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RELATÓRIO DO

REOTN

ESTADO DE
ORDENAMENTO
Maio 2013

DO TERRITÓRIO
NACIONAL
VOLUME IV

Recursos agrícolas, florestais,


geológicos e hídricos, mar e
zonas costeiras,
conservação e biodiversidade,
qualidade do ar e alterações
climáticas

1.ª Versão
Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
VOLUME IV - Recursos agrícolas, florestais, Geológicos e Hídricos, Mar e zonas costeiras, Conservação e
biodiversidade, Qualidade do ar e alterações climáticas
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VOLUME IV - Recursos agrícolas, florestais, Geológicos e Hídricos, Mar e zonas costeiras, Conservação e
biodiversidade, Qualidade do ar e alterações climáticas

ÍNDICE GERAL

1. INTRODUÇÃO ......................................................................................................................................3
2. RECURSOS AGRÍCOLAS E FLORESTAIS...............................................................................................2

3. RECURSOS GEOLÓGICOS ..................................................................................................................43

4. RECURSOS HÍDRICOS ..........................................................................................................................78


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5. MAR E ZONAS COSTEIRAS ..................................................................................................................183

6. CONSERVAÇÃO E BIODIVERSIDADE .................................................................................................221

7. ESTRUTURA NACIONAL DE PROTECÇÃO E VALORIZAÇÃO AMBIENTAL ........................................267


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8. QUALIDADE DO AR E ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS .............................................................................277

9. FICHAS DE INDICADORES ..................................................................................................................293


10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................................................316

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ÍNDICE DE GRÁFICOS

Gráfico 1: Distribuição do uso do solo ...................................................................................................................... 8


Gráfico 2: Número de pedreiras licenciadas e em actividade. .......................................................................... 66
Gráfico 3: Produção da pesca artesanal marítima de 2007 a 2012. .................................................................. 197
Gráfico 4: Capturas por Província de 2012, em mil toneladas. ........................................................................... 198
Gráfico 5: Número de barcos distribuídos por província. ..................................................................................... 199
Gráfico 6: Capturas (mil kg) para a Pesca Continental, por província em 2010. ............................................ 200

ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1: Grandes regiões agrícolas .......................................................................................................................... 11


Figura 2: Ttipologias de produção agrícola ............................................................................................................. 13
Figura 3: Principais regiões de produção agrícola, pastorícia e criação de gado ......................................... 15
Figura 4: Tipos de Vegetação..................................................................................................................................... 21
Figura 5: Grandes unidades geomorfológicas ........................................................................................................ 52
Figura 6: Principais unidades geotécnicas ............................................................................................................... 54
Figura 7: Inventário das nascentes de águas minerais e medicinais. ................................................................. 69
Figura 8: Principais Bacias Hidrográficas de Angola .............................................................................................. 79
Figura 9: Principais rios de Angola.............................................................................................................................. 84
Figura 10: Regiões e Unidades Hidrográficas de Angola ...................................................................................... 88
Figura 11: Formações Hidrogeológicas de Angola ................................................................................................ 94
Figura 12: Bacia Hidrográfica do Rio Cubango ...................................................................................................... 102
Figura 13: Padrão de drenagem da Bacia do Rio Cunene.................................................................................. 121
Figura 14: Recarga de água subterrânea na Bacia do Rio Cunene .................................................................. 122
Figura 15: Percurso do Rio Congo .............................................................................................................................. 126
Figura 16: Foz e Estuário do Rio Congo ..................................................................................................................... 128
Figura 17: Localização dos aproveitamentos hidroeléctricos operacionais, em construção ou planeados
para 2017 .............................................................................................................................................................. 134
Figura 18:Carta de Ocupação do solo, Angola ..................................................................................................... 140
Figura 19:Perímetros irrigados e núcleos de povoamento agrário ...................................................................... 141
Figura 20: Distribuição da área regada (%) pelas unidades hidrográficas ....................................................... 142
Figura 21: Áreas com potencial para irrigação ...................................................................................................... 143
Figura 22: Rede Hidrográfica da Província de Benguela ...................................................................................... 146
Figura 23: Rede Hidrográfica da Província de Cabinda ....................................................................................... 149
Figura 24: Rede Hidrográfica da Província de Cunene......................................................................................... 151
Figura 25: Rede Hidrográfica da Província de Huíla .............................................................................................. 159
Figura 26: Hidrografia da Província do Cuanza Sul ................................................................................................ 162
Figura 27: Hidrografia da província do Namibe...................................................................................................... 166
Figura 28: Âmbito territorial de um Plano de Ordenamento de Orla Costeira ................................................. 186
Figura 29: Angola - Características geomorfológicas predominantes da zona costeira ............................... 187
Figura 30: Corrente de Benguela. .............................................................................................................................. 193
Figura 31: Localização de Apoio à Pesca Artesanal ............................................................................................. 202
Figura 32: Desafios para a gestão das zonas costeira e ambiente marinhos. .................................................. 216
Figura 33: Áreas Protegidas, com relevância para o Ordenamento do Litoral ................................................ 218
Figura 34: Parques e Reservas Naturais ..................................................................................................................... 228
Figura 35: Principais Biomas de Angola .................................................................................................................... 234
Figura 36: Zonas Húmidas ............................................................................................................................................ 236
Figura 37: Carta Fitogeográfica de Angola ............................................................................................................. 241

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ÍNDICE DE QUADROS

Quadro 1: Classes e ordens de aptidão para o regadio ao nível da Região Hidrográfica e do País ......... 32
Quadro 2: Projectos contemplados no PIP 2014 ..................................................................................................... 51
Quadro 3: Número de pedreiras licenciadas e em funcionamento .................................................................. 65
Quadro 4: Área das Bacias Hidrográficas ................................................................................................................ 84
Quadro 5:Caudais dos principais rios de Angola ................................................................................................... 85
Quadro 6: Regiões e Unidades Hidrográficas de Angola ..................................................................................... 87
Quadro 7: Unidades hidrográficas. Dimensão, Precipitação e Escoamento ................................................... 89
Quadro 8: Propostas para projetctos hidroeléctricos na bacia do Cubango ................................................. 105
Quadro 9: Inventariação de potenciais projectos identificados na bacia do Cubango .............................. 108
Quadro 10: Projetos Hidroeléctricos e albufeiras existentes na Bacia do Rio Zambeze ................................. 113
Quadro 11: Futuros projectos de geração hidroeléctrica incluídos na análise ................................................ 114
Quadro 12:Áreas actualmente sob irrigação na Bacia do Rio Zambeze, em hectares (por país) .............. 115
Quadro 13: Projectos identificados - áreas adicionais de irrigação na Bacia do Rio Zambeze (hectares)
Aumentos projectados ...................................................................................................................................... 116
Quadro 14: Caraterísticas Hidrológicas das Sub-bacias do Cunene ................................................................. 119
Quadro 15: Projectos previstos pelo Estudo Hidrográfico do Rio Cunene ......................................................... 125
Quadro 16: Aproveitamentos hidroeléctricos em operação em 2011 .............................................................. 131
Quadro 17: Aproveitamentos hidroeléctricos existentes ou em construção .................................................... 132
Quadro 18:Novos aproveitamentos hidroeléctricos previstos até 2017 ............................................................. 135
Quadro 19:Situação prevista de produção de hidroelectricidade em 2017 ................................................... 136
Quadro 20:Potencial hidroeléctrico por região/unidade hidrográfica.............................................................. 138
Quadro 21: Características das principais bacias de drenagem de Luanda .................................................. 145
Quadro 22: Regiões e unidades geográficas da província de Benguela ......................................................... 147
Quadro 23: Principais diplomas, no âmbito da pesca e aquicultura. ................................................................ 191
Quadro 24: Objectivos e Indicadores para o Sector das Pescas. ....................................................................... 195
Quadro 25: Comunidades piscatórias discriminada por província. ................................................................... 196
Quadro 26: Número de Associações/Cooperativas por província e beneficiadas com microcrédito. ..... 200
Quadro 27: Descrição dos Centros de Apoio e Mini-centros de Apoio à Pesca Artesanal. .......................... 202
Quadro 28: Áreas de Protecção Ambiental e Conservação da Natureza ...................................................... 229
Quadro 29: Reservas Florestais.................................................................................................................................... 230
Quadro 30: Medidas para o Ordenamento do Território no âmbito da Conservação da Natureza a nível
Nacional ............................................................................................................................................................... 259
Quadro 31: Medidas para o Ordenamento do Território no âmbito da Conservação da Natureza a nível
Provincial............................................................................................................................................................... 260
Quadro 32:Alterações Climáticas e Qualidade do Ar - Potencialidades e Fragilidades ............................... 286
Quadro 33:Alterações Climáticas e Qualidade do Ar - Desafios e Oportunidades ........................................ 289

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1. INTRODUÇÃO

O presente relatório visa enquadrar a análise do estado do ordenamento do território no âmbito das
políticas ambientais e socioeconómicas, considerando, os recursos agrícolas, florestais, geológicos,
pesqueiros e marítimos, na qualidade de suporte às actividades humanas e fundamentais à
conservação da natureza e da biodiversidade, enquanto principio integrante da disciplina do
Ordenamento Territorial.

A definição de Ordenamento do Território, contemplada na Lei do Ordenamento do Território e


Urbanismo refere que: é a aplicação no território das políticas económico-sociais, urbanísticas e
ambientais, visando a localização, organização e gestão correcta das actividades humanas.
(Lei n.º3/04, de 25 de Junho, Artigo 2º, alínea l)

Neste capítulo procede-se à apresentação dos conceitos, legislação específica, breve


caracterização dos recursos e à análise no que se refere às actividades humanas desenvolvidas e
seu enquadramento nos Instrumentos do Sistema de Planeamento Nacional.

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2. RECURSOS AGRÍCOLAS E FLORESTAIS

Os recursos agrícolas e florestais são bases fundamentais para o ordenamento do solo rural, em
especial no contexto nacional em que esses recursos representam uma vasta riqueza. Importa pois
conhecê-los adequadamente para que o uso a definir no território seja o mais consentâneo com as
suas potencialidades.

O capítulo inicia-se com a apresentação dos conceitos básicos e a sua relação com a disciplina do
ordenamento do território e o seu enquadramento na legislação nacional.

De seguida é feita uma caracterização geral para cada recurso em análise, seguindo-se uma
anáalise sobre os programas e estratégias que de alguma forma podem dar indicações sobre o
ordenamento territorial destas duas componentes do solo rural.

Mediante a caracterização feita do território, procede-se à avaliação das fragilidades e


potencialidades, tanto do território como do seu ordenamento.

Por fim é feita uma sistematização de medidas de implementação, visando tanto o território
propriamente dito, como o seu ordenamento, objecto de avaliação no presente estudo.

2.1 CONCEITOS

2.1.1 Agricultura

Os Recursos Agrícolas no ordenamento do território desempenham um papel estratégico no que


concerne a produção agrícola, a salvaguarda dos recursos naturais de suporte, o solo, a água, a
preservação do o contributo e mais-valia para a riqueza paisagística e como factor básico e
indispensável na gestão do espaço rural.

Angola integra espaços agrícolas de grande potencial económico, pela elevada fertilidade dos
seus solos e disponibilidade de água, áreas agrícolas de grande valor paisagístico e exemplos de
adequada gestão dos espaços rurais.

A procura e afectação dos espaços agrícolas a usos que os consomem e degradam


irreversivelmente, nas suas diversas funções, deve-se a factores como a forte expansão urbana, o
grande diferencial de preço entre o solo agrícola e o solo urbano, que conduz à sua preferência
para a construção de habitação, indústria e logística, desligadas do sector agrícola, para a

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instalação de empreendimentos turísticos de forte componente imobiliária. Esta situação é mais


visível nas imediações dos grandes aglomerados habitacionais em especial Luanda, Benguela e
Lubango.

É, por isso, muito importante, imprimir um carácter não urbanizável e não edificável nos espaços
agrícolas, condicionando a construção nestes espaços.

Deverão ser prossecutados princípios como: recuperar as construções existentes, numa óptica de
reutilização e requalificação, evitando assim, maior afectação ao solo rural e valorizando o espaço
construído; racionalizar as infra-estruturas e equipamentos; dotar as edificações ligadas à
exploração agrícola, de qualidade e volumetria que se enquadre na paisagem, de modo a
constituírem um todo harmonioso com a envolvente, preservar e recuperar as estruturas existente
associadas à actividade agrícola, que concorrem para a defesa e qualificação dos espaços
agrícolas, promovendo as actividades agrícolas economicamente competitivas e respeitadoras do
ambiente, assim como valorizando o espaço rural, na perspectiva da diversificação de serviços e
produtos de qualidade.

Outra questão a salientar no binómio Agricultura/Ordenamento do Território é o facto de o país


possuir imensas potencialidades para o desenvolvimento agrícola e esta aptidão não ser
devidamente aproveitada, mantendo-se vastíssimas áreas de solos com aptidão agrícola sob a
forma de savana e inculto.

2.1.2 Floresta

Os Recursos Florestais no ordenamento do território tal como os recursos agrícolas, desempenham


um papel estratégico, desta feita enquanto produção florestal, salvaguarda dos recursos naturais de
suporte, solo, água, ar, preservação do ambiente, contributo e mais-valia para a riqueza
paisagística e factor básico e indispensável na gestão do espaço rural.

O ordenamento florestal é feito através da planificação das acções a desenvolver num espaço
florestal, durante um determinado período de tempo, de modo a alcançar uma floresta sustentável,
satisfazendo os objectivos do proprietário e simultaneamente da sociedade. O ordenamento
florestal deve incidir em todo o sistema, isto é, sobre a fauna e flora, assim como ao nível das infra-
estruturas que permitam a sua conservação e exploração. Deve ser, portanto, baseado na
multifuncionalidade dos espaços florestais, integrando quer os aspectos ecológicos, como os sociais
e económicos.

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2.2 ENQUADRAMENTO LEGAL

O enquadramento legal destas temáticas no ordenamento do território fundamenta-se nos


seguintes diplomas:

▪ Lei do Ordenamento do Território e do Urbanismo, Lei n.º 3/04 de 25 de Junho

▪ Lei de Base do Desenvolvimento Agrário, Lei n.º 15/05 de 7 de Dezembro

▪ Lei de Terras, Lei n.º 9/04 de 9 de Novembro

▪ Anteprojecto da Lei das Florestas, Fauna Selvagem e Áreas de Conservação


Terrestres

▪ Política Nacional de Florestas , Fauna Selavagem e Áreas de Conservação

A Lei do Ordenamento do Território e do Urbanismo, Lei n.º 3/04 de 25 de Junho, já sobejamente


retratada neste documento, que importa referir, para salientar o facto de ser previsto neste diploma
um plano territorial que tem como objecto a ordenação dos espaços rurais situados fora dos
perímetros urbanos, incluindo os das povoações classificadas como rurais, o Plano de Ordenamento
Rural.

Estes planos devem definir modelos de preservação e evolução da organização espacial natural e
humana, fixando: a) as potenciais áreas de explorações mineiras; b) a qualificação dos solos
agrários em função da sua aptidão ou dos tipos de cultura ou de coberto florestal; c) os demais
bens económicos, naturais, paisagísticos, culturais, turísticos e sociais do mundo rural.

Do conjunto de legislação que o Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural apresenta


disponível no portal da internet salienta-se a Lei de Base do Desenvolvimento Agrário com
repercussões no ordenamento do território nacional, provincial e municipal:

A Lei de Base do Desenvolvimento Agrário, Lei n.º 15/05 de 7 de Dezembro, que estabelece as bases
que devem assegurar o desenvolvimento e a modernização do sector agrário, criando para o efeito
mecanismos de apoio e incentivos às actividades agrárias.

No artigo 12 º, específico para as questões do Ordenamento, é referido o seguinte:

“1. Deve ser promovida a utilização racional e ordenada dos solos com aptidão agrícola que
assegure a conservação da sua capacidade produtiva e uma protecção efectiva contra a erosão
e contra a poluição química ou orgânica.

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2. O ordenamento na utilização dos solos tem por objectivo fundamental garantir o racional
aproveitamento daqueles que revelem maiores potencialidades agrícolas, pecuárias ou florestais,
mediante a sua afectação àquelas actividades, e no respeito do regime do uso, ocupação e
transformação do solo decorrente dos instrumentos de ordenamento do território.

3. Para prossecução dos objectivos enunciados nos números anteriores, incumbe ao Governo a
definição da Reserva Agrícola Nacional e das normas que regulamentem a sua utilização, tendo em
vista a preservação dos solos de marcada aptidão agrícola.”

Outro aspecto importante que este documento legislativo salvaguarda é a previsão do


Ordenamento da terra para fins agrários, no artigo 28ª:

“1. Nas regiões onde a estrutura fundiária se apresentar fragmentada e dispersa, em termos de
impedir a viabilização económica do aproveitamento agrícola dos recursos naturais, devem ser
desenvolvidas acções de emparcelamento, prioritariamente quando os respectivos solos integrarem
a Reserva Agrícola Nacional.

2. As acções de emparcelamento podem ser da iniciativa dos particulares, das organizações


agrícolas, das autarquias locais ou do Estado, nos termos definidos por lei.

3. O Governo regulamentará os incentivos à realização das acções de emparcelamento, quando


destes resultarem explorações com uma área mínima a fixar por lei.”

É ainda de referir a intenção do legislador no artigo 32ª em promover também a agricultura em


zonas menos favorecidas mas com aptidão para a actividade:

“1. Nas zonas agrícolas desfavorecidas pode o Governo determinar a realização de programas
especiais de desenvolvimento rural.

2. Os programas especiais de desenvolvimento rural serão definidos em função da especificidade


que cada zona abrangida venha a apresentar.”

Resumidamente, a Lei de Base do Desenvolvimento Agrário atribui ao Governo competência para a


definição da Reserva Agrícola Nacional, bem como a reserva de terrenos para constituição de
bancos de terras a submeter a medidas de estruturação fundiária, e o dever de apoiar, através de
mecanismos financeiros, o desenvolvimento de actividades associadas à exploração agrícola,
sobretudo nas zonas com condições agrestes ou com ecossistemas específicos, na perspectiva de
integração dos rendimentos resultantes da utilização económica integrada de recursos cinegéticos,

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piscícolas e apícolas, associadas ou não ao património florestal, que se conciliem com os equilíbrios
ecológicos no respeito do direito de uso e aproveitamento da terra.

No âmbito dos Recursos Agrícolas e Florestais é de mencionar a Lei de Terras, Lei n.º 9/2004 de 9 de
Novembro ainda que sem consequências directas e imediatas no ordenamento do território mas
com implicações muito concretas nos proprietários da terra e consequentemente no seu uso.

A lei estabelece as bases gerais do regime jurídico das terras integradas na propriedade originária
do Estado, os direitos fundiários que sobre estas podem recair e o regime geral de transmissão,
constituição, exercício e extinção destes direitos. Aplica-se aos terrenos rurais e urbanos sobre os
quais o Estado constitua algum dos direitos fundiários nela previstos, em benefício de pessoas
singulares ou colectivas de direito público ou privado, designadamente com vista à prossecução de
fins de exploração agrícola, pecuária ou silvícola.

Nos termos da lei, "a terra constitui propriedade originária do Estado", pelo que se tornam nulos os
negócios de transmissão ou oneração da propriedade dos terrenos integrados nesses domínios
(Lei n.º 9/04, de 9 de Novembro, Artigo 5º). Também não podem adquirir-se por usucapião quaisquer
direitos sobre terrenos integrados no domínio privado do Estado ou das comunidades rurais.

A mencionada lei estipula que os direitos fundiários adquiridos, transmitidos ou constituídos


extinguem-se pelo seu não exercício ou pela inobservância dos índices de aproveitamento útil e
efectivo durante três anos consecutivos ou seis anos interpolados, qualquer que seja o motivo. O
Estado respeita e protege os direitos fundiários de que sejam titulares as comunidades rurais,
incluindo aqueles que se fundam nos usos ou no costume. Contudo, ressalta, os terrenos dessas
comunidades podem ser expropriados por utilidade pública ou ser objecto de requisição, mediante
justa indemnização.

No que toca ainda às expropriações, a lei refere que "ninguém pode ser privado, no todo ou em
parte, do seu direito fundiário limitado" e que "o Estado e as autarquias locais podem expropriar
terrenos, contanto que estes sejam utilizados em um fim específico de utilidade pública" (Lei n.º 9/04,
de 9 de Novembro, Artigo 12º, n.º 1 e 2).

Entre outros aspectos ressalva-se no que se refere à “Intervenção Fundiária”, em que um dos
objectivos da intervenção do Estado na gestão e concessão das terras é a “protecção do
ambiente e utilização economicamente eficiente e sustentável das terras”, coincidente com um dos
princípios base do ordenamento do solo rural (Lei n.º 9/04, de 9 de Novembro, Artigo 14º, Alínea b).
Por seu turno, o artigo 15º prevê que a " constituição ou a transmissão de direitos fundiários sobre as

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terras e a ocupação, o uso e a fruição destas regem-se pelas normas constantes dos instrumentos
de ordenamento do território e de planeamento urbanístico, designadamente no que diz respeito
aos objectivos por estes prosseguidos".

O diploma também salvaguarda os direitos das comunidades rurais em terrenos reservados, às quais
o Estado assegura a afectação de despesas que visem a promoção do seu bem-estar resultantes
das taxas cobradas pelo acesso aos parques e pela caça, pesca ou actividades turísticas aí
desenvolvidas.

No que se refere ao domínio útil consuetudinário, o diploma reconhece às famílias que integram as
comunidades rurais a ocupação, posse e os direitos de uso e fruição dos terrenos rurais comunitários
por elas ocupados e aproveitados de forma útil e efectiva, segundo o costume. O exercício deste
domínio é gratuito e não prescreve, mas pode extinguir-se pelo não uso e pela livre desocupação
nos termos das normas consuetudinárias.

Os litígios relativos aos direitos colectivos de posse, gestão, uso e fruição e domínio útil
consuetudinário dos terrenos rurais comunitários são decididos no interior das comunidades rurais, de
harmonia com o costume nelas vigente.

A lei estabelece, ainda, que as pessoas singulares e colectivas que ocupam, sem qualquer título,
terrenos do Estado ou das autarquias locais, devem, no prazo de três anos, requerer a emissão de
título de concessão.

O anteprojecto da Lei das Florestas, Fauna Selvagem e Áreas de Conservação Terrestres, apesar de
não possuir vínculo legislativo em vigor, apresenta um conjunto de regras muito importantes para o
ordenamento do território e em especial dos espaços florestais. Segundo este documento: “a
presente lei visa assegurar que o uso das florestas e da fauna selvagem terrestre se paute pelos
princípios constitucionais e do Direito Internacional relevantes, em especial os princípios do
desenvolvimento sustentável e da protecção do ambiente. Estabelece os princípios e objectivos a
que deve obedecer o uso e exploração dos recursos florestais e faunísticos, bem como da
diversidade biológica terrestre, e os instrumentos para a sua gestão sustentável. Regula ainda as
actividades relativas aos recursos florestais e faunísticos e estabelece os regimes de concessão de
direitos a eles relativos, no quadro da salvaguarda da igualdade de oportunidades e da
participação de todos os cidadãos no processo de desenvolvimento económico e social do País.”

Dos princípios específicos de gestão das florestas (Artigo 54º) é de salientar as preocupações do
presente assunto em estudo:

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"a) As actividades relativas a recursos florestais realizam-se no âmbito do ordenamento florestal;

b) O ordenamento e gestão dos recursos florestais devem assegurar simultaneamente a justiça


social, o bem-estar e participação dos cidadãos, o desenvolvimento da economia nacional e a
conservação dos recursos e ecossistemas florestais no longo prazo; (…)

h) As medidas de gestão de recursos florestais devem ter em consideração as medidas de


protecção do ambiente e de gestão de outros recursos naturais, em especial a
compatibilização entre o ordenamento florestal e o ordenamento do território."

2.3 CARACTERIZAÇÃO GERAL E DIAGNÓSTICO DOS RECURSOS AGRÍCOLAS

Consultando os dados de uso do solo disponíveis no portal da internet da FAO (Organização


Mundial das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura), é possível concluir que Angola
detém uma área considerável (e semelhante) de superfície florestal e de prados/pastos
permanentes. Este facto faz prever uma importância muito significativa para o país, da produção
pecuária e da produção florestal, tanto em termos económicos como em termos ambientais e
consequentemente em termos de ordenamento do solo rural.

Gráfico 1: Distribuição do uso do solo

Fonte:adaptado de www.fao.org, 2014

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O presente capítulo aborda incide sobre os seguintes temas:

▪ Aspectos gerais

▪ Características da produção agrícola

▪ Produção animal

▪ Tipos de pastos

▪ Problemas de ordenamento do território provocados pela agricultura

Em capítulo próprio serão analisados os recursos florestais.

2.3.1 Aspectos gerais

Segundo o Relatório do Estado Geral do Ambiente em Angola (REGA, 2006), o país detém um
enorme potencial agrícola, que se encontra na sua maioria por explorar. Estima-se que
aproximadamente 45% da área total do território nacional possui aptidão agrícola, sendo que
apenas 10% dos solos angolanos possuem alto potencial iminentemente agrícola.

Os solos férteis localizam-se sobretudo na região Norte e no Planalto Central, onde as precipitações
médias anuais normalmente excedem 1 000 mm.

Segundo o mesmo documento, o sector da agricultura contribuiu para 6 % do Produto Interno Bruto
(PIB) nacional em 2000, e em 2003 representava 9%, valores que ficam aquém dos registados em
1990 (18%). No entanto, a agricultura é uma actividade fundamental num país com uma vasta
população rural e um reduzido sector industrial (além do petróleo). É, na realidade, a principal fonte
de emprego (o sector agrícola emprega cerca de dois terços da população trabalhadora) e de
abastecimento alimentar, sendo, portanto, a chave para a segurança alimentar.

Antes da independência nacional, o país produzia elevada quantidade de alimentos e beneficiava


de auto-suficiência alimentar, assumindo-se como um importante exportador de milho, café, entre
outros produtos agrícolas.

Durante o longo período de instabilidade em resultado dos conflitos ocorridos durante a guerra civil,
a agricultura entrou em declínio e resumiu-se a um nível de subsistência em muitos locais do país,
com poucos ou nenhuns excedentes vendíveis e uma actividade comercial muito limitada. Noutros
locais, instaurou-se um clima de autêntica insegurança alimentar, que originou fenómenos intensos
de êxodo rural, com a migração de pessoas das áreas rurais para as capitais provinciais, sedes

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municipais e zonas costeiras. Esta movimentação da população foi particularmente intensa nas
províncias centrais e orientais do Huambo, Bié, Moxico e Kuando Kubango.

O REGA (2006) menciona que actualmente apenas 20% a 30% da área agrícola está efectivamente
em uso (outras estimativas apontam para metade deste valor) e que a agricultura de subsistência
fornece o sustento a 85% da população angolana. As pequenas explorações familiares que
praticam uma agricultura familiar (sector tradicional) exploram 90% da área agrícola total e os
restantes 10% são aproveitados para fins comerciais. A insegurança decorrente da existência de
inúmeras minas anti-pessoais espalhadas pelo território nacional constituí , ainda, um obstáculo à
recuperação da actividade agrícola.

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Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hidricos, mar e zonas costeiras, conservação e
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Figura 1: Grandes regiões agrícolas

Fonte:http://www.minader.org/pdfs/fomento/desenvolvimento_rural/regioesa
gricolas.pdf

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Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hidricos, mar e zonas costeiras, conservação e
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2.3.2 Características da produção agrícola

Em estreita correspondência com os aspectos climáticos regionias, nomeadamente os valores e a


distribuição da precipitação, e a duração da estação das chuvas, o território nacional classifica-se,
no que respeita às características da produção agrícola, em três zonas agro-ecológicas distintas,
como menciona o REGA (2006):

A – Zona essencialmente de exploração de sequeiro. O ciclo vegetativo das culturas


anuais coincide com a estação das chuvas, que é bem expressiva. O regadio torna-se
necessário somente no período seco e em relação a certas culturas perenes (pomares) ou
à produção hortícola;

B – Zona de transição. A exploração de sequeiro nesta zona restringe-se às culturas


resistentes à seca ou pouco exigentes em humidade (algodão, mandioca, massambala,
massango), enquanto a exploração de regadio é exigida para muitas outras culturas de
ciclo anual.

C – Zona essencialmente de exploração de regadio. O regadio é condição primeira para


a produção agrícola. O sequeiro é apenas viável no caso de culturas bastante resistentes à
secura e desde que se lhes proporcione condições específicas de solos e topográficas.

A este propósito veja-se a Figura 2, que ilustra a distribuição espacial das supramencionadas
tipologias de produção agrícola.

O padrão nacional de cultivo é diversificado verificando-se que no Norte (províncias de Uíge,


Kwanza Norte, Zaire, e Malange) e no Nordeste (províncias de Lunda Norte e Lunda Sul predomina o
cultivo da mandioca, milho, feijão e amendoim; no Planalto Central prevalece o milho e feijão no
Sul destacam-se a cultura do milho e as actividades pecuárias, verificando-se em algumas áreas a
transição para a cultura da mandioca, massambala, massango e feijão macunde. As províncias do
CKunene e Huíla são especialmente caracterizadas pela prática pastoril (REGA, 2006).

Na maioria das áreas rurais, a agricultura é a principal fonte de sustento, excepto no Sul, onde
predomina a pecuária. A população mais vulnerável sobrevive através da recolha de lenha, da
caça e da pesca em águas e rios interiores; estas actividades são também as principais fontes de
receitas ou alimentos durante o período de escassez (REGA, 2006).

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Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hidricos, mar e zonas costeiras, conservação e
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Como menciona o REGA (2006), a agricultura em Angola é predominantemente uma actividade de


trabalho familiar para milhões de pequenos agricultores em regime de auto subsistência que
cultivam uma média de 1,4 ha por família em dois ou mais pedaços de terra; a área plantada
aumenta ligeiramente todos os anos.

Figura 2: Ttipologias de produção agrícola

Fonte: REGA, 2006

A produção agrícola baseia-se numa época principal de plantio de sequeiro de Setembro a Abril
(cultivando de Setembro a Fevereiro). Esta época responde por cerca de 95% da produção total de
cereais e leguminosas, que são também as principais culturas alimentares: cereais (milho,
massambala, massango e arroz), feijão, amendoim, mandioca, batata-doce e batata comum. A
segunda época de plantio ocorre principalmente em baixios húmidos e é realizada de Junho a

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Agosto. Esta época fornece cerca de 5% da produção de cereais e legumes. A produção de


verduras e batata-doce é também muito importante nestas áreas. As verduras mais importantes são
o repolho, o tomate, a alface, a cebola, o pimento, a cenoura e a abóbora.

As culturas nacionais mais importantes podem classificar-se em dois grupos (REGA, 2006):

▪ As alimentares, cuja produção é na sua quase totalidade consumida internamente


(exemplo do milho, mandioca, feijão, amendoim);

▪ As de rendimento (alimentares e industriais), cujo valor é dado pela exportação e


pelas cotações que atingem no mercado externo (exemplo do café, milho, sisal,
cana-de-açúcar, algodão, tabaco, palmeira dendém, e bananas).

A distribuição das principais culturas pelos sectores agrícolas tradicional e empresarial é,


aproximadamente a seguinte:

▪ Sector tradicional: milho, mandioca, feijão, amendoim, algodão, tabaco e palmeira


dendém;

▪ Sector empresarial: café, cana-de-açúcar, sisal, algodão, tabaco, e palmeira


dendém.

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Figura 3: Principais regiões de produção agrícola, pastorícia e criação de gado

Fonte: Própria

O sector tradicional abrange a grande maioria da população dita rural, espalhando-se em


pequenas explorações familiares nitidamente de subsistência. A maioria dos agricultores familiares
usa instrumentos manuais para a preparação da terra e a capinação, plantando sementes locais
deixadas da colheita anterior. Nas províncias centrais do Huambo, Bié, a zona costeira de Benguela

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e no Sul, na província da Huíla, muitos agricultores usam a força animal. O cultivo alternado é a
prática agrícola habitual, com o milho, feijão, amendoim e mandioca intercalando no mesmo
campo e o padrão mais usado é o sistema extensivo. As culturas hortícolas são plantadas
principalmente nas áreas baixas designadas nacas (províncias de Huambo, e Bié) ou ndombe
(província de Uíge).

Alguns agricultores usam tractores para a preparação da terra e para a sacha; usam fertilizantes e
variedades melhoradas de sementes. Estes enquadram-se num grupo que se pode considerar de
transição entre a agricultura tradicional marcadamente de subsistência e a agricultura empresarial
virada para o comércio.

A cultura de sequeiro e a rotação de culturas são práticas comuns da agricultura familiar tradicional
angolana. No entanto, devido à fraca fertilidade da terra e às práticas utilizadas, a colheita por
hectare é reduzida.

O sector empresarial engloba todos os restantes produtores e os proprietários rurais, definindo-se por
praticar uma agricultura ou pecuária dita de mercado, visando essencialmente a obtenção de
lucros. Recorre à utilização de equipamento mecânico e ao recrutamento de pessoal assalariado,
cultiva extensas parcelas de terra e usa sementes de alta qualidade ou raças de alto rendimento.

As explorações comerciais produzem sobretudo óleo de palma, girassol, vegetais, frutos e café. No
entanto, o processamento e a transformação de frutos e vegetais são efectuados actualmente por
unidades semi-industriais ou mesmo artesanais que utilizam métodos inadequados de colheita e
armazenamento, pelo que a qualidade é insuficiente para exportação (REGA, 2006).

2.3.3 Produção animal

Segundo o REGA (2006), a área de produção animal em Angola, à semelhança da agricultura, e de


acordo com o nível de consumos, é constituída por dois sectores: o tradicional e o empresarial:

▪ O sector tradicional de criação de gado é essencialmente familiar e tem como


característica básica a utilização do leite e produtos lácteos na dieta das
populações. A quase totalidade dos efectivos pecuários pertence a este sector, cuja
produção se destina essencialmente ao auto-consumo, lançando no mercado
apenas os excedentes. Os criadores/pastores utilizam a transumância do seu gado,
sobretudo nas zonas áridas e semiáridas, com vista à obtenção de melhores pastos e

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como forma de combater certas doenças e, inclusive, os roubos dos animais,


situação com que têm de se confrontar constantemente.

▪ O sector empresarial compõe-se de explorações registadas (fazendas) as quais se


dedicam predominantemente à criação extensiva e semi-intensiva de bovinos,
intensiva de suínos e aves com fins essencialmente comerciais. Estão distribuídas por
todo o país com maior intensidade na periferia dos maiores centros urbanos, grande
parte das vezes num sistema de produção integrado agro-pecuário.

A criação de gado é uma actividade que se encontra maioritariamente disseminada no Sul do país,
onde se verificam menores quantitativos pluviométricos e a densidade populacional é mais
reduzida.

O REGA (2006) refere que a produção animal desempenha um papel de grande relevo na vida
sócio-económica do país, não apenas pela percentagem populacional que se dedica a esta
actividade, mas principalmente pelos recursos de que dispõe. A pecuária tem expressão em três das
seis grandes regiões agro-pecuárias de Angola dos anos 1970

De acordo com a supracitada fonte estimava-se, no fim do tempo colonial, a existência de gado
em Angola em 2 200 000 de bovinos, 320 000 suínos, 200 000 arietinos e 800 000 caprinos,
representando a província de Huíla só por si perto de 70% do total de cabeças de gado bovino.

A pecuária foi uma das actividades económicas que sofreu bastante com a guerra. O número de
animais baixou acentuadamente. O efectivo bovino baixou para 1 200 000 em 1989 e os pequenos
ruminantes 477 000 para 379 000, no mesmo período de tempo.

A zona de maior desenvolvimento pecuário tem conhecido fenómenos cíclicos de seca que têm
afectado o modus vivendi das populações pastoris. A zona da mosca de sono tem pouco
desenvolvimento pecuário, apesar das tentativas de recuperação e introdução de raças já
experimentadas no início da independência (REGA, 2006).

A pProvíncia da Huíla continua na liderança da produção do efectivo pecuário nacional, com um


valor de mais de metade do total do país, aproximadamente com 1 300 000 de cabeças de gado
bovino em 1991 e 1 188 000 em 2002.

Outras espécies, de somenos importância, mas que também importa realçar, são os animais
domésticos, criados nas proximidades das habitações, nomeadamente os suínos, os coelhos e as

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aves de capoeira, que, em termos de economia familiar, representam um papel fundamental para
a sua alimentação.

2.3.4 Tipos de pastos

Quanto ao tipo de pastagem natural e de acordo com a cobertura herbácea, respectiva


composição florística, valor forrageiro e grau de palatabilidade, o território angolano pode ser
dividido em três zonas decorrentes com a estreita correlação com a distribuição das grandes zonas
climáticas: a zona dos pastos doces, a zona dos pastos mistos e a zona dos pastos acres.

Pastos doces (costa e Sul)

Zona correspondente à faixa de clima árido e semi-árido, onde os animais têm alimentação durante
todo o ano, porque a palatabilidade dos pastos e seu valor alimentício se mantêm durante o
período seco (Cacimbo). Correspondem a regiões de baixa altitude, quentes e de pluviosidade
inferior a 750 mm. A cobertura herbácea é rara e de porte baixo com predomínio de gramíneas,
sobretudo espécies de Aristida na orla litoral mais seca e capins do género Eragrostis, Chloris,
Urochola e Schmidtia mais para o interior. Em pastos doces as queimadas são nitidamente
prejudiciais.

Pastos mistos (intermediário)

Zona correspondente à faixa territorial de climas secos, dos tipos semiárido e sub-húmido seco, com
uma estação pluviométrica bem definida, porém de quantidades escassas de precipitação e
irregular distribuição de chuvas. Durante o período de cacimbo existe certa percentagem de
plantas de que os animais se alimentam, mantendo o seu peso em condições normais.

A cobertura herbácea é mais densa e de porte mais elevado do que nos pastos doces, salientando-
se a composição florística variada e o seu elevado valor forrageiro, com predomínio das espécies
de Panicum, Andropogon, Heteropogon, Digitaria, Tristachia, Themeda, Hyparrhenia, Chloris e
Setaria.

Sendo considerada como zona dos pastos mistos, designação apropriada que reflecte uma
transição gradual entre os outros tipos de pastos, no aspecto pecuário os recursos do coberto
herbáceo natural são mais elevados nesta zona do que na zona dos pastos doces e daí
proporcionar um encabeçamento bovino superior, para além de subsistirem ao longo do ano boas

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condições de palatabilidade e valor forrageiro. Nesta zona, as queimadas controladas são uma
prática aceitável e justificada para a gestão dos pastos.

Pastos acres (planalto)

Ocupando a maior extensão territorial, esta zona está em correspondência com os climas húmidos
da estação chuvosa e quente, alternando com outra seca e fresca. Zonas onde em condições
normais os pastos perdem a palatibilidade durante o período do cacimbo e tornam-se lenhosos, de
Maio até a nova rebentação (Outubro-Novembro), caindo os animais de peso durante esse
período.

Mesmo com queimadas e com apascentação intensa, a falta de alimentação para o gado é
flagrante (embora existam muitas gramíneas na terra). Encontram-se na zona planáltica, com mais
de 1 000 m de altitude e com mais de 1 100 mm de chuva. A capacidade de apascentação é
enorme durante o período chuvoso, sendo a época do cacimbo a que limita o número de cabeças
de gado a manter nos pastos.

As queimadas são aqui um mal necessário. Não há possibilidades de fenação, já que a humidade é
alta. Sem o fogo forma-se uma manta morta de vegetação que conduz à redução da vegetação
graminosa e ao aumento da vegetação arbustiva (invasão arbustiva, ver em baixo), precursora da
floresta.

Perante a necessidade de se articular a actividade agrícola com as demais actividades presentes


no território nacional, seguidamente elencam-se alguns dos constrangimentos que a actividade
suscita, sendo que a concretização de medidas adequadas pode contribuir para a redução dos
impactes resultantes.

As maiores pressões provocadas pela actividade agrícola e pecuária com repercussões no


ordenamento rural são:

▪ A sobreexploração agrícola e pecuária em determinados locais (forte pressão


populacional consequência de assentamentos humanos espontâneos) que conduz
à erosão;

▪ Desflorestação e queimadas: novas áreas de floresta são desbastadas anualmente


para a produção agrícola de subsistência, sem meios e técnicas adequadas, que
rapidamente leva ao abandono das mesmas que são posteriormente invadidas por
espécies exógenas; é de referir que alguns programas de reconstrução e

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reassentamento impulsionam assentamentos em áreas de mata ou floresta, sem


sustentabilidade ambiental;

▪ A sobre exploração dos solos com a prática da monocultura intensiva;

▪ A degradação dos pastos por queimadas e o pisoteio intensivo, ou por outro lado a
invasão arbustiva por apascentação excessiva e selectiva (eliminação dos
competidores) ou falta gestão cuidada de pousios e queimadas de regeneração
(ciclo vegetativo natural para o clímax arbóreo).

2.4 CARACTERIZAÇÃO GERAL E DIAGNÓSTICO DOS RECURSOS FLORESTAIS

Segundo oREGA (2006), o território nacional apresenta um património florestal quase único na
região, em termos quantitativos e qualitativos que, a serem explorados de forma sustentável, podem
constituir uma base para o desenvolvimento económico, social e ambiental do país.

As terras florestais ocupam 43,3% da superfície total do país, sendo 2% correspondentes à floresta
densa húmida. Além disso, Angola possui plantações florestais de espécies exóticas, tais como
Eucaliptus e Pinus s.p., numa área total de cerca de 148 000 ha com um volume comercial em pé
de aproximadamente 17 450 000 m3, à média de 130 m3/hectare, o que permite teoricamente um
corte anual de 850 000 m3 .

O Planalto Central é o seu núcleo principal, compreendendo as partes convergentes das províncias
de Benguela, Huambo, Bié e Huíla.

Parte considerável da cobertura florestal do país é constituída fundamentalmente por savanas


abertas com predominância de gramíneas. Esta formação vegetal desempenha uma função social
bastante importante para as comunidades rurais no que respeita ao abastecimento em energia
doméstica, material de construção, alimentos, tratamento, pasto, apicultura e outras manifestações
culturais.

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Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hidricos, mar e zonas costeiras, conservação e
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Figura 4: Tipos de Vegetação

Fonte: Própria

Em consequência da paralisação da indústria de celulose durante a guerra, as plantações de


exóticas deixaram de ser exploradas, registando-se, em alguns casos, operações de desbaste e
queimadas praticadas pelas populações circunvizinhas e agentes furtivos.

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O sector florestal angolano é actualmente afectado por problemas de ordem institucional, de entre
os quais se destacam a escassez de quadros qualificados, a ausência de fiscalização e infra-
estruturas condignas, e outros ligados ao desenvolvimento dos recursos, como a falta de planos de
gestão e a fraca produção florestal.

Com a opção do país pela economia do mercado, a actividade de exploração florestal (entendida
como extracção, semi-transformação da madeira em toros, produção e comercialização de lenha
e carvão) que vinha sendo assegurada por unidades económicas estatais, criadas para o efeito,
passou a ser desenvolvida por empresários e concessionários privados nas regiões tradicionalmente
produtoras, com maior incidência para as províncias de Cabinda, Kwanza Norte, Kwanza Sul, Bengo
e Kuando Kubango.

Os concessionários são licenciados pelo Instituto de Desenvolvimento Florestal (IDF) mediante


solicitação do interessado e pagamento da taxa de exploração florestal correspondente, em
conformidade com a legislação vigente.

O sector florestal privado não obstante proporcionar empregos para um considerável número de
pessoas que se dedica à exploração e comercialização de madeira, lenha e carvão evidencia
fortes debilidades técnicas e financeiras. Existem limitações no acesso ao crédito e financiamento
por parte das instituições financeiras nacionais.

De destacar as províncias de Cabinda, Zaire, Uíge, Kwanza Norte, Bengo, Moxico, Malange, Kuando
Kubango e Lundas Norte e Sul, tradicionalmente produtoras e com potencial para a auto-suficiência
e excedente de produção. Porém, na situação actual somente a província de Cabinda apresenta
algum excedente face à demanda local (REGA, 2006).

Os constrangimentos inerentes à actividade florestal considerando as restantes actividades


coexistentes no território nacional, compreendem os seguintes aspectos 1

▪ Ausência de gestão na exploração florestal;

▪ Excessivo consumo de lenha e carvão vegetal nas áreas urbanas;

▪ Queimadas;

1 Adaptado de “Angola Gestão dos Recurso Naturais para o Desenvolvimento”, Ministério da Agricultura e Do desenvolvimento
Rural, versão preliminar para comentários, Março 2004

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▪ Reduzido reflorestamento;

A Lei Florestal e o Regulamento vigentes, foram elaborados e vigoram desde o período colonial
(“Decreto n.º 44 531 de 21 de Junho de 1962”). Este Regulamento estabelece as normas para o
aproveitamento, exploração florestal e da fauna selvagem, sem ter em conta os princípios de uma
gestão florestal sustentável, e de participação local na gestão dos recursos.

O aproveitamento do potencial madeireiro dos recursos florestais, estimado em 326 000 m3/ano da
floresta natural deve respeitar o princípio da sustentabilidade. Os actuais índices de produção estão
muito abaixo do potencial de produção e não são capazes de satisfazer o mercado nacional,
fazendo com que sobretudo a indústria de construção civil seja obrigada a importar madeira para
as suas actividades.

As áreas sob exploração florestal não têm um plano de gestão, já que o acesso ao recurso é feito
através da emissão de licenças anuais, o que permite que a exploração seja selectiva. Ou seja, o
requerente abate as espécies que mais lhe interessa fazendo com que haja maior incidência sobre
determinadas espécies em detrimento de outras, ou causando pouca valorização de um grande
número de espécies madeiráveis que abundam nas florestas mas que actualmente estão fora do
mercado.

Um total aproximado de 90% da população angolana utiliza lenha e carvão vegetal como fonte de
energia doméstica. A exploração e comercialização do carvão e da lenha é feita inteiramente por
agentes privados. O processo de produção e extracção é executado pelo método tradicional,
envolvendo um número considerável de mulheres, que estão presentes em toda a cadeia de
valores (desde o produtor até o consumidor final). Por exemplo, Luanda e seus arredores constituem
grandes centros de comercialização do carvão e da lenha provenientes das províncias do Bengo,
Kuanza Norte e Kuanza Sul. A produção da lenha e de carvão é estimulada pela existência de um
grande mercado favorável onde estes produtos são comercializados durante todo o ano,
particularente importante durante a época das chuvas quando os preços sofrem um aumento
considerável (REGA, 2006).

A percentagem de produtores que operam sob licença é muito baixa, e praticamente nenhum
deles explora as florestas sob um plano de gestão. Em Angola o carvão é produzido utilizando o
método artesanal o que influencia bastante nos rendimentos e na qualidade do produto. Estima-se
que utilizando o método artesanal o rendimento varia entre 10 a 15% equivalente a 50 a 75 Kgs de
carvão/estere, enquanto que o método industrial o rendimento é de 30 a 33% equivalente a 150 -

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165 Kg de carvão/estere. Daí a importância da introdução e utilização de outras técnicas de


produção de energia a partir da biomassa (REGA, 2006).

O impacto ambiental causado pelo consumo de lenha e carvão vegetal é um problema sobretudo
urbano, porque concentra uma grande procura deste produto e oferece um mercado atraente aos
produtores rurais de baixa renda. Estes por sua vez concentram a exploração de lenha e a
produção de carvão nas florestas das proximidades dos centros urbanos, provocando “anéis” de
desmatamento nas imediações das aglomerações urbanas.

A população rural consome quase que exclusivamente lenha como fonte de energia doméstica,
mas isso acontece de forma extensiva e dispersa por todo o país. A lenha da comunidade rural
constitui-se sobretudo de ramos secos colhidos no piso das florestas, o que não provoca
desmatamento e resulta em baixo impacto ambiental.

A gestão das florestas pelas próprias comunidades envolvidas na produção de lenha e carvão para
o abastecimento de mercados urbanos, aliado ao reflorestamento, são opções para atenuar este
problema, sempre e quando estas medidas sejam combinadas com a gradual substituição do
combustível doméstico para uso urbano por outras fontes de energia (gás, petróleo, electricidade,
ou carvão mineral).

A questão das queimadas já se coloca há muito tempo, pois trata-se de uma questão cultural, mas
com o aumento e o regresso da população rural às suas áreas de origem tem-se agravado
bastante.

As queimadas ocasionam danos à floresta nativa, tanto por destruição directa como pelas
interferências negativas no processo de regeneração natural. A agricultura é efectuada com meios
muito rudimentares, o que origina fraca produção e a necessidade de mais terra. O carvão é obtido
por métodos muito pouco eficientes e os fogões domésticos são igualmente grandes consumidores
de lenha. Estas práticas afectam grandes extensões das formações vegetais naturais. Tendo em
conta a pouca produtividade dos solos as populações necessitam cada vez mais de áreas de
cultivo como forma de aumentar a quantidade produzida. Ou seja, há um ciclo de uso da terra e
da floresta que é cada vez mais curto e causa cada vez mais impactos negativos no aAmbiente.

São muito escassas medidas para implementação de reflorestação, há que incluir, no âmbito da
extensão rural, o fomento à gestão por parte das comunidades locais das florestas autóctones.
Usadas de forma racional, estas florestas podem suprir as necessidades de madeira e outros
produtos florestais de todo o país, enquanto as plantações florestais vão sendo estabelecidas.

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O país já deteve cerca de 148 000 ha de plantações florestais exóticas maioritariamente de


Eucaliptus saligna, secundada de Cupressus lusitanica e Pinus patula. Como resultado do conflito
armado, estas plantações foram abandonadas e degradadas, verificando-se o abate
indiscriminado causado pelo movimento migratório das populações.

O actual estado das plantações independentemente da falta de tratamentos e procedimentos


silvícolas na sua maioria encontram-se num sério processo de degradação existindo mesmo diversas
parcelas onde a acção das populações e do fogo se fez (e se faz) sentir com grande intensidade. O
repovoamento destas plantações florestais é quase inexistente.

2.5 PROGRAMAS E ESTRATÉGIAS

Seguidamente apresentam-se os documento estratégicos e programáticos que visam um


enquadramento territorial dos espaços agrícolas e dos espaços florestais e em especial do
ordenamento do solo rural, referindo-se, no entanto, que existe ainda um vasto trabalho a
desenvolver neste âmbito. São eles:

▪ Estratégia de Desenvolvimento a Longo Prazo para Angola – Angola 2025

▪ Estratégia de Combate à Pobreza

▪ Estratégia e Plano de Acção Nacionais para a Biodiversidade, 2007-2012

▪ Plano Nacional Director de Irrigação de Angola.

2.5.1 Estratégia de Desenvolvimento a Longo Prazo para Angola – Angola 2025

Neste documento são visíveis uma série de directrizes com repercussões no ordenamento do solo
rural nomeadamente no sector agrícola e florestal. O Mega Sistema Território é desenvolvido através
de duas estratégias: “A Estratégia Geral para o Mega Sistema Território” e a “Estratégia de
Desenvolvimento Territorial”.

Na Estratégia Geral um dos motores principais é considerado a “Ocupação dos Espaços Rurais”:

(…) Ocupação dos espaços rurais, com reforço das comunidades tradicionais e endogeneização
do seu processo de desenvolvimento e preservação dos valores culturais. Exploração selectiva dos
recursos naturais na perspectiva do mercado externo, nomeadamente assente em três eixos
possíveis: forte sector turístico, valorizando a paisagem e a natureza (parques naturais), a cultura e a

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Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hidricos, mar e zonas costeiras, conservação e
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aventura (safaris, caça); exploração das áreas propícias a culturas agrícolas exportáveis; extracção
de recursos mineiros.(…)

Em relação a este motor, as acções e movimentos estão dependentes dos utilizadores do território,
a população rural, agricultores e camponeses, empresários agrícolas, dos que podem estimular a
“ocupação” através da procura de bens agrícolas (comerciantes e distribuidores, agentes do sector
informal...) e dos que formulam e aplicam a política de desenvolvimento rural (Governo Central,
Administração Pública e Poderes Provinciais e Locais).

Dos requisitos apresentados que são exigidos para a concretização das acções serão basicamente
os seguintes aplicados ao motor “Ocupação do Solo":

“a) Existência de uma estratégia consensual de organização do território (…);

d) Política de transportes definida e implementada;

e) Lei de Terras consensual na sua definição e aplicação;

f) Política de desenvolvimento definida e implementada;

g) Eixos fundamentais de desenvolvimento territorial definidos e em processo de


implementação;

h) Leis da Descentralização Administrativa definidas consensualmente e implementadas;

i) Leis da Descentralização Política definidas consensualmente e em processo de


implementação.”

No centro das preocupações de uma estratégia de desenvolvimento e ordenamento territorial


estão, em particular, os seguintes domínios no âmbito da estrutura rural que devem ser abordados
de forma integrada:

“Áreas de intervenção integrada: Os recursos naturais apresentam, frequentemente, indivisibilidades


e complementaridades que nenhum empresário, individualmente, pode valorizar. Só uma
intervenção integrada dos poderes públicos poderá coordenar a realização das condições que
permitam a exploração de recursos que só fazem sentido na lógica de “cadeia de valor”. O caso
dos perímetros hidro-agrícolas - onde é necessário integrar a construção das infraestruturas de rega,
as acções de extensão agrícola, as infraestruturas de conservação e as unidades de transformação

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Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hidricos, mar e zonas costeiras, conservação e
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e de comercialização – pode ser um exemplo, mas o mesmo é válido para a exploração de outros
recursos, como os mineiros. Neste domínio, em Angola, importa:

▪ reabilitar e explorar os diversos perímetros hidro-agrícolas subaproveitados ou


abandonados, no âmbito de uma gestão integrada das respectivas bacias
hidrográficas, − dar prioridade a novas áreas de intervenção em articulação com a
estruturação do povoamento de espaços fracamente povoados;

▪ submeter os potenciais projectos a uma avaliação rigorosa dos impactes


económicos a médio e longo prazo, na medida em que as potencialidades de
ontem, já o não serão provavelmente hoje e, certamente, não o serão no futuro.
Esta avaliação rigorosa é, antes de mais, necessária no domínio agrícola, na medida
em que os mercados internacionais não apresentam perspectivas particularmente
promissoras nalgumas culturas frequentemente referidas (café, açúcar, sisal e
outras).

Espaços ambientais a proteger: A gestão dos espaços de valia ambiental é uma componente
importante de qualquer estratégia de desenvolvimento e ordenamento territorial. Seja na
perspectiva da conservação, para transmitir às gerações futuras, seja na perspectiva de os valorizar
de forma equilibrada e sustentável (actividades turísticas, p.e.). Em Angola, a criação de uma rede
de espaços e corredores ambientais, apoiada nos parques e reservas nacionais, e a reabilitação de
espécies da fauna e da flora poderão ser um importante factor de dinamização de actividades
económicas, de projecção da imagem de Angola e de reforço de identidade das populações.”

Por fim é de salientar dois aspectos condicionadores do desenvolvimento do futuro do território


angolano no que se refere ao solo rural:

▪ A insularização dos territórios: grandes distâncias e falta de vias de comunicação e


de telecomunicações tornam grande parte do espaço de Angola em áreas remotas
e isoladas e à margem das dinâmicas de desenvolvimento nacional e mundial;

▪ Vastos espaços vazios: o espaço angolano está pouco ocupado e em grandes


extensões não existe qualquer presença e actividade humana.

Resumidamente, a Estratégia de Desenvolvimento reclama para os espaços agrícolas e para os


espaços naturais uma importância elevada no contexto do vasto território angolano, em especial
na antevisão das consequências ambientais e da sua correcta contextualização económica.

27
Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hidricos, mar e zonas costeiras, conservação e
biodiversidade

2.5.2 Estratégia de Combate à Pobreza

A Estratégia de Combate à Pobreza (ECP), datada de 2005, estabelece um conjunto de Áreas de


Intervenção Prioritária nomeadamente, a “Segurança Alimentar e Desenvolvimento Rural”, que visa
as questões rurais em especial as agrícolas.

No desenvolvimento do Diagnóstico desta Área de Intervenção são detectados os seguintes


constrangimentos à expansão do sector rural:

▪ A limitada experiência e qualificação da mão-de-obra;

▪ O uso extensivo e degradação dos recursos naturais, com efeitos indesejáveis sobre
o ambiente;

▪ A reduzida oferta de e uso de insumos modernos (sementes, fertilizantes, instrumentos


de trabalho e máquinas);

▪ A dificuldade de acesso ao crédito dos pequenos camponeses;

▪ As fracas condições da infra-estrutura viária rural que entravam a movimentação


dos insumos e da produção;

▪ A ausência de infra-estruturas de processamento da produção;

▪ O desajustamento do sistema legal e regulamentar às condições actuais;

▪ Limitadas infraestuturas sociais de apoio à população rural.

Para a referida Área de Intervenção o objectivo do Governo é a satisfação das necessidades


internas e o relançamento da economia rural, vitais para o desenvolvimento sustentável de Angola.
Para atingir esse objectivo, a ECP estabelece as seguintes linhas de actuação:

▪ o reforço da capacidade de produção dos sector tradicional, particularmente de


culturas alimentares e da pesca continental/artesanal;

▪ a reactivação dos sistemas de mercado interno – comércio rural;

▪ o desenvolvimento sustentável dos recursos naturais;

▪ uma reforma institucional.

Para cada uma destas linhas de actuação são apresentadas um conjunto de acções com
consequências muito práticas no mundo rural, como por exemplo, a inventariação das terras
disponíveis para distribuição aos grupos vulneráveis, a promoção do desenvolvimento do

28
Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hidricos, mar e zonas costeiras, conservação e
biodiversidade

processamento e comercialização da mandioca, repovoamento florestal, entre outras. No entanto,


e com especial relevo para o ordenamento do solo rural, salienta-se a seguinte: “A
revisão/elaboração de legislação e regulamentação, com prioridade para os aspectos relativos à
terra, florestas, sanidade pecuárias, sanidade vegetal, sementes, desenvolvimento agrário,
pesticidas, cooperativas, pesca continental e caça”.

2.5.3 Estratégia e Plano de Acção Nacionais para a Biodiversidade

A Estratégia e o Plano de Acção partilham oito Áreas Estratégicas que foram definidas através de
um processo de consulta pública. Estas áreas incluem diversas vertentes estratégicas, mas a
temática em estudo enquadra-se na Área Estratégica D: Uso Sustentável das Componentes da
Biodiversidade. Esta Área Estratégia visa incluir as componentes importantes da biodiversidade em
Angola que se encontram fora das áreas de protecção ambiental e que estão mais expostas aos
impactos ambientais decorrentes das actividades económicas. Desta forma, e para garantir um uso
sustentável dessas componentes, as actividades económicas tais como agricultura, pecuária,
exploração florestal, pesca, exploração mineira, construção civil e indústria deverão incorporar
medidas para a conservação da biodiversidade e planos de gestão ambiental. A implementação
de projectos de conservação ex situ e a melhoria da fiscalização fora das áreas de protecção
ambiental são igualmente necessárias.

Para cada Área Estratégica são formulados objectivos específicos para atingir o Objectivo Global.

Os Objectivos específicos relacionados com a Área Estratégica D na temática em estudo são os


seguintes:

▪ “OBJECTIVO D.1 - Implementar mecanismos para minimizar os impactos negativos


sobre a biodiversidade resultantes das actividades agrícolas;

▪ OBJECTIVO D.2 - Implementar medidas para a gestão sustentável dos recursos


florestais.”

O Plano de Acção apresenta uma lista detalhada das acções para implementação e para atingir
os objectivos específicos, designadamente:

▪ “D.1.1 Preparar planos integrados de uso da terra e exploração de recursos


biológicos que incorporem aspectos ecológicos, económicos e sociais de modo a
conservar a biodiversidade em Angola.

29
Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hidricos, mar e zonas costeiras, conservação e
biodiversidade

▪ D.1.2 Criar mecanismos e incentivos para a adopção de sistemas de agricultura


sustentável, incluindo práticas que permitam enriquecer a matéria orgânica do solo,
rotação de culturas e pousio melhorado. Avaliar e monitorar a eficiência destes
métodos através de projectos piloto.

▪ D.1.3 Criar mecanismos e incentivos para desencorajar o uso de sistemas agrícolas e


de criação de gado na margem dos rios nocivas ao ambiente e a saúde pública e
testar estes mecanismos através de projectos piloto.

▪ D.1.4 Implementar projectos pilotos para reduzir o pastoreio excessivo de gado em


áreas seleccionadas incluindo medidas como a criação de mais pontos de
abeberamento; maneio melhorado das pastagens e a melhoria do sistema de
comercialização de gado;

▪ D.1.5 Rever e implementar regulamentos sobre o uso de pesticidas, herbicidas e


desfolhantes no sector agrícola.

▪ D.2.1 Implementar projectos piloto para minimizar a pressão sobre as florestas,


substituindo a lenha e o carvão por fontes alternativas de energia (petróleo, gás
butano, biogás, electricidade convencional e energia solar e hídrica) bem como o
uso de técnicas melhoradas de fogareiros e de produção de carvão.

▪ D.2.2 Implementar projectos-piloto para a criação de perímetros florestais


comunitários para responder às necessidades das populações em lenha e carvão.

▪ D.2.3 Criar viveiros municipais para facilitar o repovoamento florestal e plantação de


florestas comunitárias como forma de combater a desmatação.

▪ D.2.4 Criar polígonos florestais e revitalizar as existentes à volta e dentro dos centros
urbanos.”

A Estratégia e Plano de Acção Nacionais para a Biodiversidade, ainda que incida particularmente
nas questões ambientais, apresenta um conjunto de objectivos e de acções a ter em consideração
na prática agrícola e silvícola que visam o seu uso sustentável, tal como é apresentado nos
supramencionados objectivos específicos.

2.5.4 Plano Nacional Director de Irrigação de Angola

Os objectivos gerais do Plano Nacional Director de Irrigação (PLANIRRIGA) assentam sobretudo nos
seguintes aspectos:

30
Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hidricos, mar e zonas costeiras, conservação e
biodiversidade

▪ Na contribuição para o desenvolvimento económico e social, mediante a


sustentabilidade da actividade agrícola de irrigação;

▪ Na constituição de um plano de apoio ao desenvolvimento regional e nacional


possibilitando o desenvolvimento da agricultura no país, com particular relevância
para as regiões que se encontram em situações mais desfavoráveis sob o ponto de
vista económico;

▪ No fornecimento de um instrumento de acção e gestão, que indique as grandes


linhas de acção, devidamente fundadas sob o ponto de vista técnico, económico e
ambiental, a adoptar no contexto do desenvolvimento sustentado da agricultura
irrigada em cada uma das regiões hidrográficas delimitadas no território de Angola.

No PLANIRRIGA apresentam-se medidas e acções a desenvolver no âmbito do sector da hidráulica


agrícola em todo o território angolano, apoiado em estudos de base relativos à caracterização dos
diferentes recursos e avaliação das suas potencialidades direccionando para irrigação as áreas
com interesse agrícola identificadas no território angolano, integrando as necessárias actividades de
análise, ordenamento e zonagem bem como a identificação, acompanhada da quantificação
possível, dos impactes previsivelmente gerados e resultados obtidos.

Neste contexto o território de Angola foi dividido em 11 regiões hidrográficas, constituindo cada uma
unidade de análise geográfica e espacial. Ao nível de cada unidade, os objectos de investigação
são: 1) antigos colonatos, também designados actualmente por Núcleos de Povoamento Agrário, 2)
aproveitamentos hidráulicos existentes e 3) área irrigada difusa.

Posteriormente, e em função dos resultados obtidos dos estudos efectuados para cada RH, efectua-
se o respectivo ordenamento e zonagem agrícola das áreas cujo potencial de desenvolvimento da
irrigação é confirmado, consubstanciado na selecção das culturas que poderão constituir “fileiras
de produção”, na definição de modelos de exploração agrícola e utilização da terra, tendo em
conta o tipo de agricultura a promover, “familiar” e/ou “empresarial”, sendo que neste Plano é
dado especial enfoque à agricultura empresarial.

No PLANIRRIGA, com o natural objectivo de descobrir o potencial de irrigação, a classificação das


terras para o regadio teve como base as seguintes variáveis:

31
Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hidricos, mar e zonas costeiras, conservação e
biodiversidade

▪ Quantidade e distribuição da temperatura e precipitação ao longo do ano, de que


depende, sobretudo, a adaptabilidade climática das culturas, a disponibilidade de
água no solo e a disponibilidade de água para rega;

▪ A existência ou não de condicionamentos ou restrição de uso agrícola das terras (ex.


parques nacionais, usos não agrícolas, etc.);

▪ Características geomorfológicas determinantes na viabilidade de adaptação das


terras ao regadio;

▪ Natureza e qualidades das características dos solos, que influenciam praticamente


todas as qualidades da terra e condicionam a adaptabilidade edáfica das culturas.

Foram identificados 7 427 073 ha com um potencial elevado para o regadio ao nível do País, dos
quais 79,5% (5 900 802 ha) são das classes de aptidão I (elevada) e II (moderada). As bacias
hidrográficas com maior aptidão para o regadio são a do Cunene com 2 957 381 ha e a do Kwanza
com 1 431 866 ha.

Quadro 1: Classes e ordens de aptidão para o regadio ao nível da Região Hidrográfica e do


País2

Fonte: sir.dgadr.pt/conteudos/jornadas_aph/s1/18.pdf

2 classe I- elevada, classe V – muito reduzida

32
Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hidricos, mar e zonas costeiras, conservação e
biodiversidade

Em resumo, este Plano é de valiosa importância para compreender quais as regiões de Angola com
aptidão para o regadio e para estabelecer em termos de ordenamento do solo rural o zonamento e
a regulamentação adequada para este tipo de espaço.

2.6 POTENCIALIDADES E CONSTRANGIMENTOS DO SECTOR

Com base no enquadramento legal, nos programas e estratégias para o solo rural é possível
estabelecer um conjunto de oportunidades e fragilidades inerentes ao ordenamento dos espaços
agrícolas e florestais. Uma das principais fontes para esta análise é a “Estratégia de Desenvolvimento
a Longo Prazo para Angola – Angola 2025”.

Atendendo a que a informação sobre o território agrícola-florestal angolano na actualidade é


escassa, assim como o número de instrumentos de ordenamento do território optou-se por
apresentar um conjunto das fragilidades e potencialidades para o Território Agrícola e Florestal
propriamente dito, atendendo à caracterização que foi feita para estes sectores, para depois se
expor as mesmas para o Ordenamento do Território.

Potencialidades

▪ Vastidão de território com potencialidades para a agricultura, pecuária e floresta;

▪ Grande reserva de recursos hídricos o que proporciona idêntica aptidão para o


regadio;

▪ Diversidade de solos e condições climáticas para a agricultura e pecuária;

▪ Presença de valores culturais e relações étnicas que aumentam a resistência e


entravam a desagregação das comunidades locais rurais;

▪ Rápido crescimento do produto agro-pecuário para resposta às necessidades do


mercado interno;

▪ Extensões muito significativas de florestas;

▪ Áreas elevadas de solos com capacidade de se tornarem férteis com escassos inputs
para o sistema edáfico;

▪ Belezas paisagísticas e outros recursos turísticos;

33
Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hidricos, mar e zonas costeiras, conservação e
biodiversidade

Constrangimentos

▪ Reduzida densidade populacional, grandes espaços vazios e povoamento muito


disperso nalgumas províncias;

▪ Pobreza generalizada em meio urbano e rural;

▪ Sistema produtivo desestruturado e aparelho industrial destruído ou obsoleto;

▪ Populações rurais que carecem de meios adequados de produção;

▪ Insegurança de alguns espaços rurais enquanto não forem retiradas as minas;

▪ Dificuldades de, face à longa ausência dos mercados internacionais, colocar


produções agro-pecuárias no mercado exterior, com consequências negativas para
as províncias de maior especialização neste domínio;

▪ Queimadas para produção de combustível para uso doméstico;

▪ Desmatamentos para produção de lenha;

▪ Escassez de aproveitamento das potencialidades hidroagrícolas do país.

2.6.1 ORDENAMENTO TERRITORIAL DO SECTOR AGRÍCOLA E FLORESTAL

Perante os aspectos referenciados importa identificar o suporte nacional que favorece o correcto
ordenamento dos sectores:

▪ Conjunto de legislação já existente que salvaguarda as questões de ordenamento


do território agrícola e florestal nomeadamente:

 A Lei de Ordenamento do Território e do Urbanismo, Lei n.º 3/04 de 25 de Junho,


com a previsão de elaboração de um conjunto de instrumentos de
ordenamento do território com especial destaque para a elaboração de Planos
de Ordenamento Rural;

 A Lei de Bases do Desenvolvimento Agrário, Lei n.º 15/05 de 7 de Dezembro, que


prevê a delimitação da Reserva Agrícola Nacional entre outros aspectos
importantes para o sector agrícola;

 Conjunto de estratégias nacionais que abordam a temática agrícola-florestal e


prevêem medidas concretos de intervenção no território;

 Planos de Desenvolvimento Provinciais com propostas estratégicas no âmbito da


agricultura e da florestas

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Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hidricos, mar e zonas costeiras, conservação e
biodiversidade

Outros instrumentos de ordenamento previstos do Sistema Nacional de Planeamento, favorecem as


boas pratica dos sectores, encontrando-se prevista a sua elaboração, num curto e médio prazo,
alertando-se para a necessidade de integrarem nas suas estratégias os sectores mencionados:

 Plano Nacional de Ordenamento do Território

 Planos Provinciais de Ordenamento do Território

 Planos Directores Municipais

▪ Planos de Ordenamento Rural;

2.7 MEDIDAS E METAS DE IMPLEMENTAÇÃO DE ÂMBITO NACIONAL E PROVINCIAL

Apresentam-se Medidas e Metas de Implementação que podem contribuir para o alcance dos
objectivos de um território angolano mais sustentável, não se esgotando nesta analise, mas
indicando um caminho. As medidas de implementação são divididas em âmbito nacional e
provincial sempre que se justifique nesta temática.

