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ARQUITECTURA BARROCA

O início do sec XVII em Portugal foi um período em que o país estava numa
situação complicada, fechado sobre si mesmo, para impedir que o domínio e a cultura
espanhola se alastrasse e se sobrepusesse à cultura nacional. Mas esta clausura em que
se vivia impede também que as novas ideias e correntes europeias chegassem ao nosso
país.
Numa altura em que em Itália, surgiam as primeiras experiências do Barroco, ainda
no final do sec XVI, em Portugal, a arquitectura Chã servia perfeitamente as necessidades
do país, numa fase em que o dinheiro não abundava e uma arquitectura barata era o
ideal.
Em meados do sec XVII, a situação económica do país começa a melhorar
lentamente, com a reconquista das colónias que haviam sido perdidas, nomeadamente o
Brasil, e com ele, a exploração das minas de ouro e diamantes. Esta situação levou a
uma grande transformação do nosso país, tornando-o num dos mais ricos da Europa.
Nesta altura, reinava D. João IV, que tentou então tornar-se num rei forte,
autoritário, com poder, que aliado ao poderio do clero, consegue trazer para Portugal as
tendências Barrocas. Mas com a morte do rei, sobe ao trono o seu filho D. Afonso VI, que
é um homem sem ambições, fraco, de tal forma que o seu irmão D. Pedro II, acaba por
conseguir destitui-lo e assumir o trono. Mas é só uma geração mais tarde, no reinado de
D. João V que, com base num sistema de poder absolutista, sustentado pelas remessas
de pedras preciosas vindas do Brasil, que o Barroco atinge o expoente máximo em
território nacional.
O poder existe, mas tem que ser estipulado, desenvolvido e demostrado em tudo o
que se fazia, de modo a que todas as pessoas o aceitassem ser o por em causa. O
Barroco aposta neste sentido de jogar com as emoções, com os sentimentos. Este
período em que se vivia é uma época de festa e espectáculo, que permite ao Barroco
atingir a sua expressão máxima. Esta corrente resulta bem em Portugal, porque está
criado um ambiente propício para situações festivas, exuberante e dinâmicas de que vive
o Barroco.
A determinada altura, D. João V decide ir a Itália, centro cultural e artístico, mas
impossibilitado de o fazer, envia alguém no seu lugar, com o intuito de recolher um pouco
de tudo o que de inovador e de espectacular demonstração de poder e riqueza se faz por
lá. Quis ouvir uma peça de ópera, que era na altura um espectáculo típico da
grandiosidade do barroco, com cenários monumentais, repletos de luz, fogo, água e até
fogo de artifício, e por tal, manda vir uma companhia para actuar em Portugal. Mas não
tínhamos cá nenhuma sala de espectáculos com as condições necessárias, por isso,
manda construir um edifício em madeira, para ser mais rápido, embora caro e requintado.
Outro capricho de D João V foi a encomenda a Itália de uma capela para por dentro
da igreja de S. Roque, cujo projecto, transporte e construção no interior da igreja, custou
uma fortuna.
Mandou também construir, a exemplo do que Filipe II havia feito com o Escorial,
um palácio num local isolado, e para o suportar, uma rede de estradas, aquedutos e uma
pequena cidade para alojar as pessoas, nascendo assim Mafra. Quis também um outro
palácio, este no centro de Lisboa, o Palácio das Necessidades, que teve que ser
construído muito rápido, em apenas 5 ou 6 anos, porque estava a beira da morte.
D. João V queria seguir o exemplo de Luís XIV, queria ser também ele, o rei sol,
cujo poder absolutista ultrapassa tudo e todos, mas nunca o conseguiu totalmente apesar
das suas tentativas. Esforçou-se por trazer para Portugal tudo o que de melhor se fazia lá
por fora, e mesmo alguns mestres do Barroco. Criou ainda uma academia em Itália para
os artistas portugueses lá irem estudar. Mas apesar, deste esforço, da vinda de
arquitectos estrangeiros, o Barroco em Portugal nunca atinge a espectacularidade de
outros locais.
Uma das características fundamentais do Barroco, e que o ajudou a se espalhar
pela Europa, é o facto dos melhores arquitectos italianos passarem grande parte de
tempo fora de Itália, a trabalharem noutros países. Também em Portugal, estes
arquitectos deram um enorme contributo para o desenvolvimento da cultura e arquitectura
Barroca.
Para uma melhor do que veio a ser a arquitectura Barroca em Portugal, é
necessário conhecermos um pouco dos arquitectos estrangeiros que vieram ao nosso
país.
José Frederico Ludovice, um ourives alemão que veio para Portugal para executar
um sacrário jesuíta, que acaba por se tornar arquitecto e ganha grande prestígio e poder
na arquitectura portuguesa, tornando-se no braço direito de D. João V. Arquitecto
responsável pelo projecto Mafra. Por não Ter grande experiência em arquitectura, não é
introdutor de um Barroco ousado, pois para isso seria necessário conhecer
detalhadamente a geometria e as suas regras, coisa que Ludovice não dominava,
fazendo então uma arquitectura mais vulgar.
Nicolau Mazoni, cenógrafo italiano, também transformado em arquitecto em
Portugal, marcando profundamente a arquitectura nortenha. Também não proponha um
Barroco muito inovador, jogando mais com questões de cenografia na arquitectura.
