiu um brilhante discurso, em que se revelou também um orador erudito. As suas
obras, tanto em prosa como em verso, e os seus variados conhecimentos, o elevaram à honra
de ser eleito em 9 de fevereiro de 1814 sócio correspondente da Academia Real das Ciências, e
alguns anos depois a mesma academia lhe ofereceu a medalha de ouro com que costumava
premiar os homens de mérito. O rei D. José nomeou-o escultor da Casa Real e obras públicas,
lugar que exerceu igualmente nos reinados de D. Maria I e D. João VI. Este monarca nomeou-o
diretor de toda a escultura do Palácio da Ajuda e obras reais. Machado de Castro foi lente da
aula de escultura em que prestou relevantes serviços à arte nacional.
Era casado com D. Maria Barbosa de Sousa. Possuía o grau de cavaleiro professo da
Ordem de Cristo, com que fora agraciado ao terminar todos os trabalhos do monumento da
estátua equestre. Faleceu ao noventa e um anos, e foi sepultado na igreja dos Mártires. Para a
sua biografia pode ver-se o artigo do diretor da Academia de Belas Artes Francisco de Assis
Rodrigues, que sob o título de "Comemoração" saiu na Revista Universal Lisbonense, de 17 de
novembro de 1842, e foi reproduzida no Diário do Governo, de 24 do referido mês; neste artigo
19
veem apontamentos, em que se fala de Machado com muito louvor. Nas Memórias de Cyrillo
Volkmar Machado também se encontram muitos dados biográficos.4

3.2. Obras
3.2.1.Estátua equestre de D. José I
Em 1770, o escultor Joaquim Machado de Castro foi escolhido para executar a estátua,
considerando, no entanto, ter sido desprezado o seu génio artístico pelo facto de estar obrigado
a seguir um projeto elaborado por Eugénio dos Santos. Apesar disso, consegue conferir-lhe um
cunho pessoal que se manifestou na maestria do tratamento de D. José montado no seu cavalo
e na alteração dos elementos que constituem a base desta figura. No projeto original o cavalo
pisava um leão substituído por pequenas serpentes que serviram para esconder a estrutura de
sustentação de um dos seus membros posteriores. As figuras aladas laterais, o Triunfo e a
Fama, ganharam leveza, passando a uma masculina e outra feminina. O primeiro conduz um
cavalo fogoso, a segunda um elefante, animais que representam, respetiva e simbolicamente, a
Europa e a Ásia. Estes erguem-se sobre duas figuras humanas, representando os continentes
americano e africano, que se submetem ao triunfo dos portugueses. Mas foi sobretudo na
composição dos baixos-relevos que adornam o plinto que o escultor demonstrou a sua arte.
Nestes, e segundo o próprio, vivia-se «um drama esculturesco» com diálogos a dois níveis, o
público, em que os atores eram a Generosidade Real e o Amor da Virtude, e o privado, tendo
como interlocutores o Comércio, a Providência Humana e a Arquitetura que discorrem entre si.
As qualidades do monarca sobressaem através das figuras do Governo da República (um
mancebo jovem com um ramo de oliveira na mão esquerda), que é conduzido pelo Amor da
Virtude (um menino alado, coroado de louro, que pega pelo braço o Governo da República) à
presença da Generosidade Régia (uma figura feminina coroada) que ampara a cidade
(representada como uma matrona coroada de palmas, caída, que segura o seu brasão de
armas), mostrando, com a mão esquerda onde devia ser reedificada e com a direita, o Comércio,
um varão nobremente vestido que, ajoelhado a seus pés, lhe oferece as riquezas provenientes
do seu exercício. Para além destas, também se encontram representados Ulisses, admirando a
reconstrução da cidade, a História, que surge escrevendo os feitos de alto merecimento, a
Providência, uma figura com as chaves e o leme na mão, e a Arquitetura, figura que segura um
esquadro, compasso e um papel em que se vê o desenho da cidade. Na parte frontal do
monumento, um medalhão com o busto do Marquês de Pombal, sustentando as insígnias reais e
as quinas, e a figuração do Senado, representam o poder político, atropelando os vícios.
A fundição da estátua, realizada «num só jato» em 15 de Outubro de 1774, foi entregue a
Bartolomeu da Costa, engenheiro militar, nas oficinas de fundição do exército, utilizando os
processos mais inovadores do seu tempo. A sua condução para a Praça do Comércio demorou 3
dias, tendo sido necessário abrir a rua do Museu de Artilharia para ser possível a passagem da
zorra utilizada no seu transporte, um enorme carro capaz de suportar o peso da estátua.
O monumento, símbolo do renascimento nacional, foi inaugurado no dia 6 de Junho de
1775, em comemoração do aniversário do monarca, culminando com um lauto banquete
oferecido pelo Marquês de Pombal.