Neste capítulo, uma das principais fontes é a “Estratégia de Desenvolvimento a Longo Prazo para
Angola – Angola 2025”. Para além deste importante documento foram consultados os Planos de
Desenvolvimento Provincial elaborados e disponibilizados para as províncias de (Benguela, Huambo,
Huíla, Kuanza Norte, Kuanza Sul, Kunene, Malange e Namibe). Adicionalmente foram consultados os
documentos elaborados no âmbito das acções de Dinâmicas de Grupo efectuadas em cada
província, excepto nas províncias da Huíla e do Zaire.

A análise para o Território Agrícola e Florestal explana-se separadamente. As Metas são


categorizadas temporalmente em : Curto Prazo – até 3 anos; Médio Prazo – 3 a 5 anos; Longo Prazo
– 5 a 10 anos.

35
Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hidricos, mar e zonas costeiras, conservação e
biodiversidade

2.7.1 MEDIDAS PARA O ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO DOS ESPAÇOS AGRÍCOLAS E


FLORESTAIS

Medidas de âmbito Nacional

Curto prazo Médio prazo Longo prazo


• Delimitar a Reserva Agrícola Nacional; • Aproveitamento dos recursos • Apostar no turismo em espaços
• Regulamentar a actividade pecuária hídricos com fins agrícolas; agrícolas e florestais numa
• Integrar os sectores em causa nos • Aproveitamento dos recursos perspectiva de interligação com
Planos de Desenvolvimento Provinciais florestais; as comunidades rurais locais;
• Elaboração do Cadastro Agrícola e • Desminagem; • Apostar na educação
Florestal com objectivos de • Infraestruturar o espaço rural, ambiental;
acompanhamento e dinamização do visando aumentar os níveis de • Valorizar os espaços agrícolas e
sector coesão e a mobilidade de florestais de modo a reforçar a
• Agilizar o processo de compilação de pessoas e bens; ruralidade e potenciar o seu
informação e dados cuja fonte são valor ecológico, cultural,
entidades exteriores ao governo patrimonial e paisagístico.
nacional, nomeadamente através do
estabelecimento de
protocolos/parcerias de colaboração;
• Promover campanhas de
sensibilização junto dos proprietários
florestais para a necessidade da sua
limpeza e requalificação, incentivando
a instalação de uma percentagem de
área de espécies autóctones;
• Promover boas práticas em termos de
gestão florestal,
• Introdução de alternativas de
combustíveis que combatam a
desflorestação.

Medidas de âmbito Provincial

Curto prazo Médio prazo Longo prazo

• Medidas de impulsionadoras ao • Integrar a Província no conceito • Integrar as fazendas com maior


escoamento dos produtos de Região Metropolitana de importância histórico-cultural em
agrícolas; Luanda com: circuitos turísticos.
• Medidas de apoio aos criadores • Implementar Pólos urbanos-
de gado bovino, caprino e suíno, industriais de desconcentração:
de modo a proceder-se à Caxito, Catete, Ambriz;
comercialização da carne e • Constituir uma cintura de
outros derivados. actividades agrícolas e pecuárias
quer de abastecimento do
Bengo

mercado interno (hortofrutícolas)


quer para exportação (café,
algodão, girassol, soja, óleo de
palma);
• Conservar e desenvolver os
espaços privilegiados para turismo
de sol e praia, de natureza
(Parque Nacional da Quiçama,
Coutada de Ambriz, …) e
religiosos (N. Senhora da Muxima).

36
Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hidricos, mar e zonas costeiras, conservação e
biodiversidade

Curto prazo Médio prazo Longo prazo

• Promover a agricultura familiar • Apostar na especialização • Apostar no desenvolvimento de


camponesa e a produção de produtiva: um forte sector turístico.
bens alimentares; • Recuperar o potencial agro-
• Garantir à agricultura familiar pecuário e desenvolver as
Benguela

toda a cadeia produtiva, agroindústrias


estimulando a comercialização e
o turismo rural;

• Apostar na energia eólica; • Especialização produtiva: • Valorizar as potencialidades


• Promover a agricultura familiar • Actividades logísticas e turísticas, em associação com o
camponesa e a produção de comerciais; caminho de ferro.
bens alimentares; • Produções agrícolas
• Garantir à agricultura familiar industrializáveis;
toda a cadeia produtiva,
Bié

estimulando a comercialização e
o turismo rural.

• Explorar os nichos de agricultura • Criação de dois centros de • Explorar as potencialidades


mercantil competitiva; logística de produção agrícola turísticas da floresta existente na
• Medidas que impeçam a visando a manutenção dos pProvíncia.
construção de habitação em produtos agrícolas para futura
solos com aptidão agrícola; comercialização;
Cabinda

• Delimitar nas reservas fundiárias • Promoção de plantações


as áreas para o desenvolvimento comunitárias para evitar a
da actividade agrícola e desflorestação.
industrial;
• Aplicação dos Planos de
Ordenamento Rural: Mbundo,
Loango Pequeno.
No Domínio Agrícola: • Valorizar as potencialidades
• Aproveitamento dos recursos turísticas.
hídricos para criação de canais e
valas de irrigação;
• Desenvolver um programa agro-
silvo-pastoril;
• Fomento das produções de
cereais, feijão, soja, batata, grão
de bico, café, milho e ginguba;
Huambo

• Desenvolver um programa
protótipo de forragicultura e de
produção de sementes,
• Fomentar o repovoamento animal
e o seu melhoramento genético.
No Domínio Florestal:
• Dinamizar o reflorestamento dos
principais polígonos florestais;
• Aproveitamento de energia
através da biomassa florestal;
• Promoção de plantações
comunitárias.

37
Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hidricos, mar e zonas costeiras, conservação e
biodiversidade

Curto prazo Médio prazo Longo prazo

• Reabilitação e dinamização da • Especialização produtiva: • Desenvolver nichos turísticos e de


Estação Zootécnica de Humpata; • Assumir-se como Província actividades terciárias.
• Relançamento agrícola nas produtora de excedentes
antigas Missões Religiosas. agrícolas e pecuários, valorizando
os regadios e a agricultura
tradicional;
Huíla

• Desenvolver uma base industrial


de transformação de produtos
agro-pecuários e de
abastecimento dos mercados das
províncias do sul, em particular
equipamento e utensílios agrícolas
• Desenvolvimento rural e pecuário: • Desenvolver um nicho turístico de
• Desenvolvimento da agricultura qualidade, respeitador do
de sequeiro, nomeadamente de ambiente e dos valores culturais,
cereais; associados à presença de grupos
• Desenvolvimento das culturas de étnicos e à transumância
regadio, em particular a partir do verificada no território, assim
aproveitamento da rede como aos Valores Naturais
hidrográfica do rio Cuvelai, com presentes.
base em estudo a efectuar, e do
aproveitamento da margem
direita do rio Kuvango;
• Desenvolvimento do efectivo
Kunene

pecuário, com melhoria do estudo


sanitário dos efectivos −
Desenvolvimento de tecnologia e
utensílios agrícolas de baixo custo;
• Introdução de alternativas de
combustíveis que combatam a
desflorestação.
• Promover uma maior orientação
das produções para o mercado e
o surgimento de indústrias de
abate e de transformação de
carnes;
• Implementar um Pólo
especializado na fileira
agroindustrial no Xangongo
• Desenvolvimento rural:
Kwando-Kubango

• Garantia do acesso à água;


• Garantir a autossuficiência
alimentar;
• Desenvolvimento de tecnologias e
utensílios de baixo custo;
• Melhorar o estádio sanitário dos
efectivos pecuários.

38
Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hidricos, mar e zonas costeiras, conservação e
biodiversidade

Curto prazo Médio prazo Longo prazo

• Explorar as fortes potencialidades • Especialização produtiva: • Promoção de plantações


florestais com vista a • Desenvolver uma agricultura comunitárias com Eucalyptus
comercialização de madeira empresarial competitiva e grandis, E. saligna e E. duhni. cujo
exótica (Eucaliptus grandis e industrializada visando unidades objectivo principal é suprir as
Eucaliptus saligna e Pinus patula) - de transformação; necessidades locais em lenha e
(Planalto de Camabatela); • Organizar um forte sector agro- criar biomassa lenhosa para os
• No Planalto de Camabatela de industrial sobre o corredor aglomerados mais próximos -
modo a ser implementado o ferroviário de Malange e do (Planalto de Camabatela);
Programa de Desenvolvimento Dondo; • Demarcação de uma reserva
Agro-Pecuário devem ser • Afirmar-se como um grande florestal para produção e
tomadas as seguintes medidas centro produtor de energia industrialização de matéria-prima
específicas: eléctrica e favorecer a instalação florestal através de uma fábrica
• Criação de áreas de protecção de indústrias intensivas em de aglomerados e painéis de
rural para as comunidades, energia. fibras (hard board) – (Planalto de
reservando uma área de território • Reabilitação das fileiras do café, Camabatela);
que garanta o sustento de cada da banana e dos citrinos; • Implementar uma Estação de
Kwanza-Norte

agregado (cerca de10 ha por • Introdução de novas culturas (ou Experimentação Agro-pecuária.
agregado); reintrodução de culturas
• Fazer um levantamento de abandonadas, como girassol, soja,
pormenor da localização das ananás e outras fruteiras).
explorações e respectiva
ocupação do solo, com o
objectivo de criar um parcelário
rural na região;
• Implementar um gabinete de
mediação, para auxiliar na
resolução de eventuais conflitos
entre as empresas agrícolas e as
comunidades locais;
• Apostar na extensão rural e na
formação das comunidades
locais;
• Aplicar medidas minimizadoras
do impacte ambiental das
explorações agro-pecuárias e
silvícolas.
• Construção de centros de • Especialização produtiva: •
conservação dos produtos • Aposta forte no sector industrial
agrícolas para posterior (pólo industrial de Porto Amboim e
comercialização. polo agro-industrial da Cela);
• Desenvolver a fileira industrial do
Kwanza-Sul

milho e do gado bovino;


• Valorizar as potencialidades
turísticas: cachoeiras do Binga, as
furnas da Sassa, águas quentes da
Conda, as sete ilhas de Mussende,
lagoa do Chinga/Bumba, escarpa
do rio Cubal.
• Reabilitação das fileiras do café.
• Salvaguarda dos espaços • • Grande pólo turístico implicando
agrícolas e florestais existentes na qualidade dos espaços, dos
malha urbanizada. serviços e do ambiente sócio-
Luanda

• Preservação dos Espaços cultural;


Agrícolas existentes

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Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hidricos, mar e zonas costeiras, conservação e
biodiversidade

Curto prazo Médio prazo Longo prazo

• Aposta no desenvolvimento da • Desenvolvimento rural (agricultura •


exploração da extracção de e pecuária), envolvendo melhoria
óleo de Mupunga. dos utensílios e o desenvolvimento
Lunda Norte

do crédito e do comércio rurais;


• Recuperar as antigas explorações
agro-pecuárias;
• Promoção de plantações
comunitárias para evitar a
desflorestação.

• Estabelecer novos polígonos • Diversificar as actividades, • Estruturar a fixação das


florestais. envolvendo as empresas populações rurais para criar
diamantíferas em projectos de “mercado” para os serviços
apoio a micro-empresas e de sociais.
desenvolvimento da agro-
pecuária e com a aquisição “in
loco” dos serviços industriais às
Lunda Sul

minas;
• Desenvolvimento rural (agricultura
e pecuária), envolvendo melhoria
dos utensílios e o desenvolvimento
do crédito e do comércio rurais;
• Fomento de agricultura e
pecuária mercantis em espaços
específicos compatíveis com as
restrições mineiras;
• Aplicação das medidas previstas • Implementar Projectos de • Especialização produtiva:
para o Planalto de Camabatela Avicultura Familiar (Cacuso e • Recuperar a fileira de algodão e
para a província (Kuanza Norte. Calandula). indústrias alimentares (arroz e
• óleo);
Malange

• Desenvolver um nicho de
agricultura empresarial;
• Explorar nichos específicos de
actividades turísticas.
• Apostar na agricultura de
regadio com implementação de
aproveitamentos hidroagrícolas.
• Implementação do projecto • • Especialização produtiva
avicultura (Projecto Sacasange); • Apostar na agro-pecuária;
• Apostar na Apicultura. • Recuperar exploração florestal e
Moxico

as indústrias da madeira;
• Desenvolver o turismo;
• Promover o desenvolvimento
rural.

40
Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hidricos, mar e zonas costeiras, conservação e
biodiversidade

Curto prazo Médio prazo Longo prazo

• Evitar o sobre pastoreio, • Fomento do aumento da


nomeadamente em zonas de produção agrícola, através da
grande concentração de gado promoção de parcerias público
(junto a pontos de agua); privada em projectos como os
• Proceder a planos de gestão da implantação de pólos agro-
adequada dos pastos da região; industriais de fruteiras
• Especialização produtiva: mediterrânicas como a vinha e o
• Desenvolver uma forte industria olival.
piscatória e de transformação do • Desenvolver um programa de
Namibe

pescado (Tombwa); combate à desertificação.


• Desenvolver as culturas agrícolas • Explorar as enormes
de características mediterrânicas potencialidades turísticas.
e subtropicais;
• Valorizar a pecuária.
• Implementar um Pólo de
Desenvolvimento Industrial,
abrangendo indústrias como as
de processamento de produtos do
mar, rochas ornamentais e
produtos siderúrgicos.
• Aplicação das medidas previstas • Promover uma especialização
para o Planalto de Camabatela produtiva:
para a província do Uíge. • Passar de uma agricultura
camponesa de subsistência a
uma agricultura produzindo para
Uíge

o mercado;
• Recuperar a industrialização dos
produtos agrícolas;
• Reabilitar a produção do café;
• Dinamizar a exploração florestal.
• Diversificar a agricultura de
subsistência e promover nichos
de agricultura mercantil;
Zaire

• Promoção de plantações
comunitárias para evitar a
desflorestação.

2.7.2 SÍNTESE

Identificaram-se os Instrumentos de Planeamento Territorial mais relevantes para o correcto


ordenamento do território na área dos Recursos Florestais e Agrícolas. Seguidamente apresentam-se
as medidas estruturantes de âmbito nacional e provincial relacionadas com os instrumentos de
ordenamento do território propriamente ditos que deverão fundamentar o referido ordenamento
territorial.

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Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hidricos, mar e zonas costeiras, conservação e
biodiversidade

MEDIDAS DE IMPLEMENTAÇÃO ESTRUTURANTES PARA A DISCIPLINA DO ORDENAMENTO TERRITÓRIAL NA TEMÁTICA AGRÍCOLA E


FLORESTAL

Curto prazo Médio prazo Longo prazo

• Efectivar a publicação da Lei das • Inventário Florestal Nacional; • Elaboração do


Florestas, fauna selvagem e áreas de • Elaboração do emparcelamento rural; cadastro rural.
conservação terrestres; • Elaboração do Plano Nacional de
• Garantir que os serviços nacionais Ordenamento Florestal;
disponibilizam e mantém actualizada a • Elaboração do Regime do Exercício
NACIONAL

informação dos indicadores da Actividade Pecuária;


relacionados com a sua área de • Manter a iniciativa de promoção de
actuação; planos e/ou estudos rurais conducente
• Delimitação da Reserva Agrícola ao correcto ordenamento do território
Nacional (RAN); e de apoio a uma gestão rural eficaz;
• Formação e capacitação dos recursos
humanos;
• Aquisição de equipamentos e meios
técnicos.
• Elaboração dos Planos Directores • Criação de Programas de • Após a
Municipais referentes a cada município Desenvolvimento da Agricultura delimitação da
em todas as províncias; Familiar que ajudará agricultores RAN, aferição da
• Aplicação dos Planos de Directores familiares que mostrem interesse e delimitação da
Municipais cujo a elaboração está capacidade a tornarem-se Reserva Agrícola
concluída; empresários; Nacional à escala
• Elaboração de Planos Provinciais de • Projecto de Mapeamento e provincial
Ordenamento Florestal; Demarcação de Terras Comunitárias
PROVINCIAL

• Mapeamento dos espaços agrícolas e de modo a proceder à legalização de


dos espaços florestais; terras comunitárias e à prevenção de
• Elaboração de Planos de conflitos;
Desenvolvimento Rural; • Inventário Florestal Provincial.
• Implementação de Escolas de Campos
do Agricultor (ECA)3

3 as ECA visam a formação metodológico-participativa dos agricultores de forma pragmática em matérias de produção agrícola e a
criação de animais para aumentar o rendimento económico, bem como garantir a segurança alimentar. De igual modo, nas escolas
de campos, os agricultores recebem informação sobre alfabetização, violência doméstica, nutrição e micro-crédito.

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Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hidricos, mar e zonas costeiras, conservação e
biodiversidade

3. RECURSOS GEOLÓGICOS

O conhecimento dos locais de ocorrência dos recursos geológicos,que se encontram no solo, no


subsolo ou na plataforma continental, conduzem à definição de políticas sectoriais vocacionadas
para a dinamização e desenvolvimento económico baseado na valorizando os recursos geológicos.

A materialização destas políticas, passa pela espacialização das mesmas, sendo matéria do
Ordenamento Territorial definir estes solos para salvaguarda e exploração.

O conhecimento do enquadramento geológico do país é também fundamental para a selecção


de locais para implantação de grandes obras de engenharia, para a prospecção e preservação
das águas subterrâneas, agricultura, assim como para a na definição dos usos propostos, onde os
estudos geológicos imperam, como a localização de aterros sanitários, estações de tratamento de
águas residuais, cemitérios, armazenamento subterrâneo de petróleo e gás natural, entre outros.

Neste contexto, o capitulo que se segue visa enquadrar esta matéria nos Instrumentos de Gestão
Territorial, onde se aborda os conceitos, o enquadramento legal especifico, a estratégia do sector e
a caracterização sumário dos aspectos geomorfológicos, geológicos e minerais de Angola.

Procede-se ainda à caraterização da Indústria mineira, e a uma avaliação de potencialidades e


susceptibilidades associadas aos recursos geológicos, e apontam-se algumas medidas de
desenvolvimento.

Importa ainda referir que o conhecimento das potencialidades de uma região no que concerne aos
recursos minerais, tem um papel primordial nos projectos de instalação de indústrias baseadas na
exploração e aproveitamento das matérias-primas, com possibilidades de virem a constituir futuros
póolos de desenvolvimento regional.

Ao considerar a planificação e execução de regras de ordenamento do território, é importante


manter presente, que os recursos naturais têm uma particularidade específica, que resulta do facto
de serem condicionados pela própria natureza. Além disso, a exploração dos recursos minerais
implica normalmente períodos de ocupação dos terrenos que, regra geral, se estendem por mais de
20 anos, fazendo com que o planeamento desta actividade seja complexo devido a vários
interesses (das autoridades locais, dos investidores, das comunidades). Não obstante, verifica-se que
a exploração de recursos geológicos tem um grande impacte na criação de postos de trabalho, na
dinamização de forma directa e indirecta noutros sectores da economia regional ligados a diversas
áreas económicas.

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Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hidricos, mar e zonas costeiras, conservação e
biodiversidade

Refira-se que a informação disponível é insuficiente e que a informação disponibilizada pelas


entidades (Direcções Provinciais e Ministério de Geologia e Minas) condicionou a apresentação de
dados relevantes para esta temática dos recursos geológicos.

Note-se entretanto que, não obstante a estes condicionalismos, foi feita uma aprofundada pesquisa
bibliográfica, junto da biblioteca do Instituto de Geologia de Angola e dos Governos provinciais,
nomeadamente aqueles que apresentavam e disponibilizaram estudos sobre esta matéria
(destacando-se aqui os Planos de Desenvolvimento Provinciais da Huila, Namibe e Cunene, de 2008,
os quais integram a caracterização do sector mineiro), possibilitando deste modo, no presente
capítulo, a caracterização geomorfológica e geológica do país, a descrição de algumas
ocorrências dos recursos geológicos, as suas fragilidades e potencialidades no que respeita à sua
gestão e, por fim as medidas de implementação de âmbito nacional, provincial e municipal.

3.1 ENQUADRAMENTO LEGAL

O enquadramento legislativo que rege as actividades dos recursos geológicos assenta em dois
sectores, o sector petrolífero e o sector não petrolífero.

O sector petrolífero integra fundamentalmente, cinco leis: 1) Lei nº21/92, de 28 de Agosto (Lei sobre
as Águas Interiores, o Mar Territorial e a Zona Económica Exclusiva), 2) Lei nº10/04, de 12 de
Novembro (Lei das Actividades Petrolíferas), 3) Lei nº 11/04, de 12 de Novembro (Regime Aduaneiro
Aplicável ao sector Petrolífero), 4) Lei 13/04, de 24 de Dezembro (Lei sobre a Tributação das
Actividades Petrolíferas) e 5) Lei nº 26/12, de 22 de Agosto (Regras do exercício das actividades de
armazenamento e transporte de petróleo bruto e gás natural).

Além destas, existe ainda a regulamentação complementar da actividade petrolífera que


contempla os seguintes Decretos:1) Decreto nº 39/01, de 22 de Junho (Regulamento das actividades
de gestão de riscos das operações de petrolíferas), 2) Decreto nº 48/00, de 1 de Setembro (Regras e
procedimentos nos concursos públicos no sector dos petróleos), 3) Decreto 120/08, de 22 de
Dezembro (regras de acesso às áreas terrestres e a aquisição de direitos fundiários com vista à
execução das operações petrolíferas), 4) Decreto nº 1/09, de 27 de Janeiro (regulamento das
operações petrolíferas), 5) Decreto-Lei nº 17/09, de 26 de Junho (recrutamento, integração,
formação e desenvolvimento do pessoal na indústria petrolífera), 6) Decreto nº 38/0, de 14 de
Agosto (regulamento sobre segurança, higiene e saúde nas operações petrolíferas), 7) Decreto-
Executivo nº 45/10, de 10 de Maio (regulamento sobre recrutamento integrado, formação e
desenvolvimento de pessoal angolano e na contratação de pessoal estrangeiro para a execução

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Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hidricos, mar e zonas costeiras, conservação e
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de operações petrolíferas em angola), e 8) Decreto Executivo nº 46/10, de Maio (regulamento sobre


formação e desenvolvimento dos recursos humanos angolanos do sector petrolífero).

No que se refere à protecção ambiental e gestão de resíduos, o sector petrolífero contempla os


seguintes Decretos: 1) Decreto nº 39/00, de 10 de Outubro (Regulamento sobre Protecção do
Ambiente no Decurso das actividades petrolíferas), 2) Decreto Executivo nº 11/05, de 12 de Janeiro
(Regulamento sobre os Procedimentos de Notificação de ocorrências de Derrames), 3) Decreto
Executivo nº 08/05, de 5 de Janeiro (Regulamento sobre Gestão, Remoção e Depósito de
Desperdícios) e o 4) Decreto Executivo nº 12/05, de 12 de Janeiro (Regulamento sobre Gestão de
Descargas Operacionais).

Quanto ao sector não petrolífero, o qual inclui todos os minerais metálicos, não metálicos,
energéticos, (com excepção dos hidrocarbonetos líquidos e gasosos) e hidrogeológicos, o
enquadramento legislativo integra, fundamentalmente a Lei n.º 31/11, de 23 de Setembro (Novo
Código Mineiro).

O Código Mineiro regula toda a actividade geológico-mineira, nomeadamente, investigação,


descoberta, caracterização, avaliação, exploração, comercialização, uso e aproveitamento dos
recursos minerais existentes no solo, subsolo, nas águas interiores, no mar territorial, na plataforma
continental, na zona económica exclusiva e nas demais áreas do domínio territorial e marítimo sob
jurisdição da República de Angola, bem como o acesso e exercício dos direitos e deveres com eles
relacionados.

De acordo com esta lei, a produção de minerais realiza-se sob a forma de produção industrial, semi-
industrial e artesanal, nomeadamente a produção artesanal de diamantes, referida mais à frente.

O acesso aos direitos mineiros é permitido a pessoas singulares e colectivas, nacionais e estrangeiras.
A atribuição de direitos mineiros é feita de duas formas, ou através de concurso público realizado
por iniciativa do órgão de tutela, ou através de requerimento do interessado dirigido ao órgão de
tutela, nos termos presentes da legislação em vigor.

O Novo Código Mineiro, no Artigo 8º, estabelece um conjunto de objectivos estratégicos do sector
mineiro, dos quais se destacam:

a) Garantir o desenvolvimento económico e social sustentado do País,

b) Criar emprego e melhorar as condições de vida das populações que vivem junto às áreas
de exploração,

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Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hidricos, mar e zonas costeiras, conservação e
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c) Garantir receitas fiscais para a Administração Central e Local do Estado,

d) Proteger o ambiente dos impactes causados e recuperar as áreas degradadas,

e) Combater o garimpo e outras práticas minerais ilegais,

f) Utilizar preferencialmente os recursos minerais nacionais.

Este Novo Código surge com importantes alterações, nomeadamente as relativas ao procedimento
de emissão de títulos de exploração, em que é reconhecida a intervenção do Ministério do
Ambiente. Com o intuito de reforçar os documentos a apresentar no pedido de títulos para
exploração deve-se proceder à apresentação dos documentos técnicos: Estudos de Viabilidade
Técnica, Económica e Financeira, Planos de Pedreira e Estudos de Impacte Ambiental, contribuindo
para o necessário equilíbrio entre interesses públicos do desenvolvimento económico e a protecção
do ambiente.

No que se refere ao acesso e exercício de direitos mineiros de exploração artesanal de diamantes, a


supramencionda lei estabelece que é da competência do Ministério de Geologia e Minas, sob
proposta da empresa concessionária nacional dos direitos mineiros sobre diamantes – Endiama, a
outorga de direitos mineiros para a exploração artesanal de diamantes.

Mais, a exploração artesanal de diamantes é a actividade de exploração com uso exclusivo de


métodos e meios artesanais, não mecanizados e sem tecnologia mineira industrial, que só pode
realizar-se em jazigos aluvionares, desde que não seja possível economicamente a sua exploração à
escala industrial ou nos rejeitos dos jazigos primários depois de explorados e abandonados. O
exercício da actividade de exploração artesanal de diamantes, realiza-se mediante emissão de um
título pelo Ministério de Geologia e Minas, designada de “Senha mineira”.

O cumprimento do novo código mineiro, pretende dinamiza o sector, incorporando as questões de


sustentabilidade e planificação das áreas de exploração.

3.2 PROGRAMAS E PROJECTOS

Os programas e planos, que se enquadram no Plano Nacional de Desenvolvimento 2013-2014,


estipulados pelo Governo para os sectores da geologia e minas e do petróleo e gás natural, são,
respectivamente:

▪ Plano Nacional da Geologia (Planageo),

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Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hidricos, mar e zonas costeiras, conservação e
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▪ Programa de Recuperação das Infraestruturas Geológicas,

▪ Programa do Sector de Petróleo, Gás e Biocombustíveis,

▪ Sub-Programa de Sustentabilidade da Produção Petrolífera.

O Plano Nacional de Desenvolvimento 2013-2017 (PND), define para o sector da geologia e minas,
um conjunto de objectivos de entre os quais se destacam:

▪ Assegurar o reforço da base infra-estrutural geológico-mineira, com vista ao


desenvolvimento de novos projectos de mineração;

▪ Reforçar as acções de controlo e fiscalização das actividades geológico-mineiras;

▪ Inserir a actividade diamantífera nas diferentes fases da fileira do diamante


(prospecção, extracção, lapidação e joalharia);

▪ Desenvolver parcerias estratégicas com grupos mundiais de reconhecida


idoneidade nas áreas da lapidação, tendo em vista o desenvolvimento destas
actividades no território nacional;

▪ Executar programas básicos visando a cartografia temática de cunho geológico,


geotécnico e metalogénico;

▪ Reabilitação e apetrechamento dos laboratórios do Instituto Geológico de Angola;

▪ Inventariar o potencial mineiro do país desenvolvendo acções de levantamentos


aerogeofísicos e geoquímicos;

▪ Promover a captação a prospecção, pesquisa e captação de águas subterrâneas;

▪ Assegurar a actualização do cadastro mineiro e o saneamento das concessões;

▪ Proceder à construção da Escola de Especialização Mineira;

▪ Promover a constituição de empresas públicas para os sectores de metais básicos,


minerais radioactivos e agro-minerais e para o segmento da lavaria;

▪ Promover a reactivação dos projectos diamantíferos de Fucaúma, Lucapa, Luarica e


Camuazanza;

▪ Garantir a reactivação de projectos de prospecção mineira;

▪ Assegurar a continuidade do desenvolvimento do sector das rochas ornamentais;

▪ Reforçar os mecanismos da preservação do ambiente (flora e fauna) e exigir dos


responsáveis estudos de impacte ambiental como cumprimento da legislação;

▪ Promover e desenvolver as rochas ornamentais;

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Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hidricos, mar e zonas costeiras, conservação e
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▪ Motivar o reforço do quadro técnico-profissional.

Para a persecução dos objectivos o Governo traçou um conjunto de politicas a implementar, das
quais se refere; desenvolver o sector como chave do desenvolvimento sócio-económico no quadro
de relançamento da economia nacional, mobilizar os investimentos necessários para incentivar o
arranque dos projectos de exploração da fileira do diamante em toda a sua cadeia de valor,
implementar medidas para a exploração de outros recursos, nomeadamente o ferro, manganés
(fundamentais para a indústria da siderúrgica e metalúrgica) ou fosfato e potássio (para produção
de adubos), ou ainda pela diversificação da produção mineral (com o relançamento da
exploração de vários minérios em todo o País).

O Plano Nacional de Geologia (Planageo), visa o conhecimento do potencial geológico e mineiro


do país com vista ao desenvolvimento do sector mineiro. Apresenta como principais objectivos, os
seguintes:

▪ Fornecer informações credíveis aos potenciais investidores e demais interessados;

▪ Diversificação da exploração mineira;

▪ Aumentar os postos de trabalho;

▪ Contribuir para o aumento das receitas fiscais e patrimoniais do Estado.

Este plano tem como objectivo maior, o combate à pobreza, a melhoria de condições de vida da
população e o planeamento eficiente dos recursos hídricos para o combate à seca e
desertificação.

Para a implementação do programa, o Planageo, possui um orçamento de cerca de 40,5 biliões de


AKZ, que engloba a implementação do sub-programa para os seguintes vectores:

▪ Capacitação dos recursos humanos;

▪ Elaboração de estudos e levantamentos geológicos, aerogeofísicos, geoquímicos,


geotécnicos e hidrogeológicos;

▪ Construção de infra-estruturas de apoio à investigação geológica, nomeadamente


a construção de um edifício para o Instituto Geológico de Angola (IGEO),

▪ Construção de um laboratório central em Luanda e dois outros laboratórios regionais


nas províncias da Lunda Sul (município de Saurimo) e da Huila (município do

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Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hidricos, mar e zonas costeiras, conservação e
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Lubango), todos estes equipados com tecnologia avançada para análises


geoquímicas.

O Programa para o Sector Petrolífero, Gás e Biocombustíveis, tem em vista o desenvolvimento da


indústria do petróleo e gás nas vertentes de exploração, de produção de hidrocarbonetos, de
midstream e downstream, de preservação do meio ambiente, da completa cobertura das
necessidades de consumo dos produtos refinados no mercado interno, na articulação entre o sector
petrolífero e os restantes sectores a curto, médio e longo prazo e o incentivo à participação de
operadores privados nacionais na indústria. Este programa define os seguintes objectivos:

▪ Licitação de novas concessões petrolíferas;

▪ Contribuir para a sustentabilidade da produção petrolífera;

▪ Aumento da capacidade de refinação de petróleo bruto, com vista à satisfação da


procura interna de produtos petrolíferos e contribuição para o aumento da oferta de
derivados na região e no mundo;

▪ Desenvolvimento da indústria do gás natural;

▪ Promover investimentos em biocombustíveis a partir de culturas agrícolas e


selecionadas, sem contudo afectar a oferta nacional de alimentos e a segurança
alimentar estratégica do país;

▪ Promover a indústria petroquímica – construção de uma fábrica de amónia e ureia;

▪ Apoiar a diversificação do sector através do desenvolvimento da fileira do petróleo;

▪ Fomentar a dinamização da cadeia de fornecimento de bens e serviços ao sector


petrolífero, visando o aumento da participação do conteúdo nacional da indústria;

▪ Incrementar a inserção do empresariado no sector de petróleo e gás;

▪ Fomento do viveiro de quadros do sector de petróleos através da formação, no


Instituto Nacional de Petróleos e Universidade de Tecnologias e Ciências (UTEC) e
aplicação contínua do Decreto n.º 17/09, de 26 de Junho.

Para conseguir alcançar estes objectivos, são estabelecidas medidas a implementar, tais como
controlar um ritmo de exploração de petróleo e gás natural que considere a evolução das reservas
provadas e prováveis, economicamente viáveis e os respectivos preços a médio e longo prazos,
promover a identificação e caracterização de novas reservas economicamente exploráveis, iniciar
a produção de gás natural e desenvolver projectos a ele associados, assegurar a implementação

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progressiva do Plano Director de Armazenagem, continuar com o Projecto de Melhoramento da


Rede de Distribuição, na construção de postos de abastecimento, garantir auto-suficiência nacional
em termos de produção de refinados (com a implementação dos projectos de construção das
refinarias Lobito e Soyo), criação de um Fundo de Apoio às Empresas privadas nacionais ligadas ao
sector petrolífero e monitorização de um instrumento legal e impulsionador de recrutamento,
integração, formação e desenvolvimento de pessoal angolano na indústria petrolífera, com o
objectivo de intensificar o grau de angolanização dos técnicos e dirigentes das empresas
petrolíferas.

Mais se refere que, no domínio do ambiente, para além de assegurar aplicação dos requisitos legais
e técnicos constantes nos Decretos n.º 38/09, de 14 de Agosto e n.º 39/00, de 10 de Outubro, este
programa contempla outros patamares a serem alcançados como alcançar a “Descarga Zero” nas
operações petrolíferas, implementar e operar o comando nacional de incidentes para derrames de
petróleo e outras emergências, criar base de dados ambiental e acompanhamento no domínio da
segurança, higiene e saúde dos principais projectos do sector.

No domínio da cooperação internacional, o sector incide no reforço da cooperação com os países


com os quais Angola mantém relações. Já no domínio legislativo, prevê o diagnóstico da legislação
vigente no sentido da verificação da sua eficácia no contexto actual, conduzindo, se necessário, a
revisão e/ou reformulação das leis e regulamentos em vigor.

Do exposto, refere-se que todas estas acções pressupõem grandes investimentos de capital. Deste
modo, apenas as que estão protagonizadas no PIP serão contempladas financeiramente por parte
do Governo. Os projectos propostos para o PIP 2014 são apresentam-se no Quadro 14

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Quadro 2: Projectos contemplados no PIP 2014


Província Projectos
Confirmar a viabilidade de recursos minerais no território nacional;
Uíge
Projecto de investimento privado para o mineral cobre na região de Tetelo e Mavoio.
Projecto de iniciativa privada minero-siderurgico de ferro e manganês de Cassala Kitungo
Cuanza Norte
em Cambambe.
Cuanza Sul Projecto privado de construção de uma siderurgia
Reactivar o complexo mineiro siderúrgico de Cassinga;
Promoção das rochas ornamentais;
Huíla Projecto de investimento privado ligado á exploração de ouro;
Projecto de construção de uma fábrica metalúrgica;
Projecto de iniciativa privada para a indústria de transformação de granito.
Desenvolver as indústrias de mármore e gesso;
Instalar/explorar o gás natural e desenvolver a primeira transformação do ferro (esponja
Namibe de ferro);
Desenvolver um polo industrial para as rochas ornamentais e produtos siderúrgicos;
Aumentar a capacidade energética e volume de água para a província;
Cuando
Retomar a prospecção e exploração diamantífera no Município de Mavinga.
Cubango
Lunda Norte Projecto de investimento privado de diamantes Uári da Lucapa.
Benguela Construção da refinaria do Lobito.
Projecto de construção da refinaria do Soyo;
Cabinda
Projecto de exploração de fosfatos

Fonte: Plano Nacional de Desenvolvimento 2013-2017

Em suma, atendendo ao descrito que atesta a importância do sector para o desenvolvimento


económico nacional, é de relevada importância que as estratégias territoriais, materializadas nos
Planos de Ordenamento Provinciais consagrem as disposições previstas e acima descritas.

Mais se refere, os Planos Directores Municipais devem materializar espacialmente os Espaços


vocacionados e regulamentar o solo atendendo sempre à sustentabilidade da sua vocação.

3.3 ASPECTOS DA GEOMORFOLOGIA DE ANGOLA

No que respeita aos aspectos da geomorfologia de Angola, distinguem-se seis grandes unidades
geomorfológicas.

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Figura 5: Grandes unidades geomorfológicas

Fonte: Própria, simplificado a partir de Marques 1966 in Costa, F. 2006

A Faixa Litoral, pouco acidentada formou-se sobre depósitos marinhos Meso-Cenozóicos. A sua
largura não ultrapassa, em geral, 15-30 Km, contudo, na proximidade da foz dos rios Zaire e Kwanza
pode atingir 130 Km, onde forma as bacias costeiras com o mesmo nome.

Na bacia do Kwanza a zona costeira apresenta-se recortada por lagoas que preenchem falhas
tectónicas de diversa orientação. Os morros e cordilheiras que aparecem na faixa, formaram-se nos
locais de afloramentos de rochas resistentes aos processos de denudação. Nas proximidades da foz
de muitos rios observam-se praias, terraços de acumulação, ilhas e restingas com vários metros de
altura. No Sul do país encontram-se terraços de abrasão com altitudes de 145-175 m. As vertentes
dos vales são em geral pouco escarpadas. O relevo da faixa costeira foi formado por processos de
denudação subaérea.

A Zona de Transição, caracterizada pela zona de planícies de denundação sob a forma de degraus
descendo em direcção à planície costeira. É constituída por rochas do Complexo Metamórfico em

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que predominam gnaisses, micaxistos, xistos e rochas vulcânicas do tipo doleritos, por vezes podem
encontrar-se testemunhos de rochas gabróides.

A Cadeia Marginal de Montanhas, sensivelmente paralela à zona costeira é caracterizada por um


relevo em escadaria que foi formado sobre rochas do Arcaico e do Proterozóico inferior do escudo
de Angola, cujas cotas absolutas chegam a atingir os 3.000 m.de altitude. O Planalto Antigo,
constitui a maior parte do interior Oriental, mais elevado no seu sector centro Ocidental, com
altitude no geral inferior a 1.500.Talha rochas metamórficas e numa vasta área arcoses,
conglomerados, arenitos e areias de cobertura.

As Bacias do Zambeze e Cubango, desenvolvem-se a Sudoeste, nas regiões cuja drenagem se


processa em direcção Este-Sudeste, fundamentalmente em rochas detríticas e de cobertura.

3.4 GEOLOGIA

A caracterização geológica das principais formações geológicas existentes em Angola baseou-se


na Carta Geológica de Angola à escala 1:1 000 000 e respectiva notícia explicativa, bem como em
bibliografia recolhida em diversas instituições, nomeadamente na biblioteca do Instituto de
Geologia de Angola, nos Governos Provinciais e nas Direcções Provinciais de Geologia e Minas.

Sob o ponto de vista geológico e geomorfológico, Angola divide-se em grandes unidades


geotécnicas com características geológicas e estruturais diversificadas separadas por acidentes
tectónicos:

 Saliências do soco, também designado por escudos ou cratão - escudos de


Maiombe, de Angola e Cassai;

 Estruturas de cobertura da plataforma - as placas pre-câmbricas do Congo


e do Okavango;

 Estruturas do Mesozóico precoce-Cenozóico - a depressão perioceânica e


as depressões continentais do Congo e Okavango;

 Zonas de activação tectono-magmática da plataforma.

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Figura 6: Principais unidades geotécnicas

Fonte: Própria, simplificado a partir de Araújo e Guimarães, 1996

Sob o ponto de vista litoestratigráfico, Angola pode ser dividida nas seguintes grandes Unidades: 1)
Maciço Antigo, 2) Formações de cobertura e 3) Orla sedimentar Litoral.

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3.5 RECURSOS MINERAIS GEOLÓGICOS

Os recursos geológicos são bens naturais existentes na crusta terrestre susceptíveis de


aproveitamento económico no presente ou, admissivelmente, no futuro. São recursos geológicos as
substâncias minerais (minerais metálicos, recursos energéticos, as rochas industriais e minerais não
metálicos), encaradas como recurso não renovável e os recursos hidrominerais e geotérmicos são
encarados como recursos renováveis.

A ocorrência de um determinado mineral ou rocha por si só, não justifica a viabilidade da sua
exploração, para que tal aconteça é necessário que uma série de factores se conjuguem tais
como: quantidades e teores, a facilidade de acesso ao local de extracção, a complexidade da
cadeia de produção, as cotações da matéria-prima no mercado comercial e a própria diversidade
de aplicações que o material poderá ter.

Neste item é feita uma classificação geral dos recursos geológicos, tendo como base a Carta de
Recursos Minerais de Angola de 1992, elaborada à escala 1:/1 000 000 já publicada.

São descritos alguns jazigos e ocorrências minerais mais relevantes a nível nacional, e indicada a sua
importância no que se refere a exploração e preservação. Quando possível, é ainda apresentada a
sua actividade (se já funcionou, se está actualmente operacional, ou paralisada) e produção. São
também apresentadas em anexo as ocorrências minerais existentes no país.

3.5.1 Recursos Geológicos Metálicos

Os recursos metálicos consideram, os metais nobres (ouro, prata, platina), os metais ferrosos (ferro,
manganês, titânio, crómio, níquel, cobalto, molibdénio, arsénio), os metais não ferrosos (cobre,
chumbo, zinco, estanho, mercúrio, cádmio), os metais raros e elementos de terras raras (berílio, lítio,
nióbio, tântalo), os minerais radioactivos (urânio).

A exploração de metais ferrosos em Angola, nomeadamente o ferro, tem uma longa tradição tendo
sido um dos minérios mais importantes da economia nacional durante um largo período. As
principais jazidas de metais ferrosos estão localizadas na província da Huíla, próximo dos montes de
Cassala e Kitungo e nas regiões de Cassinga, Tchibemba, Quipungo e Kuvango. Para além destas
jazidas, existem outras nas províncias do Huambo e Cuanza Norte, nomeadamente na região de
Bailundo, Andulo e Mungo.

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A região da zona média do caminho-de-ferro Luanda – Malange, foi em tempos remotos sujeita a
explorações mineiras que tiveram lugar em Quiaponte, Quicuinhe, Quiculo, Quitota e Gungungo.
Esta região produziu 443.000 toneladas de minério de manganês entre 1943 e 1962. Sendo
considerado na altura uma região metalogénica de ferro e manganês.

As explorações de maior envergadura foram sem dúvida as explorações de ferro na mina de


Cassinga, Município da Jamba, província da Huíla. Esta mina produziu 40 milhões de toneladas
(Mton) de minério de ferro de alto teor (50-60% de Fe) entre 1957 e 1975.Actualmente a mina está
reactivada, estimando-se um potencial de 15 Mton de ferro a serem explorados nos próximos 10
anos.

Ferro

Na região de Cassinga, localizada a 270 Km para leste da cidade do Lubango, conhecem-se 32


ocorrências e 21 jazigos de ferro situados nas proximidades das povoações da Jamba, Cussava,
Cutato, Dongo e Cassinga, ocupando uma área de 700 Km 2. A região é constituída por rochas
vulcano-sedimentares do supergrupo Cassinga: 1) grupo jamba e Cuandja constituídos por
metagrauvaques, andesitos, dacitos, metagrés, xistos, itabititos e quartzitos ferruginosos; e 2) grupo
Bale constituído por metaconglomerados, xistos filitosos e quartzitos moscovíticos com andaluzite. As
rochas sedimentares são instruídas por granitos leucocráticos e biotíticos do proterozoico inferior.

Os jazigos e ocorrências de ferro na região de Cassinga estão relacionados com quartzitos


ferruginosos (itabiritos) do Grupo da Jamba. Os minérios de ferro ocorrem tanto em quartzitos
ferruginosos primários como nas suas crostas de alteração. Os corpos quartzitos ferruginosos
(itabiritos) atingem dimensões de 10 Km de extensão com espessuras variadas que podem atingir
300. Os corpos mineralizados estão representados por lentículas e camadas descontínuas
concordantes com estratificação. Os principais minerais metálicos destes depósitos são magnetite,
hematite, goethite, limonite e martite. O teor de ferro varia de 35% a 65%.

A reativação do complexo mineiro da Jamba foi elaborada através de contrato estabelecido entre
a FERRANGOL – Empresa Nacional de Ferro de Angola que detém 30% do projecto e a AMER -
Angola Exploration Mining Resources, empresa que detém os direitos mineiros de ferro de Cassinga.
Este projecto prevê reservas de 15 Mton de ferro a serem exploradas nos próximos 10 anos, a razão
de 1.5 Mton/ano.Associado a este projecto existe também o projecto de exploração de ferro
Cassala- Kitungo, localizado na província do Cuanza Sul, e que está previsto arrancar em 2017,
devendo produzir inicialmente 6 Mton/ano.

56
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Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hidricos, mar e zonas costeiras, conservação e
biodiversidade

Refere-se que o projecto das minas de ferro de Cassinga está actualmente em fase de prospecção.
Aliás, já foram feitos investimentos sociais, de formação e reabilitação das infra-estruturas na Jamba.
Importa salientar que, está concluída a linha ferroviária que estabelece a ligação Namibe-Lubango,
a qual servirá de transporte do minério de ferro de Cassinga até ao Porto do Namibe.

Trata-se de uma região de elevado potencial mineiro que deverá ser preservada para a indústria
mineira.

Titânio e manganés

Estes minerais encontram-se associados ao mineral ferro. Assinalam-se várias ocorrências nas regiões
do Quipungo, Tchibemba e Lubango (província da Huíla) e na região de N´Dalatando (provincia do
Kwanza Norte), mas carece de estudos aprofundados para se averiguar o seu potencial.

Cobre, zinco e chumbo

O cobre é um metal que apresenta características de boa condutibilidade eléctrica, é dúctil,


maleável, resistente à corrosão e de grande durabilidade. Estas características conferem-lhe uma
importância relevante em termos industriais. Em relação ao tipo de ocorrência, o cobre, pode
ocorrer sob a forma nativa, como sulfureto ou como óxido. São várias as aplicações deste metal, no
entanto cerca de 45% do seu consumo é para material condutor (fios e cabos). Das restantes
aplicações destacam-se: as chapas e rolos para a indústria de construção, revestimentos vários
usados na arquitectura, em pára-raios, cunhagem de moedas e também pode ser usado na
purificação de água.

Os minerais de cobre estão largamente distribuídos em Angola, nomeadamente nas regiões de


Benguela, Namibe, Cunene, Menongue, Curoca. Os jazigos mais importantes até agora
identificados são os do Mavoio e de Tetelo. Nestes jazigos as concentrações de minerais de cobre
apresentam-se sob a forma de massas em calcários do xisto-calcário e ainda em impregnações do
grés do xisto-gresoso. O jazigo do Mavoio foi explorado entre 1937 e 1963, foram extraídas 173.000
toneladas de minério com um teor médio de 12% de cobre. A avaliação feita posteriormente (1977)
mostrou que as reservas remanescentes constituem 0.5-1 Mton de minério com um teor médio de
2%-2,5% de cobre. Oferecem interesse os flancos Este e Sul do jazigo e os horizontes mais profundos.
Quanto ao jazigo de Tetelo, onde aparecem a calcopirite, calcocite e pirite, associados a minerais
de cobalto, ocorre em zonas de falha e de brecha, podendo ainda observar-se a presença
daqueles minerais disseminados na rocha encaixante. O minério obtido no decurso dos trabalhos
que foram efectuados na mina, apresentava um teor de 8% de cobre e 1% de cobalto.

57
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Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hidricos, mar e zonas costeiras, conservação e
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Dadas as potencialidades de cobre na região de Mavoio, província do Uíge, está actualmente em


curso o Projecto de Mavoio para exploração de minas de cobre. Refere-se ainda que este projecto
está em fase de prospecção.

No que se refere aos minerais de zinco e chumbo, as ocorrências conhecidas localizam-se no Norte
de Angola, mais propriamente na região da Damba, província do Zaire. Nestas ocorrências há
ainda potencialidades a considerar.

Ouro, prata e platina

O mineral ouro é conhecido desde a antiguidade tendo sido um dos primeiros metais a ser utilizado
pelo Homem. É, ainda hoje, um dos minerais com valor comercial mais elevado. Tendo em conta as
suas propriedades físicas e químicas o ouro pode ser usado em diversas aplicações como: joalharia,
ourivesaria, decoração, na indústria eléctrica e electrónica, no revestimento de circuitos, terminais e
sistemas semicondutores, é usado como reserva monetária pelos bancos centrais e como cobertura
de satélites. Na natureza, este mineral, ocorre em filões, associado a outros minerais, ou em aluviões.

Das ocorrências identificadas na carta dos recursos minerais, merecem especial destaque os jazigos
que se descrevem a seguir.

O jazigo de M’popo é o maior jazigo de ouro primário de Angola e está situado a cerca de 36 Kkm a
Sudoeste de Cassinga. Este jazigo é constituído por filões auríferos de quartzo e tem reservas
estimadas de 700 M/ton com teor médio de 8 g/ton. Deste depósito já foram extraídas 23.300 ton de
minério com teor de 6 g/ton (um total de 140 kg de ouro). Também aparecem depósitos aluviais nas
proximidades, os quais já foram antigamente explorados.

O jazigo de Navondira, localizado a 14 Km a Norte-Nordeste da povoação do Chipindo, província


da Huíla, é de origem aluvionar sendo constituído por areias com calhaus de quartzo e granito. O
ouro é nativo, aparece em associação à monzonite, cassiterite e magnetite.

Na década de 1960, foram executados pela Companhia Mineiro do Lobito, trabalhos de


prospecção e pesquisa, estimando-se reservas de 463 650 m3 de areias auríferas com teor médio em
ouro de 0,5689 g/m3, correspondendo a 254 kg de ouro. A região é favorável à detecção de ouro
nativo e aluvionar. Localiza-se a Oeste da povoação de Buco-Zau.

O jazigo de Buco-Zau, localizado a 2 Km para Noroeste da povoação de Buco-Zau, provincia de


Cabinda, ocorre nos depósitos aluvionares de vale. Os vales estão encaixados nas rochas de

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embasamento, representadas por gnaisses micáceos e xistos atravessados por filões e filonetes de
quartzo. O ouro é nativo e ocorre numa camada que assenta sobre as rochas do embasamento.
Assinalam-se também a presença de prata e platina. Nesta região a exploração de ouro teve início
a partir de 1973, sendo apenas explorados os aluviões de leito. O total de ouro produzido foi
Buco-Zau 37 kg (1939-1943), Quissamano 167 kg (1938-1947). As explorações foram realizadas pela
companhia Mineiro do Maiombe e os trabalhos de pesquisa realizados pela companhia mineira de
Angola. Desde 195 que os trabalhos ficaram praticamente paralisados. Existem condições favoráveis
à descoberta de mais ouro na região, no entanto, é necessário a realização de estudos
aprofundados nos aluviões de leito redepositados, nos aluviões de terraços e de ouro nativo nas
rochas verdes e filões de quartzo.

Refere-se ainda que, o projecto de Cassinga integra a exploração de ouro, mas actualmente este
ainda não está a ser explorado. Aliás, cerca de 90% da produção aurífera do país tem sido
explorada por garimpeiros.

Berilo

Este mineral aparece em cristais nos pegmatitos que ocorrem nas províncias de Luanda e Huíla nos
locais denominados Mussaca-Saca e Hamutenha, respectivamente. Actualmente este mineral não
é explorado, no entanto, dos estudos feitos admite-se que exista potencial para a sua exploração.

Outros minerais metálicos

Além dos minerais referidos anteriormente, existem outros, crómio, níquel, estanho molibdénio,
volfrâmio e tungesténio, nióbio, lítio, tântalo, terras raras, e urânio que merecem estudos profundos
de geologia e prospecção para se avaliar o seu potencial.

3.5.2 Recursos Geológicos não Metálicos

De entre os recursos não metálicos quartzo, feldspato, caulino, gesso, barite, diatomito, wollastonite,
moscovite, talco, fluorite, enxofre, cianite, guano, micas, grafite, enxofre, grafite, bentonite,
consideram-se ainda: as pedras preciosas e semi-preciosas (diamante, rubi, safiras, esmeraldas,
ametista, olivina, granadas, corindo e opalas), os materiais de construção (calcários, dolomites,
asfaltite, areias, argilas), as rochas ornamentais (anortositos, granitos e mármores), os minerais
fertilizantes (fosfatos e outros), os isolantes (asbestos, vermiculite), os sais (sais de potássio, salgema)
os minerais para a indústria cerâmica (argilas, feldspato, quartzo), e outros. Destes recursos tem

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importância a exploração de diamantes, a exploração de rochas ornamentais e a exploração de


minerais e rochas industriais usados para a construção.

Diamante

Actualmente toda a produção de diamantes de Angola resulta dos jazigos localizados nas
províncias de Lunda Norte e Lunda Sul. Estes jazigos são depósitos primários (chaminés, diques e tufos
kimberlíticos), e depósitos secundários (eluviões e aluviões).

Os depósitos primários estão relacionados com o cratão de Congo de idade arcaica, com domínio
de ocorrências de kimberlito em áreas arqueanas que são caracterizadas por anfibolitos, gnaisses
anfibolíticos , granulitos máficos e charnockitos. Os depósitos secundários relacionam-se com a
Formação de Calonda a qual se atribui ao cretácico médio a superior, constituindo os seus
sedimentos as camadas detríticas diamantíferas mais antigas.

Repare-se que, do elevado potencial de recursos diamantíferos existente no país, apenas 40% desse
potencial foi detalhadamente estudado. Estudos comprovam a existência de cerca de 1.000
ocorrências kimberlíticas, sendo outorgadas no que se refere à prospecção 195 concessões. Nas
províncias da Lunda Norte e Lunda Sul estão em funcionamento 10 minas, destas, três são de
exploração de kimberlitos (Catota, Camutué e Luô) e sete são de exploração de aluviões (Cuango,
chitotolo, Canvuri, Luminas, Chimbongo, Somiluana e Calonda). Estas áreas devem ser preservadas
para a exploração de diamantes.

Refere-se ainda que nas províncias de Malanje e Namibe estão também identificadas ocorrências
de diamantes que não estão actualmente a ser exploradas.

Fosforite

São conhecidos jazigos e ocorrênas deste mineral nas províncias de Cabinda e Zaire. Actualmente
este tipo de mineral não é explorado, No entanto, dada a sua potencialidade estas áreas devem
ser preservadas.

Minerais e rochas industriais (calcários, dolomites, asfaltite)

São conhecidos vários jazigos de calcários e dolomites no território angolano. dos quais se citam
mais conhecidos.

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Jazigo de Secil, localizado a 8 Km para Nordeste da cidade de Luanda, desenvolve-se numa vasta
área de calcários paleogénicos encobertos por depósitos do Quaternário, apresentando-se o corpo
mineralizado estratiforme. Foi reconhecido o valor total de reservas de 50.1 M/ton. Actualmente
encontra-se em exploração para o fabrico de cimento.

Jazigo de Cacuaco, localizado a 12 Km para Este da capital, no município do Cacuaco,


corresponde a margas e calcários neogénicos encobertos por depósitos quaternários,
apresentando-se com um corpo estratiforme. A sua génese é organogénico-sedimentar, as suas
reservas foram avaliadas em 3.2 M/. Já esteve em exploração, para o fabrico da cal, e actualmente
encontra-se desactivada.

Jazigo de Lombo, localizado a 10 Km para Nordeste da foz do rio Kwanza,, na sua margem direita,
representado por depósitos do Miocénico superior (formações Cacuaco e Luanda) formados por
argilas com lentículas de dolomites, calcários gresosos, grés, areias, calcários coralinos. A sua génese
é organogénica mostrando-se as rochas afectadas por fenómenos de alteração (lixiviação). As suas
reservas geológicas foram estimadas em 47 M/ton. O jazigo oferece boas perspectivas para
exploração a céu-aberto, com utilização dos para o fabrico de cimento, cal e outros fins. É
necessário realizar trabalhos de reconhecimento para avaliar o seu potencial.

Jazigo de N’Gunza-Cachoeiras, localizado a 10 Km para Nordeste da cidade do Sumbe, apresenta


além dos calcários, também gesso e dolomites atravessados por numerosas falhas de direcção
submeridional, sendo que a maior parte se encontra encoberta por grés e argilitos quaternários. Os
calcários são dolomitizados de cor branca a cinzenta pálida, as dolomites são de tonalidade
cinzento-azulada a cinzenta, e o gesso é branco a cinzento, com filonetes de gesso fibroso. Admite-
se a existência de grandes reservas de calcários, dolomites e gesso, no entanto, o mesmo ainda não
foi estudado.

Jazigo de Comego, localizado a 7 Km para Este da cidade do Lobito, apresenta-se sob a forma
estratiforme. Foram executados trabalhos de reconhecimento no ano de 1975, tendo sido avaliadas
reservas de cerca de 3 M/ton. Actualmente encontram-se em exploração para o fabrico de
cimento. Nas proximidades do jazigo foram reconhecidas 13 ocorrências de calcários, indicando
que esta região possui grande potencial de exploração deste mineral. Esta região deve ser
preservada para indústria mineira pela importância que poderá assumir no fornecimento de
matéria-prima à industria cerâmica.

No caso da asfaltite, importa destacar os seguintes jazigos:

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1) Jazigo de Lembe, localizado a 66 Km para Este da cidade de Luanda, desenvolve-se numa


extensa área de calcários asfálticos com uma espessura total de 20 m, de idade do Cretácico
inferior; o teor de betume é de cerca de 20%, sendo as reservas prováveis de asfaltite estimadas em
cerca de 20 M/ton. Este jazigo já esteve em exploração mas desconhece-se outros dados.

2) Jazigo de Undi, localizado a 62 Km para Nordeste da cidade de Luanda, desenvolve-se nos leitos
de calcário asfáltico com uma espessura total de 13 m de idade do Cretácico inferior. O teor médio
de betume é de cerca de 20%, e as reservas prováveis de asfaltite estimadas em cerca de 111
M/ton.Este jazigo já esteve em exploração mas desconhece-se outros dados.

3) Jazigo de Libongos, localizado a 56 Km para Nordeste da cidade de Luanda, desenvolve-se nos


leitos de calcário asfáltico com uma espessura de 7-8, inclinando 50-160 para Sul-Sudoeste, de idade
do Cretácico inferior. O asfalto é facilmente recuperado quando aquecido e facilmente cortado
em placas tanto quente como frio, sendo as reservas prognosticas de asfaltite estimadas em mais
de 100 M/ton . Vários jazigos pequenos foram explorados no período de 1941 a 1973. Actualmente
não existe nenhuma informação sobre este jazigo, no entanto atendendo à dimensão do jazigo sob
a forma de uma larga faixa em várias dezenas de quilómetros, considera-se ter um grande
potencial, e como tal deverá ser preservado.

4) Jazigo de Husso, localizado a 55 Km m para Nordeste da cidade de Luanda, desenvolve-se nos


leitos de calcário asfáltico com cerca de 8 m de espessura, de idade do Cretácico inferior. O teor
médio de betume é de 20-22% e as reservas prováveis de asfaltite estimadas em cerca de 45,5
M/ton. Este jazigo já esteve em exploração no período de 1954 a 1971 com uma produção de
235.000 oneladas de asfaltite.

Quartzo

De entre as numerosas ocorrências conhecidas em Angola, destaca-se a de Chipaca, situada na


área da Pucariça, na província do Kwanza Sul. É constituída por massas de quartzo hialino, bastante
puro, encaixadas em granitos biotíticos.

De acordo com a informação recolhida, existem actualmente quatro explorações de quartzo, duas
na província do Cuanza Sul (município de Conda) e duas na província de Benguela (municípios da
Baía Farta e Chongorói).

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Micas

As ocorrências de mica comerciável estão localizadas em pegmatitos que cortam as rochas


ultrabásicas do Complexo de Base, especialmente na região dos rios Dande e Ubi, seu afluente,
localizado a Nordeste de Luanda. Os filões pegmatíticos são numerosos mas irregulares, a sua
possança varia entre 1-20 m. São essencialmente constituídos por quartzo e feldspato, com
predomínio da microclina. As micas apresentam aspectos muito variáveis. Nos pegmatitos da região
do Dande ocorrem como minerais secundários, berílio, lepidolite, turmalina e granadas. Muitas
destas ocorrências constituíram minas que laboravam a céu-aberto e que tiveram grande
actividade durante a 2ª Guerra Mundial, atingindo uma produção superior a 3.056 toneladas de
micas de diversos tipos.

Encontra-se ainda mica em pegmatitos, que ocorrem em diversos locais, nomeadamente nas
regiões de Ambriz (província do Bengo), Gungo, (província do Kwanza Sul), praia de Mandongal,
(província de Benguela) e Iona, (província do Namibe).

Desconhece-se actualmente qualquer tipo de exploração de micas em território angolano.

Gesso

As principais ocorrências de gesso estão localizadas nas regiões do Sumbe, Lobito e Benguela. Na
região do Namibe, particularmente entre, os rios Bero e Giraúl, observam-se também ocorrências de
gesso.

Actualmente a exploração de gesso ocorre no Alto Chingo, município do Sumbe, (província do


Kwanza Sul). Este recurso é usado como matéria-prima na fábrica de gesso, com vista à produção
de cimento. A sua produção é estimada em 10.000 toneladas/mês.

Dada a importância estratégica deste recurso para a construção civil, estas áreas devem ser
preservadas para a indústria mineira.

Rochas ornamentais (anortositos, granitos e mármores)

No que se refere aos anortositos, salienta-se o Jazigo de Hofui, localizado a 70 Km para Sudeste da
cidade do Lubango, província da Huíla. A sua geologia corresponde a maciços precâmbricos de
gabro-anortositos do Cunene, estendendo-se sob a forma de uma larga faixa (com 20-90 Km de
largura) de Sudeste para Nordeste em mais de 300 Km de extensão. Grande parte do maciço
encontra-se coberto por depósitos argilo-arenosos aluvionares e de vertente do Quaternário. O

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jazigo apresenta uma área de 500 Km2 e está situado na parte Nordeste do complexo gabro-
anortosítico. Foram definidas mais de 140 áreas em que pode ser implementada a exploração de
anortositos. Os principais minerais são a plagióclase (labrador) e nos minerais acessórios assinalam-se
as piroxenas e hiperstena aparecendo por vezes olivina, biotite, apatite e calcite. Os anortositos
apresentam textura fina a média e a sua coloração varia de negra a cinzenta escura e cinzenta. A
sua génese é magmática. As reservas estimam-se em 1.182 milhões de m3, sendo praticamente
ilimitadas. O jazigo está em exploração desde a década de 60.

Por ser uma área única no país, com grande potencialidade, deve ser preservada para a indústria
mineira pela importância que esta possui para a indústria de rocha ornamental. Devido à
importância de pedreiras existentes nesta área para a economia provincial e nacional, deveriam ser
definidas áreas prioritárias para o aproveitamento do recurso. Na delimitação das áreas com
potencial mineiro deverão ser considerados factores que condicionem essa actividade, tais como
proximidade a zonas urbanas, vias e infraestruturas várias, aspectos paisagísticos, ou outros factores
ambientais.

No que respeita os granitos, são numerosos os afloramentos que ocorrem a nível nacional e que
podem ser aproveitados como rocha ornamental, exemplo dos localizados nas províncias da Huíla e
Namibe.

Relativamente aos mármores, nas numerosas manchas precâmbricas cartografadas em várias


regiões de Angola têm sido assinaladas formações de calcário cristalino, susceptíveis de valorização
como rochas ornamentais. Algumas das jazidas foram estudadas no sentido do seu aproveitamento
como rochas ornamentais, tendo mesmo sido objecto de exploração, no entanto a maioria não
mereceu ainda a realização de estudos de avaliação das suas potencialidades para
aproveitamento.

As regiões do Namíbe onde se localizam algumas dessas explorações e ocorrências mais estudadas
são as serras da Lua, Uimba, Hapa, Picona e Chitovângua. Embora cada uma destas zonas tenha
características particulares e diferentes condições de exploração e transporte, existe um padrão
comum que passa pela sua integração no Complexo Xisto-Quartzítico do Sul de Angola. Este
complexo é constituído por níveis de quartzitos, anfibolitos e outras rochas xistosas e calcários
cristalinos, sendo frequentemente interceptado por filões de doleritos, aplitos e lamprófitos com
implicações negativas na qualidade do mármore, dado que interrompem a sua continuidade e
inutilizam-no junto aos pontos de contacto, como consequência dos fenómenos de metamorfismo.
Decorrente da sua origem estes calcários cristalinos não possuem uma coloração uniforme. Ao lado

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de mármores brancos, de excepcional pureza, podem ocorrer outros, onde os minerais de


metamorfismo atingem, por vezes, elevadas proporções condenando assim o seu aproveitamento
industrial. De qualquer forma, uma planificação adequada da lavra e o recurso a sondagens
minuciosas poderá obviar este problema, permitindo uma exploração selectiva.

Apesar da preponderância da Província do Namíbe, o conhecimento geológico regista um


conjunto de outras ocorrências pelas províncias de Luanda, Uige e Cuanza-Norte.

Com base nas informações recolhidas de algumas Direcções Provinciais de Geologia e Minas,
apresentam-se no Quadro 3 e Gráfico 2, as principais explorações licenciadas e actualmente em
actividade, tanto para o subsector de rochas ornamentais como para o subsector de rochas
industriais, tendo em vista o seu relevante interesse para a economia nacional e provincial.

Quadro 3: Número de pedreiras licenciadas e em funcionamento

Nº PEDREIRAS LICENCIADAS E EM ACTIVIDADE

Rocha
Província Rochas e minerais industriais
ornamental

Malange 8
Huíla 8 13
Benguela 1 17
Cunene 9
Cuanza Sul 2
Cuanza Norte 1 17
Lunda Norte 8
Lunda Sul 1 4
Namibe 3 2
Bié 10
Uíge s.d. s.d.
Zaire s.d. s.d.
Cabinda s.d. s.d.
Luanda s.d. s.d.
TOTAL 14 90
s.d. sem dados até ao momento
Fonte: Direcções Provinciais de Geologia e Minas

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Gráfico 2: Número de pedreiras licenciadas e em actividade.

25

20

15

10

Rocha ornamental Rochas e minerais industriais

Importa referir que muitas empresas do sector mineiro apesar de possuírem títulos de prospecção e
exploração outorgados pelo Ministério de Geologia e Minas, não estão em funcionamento. Esta
situação é verdadeiramente inquietante para as autoridades, conduzindo a uma reflexão em torno
da eliminação de situações de monopólio empresarial bem como a uma uniformização das
parcelas, fixando limites para a dimensão de cada concessão.

Sal-gema

O sal-gema é, de há muito, conhecido na região da Quiçama, onde sempre foi e continua a ser
aproveitado pela população local. Citam-se as ocorrências mais conhecidas: Morro Tuenza e
Sanza. Surgiram por fenómenos de diapirismo que trouxeram á superfície blocos de uma possante
camada de sal.

3.5.3 Recursos Energéticos

Petróleo e Gás Natural

Embora a história do petróleo de Angola remonte às primeiras décadas do século XX, a sua
produção efectiva se iniciasse em 1955, com a perfuração de um poço terrestre pela empresa
Petrofina, na bacia do Kwanza próximo à capital, Luanda.

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A produção comercial no mar teve o seu início em 1968, no enclave de Cabinda, com a empresa
Cabinda Gulf Oil Company a extrair em média 30.000 barris/dia, após um período de 6 anos de
prospecção sísmica ao longo da costa.

Essas áreas, desde a região de Cabinda até o litoral próximo a Luanda, concentram o grande
potencial petrolífero angolano,contendo a maior parte das reservas conhecidas de
hidrocarbonetos. De modo geral, o petróleo angolano está distribuído ao longo das três principais
bacias sedimentares costeiras: bacia do Congo (engloba Cabinda), bacia do Kwanza e bacia de
Namibe.

Essas bacias pertencem à margem passiva do Atlântico Sul, no lado Ocidental da África, e a sua
origem está directamente relacionada com os processos de fracturamento do Pangeia (super-
continente formado no final Paleozóico, resultante da junção de quase todas as terras emersas
então existentes) e separação das placas tectónicas Sul-Americana e Africana, durante o
Cretáceo, há aproximadamente 120 milhões de anos.

As bacias marginais do Atlântico Sul, tanto do lado africano quanto do sul-americano, constituem
uma das grandes regiões petrolíferas do globo, contendo volumosas reservas, principalmente em
mar profundo, ainda pouco exploradas.

Do ponto de vista geológico, as principais rochas que servem de reservatórios de petróleo são do
Cretáceo, constituídas em sedimentos predominantemente marinhos e lacustres, tais como arenitos,
calcários ou calcoarenitos.

Na bacia do Congo (Cabinda), os principais campos produtores encontram-se nas formações Toca
(carbonatos), Loeme e Pinda (carbonatos marinhos, ao qual pertence também o importante
campo de Kokongo, de águas profundas).

Na bacia do Kwanza destacam-se as formações cretácicas de Dondo, Binga e Tuenza (carbonatos)


e a formação Cuvo (arenitos e carbonatos). A bacia de Namibe constituída por cinco unidades
litoestratigráficas, predominantemente areníticas, sílticas e argilosas, está actualmente a ser
estudada em detalhe.

O país produz petróleo através de concessões on-shore e off-shore, atingindo actualmente uma
produção de petróleo bruto, estimados em de 1.750 milhões barris/dia, colocando deste modo,
Angola como o 2º maior produtor de petróleo em África (Agencia Angola Press, 2013).