Antonio Canevari, arquitecto italiano que veio para Portugal no início do sec XVIII,
para fazer o Aqueduto das Águas Livres, obra muito importante nesta altura. Acabou
também por fazer uma das maiores peças urbanas da época, o Palácio do Patriarca. Foi
mandado embora a meio das obras do aqueduto por incompetência.
Filipe Juvara, o melhor arquitecto italiano da época, com uma arquitectura mais
ousada, mais exuberante, mais inovadora. Veio para Portugal para fazer três projectos a
pedido de D. João V, mas esteve cá muito pouco tempo, perdendo-se assim a
oportunidade de sermos contemplados com obras do melhor Barroco da altura.
Como quem se destacou mais foi Ludovice e Mazoni, a arquitectura que se
verificou era de um Barroco mais soft, que não gosto de linhas curvas e é muito limitado,
pela inexperiência e incapacidade de quem não teve formação arquitectónica.
Os exemplos de um barroco mais inovador e exuberante acabam por vir da parte
de arquitectos portugueses, que tentam fazer um arquitectura à imagem da de Borromini.
João Antunes, no final do sec XVII aparece com um projecto para um concurso da
igreja de St. Engrácia e ganha, com uma excelente peça de arquitectura, onde joga com a
geometria complexa do barroco. É depois nomeado aprendiz da Aula da Ribeira e acaba
por se tornar arquitecto Real.
Manuel da Costa Vicente, trabalha como pedreiro nas obras do aqueduto. Embora
nunca tenha frequentado a aula da ribeira nem tenha sido engenheiro militar, fez uma das
obras mais eruditas do barroco em Portugal.
Rodrigo Franco, trabalhou no atelier de Ludovice em Mafra, tomando o lugar deste,
quando o primeiro se foi embora, ficando então responsável pela obra. É o autor de uma
das obras da arquitectura erudita. Era um homem que lia tudo o que de novo surgia na
Europa, sobre o assunto do Barroco.
São estes três arquitectos portugueses que são capazes de fazer uma arquitectura
mais inovadora e exuberante, mais de acordo com as ideologias de Borromini.
Ao lado destes existem outros arquitectos como Tinoco da Silva, com um carácter
tradicionalista, mais próximo da arquitectura Chã; e Custódio Vieira, que mistura o
tradicional com um pouco de inovação Barroca e que vai acabar por ser considerado um
dos melhores arquitectos portugueses da época.
Este é o panorama que de alguma forma vai justificar as várias linhas de
interpretação do Barroco em Portugal. Este não é só um, tem várias variantes, uma mais
simples , outra mais erudita, que são justificadas pelas características dos diferentes
arquitectos que fazem esta arquitectura.
Existem dois tipos de edifícios, os longitudinais, com planta de cruz latina, e os
centralizados, com eixos equivalentes. Segundo Borromini, deve haver uma conjugação
entre o longitudinal e o centralizado, com a utilização de uma forma muito própria do
barroco, a elipse. A forma como a arquitectura alterou os eixos, cria no espectador uma
sensação de desequilíbrio. O muro mais agitado e dinâmico é curvo e contra curvo, com
saliências e reentrâncias, com movimento constante. E à medida que nos aproximamos
de geometrias mais complexas a decoração diminui, por ser desnecessária.
Ao longo dos tempos, o a arquitectura Barroca vai Ter diversas variantes.
A primeira manifestação do Barroco em Portugal, é a simples introdução de
elementos decorativos, na arquitectura tradicional, cuja função é transformar a parede lisa
numa parede movimentada e dinâmica. É o chamado Barroco Decorativo, onde a
decoração é utilizada com o sentido de alterar a estrutura arquitectónica. Geralmente a
decoração começa pelo altar, acabando depois por se alastrar às paredes. Esta é a
primeira forma do Barroco mas continua persistente durante todo o seu período, pois
chegou-se ao ponto de continuar a construir edifícios típicos da arquitectura Chã, com
planta em rectângulo, para depois serem decorados quer no interior, quer no exterior, com
elementos barrocos.
Uma outra variante é o Barroco Cénico, que é caracterizado pelas alterações
cenográficas dadas a edifícios tradicionais, principalmente ao nível da fachada. Colocam-
se torres nas fachadas de modo a monumentaliza-las, podendo também surgirem
fachadas falsas, que por detrás não têm nada, com função de dar mais altura ao edifício.
A introdução de galilés e grandes escadarias no exterior dos edifícios garantiam ainda
mais o cenário de grandeza e exuberância pretendido.
Há ainda o Barroco Arquitectónico, em que os arquitectos tentam utilizar a
geometria e a parede como elementos fundamentais para criarem de raiz um edifício
dinâmico. Neste tipo de barroco, defende-se que quanto maior for o dinamismo do edifício
ao nível da geometria, menor deve ser o recurso a subterfúgios decorativos, que acabou
por ser a sua principal característica. Este tipo de edifícios são os que existem em menor
número, pelas razões já acima explicadas, referentes às características dos arquitectos
da época.
Por último, temos o Barroco Áulico ou Barroco Real, onde a arquitectura é
directamente patrocinada pelo estado/rei. Tem um significado político muito importante.
Mafra é um exemplo deste Barroco, por Ter sido feita por vontade expressa do rei D. João
V, para funcionar como símbolo do seu poder. São obras em que a interferência directa
do rei é muito significativa, com grande custo e expressão simbólica de poder.

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