4
http://www.arqnet.pt/dicionario/machadocastro.html
20
4. Azulejo
A influência do estilo rococó vindo de França vai-se refletir no gosto estético do azulejo a
meados do século XVIII. Regressa a policromia (inicialmente amarelo, verde e violeta, mais tarde
cenas centrais monocromáticas a violeta), ornamentos, baseados nos livros de concheados de
Gideon Saint, sofrem um metamorfose tornando-se mais leves e graciosos. As molduras perdem
grande parte da sua massa volumétrica e assume-se a assimetria em motivos de flores e folhas.
As gravuras de Watteau ditam a temática das cenas galantes, bucólicas e idílicas que se
inserem na perfeição em jardins.
Com o terramoto de 1755 a necessidade imprevista da reconstrução da cidade de Lisboa
vai levar à retoma do azulejo de padrão, que, como material de baixo custo, vai permitir a
aplicação rápida nas fachadas dos edifícios e ao mesmo tempo elevar o seu efeito estético. Vão-
se observar, pequenos painéis de registo em fachadas, representações de padroeiros de
protecção contra catástrofes naturais, e, em frisos de portas e janelas, já a introdução da estética
neoclássica de carácter mais racional e quase desprovido de decoração. Este tipo de azulejo fica
conhecido como azulejo pombalino como referência ao Marquês de Pombal, responsável pela
reconstrução da cidade. Uma das fábricas com um importante papel na reconstrução de Lisboa
foi a Fábrica Sant'Anna fundada em 1741. Esta fábrica ainda se mantém ativa produzindo
azulejo e faianças através de processos inteiramente manuais.

5. Textos complementares
5.1. Memória e Comemoração na Lisboa de Pombal
António Filipe Pimentel
Data: 28 de Abril de 1999

Terramoto de 1755
- Filipe le Brun – gravuras sobre o terramoto
- Robert Adams, que estava a fazer o Grand Tour recebe a notícia do
terramoto em Roma, elabora dois esboços do que ele imaginou. É
que ele não conhece; sabia apenas que dava para o mar? Rio
- Tem um grande lago em comunicação com o rio
- Importa muita influência barroca de Roma

Mas Portugal tinha muitos bons técnicos e reflexão teórica sobre a cidade, quer ao nível
da planificação quer através da reflexão mais prática.

4 de Dezembro de 1755:
- Estava a ser entregue ao Duque de Lafões (que tinha então 80 anos) um memorial de
Manuel da Maia, engenheiro militar, que tratava de questões ao nível do urbanismo, da
arquitetura e da higiene
- Memorial que aponta vias práticas para recuperar Lisboa

21
- Propõe retratar a cidade
- É aprovado o projeto de Eugénio dos Santos (incarna as ideias de Manuel da Maia) -----
propõe uma malha urbana simétrica, coerente, que demonstra a perfeição da forma, a
disciplina de composição
- Terreiro do Paço:
- Espaço de memória
- Espaço de legitimação do poder ---- prestígio da tradição
- Encenação da ideia de poder

Matriz do Terreiro do Paço:


- É um espaço retórico com a morfologia de Palácio bloco constituído por um quadrilátero
flanqueado por torres angulares
- Esta matriz tem uma origem milenar:
- Reflexões de Aristóteles e Platão
- Vitrúvio --- prática de ocupação do solo ---- plano quadrado de
acampamento militar e restauração de cidades
- Esta matriz é aplicada no palácio de Diocleciano em Split – século III
- Reformulada por Santo Agostinho em a Cidade de Deus --- recupera
o modelo palatino nas construções monásticas medievais;
- Aspeto fortificado é perpetuado nos castelos medievais
- Palácio Alcazar, Toledo, meados do séc. XVI;
- Alcazar, Madrid
- Escorial ---- traçado em grelha; parte do modelo de palácio bloco que
tem muitas dependências
- No fundo é um sentido Imperial de perpetuar o poder
- Este modelo (plano em grelha) expande-se pela Europa:
- Les invalides – Paris
- Mosteiros germânicos --- restauros barrocos --- palácio-
mosteiro
- é este modelo que entra também em Portugal --- Palácio Côrte
real – desenhado por Herrera para Cristóvão de Roma, Vice-
rei da índia
- Vai-se refletir em Mafra --- Ludovice --- criação do poder /
criação régia
- S. Salvador da baía – tinha sido trabalhada no século XVI
sobre este arquétipo – organização octogonal
Mafra / Terreiro do Paço:
- O mesmo programa
- Mafra foi a ante reflexão do que deveria ser feito na conceção da organização de
uma cidade
- Nova morfologia:
- Arcarias

22
- Torreão de Herrera ---- imagem de marca da cidade e imagem
simbólica do Rei
- Antes do terramoto previa-se que o Paço da Ribeira fosse todo rematado ---- é
a ideia que vai surgir depois do terramoto
- Manuel da Maia aconselha o marquês para colocar a Bolsa no Terreiro do
Paço
- A alfândega também lá fica
- Malha reticulada constituída por diagonais
- Estátua de D. José I:
- Dá o sentido à Praça
- Marca a presença do Estado em que o Rei se separava da Nação

23

Você também pode gostar