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Associado à produção de petróleo está o aproveitamento do gás que, após processamento são
extraídos para comercialização o gás natural e liquefeitos do gás natural. Estima-se que, a fábrica
de processamento do gás natural liquefeito localizada no Soyo, na província de Cabinda irá
processar e comercializar 5.2 milhões de toneladas/ano

Carvões

As ocorrências de substâncias da série dos carvões, que merecem referência, embora ainda
insuficientemente estudadas, são a linhite e a turfa.

A linhite ocorre na zona de Cabo Ledo, sob a forma de finos leitos de substância carborosa
intercalada em calcários cretácicos. No entanto a sua possança é tão insignificante (inferior a 5
cm), que a ocorrência não revela qualquer interesse para exploração. Já junto ao rio Lungué-
Bungo, na província de Benguela, ocorrem depósitos de linhite de extensão considerável, tratando-
se de um carvão estratificado, a pequena profundidade, em camadas arenosas do sistema do
Kalahari. Além destas, existem ainda algumas ocorrências, que importa referir, localizadas na região
do Alto Zambeze e na província do Kuando Kubango.

Foi identificado um depósito de turfa nas proximidades de Bom Jesus, a Sudeste de Catete, na
província de Luanda. Dado o baixo poder calorífico deste tipo de combustível, não se afigura que
possa vir a ter interesse de económico.

3.5.4 Recursos Hidrogeológicos

Águas minerais e medicinais

De acordo com a legislação angolana, actualmente em vigor, as águas minero-medicinais são


provenientes de fontes e reservas naturais, que possuem elementos físico-químicos distintos dos das
águas comuns, com características que lhes conferem propriedades terapêuticas ou efeitos
especialmente favoráveis à saúde humana.

Estas águas são geralmente de circulação profunda e/ou de circuito hidrogeológico longo
independentemente da temperatura que apresentam na emergência. O seu arrefecimento deve-
se à mistura com águas frias ou à perda de calor por condução térmica associada a fenómenos de
convecção.

68
Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hidricos, mar e zonas costeiras, conservação e
biodiversidade

As nascentes de águas minerais ocorrem associadas a falhas activas, mas não se situam
necessariamente sobre o acidente tectónico principal, mas frequentemente em nós tectónicos,
normalmente transversais, que favorecem a abertura de fracturas e facilitam a circulação das
águas minerais.

Apesar do incipiente grau de conhecimento dos recursos geotécnicos, vale a pena referir que o
país possuí um potencial geotérmico evidenciado pelas ocorrências com temperaturas superiores a
200°C, com destaque para as províncias do Namibe, Huambo e Kwanza Sul.

Com base na Carta de Recursos Minerais de Angola, foi possível elaborar a figura seguinte
representando o inventário das nascentes de águas minerais e medicinais a nível nacional.

Figura 7: Inventário das nascentes de águas minerais e medicinais.

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Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hidricos, mar e zonas costeiras, conservação e
biodiversidade

3.6 CARACTERIZAÇÃO DA INDÚSTRIA MINEIRA

A indústria mineira, representa uma das principais estratégicas da economia nacional e uma
importante plataforma de desenvolvimento económico em virtude das suas potencialidades,
sobretudo as relacionadas com o sector dos diamantes e do petróleo, de maior riqueza e
amplamente explorados no país.

A produção de outros minerais como o ferro, o cobre, o gesso, os materiais de construção, as rochas
ornamentais e as rochas industriais assumem cada vez mais um papel relevante para a economia
do país. No entanto, existem outros recursos minerais subexplorados, dos quais se destacam o berílio,
a argila, o ouro, as micas, o níquel, o quartzo, o tungesténio, o vanadium, o volfrâmio.

O Ministério de Geologia e Minas (MGM) tutela e regula toda a actividade geológico-mineira,


designadamente, o acesso e o exercício dos direitos e deveres relacionados com a investigação
geológica, a descoberta, caracterização, avaliação, exploração, comercialização, uso e
aproveitamento dos recursos minerais existentes no solo, no subsolo, nas águas territoriais, na
plataforma continental e na zona económica exclusiva.

Tutela, igualmente toda a actividade diamantífera desde a prospecção, pesquisa, exploração,


lapidação e comercialização, e é responsável pela coordenação da certificação do Processo de
Kimberly (Kimberley Process Certification Scheme). é um Processo internacional de certificação da
origem de diamantes, a fim de evitar a compra de pedras originárias de áreas de conflito.

A ENDIAMA, empresa nacional de diamantes de Angola é a concessionária nacional dos direitos de


mineração de diamantes em todo o território nacional.

A sociedade nacional de combustíveis de Angola (Sonangol) é a responsável pela administração e


exploração do petróleo e gás natural em Angola.

Como já foi referido anteriormente, a actividade da indústria mineira é um dos sectores mais
importantes para a economia do país. Este sector pode trazer várias contribuições, de entre as quais
se destacam: os lucros que as empresas controladas pelo Estado têm, o imposto mineiro fixo e as
rendas de superfície, impostos aduaneiros, selos e emolumentos pagos para a obtenção das
licenças de prospecção e exploração, impostos de produção e de rendimento e dividendos.

Para além destes benefícios financeiros directos importa ainda referir a contribuição em divisas para
o país, já que muita da matéria-prima extraída é exportada para o estrangeiro. Em termos de

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Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hidricos, mar e zonas costeiras, conservação e
biodiversidade

infraestruturas, a indústria mineira também tem um forte contributo já que ajuda ao desenvolvimento
de áreas como a energia, vias de comunicação e transportes, comunicações e água.

Actualmente, o sector da indústria mineira, nomeadamente o sub-sector dos diamantes, está


integrado entre os sectores prioritários da actividade económica, definida no Plano Nacional de
Desenvolvimento “Angola 2025”. Aliás, importantes acções começaram já a ser implementadas,
como é o caso do Plano Nacional de Geologia que propõe, entre outras medidas, o levantamento
geológico de todo o território, bem como a reactivação de antigos locais de exploração mineira,
como é exemplo o projecto de Cassinga – exploração de ferro na Jamba mineira.

No que se refere ao petróleo, foram descobertos em águas profundas ao largo do litoral angolano
mais de 8 biliões de barris de petróleo durante a última década, tornando Angola numa das zonas
de exploração petrolífera mais bem sucedidas do mundo e uma das mais procuradas pelas
empresas petrolíferas. As bacias sedimentares costeiras de petróleo em exploração situam-se ao
longo da costa de Cabinda, do Zaire e do Bengo. As reservas de petróleo existentes situam-se nos 8
mil milhões de barris. Há um potencial elevado de existência de jazida ao longo da costa de
Benguela, e Namibe actualmente em fase de prospecção.

Angola é membro da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP). Tem a sua
produção em espaço onshore e offshore, sendo o segundo maior produtor de petróleo em África
com uma produção de 1.750 milhões barris/dia (Agencia Angola Press, 2013).

As companhias petrolíferas internacionais que operam em território nacional são a BP, a Chevron, a
Eni, a Exxon Mobil Corp (norte-americanas), e a Total (francesa). Actualmente existe apenas uma
refinaria no país, localizada em Luanda, no entanto está em construção a refinaria do Lobito, cuja
conclusão está prevista para 2018, com uma produção estimada de 200.000 barris/dia.

No que diz respeito à indústria de hidrocarbonetos, a empresa Angola LNG é o maior produtor de
(gás natural liquefeito), que tem como objectivo o aproveitamento do gás associado à produção
de petróleo. Os seus accionistas são a Sonangol (22,8%), a Chevron (36,4 %), a BP (13,6%), a Eni
(13,6%) e a Total (13,6%).

A indústria diamantífera em Angola apresentou uma produção industrial de 8.330.096 quilates no


ano 2012,sendo considerado o quarto maior produtor de diamantes do mundo depois do Botswana,
da Rússia e da África do Sul (ENDIAMA, 2014). No entanto, a sua contribuição para o PIB foi menos
importante do que a da indústria petrolífera. Com efeito cerca de um terço da produção dos

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Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hidricos, mar e zonas costeiras, conservação e
biodiversidade

diamantes tem sido vendida através de redes de contrabando, o que diminui ainda mais a receita
fiscal daí proveniente.

Contudo, comparativamente com a indústria petrolífera, indústria diamantífera gera muito


emprego, principalmente nas minas informais ou artesanais, onde se calcula que trabalhem mais de
200.000 mineiros garimpeiros.

A exploração ilegal faz com que o impacto ambiental da exploração de diamantes seja
considerável. Com efeito, na maior parte das situações verifica-se que as condições iniciais ou a
melhoria da área após a exploração não é efectuada. Como resultado surgem graves danos
ambientais causados principalmente pela alteração dos cursos de água e pelas grandes extensões
de terra revolvida sem qualquer planeamento e aproveitamento.

Para combater estes danos, o Estado procedeu à implementação do projecto de exploração


artesanal de diamantes que apresenta os seguintes objectivos: 1) mitigar os focos de migração
ilegal nas fronteiras entre Angola e a República Democrática do Congo, 2) integrar e transformar os
garimpeiros em pequenos empresários e, 3) passar a experiência organizacional de Angola no
quadro do Processo de Kimberly.

Como já foi referido anteriormente, a totalidade da produção de diamantes provém da exploração


das minas de diamantes localizadas nas províncias de Lunda Norte e Lunda Sul.

A exploração de ferro tem uma longa tradição tendo sido um dos minérios mais importantes da
economia nacional durante um largo período. Desde a década de 1950 até 1975, as minas de ferro
existiam nas províncias de Malange, Bié, Huambo, e Huíla, e a produção nos últimos anos rondava
os 6 M/ton por ano. A capacidade da mina de Cassinga, última a cessar operações em 1975, era
de 1.1 M/ton por ano. Como referido anteriormente, esta mina foi reactivada para exploração de
ferro. Além do minério ferro, espera-se que sejam também explorados ouro e manganés. Por último,
refere-se que está concluída a infraestrutura da linha de caminhos-de-ferro do Namibe, que será
utilizada na expedição do minério de Cassinga até ao porto do Namibe.

No que diz respeito à exploração do cobre, e apesar das várias ocorrências a nível nacional,
nomeadamente na província do Uíge, actualmente não existem activas explorações deste minério.
No entanto, importa salientar que dadas as potencialidades do cobre na região de Mavoio, na
província do Uíge, está actualmente em curso (em fase de prospecção) o projecto de Mavoio para
exploração de minas de cobre.

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Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hidricos, mar e zonas costeiras, conservação e
biodiversidade

No caso dos recursos geológicos para materiais de construção como o gesso (destacando-se a
fábrica de gesso do Sumbe, na província de Kwanza Sul), asfaltites, rochas ornamentais (onde
sobressaem os anortositos da Huíla, mundialmente reconhecidos e os mármores do Namibe), assim
como as designadas rochas industriais, com que se produzem britas, cimento e outros materiais
indispensáveis à construção civil, o território nacional apresenta vastas áreas potenciais,
nomeadamente no Noroeste, nas províncias do Zaire e Cabinda (exploração de fosfatos), e no
Sudoeste, na província de Kwanza Sul (exploração de quartzos).

Ainda a respeito dos recursos minerais utilizados na construção civil, importa referir que o cimento
produzido em Angola provém de duas companhias, a companhia de cimento do Lobito e a Nova
Cimangola S.A., a primeira fica localizada no Lobito, província de Benguela, e a segunda em
Luanda.

De acordo com a recolha de informação nas várias Direcções Provinciais de Geologia e Minas
constata-se que a maioria das pedreiras activas, dizem respeito à exploração de rochas e minerais
industriais, nomeadamente a exploração de inertes provenientes de recursos minerais como o
granito, calcário, gesso, arenitos, areias e argilas.

Além destas existe também a exploração de rocha ornamental, como o granito, mármore a
anortosito. Ainda de acordo com a mesma fonte, as estatísticas mostram um crescimento no
número de pedidos de novos títulos de exploração de pedreiras, o que indica que a actividade
deste segmento de indústria está em expansão.

Mais se refere, a exploração de recursos metálicos é praticamente inexistente, observando-se que


apenas existe actualmente a exploração de ferro e cobre, respectivamente nas províncias da Huíla
e Benguela. Apesar de constar no cadastro mineiro extracção de recursos hidrogeológicos, os
mesmos não se encontram em funcionamento. No entanto, é de conhecimento que a nível
nacional existem explorações de águas minerais, de nascente e minero medicinais.

De um modo geral, Angola apresenta um potencial elevado no que diz respeito ao sector da
indústria mineira, havendo ainda, no entanto, um longo caminho a percorrer para que este sector
(excluindo a indústria petrolífera e diamantífera) assuma um papel relevante no desenvolvimento do
país. Os primeiros passos passam pela confirmação dos locais potenciais para explorar e pelo
conhecimento de teores, tamanho das reservas, facilidade de extracção, aplicações e situação
dos mercados internos e externos.

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Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hidricos, mar e zonas costeiras, conservação e
biodiversidade

3.7 GESTÃO DOS RECURSOS GEOLÓGICOS

De seguida descrevem-se os principais constrangimentos aferidos no âmbito da análise realizada.

▪ Ausência de dados cartográficos

A falta de cartografia geológica actualizada que permita caracterizar e quantificar as reservas de


minerais existentes, induzem a uma gestão pouco eficiente dos recursos geológicos, tendo como
consequência o aproveitamento insatisfatório das poucas reservas. No entanto, sabe-se que a
cobertura geológica actual do país é muito baixa (31% do país tem sido geologicamente
mapeado), existindo 28 mapas geológicos à escala 1:100 000, um à escala 1:25 000, 14 à escala
1:250 000 e um à escala 1:1 000 000, todos publicados com a respectiva notícia explicativa.

Refere-se ainda a existência do mapa de Recursos Minerais à escala 1:1.000.000 e relatório


publicado. Além destes, existem ainda 14 mapas à escala 1:250 000 e 25 mapas à escala 1:100 000,
mas que não foram publicados.

▪ Precariedade das ligações viárias, ferroviárias e redes de abastecimento de energia


e água

A precariedade da rede viária nacional, que por si só implicam investimentos avultados, impedem o
transporte do material desde os centros de exploração até às zonas de comercialização. A
deterioração ou inexistência de ligações viárias e ferroviárias condicionam o crescimento e
desenvolvimento do sector industrial mineiro.

No que se refere à precariedade do sistema de abastecimento água, e rede eléctrica, apresentam


interrupções no serviço, o que implica o recurso a geradores e camiões cisterna para transporte de
água, reduzindo a produtividade e aumentado os custos de exploração.

▪ Falta de quadros técnicos especializados e de mão-de-obra qualificada

A inexistência de quadros técnicos especializados e de mão-de-obra qualificada é um factor crítico


ao desenvolvimento do sector mineiro, conduzindo entre outras situações, ao mau aproveitamento
das reservas mineiras existentes, à aplicação de técnicas de exploração inadequadas e ao uso
impróprio dos equipamentos.

▪ Inexistência de indústria transformadora e desactualização da maquinaria e


equipamentos

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Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hidricos, mar e zonas costeiras, conservação e
biodiversidade

A maioria dos recursos minerais explorados sofrem processos de beneficiação após a sua extracção.
O facto de não haver indústrias transformadoras condiciona as opções do mercado, induz a venda
do minério em bruto e a diminuição do seu valor comercial.

▪ Fiscalização e inspecção inadequadas das actividades geológico-mineiras

A fiscalização incipiente, conduz, ao incumprimento da legislação em vigor, no que se refere, à


validade dos títulos de direitos mineiros, às normas de segurança e à protecção do ambiente. No
caso particular da indústria diamantífera, a falta de fiscalização induz ao aumento de garimpagem
e do roubo de diamantes dentro das áreas de concessão, factores que impõem graves
constragimentos ao desenvolvimento deste sector.

▪ Dificuldade e morosidade na obtenção de concessão de títulos de direitos mineiros


por parte das empresas privadas

A pouca clarificação das competências atribuídas à intervenção dos órgãos locais do Estado,
nomeadamente as Direcções Provinciais de Geologia e Minas, as autoridades Locais e as
Administrações Municipais, dificultam a concessão de títulos de direitos mineiros.

▪ Existência de áreas de concessão por desminar

A existência de áreas por desminar conduz, entre outras situações, à falta de investimentos privados
e consequentemente paralisação do sector.

Seguidamente estruturam-se algumas medidas consideradas relevantes para o tratamento e


inclusão destas matérias no âmbito da elaboração de instrumentos de ordenamento do território,
outras de grande relevância para desenvolvimento do sector já se encontram einumeradas na
literatura consultada, e que não serão descritas por extrapolarem o propósito do presente relatório.

Medidas de âmbito Nacional

▪ Delimitar e regulamentar as zonas de reserva mineira a nível nacional;

▪ Executar programas básicos, visando a cartografia temática de cunho geológico,


geotécnico e metalogénico;

▪ Dar continuidade à implementação do Programa Nacional de Geologia (Planageo),


com destaque para o levantamento geológico do país, com vista à definição de
estratégias integradas de gestão dos recursos minerais no que diz respeito à sua

75
Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hidricos, mar e zonas costeiras, conservação e
biodiversidade

prospecção, avaliação, exploração, transformação e consequente


comercialização;

▪ Inventariação e requalificação do património geológico e mineiro com interesse


científico;

▪ Inventariação dos recursos hidrogeológicos para preservação e valorização;

▪ Elaborar regulamentação própria para o tipo de uso de solos em zonas de existência


de aquíferos importantes;

▪ Recuperar o sistema de informação geológico-mineira e modernizar o cadastro


mineiro;

▪ Fiscalizar e controlar de modo eficiente as actividades geológico-mineiras;

▪ Fomentar e restringir a instalação de fontes poluidoras em zonas próximas de


potenciais recursos hidrominerais, geotérmicos e águas de nascente, definindo
regras de usos dos solos nas zonas de influência das ocorrências definidas como
áreas potenciais de recursos hidrogeológicos;;

▪ Criar um quadro regulamentar apropriado ao aproveitamento dos recursos


geotérmicos, nomeadamente as águas termais;

Medidas de âmbito Nacional

▪ Fomentar a elaboração de Planos Sectoriais de Ordenamento do Sector Mineiro


com a identificação dos polos de exploração dos recursos minerais existentes;

▪ Concretizar os projectos novos e em curso no sector minero siderúrgico;

▪ Reforço dos meios de fiscalização da actividade das empresas do sector, através do


reforço dos quadros técnicos dos organismos provinciais e centrais, designadamente
quanto ao respeito pelos planos de pedreira aprovados, pelas normas de higiene e
segurança e pelos planos de recuperação paisagística;

▪ Incentivar e reactivar antigos complexos mineiros, como é o caso do projecto de


Cassinga;

▪ Promover a reactivação dos projectos: Facaúma, Lucapa, Luarica e Camuazanza.

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Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hidricos, mar e zonas costeiras, conservação e
biodiversidade

De âmbito Municipal

▪ Delimitação e definição de áreas cativas (de relevante interesse para a economia


da região), como Espaços Mineiros nos Planos Diretores Municipais;

▪ Fomentar a concessão e licenciamento das empresas de exploração mineira e a


formalização da exploração artesanal;

▪ Implementação de um plano de fiscalização que defina as actuações das equipas


de fiscalização dos recursos geológicos de meios adequados ao cumprimento pleno
das suas obrigações, garantindo deste modo, a exploração sustentável dos recursos
minerais, o combate à exploração ilegal e a preservação do ambiente.

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Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade

4. RECURSOS HÍDRICOS

A análise efetuada no âmbito dos Recursos Hídricos em Angola (Superficiais e Subterrâneos) teve em
consideração, de entre outros documentos referenciados, o constante da Agenda Nacional para
2025 (Angola 2025 – Um País de Futuro), do Programa do Governo para a legislatura 2012-2017 e o
Plano Nacional da Água, para além das informações recolhidas no âmbito das Dinâmicas de Grupo
realizadas.

Pretende-se, desta forma, sistematizar a informação relevante e fundamental no âmbito dos


Recursos Hídricos, procurando identificar a situação actual de Angola nesta temática, principais
constrangimentos neste sector e potencialidades de desenvolvimento, de forma a ser possível
assegurar uma evolução positiva da gestão dos Recursos Hídricos do país, numa perspectiva de
sustentabilidade técnica, económica e ambiental. Sempre que possível, foram caracterizados os
principais aspectos a nível provincial.

4.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS

A configuração hidrográfica de Angola tem uma estreita ligação com o seu relevo uma vez que os
rios têm como origem as zonas planálticas e montanhosas seguindo depois para as regiões de mais
baixo-relevo. Os seus leitos são, na sua maioria, irregulares não faltando os rápidos e as inclinações,
alargando-se nas zonas costeiras. Existem quatro vertentes de escoamento das águas:

1. Vertente atlântica (rios que correm para Oeste), com os rios Chiluango, Zaire ou Congo,
o rio Bengo, Kwanza (Luando e Lucala), o rio Queve, o Catumbela e o rio Cunene;

2. Vertente do Zaire (rios que correm para Norte), com os rios Cuango, Cassai, e seus
afluentes, Cuilo, Cambo, Lui, Tchicapa, Luembe e Luachimo;

3. Vertente do Zambeze (rios que correm para Leste), à qual pertencem os rios tais como os
afluentes do Zambeze, o Luena, Lungué-Bungo e o Cuando;

4. Vertente do Kalahari (rios que correm para Sul), com muitos rios de regime intermitente
de onde se destacam os rios Cubango e os afluentes Cuchi, Cuebe e o Cuito.

As principais bacias hidrográficas são (de Norte para Sul e de Oeste para Leste) as dos rios Zaire,
Mbridge, Cuanza (a maior), Queve, Cunene e Cuando. O principal lago existente em território
angolano é o lago Dilolo, situado na província de Moxico, seguido das lagoas do Panguila e da
Quilunda, na província de Luanda.

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Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade,
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

Existem várias quedas de água e rápidos em rios como Mbridge, Cambambe, Cuanza, Ruacaná.

Figura 8: Principais Bacias Hidrográficas de Angola

Fonte: Própria

O maior e o mais navegável rio de Angola é o Cuanza, com cerca de 1.000 quilómetros de
extensão e cujo afluente, o Lucala, forma as célebres quedas de Kalandula, de impressionante
beleza e com mais de 100 metros de altura. Para além destas quedas existem outras e diversos
rápidos noutros rios, como as do Mbridge, Chafinda no rio Luena, do Loge, etc.

O país possui 77 bacias hidrográficas, sendo 47 principais e as restantes litorâneas. As bacias do


Zaire, Zambeze e Cubango são sistemas de rios internacionais importantes com grande volume de
água. As terras altas do Huambo, Bié e Moxico constituem algumas das nascentes mais importantes,
e alguns dos rios desaguam no oceano Atlântico (Zaire, Cuanza e Cunene) e outros atravessam

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Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade

países vizinhos para chegarem ao oceano Índico (rios Zambeze, Cuando e Cubango). A formação
de água interior mais importante está na Província do Moxico e contém o maior lago do país. Vários
lagos mais pequenos cobrem uma superfície de 2.000 km 2.

Desta forma, esta riqueza hidrográfica reflete o enorme potencial hídrico de Angola, representando,
em conjunto com o Congo-Brazzaville e a República Democrática do Congo, mais de metade dos
recursos hídricos do continente africano.

Desde 2004, através do “Programa de Desenvolvimento do Sector das Águas”, têm-se realizando
melhorias no sector, nomeadamente através do sub-programa “Água para Todos” (USD 650 milhões)
que pretende melhorar o abastecimento de água em 140 municípios. O potencial hídrico de Angola
deverá também ser potenciado na exploração da energia hidroeléctrica (em 2006, foi aproveitado
apenas cerca de 2% do potencial hídrico de Angola para produção de energia hidroeléctrica).

4.2 ENQUADRAMENTO LEGAL

O quadro institucional do sector da água em Angola é representado pelo Sector Público


Administrativo e pelo Sector Público Empresarial.

No Sector Público Administrativo, a Secretaria de Estado das Águas é o órgão do Governo que
tutela o sector da água, sendo responsável pelo desenvolvimento de políticas, planificação,
coordenação, supervisão e controlo das actividades relativas ao aproveitamento e utilização dos
recursos hídricos nacionais. A Direcção Nacional de Águas (DNA) é o órgão responsável, na
especialidade, pela coordenação e desenvolvimento dos projectos do sector da água tendo um
papel determinante na análise, aprovação e acompanhamento dos investimentos
correspondentes.

O domínio público empresarial do sector das Águas é representado pela Empresa Pública de Águas
de Luanda – EPAL E.P., que tem como principal objectivo a operação e manutenção dos sistemas
de captação, tratamento, adução e distribuição de águas, bem como a realização de estudos e
de projectos, em regime de serviço público. Refira-se que estas actividades são de reserva relativa
do Estado, mas podem ser exercidas por empresas ou entidades não integradas no sector público
mediante contratos de concessão.

Existem outras instituições relacionadas com o sector da água e saneamento, nomeadamente, o


Ministério da Energia (exploração hidroeléctrica), o Ministério da Agricultura (promoção de sistemas
de irrigação), o Ministério do Ambiente (gestão do programa ambiental), o Ministério da Saúde

80
Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade,
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

(estabelecimento de padrões de qualidade da água e promoção do saneamento) e o Ministério


da Educação (promoção de infra-estruturas de saneamento nas escolas).

Em termos legislativos, os recursos hídricos em Angola são enquadrados através da Lei das Águas
(Lei n.º 06/02, de 21 de Junho), a qual define os recursos hídricos do país, estabelecendo que os
mesmos são do domínio público, fixa os princípios gerais do seu aproveitamento (utilização racional
e a disponibilidade da água para diversos fins; o saneamento adequado das águas residuais; a
adopção da bacia hidrográfica como unidade geográfica de gestão dos recursos hídricos, a
participação dos utilizadores) bem como as prioridades do seu uso. Através desta Lei, o MINEA
passou a administrar também as águas subterrâneas que durante muitos anos eram da
competência do MINGM. O diploma contempla a criação de um sistema descentralizado de
controlo do uso e de protecção dos recursos hídricos.

A Lei de Águas estabelece que as zonas adjacentes às nascentes, captações licenciadas, margens
de lagos artificiais estão sujeitas ao regime das áreas de protecção definido na legislação de Terras
(Lei n.º 9/2004 de 9 de Novembro). Por outro lado impõe que todas as obras hidráulicas sejam
sujeitas a AIA e interdita quaisquer actividades que envolvam perigo de poluição ou degradação
da água e qualquer alteração ao regime hídrico que possa pôr em causa a saúde, os recursos
naturais, o ambiente ou a segurança e a soberania nacional. A lei materializa o princípio do
poluidor-pagador estabelecendo expressamente a obrigação de reparação dos danos causados e
define o regime de multas e sanções acessórias.

Os regulamentos da utilização da água, das normas nacionais de qualidade da água, da descarga


de águas residuais e das actividades susceptíveis de provocar poluição ou degradação do corpo
de água, bem como a criação do Conselho Nacional da Água não foram ainda publicados.

A nível da província o sector é administrado pelas Direcções Provinciais da Água que dependem do
governo da província.

Outra legislação no domínio dos recursos hídricos é a seguinte:

▪ Decreto Presidencial nº 9/13 de 31 de Janeiro que aprova o Programa Nacional


Estratégico de Água (PNEA);

▪ Decreto Presidencial nº 141/12 de 21 de Junho que regula a prevenção e controlo da


poluição da água;

▪ Decreto Presidencial nº 261/11 de 6 de Outubro que regula a qualidade da água;

81
Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade

▪ Decreto Presidencial nº 253/10 de 16 de Novembro que cria o Instituto Nacional de


Recursos Hídricos (INARH);

▪ Lei nº14/10 de 14 de Julho sobre as zonas marítimas sob jurisdição de Angola;

▪ Decreto Executivo Conjunto nº 35/03 de 28 de Julho sobre o Ministério de Energia e


Águas;

▪ Decreto-Lei nº 3/00 de 17 de Março que estabelece o estatuto orgânico do Ministério da


Energia e Águas;

▪ Lei nº 9/98 de 18 de Setembro sobre o Domínio Portuário.

▪ Rectificação nº 9/12 de 24 de Agosto ao Decreto Presidencial nº 141/12 que regula a


prevenção e controlo da poluição da água;

▪ Despacho Presidencial nº 97/12 de 9 de Agosto que cria o Grupo Técnico afecto à


Comissão Interministerial para os Acordos sobre as Águas Territoriais;

▪ Despacho Presidencial nº 14/12 de 16 de Fevereiro que cria a Comissão Multissectorial de


Desenvolvimento Sustentável;

▪ Resolução nº 6/2011 de 11 de Maio que aprova o Estatuto Orgânico da Agência de


desenvolvimento do vale do Zambeze;

▪ Decreto executivo nº 163/10 de 29 de Outubro que regula o Gabinete de Inspecção do


Ministério da Energia e Águas (GI);

▪ Decreto presidencial nº 77/10 de 24 de Maio, onde se aprova o Estatuto Orgânico do


Ministério da Energia e Águas

4.3 CARATERIZAÇÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS

O país possui uma rede hidrográfica rica e diversificada. A sua posição geográfica proporciona uma
grande potencialidade em termos de recursos hídricos. O escoamento superficial anual é estimado
em cerca de 140 km3, um dos mais elevados da região da África Austral, enquanto a disponibilidade
potencial de águas subterrâneas de 58 km³/ano, 95% da qual alimenta directamente os rios,
enquanto 5% flúi para o mar (Aquastat – FAO).

Como referido, existem 47 bacias hidrográficas direccionadas para cinco vertentes principais: Zaire
que representa 22%; Atlântico representa 41%; Zambeze que representa 18%; Ocavango que
representa 12%; e Etosha que representa 7%. Na figura seguinte apresentam-se as principais bacias
hidrográficas de Angola.

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Angola tem importância estratégica na região da África Austral em termos de cursos de água
partilhados. Os rios internacionais Zaire (ou Congo) e Zambeze constituem dois dos cursos de água
mais importantes do continente africano. No caso do Zambeze, a bacia hidrográfica abrange a
Namíbia, Botswana, Zimbabué e Moçambique a jusante de Angola. O rio Cubango com o tributo
do Cuito origina o Okavango na Namíbia que tem o seu delta no Botswana de extrema importância
ecológica e económica e o rio Cunene é o único curso de água perene que corre ao longo da
fronteira Nnoroeste da Namíbia.

O país tem vindo a valorizar a gestão dos cursos de água partilhados e estabeleceu o Gabinete de
Administração da Bacia Hidrográfica do Rio Cunene (GABHIC), que procede à gestão integrada
dos recursos hídricos da Bacia Hidrográfica do Cunene e das Bacias do Sudoeste de Angola (como
institui o Despacho Presidencial n.º 28/PR/91, de 04 de Novembro).

Desta forma, as bacias hidrográficas mais importantes são constituídas pelos seguintes rios:

 Zaire (ou rio Congo) – possui 4.7 mil Km de comprimento, sendo o 2º maior rio
de África, após o rio Nilo, e o 9º do mundo (nasce nas montanhas do vale do
Rift e atravessa a República Democrática do Congo até chegar a Angola).
Os vales do Rio Zaire constituem zonas de grande potencial agrícola e
florestal, e apresentam uma enorme biodiversidade.

 Zambeze – possui 2.6 mil Km de comprimento, nasce na Zâmbia, passa por


Angola, estabelece a fronteira entre a Zâmbia e o Zimbabué, e atravessa
Moçambique.

Os rios Cubango e Cunene completam o conjunto de rios internacionais de Angola. O rio Cubango
com o tributo do Cuito origina o Okavango na Namíbia que tem o seu delta no Botswana de
extrema importância ecológica e económica e o rio Cunene é o único curso de água perene que
corre ao longo da fronteira Noroeste da Namíbia.

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Figura 9: Principais rios de Angola

Fonte: Ministério do Urbanismo e Ambiente de Angola

Os grandes rios de Angola possuem a sua cabeçeira nos topos planálticos das províncias do
Huambo, Bié e Moxico, escoando parte para o Oceano Atlântico através dos rios Zaire, Cuanza (o
maior e mais navegável rio de Angola) e Cunene; e outra para o Oceano Índico através dos rios
Zambeze, Cuando e Cubango. O rio Cuando, originário da província de Moxico, origina a terceira
maior bacia de Angola. De facto, o potencial hidrográfico de Angola, em conjunto com a
República do Congo e a República Democrática do Congo, representa mais de metade dos
recursos hídricos superficiais do continente africano.

Apresenta-se de seguida uma listagem das bacias hidrográficas ordenadas de acordo com as suas
áreas de drenagem e de acordo com a localização apresentada na Figura 8.

Quadro 4: Área das Bacias Hidrográficas


Bacia Área (km2) Bacia Área (km2)
1 Zaire 285.206 6 Cunene 92.400
2 Cubango 156.122 7 Centro Oeste 89.496
3 Cuanza 152.520 8 Sudoeste 84.327
4 Zambeze 148.377 9 Nordeste Angolano 76.732

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5 Cuando 96.360 10 Cuvelai 52.158

De acordo com o Relatório Económico de Angola (elaborado pela Universidade Católica de


Angola, 2011), a água existente nestes três Estados representa cerca de 60% do continente africano,
sendo Angola um dos principais beneficiados. Ainda segundo aquele relatório, a região angolana,
entre os rios Kwanza e Catumbela (províncias de Malanje, de Bié, de Huambo, de Benguela e de
Kwanza-Norte e Sul) concentram 80% do potencial hídrico inventariado. No Quadro 11 apresentam-
se os valores dos caudais dos principais rios angolanos.

Quadro 5:Caudais dos principais rios de Angola


Caudais Máximo Caudais Mínimo Caudais Médio
Rio
(m3/s) (m3/s) (m3/s)
Cuanza 4.104 133 1.110
Lucala 504 15 113
Cunene 865 39 198
Cubango 1.384 41 228
Queve 761 75 291
Quicombo 184 9 40
Dande 292 9 64
Bengo 150 8 36
Catumbela 1.100 14 153
Cuito 329 90 199
N`Gunza 48 2 11
Chipaca 195 33 69
Cassai 159 36 68
Chiumbe 113 6 19
Quebe 57 13 23
Longa 123 9 42
Cuando 71 3 15

Fonte: Programa de Desenvolvimento do Sector das Águas, Ministério da


Energia e Águas, Direcção Nacional de Águas, Dezembro 2003

Os recursos hídricos em Angola estão sob ameaça de esgotamento e degradação devido às


alterações climáticas, que de entre outras causas se destacam as causas antropogénicas
originadas por um aumento da população. A extensão dos problemas nos recursos hídricos é bem
conhecida por todo o mundo, mas como lidar com esse facto é mais difícil. No entanto, este pode
não ser necessariamente o caso em Angola onde os dados hidrológicos são escassos e a maior
parte dos dados existentes sobre a hidrologia é em grande parte histórica e não até à data. É por
esta razão que Angola enfrenta um desafio na gestão dos recursos hídricos.

O perfil das águas angolanas é largamente deficitária e por este motivo, é difícil definir uma
estratégia de gestão de recursos de água no contexto atual do país. Não obstante a limitação de

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dados e informações, Angola empreendeu uma série de medidas para dinamizar o sector da água
com o objetivo final do desenvolvimento sustentável através de uma série de planos e estratégias,
no seguimento das directrizes das Nações Unidas, sob a categoria de "Sustentabilidade ambiental",
cujo objetivo principal é "reduzir para metade, até 2015, a proporção de pessoas sem acesso
sustentável à água potável e saneamento básico. "

Para além deste facto, o Governo de Angola apresentou um programa para orientar o sector da
água para o período de 2009-2012. Este programa visava criar esforços concertados e ações para
fornecer o acesso da população à água potável em áreas urbanas e rurais. Este programa foi
definido como "Água para Todos" e destinava-se a assegurar que a população tinha acesso à água
para as actividades económicas. Outras medidas de apoio foram estabelecidas sob a forma do
"programa de investimentos dos setores de energia e água" que definiu a expectativa com o ano
de 2016 como prazo o alvo. Este programa destina-se ao melhoramento, reabilitação e expansão
dos sistemas de abastecimento de água doméstica universal com um alvo definido para atingir uma
taxa de cobertura de 100% nas áreas urbanas e 80% nas áreas rurais (REGA, 2012) e periurbano.

Os sectores de utilização de água relevantes são o setor de irrigação que utiliza 60% da água
disponível, seguido de uso doméstico (23%) e indústria (17%) (Banco Mundial 2009a; FAO, 2005; ADF
2007). É por esta razão que a política agrícola, planeamento urbano, investimento e industrial
legislação e políticas tem que ser definidas em conjunto com o setor de água. Há uma forte
dependência de recursos de água de superfície em Angola e usos não consumptivos que estão a
aumentar, especialmente com o recente investimento em esquemas de energia hidrelétrica e
outras áreas de desenvolvimento económico.

4.4 UNIDADES HIDROGRÁFICAS DE ANGOLA

As unidades hidrográficas presentes no território angolado podem dividir-se em 11 regiões, de


acordo com a homogeneização de especificidades geomorfológicas, hidrogeologóficas,
climatológicas e hidrográficas: Cabinda, Congo, Noroeste, Kwanza, Centro-Oeste, Cunene,
Zambeze, Sudoeste, Cuvelai, Cubango e Cuando. No quadro seguinte apresentam-se as regiões e
unidades hidrográficas de Angola.

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Quadro 6: Regiões e Unidades Hidrográficas de Angola

Região hidrográfica Unidade Hidrográfica Área (km2)

Cabinda Cabinda 6 897


Congo Cuango 132 978

Kassai 154 641


Noroeste Noroeste 54 206

Dande 9 829
Bengo 11 502
Cuanza Alto Cuanza 88 830

Médio Cuanza 27 710


Baixo Cuanza 34 706
Centro-Oeste Longa 26 616

Catumbela 20 860
Queve 22 813
Centro-Oeste 18 582
Cunene Alto Cunene 27 983

Médio Cunene 56 399


Baixo Cunene 10 440
Zambeze Zambeze 150 292
Sudoeste Coporolo 16 842

Sudoeste 66 170
Cuvelai Cuvelai 52 566
Cubango Cubango 151 461

Cuando Cuando 108 872


Fonte: Programa Nacional Estratégico Imediato para a Água, Ministério da
Energia e Águas, Instituto Nacional de Recursos Hídricos, 2012

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Figura 10: Regiões e Unidades Hidrográficas de Angola

Fonte: Programa Nacional Estratégico Imediato para a Água, Ministério da


Energia e Águas, Instituto Nacional de Recursos Hídricos, 2012

4.4.1 Recursos Hídricos Superficiais

A hidrologia nacional reflecte os padrões de precipitação e do clima em geral. De modo sintético


apresentam-se de seguida os principais dados de precipitação e escoamento para as 22 unidades
hidrográficas consideradas.

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Como se pode observar no quadro seguinte, a unidade hidrográfica do Kassai apresenta os maiores
valores de precipitação e de escoamento médios anuais, respectivamente 1450 mm e 306 mm. No
entanto, as unidades hidrográficas do Alto Cuanza, Queve, Cuango, Cabinda e Alto Cunene
apresentam igualmente valores bastante elevados de escoamento médio anual, variando entre 294
mm (no Alto Cuanza) e 224 mm (no Alto Cunene).

Quadro 7: Unidades hidrográficas. Dimensão, Precipitação e Escoamento

Precipitação Escoamento
Unidades Área Coeficiente de
Hidrográfica (km2) Média Anual Médio anual Escoamento
(mm) (mm)
Cabinda 6 897 1166 240 0.21
Cuango 132 978 1406 250 0.18

Kassai 154 641 1450 306 0.21

Noroeste 54 206 1102 123 0.11

Dande 9 829 1071 110 0.10

Bengo 11 502 1045 96 0.09

Alto Kwanza 88 830 1316 294 0.22

Médio Kwanza 27 710 1138 168 0.15

Baixo Kwanza 34 706 1048 125 0.12


Longa 26 616 940 112 0.12
Catumbela 20 860 1079 187 0.17
Queve 22 813 1199 255 0.21

Centro Oeste 18 582 997 144 0.14

Zambeze 150 292 1219 207 0.17

Alto Cunene 27 983 1154 224 0.19

Médio Cunene 56 399 809 51 0.06

Baixo Cunene 10 440 412 0 0.00

Coporolo 16 842 852 60 0.07

Sudoeste 66 170 434 4 0.01

Cuvelai 52 566 909 13 0.01

Cubango 151 461 814 105 0.13


Cuando 108 872 703 37 0.05

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Os valores mais baixos de precipitação e escoamento ocorrem no Sul do País, com precipitação
média anual próxima de 400 mm e escoamento médio anual na ordem de 40 mm.

Em quase todo o País a precipitação nos meses de Junho, Julho, Agosto e Setembro é muito
próxima de zero, gerando igualmente escoamentos muito baixos nestes meses. Nas bacias litorais
mais a sul apenas ocorre algum escoamento nos meses de Fevereiro, Março e Abril, ficando os rios
praticamente secos nos restantes meses do ano. Esta situação não acontece nos rios Cunene,
Cuvelai, Cubango e Cuando, que são rios permanentes devido aos caudais gerados a montante;
porém, os afluentes destes rios nos troços de jusante estão secos na maioria dos meses do ano.

4.4.2 Recursos Hídricos Subterrâneos

Em termos de recursos hídricos subterrâneos, é na parte sul e sudoeste do território que existe um
melhor conhecimento hidrológico do país pela existência de uma importante rede de captações
de águas subterrâneas.

A maioria dos recursos hídricos subterrâneos encontra-se no sudoeste do território nacional,


concretamente no Cunene (40%), Namibe (30%) e Huíla (15%) perfazendo um total de 85%, e ainda
em Benguela (7%) e em Cabinda (3%). Nas restantes províncias, o número de captações é bastante
reduzido, embora algumas delas apresentem caudais elevados em leitos aluvionares.

Descrevem-se de seguida as principais formações aquíferas identificadas no território nacional:

Aquíferos de permeabilidade intergranular

São constituídos por formações sedimentares desagregadas e/ou litificadas essencialmente porosas
de extensão e permeabilidade muito variáveis. Inclui depósitos aluvionares muito permeáveis, onde
se podem conseguir caudais por captação de 10 a 100 l/s ou mesmo superiores, e aquíferos
extensos, como as areias do Kalahari do PaleogénicoNeogénico e outros depósitos arenosos
cenozóicos e areníticos cretácicos, de permeabilidade média a baixa.

De acordo com a informação no mapa hidrogeológico de Angola a provável produtividade dos


furos de água subterrânea nas áreas dominadas por sedimentos quaternários ao longo da costa
oeste é estimada em 1 l/s.

O potencial de água subterrânea das rochas mesozoicas ao longo da mesma costa é também
provavelmente baixo. A produtividade média de rochas porosas é estimada em 1 l/s, enquanto

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algumas rochas fissuradas e cársicas cretáceas e terciárias provavelmente têm uma produtividade
maior.

O potencial em água subterrânea das grandes áreas de sedimentos do Mesozoico e do Cenozoico


continental e rochas sedimentares na parte sul e oeste (Kalahari) não é bem conhecido. No mapa
hidrogeológico é atribuída produtividade média por furo de 1 l/s. Alguns dos arenitos,
conglomerados e alguns calcários podem ter uma maior produtividade, e pode ser obtida uma
produtividade máxima de 5 l/s.

Os sedimentos aluvionares recentes ao longo dos rios são definitivamente os melhores aquíferos do
país. No mapa hidrogeológico são reportados caudais de 15 a 50 I/s. Nas maiores planícies
aluvionares compostas por aluviões resultantes da erosão de granitos e de outras rochas ricas em
quartzo, poderão obter-se maiores produtividades com o correto dimensionamento de captações,
que tirem partido da relação entre o rio e o aquífero aluvionar. A maioria destas planícies
aluvionares está cartografada nas zonas baixas dos cursos de água, a menos de uma centena de
quilómetros da costa. É provável que existam faixas aluvionares de materiais mais grosseiros e
permeáveis em zonas do percurso médio a alto dos rios aptas à construção de captações de água
subterrânea muito produtivas. Os mais extensos aquíferos aluvionares encontram-se nas províncias
da Huíla, Benguela, Cuanza Sul, Bengo e Zaire.

Em alguns deltas e partes baixas das planícies aluvionares, a qualidade da água subterrânea é
influenciada pela água salgada. A título de exemplo, a maré no Kwanza pode ser observada a
dezenas de quilómetros a montante da foz.

Os rios das pequenas bacias ao longo da costa secam em períodos de baixa precipitação; a água
subterrânea armazenada nessas circunstâncias é a que resultou da infiltração na estação húmida e
vai progressivamente diminuindo de volume por acção da evapotranspiração real e do
escoamento subterrâneo em direcção ao oceano.

Aquíferos descontínuos em rochas duras

Ocorrem em rochas compactas fracturadas e fissuradas, plutónicas, ultrametamórficas,


metamórficas e vulcânicas do soco pré-câmbrico, do Paleozoico e das intrusões mesozoicas. Nas
zonas superiores superficiais meteorizadas, constituídas por solos residuais porosos podem encontrar-
se unidades aquíferas com algum interesse. Do ponto de vista hidrogeológico, estas rochas
compactas têm um comportamento que é englobado no conceito de rochas duras (hard rock), isto
é, com permeabilidade em geral baixa, onde o escoamento e o armazenamento da água se

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fazem predominantemente nas fracturas e, quando a alteração é significativa, na porosidade


intergranular. A condutividade hidráulica ou permeabilidade por fracturas depende, entre outros
factores, da abertura e do tipo de enchimento. Em meio saturado e em fracturas abertas com
paredes lisas, a velocidade do escoamento é directamente proporcional ao quadrado da abertura,
isto é, a velocidade e o caudal dos escoamentos são muito sensíveis a pequenas variações da
abertura das fracturas. A identificação de estruturas (falhas) abertas é fundamental par o êxito da
pesquisa e captação nestas formações.

No soco pré-câmbrico, existe uma grande variedade de tipos de rochas com propriedades
hidrogeológicas diferentes.

A legenda do mapa hidrogeológico indica a produtividade de 1-3 l/s e uma taxa de sucesso de 50-
70%, mas somente de 30-50% nas rochas de Benguela e do Namibe. No entanto, de acordo com os
poços cartografados naquele mapa, a produtividade mais comum de granitos e gnaisses é menos
que 1 l/s. Segundo Sweco (2005) estes valores correspondem melhor à experiência geral sobre a
produtividade das rochas pré-câmbricas. A maioria dos furos são pouco profundos (15 a 40 m), e
provavelmente a produtividade poderia aumentar se a profundidade fosse maior, por exemplo, de
70 a 100 m.

As rochas básicas, tais como gabros e noritos, dão origem provavelmente aos melhores aquíferos
em rochas duras. No mapa hidrogeológico está expresso que a produtividade dos furos é
frequentemente indicada como sendo de 3-5 l/s com uma taxa de sucesso de 70-80%. As rochas
intrusivas básicas encontram-se tanto na parte norte quanto na parte sul do país.

Verifica-se a existência de grupos de rochas vulcânicas pré-câmbricas que se admite terem uma
produtividade média de 3 l/s. A maior área dessas rochas é encontrada ao longo das fronteiras
entre as províncias do Bengo, Cuanza Norte e Uíge. Identificam-se ainda diques doleríticos espessos
com orientação W-NW / E- S, na parte oeste do país, a sul de Sumbe. Nas mesmas áreas estão
cartografadas zonas de falhas.

Entre as mais antigas rochas pré-câmbricas de origem sedimentar existem alguns poucos grupos que
provavelmente são aquíferos. Incluem-se os quartzitos do orogeno Limpopo-Liberiano e um grupo de
metassedimentos constituído principalmente por quartzitos, arenitos e conglomerados de idade mais
recente. Sweco (2005) atribui-lhes a produtividade de 3 l/s mas adverte que esse valor pode ser
muito alto.

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O grupo da Chela atribuído ao Proterozoico superior constitui o melhor sistema aquífero entre os
constituídos por rochas pré-câmbricas. A formação inferior (Formação Humpata) é constituída por
conglomerados e brechas, quartzitos, arenitos quartzosos e argilitos e a formação superior
(Formação Leba) é representada por calcários cinzento-azulados e dolomites maciças e em lajes. A
média de produtividade dos furos de águas subterrâneas pode ser algo superior a 6 l/s. O grupo da
Cheia é encontrado na área sul e oeste de Lubango, e também mais ao sul na província do
Namibe.

As rochas mesozoicas eruptivas ao longo da costa oeste provavelmente têm um melhor potencial
como aquíferos do que as rochas sedimentares circundantes. Segundo Sweco (2005) isso é somente
parcialmente mostrado no mapa hidrogeológico uma vez que em geral as rochas vulcânicas novas
e os pequenos corpos intrusivos são muito bons aquíferos. Muitos desses pequenos corpos estão
situados na parte sudoeste da zona costeira, onde a água subterrânea é conhecida como tendo
elevada mineralização e não poder ser utilizada como água potável.

Aquíferos descontínuos em estruturas planares de rochas duras

Ocorrem em diversas estruturas geológicas tais como diques, falhas e zonas de fissuração.
Constituem verdadeiras armadilhas pois são importantes para o armazenamento de água
subterrânea. Até em rochas com porosidade primária, as fissuras secundárias podem ser um
importante contributo para o armazenamento e a transmissão de água. As maiores estruturas
geológicas tais como falhas e zonas de fissuras são importantes pela fracturação induzida pela
actividade tectónica enquanto noutros contextos são as zonas de contacto dos diques e filões de
rochas intrusivas que apresentam fracturação associada a variações térmicas do corpo intrusivo e
do encaixante. Na parte sudoeste do país, as rochas pré-câmbricas são cortadas por muitos diques,
filões, falhas e zonas de fissuras. A localização de furos nessas zonas, e em muitas outras zonas
menores e não mapeadas, poderá ser muito importante para uma melhoria da produtividade dos
furos.

Aquíferos cársicos

As regiões constituídas por rochas carbonatadas exibem características morfológicas que as


distinguem das restantes e são resultado da dissolução da rocha ao longo das descontinuidades
que compartimentam os maciços a várias escalas. Os raros vales que se observam nas regiões
cársicas são vales cegos, isto é, terminam abruptamente em sumidouros, ou têm escoamento
efémero. Ao infiltrar-se nas fendas dos lapiás, nos sumidouros ou no fundo das dolinas e das uvalas, a
água continua o seu trabalho de dissolução formando grutas. Estas podem ser simples poços

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verticais (os algares) ou ser constituídas por galerias, poços e salas. As grutas mais complexas são o
resultado da progressiva confluência das águas infiltradas, formando-se redes subterrâneas com
desenvolvimentos da ordem das dezenas de quilómetros desembocando em exsurgências, em
geral com grandes caudais de ponta.

À medida que se dá a evolução da drenagem de um maciço, acentua-se a sua anisotropia e


heterogeneidade pois os sistemas de fracturas, inicialmente mais aptos à circulação, serão os mais
alargados por dissolução, evoluindo no sentido de constituírem eixos principais de drenagem. Assim,
com o tempo, acentua-se o contraste entre as permeabilidades dos vários sistemas de fracturas,
estabelecendo-se uma hierarquização semelhante à de uma rede hidrográfica subaérea. Isto
conduz à existência de grande variação espacial das propriedades hidráulicas. Este aspecto
constitui um dos grandes problemas quando se pretende captar água através de furos, pois por
vezes, ao lado de uma nascente caudalosa ou de um furo muito produtivo pode ter-se outro, ou
outros, praticamente secos.

Aquíferos sem continuidade geográfica

Englobam formações do tipo xisto gresoso e xisto calcário com porosidade dupla e permeabilidade
baixa. O escoamento faz-se geralmente através da fracturação enquanto o armazenamento reside
nos níveis porosos que cedem a água às fracturas de acordo com o evoluir do potencial hidráulico
nas fracturas e na matriz porosa.

Na Figura 11 apresenta-se a distribuição das diferentes formações hidrogeológicas no território de


Angola.

Figura 11: Formações Hidrogeológicas de Angola

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Fonte:Adaptado de Mott Mac Donald em Associação com a Hidroprojecto

4.4.3 Interacção entre águas subterrâneas e águas superficiais

Para se entender o processo de recarga das águas subterrâneas é importante referir que esta
ocorre em períodos de alta precipitação, mesmo que a bacia hidrográfica tenha um balanço
hídrico anual negativo. Por isso, existe alguma água subterrânea mesmo nas áreas secas da
província do Namibe, mas é facilmente sobre explorada. Nestas áreas, devido à baixa precipitação
e à evapotranspiração elevada, a mineralização da água é frequentemente muito alta para o uso
como água potável e a qualidade da água nos aquíferos agrava-se com os ciclos de irrigação-
infiltração-extracção. A água mineralizada é reportada ao longo da costa sul de Benguela e do
interior da parte sudoeste de Angola. Tanto a produtividade dos furos como a mineralização da
água aumentam frequentemente com a profundidade. A água subterrânea nessas áreas é pouco
abundante, e caso exista, é inadequada para o consumo.

Uma parte desconhecida dos recursos de água doce reparte-se entre águas subterrâneas e águas
superficiais. Tal como a água superficial, a água subterrânea está em movimento e tem um nível de
base tal como a água de um rio. O extremo da componente subterrânea do ciclo hidrológico é o
oceano tal como é para a componente superficial. No entanto, geralmente o ciclo subterrâneo tem
níveis de base intermédios que podem ser vales de rios e depressões onde a água aflora e passa a

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englobar a componente subaérea do ciclo hidrológico, aumentando o caudal dos rios e lagos e
mantendo o escoamento de base das linhas de água. Outras vezes, dá-se o movimento de água
em sentido contrário, em função dos potenciais hidráulicos de cada uma das componentes do
ciclo hidrológico. São os rios e as linhas de água que recarregam os aquíferos e a água passa do
compartimento subaéreo para o compartimento subterrâneo do ciclo hidrológico.

Em princípio, uma grande extracção de água e uso de água subterrânea para fins agrícolas irá
aumentar a evapotranspiração real e provocar o uso consumptivo da água, podendo reduzir o
escoamento nos rios que são o nível de base. O uso da água subterrânea para outros fins não
consumptivos é normalmente menor que para agricultura e, excepto para a descarga ao longo do
litoral, poderá mesmo aumentar o caudal dos rios embora na maioria dos casos haja uma
degradação da qualidade da água.

O caudal dos furos localizados na maioria das rochas de Angola é particularmente baixo e a
extracção intensiva em algumas áreas de rochas duras poderá afectar o escoamento das linhas de
água que são o nível de base desses escoamentos subterrâneos. Assim, se o uso da água
subterrânea para fins agrícolas é maximizado a partir de um bom aquífero de rochas duras nas
bacias do norte, tais como o M'Bridge, o Loge, o Dande e o Bengo, poderá afectar o caudal dos rios
nos períodos de seca (Sweco, 2005). Para os mesmos autores, nas bacias do Rio Kwanza e do Rio
Cunene, os rios afluentes poderiam talvez ser influenciados da mesma maneira, mas não seria
provável que a perda de caudal nos rios principais fosse notada. Nas bacias do sul, tais como de
São Nicolau, do Bero, e do Curoca a precipitação é baixa e a extracção de águas subterrâneas
das rochas Pan-Africanas de alta produtividade poderá reduzir o escoamento do rio na estação
seca.

Os furos nos sedimentos aluviais ao longo dos rios podem produzir grandes quantidades de água
subterrânea, e a mesma será renovada através da infiltração nas margens dos rios (bank storage).

Normalmente os rios com escoamento permanente são grandes eixos de drenagem longitudinais
dos sistemas aquíferos adjacentes. O escoamento subterrâneo dá-se em direcção ao rio e ao longo
da faixa das aluviões modernas. As zonas dos terraços e das próprias aluviões modernas constituem
as áreas de recarga onde se dá a infiltração profunda da água da chuva.

Genericamente, as aluviões são constituídas as areias e cascalheiras da base e nas zonas mais
próximas da foz podem aparecer lodos e/ou areias lodosas.

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Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade,
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

Além de drenantes, estes rios, em períodos de cheia, funcionam como infiltrantes quando o nível da
água no rio sobe acima do nível piezométrico do aquífero: a água passa, então, do rio para as
margens, dando lugar a um armazenamento nos terrenos marginais (bank storage). Logo que o nível
da água desce no rio, este armazenamento é responsável pelo aumento da contribuição
subterrânea para o caudal do rio.

Nestas circunstâncias, o aquífero é subordinado ao rio, isto é, a ligação hidráulica com o rio faz-se
sem significativos constrangimentos hidráulicos. A relação hidráulica entre o aquífero e o rio
(influente ou efluente) depende da posição relativa dos níveis da água.

A manter-se a subordinação ao rio, as reservas e os recursos exploráveis do aquífero são muito


superiores aos recursos intrínsecos. A exploração do aquífero provoca a infiltração (captura) da
água no leito do rio e traduz-se, por isso, numa perda no caudal do escoamento superficial.

Nestas circunstâncias, quando o caudal do rio é elevado e a aluvião espessa e permeável é possível
construir captações que podem produzir centenas de litros por segundo de água filtrada
naturalmente.

4.4.4 Qualidade da Água

A presente análise da qualidade da água foi elaborada com base na consulta do Relatório do
Estado Geral do Ambiente em Angola, assim como no Programa Nacional de Gestão Ambiental
(PNGA, 2009). Para além deste, foi consultado o Plano Nacional da Água (2012).

Para a globalidade do território Angolano, a variabilidade dos valores de precipitação atmosférica


tem por consequência mudanças consideráveis nos regimes dos caudais naturais dos rios, nas
disponibilidades hídricas subterrâneas e, consequentemente, nos aspectos de qualidade dos
recursos hídricos superficiais e subterrâneos.

Tendo em consideração os balanços hídricos realizados no âmbito do quadro da “Avaliação


Rápida de Recursos Hídricos e Usos da Água em Angola” (cf. Plano Nacional da Água [2012]), existe
um número considerável de bacias hidrográficas situadas na zona litoral e meridional do país que
potencialmente enfrentarão um certo grau de stress ou escassez hídrica, tendo em conta a redução
prevista da pluviometria e o concomitante aumento das temperaturas.

Nas bacias hidrográficas das regiões Nordeste e Leste do País, espera-se que os actuais padrões de
precipitação se mantenham, fazendo com que estas regiões mantenham a abundância que
sempre tiveram em termos de disponibilidade de recursos hídricos superficiais.

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Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

Assim prevê-se que na orla litoral venha a ocorrer a degradação de aquíferos subterrâneos devido à
intrusão de água salina, como consequência do crescente recurso às águas subterrâneas para
suprimento das necessidades hídricas dos vários consumidores / utilizadores.

De acordo com as referidas fontes bibliográficas, as informações relativas à qualidade da água são
escassas, embora algumas das análises existentes indiquem que as águas superficiais, no meio rural,
são de boa qualidade relativa. Especificamente para as regiões hidrográficas consideradas, poderá
resumir-se o seguinte:

 Em grande parte da bacia hidrográfica do rio Cuvelai as águas subterrâneas possuem um


elevado grau de salinidade, tornando a água num recurso bastante escasso, estando
disponível em depressões pouco profundas e nas cacimbas durante poucos meses logo
depois do fim da época chuvosa.

 Na bacia hidrográfica do rio Cubango os dados sobre a qualidade da água são escassos,
limitando-se aos parâmetros báscios, embora se aceite geralmente que a qualidade da
água nesta bacia seja boa. As águas da Bacia do Cubango são conhecidas pela sua
transparência que advém, em grande parte, da geologia e dos solos através dos quais o rio
escoa. Esta bacia está sujeita a pequenas fontes de poluição, relativamente isoladas, de
zonas urbanas e agrícolas; contudo, o aumento da população e das descargas municipais,
e ainda dos produtos agroquímicos, constituem uma ameaça potencial.

 O rio Cavaco, de carácter sazonal, serviu num passado recente de fonte de abastecimento
de água para a cidade de Benguela. Grande parte da água da bacia do Cavaco é de
origem subterrânea. O elevado grau de mineralização das águas subterrâneas, assim como
o efeito da intrusão das águas do mar tem causado uma elevada degradação da
qualidade da água do Vale do Cavaco.

 Os rios Bero e Giraúl e os aquíferos a si associados servem de fonte de abastecimento de


água para a cidade do Namibe e arredores, assim como para a irrigação de áreas
agrícolas adjacentes. Sendo rios de carácter sazonal, é considerável o uso de águas
subterrâneas nestas bacias hidrográficas. Como consequência, o elevado grau de
mineralização das águas subterrâneas, assim como os efeitos da intrusão das águas do mar
têm causado uma elevada degradação da qualidade da água dos Vales do Bero e do
Giraúl.

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Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade,
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

 Com base nos resultados analíticos das amostragens efectuadas à água do rio Mucari (nos
anos de 1979 e 2002), no âmbito do Plano Director de Abastecimento de Água e
Saneamento de N’Dalatando, conclui-se que neste caso a água apresenta boa qualidade,
sendo que a maioria dos parâmetros analisados, à excepção do alumínio se encontram
abaixo dos valores máximos recomendados pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

 Para a caracterização da água do rio Mussengue, recorreu-se à análise da água captada


nas origens de água do sistema de abastecimento ao Dundo (Lunda Norte), constatando-se
que, na generalidade, a água apresenta boa qualidade sendo que a maioria dos
parâmetros analisados, à excepção do alumínio e do pH, se encontram abaixo dos valores
máximos recomendados pela OMS.

 No âmbito do Plano Director de Abastecimento de Água de Menongue, foi possível verificar


que, em termos de qualidade de água do rio Kuebe, e na generalidade, os resultados
obtidos apresentam boa qualidade, sendo que a maioria dos parâmetros analisados, à
excepção do alumínio e da cor, se encontram abaixo dos valores máximos recomendados
pela OMS.

 Atendendo aos resultados analíticos disponíveis para o rio Guiné no âmbito do Plano
Director de Abastecimento de Água de Malanje, relativos a uma amostra colhida em
Fevereiro de 2002, constata-se que, na generalidade, a água apresenta boa qualidade,
sendo que a maioria dos parâmetros analisados, à excepção do alumínio e do pH se
encontram dentro dos intervalos recomendados.

 Por útlimo foi analisada a informação disponível para rio Cunene em Xangongo, obtida no âmbito
do Plano Director de Abastecimento de Água a Ondjiva, relativa a campanhas de amostragem
realizadas em Abril de 1974 /1975 e 2002. Com base na referida informação, pode afirmnar-se que
se trata de uma água pouco mineralizada já que, de acordo com os dados disponíveis, a sua
condutividade é, em média, de 46 µS/cm.

Em síntese, a falta de dados actualizados sobre as variáveis ambientais, climáticas e hidrológicas,


não permite que seja feita uma análise qualitativa mais aprofundada.

Efectivamente, as análises existentes são escassas, não traduzem a variabilidade da qualidade da


água ao longo do ano nos locais analisados e não consideram, de acordo com as actuais
tendências internacionais, parâmetros de natureza biológica e microbiológica.

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Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

Contudo, as informações obtidas permitem inferir que a qualidade das águas superficiais, em
particular no meio rural é, aparentemente, boa.

Verificando-se que, um pouco por todas as bacias hidrográficas, se vão esgotando algumas fontes
naturais de água, provocando a seca de vários pequenos cursos de água que alimentam os
grandes rios do País, afigura-se necessária a implementação de um Programa de Restauração do
Domínio Público Hídrico, de acordo com o preconizado no REGA (2012), o que permititrá repor as
condições naturais das grandes massas de água, tais como rios, lagos, albufeiras e aquíferos. A
reposição destas condições permitirá certamente alcançar um bom estado de qualidade das
massas de água superficiais e subterrâneas.

Por outro lado, embora as águas subterrâneas se afigurem, em termos de disponibilidades, uma boa
opção na satisfação das necessidades crescentes para satisfação das várias utilizações, o nível de
conhecimento sobre a sua qualidade é limitado, começando a registar-se alguns problemas em
particular nas regiões Litoral e Sul do território Angolano.

Assim, a par da elaboração dos Planos Directores Gerais de Aproveitamento dos Recursos Hídricos
do País, bem como da reabiltação da Rede Hidrométrica Nacional, manifesta-se a necessidade de
implementar uma Rede Nacional de Qualidade da Água (contemplando a monitorização da
qualidade das águas superficiais e subterrâneas), bem como de piezómetros para a monitorização
do comportamento dos lençóis freáticos, de modo a possibilitar uma gestão criteriosa e racional dos
Recursos Hídricos.

4.5 PRINCIPAIS BACIAS HIDROGRÁFICAS

4.5.1 Bacia Hidrográfica do Rio Cubango

A Bacia Hidrográfica do rio Cubango (com uma área total de 192.500 km 2) continua a ser uma das
menos afectadas pelo ser humano no continente africano. No seu estado actual, quase natural, o
rio fornece benefícios significativos ao nível dos ecossistemas e vai continuar a fazê-lo se for gerido
de forma adequada. Contudo, as cada vez maiores pressões socioeconómicas a que a bacia
hidrográfica está sujeita pelos países ribeirinhos, Angola, Botswana e Namíbia, podem alterar as suas
actuais características. Deste modo, é absolutamente necessário assegurar uma gestão sustentável
dos seus recursos.

Os países ribeirinhos reconhecem que o desenvolvimento socioeconómico na área da bacia é


essencial e fundamental para a melhoria da qualidade de vida dos seus habitantes. Por outro lado,

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os países ribeirinhos indicam que este desenvolvimento deve ser equilibrado relativamente à
conservação do ambiente natural e dos bens e serviços actualmente disponíveis. Para isso, foi
necessário um conhecimento de toda a bacia quanto aos problemas e questões da mesma, bem
como um plano para o seu percurso de desenvolvimento.

Para que esse desenvolvimento possa ser planificado pelos três países, houve a necessidade de
estabelecer quadros legais e institucionais de cooperação sob a forma de acordo para a Comissão
Permanente da Bacia do Rio Cubango/Okavango (OKACOM), de 1994. O acordo sobre a “Estrutura
Orgânica da Comissão Permanente das Águas da Bacia do Rio Cubango/Okavango” (Acordo da
Estrutura da OKACOM), de 2007, e o Protocolo Revisto da Comunidade de Desenvolvimento da
África Austral sobre Cursos de Água Partilhados (Protocolo Revisto da SADC) de 2000.

Orientados pelos três acordos acima indicados, os países ribeirinhos têm vindo a trabalhar no sentido
do desenvolvimento e implementação de um Plano Integrado de Gestão (PIG) para a bacia com
base na Avaliação Ambiental (AA). Para apoiar esse objectivo, o Fundo Mundial para o Ambiente
(GEF) e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) têm desde 1994 prestado
assistência à OKACOM na realização de uma Análise Diagnóstica Transfronteiriça (ADT) sobre os
problemas e ameaças potenciais à Bacia do rio Cubango/Okavango e no desenvolvimento de
programas de acções aos níveis nacional da bacia para responder a essas ameaças.

A área em estudo corresponde à bacia hidrográfica Cubango em território Angolano e abrange


uma área de 156.122 km². Esta bacia é formada pelo rio Cubango e seus principais afluentes (Cuito,
Cuchi, Cutato, Cuelei e Cuebe) que confluem na fronteira de Angola com a Namíbia, através da
faixa do Caprivi e segue para o Delta do Okavango, já em território do Botswana.

Em Angola a bacia hidrográfica do Cubango abrange partes das províncias do Huambo, Bié, Huíla,
Moxico e Cuando-Cubango.

O rio Cubango nasce em Chicala-Tchiloango (Vila Nova), perto da cidade do Huambo, no planalto
do Huambo, não muito longe da cidade de Kuito, a pouco mais de 1.800 m de altitude e tem um
curso de 975 km e corre em direcção norte-sul, inflectindo então para sudoeste.

Segue depois fazendo fronteira com a Namíbia até ao Mucusso onde, à cota 1.025, inflecte para SE.
Em Dirico (a jusante de Rundu), o rio Cuito junta-se ao Cubango e juntos atravessam a fronteira para
Namíbia, seguindo depois para o Delta do Okavango, onde desagua. O lago Ngami e a depressão
Makarikari (Makariakri Pan) mantêm ainda ligação à bacia do Okavango, aparecendo em muitos
casos integrados na bacia do Okavango.

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Figura 12: Bacia Hidrográfica do Rio Cubango

Caracterização da Bacia (território nacional)

A Bacia Hidrográfica do Rio Cubango, com as suas fontes (nascentes) no planalto central de chuvas
abundantes e declive suave, corre algumas centenas de quilómetros até ao Mucusso, onde à cota
1.025 m inflecte para SE e abandona o território angolano indo a breve trecho perder-se nos
“Okavango Swamps” no Botswana.

Assinala-se que quase todos os afluentes do Rio Cubango são na margem esquerda. Dentre este
destaca-se o importante rio Cuito que parte do seu percurso, corre através de vales arenosos,
serpenteando entre planícies alagadas com bastante vegetação. Em 1957 foi construída a primeira
Estação Hidrométrica na Bacia Hidrográfica do rio Cubango, na localidade de Caiundo, provincía
de Cuando Cubango.

A extensão topográfia da bacia do Rio Cubango abrange uma área de aproximadamente 156.122
km2, mas o seu caudal principal é oriundo de 120.000 km2 de áreas de pastagem sub-húmidas e sub-
áridas na província do Cuando Cubango em Angola. A bacia do Cubango é constituída pelos rios
Cubango, Cutato, Cuchi, Cacuhi, Cuelei, Cuebe, Luahuca, Cuatir, Luassingua, Longa, Quiriri e Cuito

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Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

em Angola, desenvolvendo-se ao longo da fronteira entre Angola e a Namíbia, percorrendo em


seguida o território do Botswana até se espraiar no leque ou Delta do Okavango.

A cabeceira do rio Cubango encontra-se entre as províncias do Huambo e do Bié a uma altitude
que varia entre os 1.700 e 1.800 metros acima do nível do mar, na região do planalto central de
Angola. Esta desce para pouco mais de 900 metros acima do nível do mar no Delta. A sua nascente
está localizada perto de Tchicala Tcholohanga, na aldeia Lumbula que dista a 17 km da sede
municipal de Tchicala Tcholohanga, na província do Huambo.

Deve ser particularizado que a maior extensão da bacia do Cubango em território angolano pode
ser encontrada na província do Cuando Cubango.

Da área total da bacia de 156.122 km², 60.900 km² pertencem a bacia do rio Cuito, seu principal
afluente. A bacia do Cubango confina a Este com a bacia do rio Cuando, a Nordeste com a do
Zambeze, a Norte com a do Cuanza e a Oeste com a do Cunene e a do Cuvelai. A forma da bacia
é alongada com o eixo maior no sentido NW-SE.

A rede meteorológica nesta Bacia, anterior à independência, indicava a existência de 22 estações


climatológicas, 32 udómetros, um udógrafo, dois evaporímetros e um heliógrafo.

De facto, existia uma acentuada concentração no extremo Noroeste da bacia, em flagrante


contraste com as regiões meridionais e orientais. Este facto é devido, fundamentalmente, à
desocupação destas zonas e à dificuldade de acesso, o que tornou difícil a manutenção e a
recolha de elementos da rede.

Actualmente, apenas deverão estar a funcionar as estações meteorológicas nos aeroportos em


funcionamento, do Menongue e Cuito Cuanavale.

Hidrologia

No que diz respeito à componente hidrológica da bacia é importante realçar que praticamente
todas as águas que fluem para o Delta têm origem na parte superior da bacia, nomeadamente dos
rios Cubango e da sub-bacia do rio Cuito. O total do escoamento médio anual desta bacia é de
12.100 Mm3/ano.

Tal como a rede meteorológica, a rede hidrométrica permitiu a recolha de dados por um período
relativamente curto, mais concretamente entre finais da década de 50 e 1974. À semelhança do
que tem acontecido com a bacia do Cunene devido a falta de dados as estimativas de

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escoamentos médio anuais têm sido calculadas por métodos de correlação e recurso a estação de
Rundu que tem, neste momento, quase 60 anos consecutivos e sem interrupções de dados
hidrométricos.

A sucessão dos valores de escoamento anuais é quase constante na bacia do Cuito, devido a sua
natureza geológica, enquanto na bacia do Cubango verifica-se uma variabilidade em função do
carácter húmido ou seco do ano, devido a natureza da sua bacia drenante.

O escoamento médio anual do rio Cuito ronda os 6.000 milhões de m 3 e o do Cubango é de cerca
de 6.100 milhões de m3 antes de receber o Cuito. Desta forma, o escoamento anual do Cubango,
após receber a contribuição do seu tributário, duplica perfazendo 12.100 milhões de m 3.

O caudal mínimo do rio Cubango é de cerca de 25 m 3/s e o do rio Cuito é de 100 m 3/s. Não existem
registos suficientes que possam permitir o cálculo de cheias do Cuito. Os caudais de cheias do
Cubango rondam os 2.500 m3/s para a centenária e 3.400 m3/s para a milenar.

As observações hidrométricas que deram origem o início da inventariação dos recursos hídricos da
bacia do rio Cubango em Angola tendo em conta o seu desenvolvimento, começaram no ano de
1957, com a instalação/construção da primeira Estação Hidrométrica na localidade de Caiundo no
rio Cubango. Até 1970, foram instaladas/construídas 22 estações hidrométricas. Em 1975, aquando
da Independência da República de Angola e por se ter gerado um clima de instabilidade
principalmente no interior do país, a actividade de recolha de dados foi totalmente interrompida e
como consequência, as estações hidrométricas foram vandalizadas, situação que se manteve até
ao ano de 2005 data em que se deu início a sua reabilitação já no âmbito da OKACOM.

Aproveitamentos Hidroeléctricos

Existe apenas um projecto hidroeléctrico na zona angolana da bacia. A central, situada no


Cuvango, foi danificada durante a guerra civil e está a ser recuperada.

Tanto Angola como a Namíbia consideraram a construção de projectos de energia hídrica no


Cubango/Okavango. Os estudos hidrológicos indicam que o débito combinado dos projectos
hidroeléctricos incluídos no cenário de alto uso de água seria de cerca de 460 Gigawatt-Hora.

Em Angola, antes da independência, foram identificados locais para 17 potenciais projectos


hidroeléctricos na bacia hidrográfica, mas apenas os projectos indicados no quadro seguinte são
considerados exequíveis pelo governo, apesar de não existirem estudos de viabilidade recentes.

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Quadro 8: Propostas para projetctos hidroeléctricos na bacia do Cubango


Capacidade
Nome Rio Localização/Elevação Comentários
MW
Cuvango Cubango Cabeceiras 1553 masl Inoperante 1,8
Cutato Cutato 1483 masl Previsto -
Cuchi Cuchi 1420 masl Estudo 1,8
Em fase de
Cuelei Cuelei - 3,2
projecto
Em fase de
Liapeca Cuebe Missombo 3,6
projecto
Maculun-
Cubango Caindo 1173 masl Estudo 3,5
gungo
Mucundi Cubango Mucundi 1153 masl - -
Cuito
Cuito 13km da confluência Previsto -
Cuanavale
M`Pupa Cuito M`Pupa Estudo 5
Chamavera Cuito M`Pupa Previsto -

Estão a ser preparados estudos de viabilidade e de concepção para três outras barragens na
Liapeca, no Rio Cuebe, em Malobas, no Rio Cuchi e em Maculungungu, no Rio Cubango.

Todas elas são centrais a fio de água, com açudes relativamente baixos e pequenas albufeiras, à
excepção do projecto de Malobas. O projecto de Malobas foi concebido para um muro de
barragem de 47 m, com um armazenamento activo de 1634 Mm 3, uma albufeira de 120 km2 e uma
capacidade instalada de 84 MW.

As Quedas de Popa, na Namíbia, onde o rio desce alguns metros, é o único local adequado para a
produção de energia eléctrica. Em 2003, considerou-se a viabilidade de três projectos a fio de água
associados a esta localização, numa tentativa de preservar as próprias quedas de água, devido ao
seu valor turístico. Contudo, o proponente, a NamPower, arquivou a proposta, devido a restrições
operacionais, e não existem planos para construir o Projecto Hidroeléctrido de Quedas de Popa. 4

Potencial de Irrigação Actual e Potencial

Dos estudos realizados no período colonial (1968), refere-se o reconhecimento efectuado no Rio
Cubango, onde se previa a execução de um plano de rega em 90.000 hectares para a produção
de hortícolas, fruteiras e leguminosas.

4
Christian, C. (2009)

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Na Bacia do Cubango, os aspectos pedológicos têm marcada influência, sobretudo na


rentabilidade do regadio, face às variações que se apresentam (profundidade, drenagem,
permeabilidade, reserva mineral e capacidade de armazenamento) na vasta mancha de solos
arenosos, integrada nas areias do Kalahari.

Com o apoio dos Governos dos países envolvidos (Angola, Namíbia e Botswana) e assistência
técnica da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura está em
implementação um Projecto de Protecção Ambiental e Gestão Sustentável da Bacia Hidrográfica do
Rio Cubango (PAGSO). Uma das actividades inscritas no projecto é a realização de uma análise
diagnóstica transfronteiriça (ADT) que visa o desenvolvimento de um Plano de Gestão Integrado
para a Bacia.

A ADT consiste na análise de actuais e futuras causas de eventuais problemas transfronteiriços entre
os três países membros da OKACOM, resultantes de uma maior pressão sócio-económica sobre a
bacia.

O objectivo final é o de facilitar informação sobre o potencial de utilização de terras com aptidão
para o regadio vs a disponibilidade de água para a irrigação, respeitando os caudais ecológicos e
os entendimentos estabelecidos no âmbito da gestão conjunta da Bacia.

Em termos de irrigação, a área da Bacia Hidrográfica do Rio Cubango não se caracteriza pela
existência de uma grande tradição no regadio, apesar de uma boa parte dela se incluir dentro da
zona dos grandes esquemas de regadio. Os recursos hídricos potenciais necessitam via de regra de
investimentos em infraestruturas de captação, de armazenamento, transporte e distribuição para a
sua utilização.

Não são identificadas infra-estruturas hidro-agricolas importantes ao longo da bacia. Contudo, há


projectos relacionados com a construção de duas barragens com a finalidade da produção de
energia eléctrica.

Na região do planalto central (zona a montante da bacia), no período seco, as populações fazem
recurso ao regadio através do manejo do lençol freático, colocando a água a disposição das
plantas por ascensão capilar, ou desviando o curso de parte da água de pequenos rios para regar
por gravidade, em pequenas áreas que geralmente não ultrapassam os 0,5 hectares.

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Outrora foram criados os “Povoamentos Agrários”, ou simplesmente colonatos, que consistiam na


instalação de agricultores e comerciantes em áreas inóspitas, com condições favoráveis para a
prática da agricultura enraizada no regadio.

Foram instalados perímetros irrigados de maior ou menor dimensão, ao longo das principais bacias
hidrográficas, entre os quais se destacam os seguintes na bacia do Rio Cubango:

1. O “povoamento agrário da Bela vista” com 1.000 hectares;

2. O “povoamento agrário de S. Jorge do Cuvengo, no Município da Tchicala

3. Tchiloanga, com 1.500 hectares;

4. O “povoamento agrário do Missombo”, no Município de Menongue, província do Kuando


Kubango com 300 hectares;

5. O perímetro irrigado de Menongue 1 no Município de Menongue, província do Kuando


Kubango, com 3.000 hectares;

6. O perímetro irrigado de Menongue 2 no Município de Menongue, província do Kuando


Kubango com 1.000 hectares.

Nestes colonatos, os agricultores beneficiavam de residências, parcelas no perímetro irrigado e


outras áreas para serem exploradas em regime de sequeiro, sementes, fertilizantes, instrumentos e
ferramentas agrícolas, assim como armazéns colectivos. Todos os benefícios eram concedidos a
crédito, reembolsável com a produção agrícola em períodos de 15 a 20 anos.

Refere-se também a existência de algumas fazendas nos Municípios do Chitembo, Kuvango e


Menongue nas Províncias do Bié, Huíla e Cuando Cubango, respectivamente, com pequenos
aproveitamentos hidráulicos (pequenas represas), sobretudo para aproveitamento pecuário.

Com a guerra que durou décadas, a maior parte das infra-estruturas deterioraram-se, sobretudo as
de irrigação, assim como as das fazendas abandonadas.

Com o estabelecimento da paz em Angola, o Ministério da Agricultura, incrementou o processo de


recuperação de perímetros irrigados inseridos nos ex-colonatos, tendo reabilitado e ampliado o
perímetro irrigado do Missombo, no Município de Menongue, Província do Cuando Cubango, que
prevê irrigar 1.200 hectares dos quais 700 têm já a componente hidráulica concluída e preparados
para o início da exploração agrícola.

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Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

Os restantes aproveitamentos hidro-agrícolas serão reabilitados, em função das prioridades


definidas no âmbito dos estudos em curso para a definição de um Plano nacional de irrigação.

A maioria das explorações agrícolas do tipo empresarial localizadas na Bacia do Cubango, são
bastante incipientes e ainda não realizaram os investimentos necessários para atingir os níveis de
produção projectados e concomitantemente os consumos de água requeridos.

Existem outras que estão apenas registadas como concessões efectuadas a diferentes níveis (a lei
de terras prevê a concessão pelo Governo Provincial de até 1.000 hectares; Ministério do Urbanismo
e Habitação até 10.000 hectares, com parecer vinculativo do Ministério da Agricultura; Conselho de
Ministros, acima de 10.000 hectares), no entanto, os concessionários não iniciaram a execução dos
respectivos planos de exploração.

Contudo, existe um conjunto de intenções, de iniciativa privada para a implementação de


projectos na região da Bacia, tal como se descreve a seguir:

Quadro 9: Inventariação de potenciais projectos identificados na bacia do Cubango

PROJECTO LOCALIZAÇÃO CULTIVO ÁREA(ha)

Cintura verde do Missombo Menongue Horto-frutícolas 1.000

Fazenda EBRITEX Bimbi Cereais, hortaliças 17.000

Perímetro do Vissati Cuchi Cereais, hortaliças 5.000

Projecto de cana de açucar Cuchi Cana-de-açucar 100.000

Perímetro do Cuvango Cuvango Cereais 10.000

Perímetro do Longa Cuito Arroz 10.000


Cuanavale

Perímetro do Lupire Cuito Cana-de-açucar, arroz 100.000


Cuanavale

Perímetro do CuangarCalai Calai-Cuangar Oleaginosas 45.000

Perímetro do Calai - Dirico Calai-Dirico Cereais, Hortícolas e Fruteiras 60.000

ÁREA TOTAL PREVISIONAL 348.000

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Com excepção do perímetro irrigado do Missombo, os restantes aproveitamentos hidro-agrícolas


estão ainda por reabilitar, não representando ainda por isso uma unidade de consumo de água de
acordo com as áreas que a integram.

Não foi possível realizar um levantamento de dados exaustivo que permitisse uma adequada
caracterização dos actuais sistemas existentes. No entanto, podem nomear-se alguns:

 Povoamento agrário da Bela Vista com potencial para irrigar 800 hectares: Localização
Geográfica: Município do Catchiungo, Província do Huambo

 Perímetro irrigado do Missombo, com capacidade de irrigar 1.200 hectares. Localização


Geográfica: município de Menongue, Província do Cuando Cubango

 Perímetro irrigado de Menongue 1 com potencial para irrigar 3.000 hectares. Localização
Geográfica: município de Menongue, Província do Cuando Cubango

 Perímetro irrigado de Menongue 2 com potencial para irrigar 1.000 hectares. Localização
Geográfica: município de Menongue, Província do Cuando Cubango

 Projecto do rio Cuchi- 165 mil hectares, sendo 150 mil hectares em médio desenvolvimento e
15 hectares em alto desenvolvimento.

 Menongue: entre Missombo e Bimbi, 30 mil hectares sendo, 10 mil hectares para cada um
dos níveis de desenvolvimento, alto, médio e baixo.

 Ebritex: Fazenda privada com 17 mil hectares.

 Longa: 20 mil hectares, sendo 10 mil hectares para a produção de cana sacarina e 10 mil
hectares para a produção de arroz no Lupiri.

 Calai-Dirico: 70 mil hectares.

 Cuangar-Calai: 45.000 hectares

4.5.2 Bacia Hidrográfica do Rio Zambeze

Caracterização Sumária da Bacia

A bacia do Rio Zambeze é um dos recursos naturais mais diversificados e valiosos do continente
africano. As suas águas são essenciais para o crescimento económico sustentado e a redução da

109
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Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

pobreza na região. Além de atender às necessidades básicas de cerca de 30 milhões de pessoas e


suportar um ambiente natural rico e diverso, o rio tem um papel central nas economias dos oito
países ribeirinhos: Angola, Botsuana, Moçambique, Namíbia, Tanzânia, Zâmbia e Zimbábue. Ele
proporciona à região importantes bens e serviços ambientais e é essencial para a segurança
alimentar regional e a produção de energia hidroeléctrica. Como a Bacia do Rio Zambeze é
caracterizada por extrema variabilidade climática, o Rio e os seus tributários são sujeitos a um ciclo
de cheias e secas que têm efeito devastador sobre as populações e economias da região, e em
especial nos seus membros mais pobres.

Em Angola, o rio Zambeze entra pela fronteira Norte da Província do Moxico, recebendo a partir daí
muitos afluentes, que são rios Angolanos como lwena ou o lunguê-bungo. Sai de Angola pela
fronteira Sul da mesma Província, atravessando depois a Zâmbia e indo desaguar em território
Moçambicano, mais propriamente no Oceano Índico.

De facto, o Rio Zambeze forma a quarta maior Bacia em África, após os rios Congo, Nilo e Níger. O
Zambeze tem a sua fonte na Zâmbia, 1.450 metros acima do nível do mar e cobre uma área de 1,37
milhão de km2. Dali, o tronco principal flui na direcção sudoeste, para Angola, volta-se para sul,
entra outra vez na Zâmbia e atravessa a Mosi-ao-Tunya (Cataratas Vitória), compartilhada pela
Zâmbia e pelo Zimbábue, antes de entrar no Lago Kariba, que é retido pela Barragem Kariba,
construída em 1958. A pouca distância a jusante da Barragem Kariba, o Zambeze recebe as águas
do Rio Kafue, importante tributário que nasce no norte da Zâmbia. O Rio Kafue atravessa a Faixa de
Cobre da Zâmbia e chega à albufeira atrás da Barragem de Itezhi Tezhi (ITT), construída em 1976.
Dali o Kafue entra na planície do mesmo nome e segue depois por uma série de gargantas
escarpadas, localização do sistema hidroeléctrico da Garganta do Kafue Superior (KGU,
comissionada em 1979). Abaixo da confluência com o Rio Kafue, no Zambeze, encontra-se a
Barragem de Cahora Bassa, construída em 1974 em Moçambique. A curta distância a jusante, o
Zambeze junta-se ao Rio Shire, que corre do Lago Malawi/Niasa/Nyasa para norte. O Lago
Malawi/Niassa/Nyasa, que cobre uma área de 28.000 km 2, é o terceiro maior lago de água doce
em África. Desta confluência, o Zambeze segue por cerca de 150 km, parte dos quais constitui o
Delta do Zambeze, antes de desaguar no Oceano Índico.

A Bacia do Rio Zambeze é geralmente descrita em termos de 13 sub-bacias que representam


grandes tributários e segmentos.

De uma perspectiva continental, a ZRB contém quatro importantes áreas de biodiversidade:

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 Lago Malawi/Niassa/Nyasa, região de importância para a conservação global devido à


radiação evolutiva de grupos itiológicos e algumas outras espécies aquáticas.

 Os pantanais, planícies de inundação e zonas húmidas do paleo-Alto Zambeze na Zâmbia e


norte do Botsuana, incluídas as áreas de Barotseland, Busanga e Kafue, que juntamente
com o Bangweulu são consideradas como áreas de radiação evolutiva dos mais diversos
grupos, como o sengo (uma espécie de antílope), vegetação sufruticosa e plantas bulbosas.

 O Vale do Médio Zambeze, no norte do Zimbábue, e o Vale de Luangwa, no leste da


Zâmbia, duas das últimas áreas protegidas remanescentes, suficientemente amplas para
suportar populações de grandes mamíferos.

 A área do Gorongosa/Cheringoma /Delta do Zambeze, no centro de Moçambique, que


abrange uma zona de enorme diversidade de habitats, não encontrados em tão estreita
proximidade noutras partes do continente.

A hidrologia da ZRB não é uniforme, com precipitação atmosférica geralmente alta a norte e mais
baixa a sul. Em certas áreas do Alto Zambeze e em redor do Lago Malawi/Niassa/Nyasa, as chuvas
podem chegar a nada menos de 1.400 mm/ano, ao passo que na parte meridional do Zimbábue
elas podem não passar de 500 mm/ano.

A descarga média anual na desembocadura do Rio Zambeze é de 4.134 m 3/s ou cerca de 130 km3/
ano. Devido à distribuição das chuvas, os tributários a norte contribuem com um volume

Geração Hidroeléctrica Actual e Potencial

Um dos aproveitamentos hidráulicos do Rio Zambeze é a barragem e albufeira de Kariba, que tem
uma capacidade de armazenamento máxima de 180 Km 3 de água, constituindo o 3º maior
reservatório artificial do mundo e o 2º em África. Situa-se no troço do médio Zambeze que separa o
Zimbabwe da Zâmbia e é gerida pela ZRA, Zambezi River Authority.

O outro grande aproveitamento hidráulico é a barragem e albufeira de Cahora Bassa, também no


troço terminal do médio Zambeze, que criou um reservatório com capacidade máxima para
63Km3 de água, o 12º maior do mundo e o 5º de África.

Por ordem de importância, seguem-se-lhes as barragens de Itezhitezi e Kafue Gorge, no rio Kafue,
Lunsemfwa no rio do mesmo nome, e Mulungushi, na Zâmbia, e Manyame, Masvikadei, Sebakwe e
Chivero, no Zimbabwe, todas com capacidades de armazenamento superiores a 200 milhões de

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metros cúbicos. Para além destas, existem ainda mais 24 grandes barragens, mas de menor
capacidade, na bacia do Zambeze, das quais 23 são no Zimbabwe e 1 no Malawi.

Locais para outros grandes aproveitamentos hidráulicos foram já identificados, correspondendo


alguns deles a obras que se encontram em fase de estudos preliminares ou de viabilidade ou em
fase de projecto.

Estes locais para novas centrais ou expansão das centrais existentes foram identificados a partir de
várias fontes e estão compilados no Quadro 17.

No cenário de desenvolvimento total do potencial hidroeléctrico, que incluiria 53 projectos (NRXANT,


Maio de 2008), a possível produção de energia firme5 seria duplicada, de 776 para cerca de 43.000
GWh/ano. Seria dobrada também a produção média de energia — de 30.000 para cerca de 43.000
GWh/ano. A duplicação deve-se à expansão das instalações existentes e acréscimos de nova infra-
estrutura. Um factor considerado na análise é que as novas instalações hidroeléctricas com albufeira
aumentariam a regularização e a evaporação do rio, com possibilidade de afectar o seu balanço
hídrico geral. Não existem atualmente projetos hidroeléctricos no território angolano.

5 Define-se como energia firme a quantidade de energia fiável produzida por uma hidroeléctrica a dado nível de
fiabilidade, definida neste estudo como a energia disponível 99% do tempo. No caso de centrais com reservatório de
reserva anual, esta energia é produzida quando a albufeira desce do nível de abastecimento pleno ao nível
operacional mínimo durante a sequência crítica de baixo caudal.

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Quadro 10: Projetos Hidroeléctricos e albufeiras existentes na Bacia do Rio Zambeze


Capacidade
Nome Companhia Rio País Tipo
(MW)
Aproveitamento a fio
Cataratas Vitória ZESCO Zambeze Zâmbia 108
de água
Zâmbia e
Kariba ZESCO/ZESA Zambeze Albufeira 1.470
Zimbábue
Itezhi Tezhi ZESCO Kafue Zâmbia Albufeira n/d

Garganta do Kafue ZESCO Kafue Zâmbia Albufeira 990

Mulungushi ZESCO Mulungushi Zâmbia Albufeira 20

Lunsemfwa ZESCO Lunsemfwa Zâmbia Albufeira 18


Albufeira de
Lusiwasi Privada Lusiwasi Zâmbia 12
Regularização
Cahora Bassa HCB Zambeze Moçambique Albufeira 2.075
Albufeira de
Wovwe ESCOM Wovwe Malawi 4,35
Regularização
Cataratas Nkula Albufeira de
ESCOM Shire Malawi 124
A&B Regularização
Albufeira de
Tedzani ESCOM Shire Malawi 90
Regularização
Albufeira de
Kapichira Fase I ESCOM Shire Malawi 64
Regularização

Fonte: NEXANT, Maio de 2008.

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Quadro 11: Futuros projectos de geração hidroeléctrica incluídos na análise


Cap. Ano de Cap. Ano de
Companhia Rio País Tipo
(MW) Operação (MW) Operação

Tedzani 1 e 2,
Albufeira de
modernizaçã ESCOM Shire Malawi 40 2008 40 2008
Regularização
o
Kariba Norte,
Zambez
modernizaçã ZESCO Zâmbia Albufeira 120 2008–2009 120 2008
e
o
Garganta do
Alto Kafue, Albufeira de
ZESCO Kafue Zâmbia 150 2009 150 2009
modernizaçã Regularização
o
Albufeira de
Kapichira II ESCOM Shire Malawi 64 2010 64 2010
Regularização
Kariba Norte, Zambez
ZESCO Zâmbia Albufeira 360 2010 360 2012
expansão e
HCB, Margem Zambez Moçambiqu
HCB Albufeira n/d n/d 850 2012
Norte e e
Itezhi Tezhi ZESCO Kafue Zâmbia Albufeira 120 2013 120 2013
Kariba Sul,
ZESA Zambezi Zimbábue Albufeira 300 2014 300 2014
expansão
Songwe I, II e Malawi/
ESCOM Songwe Albufeira 340 2014–2016 340 2024
III Tanzânia
Garganta Sul Zambez Albufeira de
ZESA Zimbábue 800 2017 800 2023–2024
do Batoka e Regularização
Garganta Norte do Batoka Zambez Albufeira de
Zâmbia 800 2017 800 2023–2024
ZESCO e Regularização
Garganta Baixa do Kafue Zambez Albufeira de
Zâmbia 750 2017 750 2017–2022
ZESCO e Regularização
Mphanda Zambez Moçambiqu Albufeira de
EdM 1.300 2020 2.000 2024
Nkuwa e e Regularização
Aproveita
mento a
Baixo Fufu ESCOM S. Ruhuru Malawi n/d n/d 100 2024
fio de
água
Albufeira de
Kholombidzo ESCOM Shire Malawi n/d n/d 240 2025
Regularização
Rumakali TANESCO Rumakali Tanzânia Albufeira 222 2022 256 n/d
Fonte: NEXANT, Maio de 2008.
Nota: A capacidade da Gargante do Baixo Kafue é calculado em 600 MW
com uma baixa adicional de 150 MW. A capacidade de Mphanda Nkunwa
foi aumentada por 2,000 MW.

Irrigação Actual e Potencial

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Estimativas das áreas actualmente sob irrigação são apresentadas no quadro seguinte. A área
equipada para irrigação é também chamada área de comando (ou área de regadio), e a área
irrigada é também indicada como área sob cultivo. Dependendo da intensidade de utilização, uma
área equipada poderia potencialmente ser cultivada duas vezes por ano. Por exemplo, um hectare
plantado com trigo irrigado na estação seca poderia ser também cultivado com milho na estação
das chuvas do mesmo ano. Neste caso, a intensidade de cultivo é duplicada e a área irrigada
corresponde a duas vezes a área equipada.

A área actualmente equipada para irrigação na Bacia é de 183.000 hectares. A área média anual
irrigada é de cerca de 260.000 hectares. Isto inclui 102.000 hectares de culturas perenes irrigadas
(76% cana-de-açúcar), a representar cerca de 56% da área equipada total. Encontra-se no volume
4 uma descrição detalhada destes parâmetros de irrigação.

Numa grande parte desta área irrigada, as condições climatológicas geralmente permitem duas
estações de produção: estação de estio (ou estação das chuvas, Novembro ou Dezembro a Março
ou Abril), e estação de inverno (ou estação seca, Abril – Maio a Setembro–Outubro) com pouca
necessidade de irrigação devido à precipitação. No inverno, a irrigação é a principal fonte de água
para a cultivo.

Quadro 12:Áreas actualmente sob irrigação na Bacia do Rio Zambeze, em hectares (por país)
Área irrigada Área equipada Estação seca Estação das chuvas Safras perenes
Países
(ha/ano) (ha) (ha) (ha) (ha)
Angola 6.125 4.75 3.375 1.375 1.375

Botsuana 0 0 0 0 0

Malawi 37.820 30.816 7.066 7.004 23.750

Moçambique 8.436 7.413 1.023 1.023 6.390

Namíbia 140 120 120 20 0

Tanzânia 23.140 11.600 11.540 11.540 60

Zâmbia 74.661 56.452 18.448 18.209 38.004

Zimbábue 108.717 71.486 39.210 37.231 32.276

Total 259.039 182.637 80.782 76.402 101.855

Algumas das áreas sob irrigação estão associadas com instalações de regularização de caudal. É
este o caso dos sistemas de irrigação das planícies do Kafue (com regularização proporcionada
pela albufeira de Itezhi Tezhi); dos sistemas de irrigação a jusante do Lago Malawi/Niassa/Nyasi, do
Lago Kariba e dos reservatórios de Cahora Bassa; e sistemas de irrigação que extraem água dos
tributários no Zimbábue (com as albufeiras a proporcionar regularização).

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Utilizam-se nesta análise dois níveis de desenvolvimento da irrigação: um nível inferior baseado em
projectos identificados e um nível muito mais elevado baseado em possíveis projectos
(projectosainda não propostos, muito menos em curso).

- Projectos identificados. Identificaram-se quase 100 projectos ou programas de irrigação em


diversas fontes bibliográficas e através de reuniões com grupos de utilizadores em todos os países
ribeirinhos. A área adicional de irrigação equipada prometida pelos projectos identificados é de
336.000 ha. Acrescentada à área de irrigação actualmente equipada, a superfície equipada seria
de aproximadamente 520.000 ha— quase o triplo do presente nível.

- Irrigação de grande escala. Possíveis projectos de irrigação além dos já identificados compõem o
cenário de irrigação de grande escala. Estes projectos potenciais foram identificados por cada um
dos países ribeirinhos para esta análise. Como se vê no quadro, a área adicional equipada para
irrigação no cenário de irrigação de alto nível é de cerca de 1.209.000 ha— mais de três vezes maior
do que a área no cenário de projectos identificados e mais de seis vezes maior do que a área
actualmente equipada, o que eleva a área que poderia ser potencialmente equipada para
irrigação para quase 1.730.000 hectares.

Quadro 13: Projectos identificados - áreas adicionais de irrigação na Bacia do Rio Zambeze
(hectares) Aumentos projectados
Países/ Área Irrigada (ha/ano) Aumento Área Aumento Estação Estação Culturas
(%) Equipada (%) Seca Húmida perenes
(ha) (ha) (ha) (ha)

Angola 10.625 173 10.500 221 5.375 125 5.125

Botsuana 20.300 — 13.800 — 6.500 10.800 3.000

Malawi 78.026 206 47.911 155 36.791 30.115 11.120

Moçambique 137.410 1.629 96.205 1.298 41.205 41.205 55.000

Namíbia 450 321 300 250 300 150 —

Tanzânia 23.140 100 11.600 100 11.540 11.540 60

Zâmbia 61.259 82 37.422 66 23.837 23.837 13.585

Zimbábue 183.431 169 118.464 166 64.967 64.967 53.497

Total 514.641 199 336.202 184 190.515 182.738 141.387

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4.5.3 Bacia Hidrográfica do Rio Cunene

O rio Cunene nasce cerca de 32 km a nordeste do Huambo na serra montanhosa do Encoco, no


sudoeste de Angola e flui em direcção ao sul a partir dos planaltos angolanos até a fronteira com a
Namíbia e depois desvia-se em direcção a oeste, formando uma fronteira entre os dois países até
alcançar o Oceano Atlântico. O curso inferior do rio atravessa um desfiladeiro profundo, que
começa nas Quedas de Ruacaná. No curso de 340 km entre Ruacaná e o Oceano Atlântico, há
uma queda de água de mais de 1.100 metros e, esta importante característica proporciona à Bacia
Hidrográfica do Rio Cunene um potencial hidráulico de cerca de 2.400MW.

Geograficamente, a bacia pode ser dividida em três secções principais: Alto, Médio e Baixo
Cunene. O Alto Cunene, localizado no Planalto Central em altitudes entre 1.800 e 1.200 metros,
abrangendo as cidades do Huambo e Matala, é caracterizado por suaves colinas separadas por
grandes vales rasos. O Médio Cunene consiste em colinas suaves nas áreas a norte com terrenos
que se vão tornando mais planos em direcção a Ruacaná e à fronteira namibiana, enquanto o
Baixo Cunene exibe uma topografia montanhosa e condições semi-áridas a áridas. Perto da foz, o
rio atravessa o deserto do Namibe.

A bacia do rio Cunene cobre uma área de 106.500 km², com 14.700 km² (13,3 %) na Namíbia e
95.300 km² no territorio nacional. O rio Kunene tem 1.050 km de comprimento e é um dos poucos rios
permanentes nesta região, com um caudal anual médio de 5,5 km³ na sua foz.

A precipitação na bacia do rio Cunene é incerta e variável, oscilando de 1.300 mm no curso


superior a menos de 100 mm por ano no curso inferior. As taxas de evaporação bruta da água na
superfície variam de 1.700 mm na sub-bacia superior a 2.300 mm no curso inferior junto do Oceano
Atlântico. A variação sazonal de precipitação leva a secas (assim como nos fins de 2007 e princípios
de 2008) bem como de cheias. Em inícios de 2008, vastas áreas do norte da Namíbia e Angola
sofreram cheias devido a precipitações extremas.

A área relativamente pequena e a encosta íngreme do leito do rio nos cursos superior e inferior da
bacia do rio cunene, resultam em fluxos rápidos em direcção à costa, deixando o rio praticamente
seco no fim da estação seca. Com o começo e implementação do Sistema Integrado do Rio

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Cunene6, e suas respectivas barragens de armazenamento, o fluxo do rio deveria ter sido regulado.
Contudo, por vários motivos, o programa nunca esteve completamente operacional e apenas hoje
começou a desempenhar o seu papel. Para além de ser usado para a produção de energia
hidroeléctrica, tanto para Angola como para a Namíbia, o Cunene fornece igualmente uma
quantidade significativa de água às regiões do norte da Namíbia através do Canal Calueque-
Oshakati. Estas regiões encontram-se fora da bacia e são habitat para cerca de 700.000 pessoas
(quase um terço da população total da Namíbia). A demanda da água nestas áreas atinge o seu
pico em Outubro, quando o caudal do rio Cunene está no seu ponto mais baixo.

A paisagem da bacia do Cunene varia de 2.000 m de altitude na planície central onde o rio tem a
sua nascente, para uma planície de inundação relativamente plana a meio da secção do rio, até
as areias rochosas e áridas na fronteira de Angola com a Namíbia. O planalto central abriga as
cabeceiras dos rios Cuanza, Queve, Cunene e Cubango e é uma unidade de terra extremamente
importante para a hidrologia regional da África Austral.

Hidrologia

Os recursos hídricos do rio Kunene são substanciais, sendo este um rio perene com um caudal médio
anual de 50 m³ por segundo na barragem do Gove, 160 m³ por segundo em Ruacaná, e cerca de
5,5 km³ por ano na foz do rio.

A bacia do rio Cunene é convencionalmente dividida em três sub-bacias: o Alto, Médio e Baixo
Cunene. Em termos gerais, o clima no curso superior e médio do Kunene pode ser classificado como
clima de savana tropical húmido e seco, influenciado por altas altitudes, enquanto a secção inferior
tem um clima semi-árido a árido com uma vegetação de estepe e desértica. A maior parte do
escoamento é gerada pela água das chuvas de Outubro a Março nas terras altas de Angola no
curso superior do Cunene, sendo o rio principal alimentado pela densa rede de afluentes. Nas terras

6 No Terceiro Acordo sobre o Uso da Água de 1969, os Governos de Portugal e da África do Sul esquematizaram a primeira fase do
desenvolvimento conjunto dos recursos hídricos do rio Kunene. O acordo esquematizava um plano para um sistema integrado de
gestão do rio que permitiria o desenvolvimento de um projecto hidroeléctrico em Ruacaná. Isto resultou na construção de três grandes
estruturas no rio na década de 1970 que integraram o “Sistema do Rio Cunene” e se vieram juntar ao já existente açude e central
hidroeléctrica na Matala.Estas três estruturas, construídas no Alto, Médio e Baixo Cunene, deveriam funcionar como um sistema
integrado, oferecendo condições para caudais regulares para a geração constante de electricidade. As três estruturas são a barragem
do Gove, o açude incompleto do Calueque (que também permite o fornecimento de água potável ao norte da Namíbia e o
abastecimento de água para sistemas de irrigação) e o açude e central hidroeléctrica de Ruacaná a 170 km a montante das
instalações propostas para o Projecto de Baynes.

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altas, a precipitação é da ordem dos 1 300 mm/ano, a qual decresce continuamente até a uns
meros 20 mm/ano na foz do rio.

Devido à variação do clima húmido nas terras altas do norte a árido na costa, entre 75 e 90% do
caudal do rio são gerados a norte de Matala no curso superior do Cunene. O caudal do rio Cunene
é normalmente próximo de zero por volta do fim da estação seca, embora as barragens de
armazenamento a montante (no Gove e na Matala) contribuam para a regulação do caudal.

A variabilidade inter-anual da precipitação é alta no Alto Cunene de modo que a variação nos
volumes de caudal pode chegar até 14 vezes a mais entre anos de pouca e muita chuva,
enquanto a variação mensal do caudal dentro de um dado ano pode chegar a 11 vezes de
diferença entre altos caudais em Abril ebaixos caudais em Outubro.

Pitman e Midgley (1974) classificaram as sub-bacias como sendo unidades individuais, baseadas em
registos de escoamento recolhidos em estações hidrométricas no período 1961-1972. A maioria do
escoamento médio anual é gerada na sub-bacia do Alto Cunene onde a precipitação média é de
1.300 mm/ano, contribuindo com 75 a 90% do caudal total na bacia. A sub-bacia do Médio Cunene
contribui com 10 a 25% do escoamento total enquanto a contribuição dos afluentes efémeros no
curso inferior do Cunene é normalmente inferior a 5%.

Quadro 14: Caraterísticas Hidrológicas das Sub-bacias do Cunene


Estação Área (km2) Escoamento Médio Anual (MAR) MAR (mm)
Hidrométrica (Mm3/ano)
Alto Cunene Matala 27.950 4.884 167
Médio Cunene Ruacaná 56.200 6.012 67
Baixo Cunene* - 24.400 - -
* A informação sobre o Baixo Cunene não está disponível uma vez que não existem estações hidrométricas a
jusante de Ruacaná

O desenvolvimento geomórfico e as diferenças climatológicas na bacia criaram um ambiente


peculiar em termos de escoamento, produção de sedimentos, transporte e depósito.

O curso superior e médio do Cunene pertence a um antigo sistema de drenagem bem


desenvolvido. O curso médio do Cunene é caracterizado por baixos gradientes, planícies inundadas
anualmente e ambientes naturais de deposição. Em contraste, o curso inferior do Cunene é um rio
novo, caracterizado por gradiente íngreme, rápidos e um canal controlado por uma estrutura de
leito de rocha firme. Estas diferenças criaram dois sistemas distintos de distribuição de sedimentos: Na
parte alta e média da bacia, material de grãos finos em suspensão domina em combinação com

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carga quimicamente dissolvida. No curso inferior, o leito do rio indica uma quantidade alta de carga
sedimentar.

O rio Cunene é relativamente despoluído e a Qualidade da Água é considerada boa, com baixa
concentração de fósforo bem como de outros nutrientes.

Os afluentes mais importantes do rio Cunene são:

 O Rio Que - o afluente mais longo na densa rede da sub-bacia do Alto Cunene com
um comprimento de 140 km. Este drena a parte sul e oeste da sub-bacia.

 O Rio Chitanda – drena a parte oriental do Médio Cunene e tem um comprimento


de 265 km.

 O Rio Mucope – nasce ao sul da Matala no centro da bacia e drena a maior parte
da planície de inundação da sub-bacia do Médio Cunene, com um comprimento
de 190 km.

 O Rio Kaculuvar - nasce perto do Lubango e drena a parte do curso médio do


Cunene. É o afluente mais longo do Cunene com o comprimento de mais de 320
km.

 O Rio Otjindjangi – nasce na Namíbia e corre apenas durante uma parte do ano:
durante e imediatamente depois das chuvas (curso de água efémero). Drena parte
da sub-bacia do Baixo Cunene.

Um mapa com o padrão de drenagem da bacia do rio Cunene encontra-se abaixo: Enquanto os
afluentes no curso inferior do Cunene semi-árido são geralmente rios efémeros, muitos dos afluentes
do Médio Cunene são não perenes e todos os rios na sub-bacia do Alto Cunene são perenes.

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Figura 13: Padrão de drenagem da Bacia do Rio Cunene

Fonte: AHT GROUP AG, 2010

Não existem lagos naturais na bacia do Cunene, contudo existem barragens e em alguns dos seus
afluentes, que armazenam água para a regulação dos caudais, irrigação, geração de energia
hidroeléctrica e abastecimento doméstico de água:

 A Barragem do Cuando no afluente Etembo, perto do Huambo, e a Barragem do


Gove no curso superior do rio Cunene;

 A Barragem da Matala no curso médio do Cunene;

 As Barragens do Ruacaná e Olushandja, armazenando água da barragem do


Calueque no curso inferior do rio Cunene.

Existem três tipos de aquíferos que regem a ocorrência e distribuição de água subterrânea na bacia
do rio Cunene (LNEC 1996):

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 As unidades cristalinas pré-câmbricas, tendo baixa permeabilidade com limitado


potencial hidrogeológico perto das fracturas e em áreas com desintegração de
rochas cristalinas. Em geral tais aquíferos têm baixa produtividade e potencial
limitado. Estes ocorrem principalmente no curso superior do Cunene.

 Osaquíferos cartesianos rasos, localizados entre 10 a 50 metros de profundidade,


contendo água acumulada na bacia do Kalahari ou depósitos quaternários no
curso médio do Cunene. Estes aquíferos são muito irregulares em dimensão,
profundidade, produtividade e qualidade. A recarga é principalmente feita através
de cheias no Médio Cunene e precipitação no Alto Cunene.

 Osaquíferos artesianos profundos (câmbricos e infra-câmbricos), compostos por


vários materiais de base. Dependendo do material de origem, os aquíferos podem
ter baixa permeabilidade (argila de xisto ou silte) ou comportar-se como carste em
áreas com rocha rica em carbonato (tal como calcário). Estes ocorrem apenas no
oeste do Baixo Cunene perto do Oceano Atlântico.

O mapa abaixo apresenta a recarga da água subterrânea na bacia do rio Cunene.

Figura 14: Recarga de água subterrânea na Bacia do Rio Cunene

Fonte: AHT GROUP AG 2010 adaptado de LNEC, 1996

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A água subterrânea na bacia é geralmente considerada como sendo de boa qualidade, embora
haja pouca informação qualitativa disponível, especialmente para a parte angolana da bacia.

No curso superior do rio Cunene, a qualidade da água é boa porém com ligeiramente altas
concentrações de SO4 (sulfato), particularmente nos arenitos, xistos e dolomites no Karoo (DWA,
1986). Nas areias do Kalahari no curso médio do Cunene, a alta salinidade provocada pela
dissolução de sais minerais ocorre em alguns horizontes sedimentares. De igual modo, a intrusão de
água salgada nos aquíferos costeiros constitui uma ameaça à qualidade da água.

A água subterrânea em áreas de base rochosa pré-câmbrica é geralmente doce embora possa ser
potencialmente corrosiva com baixos valores de pH e possa conter altos níveis de concentração de
ferro. As áreas de base rochosa pré-câmbrica são geralmente propensas de conter altas
concentrações de fluoreto devido ao intemperismo dos minérios contendo fluoreto (Chilton and
Foster 1995).

As camadas semi-consolidadas e não consolidadas do grupo Kalahari são geralmente de textura


fina a muito fina e têm baixa porosidade primária. Os furos nestes aquíferos são geralmente de baixo
rendimento e produzem água de salinidade variável, com baixa produtividade de 2 - 5 m³/hora. Nos
depósitos de origem argila arenosa, a infiltração da água é baixa e a maior parte da precipitação é
escoada com muito pouca percolação para a água subterrânea. Onde as rochas mães são
intrinsecamente impermeáveis, a ocorrência de água subterrânea é limitada às zonas de
permeabilidade secundária formada por fracturas e falhas geológicas. Em alguns casos o
dobramento do estrato provoca movimento ao longo dos planos de estratificação o que pode
resultar em desenvolvimento de porosidade secundária.

Geralmente os aquíferos aluviais ou arenosos têm uma capacidade limitada de armazenamento


contudo experimentam recargas relativamente rápidas depois de eventos significativos de
escoamento.

Apesar da baixa precipitação no curso inferior do Cunene, podem ocorrer aquíferos fracturados
que fornecem água adequada para o consumo doméstico e a criação de gado.

Há um grande número de nascentes nesta área em resultado da natureza impermeável da base


rochosa, pela qual a água descerá lentamente pelo gradiente até encontrar rochas impermeáveis
e massivas e seja forçada a voltar a superfície (LNEC 1996).

Os furos são o método mais comum de captação de água subterrânea na África Austral (SADC
1991). Na bacia, eles são principalmente perfurados na secção inferior do Cunene devido à

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escassez da água superficial e pouca chuva. Geralmente, o lençol freático nos trechos centrais da
bacia situa-se entre 10 e 30 metros de profundidade, mas na Província de Cunene no trecho inferior
da bacia, o lençol freático encontra-se a 220 metros de profundidade em áreas distantes dos rios.

Na bacia, há mais de 2.000 furos em operação que estão revestidos com tubos, principalmente
para usos domésticos e agrícolas. Contudo, o seu rendimento é geralmente baixo, com 1 a 10 litros
de água por segundo. A maioria dos furos não excede a profundidade de 100 metros excepto no
curso inferior do Cunene. O último inventário com informação sobre a sua distribuição espacial (por
província) data de 1992 (Minader/FAO 2004).

Aproveitamentos Hidroeléctricos

A partir das possibilidades hídricas do rio Cunene e dos principais afluentes pretende-se com o Plano
Cunene o desenvolvimento económico das regiões por onde passa, através da construção de
barragens para aproveitamentos hidroeléctricos, hidroagricolas, hidro-pecuários e de
abastecimento da água a comunidades rurais e seus animais; para o normal funcionamento das
barragens com os objectivos descritos estava prevista a construção de barragens de regularização
ao longo do rio. Noâmbito deste plano foram realizados os seguintes empreendimentos (Sanches,
1999):

 Gove (província do Huambo);

 Matala (província da Huila);

 Calueque (província do Cunene);

 Ruacaná (província do Cunene).

Encontram‐se por terminar os seguintes empreendimentos: Gangelas (município da Chibia província


da Huila); Cova do Leão (município da Cahama província do Cunene).

Prevê-se ainda a realização dos seguintes empreendimentos indicados nos quadros seguintes.

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Quadro 15: Projectos previstos pelo Estudo Hidrográfico do Rio Cunene


Troço/ Secção Local Obra prevista

Empreendimentos Jamba Yo Oma Regularização de caudal e produção de energia


previstos Alto ( Huila) (39 MW)
Cunene Chivôndua Produção de energia (15 MW)
(montante da (província da Huila)
Matala) Jamba ya Mina Regularização de caudal e produção de energia
(província da Huila) (81,5 MW)
Empreendimentos Matunto Previsto para regularização de caudal e permitir
previstos 1º parte aproveitamentos agrícolas (entre 15 a 20.000 ha –
do Baixo Cunene Rede de Rega da Camba)
(jusante da Chissola Regularização de caudal e produção de energia
Matala até o (6,5 MW)
Calueque) Caringo Regularização de caudal e produção de energia
(5 MW)
Gungo Regularização de caudal e produção de energia
(4 MW)
Lucunde Regularização de caudal e produção de energia
(6,5 MW)
Cambundi Regularização de caudal e produção de energia
(14,5 MW)
Catembulo Aproveitamento hidro-agrícola e pecuário
(ordenamento) semelhante ao preconizado para o
ordenamento Quiteve/Humbe (pecuário) e rede
de rega da Camba (agrícola), aproveitamento
hidroeléctrico (5 MW)
Empreendimentos Lacavale Aproveitamento hidro-eléctrico (40 MW)
previstos 2º parte Luandege Aproveitamento hidro-eléctrico (180 MW)
do Baixo Cunene
(do Calueque até
ao Ruacaná))
Ruacaná Ruacaná Aproveitamento hidro eléctrico para
abastecimento à Namíbia (eventualmente
Angola); no que toca a Angola neste momento
existe uma linha que abastece Santa Clara,
Namacunde e Ondjiva e outra que abastece
Calueque, Chitado e Naulila
Empreendimentos Ondorusu Aproveitamento hidro-eléctrico (50 MW)
previstos 3º parte Zebra Aproveitamento hidro-eléctrico (40 MW)
do Baixo Cunene Epupa I Aproveitamento hidro-eléctrico (150 MW)
(do Ruacaná até Epupa II Aproveitamento hidro-eléctrico (50 MW)
à foz) Baynes Aproveitamento hidro-eléctrico (160 MW)
Marian Aproveitamento hidro-eléctrico (180 MW)
Hartman Aproveitamento hidro-eléctrico (90 MW)
Hombolo Aproveitamento hidro-eléctrico (135 MW)
Mcha Aproveitamento hidro-eléctrico (50 MW)

Fonte: Plano Cunene

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4.5.4 Bacia Hidrográfica do Rio Congo (Zaire)

O Rio Congo (ou Zaire) é um rio da África Central, o segundo maior rio de África (após o rio Nilo) e o
sétimo do mundo, com uma extensão total de 4 700 km, uma bacia de 3 888 km 2, chegando a
debitar mais de 67 000 m3/s de água (caudal máximo).

É o segundo rio mais volumoso do mundo, apenas ultrapassado pelo rio Amazonas e, também, o
segundo em área da bacia hidrográfica (novamente a seguir ao Amazonas). É também o mais
profundo do mundo, com 230 m de profundidade no baixo Congo.

O rio Zaire nasce no Planalto do Shaba, nas montanhas do vale do Rift. A zona drenada por este rio
compreende a República do Congo, a maior parte da República Democrática do Congo, o oeste
da Zâmbia, o norte de Angola, grande parte da República Centro-Africana e setores do Camarão e
da Tanzânia.

Figura 15: Percurso do Rio Congo

Os seus principais afluentes são: o rio Ubangui, pela margem direita, o rio Cassai, pela margem
esquerda. O seu regime depende das chuvas equatoriais, cuja bacia é coberta por impenetráveis
florestas equatoriais. Outros afluentes de interesse: Alima, Aruwimi, Kasai, Elila, Inkisi,Itimbiri, Kwa,
Lomami, Lowa, Lufira, Lukuga, Lulonga, Luvua, Mongala, Sangha, Ruki, Oubangui, Ubangui.

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Em meados de Novembro, mês e meio após o começo do tempo das águas da chuva, o rio Zaire
enche até uns 2,7 m acima de seu nível ordinário.

O regime fluvial do Congo caracteriza-se pela regularidade, já que os meses de estiagem dos
afluentes do hemisfério sul (Ruki e Kasai) são compensados pelas cheias dos afluentes do hemisfério
norte (Ubangui) e vice-versa.

Devido à constância do seu enorme caudal, é navegável por barcos de grande tonelagem até
Matadi, na República do Congo, distando a 5 km a montante do município de Nóqui, em Angola.

O rio Congo é assim uma das grandes vias de comunicação da África Equatorial. De Kisangani até
à foz, este rio e seus afluentes oferecem uma rede navegável de aproximadamente 14 500 km. Por
este motivo, é ainda um local com grande fluxo de comércio, já que República Democrática do
Congo tem poucas estradas e ferrovias.

O rio Congo é o rio com o maior poder energético de África. Durante a estação chuvosa o fluxo do
rio é de 50 000 m3/s que desaguam no oceano Atlântico. Cientistas calcularam que a bacia do
Congo é responsável por 13% do potencial hidroelétrico mundial, o que seria suficiente para
fornecer energia para toda a África Subsaariana.

A principal extensão do rio atravessa assim a República Democrática do Congo e, perto da sua foz,
a cerca de 120 km, estabelece a fronteira com o município de Nóqui, em Angola, desaguando no
oceano Atlântico, no Golfo de Bengela.

A largura da foz do rio Zaire ou Congo tem 48 km aproximadas entre a Ponta da Moita Seca,
margem esquerda e, a Ponta do Diabo, que é o extremo da sua margem direita.

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Figura 16: Foz e Estuário do Rio Congo

Aproveitamentos Hidroeléctricos

Atualmente existem cerca de 40 barragens na bacia do rio Congo. A maior é a Inga Falls com
cerca de 200 km (120 milhas) a sudoeste de Kinshasa.

Angola é membro da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (conhecida por


SADC), uma organização sub-regional de integração económica dos países da África Austral, com
projectos na área do desenvolvimento hidroeléctrico, nomeadamente o “Projecto de
Desenvolvimento do Corredor Eléctrico Ocidental (Westcor)”.

Este projecto visa diminuir o défice de electricidade que afecta os países membros, entre eles,
Angola.

A concepção inicial do projecto deu origem às duas barragens actualmente existentes, com cerca
de 14 turbinas e uma produção original instalada de 1 775 MW: a Inga I (351 MW) e a Inga II (1 424
MW), datadas de 1972 e 1982, respectivamente.

O projecto engloba agora a construção de outra central hidroeléctrica, no mesmo local onde se
encontram as duas anteriores barragens – o rio Congo: a central Inga III, 225 km a sudoeste de
Kinshasa.

A central Inga III será construída nas Cataratas Inga, onde o rio Congo cai quase 100 m e flui à
velocidade de 43 m3/s. Irá gerar cerca de 4 300 MW, 8 vezes mais que a fornecida pela barragem

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hidroeléctrica de Capanda, em Angola (capacidade actual da barragem de Capanda ronda os


520 MW).

O projecto contempla ainda uma linha de transporte de alta tensão com 3 000 km, que partirá da
zona onde será construída a central hidroeléctrica, em direcção à África do Sul, passando por
Angola, Namíbia e Botswana.

Esta é a primeira fase. Um outro projecto para o futuro, aponta para a construção de uma outra
central, a Inga IV, a Grande Inga, com capacidade de produzir acima de 30 000 MW de energia.

O projecto global do Grande Inga terá capacidade para produzir 40 000 MW, ultrapassando
grandemente a capacidade da barragem de Cahora Bassa, em Moçambique, que possui
capacidade para produção de 2 500 MW, e o dobro da maior barragem do mundo, a “Três
Gargantas”, na China (22 500 MW).

O projeto do Grande Inga terá assim capacidade para fornecer eletricidade a metade dos 900
milhões de habitantes do Continente Africano.

4.5.5 Bacia Hidrográfica do Rio Cuanza

O Rio Cuanza é o maior rio exclusivamente angolano. Este rio nasce em Mumbué, município
do Chitembo, Bié, no Planalto Central de Angola. O seu curso de 960 km desenha uma grande
curva para Norte e para Oeste, antes de desaguar no Oceano Atlântico, na Barra do Kwanza, a sul
de Luanda.

Com uma bacia hidrográfica de 152.570 km², o Cuanza é navegável por 258 km desde a foz até ao
Dondo. As barragens de Cambambe e de Capanda produzem grande parte da energia eléctrica
consumida em Luanda. As barragens também fornecem água para irrigação de plantações
de cana-de-açúcar e outras culturas no vale do Cuanza.

Este rio tem como afluentes na margem direita, o Lucala (o maior), Mucoso, Lombe, Cuíje, Cuque,
Luando, Cuíva, Cuíme e Chimbamdiango. Os afluentes na margem esquerda são o Gango, Cutato,
Cunhinga, Lúbia, Cunje e Cuquema.

É no maior afluente do Cuanza, o rio Lucala, que se encontram as grandes Quedas de Kalandula.
Junto da foz do rio fica o Parque Nacional da Quiçama.

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O rio dá o seu nome a duas províncias de Angola — Cuanza Norte, na sua margem norte, e Cuanza
Sul, na margem oposta — bem como, desde 1977, à unidade monetária nacional, o kwanza.

4.5.6 Bacia Hidrográfica do Rio Cuando

O rio Cuando nasce no Planalto Central e corre para sueste, formando parte da fronteira entre
aquele país e a Zâmbia; durante este percurso, o leito do rio é formado por ilhas e canais, com uma
largura que varia entre cinco e dez km. Tem 735 km de comprimento.

Quando termina essa fronteira, o Cuando atravessa a Faixa de Caprivi na direção sudoeste,
mudando novamente de direção para formar a fronteira daquela região da Namíbia com
o Botswana, correndo primeiro para sueste e depois para leste, onde vai desaguar no Zambeze. A
curva do rio é pantanosa e aí se encontram dois parques nacionais Mudumo e Mamli, ambos em
território namibiano. Esta porção do rio é conhecida por rio Linyanti ou pântano Linyanti. A porção
seguinte, a caminho do Zambeze é denominada Chobe.

Há cerca de 10.000 anos, o rio Cuando não fazia aquela curva, mas continuava a correr para
sudoeste onde se encontrava com o Okavango para, mais a sul, onde neste momento é o deserto
do Kalahari, formarem o lago Makgadikgadi.

A barragem do Cuando nas zonas superiores do Alto Cunene tem uma mini-estação hidroeléctrica
com quatro turbinas de 250 kW.

Embora seja uma barragem relativamente pequena, a energia produzida é importante para o
Huambo pois é utilizada nas bombas de uma grande parte da rede de água potável da cidade

4.6 USO NÃO COMSUMPTIVO DE ÁGUA

Pretende-se deste ponto, à parte da análise efetuada anteriormente, caracterizar os usos não
comsumptivos de água no território angolano, em termos de aproveitamentos hidroeléctricos e
irrigação. A análise da utilização comsumptiva da água está explanada no Volume V –
Infraestruturas.

4.6.1 Aproveitamentos Hidroeléctricos

A geração de energia hidroelétrica é a maior actividade em território acional, mas é uma


actividade que usa a água de forma não consumptiva (as utilizações comsumptivas de águas são

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descritas no Volume correspondente às Infraestruturas). A construção de barragens pode fornecer


actividades de lazer, as quais são também não consumptivas, e tais projectos podemtambém
contribuir para o controle dos fluxos dos rios, incluindo o controlo de inundações, asquais numa
próxima fase poderão fornecer fluxos mais estáveis de água para a agricultura.

Em termos gerais, apresenta-se a visão geral das hidroeléctricas existentes:

Aproveitamentos em operação

Para inventariar os aproveitamentos existentes, em construção e com estudos realizados foi feita
uma análise detalhada da informação recolhida em várias fontes.

Tomando como referência o ano 2011, constatou-se que em Angola apenas existem nove
aproveitamentos hidroeléctricos em operação, que se identificam no quadro seguinte.

Quadro 16: Aproveitamentos hidroeléctricos em operação em 2011


Ano de Potência em Prod. anual Ligação à
Nome Província Bacia
Construção operação (MW 2011 (GWh) rede

Aproveitamentos hidroeléctricos de média e grande dimensão

Biópio Benguela 1957 Catumbela 8,9 41 Centro

Cambambe I Cuanza Norte 1962/1973 Cuanza 90 520 Norte

Capanda Malanje 2005 Cuanza 520 3240 Norte

Chicapa Lunda Sul 2008 Zaire 16.0 32 Isolada

Luachimo Lunda Norte 1957 Zaire 4,4 30 Isolada

Matala Huíla 1955 Cunene 27,2 102 Sul

Ruacaná Cunene 1978 Cunene 249 1410 Namíbia

Pequenos aproveitamentos hidroeléctricos

Luquixe I Uíge 1968/1971 Zaire 0 - Isolada

TOTAL 916 5375 -

Os aproveitamentos hidroeléctricos em operação totalizaram em 2011 uma potência operacional


de 916 MW, a que correspondeu a energia produzida de 5375 GWh (este valor inclui a produção do
aproveitamento de Ruacaná). Não se obteve confirmação da existência de outros pequenos
aproveitamentos hidroeléctricos (PAH) em operação, nem dados de confirmação do estado actual

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de operação do PAH de Luquixe I. No entanto, é de admitir que existem mais PAH em operação no
País, particularmente sob gestão dos governos provinciais.

O Aproveitamento de Ruacaná, actualmente em fase de expansão, com a instalação do 4º grupo,


localiza-se no troço internacional e é explorado pela NAMPOWER, empresa namibiana de energia.
Enquanto a albufeira/açude se encontra localizada em território angolano, a geração de energia
eléctrica é feita na central que se encontra em território namibiano. Os valores da potência
instalada e a energia produzida estão incluídos neste estudo; no entanto, dos 1410 GWh/ano
produzidos no ano de 2011, apenas 36 GWh/ano são utilizados em Angola para abastecer algumas
vilas fronteiriças.

Todos estes aproveitamentos (com excepção de Capanda) estão actualmente a ser sujeitos a
obras de reabilitação ou expansão, pelo que, a curto prazo, a produção de energia de origem
hídrica irá aumentar de modo significativo, com destaque para a contribuição dos aproveitamentos
de Cambambe (Central I) e Ruacaná (inicio de exploração da quarta Turbina).

Aproveitamentos hidroeléctricos em execução

Como se referiu atrás, a maioria dos aproveitamentos existentes encontram-se em obras de


reabilitação e/ou expansão que deverão ser finalizadas até 2015. O caso distinto é o
Aproveitamento de Gove, que após a finalização das obras de reabilitação da barragem, está
igualmente a finalizar a instalação de uma central hidroeléctrica de raiz. Estes aproveitamentos são
identificados no Quadro 3.36, apresentando igualmente o valor de produção de energia, quando
todos estes aproveitamentos entrarem em funcionamento.

Quadro 17: Aproveitamentos hidroeléctricos existentes ou em construção


Ano previsto
Potência Prod. prevista Ligação
Nome Província Bacia hidrográfica de entrada
prevista (MW) (GWh) à rede
em serviço
Aproveitamentos hidroeléctricos de média e grande dimensão
Biópio Benguela Catumbela 15,2 35 2013 Centro
Cambambe I Kwanza Norte Kwanza 260 1 896 2013 Norte
Cambambe II Kwanza Norte Kwanza 700 2 497 2015 Norte
Capanda Malanje Kwanza 520 4 814 - Norte
Chicapa Lunda Sul Zaire 42,0 90 2014 Isolada
Gove Huambo Cunene 60,0 147 2012 Sul
Laúca Malange Kwanza 2067 9032 2016 Norte
Lomaum Benguela Catumbela 50,0 107 2011 Centro
Luachimo Lunda Norte Zaire 32,8 282 2015 Isolada
Mabubas Bengo Dande 25,6 154 2012 Norte

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Ano previsto
Potência Prod. prevista Ligação
Nome Província Bacia hidrográfica de entrada
prevista (MW) (GWh) à rede
em serviço
Matala Huila Cunene 40,8 92 2013 Sul
Ruacaná Cunene Cunene 341 1 800 2012 Namibia

Pequenos aproveitamentos hidroeléctrios

Cunje I Bie Kwanza 1,6 0 - Isolada


Cunje II Bie Kwanza 4,5 0 2013 Isolada
Luapasso Lunda Norte Zaire 26 0 2014 Isolada
Luquixe I Uíge Zaire 0,9 2 - Isolada
Luquixe II Uíge Zaire 2,0 4 2013 Isolada
TOTAL 4 189 19 053 -

É de referir que, com o fim das obras em curso, a potência operacional passará de 916 MW (2011)
para 4 189 MW e a energia média anual produzida de 5 375 GWh para 19 000 GWh. No entanto,
estes valores devem ser reduzidos e confirmados, dado que a produção de energia do
Aproveitamento de Ruacaná, como referido, se destina, na sua grande maioria, à Namíbia.

Para além destes aproveitamentos actualmente em exploração ou com obras de reabilitação,


expansão ou construção, existe um elevado número de aproveitamentos planeados para serem
terminados em 2017, que se descrevem de seguida.

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Figura 17: Localização dos aproveitamentos hidroeléctricos operacionais, em construção ou


planeados para 2017

Fonte: PLANIRRIGA, COBA, 2012

Aproveitamentos hidroeléctricos planeados até 2017

Considerando, o ano de 2017identificam-se no quadro seguinte os aproveitamentos hidroeléctricos


previstos realizar até 2017, com base nos planos existentes e no estado de desenvolvimento dos
estudos em curso (PNEIA, 2012).

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Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

Quadro 18:Novos aproveitamentos hidroeléctricos previstos até 2017

Potência a Produção de
Província Unidade Entrada em
Nome instalar energia anual Observações
hidrográfica operação
(MW) (GWh)

Caculo Kwanza Estudos


Kwanza 2 051 7 500 2016
Cabaça Norte preliminares
Estudos
Capunda Kwanza Sul Queve 330 1 706 2016
preliminares
Estudos
Dala Kwanza Sul Queve 444 2 279 2016
preliminares
Estudos
Cafula Kwanza Sul Queve 524 2 695 2016
preliminares
Jamba-ia- Projecto de
Huíla Cunene 227 535 2017
Mina execução
Jamba-ia- Projecto de
Huíla Cunene 79 187 2016
Oma execução
Projecto de
Baynes Namibe Cunene 465 1 498 2017
viabilidade
Chiumbe- Projecto de
Lunda Sul Zaire 15 66 2018
Dala execução
Projecto de
M'Bridge Zaire Noroeste 7 24 2015
execução
Cuando Projecto de
Liapeca Cubango 4 32 2013
Cubango execução
Cuando Projecto de
Cuelei Cubango 6 44 2013
Cubango execução
Lunda Projecto de
Samuela Zaire 15 79 2012
Norte execução
TOTAL 4167 16645 -

Neste quadro não estão incluídos os aproveitamentos com obras a decorrer, incluindo apenas os
aproveitamentos planeados para terminar até 2017, e onde se destacam pela sua dimensão o
aproveitamento de Caculo Cabaça no rio Cuanza, três aproveitamentos no rio Queve e o
aproveitamento de Baynes, partilhado com a Namíbia.

Neste quadro não se inclui igualmente os pequenos aproveitamentos hidroeléctricos previstos


construir no âmbito do SubPrograma de Pequena Geração Hidroeléctrica do MINEA. Dos
aproveitamentos previstos, destacam-se os seguintes aproveitamentos:

 PAH Cuando no rio Cuando (Bacia Hidrográfica do Cunene) com potência de 2,0 MW;

 PAH Kuito II no rio Kuito (Bacia Hidrográfica do Cubango) com potência de 0,6 MW;

135
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 PAH Andulo no rio Membia (Bacia Hidrográfica do Kwanza) com potência de 0,5 MW;

 PAH Cuemba no rio Cuemba (Bacia Hidrográfica do Kwanza) com potência de 0,4 MW;

 PAH Nharea no rio Cunhinga (Bacia Hidrográfica do Kwanza) com potência de 2,4 MW;

 PAH Chafinda no rio Luena (Bacia Hidrográfica do Zambeze) em estudo preliminar;

 PAH Caquima no rio Cuchi (Bacia Hidrográfica do Cubango) em estudo preliminar;

 PAH Maculungungu no rio Cubango (Bacia Hidrográfica do Cubango) em estudo preliminar.

No quadro seguinte apresenta-se um resumo da situação no ano 2017 por bacia hidrográfica, se
todas as obras planeadas forem realizadas.

Quadro 19:Situação prevista de produção de hidroelectricidade em 2017

Produção
Potência Potência
Unidade Área Escoamento anual de
Potência operacional 2017/
Hidrográfica total médio anual energia
prevista (MW) em Potência
(km2) (hm3) prevista
2011 (MW) 2011
(GWh)
Cabinda 6 897 474 - - -

Noroeste 54 206 7 319 6,8 24 0

Dande 9 829 1 043 26 154 0

Bengo 11 502 975 - - -

Kassai 154 641 47 999 134 523 20,4 6,6

Cuango 132 978 33 929 - - -

Alto Kwanza 88 830 19 620 6,1 0 0

Médio Kwanza 116 540 21 050 5 598 23 841 610 9,2

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Produção Potênci
anual de a Potência
Escoamen Potência
Unidade Área total energia operacio 2017/
to médio prevista
Hidrográfica (km2) prevista nal em Potência
anual (hm3) (MW) 2011
(GWh) 2011
(MW)
Baixo Kwanza 151 245 22 337 - - -

Longa 26 616 2 745 - - -


Catumbela 20 860 3 760 65 142 8.9 7,3
Queve 22 813 5 540 1 298 6 680 0
Cubal 18 582 2 397 - - -
Zambeze 150 292 31 205 - - -
Alto Cunene 27 983 55 42 404 961 27.2 14,8
Médio Cunene 84 382 6 403 - - -
Baixo Cunene 94 822 6 403 806 3 298 249 3,2
Coporolo 16 842 1 079 - - -
Sudoeste 66 170 385 - - -
Cuvelai 52 566 1 213 - - -
Cubango 151 461 17 782 10 76 0
Cuando 108 872 4 263 - - -
TOTAL 1 246 700 190 846 8 353 35 698 916 9,1

Como se pode observar, prevê-se que em 2017 a potência hidroeléctrica instalada seja da ordem
de 8 350 MW, a que corresponderá uma produção de energia de 35 700 GWh. É de referir que a
potência prevista para 2017 é quase 10 vezes a potência operacional em 2011 e duas vezes a
potência actualmente instalada ou em processo de instalação. Neste quadro estão incluídos os
valores da energia eléctrica produzida por Ruacaná e Baynes, que serão partilhados entre Angola e
Namíbia.

Potencial hidroeléctrico e aproveitamentos previstos construir a médio e longo prazo

Para além dos aproveitamentos operacionais, em obras ou planeados para construção até 2017,
existe um número muito elevado de estudos sobre novos aproveitamentos hidroeléctricos, que
permitem quantificar o potencial hidroeléctrico existente em Angola. Estes estudos têm níveis
diferentes de detalhe, pois alguns foram elaborados a nível de planeamento e de inventariação do
potencial e outros ao nível de projecto de execução.

As bacias hidrográficas mais estudadas na produção hidroeléctrica e onde existem maior número
de aproveitamentos hidroeléctricos em operação são as bacias de grande dimensão dos rios

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Cuanza e Cunene e as bacias litorais de média dimensão e onde existem boas quedas de água, em
particular as bacias dos rios Catumbela, Queve e Longa. Na bacia do rio Congo existem igualmente
previstos vários aproveitamentos de média dimensão, bem como nas bacias dos rios Cubango e
Cuando.

O Quadro 27 apresenta o resumo do potencial hidroeléctrico existente nas unidades hidrográficas


angolanas, incluindo os aproveitamentos em operação e construção, bem como os
aproveitamentos planeados.

Quadro 20:Potencial hidroeléctrico por região/unidade hidrográfica


Capacidade Potência Potência
Área Escoamento Potencial de produção operacional operacional/
Unidade médio anual
total hidroenergético anual de em Potencial (%)
Hidrográfica
(km2) (hm3) (MW) energia 2011 (MW)
(GWh)
Cabinda 6 897 474 - - - -

Noroeste 54 206 7 319 6,8 24 0 0


Dande 9 829 1 043 26 154 0 0
Bengo 11 502 975 - - -
Kassai 154 641 47 999 134 523 20 15,2
Cuango 132 978 33 929 - - - -
Alto Kwanza 88 830 19 620 444 2 455 0 0
Médio Kwanza 116 540 21 050 6 960 28409 610 8,8
Baixo Kwanza 151 245 22 337 1 071 4 245 0 0
Longa 26 616 2 745 1 207 4 891 0 0
Catumbela 20 860 3 760 1 937 10 587 9 0,5
Queve 22 813 5 540 2 630 13 570 0 0
Centro-Oeste 18 582 2 397 1 086 3 488 0 0
Zambeze 150 292 31 205 - - - -
Alto Cunene 27 983 5 542 437 1 340 27 6,2
Médio Cunene 84 382 6 403 75 207 0 0
Baixo Cunene 94 822 6 403 2 416 8 662 249 10,3
Coporolo 16 842 1 079 - - - -
Sudoeste 66 170 385 - - - -
Cuvelai 52 566 1 213 - - - -
Cubango 151 461 17 782 350 592 0 0
Cuando 108 872 4 263 - - -
TOTAL 1 246 190 846 18 779 79145 916 4,9
700

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A potência em operação em 2011 corresponde apenas a 4,9% do potencial do País. Com a


operacionalização de todos os aproveitamentos previstos construir até 2017 será atingindo 45% do
potencial do País.

É de referir que enquanto algumas bacias hidrográficas não têm condições para a implantação de
aproveitamentos hidroeléctricos por insuficiência de recursos hídricos ou de locais (Cuvelai,
Sudoeste, Coporolo e Bengo), noutras unidades não foram efectuados estudos por não terem
teoricamente grande potencial e estarem mais afastados geograficamente das áreas de consumo
(Zaire, Cassai, Cuango, Zambeze e Cuando).

Pelo seu elevado potencial hidroeléctrico destacam-se as bacias do Cuanza, Queve, Longa e
Cunene, cuja exploração pode ser limitada por outros usos, como a irrigação.

É de referir que a exploração da bacia do Cunene está muito intensificada pelas necessidades de
energia nos países vizinhos do Sul, principalmente para satisfazer as necessidades de ponta; no
entanto, poderá ser a bacia mais condicionada pelo elevado potencial de solos e clima para
irrigação. A implementação dos aproveitamentos hidroeléctricos nesta região apenas deverá ser
feita face às necessidades do País ou no contexto de fornecimento de energia a países vizinhos sem
recursos hidroenergéticos e localizados em especial ao Sul (Namíbia, Botswana e África do Sul).

4.6.2 Irrigação

A caracterização da utilização dos recursos hídricos pelo sector da irrigação requer um


levantamento, à escala nacional, das áreas de irrigação existentes, das origens de água utilizadas,
dos tipos de culturas praticados, e dos sistemas de irrigação existentes, bem como das respectivas
eficiências.

Numa perspectiva de enquadramento geral, e resultante da pesquisa efetuada, as áreas de


agricultura concentram-se principalmente ao longo da faixa costeira, enquanto o mosaico de
agricultura-vegetação arbórea localiza-se principalmente a sul, onde ocupa uma grande extensão.

139
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Figura 18:Carta de Ocupação do solo, Angola

Fonte:Cabral, 2008

Estima-se que a área arável é presentemente de aproximadamente 5,2 milhões de ha (MINADERP,


2011), cerca de 4% da superfície total. Importa notar que a área cultivada tem vindo aumentar
significativamente desde 2005, embora ainda se encontre muito longe da área agrícola potencial
que é de cerca de 58 milhões de ha (FAO, 2010).

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Na figura seguinte apresenta-se, por região hidrográfica, todos os perímetros irrigados e Núcleos de
Povoamento Agrário (NPA) que constam da base de dados do PLANIRRIGA (COBA, 2010). Tendo
em conta a informação compilada, a área total correspondente a perímetros irrigados existentes e
previstos ao abrigo de programas de desenvolvimento promovidos pelo Ministério da Agricultura ou
pelos Governos Provinciais (como sejam os canais de irrigação do Missombo, Calueque e Matumbo
e os perímetros irrigados de Luena, Chibia, Matala, Caxito e Wako Kungo) é de aproximadamente
438 000 ha, sendo 224 000 ha de perímetros irrigados existentes e 214 000 ha de perímetros previstos.
A área equipada actual, segundo os elementos que dispomos, ronda os 78 000 ha. Quanto aos NPA,
a área bruta total é de aproximadamente 514 000 ha, sendo a superfície agrícola útil potencial de
28 000 ha.

Esta figura mostra que, presentemente, a maior parte da área irrigada se concentra nas unidades
hidrográficas do Queve (cerca de 24,9% da área total irrigada) e do Médio Cunene (cerca de
23,5%), seguindo-se por ordem decrescente o Baixo Kwanza (11,2%) e a unidade hidrográfica do
Catumbela (9,2%).

Figura 19:Perímetros irrigados e núcleos de povoamento agrário

Fonte: PLANIRRIGA (COBA, 2010)

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Figura 20: Distribuição da área regada (%) pelas unidades hidrográficas

A avaliação das terras com potencial para irrigação, levada a cabo no âmbito do PLANIRRIGA, foi
efectuada para as regiões de Angola com défice hídrico potencial superior a 300 mm. Este critério
exclui quase toda a região hidrográfica do Zaire, cerca de 50% da área da região hidrográfica do
Zambeze e de Cabinda, uma parte do Kwanza (onde se verificam défices hídricos inferiores a 100
mm), algumas áreas das regiões hidrográficas do Noroeste; Centro-Oeste e a extremidade norte da
região hidrográfica do Cunene.

Na figura seguinte apresentam-se as áreas com potencial para irrigação em Angola.

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Figura 21: Áreas com potencial para irrigação

Fonte: PLANIRRIGA (COBA, 2010)

Desta forma, é possível verificar que Angola tem 7 427 073 ha com um potencial elevado para o
regadio ao nível do País, dos quais 79,5% (5 900 802 ha) são das classes de aptidão I (elevada) e II
(moderada).

De acordo, com a distribuição das áreas com potencial elevado para irrigação, verifica-se que 50%
desta área situa-se nas unidades hidrográficas do Médio Cunene (24,6%), Alto Cunene (15,2%) e no
Baixo Cuanza (10,1%).

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Ainda com expressão significativa em termos de existência do recurso terra para irrigação,
destacam-se as unidades hidrográficas do Cuvelai (6,8%), do Alto Cuanza (6,1%), do Noroeste
(5,1%), Cubango (4,8%) e do Longa (4,8%).

4.7 ANÁLISE PROVINCIAL

Apesar do reconhecido potencial de recursos hídricos existentes em Angola, e de algumas melhorias


ao nível da distribuição de água potável efectuadas nos últimos anos, estes permanecem bastante
subaproveitados.

Em 2000, apenas 44% da população de Angola tinha acesso a água potável, percentagem inferior
à média da África Subsariana (55%). Em 2006, a cobertura de água potável tinha já melhorado para
51%, ainda abaixo da média da África Subsariana (58%). Mesmo nas cidades onde funcionam redes
de abastecimento de água, as rupturas que existem na rede de distribuição fazem com que a água
da central de tratamento volte a ser contaminada ao longo do percurso, tornando a mesma
imprópria para consumo.

A maior parte da população em Angola não é servida pela rede pública, abastecendo-se por
camiões cisternas, a partir de ligações clandestinas ou mesmo directamente a partir de rios. Outra
fonte de abastecimento de água, muito comum nas cidades do interior, é o recurso à água
subterrânea. Nas províncias do Sul de Angola, a população recorre muitas vezes às águas das
chuvas acumuladas nas chimpacas (pequenas barragens) que servem também para o gado.

Os programas de exploração de águas subterrâneas para a criação de fontanários públicos de


fornecimento de água potável às populações desfavorecidas são coordenados, na sua maioria, por
ONG’s, e a sua implementação fez-se sentir essencialmente em zonas suburbanas e rurais no interior
do país onde se estima a existência de cerca de 3.3 mil pontos de água (furos ou poços com
bombas manuais) com capacidade unitária para abastecer cerca de 300 pessoas, totalizando
cerca de 1 milhão de pessoas.

Estes fatores relevam, naturalmente, que o potencial hídrico do país encontra-se, atualmente, sub-
explorado. Atualmente, estima-se que em Angola 86% do consumo de água seja feito pela
agricultura, 3% pela pecuária, 2% pela indústria e somente 9% a nível doméstico. O consumo total
está estimado em 2,3 mil milhões m3/ano.

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4.7.1 Província de Luanda e Bengo

A maior parte das áreas de desenvolvimento potenciais nas extremidades de Luanda e para o
interior, são drenadas em direcção aos dois principais rios que fluem do leste para o oeste, o Bengo
a norte e o Cuanza a sul.

No total, existem outras 7 bacias na província. As principais características são apresentadas no


quadro seguinte.

Quadro 21: Características das principais bacias de drenagem de Luanda

Área de
Bacia Extensão (km)
drenagem (km2)

Rio Quifica 12,9 44,8


Rio Onga Matanga 21,2 217,1
Rio Mulenvos 48,8 478
Rio Cambamba 53,8 307,5
Rio Bengo 136,9 2.378,4
Rio Cuanza 168,9 3.690,2
Rio Seco (cidade de Luanda) 3,8 4,2
Rio Soroca (cidade de Luanda) 6,2 11,6

Fonte: Planos Integrados de Expansão Urbana e Infra-estrutural de Luanda-


Bengo

Os rios Cuanza e Bengo têm perfis maduros com planos de inundação substanciais e são fontes de
água com elevada importância para a cidade de Luanda. Dentro da área urbana existem 6 bacias
de drenagem: Rio Seco, Rio Sorroca, Rio Mulenvos e Rio Cambamba.

A planície costeira e a margem do planalto são drenadas através de pequenos canais que
descarregam a partir de áreas de captação individuais. Estes canais são altamente erosivos e, em
muitos casos, associados a sérios problemas de instabilidade.

Embora não existam dados disponíveos sobre a qualidade da água descarregada a partir de
canais urbanos, estima-se que a mesma seja de má qualidade.

Na província de Luanda 35,830 hectares de terra estão sob agricultura irrigada ou parcialmente
irrigada e 7,120 hectares de terra estão planificados para a irrigação. A desagregação das áreas
por esquema de irrigação é a seguinte: Funda (200 ha), Kikuxi (6,000 ha), Fazenda Experimental (300
ha), Calumbo (700 ha), Banda (1,180 ha), Cabiri (540 ha), Mabuia (500 ha), Bita (1,000 ha), Sequel

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(300 ha), COPINOL (30 ha), Sapú (2,000 ha) e Tombo (30,000 ha). As principais culturas são fruteiras,
hortícolas e milho.

No Bengo existem 70,614 hectares sob agricultura irrigada ou parcialmente irrigada e 19,000
hectares sob reabilitação ou planificados para a agricultura irrigada. A desagregação dessas áreas
por esquemas de irrigação é a seguinte: Bom Jesus (1,300 ha), Caquila (1,250 ha), Quiminha Valley
(35,000 ha), Caxito (4,000 ha), Kala-Kala (800 ha), Lifune (3,900 ha), Musserra/Onzo (4,350 ha), Loge
(2,450 ha), Uezo (3,800 ha), Onzo (5,750 ha), Alto Dande (13,500 ha), Cunga-Quiria (10,450 ha),
Muzondo (3,000 ha) e AGRINVEST (14 ha). As principais culturas irrigadas nesta província são banana,
hortícolas, milho e fruteiras.

Benguela

De acordo com o Programa Nacional Estratégico Imediato para a Água (PNEIA), as unidades
geográficas existentes na província de Benguela são as da Catumbela, do Centro-Oeste e do
Coporolo, sendo as duas primeiras pertencentes à região hidrográfica do centro Oeste e a última
pertencente ao Sudoeste.

Figura 22: Rede Hidrográfica da Província de Benguela

Fonte: Própria

146
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Quadro 22: Regiões e unidades geográficas da província de Benguela

Região Unidade
Área (km2)
hidrográfica hidrográfica

Longa 26 616
Catumbela 20 860
Centro Oeste
Queve 22 813
Centro-Oeste 18 582
Coporolo 16 842
Sudoeste
Sudoeste 66 170

Fonte: Programa de Desenvolvimento Provincial de Benguela (2013-2017)

Relativamente à qualidade da água, durante os últimos anos verificaram-se melhorias quantitativas


e qualitativas na água, tomando por base os padrões universalmente aceites pela Organização
Mundial da Saúde (OMS).

Na zona do litoral a água é submetida a análises com periodicidade diária, com o objetivo de
monitorizar a sua qualidade. Para as zonas do interior existem dez equipamentos portáteis para
avaliar a qualidade da água distribuída às populações.

Em Benguela existem 38,521 hectares sob agricultura irrigada ou parcialmente irrigada e 25,300
hectares sob reabilitação ou planificados para a agricultura irrigada. A desagregação dessas áreas
por esquemas de irrigação é a seguinte: Cavaco (6,000 ha), Catumbela (3,000 ha), Dombe Grande
(3,000 ha), Hanha do Norte (6,000 ha), Canjala (2,000 ha), Equimina (1,821 ha), Hanja (6,000 ha),
Impulo (1,800 ha), Alto Coporolo (14,900 ha), Baixo Coporolo (11,200 ha) e Foz do Coporolo (5,300
ha). As principais culturas irrigadas nesta província são banana, hortícolas, fruteiras e cana-de-
açúcar.

4.7.1 Província do Bié

A província do Bié caracteriza-se pela nascente do Rio Cuanza cuja sua foz é na Barra do Cuanza,
na província de Luanda.

A informação disponível para a Província de Bie referente a localização de uma Estação Mini-
Hidroelétrica do Kunje, no Rio Kunje, que ntrou em operação em 1971, está neste momento fora de
operação, no entanto existem planos para sua reabilitação.

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Verifica-se ainda a presença de uma Estação Mini-Hidroelétrica Kuito Ceramica, com Turbina de
1x100 MW Esta foi reabilitada em 2003, está neste momento em operação. O projecto foi aprovado
por causa da dificultadade de extensão do sistema de transmissão para essa área. A Capacidade
Instalada é de 1.5 MW.

O desenvolvimento da agricultura irrigada na Província do Bié não é significante. Essa província


beneficia de um volume anual de precipitação (1,252 mm/ano) que permite o desenvolvimento da
agricultura de sequeiro.

4.7.1 Província de Cabinda

A rede hidrográfica da província de Cabinda é constituída por quatro principais bacias:

- Lubinda – com 668 Km2, que ocupa a parte litoral Norte da Província terminando no lago Massabi
(com cerca de 5 km2) e que inclui o rio Lubinda com cerca de 38 Kkm de extensão e os rios N`hoca
e Tambala com 48 e 30 Km, respetivamente

- Chiloango – com 4.638 Km2, que ocupa toda a zona central e nordeste, estendendo-se ainda para
a República do Congo e para a República Democrática do Congo e que inclui os rios Chiloango
(com cerca de 168 Km) que desagua a Norte de Lândana; o Luali o principal afluente (com cerca
de 100 Km); o Lombe; o Fubo e o Luio;

- Lulondo – com cerca de 511 Km2, que ocupa a zona a sul do Chiloango, terminando junto a Buco
Mazi;

- Lucola – com cerca de 350 Km2, ocupa o extremo sul da Província e termina junto à cidade de
Cabinda.

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Figura 23: Rede Hidrográfica da Província de Cabinda

Como reflexo de grande parte da


província ser um território muito
aplanado e de baixas altitudes, em
toda a faixa costeira, assim como no
interior, localizam-se vários lagos, com
destaque para o lago Massabi, no
extremos Norte junto da fronteira com a
República do Congo, para o Mandjeno
(Cacongo) o Lombe (Belize), o Soco, o
Pango, o Tera, a Ponta N`gelo, o
Malongo, o Bumba, o Cuito, o
Chincuta, o Lela, o Lucucuta e o Tando
Conde. Encontram-se, também,
algumas zonas pantanosas
principalmente na zona adjacente da
parte terminal do rio Chiloango, que é
regularmente inundada.

Uma vez que não existe, em qualquer


das linhas de água de Cabinda, uma
estação hidrométrica, a avaliação das
disponibilidades hídricas da região é
Fonte: Própria
feita através do balanço hídrico entre
as variáveis climáticas e as estimativas
da infiltração profunda e dos escoamentos.

As formas de captação de água utilizadas na província são: as Captações de águas Superficiais e


as Captações de águas Subterrâneas. As captações de águas superficiais são feitas nos rios, lagos
ou lagoas. A qualidade da água captada nas fontes superficiais apresenta sempre caraterísticas
físicas, químicas e microbiológicas que geralmente implicam a instalação de plantas de tratamento
em função da qualidade da água ou do tipo de empreendimentos a ser dimensionado na fonte.

As captações de águas subterrâneas são feitas por perfuração de poços profundos e escavados.

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Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

4.7.1 Província do Cuando Cubango

Não foi possível obter informações para esta província.

Em termos de área irrigada, no Cuando Cubango existem 4,000 hectares de terra sob agricultura
irrigada ou parcialmente irrigada e 5,000 hectares em reabilitação. A desagregação dessas áreas
por esquema de irrigação é: Menongue I (3,000 ha), Menongue II (1,000 ha) and Cuchi (5,000 ha). As
principais culturas sob irrigação são fruteiras, hortícolas e arroz.

4.7.1 Província do Cunene

No sentido Norte-Sul a província do Cunene é atravessada pelo rio Cunene, permanente e de


elevado caudal anual, que depois de banhar pelas duas margens, o município de Ombadja inflecte
para Oeste em direcção ao oceano Atlântico onde tem a sua foz, servindo este troço de fronteira
com a Namíbia.

A província é atravessada ainda pelo rio Caculuvar, que cruza o município da Kahama, e pelo rio
Kuvelai, que bordeja a Noroeste o município do Kuvelai. Estes rios, apesar de serem temporários têm
caudais razoáveis e podem oferecer significativas quantidades de água se esta for gerida de forma
equilibrada, nomeadamente com a construção de mini-hídricas.

Existem ainda numerosas mulolas (rios de enxurrada) e lençóis freáticos, os quais possibilitam a
actividade de vários furos a profundidades que variam entre 80 a 200 m.

A província é dominada por duas Bacias Hidrográficas: a do rio Cunene e do rio Cuvelai.

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Figura 24: Rede Hidrográfica da Província de Cunene

Fonte: Própria

O rio Cunene tem uma extensão aproximada de 945 Km, nasce na província do Huambo, próximo
de Boas Águas, e desagua no oceano Atlântico. Embora tenha um leito bastante definido, tem uma
largura variável, chegando a atingir 8 Km no Humbe. A bacia hidrográfica do rio Cunene tem uma
área total aproximada de 106.500 Km 2, desenvolvendo-se na maior parte (92.400 Kkm2) em território
angolano, e o restante em território da Namíbia Os restantes cursos de água, são na sua maioria de
carácter temporário, com regime torrencial, secando durante a estação do “cacimbo”, de Maio a
final de Agosto, à excepção do próprio Cunene.

Esta bacia hidrográfica, que revela uma forte assimetria, estende-se pela margem direita em forma
de delta com o vértice em Sequendiva, enquanto na margem esquerda é alimentado pelo rio Mui.
Os afluentes, da margem direita no baixo Cunene são os rios Cacuvelar e Calonga.

Todas as linhas de água da Bacia Hidrográfica drenada pelo trecho intermédio do rio Cunene têm
regime de escoamento temporário.

A Bacia Hidrográfica do rio Cuvelai, onde assenta a denominada Bacia de Sedimentação


Cuanhama-Etosha, tem um vasto território de drenagem muito lenta ao longo de linhas de água
quase indefinidas que convergem em depressão na Namíbia, com mais de 7.000 Km 2. O rio Cuvelai

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tem a sua nascente na Serra do Encoco, entre as províncias do Cunene e Huíla, onde apresenta um
regime permanente a semi-permanente nos primerios 100 Km. Depois atinge o Evale e o seu caudal
principal subdivide-se em múltiplos canais por um ondulado suave, adquirindo um regime
temporário.

O principal corpo hidrológico estruturante da Bacia é, como já foi referido, o rio Cuvelai que tem a
sua nascente a 1.450 m de altitude, e a cerca de 260 Km da fronteira entre Angola e a Namíbia,
onde os valores pluviométricos médios anuais se situam acima dos 900 mm. Neste sector montante,
a rede de drenagem é bem definida e permanente. A cerca de 100 Km da fronteira, o rio entra
numa vasta superfície de modelado muito suave, onde se converte num vasto sistema de
drenagem superficial temporária, onde o declive é muito suave e a precipitação anual baixa para
valores inferiores a 500 mm. A Depressão Endorreica do Cuvelai-Lueque é representada pelo rio
Cuvelai, com cerca de 430 Km de escorrência endorreica, e fica definida entre duas bacias: a
Bacia do Cunene a Oeste e a Bacia do Kubango a Este.

A Bacia do Cuvelai compõe-se em cinco sub-bacias, sendo que quatro delas se iniciam em território
angolano e seguem para território da Namíbia onde encontram a sub-bacia do sistema Etosha-
Omuramba, totalmente em território da Namíbia.

O delta interior do Cuvelai é definido pela presença de canais pouco profundos alternados de
chanas e mufitos, que, devido às suas características geológicas e geomorfológicas distintas,
também apresentam características hidrológicas únicas.

Assim, em alturas em que a precipitação se encontra dentro dos valores médios, a água é
armazenada nas depressões existentes neste sistema de drenagem superficial. Por sua vez, quando
os valores pluviométricos são bastante superiores aos valores médios, as águas provenientes do
Norte da bBacia escoam em regime endorreico para Sul, alagando todas as áreas de cota menos
elevada. Este fenómeno cíclico e nem sempre anual, de nome efundja, é bastante frequente e
afecta toda a região disponibilizando água superficial por períodos que chegam até quatro meses.

A água superficial que fica armazenada em pequenos açudes e chimpacas tem elevado teor de
sais e está sempre sujeita à contaminação de vários factores, pelo que não é apropriada para
consumo humano. A efundja, por sua vez, para além de facultar água a locais que geralmente
estão em regime de seca, leva consigo nutrientes, sedimentos e fauna em grande diversidade.

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Dado que as chanas são praticamente impermeáveis, à excepção da presença de areias laváveis
existentes no seu interior, principiam logo a acumular as águas superficiais no início dasprimeiras
chuvas, e mais particularmente em Dezembro, dependendo das condições pluviométricas locais.

As águas da “efundja” também costumam ocorrer entre Dezembro e Abril, mas chegam mais
frequentemente por alturas de Fevereiro, dependendo do ano e da sua localização.

Devido a baixa precipitação anual (200-700 mm) o Cunene é uma das províncias angolanas com
um alto potencial para irrigação. Existem actualmente na provícia do Cunene 28,500 hectares sob
agricultura irrigada ou parcialmente sob agricultura irrigada e 572,400 hectares planificados para
irrigação. A desagregação das áreas por esquemas de irrigação é a seguinte: Matunto (92,800 ha),
Quiteve-Humbe (Mânquete) (120,000 ha), Cafu (40,200 ha), Catembulo (187,000 ha), Cova do Leão
(104,900 ha), Ndonguena (20,000 ha), Calueque (16,000 ha) e Upper Cuvelai (20,000 ha). As
principais culturas são fruteiras e hortícolas. Existem possibilidades para à introdução de plantações
de cana-de-açúcar na província do Cunene.

4.7.1 Província do Huambo

Na Província do Huambo têm origem alguns dos rios mais importantes de Angola. É na grande linha
de festo central, que têm as suas cabeceiras o Queve (RH Centro-Oeste Angolano), o Cunene (RH
Cunene), o Cutato (RH Cuanza) e o Cubango (RH Cubango).

O Queve dirige-se para Noroeste e desenvolve-se ao longo de 500 km, e a sua bacia hidrográfica
apresenta uma superfície de cerca 23 000 km2, dos quais metade ocorre na Província. O Cunene
dirige-se para Sudeste e estende-se por 1 160 km, com uma bacia hidrográfica de 95 000 km 2, dos
quais cerca de 8 400km2 ocorrem nesta Província. O rio Cutato, que é um afluente do Cuanza e o
Cubango dirigem-se para Nordeste e Sul, respectivamente. Cita-se ainda o Cuvira, afluente do
Queve, e que drena as suas águas a Oeste da cadeia marginal de montanhas. Estes rios têm
numerosos afluentes, quase todos de caudal permanente, embora com redução significativa no
cacimbo.

O Cubango é, segundo Diniz e Aguiar (1973), um dos três grandes rios do Sul de Angola. Nasce no
Planalto do Huambo, perto da Vila Nova (Chicala-Choloanga), a pouco mais de 1800 m de altitude
e corre sensivelmente no sentido SSE até atingir a Namíbia. Segue depois fazendo fronteira até ao
Mucusso, onde à cota de 1025 m inflecte para SE e abandona o território angolano, indo até ao
delta do Ocavango no Botswana. Como nota curiosa, assinala-se que quase todos os afluentes do
rio Cubango são da margem esquerda, destacando-se dentre estes o muito importante rio Cuito. A

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parte da bacia do Cubango que contribui de forma efectiva para o fluxo de caudais do rio confina-
se praticamente ao território angolano, onde abrange uma área de 150.000 km 2, dos quais 60.900
km2 pertencem ao Cuito, seu principal tributário. O Cubango é um rio de regime permanente mas
com grandes variações de caudal ao longo do ano, sendo seus principais afluentes os rios Cutato
Nganguela, Cuchi, Cuelei, Cuebe, Cueio, Longa, Cuatir e Cuito. Em território da Província do
Huambo os afluentes mais importantes deste rio são o Mbando, Ulava, Cacoliza e Cutato
Nganguela. O rio Cubango apresenta um comprimento total de cerca de 975 km.

As cabeceiras do rio Cunene estão localizadas nos planaltos de Angola, em altitudes entre 1 700 e 2
000 m, a leste da cidade do Huambo. O rio Cunene apresenta várias corredeiras e fluxos dentro de
um canal de aproximadamente 100 m de largura, caracterizado por um leito de pedras e areia,
indicando escoamento rápido e pouco armazenamento de sedimentos no sistema fluvial. Em
território da Província do Huambo, o rio Cunene tem como principais afluentes na margem direita os
rios Cuando (apresenta uma barragem que origina uma importante albufeira do curso superior do
rio Cunene), Cunhongamua, Calai e o Cuando (rio que conferiu o nome à barragem assim
designação nele localizada), que delimita parte da Província a sudoeste. Na margem esquerda
destaca-se o rio Etembo por delimitar a sul a Província do Huambo. O rio Cunene apresenta um
comprimento total de cerca de 1 100 km e um declive acentuado nos primeiros 330 km em
direcção à Matala.

O rio Cutato, que constitui um afluente do rio Cuanza, delimita em parte a Província, mais
especificamente no município do Mungo e do Bailundo (este/sudeste). O rio Cutato possui um
importante tributário na margem esquerda, o Luvulo, existindo ainda outros afluentes que marcam o
território, entre estes, os rios Mutuacuva, Ussanga e Ucoce.

O rio Queve, que nasce na zona Oeste atravessa parte da Província do Cuanza Sul, desaguando no
rio Cuanza. O rio Queve e os seus afluentes apresentam um caudal permanente e sua área de
drenagem constitui uma parte significativa da área da Província do Huambo. Constituem alguns dos
seus tributários os rios Calongue, Cuito, Colele, Cusso e Cuvo, Cuvombua, Cunhongamua, Cuvila.

Um afluente do Cuvombua - o Cussangai - apresenta um perfil muito maduro, especialmente no


percurso do seu afluente Culova, com extensas aluviões e meandros, em virtude de um nível de
base mais elevado, protegido pelas Serras Cambela e Humbi.

O rio Catumbela nasce na Serra de Cassoco e apresenta um comprimento total de 240 km; os seus
afluentes principais são o rio Cuiva, na margem direita, e o rio Cubal, na margem esquerda. No
território em estudo os principais afluentes do Catumbela são o Cuiva, Cuilo e o Bunge.

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Na Província do Huambo existem duas barragens, ambas na Região Hidrográfica do Cunene: a


Barragem do Cuando e a Barragem do Gove (Fonte: Sítio da Internet Kunene River Awareness).

A barragem do Gove localiza-se no município da Caála, a cerca de 76 km da cidade do Huambo,


no curso superior do rio Cunene, e foi o primeiro componente do Sistema Integrado do Rio Cunene a
ser concluído em 1975, tendo sido gravemente danificada durante a guerra. Constitui um dos mais
importantes aproveitamentos hidráulicos da bacia do Rio Cunene, pelo seu efeito regulador de
caudais para jusante e pelo facto de se encontrar situada na secção de influência de três rios
caudalosos: Cunene, Etembo e o Cunhangamua que, juntamente com os seus afluentes a
montante, contribuem para a Bacia Hidrográfica do Cunene.

A barragem, com 58 metros de altura, tem uma capacidade de armazenamento de cerca de 2 570
milhões de m³ e o caudal médio anual do rio no Gove é de cerca de 1 600 milhões de m³/ano
(Fonte: Sítio da internet Kunene River Awareness Kit).

De acordo com dados das estações hidrométricas no alto Cunene (registos de 1962 a 1972) verifica-
se um escoamento estimado em cerca de 363 mm na barragem do Gove (Pitman e Midgley, 1974).

A barragem do Gove destina-se a regularizar o caudal do Cunene, optimizar a geração de energia


a jusante na estação hidroeléctrica de Ruacaná, gerar energia hidroeléctrica para consumo local,
sobretudo nas Províncias do Huambo e Bié (capacidade instalada de 60 MW) e favorecer as
condições de desenvolvimento de projectos agrícolas e pecuários.

De referir que integrado na política de reconstrução das infra-estruturas básicas do Governo de


Angola, foi elaborado um projecto para a reabilitação e aumento de potencial da barragem do
Gove, projecto iniciado em 2005 e actualmente já concluído. Em Maio de 2012 foi realizado, a título
experimental, o transporte de energia para a cidade do Huambo.

A operacionalidade da Barragem do Gove, em termos de produção de energia, marca uma nova


fase no desenvolvimento da Província do Huambo, colmatando as necessidades de energia, que
tem limitado a expansão económica da região.

A barragem do Cuando, a cerca de 12 km a sul da cidade do Huambo, apresenta uma altura total
de cerca de 7 m e foi construída no decorrer dos anos cinquenta. O rio Cuando, na secção junto à
Missão do Cuando, onde se localiza a barragem, drena uma área de cerca de 174 km2 e tem um
comprimento de 40 km. É de referir que não se conhecem quaisquer registos de caudais associados
a esta barragem.

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A estação hidroeléctrica existente na barragem do Cuando tem quatro turbinas de 250 kW. Esta
estação não esteve funcional durante muito tempo mas foi reabilitada recentemente. Embora seja
uma barragem relativamente pequena, a energia produzida é importante para o Huambo pois é
utilizada nas bombas de uma grande parte da rede de água potável da cidade (Fonte: Sítio da
Internet Kunene River Awareness).

Os recursos hídricos em Angola apresentam um potencial significativo para a implementação de


aproveitamentos eléctricos. Faz parte do programa do Governo a médio prazo (até 2017) instalar
novas capacidades de produção, nomeadamente três na Bacia do rio Cunene (Jamba ya Mina,

Jamba ya Oma e Baynes), uma na Bacia do Catumbela (Cacombo) e três na Bacia do Cuanza
(Cacambe II, Laúca e Caculo Cabaça). De acordo com o PNEIA, está ainda prevista até 2017 a
construção de 3 aproveitamentos hidroeléctricos no rio Queve: Capunda, Dala e Cafula.

Apesar da significante precipitação anual (superior a 1,200 mm), a irrigação também é


desenvolvida na província do Huambo como uma actividade complementar. A maioria da
actividade de irriação é levada a cabo durante a estação seca (Maio-Outubro). Existem 6,618
hectares de terra sob agricultura irrigada ou parcialmente irrigada no Huambo. A desagregação
das áreas por esquemas de irrigação é: Chissola IV (618 ha) e Kalima (6,000 hectares). As principais
culturas irrigadas são fruteiras e hortícolas. No esquema de irrigação de Chissola IV existe a
introdução de videiras.

4.7.1 Província de Huila

A rede hidrográfica da província é largamente dominada pela bacia do rio Cunene que ocupa
quase dois terços da sua área. O rio nasce perto do Huambo e atravessa a Huíla na direcção Norte-
Sul, dividindo-a aproximadamente a meio. Seguidamente atravessa a província do Cunene, no
mesmo sentido, inflectindo para Oeste no extremo Sul desaguando no Atlântico Sul, estabelecendo
a fronteira com a Namíbia a partir das cataratas do Ruacaná.

Os rápidos e as cataratas, das quais as mais relevantes são a cachoeira da Matala, a catarata do
Ruacaná e as quedas do Monte Negro, são frequentes ao longo do percurso. Os caudais, de
regime permanente, mas muito variável, são enormes, de cheia na época das chuvas e reduzidos
na estiagem, principalmente nos anos muito secos.

Os principais afluentes são:

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 Na margem esquerda:

 S. Sebastião (e o seu afluente Cussava),

 Cubangue,

 Toco,

 Chitanda,

 Calonga ou Colui.

 Na margem direita:

 Cutenda (e afluente Catape),

 Qué,

 Sendi,

 Calonga,

 Caculuvar

 Chitado,

 Elefantes (e o afluente Chabicua)

A rede hidrográfica de Huíla fica completa com os seguintes rios:

 Kubango, apenas com uma parte da sua bacia hidrográfica nesta província.
Nasce perto do Kuvango e corre com direcção geral sensivelmente Nnorte-Ssul,
inflectindo então para Sudoeste. Entre aproximadamente Kuvango e Caiundo
serve de limite Este à província, separando-a do Bié e do Kuando Kubango. É
um rio de regime permanente, mas com grandes variações de caudal ao longo
do ano e são frequentes os rápidos e as cachoeiras em alguns troços.

 Cubato principal afluente principal da margem esquerda do rio Kubango tendo


por sua vez como afluente o rio Cutato das Ganguelas, cujo curso é quase
paralelo ao do Kubango, e que a Norte da confluência constitui limite à
província.

 Na margem direita dos principais afluentes são o Bale e o Tandaué, que em


parte do seu curso serve também na linha de fronteira da província.

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Figura 25: Rede Hidrográfica da Província de Huíla

Fonte: Própria

De referir ainda a bacia do rio Cuvelai que se encontra a Sul do paralelo 15°. Trata-se de um rio de
regime intermitente, que se escoa num sistema de canais do Baixo Cunene (as chanas) e que não
apresenta qualquer caudal no estio. A Norte do Eval, onde apresenta trajeto preciso, recebe água
de alguns afluentes sendo acrescentado no percurso médio e inferior por algumas mulolas,
nomeadamente na época das chuvas.

O rio Curoca apresenta-se a sudoeste onde inicia o seu percurso na província do Namibe. Também
se caracteriza por um regime de intermitência, sendo o rio Otchifengo o seu principal afluente.

Separando a Huíla da província de Benguela, encontra-se o rio Coporolo. Trata-se de um rio de


regime permanente que tem como principais afluentes os rios Handja e Impulo, ambos na margem
esquerda.

As bacias hidrográficas referidas constituem-se como as mais relevantes de Huíla. Os rios Cunene,
Curoca e Coporolo desaguam no oceano Atlântico e as águas do rio Kubango desaparecem

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numa complexa rede de depressões formada pelos pântanos do Kubango, o lago Ngami e a
depressão Makarikari a caminho do Kalahari.

Na província de Huila existem 6,832 hectares sob agricultura irrigada ou parcialmente irrigada e
12,023 hectares sob reabilitação ou planificada para irrigação. A desagregação das áreas por
esquemas de irrigação é a seguinte: Gandjelas (1,000 ha), Chimúcua I (50 ha), Chimúcua II (60 ha),
Bata-Bata (45 ha), Neves (1,300 ha), Mapunda/Tundavala (830 ha), Matala (10,000 ha), Chicungo
(400 ha), Quipungo (200 ha), Sendi (1,500 ha) e Pira-Babaera (3,900 ha). As principais culturas
irrigadas são fruteiras e hortícolas.

4.7.1 Província de Cuanza Norte

A província é banhada entre outros rios, pelo rio cuanza, que é o maior rio totalmente angolano. As
suas margens oferecem praias, com revelância no município do Dondo.

Refere-se a presença das quedas do rio Muembeje, a 10Km da cidade, com uma altura de 110
metros. A 2km da cidade, localizam-se as nascentes de Santa Isabel e Sobranceiro.

Na província do Kuanza Norte existem 9,620 hectares ou sob reabilitação planificadas para a
agricultura irrigada. A desagregação das áreas por esquemas de irrigação é a seguinte: Luinga
(5,000 ha), Camaloa (54 ha), Calemba (156 ha), Uambaca do Luando (59 ha), Luachi (205 ha),
Tombo (1,290 ha), Caquelosso (226 ha), Quindúa (149 ha), Quissomona (151 ha), Sesse Pequeno (273
ha), Cambaba (55 ha), Cabaça (95 ha), Catende (169 ha), Quibezo (51 ha), Gola (82 ha), Zanda
(311 ha), Lufuco (115 ha), Alá (96 ha), Camaia (20 ha), Luando (20 ha), Mutanda (186 ha), Luquelo
(13 ha), Cequete (43 ha), Maloa (21 ha), Mazozo (500 ha) e Lucala (280 ha). As principais culturas
são as fruteiras e hortícolas.

4.7.2 Província do Cuanza Sul

O Plano Nacional de Desenvolvimento 2013-2017 assume como prioritárias a melhoria da qualidade


do serviço de abastecimento de água nas zonas mais populosas, a conclusão da implementação
do Programa Água para Todos e a implementação de um Programa Nacional de Monitorização de
Qualidade de Água para Consumo Humano. Refere ainda a Criação do Instituto Nacional de
Recursos Hídricos e a criação do Gabinete da Bacia Hidrográfica do Kwanza. A estratégia nacional
para o sector é bem clara e está traduzida no Programa Água para Todos, que pretende colocar o
nível de atendimento com água potável em 55% no horizonte de 2017. A Província do Kwanza Sul

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parte de um nível bastante inferior, mas deverá assumir uma meta ambiciosa de investimento que
lhe permita situar-se, pelo menos, na média de Angola, dobrando o valor actual.

A hidrografia da região corre toda de leste para o oeste até encontrar o Oceano Atlântico. É
dominada pelas bacias do Rio Kwanza e Longa ao norte, pela bacia hidrográfica do Rio Queve
cortando ao centro a Província, e a do Rio Kicombo mais ao sul.

De acordo com o Plano de Desenvolvimento Provincial de Médio prazo 2013-2017, são definidos
como programas estruturantes para a Província do Cuanza Sul no âmbito dos recursos hídricos:

 Elaboração do Plano de Ordenamento da Orlas Costeira (Programação de


Qualificação e Estruturação do Modelo Territorial – Linha Programática 1: Infraestrutura
Organizativa e Territorial);

 Elaboração de planos de gestão para zonas com importância para a conservação da


biodiversidade ou protecção de recursos específicos (como a água);

O sector das pescas depois da agricultura ocupa a segunda actividade de maior importância
económica na Província.

A Corrente Fria de Benguela, que grande secura traz à região litorânea, alimenta as águas costeiras
de fitoplâncton, que por sua vez, dá origem a um enorme recurso piscícola ao largo da costa
angolana.

O Cuanza Sul possui 178 km lineares de orla marítima, rica em recursos piscatórios variados, tanto
pelágicos como demersais, destacando ainda o grande potencial natural de crustáceos com
particular realce para a lagosta e o camarão.

Para além da pesca marítima, a Província também é rica na pesca continental já que possui uma
rede hidrográfica bastante rica com destaque para os rios Longa, Queve, Cussoi, Cubal e Nhia, ricos
em cacusso, mussolo, bagre, tuqueia, tainha e lagostim da água doce, entre outras espécies.

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Figura 26: Hidrografia da Província do Cuanza Sul

Fonte: Própria

O sector debate-se com um défice na sua actividade, havendo a necessidade de investimentos


privados para a pesca oceânica, assim como públicos em reforço à pesca comercial das
comunidades tradicionalmente pescadoras em artes de pesca e aquicultura, fornecimento de
energia eléctrica, bem como da reabilitação das suas infra-estruturas de apoio, logística e
embarcações,

O Plano de Desenvolvimento Provincial de Médio Prazo 2013-2017 procedeu ainda à definição de


indicadores e metas para 2022, tanto para águas doces como para oceanos, mares e costas
marítimas.

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No quadro seguinte apresentam-se os indicadores de recursos hídricos definidos no Plano de


Desenvolvimento Provincial de Médio prazo 2013-2017 do Cuanza Sul.

Temas Sub-temas Indicadores Principais Outros Indicadores

Água Quantidade de Água Proporção utilizada


Doce dos recursos hídricos

Qualidade da Água Uso intensivo da água


para actividades
económicas

Oceanos, Zona Costeira Percentagem da Qualidade da água


mares e população total para banho
costas vivendo em áreas (balneabilidade)
marítimas costeiras

Existem 109,700 hectares de terra sob agricultura irrigada ou parcialmente irrigada e 11,900 hectares
de terra sob reabilitação ou planificadas para agricultura irrigada na província do Cuanza Sul. A
desagregação das áreas por esquema de irrigação é seguinte: Cela (6,000 ha), Quicombo (6,900
ha), Sumbe/Ngunza (4,000 ha), Porto Amboím (5,000 ha), Baixo Longa (57,200 ha), Baixo Queve
(33,000 ha) e Evale Guerra (9,500 ha). As principais culturas irrigadas são fruteiras e hortícolas.

4.7.1 Província de Lunda Norte

A rede hidrográfica drena as suas águas para o rio Zaire, por intermédio do Kassai, um dos seus
maiores tributários e cujos afluentes, alimentados por inúmeros subafluentes, atravessam a região de
sul para o norte num paralelismo frisante. Os principais afluentes do Kassai, são de oeste para leste, o
Kuango, Cuilo, Luangue, Luxico, Chicapa, Luachimo, Chihumbe e seu afluente Luembe. Todos
nascem na região do SW. As quedas rápidas abundam, tornando os rios impróprios para a
navegação.

Com uma rede hidrográfica bastante rica e densa de caudal permanente drena, totalmente para o
Zaire através do afluente cassai, para onde confluem todos os grandes rios como Luembe,
Chiumbue, Luachimo, Chicapa, Louva, Langue e Cuílo.

Os rios estão orientados no sentido Norte e rectilíneos equidistantes e paralelos. Apresentam


encostas muito declivosas que definem vales estreitos e profundos. O contrário acontece quando os

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Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

rios ainda estão em plena formação de cobertura. Neste caso os vales são bastante abertos, com
baixas pantanosas.

Estes casos são os rios frequentes na parte Oeste da Província e no Município do Cuílo.

4.7.1 Província de Lunda Sul

Os rios mais importantes da província são o Mombo,o rio Luachi, Chicapa, Luachimo, Chiumbe e o
rio Cassai, que nascem na região de Alto Chicapa. Os outros rios são o Muanguês, o Cuango, Luó,
Luavuri, Cucumbi e o Luzia. Todos eles correm no sentido do caudal hidrográfico, em direcção ao
Norte.

Existem também as quedas de água do Chiumbe, do rio Chihumbwe e as quedas de Samussanda,


do rio Chiumbwe, no município de Muconda.

Em relação ao Programa de Desenvolvimento para o período de 2013, promovido pela Direcção


Provincial do Ordenamento do Território, Urbanismos e Ambiente, foi proposto o desassoriamento do
rio Muangueji, situado no município de Saurimo. Desconhece-se se esta acção foi efectivamente
executada.

4.7.1 Província de Malange

A província é constituída por duas bacias hidrográficas, a do rio Zaire e a do rio Cuanza. A parte
leste e nordeste é atravessada por um dos caudais que desaguam no rio Cuango, um dos mais
importantes afluentes do Zaire. Também existem as lagoas da Quibemba (no município da Kabumdi
Katembo), do Dombo (no município de Luquembo) e do Sagia (no município do Quela).

Planalto de Malange é atravessado por vários rios subsidiários do Kwanza (Lutete, Lombe, Malanje,
Cuije, Cuque) e, em menor número, do Lucala (Cole, Mafumbué).

Baixa Kassanje, comprrende a zona de cursos médio e superior dos rios Vamba, Cambo, Luhanda e
Lui, que constituem uma rede hidrográfica densa e na época seca ainda mantém caudais
volumosos

O Songo, onde o rio Cuanza e os seus afluentes Luando e Cuquema circulam de sul para norte e,
com outros, constituem uma rede hidrográfica densa e de caudal permanente. Entre o Kwanza e o
Cuquema encontram-se as chanas ou anharas, áreas planas alagadiças que caracterizam a zona,
assim como as chamadas baixas do Songo.

164
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Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade,
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

A barragem de Kapanda no rio Cuanza, a sul de Cacuso, irá originar a existência de uma albufeira
que, segundo fontes de informação, poderá irrigar cerca de 120 mil hectares de terras. Acontece
que tais terras coincidem com as áreas de solos arenosos de muito baixa fertilidade (oxipsâmicos
pardacentos), pelo que o seu aproveitamento agrícola será muito limitado. O território do Planalto
de Malanje não é o mais indicado para grandes projectos de irrigação deverão, antes, pensar-se
em pequenos projectos que possam complementar, no tempo seco, as boas quedas pluviométricas
para o cultivo de certas fruteiras e hortícolas.

Na zona do sub planalto de Cacuso é possível pensar em regadios de médio porte em áreas onde
chove menos de 1000 milímetros e onde a fertilidade dos solos seja razoável. A melhor zona de
regadio, contudo, situa-se na Baixa de Kassanje em áreas junto a certos rios (Lui e Cambo, por
exemplo) onde os solos são profundos e férteis (calcialíticos e hidromórficos) e vocacionados para
certas culturas industriais como a cana sacarina.

Existem actualmente na província de Malanje 3,700 hectares de terra sob agricultura irrigada ou
parcialmente irrigada e 86,500 hectares de terra planificados para a irrigação. A desagregação das
áreas por esquema de irrigação é a seguinte: Capanda (13,500 ha), Kissol (700 ha), Kamatende
(2,000 ha), Vânvala (1,000 ha), Ngangassol (1,000 ha), Lutau (22,000 ha), Cole I (15,000 ha), Cole II
(15,000 ha) e Cole III (20,000 ha). As principais culturas são hortícolas e fruteiras.

4.7.2 Província do Moxico

Na parte Oeste Sudoeste (W-SW) encontram-se os rios Kuito e Kanavale, que drenam para o
Cuando.

Na parte norte, a linha de festo que se desenvolve de oeste para leste, marca a divisória de águas
das duas grandes redes hidrográficas: a do Zaire, com o seu afluente Kassai, a do Zambeze, com os
seus afluentes Luena, LunguéBungo, Chifumaje, Lumeje e Lumbala. Estes rios apresentam muitos
meandros que, por vezes, se confundem com lagoas que permitem actividade piscatória
importante para a vida das populações

Na província de Moxico existem 500 hectares de terra sob irrigação e 500 hectares de terra sob
reabilitação. As principais culturas são fruteiras e hortícolas.

165
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Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

4.7.1 Província do Namibe

Figura 27: Hidrografia da província do Namibe.

A rede hidrográfica da província do Namibe está


representada na figura seguinte. Os principais rios
da província são: Carunjamba, Inamangando,
Bentiaba, Giraúl, Bero, Curoca e Cunene.

Os cursos de água principais apresentam um


desenvolvimento geral com direcção Este-Oeste.
À excepção do Cunene – único rio de caudal
permanente –, as bacias hidrográficas dos rios
principais desenvolvem-se quase integralmente
na província, embora as bacias hidrográficas dos
rios Bentiaba, Giraúl, Bero e Curoca abranjam
uma pequena parte da província da Huíla.
Embora a área da bacia destes rios na serra e no
planalto seja reduzida é, no entanto, responsável
por grande parte dos escoamentos. O quadro
seguinte apresenta as principias características
das bacias hidrográficas.

Em termos de redes de monitorização, na


província do Namibe existem três estações
limnigráficas com dados anteriores a 1974:

▪ Uma no rio Bero, na secção de Fonte: Própria


Tampa, com uma área de 6 900 Km2,
apenas com um ano de registos
(ano hidrológico de 1969-70);

▪ Uma no rio Curoca, em Maxaxa, com uma área de área de 6 500 Km 2, com dois
anos de registos (1971-72 e 1972-73);

▪ Uma também no rio Curoca, na secção de Pediva, com uma área de 11 000 Kkm2,
com dois anos de registos (1971-72 e 1972-73).

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O período de funcionamento destas


estações é extremamente curto limitando Bacia Hidrográfica Área km2

uma quantificação dos recursos hídricos


Bacia 1 38
superficiais, sendo apenas possível deduzir Bacia 2 145
ordens de grandeza dos escoamentos Bacia 3 323
superficiais. Bacia 4 889
Bacia 5 1150
Verifica-se que, na maior parte do ano, não Bacia 6 1277
Bacia 7 1711
existem caudais e que o volume total
Bacia 8 1715
escoado é extremamente reduzido em Bacia 9 - Inamangando 1836
relação à área das bacias. A altura de Bacia 10 2464
Bacia 11 - Carumjamba 2957
escoamento varia entre 0,6 e 6,5 mm, o que
Bacia 12 - Giraúl 4726
impossibilita a aplicação de fórmulas de Bacia 13 6416
estimativa de escoamentos exemplo da Bacia 14 - Bentiaba 6670
fórmula de Turc). Bacia 15 - Bero 10551
Bacia 16 - Curoca 19454
Bacia 17 662
Os escoamentos superficiais dependem das
Bacia 18 2363
características biofísicas da bacia
hidrográfica, como a geometria, a rede de drenagem, o relevo, o solo e substrato geológico, a
vegetação, a ocupação do solo, a precipitação anual e a sua distribuição ao longo do ano, entre
outros factores de menor importância.

De acordo com estudos de disponibilidades de água efetuados para seis bacias e, face às
perspectivas de evolução das necessidades de água (curto e médio prazo), pode-se concluir que,
desde que a exploração dos aquíferos seja feita com equilíbrio, é possível garantir a satisfação
daquelas necessidades com base na utilização dos recursos próprios da província. Há no entanto
necessidade de implementar, uma campanha para recolha de elementos que permitam
quantificar, com precisão e segurança, as reais disponibilidades hídricas dos principais rios da
província do Namibe.

Em termos estratégicos, e de acordo com Plano de Desenvolvimento Integrado da Província do


Namibe, encontra-se previsto a elaboração dos planos de gestão de bacias hidrográficas,
nomeadamente, para os rios Bero, Giraúl, Curoca, Bentiaba, Carunjamba e Inamagando.

Estes planos de gestão de bacias hidrográficas deverão conter uma descrição geral das
características biofísicas e socioeconómicas da região hidrográfica. Merecem particular destaque
os aspectos referentes aos recursos hídricos superficiais e subterrâneos. Deve realizar-se uma

167
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Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

descrição resumida das pressões e impactos significativos da actividade humana nos recursos
hídricos (qualidade e quantidade), como é o caso de estimativa das fontes pontuais e difusas de
poluição, incluindo descrição dos usos do solo.

Na província do Namibe existem 26,801 hectares de terra sob agricultura irrigada ou parcialmente
irrigada e 9,975 hectares de terra sob reabilitação ou planificados para irrigação. Essas áreas são
desagregadas por esquemas de irrigação como segue: Bero (1,000 ha), Betiaba /São Nicolau (5,000
ha), Curoca (3,000 ha), Carunjamba (2,625 ha), Giraúl (2,650 ha), Inamangando (1,000 ha), Bibala
(19,231 ha), Chibiba (100 ha), Tampa (1,500 ha), Lola (300 ha) e Capangombe (370 ha). Os principais
cultivos são bananas, hortícolas e oliveiras.

4.7.2 Província do Uíge

Os rios mais importantes desta província são o Zadi, Dange, Lúria, Lucala, Luvulu, com um volume de
água regular. Em geral, estes rios são navegáveis por pequenas embarcações até 20 quilómetros da
foz, sendo também possível a prática da pesca desportiva.

Rios com maior caudal existentes na Província:

 Rio Cuango - Quimbele e Milunga

 Rio Cuho - Milunga

 Rio Cuilo - Alto Cauale, Púri e Pombo

 Rio Buengas - Pombo, Buengas, Milunga

 Rio Cauale - Alto Cauale

 Rio Lucala - Negage e Alto Cauale

 Rio Nzadi - Damba e Zombo

 Rio Nsanga - Bungo e DambaRio Dange - Negage e Dange

 Rio Loge - Uíge e Ambuila

 Rio Vamba - Dange e Ambuila

 Rio Calambinga - Dange e Amuila

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Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade,
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

 Rio Luquixi - Uíge e Negage

 Rio Loé - Uíge e Songo

 Rio Lulovo - Negage, Alto Cauale e Púri

 Rio Cagigi - Negage e Uíge

No esquema de irrigação do Lusselúa existem 3,000 hectares de terra esperando por reabilitação. O
arroz é a principal cultura nessa área.

4.7.3 Província do Zaire

A província possui alguns rios, sendo os principais, Zaire, Mbridge, Lufunde, Zadi, Cuilo, Buenga.

A bacia hidrográfica do rio Lucunga, é caracterizada por uma extensa planície, no seu curso inferior,
conhecida por Baixa do Lucunga, de margens alagadiças cobertas por um aluvião, onde o curso
do rio se torna divagante.

Existem 21,000 hectares planificados para a actividade futura de irrigação em Pedra do Feitiço na
província do Zaire. As culturas a serem estabelecidas sob irrigação serão fruteiras e hortícolas.

4.8 PROGRAMAS E ESTRATÉGICAS DO SECTOR

De acordo com o Plano de Acção para o sector da Energia e Águas (2013-2017) e, no âmbito dos
recursos hídricos, encontram-se em curso as seguintes acções:

 No quadro da elaboração do Plano Nacional da Água (PNA), encontra-se em fase de


aprovação o Plano Nacional de Emergência Imediata para Água (“PNEIA”).

 Estão em fase de arranque a elaboração do Plano Geral para a Gestão Integrada dos
Recursos Hídricos da Bacia Hidrográfica do Rio Zambeze, assim como a Primeira Fase de
Reabilitação da Rede Hidrométrica Nacional.

 A Reabilitação Parcial da Rede Hidrométrica Nacional irá beneficiar trinta e oito (38)
estações hidrométricas.

 Ainda em curso encontra-se a elaboração do Plano Geral para a Gestão Integrada dos
Recursos Hídricos da Bacia Hidrográfica do Rio Cubango.

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Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

 Encontra-se também em curso a reabilitação da Barragem do Calueque, localizada na


Bacia Hidrográfica do Rio Cunene.

Relativamente às acções em carteira, prevêm-se as seguintes:

 Apesar já ter sido apurado o vencedor do Concurso Público realizado, encontra-se ainda
em carteira a elaboração do Plano Geral para a Gestão Integrada dos Recursos Hídricos da
Bacia Hidrográfica do Rio Cuvelai.

 No quadro da implementação do Projecto de Desenvolvimento Institucional do Sector das


Águas (PDISA), projecto co-financiado pelo Governo de Angola e pelo Banco Mundial, está
prevista a reabilitação de cento e oitenta e nove (189) estações hidrométricas até ao ano
de 2015.

 O Programa de Investimentos do Sector das Águas 2011 – 2016previa a elaboração de vinte


e dois (22) Planos Gerais para a Gestão Integrada dos Recursos Hídricos de Bacias
Hidrográficas atá ao horizonte temporal de 2016. Três destes Planos Gerais encontram-se
acima mencionados.

Em relação a programas com interesse para a gestão dos recursos hídricos, identificam-se como
mais relevantes, os seguintes Planos/Programas:

Angola 2025. Um país com futuro. Estratégia de desenvolvimento a longo prazo para Angola (2025)

A Estratégia de Desenvolvimento a Longo Prazo considera um conjunto de 5 opções políticas


estratégicas a que correspondem 6 eixos prioritários:

 Assegurar o desenvolvimento, a estabilização, as reformas, a coesão social e a democracia;

 Promover a expansão do emprego e o desenvolvimento humano, científico e tecnológico;

 Recuperar e desenvolver as infra-estruturas de apoio ao desenvolvimento;

 Promover o desenvolvimento dos sectores económicos e financeiros e a competitividade;

 Apoiar o desenvolvimento do empreendedorismo e do sector privado;

 Promover a coesão nacional e o desenvolvimento do território.

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Programa Integrado de Combate à Pobreza e Desenvolvimento Rural

Objectivos:

 Solução de três problemas nacionais: a pobreza, a malnutrição e a baixa produção e


produtividade da agricultura.

 Reduzir a pobreza da população Angolana, promovendo o acesso a alimentos de


qualidade e quantidade adequadas e a bens públicos essenciais à vida – água potável,
energia, saneamento e habitação;

 Transformar Angola num País próspero, moderno, sem pobres e com um nível de
desenvolvimento científico-cultural elevado.

O Programa assenta em seis eixos estratégicos:

1. Empreendedorismo e Crédito Rural;

2. Acesso a alimentação e oportunidades no meio rural;

3. Alfabetização, Ensino Primário e Profissional;

4. Solidariedade e Mobilização Social;

5. Acesso a serviços públicos essenciais;

6. Saúde Básica e Preventiva.

Programa “Água Para Todos” (2007)

Objectivos:

 Permitir o acesso a água potável às populações rurais de Angola;

 Garantir o acesso a água potável a no mínimo 80% da população rural de Angola, até final
de 2012, com vista a melhorar as condições de vida de milhares de angolanos que vivem
em pequenas localidades e áreas remotas do País.

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Programa de Investimentos dos Sectores Eléctrico e Águas, até 2016. Ministério da Energia e Águas

Objectivos (2009-2012):

Energia: Desenvolver acções para equilibrar a balança de energia, em termos de procura e oferta,
de modo a prevenir que, por um lado, haja esbanjamento de energia e, por outro, que uma
eventual escassez constitua um constrangimento para o desenvolvimento Nacional.

Água: Agir no sentido de proporcionar à população acesso à água potável nas áreas urbanas e
rurais, bem como o acesso à água pelas actividades económicas.

Programa de Desenvolvimento do Sector de Energia 2008 – 2013. Ministério da Energia

Objectivos:

 Garantir o aumento da produção e a disponibilização das infra-estruturas de transporte e


distribuição;

 Garantir a segurança do fornecimento e a protecção ambiental;

 Satisfazer as necessidades de energia eléctrica induzidas pelo processo de reconstrução


nacional e desenvolvimento económico e social do país;

 Utilizar racionalmente os recursos energéticos e hídricos nacionais;

 Prestar um serviço de qualidade mediante um processo de reforma e reorganização


institucional, bem como assegurar a sustentabilidade da actividade;

 Promover a formação de quadros.

O Programa apresenta também um conjunto de objectivos específicos, que vão desde reabilitar e
expandir as capacidades de produção, até à formação de quadros, passando pelo
desenvolvimento de fontes locais.

Programa Nacional Estratégico Imediato para a Água (PNEIA). Plano Nacional Director de Irrigação
(PLANIRRIGA). Ministério da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas, 2010

 Definir as grandes linhas de acção a adoptar no contexto do desenvolvimento sustentado


da agricultura irrigada em cada uma das bacias hidrográficas de Angola, sem causar a
degradação dos recursos naturais, e dos sistemas físicos, biológicos e humanos deles
dependentes;

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Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade
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 Constituição de um plano de apoio ao desenvolvimento regional e nacional possibilitando o


desenvolvimento da agricultura no país, com particular relevância para as regiões que se
encontram em situações mais desfavoráveis sob o ponto de vista

Política e Estratégia de Segurança Energética Nacional (Decreto Presidencial Nº256/11 de 29 de


Setembro)

Objectivos Gerais:

 Profunda transformação do sector energético angolano, através do reforço das suas


capacidades e das suas infra-estruturas;

 Quadruplicar a oferta de energia actualmente existente, mediante o maior aproveitamento


dos recursos endógenos e a utilização das tecnologias mais eficientes; Objectivos
Específicos:

 No sub-sector eléctrico o diploma preconiza o aumento da produção deste Subsector para


que, até ao ano 2025, a oferta cresça dos actuais 3% para cerca de 10 a 15%.

4.9 POTENCIALIDADES E CONSTRANGIMENTOS

Apesar do enorme potencial hídrico de Angola, este encontra-se subaproveitado. Apesar de alguns
sinais de revitalização do sector, continua a existir um número insuficiente de quadros, carência de
fundos e de regulamentação.

O abastecimento em água potável e serviços de saneamento é ainda deficitário, dado o estado de


destruição dos sistemas de abastecimento, a actual forma de gestão que sobrecarrega as
Direcções Provinciais de Agua em especial nos principais centros de consumo e a ausência de
estruturas formais em muitas áreas peri-urbanas e rurais (ver Volume V referente às Infraestrututas).

O importante papel desempenhado por Angola na gestão partilhada de recursos hídricos e a


participação de Angola em projectos internacionais pode impulsionar a melhoria da gestão no
sentido da eficácia e eficiência.

4.9.1 Recursos hídricos

Angola é um país rico em recursos hídricos pois tem uma das capitações, em volume de água por
ano e habitante, mais elevada da região austral de África (8 600 m 3/ano.hab). No entanto, estes

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Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade,
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

recursos estão desigualmente distribuídos no país, pois enquanto na região sul e na zona costeira os
escoamentos são muito baixos, inferiores a 25 mm, nas regiões do centro, norte e noroeste, os
escoamentos apresentam valores muito elevados, na ordem de 250 mm. Algumas destas regiões,
por terem escoamentos elevados, reduzida variabilidade temporal e boas quedas, apresentam um
bom potencial para a produção de energia, sendo por isso um factor acrescido para o
desenvolvimento do País e que deverá ser aproveitado, como aliás está a acontecer.

Devido à abundância dos recursos hídricos face às necessidades de água, Angola nunca teve uma
estrutura nacional forte e bem equipada para a sua gestão, situação que terá de ser modificada
devido à importância crescente que a gestão integrada e sustentável dos recursos hidricos irá ter no
desenvolvimento económico e social do País, tanto na componente de satisfação das
necessidades básicas da população, com o fornecimento de água potável seguro e fiável, como
na componente da utilização da água como um bem económico para a produção de alimentos, a
produção industrial e produção de electricidade.

Para além dos aspectos quantitativos dos recursos hídricos, a qualidade da água no meio hídrico é
um tema pouco conhecido no País, não existindo uma rede nacional de qualidade da água, pois
mesmo a rede hidrométrica existente é muito reduzida.

O aprofundamento do conhecimento dos recursos hídricos em quantidade e qualidade é


claramente um dos temas a ser desenvolvido no âmbito do PNA. Assim, para além da proposta de
redes mínimas de observação da qualidade e quantidade de água, deverá ser elaborado o melhor
diagnóstico possível da actual situação da qualidade da água nas principais linhas de água. Em
consequência e dada a urgência no “lançamento” de uma rede de monitorização da qualidade
da água, incluiu-se essa medida programática na lista de investimentos previstos neste documento.

Desta forma, os principais problemas relacionados com os recursos hídricos são o assoreamento dos
rios devido à erosão dos solos e a contaminação das águas por falta de saneamento junto a
centros urbanos, ou em resultado da exploração mineira.

Neste sentido, propõe-se as seguintes recomendações para este sector:

 Reforçar a participação de Angola na gestão de cursos de água partilhados. Objectivo:


melhorar a gestão das águas (Governo de Angola, SADC, agencias de cooperação)

 Publicar os regulamentos à lei das Aguas. Objectivo: possibilitar a fiscalização e a aplicação


de medidas dissuasoras de degradação do recurso, aumentar a exigência da qualidade da
água distribuída

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 Capacitar os Gabinetes de Gestão de Bacia existentes e apoiar a criação de novos.


Objectivo: promover o uso sustentável e eficaz das águas em cada bacia, através de planos
de gestão e utilização das águas para diferentes sectores, bem como proceder à
coordenação de projectos e monitorização da bacia (MINEA e agencias de cooperação)

 Apoiar a ampliação da rede hidrométrica nacional e a sua ligação à SADC, bem como a
partilha intersectorial de dados. Objectivo: facilitar a gestão das águas, a eficácia de
utilização (agricultura, energia, etc), a protecção ambiental e a cooperação transfronteiriça
(DNAg, SADC, Governos Provinciais, outros órgãos da administração)

 Criar condições para a irrigação sustentável (irrigação de pequena escala),


nomeadamente nas regiões mais vulneráveis à seca, ou de terrenos mais salgados.
Objectivo: garantir a sustentabilidade dos sistemas de regadio, melhorar o rendimento da
terra (MINEA, Agencias de Cooperação)

 Investir na sensibilização para a conservação e boa gestão dos Recursos Hídricos. Objectivo:
sensibilizar a população e os agentes económicos para a importância da protecção da
qualidade da água (MINEA, MINCONS)

4.9.2 Irrigação

Angola tem necessidade de aumentar significativamente a produção agrícola contribuindo assim


para a segurança alimentar do País, a diminuição da dependência do exterior, a criação de
emprego e o desenvolvimento rural. A irrigação é um dos factores fundamentais no
desenvolvimento agrícola de várias regiões hidrográficas, nomeadamente do Noroeste, do Cuanza,
do Centro-Oeste, do Cunene, do Sudoeste, do Cuvelai, do Cubango e do Cuando.

A área actualmente irrigada, estimada em 80 000 ha, é manifestamente insuficiente para as


necessidades de produção de alimentos de Angola. No entanto, Angola dispõe de grande
quantitativo de terras com potencial elevado para irrigação. A distribuição deste recurso pelas
unidades hidrográficas mostra que as unidades do Alto e Médio Cunene e do Baixo Cuanza
possuem cerca de 50% do total das terras com elevado potencial para irrigação, conforme foi
identificado no PLANIRRIGA.

O PLANIRRIGA é uma ferramenta fundamental para a concretização do potencial de irrigação de


Angola. A par do investimento em infra-estruturas de irrigação, será necessário:

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 Criar mecanismos económico-financeiros de apoio à produção, armazenagem e


escoamento dos produtos agrícolas;

 Fortalecer e modernizar o quadro institucional, legal e regulatório relativo à questão da


Irrigação;

 Reforço da investigação e desenvolvimento relacionados com as diversas vertentes da


irrigação, procurando a adequação do desenvolvimento técnico e científico à realidade de
Angola, assegurando a formação de técnicos dos organismos centrais e provinciais através
da ligação a instituições de ensino e centros de investigação de referência.

O sector de agricultura e agro-pecuária será no futuro o grande consumidor de água na grande


maioria das unidades hidrográficas, com excepção das unidades de Cabinda, Cuango e Kassai.

Uma parte importante do consumo anual de água do sector agrícola tem lugar na estação seca o
que poderá originar algumas situações de escassez de água, em determinadas regiões. A resolução
deste tipo de situações passará pela adopção de medidas de vária índole, nomeadamente:
criação de reservas estratégicas de água, implementação de infraestruturas de armazenamento e
de transporte eficientes, reabilitação/modernização das infra-estruturas com deficuentes condições
de funcionamento; uso de técnicas agrícolas adequadas, o melhoramento das tecnologias de rega
e a implementação de programas de extensão rural que promovam o uso sustentável da água na
agricultura.

A implementação destas medidas é tão mais importante, quanto o índice de utilização potencial
revelar possíveis problemas entre os vários utilizadores, nomeadamente entre a irrigação e produção
de energia hidroeléctrica.

4.9.3 Produção de hidroelectricidade

Conforme se referiu atrás, a produção de energia de origem hídrica tem um elevado potencial no
País, que está a ser aproveitado com a aplicação de importantes investimentos no sector.

A potência hidroeléctrica operacional em 2011 é de 916 MW, devendo passar para 4190 MW, com
as obras actualmente em curso e para 8350 MW em 2017, se as obras planeadas forem terminadas
até este ano.

Para além dos benefícios económicos da produção de electricidade, os aproveitamentos


hidroeléctricos podem igualmente gerar outros benefícios, quando incluírem albufeiras com

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Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

capacidade significativa de armazenamento, pois a regularização de caudais aumenta a garantia


de satisfação das necessidades de água a jusante. Para além destes benefícios, a produção de
hidroelectricidade provoca igualmente impactos e pressões no meio ambiente, afectando o meio
natural, em particular:

 Alterando o regime natural das linhas de água, devido à capacidade de regularização de


caudais;

 Reduzindo o transporte de sedimentos, que pode alterar a morfologia do leito dos rios,
provocar situações de erosão a jusante e reduzir os sedimentos afluentes à zona costeira.

No que se refere directamente à utilização de água, a produção de hidroelectricidade utiliza


sempre grandes volumes de água, que devem ser vistos com atenção, pois a água pode ser
utilizada repetidas vezes, tanto nos casos de barragens em cascata, como nos casos de
aproveitamentos reversíveis e não constituem verdadeiramente um consumo de água, sendo por
isso este uso designado por uso não consumptivo.

4.9.4 Situações de risco associadas à água

De extrema importância na análise das questões associadas aos recursos hídricos e, no contexto da
problemática da água em Angola, sobressaem os fenómenos de cheias e inundações, de secas e,
de um modo mais abrangente, os fenómenos de erosão e desertificação.

Estas situações de risco são dependentes, por um lado, das características geográficas, geológicas
e climáticas do País e, por outro, da urbanização do mesmo, do desenvolvimento das actividades
socioeconómicas e da exploração dos recursos naturais que podem gerar acidentes graves,
catástrofes ou calamidades, susceptíveis de originar perdas de vidas humanas, prejuízos
socioeconómicos e alterações significativas no ambiente e no património cultural.

Por isso, é indispensável que o Governo e todas as entidades e organismos com responsabilidades
no domínio da protecção civil e dos cidadãos em geral, desenvolvam acções com eficácia e
oportunidade para atenuar os riscos e limitar os seus impactos quando ocorram, e adicionalmente
socorrer e assistir as pessoas em perigo.

As cheias são fenómenos hidrológicos extremos que afectam com alguma regularidade o País e
que devem ser bem estudados para mitigar os seus efeitos. Segundo informação do Serviço
Nacional de Protecção Civil e Bombeiros de Angola, em cinco meses do ano 2011 registaram-se

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Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade,
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

cheias em 16 zonas de Angola, originando 116 mortos e 83 feridos e provocando prejuízos na ordem
de 350 milhões de dólares americanos.

As secas são outros fenómenos hidrológicos extremos de características muito diferentes das cheias,
mas que podem provocar prejuízos de maior dimensão que as cheias, em particular em países com
reduzidas infra-estruturas hidráulicas de armazenamento de água e de sistemas de irrigação, cuja
produção agrícola é maioritariamente de sequeiro. As secas atingem principalmente as regiões de
Angola com algum grau de escassez de água que, quando a precipitação normal se reduz, entram
com facilidade em situações críticas, com graves problemas na agricultura de sequeiro. Constitui
exemplo oi o caso da seca que se registou em 2008 na região Sul, atingindo as províncias de
Benguela, Huíla, Namibe, Cuanza-Sul, Cunene e Cuando Cubango, comprometendo as colheitas
agrícolas na sua totalidade ou quase. A província de Uíge teve também algumas culturas muito
afectadas.

A erosão e a desertificação estão directamente relacionados com as regiões áridas e semi-áridas e


com os fenómenos de seca, pois um período longo de seca numa região é factor impulsionador
para gerar fenómenos de erosão e aumentar as áreas de desertificação. Estes fenómenos estão
directamente relacionados com as condições de pobreza e o nível de vida da população. Para
além da erosão generalizada, existe também a erosão localizada em linhas de água ou em zonas
declivosas, provocando o ravinamento do solo e o aumento lateral e em profundidade da
geometria dos leitos dos rios. Estas ravinas ocorrem normalmente em áreas urbanas, devido ao
desmatamento e à perda do coberto vegetal, afectando as infra-estruturas ribeirinhas existentes,
obrigando por isso a uma maior urgência na sua resolução. Em Angola foram identificadas várias
áreas com graves problemas de ravinas, nomeadamente nas províncias de Cabinda, Zaire, Uíge,
Huambo e Luanda e maior incidência nas províncias da Lunda Norte, Lunda Sul e Moxico.

4.9.5 Aspectos institucionais e normativos da gestão dos recursos hídricos

Com a aprovação da lei de Águas de 2002 e com a criação do Instituto Nacional de Recursos
Hídricos, dá-se início ao processo de desenvolvimento institucional e normativo de Angola. No
entanto, estes dois primeiros marcos constituem apenas o arranque de um vasto caminho a
percorrer para criar condições em Angola para uma melhor gestão dos recursos hídricos.

Para além de uma vasta gama de documentos legislativos em falta para a gestão dos recursos
hídricos, que devem ser formulados e aprovados, os aspectos institucionais assumem particular
destaque na gestão dos recursos hídricos. Como se afirmou anteriormente, Angola deverá possuir

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Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

organismos operativos e com capacidade técnica e financeira a nível nacional (a Autoridade


Nacional da Água, no que diz respeito ao abastecimento publico, e a Agencia para o
Desenvolvimento da Irrigação, relativamente à agricultura irrigada) e a nível de bacia hidrográfica
(Gabinete de Bacia), para gerir os recursos hídricos de um modo integrado e sustentável. Estas
instituições devem criar mecanismos de ligação forte aos sectores utilizadores e aos governos
provinciais e de um modo geral a todos os stakeholders (partes interessadas e afectadas).

4.9.6 Análise SWOT

Numa análise centrada na optica das Bacias Hidrográficas, os principais constrangimentos


associados aos Recursos Hídricos em Angola relacionam-se com os seguintes factores:

 Práticas de má gestão das Bacias, criam perda da diversidade biológica

 A adopção de políticas sectoriais têm comprometido o planeamento integrados destes


recursos

 Pouco fornecimento e disseminação de informação sobre o estado dos recursos naturais das
bacias.

 Inexistência de programas de formação específico

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Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade,
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

De uma forma objectiva, e para além das questões já abordadas anteriormente, estas
considerações são apresentadas na seguinte matriz de análise SWOT.

POTENCIALIDADES FRAGILIDADES

• Recursos Hídricos em quantidade • Atravessar a gestão das fronteiras de bacias fluviais


partilhadas. A falta de coordenação e harmonização da
política nas regiões a fim de ter o quadro comum de
gestão que é justo para os stakeholders envolvidos
• Elevado potencial para a produção de energia • Desconhecimento rigoroso dos recursos hídricos existentes
hidroeléctrica
• Formulação de Planos Diretores Gerais das principais • Escassez de recursos humanos qualificados
bacias hidrográficas
• Existência de interesse, por parte do Governo • Graves carências ao nível do abastecimento de água,
angolano, de: tanto nas áreas urbanas, como nas áreas peri-urbanas e
• - garantir o abastecimento às populações; rurais

• - aumentar a área irrigada;


• aumentar a produção de energia hidroeléctrica
• Atendendo que a área com aptidão para o regadio é • Área actualmente regada encontra-se muito abaixo do
vasta e o seu aproveitamento implicará um prévio perímetro irrigado (muitos dos perímetros de irrigação
planeamento para a construção ou reabilitação de existentes carecem ainda dos respectivos projectos de
empreendimentos hidro-agrícolas, relacionados com a reabilitação)
captação, armazenamento, transporte e distribuição
de água, recomenda-se iniciar-se pela reabilitação das
infra-estruturas de irrigação degradadas, priorizando os
projectos irrigados com maior proporção de pequenos
agricultores e os sistemas comunitários de irrigação
tradicional;

• Mega-cluster “Água” - Angola reconhece que a água • Infra-estruturas de rega degradadas sem projectos de
é um recurso transversal que constitui um factor de reabilitação
produção essencial para o desenvolvimento de uma
economia • Reduzida capacidade de produção de energia
• Ausência de abastecimento de energia seguro e
permanente
• O longo período de guerra em que o país esteve
mergulhado dificultou o desenvolvimento de novos
perímetros irrigados não tendo permitido igualmente a
realização a adequada da operação e manutenção da
infra-estrutura de rega e drenagem existentes, o que levou
a:
• Falta de manutenção da infra-estrutura de uso comum
(diques, derivações, canais, drenos, estações de
bombagem);
• Não renovação de equipamentos obsoletos;
• Falta e/ou deficiências da organização da operação e
manutenção;
• Orçamentos deficientes para a conclusão de obras civis
e estruturas hidráulicas.
• • Ausência de regulamentação relativamente aos Conselhos
de Bacias
• Hidrográficas e ao Conselho Nacional da Água

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Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

AMEAÇAS OPORTUNIDADES

• Impactos negativos resultantes de práticas agrícolas • Ordenar o espaço de acordo com as aptidões culturais
intensivas e degradação do solo, alteração do demonstradas;
coberto vegetal, redução da biodiversidade,
impacto de uma eventual actividade industrial;
• Salinização de solos, poluição dos recursos hídricos, • Protecção dos recursos naturais (água e solo) e regulação das
considerando tanto caudais de escoamento boas práticas agrícolas;
superficial como recursos hídricos subterrâneos.

• Poluição atmosférica, em particular emissão de gases • Regulação dos investimentos a realizar no território da Bacia
com efeito de estufa (dióxido de carbono, vapor de Hidrográfica;
água, metano, etc.)

• Poluição de caudais de superfície e águas • Reposição da Rede Hidrométrica e da Base Hidrológica


subterrâneas por efluentes industriais e resíduos Nacional
químicos resultantes da actividade agrícola e
agroindustrial, concentração de resíduos industriais e
lixos.
• Limitações financeiras • Início do cadastro dos recursos hídricos a nível nacional

• Potenciais conflitos, em algumas bacias, entre os • Formação de Quadros nacionais


diversos usos de água
• Disputa sobre os recursos hídricos internacionais de • Conhecer a disponibilidade hídrica em Angola e fornecer as
Angola bases para a gestão dos recursos hídricos nacionais, com vista
a compatibilizar todos os usos
• Estabelecer um adequado planeamento do desenvolvimento
da agricultura irrigada a nível das Bacias Hidrográficas

• Oportunidade para a reavaliação dos actuais sistemas de


irrigação

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Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

5. MAR E ZONAS COSTEIRAS

5.1 INTRODUÇÃO

O presente capítulo aborda a questão do Ordenamento da Orla Costeira, Recursos


Pesqueiros e Áreas Protegidas Marinhas, sendo a análise direccionada para a
consagração destes temas no âmbito da disciplina de Ordenamento do Território e da sua
necessária materialização no Sistema Nacional de Planeamento.

É objectivo do presente relatório e perante o incipiente estado no que se refere à


cobertura nacional por instrumentos desta natureza, identificar os aspectos considerados
relevantes, para que dentro de um horizonte temporal curto, este relatório se destine a
analisar os parâmetros e indicadores consagrados nos Planos de Ordenamento de
Ordenamento de Orla Costeira, e estratégias delineadas para o sector pesqueiro e
industria complementar, Planos Directores Municipais, Planos de Urbanização entre outros.

É ainda objectivo deste relatório referir a importância do sector na Eestratégia de


Desenvolvimento Provincial, devendo como tal transparecer nos Planos Provinciais onde a
actividade se assume como estratégica.

Acresce referir a importância da classificação de Áreas Marinhas, ainda que a sua


delimitação deva obedecer a um processo desencadeado pelo Ministério das Pescas e
do Ambiente, com participação activa do Ministério do Urbanismo e Habitação, do
Ministério do Turismo e do Ministério dos Transportes. No entanto, a sua criação e
dinamização económica associada, deverá ser transposta para as estratégias territoriais
provinciais e municipais, consagrando disposições regulamentares para os Espaços
Turísticos, Comerciais, Residências, e até Científicos, inerentes ao desenvolvimento destas
áreas

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Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade
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5.2 ORLA COSTEIRA

O ordenamento territorial da Orla costeira, constitui parte integrante do sistema nacional


de planeamento conforme consagrado na Lei n.º 3/04 de 25 de Junho, onde um dos
objectivos e âmbito de aplicação refere a importância de (Artigo 4º, Alínea g):

g) Proteger os recursos hídricos, as zonas ribeirinhas, a orla costeira, as florestas e


outros locais com interesse particular para a conservação da natureza,
compatível com a fruição pelas populações das suas potencialidades específicas;

Ainda segundo o Decreto Regulamentar nº 2/06, de 23 de Janeiro, os Planos de


Ordenamento de Orla Costeira, segundo o Artigo 46º, considera-os de âmbito nacional, Os
planos territoriais especiais, de âmbito nacional, são instrumentos de natureza especial
complementares das principais opções que se especializam estritamente no
desenvolvimento da estratégia espacial de implantação, e consolidação de grandes
áreas territoriais, protegidas, inclusive inter-provinciais, de interesse nacional, especialmente
ordenadas para a realização de fins específicos, designadamente, de ordenamento
agrário, turístico, industrial, ecológico, de combate à desertificação humana e dos solos
das áreas rurais e de defesa e segurança.

2. São planos territoriais especiais nacionais, os relativos à implantação, designadamente:

d) de áreas de ordenamento e protecção de albufeiras naturais ou das orlas


costeiras;

A importância desta análise prende-se com a necessidade de prever o enquadramento


territorial especifico para as zonas de interface, designadas por Orla Costeira e todas as
actividades territoriais que se desenvolvem nesta faixa, bem como aferir as necessidades
complementares à actividade pesqueira cujo suporte ocorre em terra e que deve ser
devidamente planeado, dependendo grandemente de infraestruturas e condições para o
crescimento do sector, que constitui uma actividade com grande potencialidade para o
desenvolvimento nacional. Acresce ainda referir que a Pesca Continental vem assumindo
um papel crescente e complementar, com importância em determinadas províncias,
como o Kwanza Norte e o Zaire.

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Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade,
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

Ainda a referir a importância da delimitação de Áreas Protegidas Marinhas, ainda que não
seja da responsabilidade do Ministério do Urbanismo e Habitação a sua delimitação, todas
as actividades complementares previstas, nomeadamente as associadas ao turismo,
comercio e habitação, deverão ser devidamente planeadas e articulada, prevendo a
dinamização das costa adjacente.

Neste sentido, considerou-se de suma importância a integração deste capítulo, servindo


de reflexão para o futuro Ordenamento Territorial da Orla Costeira.

As zonas costeiras são sistemas altamente complexos, resultantes da intercepção da


hidrosfera, da geosfera, da atmosfera e da biosfera. É precisamente desta complexidade
que resultam não apenas a elevada variabilidade que apresentam, mas também as
grandes potencialidades que as caracterizam. A sua complexidade sistémica caracteriza-
as como altamente sensíveis e vulneráveis

Considera-se Zona Costeira, “Porção de território influenciada directa e indirectamente em


termos biofísicos pelo oceano (ondas, marés, ventos, biota ou salinidade) e que pode ter
para o lado de terra largura tipicamente de dimensão quilométrica e se estende, do lado
do mar, até ao limite da plataforma continental (batimétrica dos -200 m) (MAODRT, 2007).”

O Decreto nº 4/01, de 2 de Fevereiro, revogado Decreto Presidencial nº 232/11, de 23 de


Agosto, definia:

1. Os Planos de Ordenamento da Orla Costeira (POOC) têm por objecto as águas


marítimas costeiras e interiores e respectivos leitos e margens, com faixas de protecção a
definir no âmbito de cada plano.

2. As faixas de protecção referidas no número anterior denominamse «zona terrestre de


protecção», cuja largura máximo não excede 500 metros contados da linha que limita a
margem das águas e a «faixa marítima de protecção», que tem como limite máximo a
bati-métrica 30 metros do zero hidrográfico (ZH), sem prejuízo do disposto na legislação das
pescas.

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Figura 28: Âmbito territorial de um Plano de Ordenamento de Orla Costeira

Fonte: Duarte, 2013.

Os Planos de Ordenamento da Orla Costeira (POOC) têm por objectivo:

 Ordenamento dos diferentes usos e actividades específicas da orla costeira;

 A orientação do desenvolvimento de actividades específicas da orla


costeira;

 A classificação das praias e a regulamentação do uso balnear;

 A valorização e qualificação das praias consideradas estratégicas por


motivos ambientais ou turísticos;

 A defesa da qualidade de vida nas áreas afectas aos Planos de


Ordenamento da Orla Costeira (POOC).

O Decreto Presidencial nº 232/11, de 23 de Agosto, remete a desafectação dos terrenos


do Domínio Público compreendidos na orla costeira para o domínio privado dos Governos
Provinciais.

Esta alteração remete o Ordenamento da Orla Costeira para os Governos Provinciais,


verificando-se ainda assim, a necessidade de o seu Ordenamento seguir as metodologias
inerentes a um processo tradicional de planeamento que visa os seguintes objectivos: (i)

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protecção de integridade biofísica do espaço; (ii) valorização dos recursos existentes na


orla costeira; (iii) conservação dos valores ambientais e paisagísticos

Refere-se a importância e vulnerabilidade destas zZonas costeiras que, em território


nacional integram: recifes de corais, plataformas rochosas, estuários, mangais, praias,
dunas, restingas, deltas, lagoas costeiras e arribas.

Figura 29: Angola - Características geomorfológicas predominantes da zona costeira

Fonte: Própria

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O Ordenamento Territorial destas áreas à semelhança de outros Planos de Natureza


Estratégica devem integrar um processo participativo e multissectorial, onde o Ministérios
do Urbanismo e Habitação, o Ministério do Ambiente, o Ministério dos Transportes, o
Ministério das Pescas e o Ministério do Turismo, definem uma estratégia conjunta para a
Orla Costeira seguindo a Estratégia definida num Plano Especial, conforme previsto na Lei
nº. 3/04, de 25 de Junho.

5.3 RECURSOS PESQUEIROS

Desde os anos 90, que o Governo angolano tem promovido os sectores de pesca industrial
e artesanal com o intuito de contribuir para um desenvolvimento socioeconómico
nacional.

Ao longo da costa as condições climáticas vão variando de Norte para Sul, verificando-se
a Norte, zonas mais tropicais e húmidas, enquanto a Sul, encontram-se as zonas costeiras
mais áridas. Estas diferenças influenciam as características físicas do território, a
biodiversidade e os ecossistemas presentes, o que induz uma abordagem e planeamentos
estratégicos diferenciados.

Algumas das cidades angolanas com maior dimensão, como Benguela, Lobito, Sumbe ou
Namibe, incluindo também a capital Luanda, encontram-se no litoral, onde o crescimento
urbano se tem diferenciado últimos anos, face às cidades do interior, com as devidas
excepções. Adicionalmente, existem quase 200 comunidades ao longo da costa, onde a
actividade pesqueira é representativa, sendo no Sul na província no Namibe que se
localiza o maior centro pesqueiro de Angola, no município do Tômbwa. As intervenções e
usos a desenvolver nestas áreas devem ser sujeitas a um processo integrado, atendendo
às especificidades territoriais da costa, como referenciado no ponto anteriormente
descrito.

A zona costeira e marinha de Angola desenvolve-se por 1.650 Km, abrangendo sete
províncias, nomeadamente (Cabinda, Zaire, Bengo, Luanda, Kwanza Sul, Benguela e
Namibe). Esta diversidade de condições climáticas e oceanográficas resulta na existência

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Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

de uma variedade de ecossistemas e ambientes, cobrindo a zona costeira, o mar territorial


e a zona econômica exclusiva.

O sector das Pescas em Angola representa um papel importante no desenvolvimento das


zonas costeiras, em particular, na segurança alimentar, na redução da pobreza e na
geração de emprego, especialmente, na pesca artesanal e semi-industrial, cuja frota é
maioritariamente nacional.

Para a caracterização, regulamentação e gestão dos recursos pesqueiros, Angola conta


com algumas organismos internacionais, como a FAO, OIM (Organização Internacional
para as Migrações), PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), BCLME
(Programa do Grande Ecossistema Marinho da Corrente de Benguela), entre outros, e
países com acordos de cooperação, como é o caso da Noruega que desde os anos 80
actua no país contribuindo com o aumento da pesca para o desenvolvimento
socioeconómico do país e o crescente reconhecimento do papel nutricional do pescado
na dieta alimentar, reforçando a componente da gestão de pesca nesta cooperação.

A finalidade destes programas é de reforçar as capacidades de gestão e técnica nos


diferentes órgãos e serviços do Ministério das Pescas, de acordo com as melhores práticas
internacionais.

Segundo o Artigo. 8º da Lei dos Recursos Biológicos Aquáticos, Lei nº 6-A/04, de 8 de


Outubro, o ordenamento pesqueiro visa:

 Assegurar o uso racional e sustentável dos recursos biológicos aquáticos, do


ambiente costeiro e ribeirinho, bem como a sua gestão integrada;

 Contribuir para assegurar a qualidade, diversidade e disponibilidade de


recursos biológicos e genéticos aquáticos, bem como o direito a uma
alimentação saudável e suficiente das gerações actuais e futuras;

 Permitir a renovação sustentável dos recursos biológicos aquáticos, a


reconstituição de espécies ameaçadas e a reabilitação e restauração de
ecossistemas degradados;

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Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

 Contribuir para a conservação a longo prazo dos recursos biológicos e dos


ecossistemas aquáticos, em especial dos ecossistemas frágeis, a nível
nacional, regional e mundial;

 Prevenir a criação de capacidade de pesca excessiva;

 Minimizar os impactos negativos da pesca no ambiente e nas actividades


económicas;

 Assegurar a igualdade de acesso de pessoas angolanas aos recursos


biológicos aquáticos e as actividades económicas com eles relacionadas,
incluindo o acesso de pescadores de subsistência e artesanais e das
comunidades costeiras e ribeirinhas;

 Reduzir ao mínimo possível a poluição, o desperdício, os rejeitados, as


capturas por engenhos perdidos ou abandonados e as capturas de
espécies não autorizadas.

A supramencionada lei, que dispõe sobre a Recursos Biológicos Aquáticos, estabelece os


princípios e objectivos a que deve obedecer o uso e exloração dos recursos biológicos
aquáticos, princípios e regras reguladores do ordenamento de pesca e da concessão de
direitos de pesca, princípios e regras especiais de protecção dos recursos biológicos e
ecossistemas aquáticos, as regras relativas a embarcações e portos de pesca, bem como
as normas reguladoras da investigação científica e da monitorização relativa aos recursos
biológicos aquáticos. Regula também o licenciamento de estabelecimentos de
processamento e venda de pescado e produtos da pesca, bem como das actividades de
aquicultura.

Outro instrumento de regulação da atividade pesqueira é o Decreto nº 41/05, de 13 de


Junho, que dispõe o Regulamento Geral e estabelece as regras gerais e comuns para a
implementação da Lei dos Recursos Biológicos Aquáticos.

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Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade,
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

No Quadro 2 apresentam-se os principais diplomas em vigor, por área de actuação:

Quadro 23: Principais diplomas, no âmbito da pesca e aquicultura.


Legislação Ano Ementa

Recursos Biológicos Aquáticos - estabelece os princípios e


objectivos a que deve obedecer o uso e exloração dos
Lei nº 6-A, de 8 de
2004 recursos biológicos aquáticos, princípios e regras reguladores
Outubro
do ordenamento de pesca e da concessão de direitos de
pesca.

Lei nº 16, de 27 de
2005 Altera a Lei dos Recursos Biológicos Aquáticos.
Dezembro

Ordenamento Pesqueiro
Decreto Executivo nº Havendo necessidade de ordenar o mecanismo de formação
1998
47, de 28 de Agosto de contratos de fretamento para embarcações de pesca;

Regulamento sobre a Investigação Científica dos Recursos


Decreto nº 38, de 3 de
2005 Biológicos Aquáticos em águas marítimas e continentais sob
Junho
jurisdição e soberania angolana e na plataforma continental.

Decreto nº 41, de 13 Estabelece as regras gerais e comuns para a implementação


2005
de Junho a Lei dos Recursos Biológicos Aquáticos.

Decreto nº 14, de 3 de Regulamento de concessão de direitos de pesca e


2005
Maio licenciamento.

Decreto Executivo nº Medidas de ordenamento,


109, de 25 de 2005 relacionadas com a determinação das dimensões e
Novembro pesos das espécies a capturar.
Decreto Executivo nº Define os tipos de artes de pesca cujo uso é permitido em
2006
159, 26 de Dezembro Angola.
Estabelece as normas de medição de malhagem das redes
Decreto Executivo nº
de pesca empregues pelas embarcações de pesca comercial
160, de 26 de 2006
legalmente autorizadas a capturar os recursos biológicos
Dezembro
aquáticos nas águas sob jurisdição angolana.
Acordo sobre a Promoção e o Cumprimento das
Resolução nº 4, de 22
2006 Medidas Internacionais de Conservação e Ordenamento
de Fevereiro
pelos Barcos Pesqueiros no Alto Mar.
Gestão dos recursos
Decreto Presidencial
Estabelece medidas de gestão das pescarias marinhas, da
nº 317, de 30 de 2011
pesca continental e da Aquicultura para o ano de 2012
Dezembro
Conservação do pescado
Decreto Executivo Regulamento sobre as normas específicas dos controlos
Conjunto nº 1, de 2 de 2008 organolépticos, químicos, microbiológicos e grau de
Janeiro toxicidade dos produtos da pesca.
Pesca Continental
Decreto Presidencial Regulamento da Pesca Continental – o diploma aplica-se a
2013
nº 139, de 24 de pessoas singulares, cooperativas ou associações nacionais

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Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

Legislação Ano Ementa


Setembro que praticam a pesca nas águas continentais angolanas,
bem como as actividades a ela relacionadas, que tenham
lugar em terra firme.
Aquicultura
Estabelece as normas regulamentares que devem reger, as
Decreto nº 39, de 6 de
2005 actividades da aquicultura.
Junho

Fonte: Própria

Em Angola estão presentes duas correntes marítimas divergentes, com diferentes


características de temperatura, salinidade e densidade: 1) a Corrente quente de Angola e
2) a Corrente fria de Benguela, que criam um forte sistema de upwelling responsável pela
produção básica de recursos marinhos. Contudo, a sobrexploração pesqueira e as
mudanças nas condições hidroclimáticas regionais reduziram fortemente o potencial das
pescas. A Corrente fria de Benguela, com direcção S-N, cobre a costa ocidental da África
Austral, estendendo-se ao longo das margens continentais de Angola, Namíbia e África do
Sul.

O Grande Ecossistema Marinho da Corrente de Benguela (BCLME) é um dos quatro


maiores sistemas de ressurgência de águas profundas ricas em nutrientes nas fronteiras a
Este dos oceanos Atlântico e Pacífico, por isso a abundância e diversidade de recursos
marinhos é elevada em Angola, Namíbia e África do Sul.

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Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade,
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

Figura 30: Corrente de Benguela.

Fonte: BCLME

A zona que se estende desde Lobito até à foz do rio Cunene é a mais produtiva das zonas
de pesca marítima de Angola, com abundância de carapaus, sardinhas, atum e um vasto
número de espécies demersais. A zona Norte de pesca estende-se de Luanda até à foz do
rio Congo e a zona central de Luanda a Benguela.

Criada em 2007, a Comissão da Corrente de Benguela é constituída por Angola, Namíbia


e África do Sul, e promove a gestão integrada, desenvolvimento sustentável e a
protecção do Grande Ecossistema Marinho da Corrente de Benguela (BCLME). O BCLME

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Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

abrange cerca de 30 graus de latitude, alongando-se até Oeste de Port Elizabeth na


África do Sul. É um dos mais ricos ecossistemas marinhos do mundo e sustenta uma
abundância de vida.

A Comissão da Corrente de Benguela proporciona um veículo para que os três países da


Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC) possam introduzir uma
abordagem ecossistémica à gestão do BCLME. A Comissão está centrada na gestão dos
recursos haliêuticos partilhados, na avaliação e monitorização do ambiente físico, no
estabelecimento de um sistema de informação sobre o ecossistema bem como na gestão
cooperativa da biodiversidade e da saúde do ecossistema.

As actividades da Comissão da Corrente de Benguela são apoiadas pelos Governos de


Angola, Namíbia e África do Sul; o Fundo Mundial para o Meio Ambiente; e o Programa
das Nações Unidas para o Desenvolvimento. O Governo da Noruega providencia apoio
financeiro generoso para o Programa Científico da Comissão da Corrente de Benguela e
a Islândia apoia uma iniciativa abrangente de Formação e Reforço de Capacidades.

Ainda sobre as pescas marítimas refere-se que a prioridade nacional, é distribuição do


pescado para consumo interno, 94% dos peixes capturados na ZEE (Zona Económica
Exclusiva) de Angola são desembarcados no país e apenas 5% são exportados.
Aproximadamente 70% dos desembarques marinhos são consumidos frescos ou
congelados, enquanto 20% são consumidos salgado e seco. Uma estimativa feita pela
FAO a média de consumo de peixe per capita por ano aumentou de 13 kg em 1995 para
entre 15,7 – 17,3 kg em 2011.

Em 2011, a actividade da pesca marítima em Angola, teve como resultado uma produção
de 262.500 toneladas, compreendendo 101.491 toneladas de espécies pelágicas, como o
carapau e as sardinellas, e 103.549 toneladas de diversas espécies demersais. Já em 2012,
segundo comunicado pelo Ministério das Pescas, a actividade da pesca em Angola
apresentou uma produção de 354.000 toneladas, cinco vezes mais do que a quantidade
de pescado importado, que se situou nas 60.000 toneladas.

Em 2013 a produção pesqueira de Angola foi de 370.000 toneladas. Uma produção que
inclui a pesca industrial, semi-industrial e artesanal marítima e continental. Nos últimos três

194
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Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade,
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

anos, a produção tem sido bastante satisfatória, devido aos importantes investimentos que
o sector privada tem fomentado, principalmente nos segmentos de captura, congelação
e comercialização.

Segundo dados do Plano de Desenvolvimento da Pesca Artesanal (2013), a estratégia


para as Pescas tem como objectivo promover a competitividade e o desenvolvimento da
pesca industrial e artesanal de modo sustentável, contribuindo para a promoção de
emprego, com o objectivo de combater a fome e a pobreza e garantir a Segurança
Alimentar e Nutricional. As estimativas extrapoladas até 2017 da biomassa, produção total
e discriminada por sector, produção de peixe seco, entre outros, estão apresentados no
Quadro 3.

Quadro 24: Objectivos e Indicadores para o Sector das Pescas.


Base Metas
Indicadores 2012 2013 2014 2015 2016 2017
Previsão da Biomassa 1.370.936 1.370.936 1.439.480 1.410.600 1.418.037 1.428.037
Volume de Produção (Ton.) 354.500 379.950 412.400 442.850 444.850 454.850
Industrial e Semi-
260.000 270.000 280.000 290.000 290.000 300.000
Industrial
Artesanal Marítima 80.000 85.000 87.000 87.000 89.000 89.000
Artesanal Continental 4.500 4.950 5.400 5.850 5.850 5.850
Aquicultura 10.000 20.000 40.000 60.000 60.000 60.000
Produção de peixe seco
25.000 30.000 35.000 40.000 40.000 40.000
(Ton.)
Produção de Sal (Ton.) 50.000 70.000 90.000 120.000 120.000 120.000
Produção de Conservas (Mil
0 800 800 3.400 4.600 4.600
Ton.)
Emprego Gerado (nº de
13.410 13.690 14.065 14.294 14.303 14.303
pessoas)
Fonte: Plano de Desenvolvimento da Pesca Artesanal (2013),

Constatou-se que existe grande variablilidade espacial e temporal nas capturas, estas
possuem carácter sazonal e o total capturado varia consideravelmente entre as
províncias, (bem como ao longo dos anos). De um modo geral, os melhores meses para a
pesca são de Maio/Junho a Setembro/Outubro, com algumas exceções como é o caso
de Tômbua (Namibe) e Landanda (Cabinda) que o pico de pesca ocorre de Setembro –
Março e Setembro-Novembro, respectivamente. Este facto se dá porque a distribuição de
muitas espécies depende das condições oceanográficas daquela zona, como da

195
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Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

temperatura da água, salinidade, correntes maritímas, disponibilidade de nutrientes, entre


outros.

No entanto, independente das estações do ano, as actividades pesqueiras ocorrem ao


longo de todo o ano devido a falta de alternativas de subsistência. De acordo com o
Instituto para o Desenvolvimento da Pesca Artesanal (IPA), que fornece apoio aos
pescadores artesanais e pessoas envolvidas com as actividades pesqueiras, existem
presentemente 188 comunidades piscatórias ao longo da costa angolana distribuídos por
34 localidades. No Quadro 25 encontram-se listadas 102 comunidades piscatórias, um vez
que foi possível o acesso a informação actualizada das comunidades, por província.

Quadro 25: Comunidades piscatórias discriminada por província.

Cabinda Zaire Bengo Luanda Kwanza Sul


Benguela (16) Namibe (12)
(18) (20) (12) (15) (9)

Labi Mussera Ambriz São Tiago Praia Sousa Cuio Cabo Negro
Luvassa Impanga Kinkankala Boa Vista Kikombo Gengo Praia Amélia
Funga Tombe Binge Hotanganga Sumbe Salina Chiome Saco Mar
Caio Kifuma Pambala Cacuaco Foz R. Longa Chamume Mucuio
Lombo-Lombo Kungo Catumbu Samba Praia Dengue Vitula Bentiaba
Baía das
Chinga Xangi Kinzau Barra Dande Ramiro Torre Tombo Baía Farta
pipas
Chapéu
Futila Mucula Sobe desce Benfica Sumbe sede Kasseque
Armado
Buço Mazi N´Zeto Sangano Barra Kuanza Karimba Macaca Tômbua Sul
Ponta
Malembo Cabo Ledo Mirador P. Amboim Senga Tômbua sed
Padrão
Porto
Cacongo Maradeira São Braz Casa Lisboa Cabaia
Pesqueiro
Bembica Kipai Kitoba Chicala Saco Lucira
Tchafi tungo Kivanda Barra Bengo Coata
Landana Kakongo Buraco Damba Maria
Chicaca Tomboco Capossoca Praia Bebé
Kinfinda
Sangu Simuli Lobito Velho
Muango
Techississa Kingombo Compao
Massabi Kimpanga
Kintaku
Lucumba
Missanga

Fonte: Duarte et al, 2005

196
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Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade,
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O número total de pessoas envolvidas nas actividades de pesca artesanal marinha é


incerto. As capturas da pesca artesanal representam entre 35 – 40% do total de capturas
em Angola. Esta inclui mais de 5.000 embarcações de pesca (0-14 m de comprimento) e
50.000 pessoas directamente envolvidas, estimando-se no global, directa e indirectamente
estejam envolvidas mais de 85.000 pessoas.

No entanto, o número de pessoas envolvidas é muito maior, já foi estimado (Duarte et al,
2005) em cerca de 130.000 e 140.000, mas estes valores incluem quem trabalha com
compra e venda, processamento, distribuição e mercados de peixe. Num relatório
publicado pela União Europeia em 2006, estimou que cerca de 700.000 pessoas ganham a
vida através da pesca e atividades relacionadas.

Cada embarcação pesca cerca de 100 kg por dia, pelo que diariamente são capturadas
500 toneladas de pescado. Apenas cerca de 20% das embarcações artesanais são
motorizados e, portanto, estão limitados à zona costeira adjacente (para lá das 4 milhas
náuticas).

As capturas de pesca artesanal marítima em 2010 foram de 100.000 toneladas, a


quantidade capturada apresentou uma diminuição significativa nos últimos anos,
entretanto a estimativa de captura para o ano de 2013 foi de mais de 80.000 toneladas.

Gráfico 3: Produção da pesca artesanal marítima de 2007 a 2012.


120.000
103.928 102.038
95.733 96.819
100.000
Capturas (toneladas)

80.000
66.966
60.150
60.000

40.000

20.000

0
2007 2008 2009 2010 2011 2012
Anos

197
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Em 2011 e 2012 as capturas diminuíram, apesar disto, este subsector contribui


significativamente para a segurança alimentar da população cujo consumo per capita é
de cerca de 20 kg/hab/ano.

Esta queda significativa, estimada em 40% neste curto período de tempo, pode ser pelas
seguintes possíveis causas:

 O fraco sistema de recolha de dados, devido à inexistência de


amostradores nas diversas comunidades piscatórias;

 As mudanças climáticas afectam o mar que, por sua vez, altera as


condições oceanográficas (temperaturas muito altas, por exemplo),
fazendo com que o pescado migre para zonas não acessíveis à pesca
artesanal.

Relativamente ao ano de 2010, as províncias do Zaire, Benguela e Luanda foram as que


apresentaram maior valor nas capturas em relação ao total. Já em 2012 o cenário mudou,
pois foi verificado o número de capturas diminuiu cerca de 11% em relação ao ano
anterior. Verifica-se que Benguela, Luanda e Kwanza Sul são as províncias com capturas
mais elevadas.

Gráfico 4: Capturas por Província de 2012, em mil toneladas.

Fonte: Plano de Desenvolvimento da Pesca Artesanal, 2013.

O Total Admissível de Captura (TAC) em Angola, para os recursos pesqueiros está


direcionada em 69% para as espécies pelágicas e 29,6% para as demersais, como consta

198
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no (Plano de Ordenamento Pesqueiro Nacional 2006 – 2010). Para os recursos demersais,


cerca de 73,5% das capturas é realizada pela frota artesanal, sendo que para os recursos
pelágicos a embarcações artesanais capturam cerca de 19,3%

Relativamente à pesca continental, esta é uma actividade bastante mais complexa e


apresenta aspectos positivos e negativos. Angola é um país com inúmeros rios e lagoas,
pelo que apresenta boas condições para a pesca continental. Foi realizado um grande
investimento, pelos órgãos responsáveis, em meios para suportar a pesca continental,
onde foram distribuídas embarcações e artefactos (redes, facas, entre outros). As
cooperativas, abrangendo todas as províncias. No futuro, o aproveitamento destes
recursos poderá desenvolver a económica e socialmente as províncias do interior.

Para o fomento da pesca continental foram distribuídas, de 2007 a 2013, 3.000


embarcações motorizadas e artefactos de pesca a todas as comunidades piscatórias.

Gráfico 5: Número de barcos distribuídos por província.

Fonte: Plano de Desenvolvimento da Pesca Artesanal, 2013.

Presume-se que a pesca continental tenha níveis muito elevados de capturas mas é uma
actividade com pouca regulamentação e quase nenhuma monitorização e fiscalização.
A falta de controlo, e a consequente pesca desordenada, leva a sobreexploração dos
recursos podendo pôr em causa a sustentabilidade da pesca continental. Segundo o IPA,
este sector apresenta limitações porque é uma actividade recente quando comparada

199
Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

com a pesca marítima, consequência de um começo tardio, iniciado depois de 2002. Em


termos de pesca continental, verifica-se um deficiente sistema de recolha de dados
devido à falta de recursos humanos, planos de amostragem e meios financeiros para
cobertura das províncias. No entanto, segundo os dados disponíveis foram capturadas
1.000 toneladas pela actividade de pesca continental no ano de 2010. É possível verificar
no Gráfico 5, que as províncias do Kwanza Norte e Uíge apresentaram maiores das
capturas, 583 e 337 toneladas, respectivamente.

Gráfico 6: Capturas (mil kg) para a Pesca Continental, por província em 2010.

Fonte: Plano de Desenvolvimento da Pesca Artesanal 2013.

As cooperativas da pesca continental não estão ainda devidamente estruturadas. Com os


dados disponibilizados foi possível listar o número de cooperativas e associações existentes
nas províncias e quais as cooperativas beneficiadas com financiamento do tipo
microcrédito. A província que apresentou mais associações e cooperativas foi o Zaire,
seguido de Luanda, sendo que Namibe e Cabinda têm mais cooperativas com
microcrédito.

Quadro 26: Número de Associações/Cooperativas por província e beneficiadas com


microcrédito.
Província Associações/Cooperativas Nº de Cooperativas com microcrédito
Huíla 36 n
Luanda 70 5
Huambo 36
Uíge 44
Kwanza Sul 35 2

200
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Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

Província Associações/Cooperativas Nº de Cooperativas com microcrédito


Zaire 205 4
Benguela 47 1
Namibe n 8
Bengo n 3
Cabinda n 8
TOTAL 473 31
n-sem informação

Centros de Apoio a Pesca

Com base na estatística oficial disponibilizada, as províncias com maior número de


desembarques das capturas marinhas são, Luanda, Benguela e Kwanza Sul, sendo Luanda
a única com um porto pesqueiro para desembarque da produção industrial.

O Plano de Desenvolvimento da Pesca Artesanal 2013, tem como objectivo dotar as


comunidades da pesca artesanal de um conjunto de infra-estruturas de suporte à sua
actividade que se constituam como alavancas da capacidade e do desenvolvimento da
vida destas comunidades locais.

Algumas destas infra-estruturas dizem respeito às próprias actividades da pesca como é o


caso dos Centros de Apoio à Pesca Artesanal, que já estão a ser implementados (nas
comunidades do Buraco, Kikombo e Damba Maria) (e estão em fase de implementação
mais sete, perfazendo um total de 10 centros, até o fim de 2013) e da melhoria das
instalações de frio e gelo e dos equipamentos dos barcos utilizados pelas comunidades.

Outras são infraestruturas de apoio à comunidade com impacto directo no seu


desenvolvimento como as infra-estruturas básicas, água e saneamento básico, rede
eléctrica, e equipamentos como, escolas, centros médicos e outros de apoio à
comunidade

201
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Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

Figura 31: Localização de Apoio à Pesca Artesanal

Fonte: Plano de Desenvolvimento da Pesca Artesanal 2013.

Quadro 27: Descrição dos Centros de Apoio e Mini-centros de Apoio à Pesca Artesanal.

Fonte: Plano de Desenvolvimento da Pesca Artesanal 2013.

No que se refere à Aquacultura, mais especificamente maricultura, as actividades ao


longo da costa nacional não são significativas. No âmbito do Plano de Ordenamento de
Pescas e Aquicultura 2006/2010, foi elaborado um diagnóstico para o desenvolvimento da

202
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Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade,
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

aquicultura em Angola. que indica que as províncias com maior potencial para esta
actividade são, Luanda, Bengo, Kwanza Sul e Benguela. Cabe ressaltar que o diagnóstico
não inclui as províncias de Cabinda, Zaire e Namibe pois as mesmas não foram visitadas
(informação a ser futuramente complementada de acordo com as intenções previstas) De
seguida apresentam-se as principais reflexões retiradas do mencionado diagnóstico é:

Província de Luanda

 Foram observadas a Enseada Caíolo, a Foz do Rio Bengo, a Praia do


Santiago, a Praia do Buraco e a Laguna do Buraco (Mangais).

 Foram seleccionadas a Enseada do Caíolo e a Praia do Santiago por


apresentarem condições para a implementação de projectos de
maricultura e outras espécies de crustáceos a curto prazo.

 As áreas da Foz do rio Bengo, Praia do Buraco e Laguna do Buraco


(Mangais), foram rejeitadas por apresentarem indícios de poluição causada
por resíduos domésticos, como resultado da actividade piscatória e
doméstica, além de não possuir água permanente para actividade de
maricultura.

Província do Bengo

 Das estações observadas foi selecionada a Baía do Suto. A Enseada do São


Brás foi selecionada para implementação de projectos de maricultura, pela
sua configuração topografia e configuração por observação no mapa.
Necessita de medições dos parâmetros físicos – químicos da água..

 A área da Barra do Dande e da Enseada do Sangano, foram rejeitadas por


apresentarem elevados indícios de poluição causado por resíduos
domésticos, como resultado da actividade piscatória e domestica e por
estar exposta à fortes ventos.

Província do Kwanza Sul

 Foi selecionada a Enseada do Quicombo por apresentar condições


favoráveis para a implementação de projectos de maricultura.

203
Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

 A área da Ponta do Morro e da Baía do Chicololo, foram retiradas por


apresentar indícios de poluição por resíduos domésticos e por influentes das
empresas de pesca, localização de tubos flutuantes de abastecimento de
combustível de armazém de estocagem da SONANGOL e por estar exposta
a ventos fortes.

Província de Benguela

 Foram seleccionadas as áreas da Baía Farta, Baía da Caotinha, Baía dos Elefantes
pela sua configuração topográfica, protegidas à fortes ventos, por não
apresentarem indícios de poluição e água canalizada e luz eléctrica.

 As áreas do Egito Praia, Lagoa da Canata, Lagoa do Luhongo, Praia da


Catumbela, Praia do Stº António, Praia do Limagem, Praia da Lua e Enseada do
Cuío, foram rejeitadas para a actividade da maricultura a curto prazo por
apresentarem indícios de poluição por resíduos domésticos e indústria petrolífera
assim como por estarem expostas à fortes ventos.

De acordo com o Plano de Ordenamento de Pescas e Aquicultura 2006/20010, prevê-se


concentrar o esforço nos bivalves na medida em que oferecem maior probabilidade de
êxito, construir algumas estações-piloto no litoral com objectivos iguais aos que foram
explicitados para a aquicultura em águas continentais.

Até 2010 avaliar a possibilidade de se criarem recifes artificiais (onde, em que condições)
com o objectivo de recriar níveis mais elevados de produtividade natural e biodiversidade
e de desenvolver condições mais favoráveis à procriação, abrigo, alimento e crescimento
para os juvenis de espécies costeiras de interesse comercial.

Com tempo, as zonas de recifes artificiais que, eventualmente, se concretizem darão


ensejo a que outras actividades com interesse económico se possam desenvolver, como
sejam o ecoturismo aquático e o turismo pesqueiro.

204
Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade,
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

Independentemente do que se pode ocorrer noutros subsectores, o desenvolvimento da


maricultura em condições minimamente sólidas exige uma boa organização e um bom
domínio de conhecimentos e técnicas.

A hipótese de se desenvolver a maricultura offshore a longo prazo não deve ser


descartada, na medida em que, primeiro, se deverá consolidar o progresso do subsector
nas zonas costeiras só mais tarde se avançando na base de uma avaliação cuidadosa dos
condicionalismos à realização destas actividades em áreas mais afastadas do continente.
Neste quadro específico que é o das operações offshore, pode admitir-se que, num futuro
não distante, venha a ser conveniente desenvolver sistemas de recifes artificiais como um
dos instrumentos para a criação de condições favoráveis à vida marinha.

Quanto à Piscicultura, é uma actividade bastante recente no país e os cultivos aquícolas


são reduzidos., Foram elaborados alguns estudos para determinar a potencialidade de
cada província na implementação de cultivos, e embora ainda numa fase de estudos
preliminares e incipientes, conclui-se que as províncias com maior potencial: são Luanda,
Bengo, Uíge, Malange, Lunda Norte, Lunda Sul, Moxico, Huíla, Namibe, Cunene e Kuando
Kubango.

Segundo informações disponibilizadas, está em curso a construção do centro de


larvicultura da Tilapia (vulgo, cacusso), na localidade de Masssangano (Kuanza Norte),
cujas obras estarão concluídas no próximo ano.

5.3.1 Industria transformadora

Apesar dos esforços que têm sido feitos para a sua revitalização, a situação não é ainda
estimulante, actualmente existem poucas infra-estruturas para a transformação dos
produtos piscatórios, especialmente salga e secagem de pescado.

De acordo com literatura disponível, o Ministério pretende dar prioridade a produção de


congelados e à salga e seca, a par de uma diversificação para produção de pré-
preparados e pré-cozinhados, duas áreas de interesse económico pelo que representam
de mais valias e pelas disponibilidades oferecidas pelos centros urbanos em termos de
procura (uma procura que tenderá a aumentar nos anos que se aproximam, tal como, a

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Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

possibilidade de explorar mercados regionais, para países vizinhos). A indústria salineira


merece, igualmente, a maior atenção, sobretudo quanto ao sal higienizado e iodizado.

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Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

Farinha de Peixe

Até 1972, Angola foi o primeiro produtor mundial de farinha de peixe, estando hoje
paralisadas com poucas fábricas especializadas neste tipo de produto.

No segmento da produção de farinha de peixe e a produção de óleo de peixe, foi


registado melhorias neste sector, com a reabilitação de uma fábrica na província de
Benguela, há dois anos. A unidade tem capacidade para produzir 1 tonelada de farinha
de peixe e 400 litros de óleo, obtidos a partir de cinco toneladas de matéria-prima
(sardinha) em uma hora.

Em relação a conserva de peixe, a situação é muito mais delicada, uma vez que o país
conta apenas com cinco unidades industriais. Todas elas encontram-se em estado
obsoleto e não funcionam há sete anos. As fábricas estão localizadas nas províncias de
Benguela ( três unidades) e Namibe (duas unidades).

Salga e seca

O processamento de salga e seca é realizado pelas salgadeiras artesanais, pelo facto das
unidades modernas estarem inoperantes por dificuldades na aquisição de matéria-prima,
e outras podem ser consideradas causais.

Fábricas de gelo

As fábricas de gelo continuam a enfrentar grandes dificuldades, devido a falta de água e


de energia elétrica, sendo obrigadas a fazerem recurso aos tanques de água e geradores
eléctricos.

Salinas

Os produtores ligados à actividade salineira precisam de financiamento para aumentarem


a produção e dar resposta à crescente procura que se regista o mercado, para a
redução das importações.

O Governo está a realizar diligências no sentido de encontrar soluções para, nos próximos
anos, os salineiros poderem ter acesso às instituições financeiras e solicitarem créditos

207
Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

destinados à aquisição de materiais. O desenvolvimento da indústria salineira está


directamente relacionado ao apoio investido pelos órgãos.

Actualmente, as províncias produtoras de sal no país são Benguela, Bengo, Kwanza Sul,
Namibe e Luanda. De acordo com o Plano de Ordenamento de Pescas 2006/2013, o
Mnistério pretende estabelecer os critérios de qualidade de produção do sal, com
especial ênfase para a sua iodização (métodos e equipamentos a utilizar, níveis de iodo),
e os modelos que devem servir de orientação a monitorização regular e controlo de
qualidade.

Comercialização

Apenas uma pequena parte da totalidade do pescado capturado no país é exportado,


sobretudo com destino à Europa e Ásia, devendo a sua exportação ser previamente
autorizada pelo Ministério das Pescas. Para que os produtos entrem na União Europeia é
necessário que todas as etapas de captura e transfomação sejam autenticadas,
garantindo que a origem do pescado não é ilegal.

No que diz respeito à empresarialização do sector em Angola, nas empresas de produtos


processados a exportação é quase inexpressiva, sendo que grande parte da captura é
congelada a bordo e enviada directamente para os mercados de exportação. Neste
processo estão envolvidas principalmente empresas estrangeiras. Relativamente à
comercialização de peixe seco, uma grande parte é exportada para países vizinhos,
especialmente a República Democrática do Congo, Zâmbia e Namíbia.

No que se refere à industria transformadora e posterior comercialização, o Ordenamento


Territorial, revela-se uma importante ferramenta ao serviço do desenvolvimento
económico. A definição de áreas destinadas ao desenvolvimento destas actividades,
designadas industriais/logísticas e a sua regulamentação no âmbito dos Planos Directores
Municipais, pode desencadear e dinamizar estas áreas devolutas. A estas medidas devem
estar associada a necessária infraestruturação, sendo sempre de ressalvar que a vocação
destes territórios deve ser salvaguardada e regulamentada de acordo a Estratégia definida
para a Província, onde o sector das Pescas e a sua dinamização, deverão ser tratados
enquanto sectores chave.

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Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade,
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

5.4 ORDENAMENTO TERRITORIAL E DINAMIZAÇÃO ECONÓMICA DO SECTOR DAS PESCAS

A zona costeira angolana abrange sete províncias. A população do país encontra-se


largamente concentrada nos centros urbanos, alguns dos quais costeiros tais como
Luanda, Benguela, Lobito, Sumbe, Namibe e Tômbwa. Tal ocorrência deve-se
principalmente à migração das populações rurais durante a guerra. Muitos foram
acolhidos pelas comunidades hospedeiras, instalando-se nas áreas urbanas. Apesar de
não existirem dados exactos, estima-se que a população urbana tenha aumentado de
14% em 1970, para 60% em 2001. A população da capital, por exemplo, cresceu mais de
seis vezes em 30 anos.

A instabilidade macroeconómica sentida nos anos 90 teve efeitos negativos no


desenvolvimento da indústria pesqueira, implicando:

 Uma descapitalização profunda do tecido empresarial pesqueiro;

 Uma desqualificação da mão-de-obra e fuga de quadros.

Apesar de ainda persistirem factores externos de estrangulamento ao desenvolvimento do


sector, actualmente o contexto macroeconómico é diferente, a julgar por alguns
indicadores.

O principal centro industrial é a província de Luanda. Porém, existem outras cidades com
um número significativo de indústrias, como, Lobito e Benguela. A indústria do petróleo é o
principal sector nas províncias de Cabinda e Zaire. A pesca é uma actividade importante
ao longo da costa, sendo que a infraestrutura viária ao longo da costa não é, de um
modo geral, adequada, com algumas excepções tais como as secções entre Sumbe e
Luanda e entre Namibe e Tômbwa.

Usualmente existe um limitado número de serviços básicos e infra-estruturas para atender


às necessidades básicas do agregado familiar, e que afectam as actividades
relacionadas com a pesca, impedindo melhorias para a subsistência e às mudanças que
poderiam beneficiar no futuro os filhos de pescadores.

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Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

No que se refere aos serviços é necessário inverter as situações seguidamente


identificadas, por sector

Habitação e Saneamento

Com excepção de Luanda, os pescadores normalmente moram em cabanas, casas de


adobe ou pau a pique, feitas por uma mistura de sol tijolos secos e folhas de zinco, ou de
canas, paus e madeira. Alguns pescadores, pertencentes à cooperativa Kilamba Kiaxi,
tiveram acesso a casas de caracter definitivo. A maioria dos assentamentos não dispõem
saneamento, poucos têm latrinas e/ou banheiros.

Serviços de saúde

Verifica-se uma grande carência de serviços de saúde nas comunidades, e nos serviços
prestados nos centros de saúde primária. Em algumas localidades existem clínicas privadas
mas a maioria da população não tem recursos que permitam o seu acesso.

Energia

As fontes de energia dominantes ainda são: carvão, gás e lenha, sendo o último, fonte
dominante nas províncias do Norte tais como o Bengo e Zaire. O sistema de energia
eléctrica e de abastecimento de água estão disponível em poucas comunidades, e por
vezes funcionam com insuficiências ou não estão operacionais.

Educação

O número de escolas em diversas comunidades não é suficiente perante as necessidades


da população, verificando-se também algumas dificuldades no acesso às escolas
secundárias e de terceiro nível, pela distância a que se encontram.

Água potável

O acesso é limitado, e a distribuição é feita com recurso a fontanários públicos, quando


existe, a partir linhas de água localizados a distâncias consideráveis. A disponibilidade de
água para as populações e o sector é de extrema relevância, sem os quais dificilmente
haverá desenvolvimento.

210
Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade,
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

Transporte

Existem poucos transportes públicos e muitas vezes tem custos altos, impedindo o
desenvolvimento socioeconómico do local, como acesso a educação, saúde, serviços do
Governo, mercados, entre outros).

Aos aspectos referidos acresce referir a necessidade de reforçar as acções que estão em
curso com a implementação dos centros pesqueiros, sendo objecto do ordenamento
territorial:

 A delimitação dos aglomerados pesqueiros

 Programação das áreas e usos presentes, designadamente, habitação, comercio,


serviços

 Dotação de acessos viários que permitam a mobilidade de pessoas e bens e a


distribuição dos bens disponibilizados;

 Dotação de infraestruturas urbanas, nomeadamente, rede de abastecimento de


água, rede de drenagem e tratamento das águas pluviais, rede electrica

 Dotação de Equipamentos sociais, no domínio da saúde, ensino, cultura, desporto


e acompanhamento social;

 Criação de pontos de armazenagem, conservação, distribuição e venda

No que se refere ao ordenamento territorial dos aglomerados com vocação para a Pesca
Industrial, importa reforçar, a necessidade desta actividade ser consagrada nos Planos
Provinciais de Ordenamento Territorial, norteador dos grandes desígnios de
desenvolvimento da província, de onde se destaca: Cabinda, Zaire, Bengo, Luanda,
Kwanza Sul, Benguela e Namibe.

211
Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

Os Planos Directores Municipais devem atender à salvaguarda de áreas para a


Industria/Logística, complementares ao apoio pesqueiro constituindo centros de
conservação, transformação e distribuição de importância regional e internacional.

A pesca continental, pelas especificidades territoriais, está presente nas províncias do


Zaire, seguido de Luanda, sendo que Namibe e Cabinda têm mais cooperativas com
microcrédito, e deve estar consagrada nos instrumentos de Ordenamento Territorial, com
estratégia semelhante ao referenciado para a pesca marítima.

A aquicultura, deve ser considerada como uma oportunidade, atendendo às


características da costa, no que se refere à presença de baías e enseadas abrigádas e de
ventos fortes. A titulo de exemplo, refere-se a produção de ostras que se verifica na
Namíbia, sendo um dos exportadores mais importantes a nível internacional. As províncias
com maior potencial para esta actividade são Luanda, Bengo, Kwanza Sul e Benguela.

A exploração de sal, é outra actividade a consagrar, tanto no âmbito da Estratégia de


nível provincial como nos Planos de Ordenamento de Orla Costeira, se situados na faixa
dos 500 m, ou nos Planos Directores Municipais se situadas num faixa superior, devidamente
regulamentada e estruturada para a sua exploração.

De grande relevância para o sector da cartografia e Demarcação dos Espaços Marítimos


de Angola, refere-se o Despacho Presidencial n.º 106/13, de 1 de Novembro, publicado no
final de 2013, que visa a criação da Comissão Interministerial para Delimitação e
Demarcação dos Espaços Marítimos de Angola, abreviadamente designada por
CIDDEMA, coordenada pelo Ministro da Defesa Nacional, com os seguintes objectivos:

a) Auxiliar o Presidente da República no processo de submissão de Angola para


extensão da plataforma continental;

b) concluir o traçado das linhas de bases rectas para medir a largura do mar
territorial, tendo em conta o que dispõe o artigo 16.º da Convenção das Nações
Unidas sobre o Direito do Mar de 1982;

212
Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade,
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

c) Concluir o trabalho dos parâmetros de transformação das coordenadas


geodésicas de cartografia de todo território angolano do Datum Camacupa para
o Datum WGS84 (Sistema Mundial Geodésico);

d) dActualizar a cartografia de todo território angolano com cartas e mapas WGS84


em escalas adequadas;

e) Elaborar as cartas, mapas e listas de coordenadas geográficas com pontos em


que conste especificamente a origem geodésica das linhas de base para medir a
largura do mar territorial e das linhas de limites exterior do mar territorial, da Zona
Contígua e da Zona Económica Exclusiva, em conformidade com o que dispõe os
artigos 16.º e 17.º da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar;

f) Reconfirmar e determinar os pontos de início para definição da delimitação das


fronteiras marítimas ao Norte;

g) Reconfirmar, sempre que se mostre necessário, o traçado das fronteiras fluviais e


terrestres, com a República Democrática do Congo, substituindo ou recolocando
os marcos correspondentes;

h) Concluir o processo de delimitação e de demarcação da fronteira marítima de


Angola a Norte com a República Democrática do Congo e a República do
Congo;

i) Conhecer as características geológicas e hidrográficas do fundo submarino de


modo a poder servir de fundamento a pretensão da República de Angola de
alargar os limites da sua Plataforma Continental para além das 200 milhas
marítimas, em conformidade com o estipulado no artigo 76.º da Convenção das
Nações Unidas sobre o Direito do Mar e o Acordo relativo à aplicação da Parte XI
desta Convenção;

j) Concluir os estudos e investigações para definição dos limites da Plataforma


Continental de Angola para submeter à aprovação da Comissão dos Limites da
Plataforma Continental, em conformidade com o previsto na Convenção das
Nações Unidas sobre o Direito do Mar;

213
Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

k) Concluir a criação do dicionário oceanográfico e preparar a estrutura de base de


dados de apoio ao projecto de extensão da Plataforma Continental, de forma a
poder servir no futuro de um sistema de monitorização e gestão integrada do
oceano;

l) Continuar a promover, em colaboração com as Universidades Públicas e Privadas,


o desenvolvimento de projectos de investigação orientados para a exploração dos
dados e da informação obtidos no projecto de extensão da Plataforma
Continental, publicando o referido projecto;

m) Continuar a promover a participação de jovens estudantes e investigadores no


projecto de Extensão da Plataforma Continental, nomeadamente através da sua
participação em cruzeiros científicos a realizar para o efeito, como contribuição
para o esforço nacional de regresso ao oceano;

n) Continuar a prestar apoio técnico necessário ao Presidente da República em


matéria de extensão da plataforma continental e delimitação dos espaços
marítimos de Angola.

No mesmo ano a CIDDEMA submeteu às Nações Unidas um relatório para o processo de


extensão da sua jurisdição marítima além das 200 milhas náuticas tendo sido
desencadeado um processo de investigação que contribuiu para o conhecimento
profundo da morfologia e configuração geofísica da costa angolana.

Angola prevê estender o seu território até 350 milhas náuticas, conforme dita o artigo 76º
da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, que permite a extensão das
suas plataformas.

5.5 RECURSOS MARINHOS E AS ÁREAS MARINHAS PROTEGIDAS

As Áreas Marinhas Protegidas (AMP’s) são reconhecidas mundialmente como uma


ferramenta essencial para a conservação da biodiversidade marinha e costeira,
mantendo a produtividade de ecossistemas marinhos e restaurando economicamente

214
Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade,
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

importante recursos marinhos vivos, incluindo os recursos pesqueiros, através das áreas de
proteção estrita.

Para a compreensão e conhecimento aprofundado sobre esta matéria importa


referenciar um conjunto de legislação nacional, sem prejuízo de outra que possa existir sem
que seja seguidamente listada:

• Resolução n.º1/10, de 14 Janeiro - Política Nacional de Florestas, Fauna Selvagem e


Áreas de Conservação (política aprovada/lei reprovada em 2010)

• Portaria n.º10375, de 15 Outubro 1958 - Regulamento dos Parques Nacionais

• Decreto n.º40040, de 20 Janeiro 1955 - Regulamento sobre a Protecção do Solo, Flora e


Fauna

• Portaria n.º44531, de 21 Agosto 1962 - Regulamento Forestal

• Diploma Legislativo n.º2873, de 11 Dezembro 1957 - Regulamento de Caça

• Lei n.º6A/04, de 8 Outubro - Lei dos Recursos Biológicos Aquáticos (Nova Lei das Pescas)

• Lei n.º3/04, de 25 Junho - Lei do Ordenamento do Território e do Urbanismo

• Lei n.º 9/04 de 9 Novembro - Lei de Terras

• Lei nº 5/98 de 19 Junho 1995 - Lei de Bases do Ambiente.

Como referido anteriormente, a sua delimitação deve obedecer a um processo


desencadeado pelo Ministério das Pescas e do Ambiente, com participação activa do
Ministério do Urbanismo e Habitação, do Ministério do Turismo e do Ministério dos
Transportes. A criação e dinamização económica associada, deverá ser transporta para
as estratégias territoriais provinciais e municipais, consagrando disposições regulamentares
para os Espaços Turísticos, Comerciais, Residências, e até Científicos, inerentes ao
desenvolvimento destas áreas.

As áreas adjacentes influenciam diretamente e indirectamente o meio das AMP´s, assim


como estas influenciam o desenvolvimento das áreas adjacentes. A relação desejada é

215
Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

de uma simbiose, que atenda aos valores de conservação necessários e simultaneamente


possibilite o desenvolvimento das localidades e comunidades existentes nas imediações.

A titulo de exemplo refere-se o diagnóstico mencionado no ponto sobre Aquicultura, que


integra o presente capitulo, em que se indica que algumas áreas territoriais nacionais,
presentemente, não servem os propósitos para a cultura e produção de bivalves, em
parte, decorrente de focos de poluição não controlados, provenientes dos aglomerados
urbanos adjacentes.

A gestão territorial integrada assume a dimensão ambiental enquanto, factor de


relevância das estratégia de planeamento urbano, materializadas obrigatoriamente nos
Instrumentos de Ordenamento do Território.

Figura 32: Desafios para a gestão das zonas costeira e ambiente marinhos.

Fonte: Duarte, 2013

Presentemente, o litoral conta com as Áreas Protegidas elencadas seguidamente, sendo


de referir que o Ordenamento destas áreas deverá ser consagrado em Planos de
Ordenamento de Áreas Protegidas. Acresce referir, que sendo o objectivo maior a
conservação, as comunidades locais e respectivos povoamentos, deverão integrar o
processo de ordenamento, visando o seu também o seu desenvolvimento. Este processo

216
Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade,
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

participativo, deve envolver os ministérios com relevância nas matérias, a referir: Ministério
do Urbanismo e Habitação, Ministério da Energia e Águas, Ministério do Turismo, entre
outros considerados relevantes para a área em questão.

Listagem das Áreas Protegidas com relevância para o Ordenamento do Litoral:

• Parque Nacional da Quiçama – Província de Luanda – 9.960 km² – valores importantes:


manatim, palanca-vermelha, talapoim, tartaruga marinhas (Diploma Legislativo n.º2873
de 11 Dezembro de 1957)

• Reserva Natural do Ilhéu dos Pássaros - Província de Luanda - 1.7 Km² - valores
importantes: mangais, avifauna (Decreto Provincial n.º55/73 de 21 Dezembro 1973)

• Parque Natural Regional da Chimalavera – Província de Benguela – 150Km2 – valores


importantes: cabra-de-leque (Diploma Legislativo n.º 4124 de 5 Junho 1971)

• Reserva Parcial do Namibe - Província do Namibe - 4.450 Km²- valores importantes:


Welvitschia mirabilis, mamíferos (rinoceronte negro, zebra-da-montanha, guelengue)
(Diploma Legislativo n.º3060 de 24 Agosto 1960)

• Parque Nacional de Iona - Província do Namibe - 15.150 Km²- valores importantes:


Welvitschia mirabilis, mamíferos (rinoceronte negro, zebra-da-montanha, guelengue)
(Diploma Legislativo n.º2873 de 11 Dezembro 1957).

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Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

Figura 33: Áreas Protegidas, com relevância para o Ordenamento do Litoral

5.6 CONCLUSÃO

O ordenamento territorial da zona costeira, constitui parte integrante do sistema nacional


de planeamento conforme consagrado na Lei n.º 3/04, de 25 de Junho, na qual um dos
objectivos e âmbito de aplicação refere a necessidade de proteger os recursos hídricos, as
zonas ribeirinhas, a orla costeira, as florestas e outros locais com interesse particular para a
conservação da natureza, compatível com a fruição pelas populações das suas
potencialidades específicas;

Presentemente o enquadramento legal, prevê que o ordenamento territorial destas áreas


seja promovido pelos Governos Provinciais uma vez que o Decreto Presidencial n.º 232/11,

218
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Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade,
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

de 23 de Agosto, remete a desafectação dos terrenos do Domínio Público compreendidos


na orla costeira para o domínio privado dos Governos Provinciais.

Independentemente do domínio a que a Orla Costeira está sujeita, o seu Ordenamento


Territorial deve obedecer a uma estratégia conjunta envolvendo os Ministérios com
manifesto interesse nestas áreas, sendo que o objectivo máximo do ordenamento é aliar a
conservação destas áreas de grande susceptibilidade ambiental ao desenvolvimento e
ocupação humana, onde actividades turísticas, residenciais devem ser ponderadas,
assegurando-se a implementação de regulamentação própria à salvaguarda dos valores
naturais .

No que se refere ao Ordenamento Territorial das cidades com vocação para a Pesca
Industrial, importa reforçar, a necessidade desta actividade ser consagrada nos Planos
Provinciais de Ordenamento Territorial, norteador dos grandes desígnios de
desenvolvimento da Província, de onde se destaca: Cabinda, Zaire, Bengo, Luanda,
Kwanza Sul, Benguela e Namibe.

Os Planos Directores Municipais devem atender à salvaguarda de áreas para a


Industria/Logística, complementares ao apoio pisqueiro constituindo centros de
conservação, transformação e distribuição de importância regional e internacional.

A pesca continental pelas especificidades territoriais está presente nas províncias do Zaire,
seguido de Luanda, sendo que Namibe e Cabinda têm mais cooperativas com
microcrédito, e deve estar consagrada nos instrumentos de Ordenamento Territorial, com
estratégia semelhante ao referenciado para a pesca marítima.

A aquicultura, deve ser considerada como uma oportunidade, atendendo às


características da costa. A titulo de exemplo, refere-se a produção de ostras que se
verifica na Namíbia, sendo um dos exportadores mais importantes a nível internacional. As
províncias com maior potencial para esta actividade são: Luanda, Bengo, Kwanza Sul e
Benguela.

A exploração de sal, é outra actividade a consagrar, tanto no âmbito da Estratégia de


nível provincial como nos Planos de Ordenamento de Orla Costeira, se situados na faixa

219
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Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

dos 500 m, ou nos Planos Directores Municipais se situadas num faixa superior, devidamente
regulamentada e estruturada para a sua exploração.

As áreas adjacentes influenciam diretamente e indirectamente o meio das AMP´s, assim


como estas influenciam o desenvolvimento das áreas adjacentes. A relação desejada é
de uma simbiose, que atenda aos valores de conservação necessários e simultaneamente
possibilite o desenvolvimento das localidades e comunidades existentes nas imediações.

A titulo de exemplo refere-se o diagnóstico mencionado no ponto sobre Aquicultura, que


integra o presente capitulo, em que se menciona que algumas áreas territoriais nacionais,
presentemente, não servem os propósitos para a cultura e produção de bivalves, em
parte, decorrente de focos de poluição não controlados, provenientes dos aglomerados
urbanos adjacentes.

A gestão territorial integrada assume a dimensão ambiental enquanto, factor de


relevância das estratégia de planeamento urbano, materializadas obrigatoriamente nos
Instrumentos de Ordenamento do Território.

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Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade,
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

6. CONSERVAÇÃO E BIODIVERSIDADE

6.1 INTRODUÇÃO

A temática da Conservação da Natureza ganhou grande importância nas últimas décadas com o
crescimento das preocupações ambientais e face ao agravamento da perda e redução da
biodiversidade verificado a nível nacional e internacional.

A Conservação da Natureza, entendida como a preservação dos diferentes níveis e componentes


da biodiversidade, tem-se afirmado como um imperativo de acção política, a nível nacional e
internacional. Tem como objectivos principais, a preservação dos ecossistemas e dos habitats
naturais, dos processos e sistemas ecológicos, da diversidade biológica e genética, numa
perspectiva de desenvolvimento sustentável.

A definição de Ordenamento do Território como “processo integrado da organização do espaço


biofísico, tendo como objectivo o uso e transformação do território de acordo com as suas
capacidades, vocações, permanência dos valores de equilíbrio biológico e de estabilidade
geológica, numa perspectiva de manutenção e aumento da sua capacidade de suporte à vida”
(Lei de Bases do Ambiente (LBA), Lei n.º 5/98, de 19 de Junho de 1998), visa o desenvolvimento
socioeconómico das regiões, a melhoria da qualidade de vida da população, a gestão responsável
dos recursos naturais e a protecção do meio ambiente, na perpectiva da utilização racional do
território.

Ou seja, por um lado, a Conservação da Natureza, que assume um carácter preventivo, no qual se
impõe uma acção planificada das actividades humanas de forma a garantir o aproveitamento
duradouro dos recursos. Por outro lado, o Ordenamento do Território que constitui um mecanismo
para a protecção dos elementos do património natural, na medida em que promove “estratégias
que minimizam os conflitos entre a procura crescente de recursos naturais e a necessidade da sua
conservação” (DGOT, 1988).

Da análise destes dois conceitos, constata-se que a Conservação da Natureza e o Ordenamento do


Território são áreas interligadas por um objecto de estudo comum, que são os recursos naturais, e um
actor, o Homem.

Conclui-se, também, que existe uma necessidade cada vez maior de compatibilizar vários interesses
no processo de gestão dos recursos naturais e no processo de ocupação e transformação do solo

221
Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

efectuado pelo Homem, defendendo uma abordagem integradora das diferentes políticas
sectoriais.

Apesar do enorme “capital natural” nacional, os recursos naturais são por definição finitos,
constituindo-se por isso como bens, com um determinado valor económico.

O facto destes constituírem ao mesmo tempo “reservas de vida” e serem fonte de desenvolvimento
económico, revelou a necessidade de se adoptarem medidas que promovam a compatibilização
da protecção da natureza com a utilização racional e sustentável dos recursos naturais, tendo em
vista um desenvolvimento equilibrado e sustentável, que só pode ser alcançado através da
convergência entre a manutenção dos ecossistemas e dos seus recursos e o progresso económico e
social das comunidades.

É neste âmbito que surge a importância do Ordenamento do Território, reconhecido como a


disciplina capaz de organizar o território integrando as estruturas humanas e a protecção do
ambiente.

No que concerne ao território nacional, e de um modo geral, existe pouca informação actualizada
sobre a biodiversidade e o seu actual estado de conservação, considerando-se mesmo premente a
necessidade de proceder à sua inventariação para todas as regiões geográficas do país.

As áreas de protecção ambiental, datadas do período colonial, com o intuito de conservar os


habitats e espécies particulares encontram-se na sua maioria sem administração, e fiscalização
adequada e com infraestruturas degradadas, comprometendo, por isso, o seu principal propósito,
colocando grande parte das espécies que se querem protegidas em sérios riscos de extinção.

Segundo a Política Nacional de Florestas, Fauna Selvagem e Áreas de Conservação, instituída pela
Resolução n.º 1/10 de 14 de Janeiro, o papel das Áreas de Conservação da Natureza e
Biodiversidade, tal como referido, é o de:

▪ Conservar o património natural e cultural, e desta forma apoiar o desenvolvimento


sustentável do país;

▪ Providenciar espaços geográficos onde a fauna e a flora possam reproduzir-se


natural e livremente, longe dos interesses conflituosos da crescente população
humana, garantindo assim o equilíbrio com aquelas áreas do país destinadas à
agricultura e à pecuária, e aquelas afectadas pela urbanização e desflorestação;

222
Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade,
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

▪ Proteger e conservar amostras representativas dos biomas de reconhecida


biodiversidade do país, ecossistemas frágeis, sítios e objectos de interesse cultural,
histórico, arqueológico ou outro interesse científico;

▪ Servir à educação, ao eco-turismo e à recreação públicas.

Por seu turno, como opção estratégica de uma política de Conservação da Natureza e
Biodiversidade deverá ser considerado o estabelecimento de uma Estrutura Nacional de Protecção
e Valorização Ambiental (estudada em capítulo posterior neste documento), definida pelas
seguintes componentes da área temática em análise:

▪ Áreas de Protecção Ambiental e Conservação da Natureza;

▪ As áreas pertencentes à Reserva Ecológica Nacional (REN);

▪ As áreas pertencentes à Reserva Agrícola Nacional (RAN);

▪ Domínio Público Hídrico (DPH);

▪ Florestas Autóctones.

Sendo assim, o presente capítulo visa tomar conhecimento do importante valor em termos de
“Conservação ambiental” do território nacional e da sua interligação com o ordenamento do
território. Para o efeito, é descrito um enquadramento legal desta temática, para de seguida ser
feita a sua caracterização e diagnóstico. É também apresentado um conjunto de Programas e
Estratégias que incluem a “Conservação da Natureza” nas suas preocupações. Por fim, são
elencadas “ Medidas para o ordenamento do território das áreas de conservação da natureza” de
modo a que este documento sirva de base ao lançamento desta disciplina na temática da
Conservação e que os instrumentos de Ordenamento do Território passem a ser uma realidade na
promoção de um Ambiente Sustentável.

6.2 ENQUADRAMENTO LEGAL

O quadro legal nacional de suporte à Protecção Ambiental, Biodiversidade e Conservação da


Natureza conta actualmente com diversa legislação de reconhecida importância.

Lei da Revisão Constitucional, Lei n.º 23/92, de 16 de Setembro, no seu articulado, faz várias
referências à gestão ambiental. No ponto 2 do Artigo 12º, pode ler-se, “O Estado promove a
protecção e conservação dos recursos naturais, supervisionando a sua exploração e uso para
benefício de todas as comunidades”, e no ponto 2 do Artigo 24º realça que “O Estado adopta as
medidas necessárias para a protecção do ambiente e das espécies de flora e fauna nacionais em

223
Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

todo o território nacional, e a manutenção do equilíbrio ecológico”. A sustentabilidade do ambiente


é também enfatizada em vários artigos ao longo do articulado.

A LBA, Lei n.º 5/98, de 19 de Junho, define os conceitos e princípios básicos de protecção,
preservação e conservação do ambiente, promoção da qualidade de vida e do uso racional dos
recursos naturais. Nos pontos 1e 2 do Artigo 13º relativos à Protecção da Biodiversidade é referido:

“1. São proibidas todas as actividades que atentem contra a biodiversidade ou a conservação,
reprodução, qualidade e quantidade dos recursos com potencial uso ou valor, especialmente os
ameaçados de extinção.

2. O Governo deve assegurar que sejam tomadas medidas adequadas com vista à:

a) Protecção especial das espécies vegetais ameaçadas de extinção ou dos


exemplares botânicos isolados ou em grupo que, pelo seu potencial genético,
porte, idade, raridade, valor científico e cultural, o exijam;

b) Manutenção e regeneração de espécies animais, recuperação de espécies


animais, recuperação de habitats danificados, controlando em especial as
actividades ou o uso de substâncias susceptíveis de prejudicar as espécies da
fauna e os seus habitats.”

No Artigo 14º são estabelecidas as obrigações do Governo relativamente à gestão das áreas
protegidas e definido o seu âmbito:

“1. A fim de assegurar a protecção e preservação dos componentes ambientais, bem como a
manutenção e melhoria de ecossistemas de reconhecido valor ecológico e sócio económico, o
Governo deve estabelecer uma rede de áreas de protecção ambiental;

2. As áreas protegidas podem ter âmbito nacional, regional local ou ainda internacional, consoante
os interesses que procuram salvaguardar e podem abranger áreas terrestres, lacustres, fluviais,
marítimas e outras;

3. As áreas de protecção ambiental são submetidas a medidas de classificação, conservação e


fiscalização, as quais devem ter sempre em consideração a necessidade de preservação da
biodiversidade assim como dos valores de ordem social, económica, cultural científica e
paisagística;

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Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade,
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

4. As medidas referidas no número anterior devem incluir a indicação das actividades proibidas ou
permitidas no interior das áreas protegidas e nos seus arredores, e assim como a indicação do papel
das comunidades locais na gestão dessas áreas.”

Neste diploma é referida a necessidade de elaboração e implementação de um Programa


Nacional de Gestão Ambiental (PNGA), que permita chegar aos objectivos da política ambiental do
país. À luz da Lei de Bases do Ambiente, a criação de áreas de protecção ambiental, figura entre os
principais instrumentos de gestão ambiental, a par da avaliação de impacte ambiental, o
licenciamento ambiental e as auditorias ambientais.

No documento “Legislação Vigente Fauna e Flora” do Instituto de Desenvolvimento Florestal (IDF) de


2004, sob a égide do Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural, no ponto 2 do Aartigo 24º da
Lei Cconstitucional n.º 23/92, de 16 de Setembro, estabelece-se que: “o Estado adopta as medidas
necessárias à protecção do meio ambiente e das espécies, Flora e a Fauna nacionais e à
manutenção do equilíbrio ecológico”.

Relativamente à legislação consagrada à Conservação da Natureza, destaca-se a Resolução


n.º 1/10, de 14 de Janeiro, que diz respeito à Política Nacional de Florestas, Fauna Selvagem e Áreas
de Conservação, da responsabilidade do Ministério da Agricultura e do Ministério do Ambiente.

Neste documento é feito um enquadramento legal e institucional a nível nacional e internacional


desta política. A definição da política é apresentada através da enumeração dos seus princípios
orientadores, objectivos, eixos estratégicos e estratégias de implementação. Identifica o papel dos
vários actores (stakeholders) deste sector e apresenta acções de seguimento da política.
Finalmente, apresenta um relatório do sector florestal, da fauna e das áreas de conservação e a
análise dos constrangimentos e oportunidades identificados.

O referido diploma foi revogado pelo Decreto Presidencial n.º 232/11, de 23 de Agosto, e
remete a desafectação dos terrenos do Domínio Público compreendidos na orla costeira
para o domínio privado dos Governos Provinciais.

Quanto à biodiversidade aquática em Angola é tratada pela Lei dos Recursos Biológicos Aquáticos
(LRBA), Lei n.º6A/04 de 8 Outubro, elaborada quando os sectores de pescas e ambiente
constituíam um Ministério comum. A LRBA constitui um dos instrumentos jurídicos mais moderno e
inovador do país ao integrar princípios da LBA, da Convenção sobre a Diversidade Biológica, da
Convenção sobre o Direito do Mar e do Código de Conduta da FAO, para além do Protocolo da
SADC sobre as Pescas. Integra o princípio da precaução, o princípio do poluidor-pagador e o

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Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

princípio da participação de todos os interessados. A LBA prevê a constituição de diversas áreas de


protecção e a instituição de regimes especiais necessários à preservação de recursos biológicos
aquáticos, em casos de ameaça à biodiversidade e prevê a publicação periódica de planos de
gestão das pescas.

A LRBA proíbe qualquer acção que possa contribuir para a degradação do meio aquático e define
medidas de regeneração das espécies em extinção ou ameaçadas de extinção de que se
destacam as seguintes: redução da poluição do meio marinho e aquático. Esta lei estabelece
também as bases para o reforço da monitorização, controlo e fiscalização das pescas, que apesar
dos esforços encetados, continuam a ocorrer a sobreexploração de pesca e o não cumprimento da
época de veda e das áreas de pesca. Para além disso, a poluição causada pela indústria
petrolífera e derrames e o impacte da erosão nos estuários e mangais constituem as maiores
ameaças à biodiversidade aquática, nomeadamente recursos marinhos e da zona costeira.

Relativamente às Áreas de Protecção Terrestre, referem-se, ainda, os seguintes documentos legais,


Regulamento sobre a Protecção do Solo, Flora e Fauna – Decreto n.º40040, de 9 de Janeiro de 1955;
Regulamento Florestal – Decreto n.º 44531, de 21 de Agosto de 1962; Lei de Terras – Lei n.º 9/04, de 9
de Novembro; Lei de Águas – Lei n.º 6/02 de 21 de Junho.

Para não tornar o enquadramento legal demasiado exaustivo, referimos apenas outros documentos
legais com importância para a Conservação da Natureza, nomeadamente, o Diploma Legislativo
n.º 22/72, de 22 de Fevereiro, que aprova o Regulamento dos Parques Nacionais; a Lei dos Recursos
Biológicos Aquáticos – Lei n.º 6-A/04, de 8 de Outubro; a Resolução n.º 21/03, de 27 de Maio, que
aprova os Estatutos da União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos
Naturais (IUCN), e a Resolução n.º 42/06, de 26 de Julho, que estabelece a Estratégia e Plano de
Acção Nacionais para a Biodiversidade (que serão abordados posteriormente).

Para além da legislação referida, durante a década de 90, Angola ratificou importantes acordos
ambientais internacionais e tem realizado muitos progressos na promoção e implementação de
instrumentos de política ambiental e de conservação da natureza. De entre eles destacam-se a
Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação (UNCCD) ratificado em 1997, a
Convenção das Nações Unidas sobre a Diversidade Biológica (CBD) em 1998, e a Convenção das
Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC), em 2000. O Governo de Angola aderiu ao
Protocolo de Quioto da UNFCCC, em 2007, e em 2002, a Assembleia Nacional aprovou a
Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies de Fauna e Flora Altamente Ameaçadas
(CITES).

226
Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade,
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

Contudo, o Governo de Angola ainda não aprovou nem ratificou outras convenções, igualmente
importantes, como a Convenção sobre Terras Pantanosas de Importância Internacional e
especialmente os Habitats de Pássaros Aquáticos (Convenção de Ramsar).

O quadro legal nacional confere um grau de protecção que se pode considerar razoável à
protecção da biodiversidade, embora existam ainda algumas fragilidades em termos de
regulamentação e de legislação sectorial complementar. Como é referido na Estratégia e Plano de
Acção Nacionais para a Biodiversidade (2007-2012), apresentada pelo então, Ministério do
Urbanismo e Ambiente, a falta de uma política clara e estratégias sectoriais, a inexistência de
legislação complementar, a deficiente aplicação da legislação ambiental existente em Angola e a
não ratificação de alguns Acordos Multilaterais de Ambiente são alguns dos principais obstáculos à
conservação e uso sustentável da biodiversidade.

6.3 ÁREAS DE PROTECÇÃO AMBIENTAL E CONSERVAÇÃO DA NATUREZA

De acordo com o constante na LBA, consideram-se Áreas de Protecção Ambiental e Conservação


da Natureza, espaços bem definidos e representativos de biomas ou ecossistemas que interessa
preservar, onde não são permitidas actividades de exploração dos recursos naturais, salvo, em
algumas delas, a utilização para turismo ecológico, educação ambiental, e investigação científica
(Anexo da Lei n.º 5/98 de 19 de Junho). As Áreas de Protecção Ambiental em Angola podem
subdividir-se em Áreas classificadas, Zonas Importantes para a Biodiversidade (Biomas de Angola),
Geosítios e Zonas Húmidas.

De seguida são analisadas cada uma destas áreas considerando as suas características no território
angolano.

6.3.1 Áreas classificadas

De acordo com o referido na Política Nacional de Florestas, Fauna selvagem e Áreas de


Conservação, em Angola existem 13 áreas de conservação estabelecidas por diplomas legislativos
próprios, que totalizam cerca de 6.6% da superfície do país. Estas áreas de conservação integram
seis Parques Nacionais que representam cerca de 4%; quatro Reservas Parciais que correspondem a
cerca de 2,2%; duas Reservas Naturais Integrais e um Parque Natural Regional que em conjunto
ocupam os restantes 0,4%. O país conta ainda com 18 reservas florestais, que correspondem a uma
área total de cerca de 2.669.700 hectares. Proporcionam habitats para a ampla biodiversidade aí
existente e encerram paisagens de rara beleza. Para além destas áreas de conservação, foram

227
Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

criadas cinco coutadas públicas e uma privada, que, em conjunto, ocupam o equivalente a 7,51%
da superfície total do País.

De referir que apesar das várias diligências empreendidas junto das várias instituições, não
obtivemos a informação cartográfica necessária para produzir imagens de melhor qualidade,
nomeadamente a referente aos Biomas e às Áreas de Protecção Ambiental (Parques e Reservas
Naturais), servindo as imagens apenas como uma indicação das referidas áreas e sua distribuição
no território nacional.

Figura 34: Parques e Reservas Naturais

Fonte: UICN (1993)

No Quadro 7 estão representadas as Áreas de Protecção Ambiental existentes no território nacional,


nomeadamente, Parques Nacionais, Parques Regionais e Reservas, e estão também referidas as
principais Coutadas e a sua distribuição pelas respectivas províncias.

228
Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade,
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

Quadro 28: Áreas de Protecção Ambiental e Conservação da Natureza


Área
Designação Província
(Km2)
Parques Nacionais
Parque Nacional do Bikuar Huíla 7900
Parque Nacional da
Moxico 14450
Cameia
Parque Nacional da
Malanje 630
Cangandala
Parque Nacional do Iona Namibe 15150
Parque Nacional de
Bengo 9960
Kissama
Parque Nacional da Mupa Kunene 6600
Parque Regionais
Parque Natural Regional da
Benguela 150
Chimalavera
Reservas
Reserva Parcial do Namibe Namibe 4450
Reserva Parcial de Búfalo Benguela 400
Reserva Parcial de Mavinga Kuando Kubango 5950
Reserva Parcial do Luiana Kuando Kubango 8400
Reserva Natural Integral do
Luanda 2
Ilhéu dos Pássaros
Reserva Natural Integral de
Malanje/Bié 8280
Luando
Coutadas
Coutada do Ambriz Bengo 1125
Coutada de Longa-
Kuando Kubango 26200
Mavinga
Coutada do Luengué Kuando Kubango 13800
Coutada do Luiana Kuando Kubango 11400
Coutada do Milando Malanje 6150
Coutada do Mucusso Kuando Kubango 21250
Fonte: Estratégia e Plano de Acção Nacionais para a Biodiversidade (2012)

No Quadro 8 apresentam-se as áreas de Reservas Florestais, a sua dimensão e distribuição pelas


respectivas províncias.

229
Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

Quadro 29: Reservas Florestais


Área
Designação Província
(Km2)
Reservas Florestais
Reserva Florestal do Kibaxi-
Bengo 200
Piri
Reserva Florestal de Kibinda Bengo 100
Reserva Florestal do
Caminho-de-Ferro de Malanje 200
Malanje
Reserva Florestal de Samba-
Malanje 400
Lucala
Reserva Florestal do
Cabinda 650
Kakongo
Reserva Florestal do
Kuanza-Norte 558
Golundo-Alto/Kuanza-Norte
Reserva Florestal do Béu Uíge 1400
Reserva Florestal de
Kuanza-Norte 800
Calulama
Reserva Florestal do
Huambo 39
Kavongue
Reserva Florestal entre o
Malanje 600
Cubal e a Catumbela
Reserva Florestal do
Benguela 650
Chongoroi
Reserva Florestal do Catupe Moxico 150
Reserva Florestal do Luena Moxico 1800
Reserva Florestal do Lucusse Moxico 2450
Reserva Florestal do Cassai Moxico 190
Reserva Florestal do
Moxico 750
Macondo
Reserva Florestal do Luisavo Moxico 400
Reserva Florestal do
Huíla 1200
Guelengue e Dongo
Reserva Florestal da Umpulo Bié 4500
Fonte: Estratégia e Plano de Acção Nacionais para a Biodiversidade (2012)

As Áreas de Protecção da fauna e da flora, supramencionadas correspondem a cerca de 6,6% do


território, e não se encontram suficientemente controladas. Constituem excepção, o Parque
Nacional de Kissama (Província do Bengo), que apresenta a particularidade de apenas 1% da sua
área total se encontra classificada, e o Parque do Iona (Província do Namibe), gerido pelo
Administrador Comunal. Quanto aos restantes Parques, encontram-se na generalidade
abandonados, com infra-estruturas destruídas ou bastante reduzidas.

230
Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade,
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

O sistema de Áreas de Protecção Ambiental e Conservação da Natureza em particular, e a rica


base de recursos naturais, ou "capital natural", de Angola, em geral, sofreu as consequências de
uma gestão deficiente desde o período colonial, agravado com o longo período de instabilidade
que o país vivenciou, verificando-se uma generalizada , falta de financiamento, de pessoal e de
equipamentos.

Algumas destas áreas vivem situações de avançada degradação que urge contrariar. São exemplo
disso, os Parques Nacionais da Kissama, Mupa, Cangandala, Iona, Bikuar e Cameia, que possuem
parte das suas áreas ocupadas de forma descontrolada, pela população, que explora os recursos
naturais aí existentes de forma insustentável, nomeadamente através da caça ilegal de espécies de
médio e grande porte e da realização de queimadas, com consequências muitas vezes irreversíveis
ao nível do equilíbrio ecológico.

Para contrariar este quadro, o Governo iniciou diversos programas dirigidos para a protecção do
Ambiente e dos recursos naturais e tem demonstrado interesse e empenho na constituição de novas
Áreas Protegidas no sentido de proteger importantes habitats, ecossistemas e espécies, que não se
encontrem ainda incluídos na actual Rede de Áreas Protegidas.

De acordo com documento do IUCN da década de 90, já nessa altura se considerava necessária a
delimitação de novas áreas para inclusão de habitats florestais e savanas no Norte, montanhas e
escarpas ocidentais e do Norte e para a conservação de espécies de plantas endémicas e aves, e
outros espécies raras que se encontram em vias de extinção.

Dando cumprimento a esse objectivo, em 2011, a Assembleia Nacional aprovou na generalidade a


proposta de Lei de criação de três novos Parques Nacionais, nas províncias de Cabinda e Kuando
Kubango, a saber, os Parques Nacionais de Mavinga (46 000 Km2) e de Luengue-Luiana, (22 000
Km2), ambos localizados na Província de Kuando Kubango, e o Parque Nacional de Maiombe (1 900
Km2), localizado na Província de Cabinda.

Trata-se de um notável passo por parte do Ministério do Ambiente, no sentido de reforçar a


protecção, e valorizar os recursos naturais e biodiversidade aí presentes, contribuindo para atingir a
meta proposta de aumento das áreas de conservação para 15% do território nacional, contando
presentemente com 8,5% do território nacional protegido.

Estes novos Parques Nacionais, detentores de uma enorme riqueza em termos de biodiversidade,
possuiem ainda a particularidade de estar integrados numa das mais vastas regiões transfronteiriças
a nível mundial.

231
Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

O Parque Nacional do Maiombe assim estabelecido possibilitará maior protecção, preservação e


conservação da biodiversidade da Floresta do Maiombe, enquanto os Parques Nacionais do
Luengué e Mavinga irão permitir a recuperação da sua importante fauna e flora.

Deste modo, o Governo de Angola, através do Ministério do Ambiente, deu início ao cumprimento
dos compromissos assumidos a nível internacional, em relação ao aumento de áreas protegidas 7

Considera-se que, actualmente, o país necessita de uma gestão eficiente das áreas de protecção
ambiental já existentes e de planos integrados de gestão da biodiversidade.

6.3.2 Zonas importantes para a biodiversidade – Biomas de Angola

“A excepcional biodiversidade em Angola deve-se à combinação de um certo número de factores:


a vasta dimensão do país, a sua posição geográfica inter-tropical, a variação em altitude e o tipo
de biomas. A resultante diversidade climática, combinada com igual variabilidade geológica e de
solos, contribuíram para a formação de zonas bioclimáticas que compreendem desde a densa
floresta tropical até à ausência de vegetação no deserto. Estes diferentes habitats favorecem um
elevado nível de diversidade biológica” (MINUA, 2005).

A grande variedade de ecossistemas presentes no território angolano reflecte-se nua grande


diversidade de fauna selvagem, que de acordo com a Estratégia e Plano de Acção Nacionais da
Biodiversidade, compreende cerca de 275 espécies de mamíferos e 900 espécies de aves
registadas.

Estas espécies que ocorrem em algumas das áreas de conservação existentes no país, de acordo
com o referido no documento supracitado, podem ser enquadradas em duas grandes unidades
zoo-geográficas, e uma zona de transição, nomeadamente:

▪ A unidade do planalto do Zambeze, de que fazem parte os Parques Nacionais do


Bikuar, Mupa e as Reservas Naturais localizadas no Sudoeste do país (província de
Kuando-Kubango);

▪ A unidade do Sudoeste africano da qual fazem parte o Parque Nacional do Iona, a


Reserva do Namibe e o Parque Regional da Chimalavera;

7 Notícia retirada de www.portalangop.co.ao/angola, de 4 de Janeiro de 2012.

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Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade,
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

▪ A Zona de Transição compreende a fauna do Parque Nacional da Quissama e, em


certa medida, do Parque Nacional da Cangandala e da Reserva Integral do
Luando, caracterizados pela presença de espécies, por um lado, próprias da Sub-
região ocidental de África, das florestas húmidas equatoriais da bacia do Congo e,
por outro, por espécies provenientes da sub-região oriental e Sul de África.

A Estratégia e Plano de Acção Nacionais para a Biodiversidade menciona que a grande


diversidade climática, geológica e de solos do país contribuí para que a elevada biodiversidade
angolana se constitua , como uma das mais importantes ao nível do continente africano. O mesmo
documento refere ainda que estudos preliminares apontam para a existência em Angola de mais
de 5.000 espécies de plantas, das quais 1.260 são endémicas. Em termos de avifauna, Angola
acolhe cerca de 92% da avifauna da África Austral. Quanto à fauna terrestre, estão registadas 275
espécies de mamíferos, sendo que em particular a fauna de grande porte está sujeita a enormes
pressões antrópicas, encontrando-se mesmo em declínio.

Este facto deve-se à existência de uma rede organizada de caçadores furtivos, que delapidam de
forma descontrolada as reservas de fauna, e ao longo período de instabilidade que a guerra
provocou no país, promovendo a deslocação das populações e o estabelecimento de
assentamentos humanos em áreas consideradas protegidas, originando graves consequências ao
nível da desflorestação e da realização de queimadas, para fins agrícolas, de caça e energéticos,
com consequências na perda de habitats e de biodiversidade e no risco de extinção de valiosas
espécies raras como é o caso da palanca negra gigante, (considerada símbolo nacional).

Assim, e entendendo o Bioma como uma divisão biogeográfica principal, definida, não só pela
composição genética, e origem das plantas e de espécies de animais, como também de factores
edáficos, climáticos e fisionómicos, pode-se afirmar que o território angolano possui a “maior
diversidade de biomas e eco-regiões de todo o continente africano". Biomas estes que vão desde o
bioma do deserto do sudoeste a savanas áridas do sul, vastas florestas de miombo do planalto
interior a florestas tropicais das Províncias de Cabinda, Zaire, Uíge e Lunda Norte. Florestas relictas de
Afromontane de considerável importância biogeográfica ocorrem em vales isolados de montanhas
altas nas províncias de Huambo, Cuanza Sul, Huíla e Benguela” (Programa de Apoio Estratégico
para o Ambiente (PAEA) 2012-2015).

De entre os vários estudos existentes sobre esta temática, assinalamos os Biomas identificados por
Huntley (1974) e White (1983), citados por Dean (2000), como se pode ver pela figura:

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Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

▪ Bioma Guinéo congolesa;

▪ Bioma Zambezíaco, incluindo a floresta de Brachystegia (miombo);

▪ Bioma Karoo-Namibe;

▪ Bioma Afromontane;

▪ Bioma Guinéo–Congolês / Zambezíaco;

▪ Bioma Kalahari – Planalto, zona de transição e zona de escarpa.

Figura 35: Principais Biomas de Angola

Fonte: Dean, 2000

De entre os principais biomas de Angola destacam-se a Norte o Guineense-zambezaica; o


Zambezeano (ocupa mais de 85% do país); o Afromontano, e no Sul o Karoo-Namibe.

6.3.3 Geosítios

Os geosítios são considerados ocorrências naturais de elementos da geodiversidade que possuem


um valor científico excepcional. Trata-se de locais que dada a sua grande especificidade e

234
Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade,
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

raridade nos permitem conhecer a história geológica do nosso planeta, nomeadamente através
das rochas, minerais, fósseis ou geoformas. Para além deste enorme valor científico, os geosítios
podem também representar um enorme potencial turístico e educativo, daí a reiterada importância
do seu uso sustentável para usofruto de toda a comunidade (Magalhães, 2013).

Os geosítios deverão ser identificados através do inventário nacional do património geológico,


dando conta das ocorrências geológicas excepcionais de relevância científica nacional e
internacional.

6.3.4 Zonas Húmidas

De acordo com a convenção de Ramsar (1971), as zonas húmidas são áreas de pântano, charco,
turfa ou água natural ou artificial, permanente ou temporária, água corrente ou estagnada, doce,
salgada ou salobra, incluindo áreas de água marítima com menos de 6 metros de profundidade na
maré baixa (MINUA, 2002).

Os mangais fazem parte deste tipo de ecossistemas e cobrem cerca de 1.250 km² do território
angolano. Estes ecossistemas são caracterizados por altos níveis de produção biológica, constituem
locais de reprodução de peixes e outras espécies, e funcionam como barreiras naturais contra a
erosão costeira. As manchas mais expressivas de mangais concentram-se nos estuários dos rios Zaire
e Cuanza, encontrando-se também diversas manchas mais reduzidas nos estuários que se localizam
ao longo na zona costeira até à região do Lobito. Destaca-se a particularidade dos mangais da
laguna do Mussulo, que se encontram inteiramente sobre acção da água do mar.

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Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

Figura 36: Zonas Húmidas

Fonte: IUCN, 1992

Para além dos Ecossistemas terrestres e das zonas húmidas, Estratégia e Plano de Acção Nacionais
para a Biodiversidade, refere que o território angolano é um dos mais ricos em termos de
biodiversidade marinha, possuindo uma enorme variedade e riqueza de ecossistemas aquáticos (de
águas interiores, costeiros e marinhos), considerando-se a sua extensa linha de costa 1.650 Km) de
grande importância para os processos ecológicos e pela fauna e flora que alberga.

Desaguam na costa angolana pelo menos 26 rios perenes. Parte destes rios espraiam-se por vastas
bacias hidrográficas, contribuindo para a existência de extensas florestas ribeirinhas e de zonas
húmidas que lhes estão associadas.

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Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade,
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

Os importantes estuários dos rios Congo, Dande, Cuanza e Cunene, constituem a base para a
ocorrência de uma grande multiplicidade de espécies animais e vegetais, e são também de
extrema importância para a sobrevivência da população. São exemplos de ecossistemas de
grande importância biológica, ecológica e ambiental, os mangais que ocorrem na costa, e que
fornecem abrigo para variadíssimas espécies de peixes e crustáceos, com importância económica
e turística para o país (NBSAP, 2007-2012).

6.4 ÁREAS PERTENCENTES À RESERVA ECOLÓGICA NACIONAL (REN)

No que se refere à REN, esta deve ser considerada uma estrutura biofísica que integra o conjunto de
áreas, que pelo seu elevado valor ecológico, ou pela exposição e susceptibilidade perante riscos
naturais, deverão ser objecto de protecção especial, constituindo-se como uma restrição de
utilidade pública (a definir em legislação própria) (Magalhães et al., 2013).

A REN deverá incluir as seguintes áreas:

▪ Áreas de protecção do litoral:

 Faixa marítima de protecção costeira;

 Praias;

 Barreiras detríticas (restingas, barreiras soldadas e ilhas -barreira);

 Tômbolos;

 Sapais;

 Ilhéus e rochedos emersos no mar;

 Dunas costeiras e dunas fósseis;

 Arribas e respectivas faixas de protecção;

 Faixa terrestre de protecção costeira;

 Águas de transição e respectivos leitos, margens e faixas de protecção.

▪ Áreas relevantes para a sustentabilidade do ciclo hidrológico terrestre:

 Cursos de água e respectivos leitos e margens;

 Lagoas, lagos e respectivos leitos, margens e faixas de protecção;

 Albufeiras que contribuam para a conectividade e coerência ecológica da


REN, com os respectivos leitos, margens e faixas de protecção;

 Áreas estratégicas de protecção e recarga de aquíferos;

237
Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

▪ Áreas de prevenção de riscos naturais:

 Zonas adjacentes;

 Zonas ameaçadas pelo mar;

 Zonas ameaçadas pelas cheias;

 Áreas de elevado risco de erosão hídrica do solo;

 Áreas de instabilidade de vertentes.

Dos elementos constituintes da REN destacam-se pela sua importância e dimensão no contexto
angolano as “Áreas de protecção do litoral”.

A costa angola é bastante extensa, com cerca de 1.650 Km, estendendo-se desde a foz do rio Zaire
até à foz do rio Cunene, e ainda a parte Norte da província de Cabinda. Abrange sete províncias:
Cabinda, Zaire, Bengo, Luanda, Kwanza-sul, Benguela e Namibe, o que permite concluir enorme
importância da zona costeira, em termos económicos, tanto ao nível provincial como ao nível
nacional.

A geomorfologia da Faixa Litoral é caracterizada por planícies e terraços baixos (150-250 m de


altitude) e apresenta largura variável que tende a decrescer em direcção a Sul, com cerca de 100
Km de largura na foz do rio Zaire, 80 Km na foz do rio Cuanza, e pouco mais de 20 Km a Sul de
Benguela, voltando a alargar-se um pouco próximo do deserto do Namibe. A litologia subjacente é
constutuída por formações sedimentares meso-cenozóicas e rochas do Maciço Antigo. Sob a
acção da erosão fluvial, encontram-se canhões cortados nas rochas mais duras em que os
enrugamantos das formações mesozóicas deram origem a relevos costeiros nas áreas do Dondo,
Capolo, Porto Amboím e Quicombo. Encontram-se ainda na faixa litoral vales largos e alagados nas
formações geológicas mais brandas. No litoral propriamente dito registam-se arribas e praias e
algumas com muito desenvolvimento, como as restingas das Palmeirinhas, do Lobito, e da Baía dos
Tigres. Em áreas mais interiores da faixa litoral é vulgar a acumulação de detritos grosseiros.

A diversidade de condições climáticas que ocorrem no território angolano, reflecte-se na presença


de zonas costeiras tropicais e húmidas, a Norte, e zonas costeiras mais áridas, a Sul. Estas diferenças
climáticas influenciam, determinantemente, as características físicas do território, a biodiversidade e
os ecossistemas aí presentes, estando também na origem de diferentes abordagens e planeamento
estratégico para estas regiões (SINFIC, 2013).

238
Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade,
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

Reitera-se que no litoral localizam-se muitas das grandes cidades angolanas como Benguela, Lobito,
Sumbe, Namibe e a capital Luanda, onde o crescimento urbano se tem intensificado nos últimos
anos.

O território angolano concentra, ainda, dos mais importantes centros de biodiversidade marinha e
uma das áreas mais produtivas em recursos haliêuticos no mundo. A particularidade das correntes
marítimas existentes ao longo da costa originam uma zona de distinta biodiversidade entre a parte
Nnorte e Ssul da costa de Angola. Os habitats marinhos e costeiros são bastante diversificados, e
incluem zonas de oceano aberto, ilhas, baías, estuários, mangais, lagunas, praias de areia, praias
rochosas pouco profundas.

Importa, por isso, prevenir e legislar a acção antrópica nestas zonas costeiras, no sentido de
acautelar os efeitos negativos, ao nível do ambiente e dos recursos naturais.

6.5 ÁREAS PERTENCENTES À RESERVA AGRÍCOLA NACIONAL (RAN)

Angola integra espaços agrícolas de grande potencial económico, pela elevada fertilidade dos
seus solos e disponibilidade de água, áreas agrícolas de grande valor paisagístico e exemplos de
adequada gestão dos espaços rurais.

Segundo o REGA (2006) o país detém um enorme potencial agrícola, que se encontra na sua
maioria por explorar. Estima-se que aproximadamente 45% da área total do território nacional possui
aptidão agrícola, sendo que apenas 10% dos solos angolanos possuem alto potencial
iminentemente agrícola (já referido no tema dos Recursos Agrícolas, mas novamente reiterado).

Como já foi mencionado anteriormente, antes da independência nacional, em 1975, o país


produzia elevada quantidade de alimentos e beneficiava de auto-suficiência alimentar,
assumindo-se como um importante exportador de milho, café, entre outros produtos agrícolas.
Durante o longo período de instabilidade em resultado dos conflitos ocorridos durante a guerra civil,
a agricultura entrou em declínio e resumiu-se a um nível de subsistência em muitos locais do país,
com poucos ou nenhuns excedentes vendíveis e uma actividade comercial muito limitada. Noutros
locais, instaurou-se um clima de autêntica insegurança alimentar, que originou fenómenos intensos
de êxodo rural, com a migração de pessoas das áreas rurais para as capitais provinciais, sedes
municipais e zonas costeiras. Esta movimentação da população foi particularmente intensa nas
províncias centrais e orientais do Huambo, Bié, Moxico e Kuando Kubango.

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Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

Perante este contexto, a Reserva Agrícola Nacional (RAN), deverá ser definida pelo conjunto das
áreas que em termos agro-climáticos, geomorfológicos e pedológicos apresentam a maior aptidão
para a actividade agrícola e integrar as áreas de reserva agrícolas já estabelecidas a nível
municipal (local).

Deverá constituir-se como uma restrição de utilidade pública de âmbito nacional que estabelece
um conjunto de condicionamentos à utilização não agrícola destes solos.

O principal objectivo deste instrumento é a protecção do solo, tendo em conta que este constitui
um recurso fundamental na produção de bens alimentares, fibras e madeiras, e ainda, na
regulação do ciclo da água e do carbono, e na manutenção da biodiversidade (Magalhães et al.,
2013).

6.6 ÁREAS DO DOMÍNIO PÚBLICO HÍDRICO

O DPH é constituído pelo conjunto de áreas que pela sua natureza são considerados de interesse
público, e que pela sua importância justificam o estabelecimento de um regime de caracter
especial de protecção. As áreas que integram o DPH são, o domínio público marítimo, o domínio
público lacustre e fluvial e o domínio público das restantes águas, e integra no domínio público “as
águas territoriais com os seus leitos e os fundos marinhos contíguos, bem como os lagos, lagoas e
cursos de água navegáveis e flutuáveis, com os respectivos leitos” (Magalhães et al., 2013).

A Lei de Terras, Lei n.º 9/04 de 9 de Novembro, no Artigo 27º estabelece o seguinte para Terrenos
reservados: “São havidos como terrenos reservados ou reservas terrenos excluídos do regime geral
de ocupação, uso ou fruição por pessoas singulares ou colectivas, em função da sua afectação,
total ou parcial, à realização de fins especiais que determinaram a sua constituição.”

No ponto 3 do Artigo 27º é referido que as reservas podem ser totais ou parciais. Nas reservas totais
(Artigo 27º, ponto 4) não é permitida qualquer forma de ocupação ou uso, salvo a que seja exigida
para a sua própria conservação ou gestão, tendo em vista a prossecução dos fins de interesse
público. A constituição de reservas totais visa a protecção do meio ambiente, defesa e seguranças
nacionais, preservação de monumentos ou de locais históricos e promoção do povoamento ou do
repovoamento.

Nas reservas parciais são permitidas todas as formas de ocupação ou uso que não colidam com os
fins previstos no respectivo diploma constitutivo. As reservas parciais compreendem, as seguintes
áreas: leitos das águas interiores, do mar territorial, a plataforma continental, a faixa da orla marítima

240
Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade,
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

e do contorno de ilhéus, baías e estuários, medida da linha das máximas preia-mares, observando
uma faixa de protecção para o interior do território, a faixa confinante com as nascentes de água e
a faixa de terreno de protecção no contorno de barragens e albufeiras.

6.7 FLORESTAS AUTÓCTONES

Elabora-se apenas um breve enquadramento desta temática, no âmbito da Conservação da


Natureza e Biodiversidade, uma vez que o tema dos Recursos Florestais já foi anteriormente
abordado. A superfície total de florestas estende-se por aproximadamente 53.000.000 ha, o que
corresponde a sensivelmente 43,3% da superfície total do país.

A figura seguinte, referente à Carta Fitogeográfica de Angola (IGCA, 1970), representa a enorme
diversidade de vegetação e zonas fito-geográficas existentes no país, cuja caracterização e análise
não seria possível num estudo como este.

Figura 37: Carta Fitogeográfica de Angola

241
Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

Fonte: Barbosa, 1970

De acordo com este elemento cartográfico, existem 32 tipos de vegetação natural, que podem ser
divididos em dois grandes grupos, considerando a sua composição e distribuição geográfica
(MINUA, 2006): a Floresta Densa Húmida – que reveste o relevo acidentado da aba atlântica, desde
Cabinda até ao rio Balombo, com grande expressão no Alto Maiombe (norte de Cabinda) e nos
Dembos (Províncias de Uíge, Bengo e Kwanza Norte) e o Mosaico composto por Savana Guineense
– característico da parte setentrional do país, ocupando grande parte da zona húmida do território
nacional.

Aproximadamente dois terços das florestas altas situam-se nas províncias de Cabinda, Zaire e Uíge,
registando-se nas províncias do Bengo, Kuanza Norte e Kuanza Sul a ocorrência de florestas
ombrófilas especialmente nos terrenos de altitude. Trata-se de um sector com enorme potencial,

242
Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade,
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

que recomeça agora a ser explorado, havendo por isso a necessidade de definir estratégias de
protecção destes recursos naturais.

Dados dos anos 70 referem que cerca de 86% da área plantada era constituída por eucaliptos que
se distribuíam por plantações da Companhia de Celulose e Papel de Angola, o Caminho-de-Fferro
de Benguela e do Caminho-de-Ferro de Luanda, e se localizavam sobretudo na zona do Planalto
Central.

O PAEA, (2006) refere a falta de estudos detalhados e cartografia actualizada sobre a vegetação
actual para todo o território, resultando a existente, em informação conflituosa reportada sobre a
dimensão e tendências da flora e outra cobertura vegetal no país.

A situação de desconhecimento agrava-se pelo uso de diferentes definições para as unidades


estruturais e fitogeográficas da vegetação. Apesar da análise dos recursos florestais ser efectuada
em capítulo próprio, destaca-se um estudo da análise da cobertura das diferentes unidades de
vegetação mapeadas por Barbosa (1970), da qual apenas se retiram alguns pontos relevantes da
grandiosidade destes ecossistemas e paisagens.

1. Florestas húmidas – a par das florestas de Maiombe e Dembos ocupam cerca de 15.000
Km2;

2. Mosaico de floresta-savana – os mosaicos de floresta-savana são compostas por


savanas de pradaria que predominam na área, com pequenos fragmentos de floresta,
muitas vezes restringidas a galerias fluviais ou ravinas nas encostas e montanhas. Este
agrupamento inclui savanas de não-miombo, árvores de folhas largas, diversificadas do
norte de Angola, ocupam cerca de 295.930 Km2, correspondendo a cerca de 23,5% do
total do território angolano;

3. Floresta de afromontane – ocupa cerca de 170 Km2 do território angolano. As restantes


parcelas da floresta da árvore Afomontane não excedem provavelmente 400 ha,
restritas a algumas ravinas nas montanhas do Huambo e nos planaltos do Cuanza Sul;

4. Matas e savanas de miombo - As matas e savanas de miombo, dominadas por


espécies de Brachystegia, é a mais importante unidade de vegetação de Angola, com
pelo menos 50% da paisagem original coberta por várias matas de miombo e
demarcações de linhas de drenagem que caracterizam esta formação. Embora
persistam algumas vastas áreas de mata de miombo alto, especialmente em Malange,
Moxico e Cuando Cubango, a maioria das matas altas (estão incluídas como

243
Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

“florestas” na maioria das análises globais), foram transformadas em terrenos de


vegetação rasteira e savanas abertas em torno das áreas urbanas. Ocupam cerca de
671806 Km2, o que corresponde a cerca de 53,5% do território angolano;

5. Mata e matagal de mopane - Matas e matagais de mopane, dominados por


Colophospermum mopane, estão a ser transformadas rapidamente em carvão e lenha,
especialmente nas províncias de Cunene e do Namibe. Ocupam cerca de 78.109 Kkm2
o que corresponde a cerca de 6,2% do território angolano;

6. Savanas e moitas de Acacia/Adansonia - As moitas e savanas áridas estão também a


ser transformados, para carvão, ou através da invasão por espécies exóticas de
Opuntia por densas moitas impenetráveis de Dichrostachyscinerea. Ocupam cerca de
57.521 Km2 o que corresponde a 4,6% do território angolano;

7. Pradaria edáfica - As pradarias edáficas das vastas planícies aluviais e zonas húmidas
sazonais de Angola abrangem uma área bastante considerável. Devido às suas
condições edáficas, elas são pouco usadas para agricultura e continuam
relativamente não transformadas. Ocupam cerca de 110.945 Km2 o que corresponde a
8,8% do território angolano;

8. Deserto - O Deserto do Namibe está relativamente bem protegido em Angola, estando


a maior parte da sua área dentro Parque de Iona e da Reserva Parcial do Namibe. As
altas densidades dos assentamentos pastorícios ao longo da periferia destas áreas
protegidas conduzem a séria degradação destes ecossistemas áridos. Ocupa cerca de
14.340 Km2 o que corresponde a sensivelmente 1,1% do território angolano.

Como é referido em Moreira (2006) entre as várias ameaças à flora e vegetação angolana,
destaca-se a destruição de habitats, pelas queimadas, através do uso de lenha como combustível e
material de construção, e o corte de algumas espécies, pelo seu elevado valor económico, como
as medicinais, ornamentais e madeireiras.

6.8 DIAGNÓSTICO DA GESTÃO DAS ÁREAS DE CONSERVAÇÃO DA NATUREZA E


BIODIVERSIDADE

A rica base de recursos naturais, ou "capital natural", de Angola, que originam excelentes condições
para a conservação da natureza e biodiversidade, sofreu as consequências de reiteradas práticas
de má gestão, também agravadas pelos efeitos da guerra que assolou o país.

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Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade,
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

Estes processos de degradação dos recursos naturais e consequente degradação ambiental,


acarretam consigo a falta de sustentabilidade dos principais ecossistemas presentes no território
angolano e um deficiente aporte dos bens e serviços por eles fornecidos à população.

Os resultados destes processos, aliados à falta de respostas efectivas que os contrariem, culminam
na perda de espécies e biodiversidade, erosão do solo, poluição da água, esgotamento de recursos
pesqueiros, diminuição da produtividade agrícola e consequente perda de resiliência do território
face às alterações climáticas, e como já referimos, perda de preciosos benefícios para a população
que deles depende.

São várias as causas destes processos de degradação ambiental, estando de um modo geral
enraizadas na pobreza e no uso da lenha e do carvão como fontes primárias de energia para a
população rural e urbana (PAEA, 2006).

Visto que as temáticas abordadas no presente capítulo são transversais a várias áreas, e no sentido
de não tornar muito exaustivo o texto, considera-se a caracterização e análise dos Recursos
Agrícolas e Florestais realizada no capítulo 1, válida também para este capítulo.

Assim, desta breve análise e diagnóstico, destacam-se os principais problemas em causa, mitigáveis
através da delimitação da Estrutura Nacional Protecção e Valorização Ambiental, enquanto
instrumento de ordenamento do território e que será analisada em capítulo posterior, constituindo
um contributo muito importante para a sua colmatação, são eles:

9. gestão (reduzida/inexistente) das áreas protegidas e recursos naturais:

c) Perda de biodiversidade e deficiente apoio às Áreas Protegidas;

d) Esgotamento dos recursos marinhos;

e) Práticas de mineração com consequências ao nível ambiental (nomeadamente, o


impacto das minas de diamante aluviais nas redes hidrográficas, e as plataformas
petrolíferas no mar e na terra);

f) Perda de biodiversidade nomeadamente na Região Centro e Norte do país nas


florestas bem como nos mangais e outras zonas húmidas;

g) A desertificação, sobretudo nas províncias do Namibe, Cunene e em Baía Farta,


Benguela;

h) As ravinas nomeadamente no Moxico e nas Lundas;

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Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

i) Poluição marinha devida aos derrames de petróleo, nomeadamente nas


províncias de Cabinda e Zaire;

j) O estado de abandono e falta de gestão dos Parques Naturais (apenas o Parque


de Kissama e o Iona têm administradores).

k) Ocupação urbana de zonas sensíveis na orla costeira.

10. Práticas agrícolas e florestais insustentáveis com consequente degradação dos


recursos:

l) Más práticas de gestão da terra;

m) Cultura itinerante;

n) Queimadas;

o) Desflorestação;

p) Degradação dos solos;

q) Introdução de plantas exóticas através da agricultura;

r) Processos de alterações climáticas agravados pela queima de combustíveis fósseis,


emissões da indústria petrolífera e elevadas taxas de desflorestação, com
consequente aumento das emissões de gases para a atmosfera, agravando o
“efeito de estufa”.

A situação actual apresenta contornos preocupantes, e salienta-se ainda o facto alarmante de


serem as populações mais pobres tanto das zonas rurais como das zonas urbanas, as que sentem
mais severamente todos estes problemas, por estarem completamente dependentes dos bens e
serviços dos ecossistemas para a sua sobrevivência.

De referir, ainda, que como mais de 90% do território angolano se situa fora das áreas de protecção
ambiental, entendem-se que a conservação da biodiversidade na generalidade do território,
dependerá da introdução de medidas apropriadas relativas ao uso sustentável das áreas e recursos
naturais fora das áreas de protecção ambiental.

6.9 PROGRAMAS E ESTRATÉGIAS RELEVANTES PARA A CONSERVAÇÃO DA NATUREZA E


BIODIVERSIDADE

De relevância nacional distingue-se os seguintes documentos:

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Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

▪ Estratégia e Plano de Acção Nacionais para a Biodiversidade (NBSAP), 2007-2012

▪ Estratégia de Desenvolvimento a Longo Prazo para Angola – Angola 2025

▪ Programa de Apoio Estratégico para o Ambiente (PAEA), 2012-2015

▪ Programa Nacional de Gestão Ambiental (PNGA)

▪ Política Nacional de Florestas, Fauna selvagem e Áreas de Conservação.

6.9.1 Estratégia e Plano de Acção Nacionais para a Biodiversidade (NBSAP), 2007- 2012

Este Plano Estratégico da responsabilidade do então Ministério do Urbanismo e Ambiente (no


presente estes Ministérios funcionam autónomamente “apresenta acções para que seja possível, a
longo prazo, incorporar nas políticas e programas de desenvolvimento medidas para a conservação
e o uso sustentável da diversidade biológica e a distribuição justa e equitativa dos recursos
biológicos em benefício de todos os Angolanos”.

Com a aprovação deste Plano o Governo de Angola compromete-se de forma efectiva a cumprir
as recomendações da Convenção sobre a Diversidade Biológica, que no seu artigo 1º refere “ Os
objectivos da Convenção sobre a Diversidade Biológica a serem atingidos de acordo com as suas
disposições relevantes, são a conservação da diversidade biológica, o uso sustentável das suas
componentes e a partilha justa e equitativa dos benefícios que advêm do uso dos recursos
genéticos, inclusivamente através do acesso adequado a esses recursos e da transferência
apropriada das tecnologias relevantes, tendo em conta todos os direitos sobre esses recursos e
tecnologias, bem como através de financiamentos apropriados e adequados”.

A Estratégia e o Plano de acção nacionais, apresentam de modo detalhado, acções a desenvolver


(devidamente priorizadas e temporizadas) e resultados esperados claros, constituindo-se a sua
implementação como um enorme desafio para Angola.

Neste Plano é reconhecido o que ainda há por fazer para tornar real e eficaz a conservação e o uso
sustentável da biodiversidade, sendo por isso, definidas prioridades para este sector.

O Plano é composto pela Estratégia e o Plano de Acção Nacionais para a Biodiversidade,


relacionados através de oito Áreas Estratégicas. A temática em estudo enquadra-se em várias Áreas
Estratégicas definidas neste Plano, nomeadamente a Área Estratégica C: Gestão da Biodiversidade
nas Áreas de Protecção Ambiental; a Área Estratégica D: Uso sustentável das componentes da
Biodiversidade e Área Estratégica; a Área Estratégica E: O papel das comunidades na Gestão da
Biodiversidade.

247
Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

A análise seguinte foca as Áreas Estratégicas C e E, uma vez que a Área Estratégica D já foi
detalhada no tema dos Recursos Agrícolas.

A Área Estratégia C - Uso Sustentável das Componentes da Biodiversidade, define como importantes
intervenções estratégicas para a conservação de componentes importantes da biodiversidade, a
organização de uma gestão efectiva nas áreas de protecção ambiental existentes e a criação de
novas áreas.

Para cada Área Estratégica são formulados objectivos específicos para atingir o Objectivo Global,
referido inicialmente.

Os Objectivos específicos relacionados com a Área Estratégica C na temática em estudo são os


seguintes:

▪ “OBJECTIVO C.1 - Reavaliar o estado das áreas de protecção ambiental existentes e


suas infra-estruturas através de levantamentos e inventários ecológicos.

▪ OBJECTIVO C.2 - Propor a criação de áreas de protecção ambiental para incluírem


ecossistemas, habitats e espécies importantes e de elevado valor biológico que
ainda não estejam devidamente protegidos.

▪ OBJECTIVO C.3 - Reabilitar as áreas de protecção ambiental e suas infra-estuturas de


forma a permitir a realização de acções de investigação científica, conservação da
biodiversidade, ecoturismo e educação ambiental.

▪ OBJECTIVO C.4 - Estabelecer um sistema nacional de gestão integrada que permita


conciliar a conservação e uso sustentável da biodiversidade e o turismo com os
interesses das comunidades locais.”

A Área Estratégica E - O papel das comunidades na Gestão da Biodiversidade, dá relevo ao facto


de mais de 50% da população angolana residir em áreas rurais e se encontrar dependente dos
recursos naturais para a sua economia de subsistência. Estas comunidades são reconhecidas como
verdadeiras guardiãs da biodiversidade, sendo de importância fulcral para a conservação e uso
sustentável da biodiversidade, que sejam envolvidas nas decisões e processos relacionados com o
uso da terra e recursos naturais.

Assim, o seu objectivo especifico consiste em:

248
Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade,
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

▪ “OBJECTIVO E – Reforçar o papel das comunidades rurais no uso sustentável da


biodiversidade em angola e da tomada de decisões a esse respeito.”

Nas restantes áreas estratégicas e objectivos específicos, reconhece-se a necessidade de


desenvolver acções de formação e capacitação dos quadros angolanos no quadro da
biodiversidade, a descentralização da governação ambiental e o reforço da capacidade
institucional a nível provincial e municipal para melhorar a gestão sustentável da biodiversidade.

O Plano de Acção apresenta uma lista detalhada das acções para implementação e para atingir
os objectivos específicos que são os seguintes:

▪ “C.1.1. Avaliar a situação da biodiversidade actual em parques nacionais, reservas


naturais e integrais, reservas parciais, reservas especiais, coutadas e reservas florestais
com o objectivo de confirmar se o número e localização das actuais áreas de
protecção ambiental e respectivos limites e configuração vigentes correspondem às
necessidades actuais do País.

▪ C.1.2. Com base nos resultados de Actividade C.1.1., redefinir, se necessário, os


limites ecológicos das áreas de protecção ambiental existentes e propor a criação
de áreas de protecção ambiental.

▪ C.2.1. Identificar e criar áreas de protecção ambiental para incluírem exemplares de


ecossistemas, habitats e espécies importantes ainda não abrangidas, como, por
exemplo, a floresta do Maiombe em Cabinda (para a protecção do gorila,
chimpanzés e outros mamíferos); incorporação do complexo de Tundavala – Fenda
–Cascata (devido ao alto valor paisagístico) no Parque Natural Regional na Província
da Huíla e as galerias florestais da Província da Lunda Norte, as quedas de Kalandula
e Pedras Negras de Pungo Andongo em Malanje, o Jardim Botânico do Kilombo no
Kwanza Norte, assim como monumentos históricos.

▪ C.3.1. Com base nos resultados da Actividade C.1.1., reabilitar as áreas de


protecção ambiental existentes.

▪ C.3.2. Formular planos de gestão com vista à respectiva reabilitação, consolidação e


melhoria das áreas de protecção ambiental.

▪ C.3.3. Estudar com detalhe e atenção a situação das comunidades que passaram a
viver no interior e nas zonas adjacentes das áreas de protecção ambiental,
formulando para cada um dos casos o tratamento mais adequado a dar

249
Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

(reassentamento voluntário, redefinição de limites, zonagem do actual espaço,


criação de zonas tampão, vedações de protecção, etc.) integrando as
comunidades na gestão participativa e uso adequado dos recursos biológicos
existentes nas áreas de protecção ambiental.

▪ C.4.1. Aumentar o número de efectivos empregados como fiscais florestais e fiscais


de caça, dar-lhes formação adequada e instaurar as respectivas carreiras com
condições de trabalho conducentes ao controle efectivo da caça furtiva e da
destruição florestal, dando prioridade às populações locais.

▪ C.4.2. Implementar uma moratória interditando as actividades de caça de


mamíferos de grande e médio porte, e outras espécies em perigo de extinção nas
áreas de protecção ambiental até que as populações de animais estejam
suficientemente recuperadas.

▪ C.4.3. Implementar uma proibição definitiva sobre a caça de espécies ameaçadas


de extinção e cumprimento das orientações estabelecidas nas listas vermelhas
nacionais e internacionais para as plantas e animais.

▪ C.4.4. Criar incentivos para o investimento na reabilitação das infra-estruturas das


principais áreas de protecção ambiental com condições e serviços conducentes ao
desenvolvimento do ecoturismo e protecção da sua fauna e flora.

▪ E.1. Implementar programas de sensibilização para assegurar um maior envolvimento


das comunidades e dos órgãos locais na tomada de decisões relativas à gestão dos
recursos biológicos e à conservação do ambiente.

▪ E.2. Garantir através de órgãos de informação o reconhecimento dos direitos das


comunidades, já consagrados em legislação específica, como forma de gestão da
biodiversidade.

▪ E.6. Realizar um estudo profundo a nível de todo o país de modo a documentar os


conhecimentos e práticas tradicionais existentes relacionadas com a gestão da
biodiversidade.

▪ E.7. Realizar estudos para documentar práticas tradicionais “positivas” e “negativas”


relativamente a gestão da biodiversidade, distinguindo os aspectos económicos,
sociais e culturais e proceder a realização de workshops de debate com a
população.

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Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade,
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

▪ E.10. Estudar os mecanismos de participação das comunidades na gestão da


biodiversidade.”

Fica patente, que a Estratégia e Plano de Acção Nacionais para a Biodiversidade constitui,
inegavelmente, um documento de enorme importância para as questões ambientais e da
biodiversidade, e traça uma série de objectivos e acções a ser implementados com vista ao
desenvolvimento sustentável estabelecido como uma meta nacional, e que se coaduna
perfeitamente com os objectivos que precedem a definição de uma Estrutura Nacional de
Protecção e Valorização Ambiental (ENPVA).

6.9.2 Estratégia de Desenvolvimento a Longo Prazo para Angola – Angola 2025

Constam deste documento uma série de directrizes com repercussões no ordenamento do solo rural
e no sector agrícola e florestal, que estão directamente relacionados com as questões da
Conservação da Natureza e da Biodiversidade. Este documento será analisado detalhadamente no
sub-capítulo dos recursos agrícolas e florestais, dada a maior especificidade das temáticas
abordadas, no entanto, realçamos aqui alguns pontos comuns às 2 temáticas.

O Mega Sistema Território é desenvolvido através de duas estratégias, designadas, “A Estratégia


Geral para o Mega Sistema Território” e a “Estratégia de Desenvolvimento Territorial”.

No centro das preocupações de uma estratégia de desenvolvimento e ordenamento territorial


estão, em particular, os seguintes domínios no âmbito da estrutura rural que devem ser abordados
de forma integrada:

“Áreas de intervenção integrada: Os recursos naturais apresentam, frequentemente,


indivisibilidades e complementaridades que nenhum empresário, individualmente, pode
valorizar. Só uma intervenção integrada dos poderes públicos poderá coordenar a realização
das condições que permitam a exploração de recursos que só fazem sentido na lógica de
“cadeia de valor”. O caso dos perímetros hidro-agrícolas - onde é necessário integrar a
construção das infraestruturas de rega, as acções de extensão agrícola, as infraestruturas de
conservação e as unidades de transformação e de comercialização – pode ser um exemplo,
mas o mesmo é válido para a exploração de outros recursos, como os mineiros.

"Espaços ambientais a proteger: A gestão dos espaços de valia ambiental é uma componente
importante de qualquer estratégia de desenvolvimento e ordenamento territorial. Seja na
perspectiva da conservação, para transmitir às gerações futuras, seja na perspectiva de os

251
Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

valorizar de forma equilibrada e sustentável (actividades turísticas, p.e.). Em Angola, a criação


de uma rede de espaços e corredores ambientais, apoiada nos parques e reservas nacionais,
e a reabilitação de espécies da fauna e da flora poderão ser um importante factor de
dinamização de actividades económicas, de projecção da imagem de Angola e de reforço de
identidade das populações.”

6.9.3 Programa de Apoio Estratégico para o Ambiente (PAEA), 2012-2015

Este programa apresenta as áreas estratégicas de apoio e parceria PNUD ao Governo de Angola,
especificamente no apoio ao Ministério do Ambiente e ao Programa Nacional de Gestão Ambiental
(PNGA) e iniciativas afins.

Este programa tem um maior enfoque nas questões ambientais mas aborda também a área da
biodiversidade e áreas de conservação. Define os seguintes resultados esperados, que são de
grande relevância para a efectivação de uma estrutura como a ENPVA, são eles:

11. “Reforçadas as capacidades nacionais para o enquadramento da protecção


ambiental nos planos de desenvolvimento nacional;

12. Implementação efectiva do Plano de Acção e Estratégia da Biodiversidade Nacional


(NBSAP):

s) Actualizar o Diagnóstico de Parques Naturais (2003), incluindo outras Áreas


Protegidas (AP) e priorizando a formação do pessoal necessário para ter sucesso
na implementação das recomendações contidas no Diagnóstico actualizado;

t) Conceber uma Estratégia de Expansão de novas Áreas Protegidas, incluindo todos


os biomas que actualmente não estão protegidos com base numa Avaliação da
Biodiversidade Nacional através de inquéritos e inventários;

u) Formular uma estratégia de mobilização de recursos para o financiamento do


NBSAP.

13. Desenvolvida a capacidade institucional para a gestão sustentável de recursos naturais


(terra e água):

v) Apoiar a aprovação e implementação do Programa Nacional e Plano de Acção


para o (UNCCD);

252
Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade,
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

w) Advogar pela ratificação da Convenção do Ramsar (Convenção sobre as Zonas


Húmidas de Importância Internacional, especialmente enquanto "Habitat" de Aves
Aquáticas) e identificar potenciais locais de Ramsar;

x) Identificação, validação e disseminação de melhores práticas sobre o uso


sustentável de recursos naturais (terra e agua).

14. Adaptação e mitigação às alterações climáticas enquadrada nas políticas e planos de


desenvolvimento nacional;

O PAEA faz também referência a novos projectos a realizar nas áreas da Biodiversidade, Mudanças
Climáticas e Degradação dos Solos, e mais relacionados com a temática em estudo, são referidos
dois projectos de grande relevância:

▪ Conservação do Parque Nacional do Iona (Província de Namibe)

▪ Expansão e Reforço do Sistema de Áreas Protegidas de Angola

O Programa traça ainda o diagnóstico da situação actual de conservação das áreas protegidas de
Angola (como muito precária) e aponta alguns desequilíbrios preocupantes em termos ecológicos,
nomeadamente, “o desequilíbrio da representação de biomas e ecossistemas na rede das áreas
protegidas de Angola também constitui motivo de preocupação. Embora as savanas áridas e
sistemas de deserto estejam bem representados, as planícies, a escarpa, e florestas de montane,
que em conjunto incluem uma grande parte da biodiversidade de Angola, não têm protecção
formal. A rara, endémica e criticamente ameaçada avifauna destas florestas precisa de protecção
urgente. A área total de florestas de Afromontane em Angola é actualmente inferior a 400 ha –
separada por mais de 2 000 Km dos tipos de florestas relacionadas mais parecidas em Camarões,
leste da República Democrática do Congo e a escarpa Sul-africana”.

O PAEA, no capítulo dedicado ao contexto institucional e quadro legal, faz referência à importante
legislação recentemente produzida para a área ambiental, ao Programa Nacional de Gestão
Ambiental (PNGA) e à Política de Florestas, Fauna selvagem e Áreas de Conservação Tterrestres,
considerando-os importantes instrumentos para a defesa e promoção da biodiversidade e de
grande importância para se alcançar as metas estabelecidas de defesa e sustentabilidade do meio
ambiente.

De referir, ainda, o Projecto Nacional de Biodiversidade elaborado pelo Ministério do Ambiente


(Governo de Angola) e o (PNUD).

253
Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

Ao nível nacional este projecto irá apoiar a criação e operacionalização do orgão responsável
pelas áreas de conservação, no seio do recentemente aprovado pelo Instituto Nnacional de
Biodiversidade e Áreas de Conservação (INBAC), este projecto irá apoiar:

▪ A preparação de um quadro estratégico de planeamento de negócios para o


sistema de áreas protegidas;

▪ O desenvolvimento de uma estrutura organizacional e da composição de uma


equipa funcional para o sistema de áreas protegidas;

▪ Uma avaliação do ponto de situação (biodiversidade, infraestruturas, gestão,


ocupação, uso da terra, entre outros dos parques nacionais;

▪ A preparação de planos de implementação pormenorizados para a reabilitação


dos parques nacionais.

Ao nível local, o projecto procurará reabilitar uma única área protegida – O Parque Nacional de
Iona, o maior Parque Nacional de Angola.

6.9.4 Programa Nacional de Gestão Ambiental (PNGA)

Este Programa traduz o compromisso do Governo de Angola no cumprimento de uma das metas
nacionais que é a promoção do desenvolvimento sustentável e consequente desenvolvimento e
bem-estar humano. Este Programa apresenta um conjunto de medidas legislativas do poder
executivo que conduzem a vida nacional para uma política ambiental de acordo com os princípios
do desenvolvimento sustentável.

O PNGA é um Plano de longo prazo, com um horizonte temporal de dez anos a contar da data da
aprovação em 2010. E fornece uma listagem detalhada de acções prioritárias, cada uma com
objectivos, actividades, medidas de verificação e cronogramas específicos.

A primeira fase do PNGA será mais focada na recolha de informação e planeamento de projectos,
desenvolvendo parcerias intersectoriais e mobilizando financiamentos, tanto ao nível nacional como
internacional. A fase de implementação requererá delegação de responsabilidades aos níveis
provincial e local, contando com forte participação da sociedade civil. As parcerias incluirão o
sector privado e outras agências internacionais.

Em conformidade com a LBA, o PNGA é um veículo fundamental para se alcançar as metas da


defesa e utilização sustentável do meio ambiente e tem como Objectivos Gerais:

254
Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade,
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

▪ “Alcançar, de forma plena, um desenvolvimento sustentável, integrando os aspectos


ambientais no processo de desenvolvimento económico e social.

▪ Definir as responsabilidades de todos os agentes (governamentais, privados e


sociedade civil) na gestão do ambiente e traçar as directrizes gerais para a
actuação de cada um deles.

▪ Integrar e conciliar os aspectos ambientais em todos os programas e planos gerais e


sectoriais de desenvolvimento económico e social, como premissa para alcançar o
desenvolvimento sustentável.”

Apresentam-se abaixo os Objectivos Específicos deste Programa:

▪ “Definir acções prioritárias na gestão ambiental, com base na importância destas e


nos recursos humanos, técnicos e financeiros disponíveis;

▪ Promover a coordenação intersectorial e a participação geral da sociedade na


gestão ambiental;

▪ Contribuir para a formação da consciência ambiental e do desenvolvimento de


uma cultura de defesa do meio ambiente, a todos os níveis, criando mecanismos
para a participação da população em acções e decisões relativas à gestão
ambiental;

▪ Estabelecer medidas técnico-administrativas para a defesa de ecossistemas e


recursos naturais do país, e para garantir uma boa qualidade de vida a todos os
Angolanos;

▪ Promover controlos ambientais nas actividades que usam os recursos naturais ou que
possam causar algum dano ao meio ambiente, desenvolvendo os requeridos
instrumentos legais, técnico e administrativos para a política e gestão ambiental;

▪ Desenvolver estruturas ambientais e capacidade profissional necessárias para a


implementação responsável da política de gestão ambiental, o PNGA e outras
estratégias sectoriais;

▪ Promover a elaboração e implementação das políticas, estratégias e planos


ambientais e os correspondentes planos de investimentos ambientais, e suas revisões
periódicas.”

O PNGA refere como principais origens dos Problemas Ambientais, os seguintes:

255
Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

▪ “Exploração da madeira;

▪ Agricultura, pecuária e pescas;

▪ Exploração petrolífera;

▪ Mineração;

▪ Indústria;

▪ Contaminação por resíduos sólidos;

▪ Desflorestação e degração dos solos;

▪ Caça furtiva;

▪ Contaminação e eutrofização das águas superficiais;

▪ Assentamentos humanos desordenados”

E define como Acções Prioritárias, as seguintes:

▪ “Educação, Informação e Consciencialização Ambiental;

▪ Promoção da Coordenação Intersectorial;

▪ Protecção da Biodiversidade e das Espécies da Flora e Fauna Selvagem;

▪ Estabelecer as condições básicas para permitir a conservação da biodiversidade,


com o objectivo de reabilitar e proteger a rica diversidade biológica do País.

 Estratégia e Plano de Acção Nacional para a Biodiversidade

 Projecto Reestruturação do Sistema Nacional de Áreas de Protecção

 Projecto de Legislação para a Biodiversidade e sua implementação

 Projecto Palanca Negra Gigante

 Implementação da CITES

 Áreas de Conservação Transfronteiriça

▪ Recuperação e Protecção de Ecossistemas

 Estabelecer medidas jurídicas, técnicas e administrativas para a protecção e


recuperação dos ecossistemas e recursos naturais no País;

 Estratégia e Programa de Acção Nacional de Combate à Desertificação;

 Projecto de Levantamento e Avaliação dos Processos de Erosão;

 Projecto Regional de Gestão Integrada das Zonas Húmidas;

 Protecção da Camada de Ozono;

256
Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade,
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

 Projecto sobre Alterações Climáticas.

▪ Controlo Ambiental - O PNGA fornece o quadro para a intervenção do PNUD no


sector do meio ambiente”

6.9.5 Política Nacional de Florestas, Fauna Selvagem e Áreas de Conservação


Terrestres

Esta recente (2010) política nacional abarca todos os aspectos da conservação da natureza,
utilização sustentável das florestas e biodiversidade de Angola. É um instrumento jurídico de vital
importância para o alcance da meta do PAEA.

Abrange todo o painel de questões da gestão da biodiversidade, incluindo a definição de


mecanismos para a defesa de espécies raras, endémicas e ameaçadas de extinção, ecossistemas
vulneráveis e ameaçados de extinção, recursos genéticos, árvores e manchas florestais protegidas,
regeneração in situ e ex situ, classificação de áreas de conservação, caça e outras formas de
utilização das florestas, tanto naturais como exóticas (PAEA, 2012).

Colmata uma série de lacunas na legislação herdada do período colonial, e ainda em vigor, mas
sem qualquer implementação efectiva.

Define os papéis do Ministério da Agricultura, Desenvolvimento Rural e Pescas e do Ministério do


Ambiente, embora por vezes a sua redacção não seja clara e objectiva.

Os princípios orientadores da Política Nacional de Florestas, Fauna Selvagem e Áreas de


Conservação, são compagináveis com a existência de uma estrutura como a ENPVA (abordada no
capítulo 4). De entre eles, destacamos os seguintes:

▪ Da conservação e uso sustentável: os recursos florestais, faunísticos e Áreas de


Conservação existentes no território nacional devem ser conservados e utilizados de
uma forma que assegure a inter-ligação entre os princípios de conservação e
prevenção e as políticas de desenvolvimento económico e social, para garantir as
necessidades no presente, sem comprometer os direitos das futuras gerações de
angolanos;

▪ Do desenvolvimento sustentável: os recursos florestais, faunísticos e as Áreas de


Conservação devem servir para satisfazer as necessidades das gerações presentes e
futuras;

257
Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

▪ Da propriedade originária do Estado: os recursos florestais, faunísticos e Áreas de


Conservação existentes no território nacional são propriedade originária do Estado;

▪ Do acesso: a conservação e utilização dos recursos florestais, faunísticos e áreas de


conservação existentes no território nacional deve ter sempre em conta os direitos
de acesso das comunidades locais a esses recursos para a sua subsistência e a
obtenção de benefícios tangíveis resultantes da sua utilização, para melhorar as suas
condições de vida e assegurar a responsabilidade dessas mesmas comunidades no
uso sustentável e conservação de tais recursos;

▪ Da partilha dos benefícios: promover a partilha e obtenção de benefícios tangíveis


resultantes da sua utilização pelas comunidades locais, para assegurar a
responsabilidade dessas mesmas comunidades no uso sustentável e conservação de
tais recursos;

▪ Do respeito e protecção do conhecimento tradicional: todas as acções de


conservação, prevenção e de desenvolvimento económico e social dos recursos
florestais, faunísticos e áreas de conservação do país, devem ter sempre em conta a
inventariação, registo e protecção do conhecimento tradicional e/ou intelectual
sobre a utilização desses recursos;

▪ Da cooperação institucional: estabelecer mecanismos institucionais estratégicos de


cooperação com as Administrações Municipais e Comunais, Polícia Nacional, Forças
Armadas, Autoridades Tradicionais e Organizações da Sociedade Civil na protecção
e gestão dos recursos florestais, faunísticos e áreas de conservação para garantir a
eficiência, transparência, profissionalismo e confiança de todos os actores;

No ponto 102º do articulado, é enunciado que o objectivo global do Desenvolvimento florestal,


faunístico e das áreas de conservação em Angola é o de “Promover a contribuição do sector para o
desenvolvimento sustentável do país, através da preservação, conservação, desenvolvimento e
utilização racional das florestas, fauna selvagem e áreas de conservação, para benefício das
gerações presentes e futuras”. Por tudo o que foi exposto, fica claro a importância desta legislação
para se garantir a protecção das áreas de conservação de Angola e a prossecução de metas e
objectivos traçados nos vários Programas desta área.

258
Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade,
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

6.10 METAS E MEDIDAS DE IMPLEMENTAÇÃO DE ÂMBITO NACIONAL E PROVINCIAL

Apresentam-se as Metas e Medidas de Implementação que, no âmbito da temática da


Conservação da Natureza, se consideram contribuir para o alcance dos objectivos de um território
angolano mais sustentável.

Para elaborar as metas e medidas de implementação as principais fontes documentais consultadas


foram, a “Estratégia de Desenvolvimento a Longo Prazo para Angola – Angola 2025” e a “Estratégia
e Plano de acção Nacionais para a Biodiversidade, 2007-2012”. Para além destes documentos,
foram consultados os Planos de Desenvolvimento Provincial elaborados e disponibilizados para as
províncias de (Benguela, Huambo, Huíla, Kuanza Norte, Kuanza Sul, Kunene, Malange e Namibe).
Adicionalmente foi também consultada a informação obtida a partir da realização de Dinâmicas
de Grupo, realizadas em cada províncias, excepto nas províncias da Huíla e do Zaire. Não foi
disponibilizada informação referente às províncias: de Luanda, Kuando Kubango, Namibe, CKunene
e Uíge.

As Metas e Medidas de Implementação são categorizadas temporalmente em: Curto Prazo – até 3
anos; Médio Prazo – 3 a 5 anos; Longo Prazo – 5 a 10 anos.

Quadro 30: Medidas para o Ordenamento do Território no âmbito da Conservação da


Natureza a nível Nacional

MEDIDAS A INTEGRAR NO ÂMBITO DO ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO PARA A CONSERVAÇÃO DA NATUREZA A NÍVEL NACIONAL

Curto prazo Médio prazo Longo prazo


• Avaliar a situação da biodiversidade actual em • Redefinir, se necessário, os limites • Apostar no turismo em
parques nacionais, reservas naturais e integrais, ecológicos das áreas de espaços naturais numa
reservas florestais com o objectivo de confirmar protecção ambiental existentes e perspectiva de
se o número e localização das actuais áreas de propor a criação de áreas de interligação com as
protecção ambiental e respectivos limites e protecção ambiental; comunidades rurais locais;
configuração vigentes correspondem às • Identificar e criar áreas de • Aproveitamento solar
necessidades actuais do pPaís; protecção ambiental para para a implementação
• Acautelar a pressão urbanística em todo o litoral; incluírem exemplares de de sistemas de energia
• Garantir que os serviços nacionais disponibilizam ecossistemas, habitats e espécies fotovoltaica (energia não
e mantém actualizada a informação relativa aos importantes ainda não poluidora);
indicadores relativos à sua área de actuação; abrangidas; • Apostar na educação
• Definir as Restrições de utilidade pública; • Promover a conservação da ambiental;
• Estabelecer modos de gestão das Áreas de biodiversidade fora das áreas de • Valorizar os espaços
Protecção Ambiental sustentáveis e duradouros, protecção ambiental através da naturais de modo a
com diversificação económica para a fiscalização melhorada; reforçar a ruralidade e
população; • Promover uma política nacional potenciar o seu valor
• Proceder à Elaboração de estudos científicos concertada entre os diferentes ecológico, cultural,
sobre biodiversidade e recursos naturais actuais; actores intra e intersectoriais patrimonial e paisagístico.
• Promover a aplicação de estratégias existentes interessados na conservação e uso • Apostar em turismo
que incluem medidas para a Conservação da dos recursos naturais em Angola; sustentável enquanto
biodiversidade e Áreas de Protecção Ambiental; • Evitar as construções anárquicas e forma de promover a
• Produzir cartografia digital e temática; em zonas de risco; conservação da natureza
• Dinamização da exploração e das Áreas Protegidas
• Proceder a um mapeamento e zonagem da
sensibilidade ecológica das zonas costeiras e conservação dos recursos
marinhas; florestais;
• Travar o processo de

259
Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

MEDIDAS A INTEGRAR NO ÂMBITO DO ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO PARA A CONSERVAÇÃO DA NATUREZA A NÍVEL NACIONAL

Curto prazo Médio prazo Longo prazo


• Identificar áreas prioritárias de conservação de Desflorestação e diminuir as
acordo com a classificação da UICN de modo a emissões de CO2 para a
incluir biomas actualmente não representados; atmosfera;
• Promover campanhas de sensibilização junto dos • Implementar programas nacionais
proprietários florestais para a necessidade da sua sobre as alterações climáticas;
limpeza e requalificação, incentivando a • Aproveitar potencial hídrico para
instalação de espécies autóctones; produção de energia;
• Promover boas práticas em termos de gestão • Definir medidas para a melhoria
florestal; da qualidade do ar e redução de
• Implementar medidas que impeçam a poeiras, através da aplicação mais
construção de habitação em solos com aptidão efectiva da legislação ambiental e
agrícola; a sua monitorização;
• Advogar pela ratificação da Convenção do • Protecção da diversidade
Ramsar (A Convenção sobre as Zonas Húmidas genética e sistemas de alto valor
de Importância Internacional, especialmente natural e paisagístico associados
enquanto «Habitat» de Aves Aquáticas) e aos sistemas agrícolas tradicionais;
identificar potenciais locais de Ramsar.

Ao nível Provincial, são também apresentadas as medidas relacionadas com os instrumentos de


ordenamento do território.

Quadro 31: Medidas para o Ordenamento do Território no âmbito da Conservação da


Natureza a nível Provincial
MEDIDAS A INTEGRAR NO ÂMBITO DO ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO PARA A CONSERVAÇÃO DA NATUREZA A NÍVEL
PROVÍNCIAL

Curto prazo Médio prazo Longo prazo


• Elaborar o Plano de Gestão do Parque • Definir uma estratégia de • Integrar as
Nacional de Kissama; desenvolvimento que privilegie a fazendas com
• Implementação e desenvolvimento do conservação e a fruição dos espaços maior importância
conceito de cidade ecológica de Ambriz; privilegiados para turismo de sol e praia, histórico-cultural
Bengo

• Reforço da fiscalização, no sentido de de turismo de natureza (Parque Nacional em circuitos


tornar efectivo o cumprimento das normas e da Kissama, Coutada de Ambriz) e turísticos.
legislação existente de protecção da religiosos (N. Senhora da Muxima) e
biodiversidade (fauna selvagem) a verificar Ecoturismo;
na Coutada de Ambriz. • Elaborar Plano de Ordenamento da Orla
Costeira.

260
Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade,
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

MEDIDAS A INTEGRAR NO ÂMBITO DO ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO PARA A CONSERVAÇÃO DA NATUREZA A NÍVEL


PROVÍNCIAL

Curto prazo Médio prazo Longo prazo


• Transformar a província num destino turístico • Elaborar o Plano de Ordenamento da
de referência nacional, regional e Orla Costeira;
internacional no domínio costeiro e • Desenvolver o sector piscatório e as
cinegético e um ponto de excelência na salinas.
promoção de um turismo de qualidade
ambientalmente sustentável;
• Identificar e delimitar as áreas
ambientalmente críticas;
• Combater a degradação ambiental e a
delapidação dos recursos naturais;
• Realizar e divulgar de forma ampla estudos
sobre os habitats e ecossistemas com alto
valor biológico da floresta Afromontana;
• Realizar e divulgar de forma ampla estudos
sobre os habitats e ecossistemas terrestres e
Benguela

costeiros com alto valor biológico;


• Reforçar a imagem da província como
destino turístico e recuperar a imagem
“Benguela a cidade das acácias”;
• Aproveitar as especificidades territoriais e
proximidade da corrente fria de Benguela
para desenvolvimento económico da
província e do porto comercial de
Benguela, energia das ondas e biomassa;
• Revisão do Plano de Gestão do Parque
Regional de Chimalavera;
• Assegurar a integração e a conciliação dos
aspectos ambientais em todos os planos e
programas de desenvolvimento económico
e social;
• Elaborar um Plano de Gestão da Reserva
Parcial do Búfalo.
• Apostar na produção de energia eólica; • Valorizar as potencialidades turísticas, em
• Promover o estancamento de ravinas nas associação com o caminho de ferro.
zonas urbanas e arredores;
• Elaboração de um Plano de Gestão e
Conservação da Reserva Natural integral de
Luando ;
Bié

• Promoção turística ligada à promoção da


imagem da palanca negra gigante e à
existência de recursos hídricos de relevo,
com enorme potencial para turismo rural e
de natureza, presença de cascatas
imponentes e realização de pesca
desportiva.
• Delimitação do Parque Nacional de • Cooperação transfronteiriça para a
Maiombe; gestão e conservação do Parque
• Elaborar o Plano de Ordenamento e Gestão nacional de Maiombe;
para o Parque Nacional de Maiombe; • Explorar as potencialidades turísticas
• Elaborar estudos conducentes à relacionadas com a Floresta de
inventariação da biodiversidade da floresta Maiombe, constituída Parque Nacional;
Cabinda

de Maiombe; • Construção de centros culturais nos


• Elaborar o Plano de Ordenamento Florestal. municípios para afirmação e divulgação
da identidade local e como centros de
recreio e lazer;
• Implementação de medidas de
regulação e fiscalização de actividades
extractivas de madeira e petrolíferas.
• Elaborar Plano de Ordenamento da Orla
Costeira.

261
Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

MEDIDAS A INTEGRAR NO ÂMBITO DO ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO PARA A CONSERVAÇÃO DA NATUREZA A NÍVEL


PROVÍNCIAL

Curto prazo Médio prazo Longo prazo


• • Criar Áreas Protegidas com vista à • Promover a investigação e formação
preservação das espécies autóctones ligada à Universidade da Província nos
endémicas e ameaçadas e dos habitats aspectos relacionados com o
mais representativos; desenvolvimento sustentável da
• Realizar e divulgar estudos sobre os habitats agricultura, florestas e outras actividades
e ecossistemas presentes no território da económicas e áreas do conhecimento
Província, nomeadamente, a floresta afro- técnico-científico;
montana; • Elaboração de estudos e projectos pela
• Proposta de protecção de áreas com Universidade da Província para dar
Huambo

interesse conservacionista e para a resposta aos desafios de restauração de


biodiversidade: 1) zonas serranas de habitats (floresta afro-montana) e da
grandes dimensões com pouca aptidão e recuperação da mata de panda e
ocupação agrícola e com menor floresta galeria;
densidade humana (entre 3-10 • Valorizar as potencialidades turísticas;
habitantes/km2 ou mesmo menos que 2 • Desenvolver programa agro-silvo-pastoril;
hab./km2, como são os casos de Morro do • Dinamizar o reflorestamento dos
Moco, das serras da Camela, Lembe- principais polígonos florestais;
Lembe, Candjemba, Longolue, Hombe, • Constituir-se como reserva natural de
Soque); 2) Zonas de anharas de vale, prados recursos hídricos.
palustres e rios (e.g. Rios Luvulo e Cutato e
rio Cutato dos Ganguelas, rio Queve/Cuvo).
• Elaborar Plano de Gestão do Parque • Realizar e divulgar estudos sobre os
Nacional de Bikuar. habitats e ecossistemas presentes no
território da Província, nomeadamente, a
floresta afro-montana e as florestas no
Huíla

Morro do Moco;
• Desenvolver nichos turísticos e de
actividades terciárias.

• Implementação de medidas para combate • Desenvolvimento da agricultura de


à desertificação; sequeiro, nomeadamente de cereais;
• Cartografar o ecossistema de Chanas e • Desenvolvimento das culturas de
Mufitos, específico desta região; regadio, em particular a partir do
• Prever medidas que salvaguardem as zonas aproveitamento da rede hidrográfica do
alagadas; rio Cuvelai, com base em estudo a
• Criar sistemas de drenagem e contenção efectuar, e do aproveitamento da
de águas nos aglomerados urbanos; margem direita do rio Kuvango;
Kunene

• Promover a exploração e gestão


responsável dos recursos naturais, com
vista à preservação da biodiversidade,
nomeadamente nas bacias hidrográficas
do Rio Cunene e Cuvelai, das barragens
do Calueque e do Ruacaná e da gestão
integrada da margem direita do rio
Kuvango;
• Desenvolver um nicho turístico de
qualidade, respeitador do ambiente e
dos valores culturais.
• Elaborar o Plano de Gestão das Coutadas • Desenvolvimento rural;
de Longa-Mavinga e Mucusso; • Desenvolvimento do sector turístico:
• Elaborar os Planos de Gestão dos recentes turismo de natureza, eco-turismo;
Parques Nacionais de Luengué-Luiana e de
Kwando-Kubango

• Incentivo à cooperação transfronteiriça


Mavinga; para a gestão das Áreas de Protecção
• Reforço na implementação de medidas de ambiental
fiscalização relativas ao cumprimento das • Envolvimento das comunidades locais na
medidas de protecção da biodiversidade gestão e conservação das Áreas de
presente nas Áreas de Protecção Protecção Ambiental.
Ambiental; • Realização de estudos conducentes ao
• Dinamização do Projecto Turístico Inventário da biodiversidade e recursos
transfronteiriço de Okavango Zambeze. naturais da província.

262
Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade,
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

MEDIDAS A INTEGRAR NO ÂMBITO DO ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO PARA A CONSERVAÇÃO DA NATUREZA A NÍVEL


PROVÍNCIAL

Curto prazo Médio prazo Longo prazo


• Explorar as fortes potencialidades florestais • Promoção e Dinamização do património • Promoção de
com vista a comercialização de madeira natural e paisagístico, no sentido de plantações
exótica (Eucaliptus grandis e Eucaliptus desenvolver um sector de turismo forte, comunitárias com
saligna e Pinus patula) - (Planalto de com aposta no turismo rural e eco- Eucalyptus grandis,
Camabatela); turismo. E. saligna e E.
• Aplicação de medidas minimizadoras do duhni. cujo
impacte ambiental das explorações agro- objectivo principal
é suprir as
Kwanza-Norte

pecuárias e silvícolas;
• Aposta na promoção e reabilitação do necessidades locais
património histórico-cultural; em lenha e criar
• Revitalização do Jardim Botânico e da biomassa lenhosa
imagem de cidade-jardim de N´Dalatando; para os
aglomerados mais
• Aposta na extensão rural e na formação das
próximos - (Planalto
comunidades locais;
de Camabatela);
• Reabilitação das fileiras do café e palmar e
introdução de novas culturas (ou
reintrodução de culturas abandonadas,
como girassol, soja, ananás e outras
fruteiras).
• Inventariação dos recursos e valores naturais • Reabilitação das fileiras do café e da
e paisagísticos; palmicultura;
• Realizar e divulgar estudos sobre os habitats • Elaborar Plano de Ordenamento da Orla
e ecossistemas presentes no território da Costeira.
Província, nomeadamente, a floresta
Afromontana;
• Valorizar as potencialidades turísticas:
Kwanza-Sul

Cachoeiras do Binga, as furnas da Sassa,


águas quentes da Conda, as sete ilhas de
Mussende, lagoa do Chinga/Bumba,
escarpa do rio Cubal;
• Implementação do projecto agrícola
“Aldeia Nova”;
• Elaboração de planos de gestão para as
áreas com especial interesse natural,
cultural e paisagístico e para as áreas
vulneráveis ou de riscos.
• Elaborar o Plano de Ordenamento e Gestão • Desenvolver um Pólo turístico na
da Reserva Natural do Ilhéu dos Pássaros; província, implicando qualidade dos
• Criação de Parques Urbanos dotado de espaços, dos serviços e do ambiente
infraestruturas e equipamentos de recreio e sócio-cultural;
lazer adequados à população a que se • Salvaguarda dos espaços agrícolas e
destina; florestais existentes na malha urbanizada;
Luanda

• Elaborar o Plano Verde da cidade de • Elaborar Plano de Ordenamento da Orla


Luanda e prever a execução de espaços Costeira.
de desporto e lazer ao ar livre, promovendo
um maior contacto da população com
espaços naturais ;
• Definir alinhamentos e corredores arbóreos
que promovam o conforto bio-climático;
• Elaborar Plano de Ordenamento de Mússulo.
• Realizar e divulgar estudos sobre os
habitats e ecossistemas presentes no
território da Província, nomeadamente,
Lunda Norte

as florestas de galeria nos vales dos rios


Cuango, Luachimo e Cassai;
• Mobilizar recursos para a contenção de
ravinas em todos os Municípios.
• Promover plantações comunitárias no
sentido de evitar a desflorestação.

263
Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

MEDIDAS A INTEGRAR NO ÂMBITO DO ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO PARA A CONSERVAÇÃO DA NATUREZA A NÍVEL


PROVÍNCIAL

Curto prazo Médio prazo Longo prazo


• Demover a prática de queimadas, através
da sensibilização das comunidades para as
questões ambientais;
• Promover o estancamento de ravinas junto
Lunda Sul

à cidade de Saurimo;
• Criação de uma Reserva Natural, em
aprovação, na Comuna do Sumbe,
Município de Saurimo;
• Criação de novos polígonos florestais;
• Valorizar o potencial turístico e de
protecção das espécies existentes.
• Elaborar o Plano de Ordenamento e • Recuperar a fileira de algodão e
Gestão do Parque Natural de Cangandala; indústrias alimentares (arroz e óleo);
• Assegurar o funcionamento da Estação • •Explorar nichos específicos de
Agronómica; actividades turísticas;
Malange

• Resolver problema de drenagem de águas • Promover o património histórico-cultural;


pluviais que originam ravinas. • Promover o sector turístico,
nomeadamente o eco-turismo, com
muitos pontos de interesse, como as
Quedas de Kalandula;
• Combater a exploração ilegal de inertes.
• Elaborar Plano de Gestão para o Parque
Nacional da Cameia;
• Reflorestamento de áreas degradadas
Moxico

para conter a erosão dos solos e controle


de ravinas;
• Controlar a realização de Queimadas;
• Desenvolver o sector do turismo;
• Promover o desenvolvimento rural.
• Concretização da reabilitação do Parque • Realização de estudos que permitam
Nacional de Iona; avaliação, monotorização e gestão dos
• Elaborar Plano de Gestão do Parque recursos ambientais da província com
Nacional de Iona; vista à sua valorização e aproveitamento
• Elaborar Plano de Gestão da Reserva Parcial sustentado;
do Namibe; • Desenvolver um programa de combate
à desertificação;
Namibe

• Fomento do aumento da produção


agrícola, através da promoção de parcerias • Explorar as enormes potencialidades
público privada em projectos como os da turísticas da Província;
implantação de pólos agro-industriais de • Combater a exploração de diamantes
fruteiras mediterrânicas como a vinha e o ilegal (garimpo);
olival. • Aumentar a capacidade energética e
volume de água da Província;
• Elaborar Plano de Ordenamento da Orla
Costeira.
• Reabilitar a produção do café;
• • Promover plantações comunitárias
para evitar a desflorestação.
Uíge

• Elaborar estudos científicos para determinar • Elaborar Plano de Ordenamento da Orla


as condições de formação de mangais e, Costeira;
Zaire

em particular, as causas de mortalidade dos • Promover plantações comunitárias para


mangais no estuário do rio Congo. evitar a desflorestação.

264
Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade,
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

6.11 SÍNTESE

Elencaram-se as medidas a intergrar no âmbito do correcto ordenamento do território na área da


Conservação da Natureza. Seguidamente apresentam-se as medidas estruturantes de âmbito
nacional e provincial relacionadas com os instrumentos de ordenamento do território propriamente
ditos que deverão fundamentar o referido ordenamento territorial.

MEDIDAS DE IMPLEMENTAÇÃO PARA INSTRUMENTOS DE ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO NA TEMÁTICA DA CONSERVAÇÃO DA


NATUREZA

Curto prazo Médio prazo Longo prazo

• Delimitar a ENPVA; • ▪ Definir e implementar Sistema de • Elaboração do


• Elaboração de um Plano Estratégico para o Indicadores de Base Territorial; cadastro rural.
Sistema de Áreas Protegidas; • • Criar sistema nacional de dados para
• Delimitar a Reserva Agrícola Nacional; gestão ambiental e disponibilizar o
• Delimitar a Reserva Ecológica Nacional; acesso à população;
• Elaborar o Plano Nacional de • • Proceder a um mapeamento e
Ordenamento do Território; zonagem da sensibilidade ecológica das
• Elaborar Planos de Gestão de Áreas de zonas costeiras e marinhas;
Protecção Ambiental; • • Reduzir a desflorestação e restaurar os
• Elaborar os Planos de Gestão das principais ecossistemas degradados;
Bacias Hidrográficas; • • Constituição de novas Áreas
• Elaborar Planos de Ordenamento Rural; Protegidas e criação de outros estatutos
de protecção de áreas complementares
• Promover campanhas de sensibilização à
(fora das áreas principais);
população acerca do Ordenamento do
Território ao nível do município (como • • Elaboração de um Plano Nacional de
exemplo, sensibilização para evitar a Ordenamento Florestal.
construção em áreas de risco);
• Elaboração de legislação complementar
no sentido de definir de medidas de
protecção e que visem o uso sustentável
NACIONAL

do território e recursos naturais fora das


Áreas de Protecção Ambiental;
• Elaboração de legislação actual para
protecção de avifauna, biodiversidade
marinha e fauna selvagem;
• Manter a iniciativa de promoção de planos
e/ou estudos rurais conducente ao
correcto ordenamento do território e de
apoio a uma gestão rural eficaz;
• Preparar um Programa Nacional e Plano de
Acção para o Combate à Desertificação
em cumprimento da Convenção Contra
Desertificação;
• Reforço institucional e actualização da
legislação sobre a utilização, preservação e
manutenção da biodiversidade, do acesso
aos recursos genéticos e partilha de
benefícios relativos aos conhecimentos
tradicionais com as comunidades.
• Definir legislação com o dimensionamento
das áreas verdes mínimas (área verde,
m2/habitante) considerada fundamental
ao conforto bioclimático dos centros
urbanos;

265
Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

MEDIDAS DE IMPLEMENTAÇÃO PARA INSTRUMENTOS DE ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO NA TEMÁTICA DA CONSERVAÇÃO DA


NATUREZA

Curto prazo Médio prazo Longo prazo

• Delimitar a Estrutura Regional de Protecção • Elaboração de Planos de Ordenamento •


e Valorização Ambiental (ERPVA) ao nível e Gestão para as Áreas Protegidas;
dos Planos de Ordenamento do Território; • Elaboração dos Planos de Ordenamento
• Elaboração dos Planos de Directores da Orla Costeira para províncias
Municipais referentes a cada Município de litorâneas;
cada Província para as quais não existente; • Elaboração de Planos de Ordenamento
• Definir a Estrutura Ecológica Municipal das principais Bacias Hidrográficas;
(EEM) ao nível do PDM para cada • Estudo e implementação de medidas
Município; de conservação ex situ dos recursos da
PROVINCIAL

• Aplicação dos Planos de Directores flora e fauna.


Municipais nos municípios em que já existe
Plano elaborado;
• Elaboração de Planos Provinciais de
Ordenamento Florestal;
• Cartografia das Áreas Protegidas e recurso
às novas Tecnologias de Informação;
• Elaboração de Planos de Desenvolvimento
Rural;
• Delimitação da Reserva Agrícola Nacional
(RAN);
• Delimitação da Reserva Ecológica
Nacional (REN).

266
Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade,
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

7. ESTRUTURA NACIONAL DE PROTECÇÃO E VALORIZAÇÃO


AMBIENTAL

7.1 INTRODUÇÃO

Tendo em conta a importância crescente que as questões relacionadas com o Ambiente e com os
valores de Sustentabilidade Ambiental e Paisagística, assumem actualmente, constituindo-se como
objectivos centrais na área do planeamento, torna-se fundamental a definição de uma Estrutura
Ecológica que funcione como suporte territorial de base, para o desenvolvimento sustentável das
actividades do território (PROTOVT, 2009).

Esta Estrutura, designada Estrutura Nacional de Protecção e Valorização Ambiental (ENPVA),


constitui a estrutura fundamental de suporte à protecção e valorização dos sistemas necessários à
conservação da natureza e da diversidade biológica, à regulação dos ciclos da água e do
carbono, à gestão das reservas estratégicas de água e à conservação do solo, num contexto de
alterações climáticas, visando o cumprimento das metas ambientais e de sustentabilidade
estabelecidas pelo enquadramento legal nacional e internacional (PROT-N, 2009).

A ENPVA deverá representar uma estrutura territorial que integre o modelo de desenvolvimento
preconizado para o território, e que seja considerada uma parte estruturante do mesmo. A sua
definição passa por uma atitude de análise e proposta integrada, uma vez que se trata de matéria
transversal a todas as funções e recursos territoriais (PROTOVT, 2009).

Deverá ser entendida como uma estrutura multifuncional que apresenta diferentes objectivos de
protecção de áreas para a conservação da natureza, preservação da biodiversidade e recursos
hídricos, recreio e lazer, articulação com a rede urbana, apoio ao turismo, entre outros.

A identificação e delimitação da ENPVA integra-se na prossecução de objectivos estratégicos para


o Ordenamento do Território e áreas ecologicamente sensíveis, tais como:

▪ Defender as componentes de sustentabilidade biofísica do território, fundamentais


para a protecção do solo e do funcionamento dos ciclos biogeoquímicos, a
requalificação das áreas de maior concentração urbana e o contributo para a
correcção e/ou prevenção de riscos ambientais;

267
Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

▪ Defender e valorizar os recursos hídricos, no respeito pelas orientações dos Planos de


Bacia Hidrográfica, acautelando as reservas estratégicas da água em quantidade e
qualidade;

▪ Conservar o património natural, com destaque para a biodiversidade, assim como o


património paisagístico e cultural, incorporando a vertente de aproveitamento
económico e empresarial, com mais valias locais na geração de riqueza e emprego;

▪ Promover modos sustentáveis de utilização dos recursos naturais não renováveis e o


cumprimento das metas ambientais estratégicas, designadamente de gestão
racional e uso eficiente dos recursos hídricos, combate à desertificação, combate às
alterações climáticas através da redução as emissões de Gases de Efeito de Estufa,
reforço das energias renováveis e eficiência energética, gestão de resíduos sólidos
urbanos e efluentes das actividades produtivas;

▪ Reduzir e colmatar os défices ambientais e contribuir para a elevação da qualidade


de vida e do ambiente urbano.

As funções que a ENPVA deverá assegurar, salvaguardando as especificidades territoriais regionais,


deverão ser aquelas que permitam alcançar os seguintes objectivos:

▪ Riqueza de biodiversidade e habitats;

▪ Manutenção dos processos ecológicos fundamentais;

▪ Conservação do solo e combate à desertificação;

▪ Adaptação e minimização de impactos às alterações climáticas;

▪ Aumento da qualidade do ar e da água;

▪ Construção e/ou conservação de paisagens qualificadas;

▪ Aumento da área de oferta para recreio e turismo;

▪ Criação ou reforço da identidade cultural;

▪ Melhoria do bem-estar e da saúde pública;

▪ Valorização da propriedade;

▪ Redução dos custos públicos em riscos ambientais como cheias, tratamento de


água, erosão, ravinamentos.

268
Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade,
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

A ENPVA, como tem carácter nacional deverá ser definida ao nível dos Planos Nacionais
como o PPOTN - Principais Opções de Ordenamento do Território Nacional, ou outros
Planos com a mesma abrangência territorial.

A sua definição ao nível das províncias deverá ser feita em sede de Plano Provincial de
Ordenamento do Território (PPOT), ou de Plano Inter-Provincial de Ordenamento do Território (PIPOT),
tomando aqui a designação de Estrutura Regional de Protecção e Valorização Ambiental (ERPVA).
Ao nível municipal toma a designação de Estrutura Ecológica Municipal (EEM), e é composta por
um conjunto de áreas que, pelas suas características biofísicas ou culturais, da sua continuidade
ecológica e do seu ordenamento, têm por função principal contribuir para o equilíbrio ecológico e
para a protecção, conservação e valorização ambiental e paisagística dos espaços rurais e
urbanos.

É identificada e delimitada nos Planos Directores Municipais, de modo a que haja a um instrumento
de Ordenamento do Território que permita a sua delimitação e consequente protecção, e se
promova um desenvolvimento sustentável das várias componentes do território.

7.2 CONCEITOS ASSOCIADOS À ENPVA

As Redes Ecológicas desempenham um papel fundamental para a salvaguarda dos recursos


naturais e da biodiversidade, e o ordenamento do território assume um papel determinante na sua
definição e gestão (Alagador et al., 2012; Leibenath, 2011). Estas redes deverão ser entendidas
como infraestruturas que asseguram a circulação de fluxos, energia e produtos essenciais a um
desenvolvimento equilibrado, assumindo um papel importante de interligação entre o meio rural e o
urbano numa perspectiva de coesão territorial (Benedict e MacMahon, 2002).

De acordo com a Lei de Base do Ambiente, (Lei n.º 5/98, de 19 de Junho), a Biodiversidade - ou
diversidade biológica - é entendida como a variabilidade entre os organismos vivos de todas as
origens, incluindo os dos ecossistemas terrestres, marinhos, aquáticos, assim como os complexos
ecológicos dos quais fazem parte. Compreende a diversidade dentro das espécies, entre as
espécies e dos ecossistemas.

A Biodiversidade tem uma importância crucial para a espécie humana e em particular para as
comunidades locais, uma vez que aproximadamente 40% da economia mundial e 80% das
necessidades dos povos dependem dos recursos biológicos existentes e disponíveis.

269
Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

A (ENPVA) é uma rede de base ecológica, que por definição promove e salvaguarda a
Biodiversidade. Pode ser definida para todo o território angolano, partindo do nível nacional, para o
regional, traduzindo uma (ERPVA), e para o municipal, onde assume a designação de (EEM).

Chama-se a atenção para o facto de em termos bibliográficos as fontes consultadas se


concentrarem na definição da ERPVA, mas como o conceito de Estrutura de Protecção e
Valorização Ambiental e os objectivos prevalecem os mesmos, tanto para o nível regional, como
para o nível nacional, diferenciando-se somente a dimensão do território em análise, adaptou-se o
conceito da ERPVA para a proposta de uma ENPVA.

Esta estrutura assume preocupações de defesa da qualidade ambiental, da manutenção da


biodiversidade e da conservação da natureza, daí ser uma estrutura de protecção, e, também, visa
a promoção, reabilitação, recuperação e restauro das componentes ambientais, que a definem
como uma estrutura de “valorização”. (Cangueiro, 2005).

A ENPVA “consiste no conjunto de áreas com valores naturais e sistemas fundamentais para a
protecção e valorização ambiental, tanto na óptica do suporte à vida natural como às actividades
humanas” (PROT-N, 2008). Tem como objectivo garantir em cada território a manutenção, a
funcionalidade e a sustentabilidade dos sistemas biofísicos (ciclos da água, do carbono, do azoto),
assegurando, assim, a qualidade e a diversidade das espécies, dos habitats, dos ecossistemas e das
paisagens.

A ENPVA deve contribuir para o estabelecimento de conexões funcionais e estruturais entre as áreas
consideradas nucleares do ponto de vista da conservação dos recursos, no sentido de contrariar e
prevenir os efeitos da fragmentação e artificialização dos sistemas ecológicos, garantido a
continuidade dos serviços providenciados pelos mesmos, nomeadamente: aprovisionamento (água,
alimento), produção (agrícola, pecuária, florestal, entre outras), regulação (clima, qualidade do ar),
culturais (recreio, educação), científicos (produção e divulgação desconhecimento) e suporte
(fotossíntese, formação do solo).

Nesse sentido, a ENPVA deve garantir a existência de uma rede de conectividade entre os
ecossistemas presentes. Esta rede de conectividade tem como objectivo principal contribuir para
uma maior resiliência dos habitats e das espécies, face a questões tão prementes, como as
previsíveis alterações climáticas, possibilitando as adaptações necessárias aos sistemas biológicos
para assegurarem as suas funções (Oliveira et al., 2012).

270
Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade,
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

Esta estrutura deverá, ainda, assegurar a perenidade de sistemas humanizados que ocorram no
espaço rural, e que se evidenciem na paisagem local e regional, na medida em que estes
constituem um bom exemplo de uma gestão coerente e compatível com a preservação do
património natural e cultural.

Subjacente à definição da ENPVA estão conceitos como os de Estrutura Ecológica. Esta Estrutura
deverá ser considerada como um recurso territorial, à semelhança dos recursos e valores naturais,
das áreas agrícolas e florestais, devendo ser considerada, delimitada e implementada nos vários
Instrumentos de Gestão Territorial, nomeadamente ao nível nacional, regional e municipal
(Magalhães et al., 2013).

A sua concepção e delimitação deverá ser inscrita numa perspectiva de Desenvolvimento


Sustentável, ou seja, o desenvolvimento baseado numa gestão ambiental que satisfaça as
necessidades da geração presente sem comprometer o equilíbrio do ambiente e a possibilidade de
as gerações futuras satisfazerem também as suas necessidades.

Outros conceitos inerentes à definição da ENPVA são a Resiliência Ecológica e o de Serviços dos
Ecossistemas.

O conceito de Resiliência é definido como a capacidade de resposta dos sistemas naturais, aos
distúrbios e alterações que ocorrem, sem comprometerem o seu funcionamento e estrutura iniciais
(Ahern, 2011; Walker e Salt, 2006). A resiliência ecológica está, deste modo, ligada à adaptação e
redução da vulnerabilidade.

O mesmo autor (Ahern, 2011), argumenta que a Resiliência, com toda a sua complexidade, constitui
um poderoso desafio para o planeamento da sustentabilidade do território.

Turner et al (2008), define Serviços dos Ecossistemas como os aspectos dos ecossistemas que
providenciam benefícios para a população. Benefícios esses, com valor ecológico, socio-cultural e
económico (Constanza et al., 1997; de Groot et al., 2002), que podem traduzir-se em bens ou
serviços, com caracter público ou privado (exemplo de alimento, regulação da qualidade
ambiental, qualidade estética, entre outros ) e designados muitas vezes como “capital natural” (de
Groot, 2006).

De acordo com este autor, estes bens e serviços ecossistémicos, entendidos como fluxos de
benefícios para a sociedade, dependem directamente da capacidade da componente biofísica
da paisagem prestá-los com qualidade e da procura que os mesmos têm por parte da sociedade,
para suprir as suas necessidades, sendo por isso necessário estabelecer um equilíbrio entre estes dois

271
Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

factores para se perspectivar um desenvolvimento sustentável. Podemos sintetiza-los em: serviços de


habitat – protecção da biodiversidade/espécies; serviços de provisão – gestão da água e produção
e segurança alimentar; serviços de regulação – adaptação às alterações climáticas; serviços
culturais – recreio, bem-estar, cultura e comunidades, que serão potenciados pela presença de
uma estrutura como a ENPVA.

7.3 CONSTITUIÇÃO DA ENPVA

A ENPVA tem por base os elementos mais representativos das áreas de interesse para a
conservação da natureza e biodiversidade. Deverá ser constituída por Áreas Nucleares e Áreas de
Conectividade Ecológica/Corredores Ecológicos.

As Áreas Nucleares da ENPVA deverão integrar as áreas protegidas de âmbito nacional e outras
áreas classificadas, que no seu conjunto, asseguram um corredor de ligação funcional. Estas áreas
deverão comportar-se como um elemento estruturante fundamental do território, reunindo a esta
escala nacional áreas estratégicas e representativas de todo o sistema de protecção e valorização
ambiental (PROT-N, 2009).

As Áreas de Conectividade ou Corredores Ecológicos, são definidas por áreas que estabelecem a
conexão entre as várias áreas nucleares, e são constituídas pela rede hidrográfica de maior
expressão (principal), pelos habitats naturais e pelos habitats considerados de maior qualidade
(habitats cuja estabilidade no tempo oferece maior garantia de viabilidade e que traduzem
sistemas equilibrados de utilização do solo e de regulação dos ciclos da água e da matéria
orgânica). Deverão integrar as áreas de protecção do litoral e áreas de ligação entre áreas
nucleares.

Em suma, a ENPVA deverá constituir-se como uma estrutura que promova a continuidade entre
áreas de elevado valor ecológico, que contrarie os efeitos da fragmentação dos sistemas e garanta
a continuidade dos serviços providenciados pelos mesmos (Oliveira et al., 2002).

Assim, e tal como foi descrito no capítulo relativo à Conservação da Natureza e Biodiversidade,
consideram-se as seguintes áreas para integrar a ENPVA:

▪ ÁREAS NUCLEARES

 Áreas de Protecção Ambiental e Conservação da Natureza constituída pelas


áreas protegidas classificadas e áreas protegidas especiais (zonas de protecção

272
Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade,
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

especial para a avifauna e sítios de importância regional no contexto da região


africana onde Angola se enquadra);

 Demais áreas classificadas ao abrigo de compromissos internacionais assumidos


pelo estado angolano: IBA’s, sítios Ramsar, Reservas biogenéticas;

 Vegetação natural com elevado valor de conservação, nomeadamente


endemismos;

 Geosítios, património geológico, geologia e litologia.

▪ ÁREAS DE CONECTIVIDADE

 Zonas Húmidas (sapais, pântanos, mangais etc);

 Áreas pertencentes à REN, de onde se destacam os seguintes sistemas: linhas de


água principais; águas de transição e embocadura fluvial; águas interiores
(albufeiras); áreas de protecção do litoral (áreas marinhas e costeiras, praias,
arribas, escarpas);

 Áreas pertencentes à RAN;

 Áreas do Domínio Público Hídrico;

 Florestas autóctones e florestas ribeirinhas.

A dimensão ambiental desta estrutura pressupõe que o território seja entendido como um sistema
integrado, em que se pretende proteger e recuperar as funções naturais dos ecossistemas,
promovendo um desenvolvimento que assenta na diversidade ecológica e que deverá traduzir-se
em benefícios sociais e económicos, tanto em contexto urbano como rural.

7.4 ENQUADRAMENTO NA LEGISLAÇÃO NACIONAL

A ENPVA não tem neste momento nenhuma figura legal que a suporte, lacuna que poderá a vir ser
corrigida futuramente, no entanto e para já, o quadro legislativo nacional existente fornece um
enquadramento legal bastante consistente onde se antevê os pilares para a delimitação deste tipo
de Estrutura.

No contexto do quadro legislativo nacional, considera-se que a implementação da ENPVA deverá


ter em conta o estabelecido na:

▪ Lei de Ordenamento do Território e do Urbanismo, Lei n.º 3/04 de 25 de Junho, com a


previsão de elaboração de um conjunto de instrumentos de ordenamento do

273
Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

território com especial destaque para a elaboração de Planos de Ordenamento


Rural;

▪ Lei de Bases do Desenvolvimento Agrário, Lei n.º 15/05 de 7 de Dezembro, que prevê
a delimitação da RAN, que constitui uma das componentes da Estrutura de
Protecção e Valorização Ambiental, delimitada a todos os níveis territoriais,
nomeadamente ao nível nacional integra a ENPVA, ao nível provincial a ERPVA e à
escala do município, a (EEM);

▪ Conjunto de estratégias nacionais que abordam as temáticas relacionadas com a


ENPVA, concretamente, a biodiversidade, a conservação da natureza e a gestão
de recursos naturais e prevêem medidas concretas de intervenção no território;

▪ Política Nacional de Florestas, Fauna selvagem e Áreas de Conservação elaborada


pelo Ministério da Agricultura e o Ministério do Ambiente, constitui um importante
instrumento legal para as temáticas ligadas à ENPVA;

▪ (NBSAP) que representa um importante documento para assegurar a Conservação


da Biodiversidade e um contributo para a implementação dos objectivos da
Convenção sobre a Diversidade Biológica;

▪ Regulamentação prática à Lei de Ordenamento do Território e do Urbanismo, Lei


n.º 3/04 de 25 de Junho, no que diz respeito à elaboração e aprovação dos Planos
de Ordenamento;

▪ Lei de Ordenamento do Território e do Urbanismo, Lei n.º 3/04 de 25 de Junho, com a


definição de um sistema integrado de normas, princípios, instrumentos e acções de
Administração Publica com vista à gestão e organização do espaço biofísico
territorial, urbano e rural;

▪ Plano Director do Turismo e Inventário dos Recursos Turísticos.

7.5 DELIMITAÇÃO DA ENPVA

Tendo em conta o enquadramento legal nacional pode-se estabelecer um quadro de


oportunidades que sustentam a necessidade de se proceder à delimitação da ENPVA:

▪ Rede Hidrográfica densa e grande reserva de Recursos Hídricos;

▪ Grande Variedade de Habitats e Biomas e consequentemente grande riqueza em


Biodiversidade;

274
Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
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Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

▪ Belezas paisagísticas e outros recursos turísticos;

▪ Presença de valores culturais e relações étnicas que aumentam a resistência e


entravam a desagregação das comunidades locais;

▪ Viabilidade de um rápido desenvolvimento do turismo;

▪ Extensões muito significativas de florestas;

▪ Interesse crescente na criação de áreas de protecção transfronteiriças;

▪ Áreas elevadas de solos com capacidade de se tornarem férteis com escassos inputs
para o sistema edáfico.

A criação de uma Rede de Protecção e Valorização Ambiental, visa contrariars aspectos menos
favoráveis associados a:

▪ Esgotamento dos recursos marinhos;

▪ Erosão acelerada dos solos e processo de desertificação;

▪ Vulnerabilidade face às consequências das previsíveis alterações climáticas;

▪ Diminuição da Resiliência Ecológica do território;

▪ Susceptibilidade à ocorrência de cheias e outros riscos naturais;

▪ Práticas de mineração com consequências ao nível ambiental;

▪ Processo de desflorestação acelerado;

▪ Introdução de plantas exóticas através da agricultura;

▪ Risco de extinção de Fauna selvagem e falta de protecção para a avifauna;

▪ Desmatamentos e queimadas;

▪ Acelerado processo de erosão do solo e ravinamentos;

▪ Reduzida participação da população e comunidades locais na gestão das Áreas de


Protecção Ambiental;

▪ Insuficiente monitorização da aplicação da legislação ambiental;

▪ Ocupação indevida da faixa litoral.

Como foi referido anteriormente, a definição da ENPVA deverá servir de base à definição das
grandes linhas de política para a valorização e conservação dos recursos naturais e paisagísticos
(PROT-N, 2008).

275
Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

A existência de uma estrutura como a ENPVA pressupõe um complexo quadro legal e meios de
monitorização e avaliação do território e da concretização das políticas definidas de modo a
prevenir e acautelar, problemas de ocupação indevida do solo que conduzem a problemas de
ordenamento do território, tais como:

▪ A ocupação indevida de áreas de elevada sensibilidade ecológica por parte das


comunidades, muitas vezes por falta de informação;

▪ Degradação dos solos e do regime hidrológico e das recargas de aquíferos;

▪ Falta de conservação das áreas protegidas, da biodiversidade e das paisagens,


nomeadamente, nas áreas onde ocorrem habitats prioritários;

▪ A destruição e descaracterização de paisagens e práticas agrícolas e silvícolas


tradicionais;

▪ Destruição de vastas áreas de habitats de espécies de fauna e flora através da


desflorestação de vastas áreas e a prática exagerada de queimadas;

▪ A ocupação indevida e poluição de áreas importantes de bacias hidrográficas;

▪ Falta de segurança de pessoas e bens por ocupação indevida de áreas de


sensibilidade ambiental nomeadamente de áreas susceptíveis a ravinamentos;

▪ O agravamento dos processos de erosão e de ravinamentos.

É de salientar que não é assegurada a conservação, recuperação e valorização dos ecossistemas


ribeirinhos, aquáticos e das zonas húmidas, áreas adjacentes das linhas de água e zonas
ameaçadas pelas cheias, e nesse sentido também não é convenientemente salvaguardada a
funcionalidade hidráulica e ecológica, a qualidade da água e a conservação das espécies da
fauna e da flora dependentes destes sistemas

276
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Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

8. QUALIDADE DO AR E ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS

8.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS

Estima-se que as emissões atmosféricas predominantes no país sejam, sobretudo, provenientes da


combustão de combustíveis fósseis. Os transportes rodoviários, as tochas de exploração petrolífera e
os geradores eléctricos são responsáveis pela maior parte das emissões de CO (monóxido de
carbono), COVNM (compostos orgânicos voláteis não metânicos) e chumbo.

As plataformas de exploração petrolífera emitem gases com efeito de estufa (GEE) e


hidrocarbonetos aromáticos policíclicos, concretamente nos diversos pontos de queima, que
podem chegar a ser vários em cada bloco.

O crescimento de áreas urbanas não planificadas e o desenvolvimento anárquico de vários


sectores da indústria são factores que têm contribuído para o aumento dos níveis de poluição do ar.
Com efeito nas cidades, o tráfego intenso associado ao mau estado ou inexistência de pavimento e
passeios, continuam a ser fatores que contribuem não só em termos de monóxido de carbono (CO),
mas também em termos de óxidos de azoto (NOx), dióxido de enxofre (SO2) e partículas. A estes
podem juntar-se as emissões atmosféricas não controladas de fábricas e industrias, como é o caso
das indústrias de cimento em Luanda.

A queima dos resíduos sólidos praticada em todas as províncias, não apenas pela população em
geral mas também por algumas pequenas empresas e até por grandes companhias, está
igualmente associada a emissões poluentes. O mau cheiro resultante da acumulação de resíduos
sólidos e líquidos em determinados locais, como bairros de natureza expontanea, também é factor
de deterioração da qualidade do ar.

As queimadas para a agricultura são outra prática comum,também responsável por emissões
atmosféricas. Em determinadas épocas do ano as queimadas ocorrem em muitas zonas do país e
quando são descontroladas são também associadas à desflorestação. Não houve ainda qualquer
estudo sobre o seu impacte.

Diversos outros fatores condicionam a qualidade do ar, destacando-se:

 Tempo prolongado sem chuvas;

 Elevadas temperaturas;

277
Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
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Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

 Desmatação e desflorestação para produção de energia através da madeira;

 Utilização de carvão como fonte de energia;

 Estradas não asfaltadas.

Estima-se que a qualidade do ar seja boa em grande parte do seu território. Todavia, existe a
necessidade de conhecer a realidade sobre as emissões atmosféricas, de avaliar o estado da
qualidade do ar e de realizar estudos do seu impacte na saúde pública, principalmente a nível
urbano e na vizinhança das explorações petrolíferas. Até porque, dada a expectativa de
desenvolvimento económico, industrial e urbano, estima-se que a vulnerabilidade para o
agravamento da qualidade do ar seja elevada, podendo vir a ser necessário tomar medidas.

O quadro legal começa a desenhar-se no que diz respeito à protecção e preservação do


ambiente. No entanto, um esforço deve ser feito na adopção de normas e medidas de luta contra
a poluição atmosférica, as queimadas florestais e o uso insustentável de carvão vegetal e de lenha
como fontes de produção de energia.

8.2 CARACTERIZAÇÃO DA QUALIDADE DO AR E ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS

8.2.1 Qualidade do Ar

O desenvolvimento industrial e das áreas urbanas, o crescimento do parque automóvel, os atuais


padrões de consumo, a desflorestação e queimadas, entre outros, têm como consequência o
aumento das emissões de poluentes atmosféricos. O crescente aumento das concentrações destas
substâncias na atmosfera, a sua deposição no solo, água e vegetação é responsável por danos à
saúde humana, por reduções importantes na produção agrícola e, de uma forma geral,
desequilíbrios nos ecossistemas.

Até à década de 60 as preocupações incidiam sobretudo sobre a poluição industrial. Mais


recentemente, o desenvolvimento e crescimento dos aspetos referidos, levou à orientação das
preocupações dominantes para a poluição de tipo fotoquímico.

A medição da concentração de poluentes presentes na atmosfera torna-se assim fundamental,


uma vez que os seus resultados permitem não apenas o acompanhamento sistemático da
qualidade do ar mas também a elaboração de diagnósticos, que podem auxiliar o governo em
ações direcionadas para o controlo das emissões e melhoria da qualidade de vida.

278
Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
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Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

O estudo da qualidade do ar é praticamente inexistente, existindo profundas limitações.


Presentemente não de dispõe de uma rede de monitorização de qualidade do ar e,
consequentemente, uma recolha sistemática de dados para análise de aspetos relacionados com
a qualidade do ar e sua caracterização. Apenas as empresas petrolíferas monitorizam as suas
emissões atmosféricas mas estas não têm sido requeridas pelo MINUA e o MINPET não tem tido
capacidade de tratar os dados.

A concentração de poluentes na atmosfera depende das emissões condicionadas por fatores


socioeconómicos, bem como das condições atmosféricas, particularmente ventos e estratificação
térmica, sendo que a variação espacial e temporal destes fatores é também pouco conhecida.
Não dispondo de informações sobre as emissões e apenas alguns dados socioeconómicos e
meteorológicos para algumas das Províncias, a análise da qualidade do ar e sua variação
apresenta, evidentemente, grandes limitações e desconhecimento.

Em termos de inventariação das fontes emissoras de poluentes atmosféricos (naturais ou antrópicas,


fixas ou difusas) existe também um deficit de informação. Para a gestão da qualidade do ar é
fundamental a identificação, qualificação e quantificação das fontes emissoras. O inventário de
fontes de emissão de poluição atmosférica constitui um dos instrumentos de planeamento mais úteis
para um órgão ambiental, uma vez que define qualitativa e quantitativamente as atividades
poluidoras do ar e fornece informações sobre as características das fontes, definindo localização,
magnitude, frequência, duração e contribuição relativa das emissões.

Em suma, atualmente não existe informação e dados disponíveis que permitam de facto conhecer
a realidade sobre o território em matéria de poluição atmosférica, de qualidade do ar e de emissão
de gases com efeito de estufa. É necessário realizar estudos e aprofundar os conhecimentos sobre
esta matéria, bem como desenvolver políticas, estratégias, planos e programas de ação e um
quadro legislativo específico.

8.2.2 Alterações Climáticas

Actualmente é possível identificar-se várias fontes de gases com efeito de estufa de origem
humana, sendo que muitas delas estão na base da satisfação das necessidades energéticas da
população. Estas necessidades básicas estão essencialmente ligadas a produção de energia fóssil e
de biomassa. A primeira é altamente insustentável pois introduz na atmosfera gases com efeito de
estufa e a segunda, apesar de ser renovável, contribui para a perda da diversidade biológica e

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Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

introduz igualmente gases com efeito de estufa na atmosfera, principalmente o dióxido de carbono
(CO2).

As outras actividades que podem ter localmente um impacte sobre a alteração dos principais
parâmetros do clima e contribuir para o aquecimento global do clima incluem os processos de
desflorestação, a queima do gás associado a produção de petróleo, os sistemas de transportes que
privilegiam o transporte individual ao colectivo, a produção de energia a partir de combustíveis
fósseis, determinadas práticas agrícolas e as queimadas incontroladas.

O impacte sobre o ambiente natural e sobre a saúde pública destas actividades é considerável,
não tendo sido ainda devidamente quantificado a nível nacional.

De acordo com os dados do United Nations Development Programme (UNDP) – Climate Change
Country Profiles (McSweeney et al., 2010) relativos às alterações climáticas, verifica-se para o
território nacional, no que respeita à temperatura:

 Um aumento de 1,5ºC na temperatura média no período compreendido entre 1960 e 2006,


representando um aumento de 0,33ºC por década;

 O aumento registado tem sido mais acentuado no inverno, com 0,47ºC por década e, mais
lento no verão, com 0,22ºC por década;

 Os registos de temperatura diários indicam uma tendência de aumento na frequência da


ocorrência de dias “quentes” em todas as estações, bem como de noites “quentes”,
exceptuando o inverno. Da mesma forma, regista-se a tendência para a diminuição da
frequência da ocorrência de dias “frescos” em todas as estações, desde 1960.

Já no que concerne à precipitação:

 A precipitação média em Angola regista uma diminuição média de aproximadamente 2


mm por mês, por década, no período compreendido entre 1960 e 2006, fundamentalmente
devido à diminuição da precipitação nos meses de Marco, Abril e Maio, que sofreram uma
diminuição de 5 mm por mês, por década;

 Não há dados suficientes de precipitação diária que possibilitem a perceção de tendências


na contribuição de fenómenos de precipitação forte para a precipitação total.

As previsões do Global Climate Model (GCM) mencionadas na ficha de Angola do UNDP Climate
Change Country Profiles (McSweeny et al., 2010), indicam alterações futuras nos padrões climáticos

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Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade,
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

angolanos, especialmente no que diz respeito ao aumento da temperatura média e à ocorrência


de fenómenos climáticos extremos, como seja a ocorrência mais frequente de episódios de
precipitação muito forte.

Relativamente à temperatura, os cenários do modelo indicam que:

 A temperatura média tenderá a aumentar entre 1,2ºC e 3,2ºC até 2060 e entre 1,7ºC a 5,1ºC
até 2090;

 As projecções indicam que o ritmo de aumento da temperatura será mais rápido nas zonas
interiores de Angola e mais lento nas zonas costeiras;

 Todos os cenários indicam um aumento na ocorrência de dias e de noites consideradas


“quentes”, de acordo com os actuais padrões climáticos;

 Todos os cenários indicam uma redução na ocorrência de dias e noites consideradas


“frescas”, de acordo com os actuais padrões climáticos. Estas ocorrências tenderão a ser
cada vez mais raras, ocorrendo um máximo de 1 a 4% dos dias do ano e potencialmente
não ocorrerão de todo em 2090, em muitos dos cenários de modelação considerados. A
frequência de ocorrência de noites “frescas” apresenta um decréscimo mais rápido que a
frequência de ocorrência de dias “frescos”.

Relativamente à precipitação, as projecções apresentam resultados com maior variabilidade:

 As alterações à precipitação média variam, de acordo com os cenários de emissão


considerados, entre os -27% e os +20% em 2090, com valores de mediana compreendidos
entre -1% e -6%;

 As projecções de redução de precipitação incidem principalmente nos períodos de


Setembro – Outubro – Novembro e Junho – Julho – Agosto;

 A proporção da precipitação total associada a episódios de chuva intensa irá aumentar em


todas as estações, com excepção de Junho – Julho – Agosto, prevendo-se reduções neste
caso;

 As projecções indicam que no máximo 1-5 dias de chuvas pode aumentar em magnitude
em Dezembro – Janeiro - Fevereiro e Março – Abril - Maio.

281
Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

O UNDP – Climate Change Country Profiles (McSweeney et al., 2010) menciona ainda que as zonas
costeiras de Angola podem ser vulneráveis à subida do nível médio do mar. Os modelos climáticos
projectam para estas zonas, para 2090, uma subida de:

 0,13 a 0,43 m com o cenário SRES (Special Report on Emission Scenarios) B1 (rápido
crescimento económico, introdução de tecnologia amiga do ambiente e mais eficiente);

 0,16 a 0,53 m com o cenário SRES A1B (rápido crescimento económico, rápida disseminação
de tecnologias novas e eficientes, uso equilibrado de energia usando todas as fontes);

 0,18 a 0,56 m com o cenário SRES A2 (nações confiando na produção interna, aumento
contínuo da população, economia orientada regionalmente).

Estes resultados indicam que, mesmo considerando o pior cenário de subida do nível médio do mar,
verificar-se-á um aumento de 0,56 m ao longo de um período de 80 anos, o que se traduz em cerca
de 0,7 cm por ano ao longo de oito décadas.

Em traços globais, o fenómeno das alterações climáticas poderá assumir alguma relevância
fundamentalmente no que concerne ao aumento da temperatura media e a alteração dos
padrões de precipitação.

Outra preocupação consiste no impacte que, mesmo as alterações médias menores, podem ter na
frequência e intensidade de eventos extremos - cheia ou seca.

As cheias reiteradas das captações de Cuvelai/Cunene e a deslocação de milhares de pessoas,


indicam o tipo de tendência esperada. Caso os períodos húmidos sejam seguidos de períodos de
seca, as bacias hidrográficas do Zambezi, que abastecem 32 milhões de pessoas em sete estados
tanto em água como em energia hidroeléctrica, poderão sofrer um impacte negativo. De igual
modo, qualquer redução na produção de água nos rios Cubango e Cuito terá impactes profundos
nas comunidades de Cuando Cubango e no ecossistema do Okavango – de importância crítica
para os dois estados vizinhos.

De especial preocupação é o facto das alterações climáticas serem mais severas para as
populações pobres. Tanto nas zonas rurais como urbanas, a maioria das comunidades vulneráveis
são mais dependentes dos bens e serviços dos ecossistemas, enquanto o rico urbano pode adaptar-
se às crises adquirindo bens e serviços importados, pelo que sofreriam os impactes das alterações
climáticas de forma mais severa. Também são mais vulneráveis a doenças, como a malária, que

282
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Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade,
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

propagam mais rapidamente em condições mais quentes, ou doenças de origem hídrica, tais como
a cólera, que se propaga durante os eventos de cheias.

8.3 ENQUADRAMENTO LEGAL

De âmbito nacional não existe legislação específica que regulamente a Qualidade do Ar, à
excepção de alguns diplomas relacionados com as Alterações Climáticas.

Dado que o país ratificou a Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas,
que tem como objectivo a estabilização das concentrações na atmosfera de gases com efeito de
estufa, a Convenção de Viena para a Protecção da Camada de Ozono e o Protocolo de Montreal
relativo às Substâncias que Empobrecem a Camada de Ozono, estes são os únicos instrumentos
jurídicos sobre esta matéria.

A elaboração de protocolos específicos está prevista no Artigo 17º da Convenção sobre as


Alterações Climáticas. Com base neste artigo e, na constatação de que os compromissos dos países
industrializados não eram suficientes e adequados e na necessidade de se regular as emissões de
Gases de Efeito de Estufa, foi desenvolvido o Protocolo de Quioto. A aprovação da Adesão ao
Protocolo de Quioto ocorreu através da Resolução n.º 14/2007, de 28 de Março.

Angola integra os países Partes do Protocolo não incluídos no Anexo I da Convenção, os quais não
têm obrigações de limitação ou de redução, por se tratarem de países em desenvolvimento, nos
quais o custo de redução, tendo em conta o potencial de crescimento da economia, seria
impeditivo de políticas de crescimento económico. Para estes países, a implementação do
Protocolo de Quioto passa pela aplicação dos mecanismos flexíveis deste Protocolo (a
Implementação Conjunta, o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo e o Comércio Internacional de
Emissões), que servem para apoiar os países desenvolvidos no cumprimento dos seus compromissos
e metas, assim como, envolver os países em vias de desenvolvimento no alcance do
desenvolvimento sustentável e dos objectivos do Protocolo.

A Resolução nº 52/08, de 5 de Junho, aprova a Estratégia Nacional de Implementação da


Convenção Quadro das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas e do Protocolo de Quioto e
visa estabelecer o quadro de intervenção no domínio legislativo, técnico e humano. Esta Estratégia
assenta no envolvimento de Angola no Mecanismo de Desenvolvimento Limpo.

Atualmente, está em curso a implementação do Programa de Acção Nacional de Adaptação


(PANA) ao Protocolo de Quito, aprovado em 2011. Os objetivos deste Programa passam por

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Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

comunicar as necessidades específicas e urgentes do país no que concerne à adaptação às


alterações climáticas identificadas, aumentar a capacidade de resistência nacional às
variabilidades e alterações climáticas que não interfiram nos programas de combate à pobreza,
alcançar o desenvolvimento sustentável e os objetivos de Desenvolvimento do Milénio
estabelecidos pelo Executivo.

Desde 15 de Junho de 2011 que se encontra em vigor o regulamento sobre as regras de produção,
importação, exportação e reexportação de substâncias, equipamentos e aparelhos possuidores de
substâncias destruidoras da camada de ozono, nomeadamente Decreto Presidencial n.º 153/11. A
República de Angola não é um país produtor de substâncias destruidoras da camada de ozono, por
conseguinte as suas preocupações são provenientes de importações. Atualmente, das nove
substâncias regulamentadas pelo Protocolo de Montreal, Angola só consome fluidos refrigerantes
pertencentes à família dos hidroclorofluorcarbonos (HCFCs), no sistema de refrigeração e ar
condicionado.

Está em curso o Programa Nacional de Eliminação Progressiva dos Hidroclorofluorcarbonos, que visa
a redução faseada destas substâncias e que tem como meta final a eliminação, até 2030, e uma
primeira fase de redução em 10% até 2015, no sentido de cumprir com o estipulado no calendário
de eliminação de gases destruidores da camada de ozono pelo Protocolo de Montreal.

A estratégia nacional de eliminação progressiva dos HCFCs foi elaborada com base no
levantamento e compilação de dados, relativos ao uso e consumo de fluidos refrigerantes,
pertencentes a esta família nos sectores de refrigeração e ar condicionado, em 7 províncias, a
referir: Benguela, Cabinda, Huambo, Huíla, Cuanza Sul, Luanda e Namibe que apresentam o sistema
de refrigeração mais organizado ao nível nacional.

Mais recentemente foi aprovado o Plano Estratégico das Novas Tecnologias Ambientais, através do
Decreto Presidencial n.º 88/13, de 14 de Junho. Este plano reconhece a necessidade de se
promover e implementar novas tecnologias ambientais em Angola e, concretamente para o sector
industrial, considerado o sector de atividade da economia com maior ónus na poluição verificada,
o objetivo de suportar a aplicação de tecnologias que mitiguem a poluição originada neste sector.
Tendo por foco a poluição atmosférica, considera a realização de relatórios orientados para a
implementação de um programa de qualidade do ar.

Dentro do quadro jurídico do ambiente refere-se também o decreto sobre a Avaliação de Impacte
Ambiental (Decreto n.º 51/04, de 23 Julho), uma vez que é um instrumento cujo objectivo é o de
aferir os efeitos ambientais que determinados projectos possam ter sobre o ambiente, onde se insere

284
Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade,
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

o ar e o clima, com base em Estudos de Impacte Ambiental previamente elaborados. Sendo a


avaliação do impacte ambiental um requisito para aprovação dos projectos no âmbito do
Mecanismo de Desenvolvimento Limpo estão criadas as condições legais para a sua
implementação.

Em adição, refere-se igualmente o decreto sobre o Licenciamento Ambiental (Decreto n.º 59/07, de
13 Julho) em que da licença ambiental devem constar, entre outras coisas, os documentos de
referência sobre os melhores métodos e técnicas aplicáveis ao exercício da actividade licenciada,
as medidas necessárias ao cumprimento da protecção do ar e os valores limite de emissão para as
substâncias poluentes, susceptíveis de serem emitidas ao longo do exercício da actividade e, o
decreto sobre Auditorias Ambientais (Decreto n.º 1/10, de 13 Janeiro) em que as actividades
susceptíveis de provocarem danos ao ambiente, submetidas a avaliação de impacte ambiental,
são igualmente sujeitas à auditoria ambiental.

Para completar o quadro legislativo de preservação do ambiente e de uso sustentável dos recursos
de diversidade biológica, está em curso de elaboração/aprovação a Lei sobre os Crimes
Ambientais, a regulamentação sobre Auditorias Ambientais, assim como, a Lei sobre as Florestas,
Fauna Selvagem e Áreas de Conservação, que se vêem juntar há Lei de Bases do Ambiente (Lei n.º
5/98, de 19 Junho).

Considerando o carácter transversal das questões ambientais, menciona-se ainda outros diplomas
que estabelecem normas e princípios no sector produtivo e organizacional, contribuindo deste
modo para a protecção ambiental e, consequentemente, para a protecção da qualidade do ar: a
Lei de Terras, a Lei das Florestas, a Lei de Bases do Desenvolvimento Agrário, a Lei do Ordenamento
do Território e Urbanismo, a Lei das Actividades Petrolíferas e o respectivo Decreto sobre a Protecção
do Ambiente nas Actividades Petrolíferas.

Em síntese, tendencialmente regista-se a progressiva produção de leis em matéria de protecção


ambiental, bem como a dinamização e ratificação de acordos internacionais com a concretização
a sua concretização explnada em estratégias e programas nacionais para o efeito. Urge, contudo,
a produção de um quadro legislativo em matéria de emissões atmosféricas e qualidade do ar.

8.4 PROGRAMAS E ESTRATÉGIAS

À data existem os seguintes instrumentos internacionais e nacionais relacionados com a


problemática das alterações climáticas e da qualidade do ar:

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Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

 Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas;

 Convenção de Viena para a Proteção da Camada de Ozono;

 Protocolo de Montreal relativo às Substâncias que Empobrecem a Camada de Ozono;

 Estratégia Nacional de Implementação da Convenção Quadro das Nações Unida sobre as


Alterações Climáticas e do Protocolo de Quito;

 Programa de Acção Nacional de Adaptação ao Protocolo de Quioto;

 Programa Nacional de Eliminação Progressiva dos Hidroclorofluorcarbonos;

 Plano Estratégico das Novas Tecnologias Ambientais.

A nível Provincial ou Municipal não foram identificados quaisquer Programas ou Estratégias.

8.5 ANÁLISE SWOT

Identificam-se em seguida as Potencialidade (pontos fortes), as Fragilidades (pontos fracos), as


Ameaçadas e as Oportunidades no domínio das Alterações Climáticas e Qualidade do Ar, ao nível
nacional, provincial e municipal.

Quadro 32:Alterações Climáticas e Qualidade do Ar - Potencialidades e Fragilidades

POTENCIALIDADES FRAGILIDADES

Âmbito Nacional Âmbito Nacional


▪ Estabilidade e consolidação política do ▪ Inexistência de um quadro legislativo
país; específico em matéria de emissões
▪ Investimento em infraestruturas; atmosféricas e qualidade do ar;
▪ País grande, com densidade ▪ Insuficiência de quadros nacionais
populacional pequena e baixa qualificados escolar e
industrialização; profissionalmente;
▪ Biodiversidade rica, vastas áreas de ▪ Reduzida qualificação de técnicos;
paisagens intactas; ▪ Falta de experiência na aplicação da
▪ Matérias relacionadas com o direito e legislação no domínio ambiental e do
protecção do Ambiente e Ordenamento ordenamento;
do Território incorporadas no texto ▪ Elevada dependência de combustíveis
constitucional; ou eletricidade baseada em
▪ Existência de uma administração do combustíveis fósseis;
Ambiente autónoma (serviços centrais e ▪ Aplicação de métodos alternativos e
desconcentrados); rudimentares para obtenção de
▪ Existência e elaboração de planos energia, com emissões superiores de
estratégicos nacionais; GEE, para fazer face às necessidades

286
Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
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Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

▪ Existência e elaboração de legislação quotidianas;


específica para implementação de ▪ Dificuldades de
políticas do Ambiente e do produção/utilização/distribuição de
Ordenamento do Território e do fontes de energia renovável;
Urbanismo; ▪ Desconhecimento das quantidades
▪ Emissão de relatórios do estado geral do efectivas de emissão de GEE,
ambiente e do ordenamento, pondo em impossibilitando a aplicação do
evidência situações existentes e desafios mecanismo do mercado de carbono
futuros; de forma eficiente, não se usufruindo
▪ Assinatura e/ou ratificação de vários assim das vantagens deste plano, que
tratados internacionais na área visa o incentivo à diminuição de
ambiental; emissões industriais, para posterior
▪ Interesse crescente pelas questões venda de quotas de carbono;
ambientais; ▪ Incapacidade de sequestro de
▪ Potencial de energias renováveis (sol, carbono da floresta e agricultura, de
vento, biomassa…). modo a compensar emissões de GEE
Âmbito Provincial de outros setores;
▪ Crescente preocupação ambiental; ▪ Medidas definidas no relatório
▪ Serviço desconcentrado do Governo submetido à UNFCCC, no âmbito do
com competências específicas na área Protocolo de Quioto, apenas
do Ambiente e Ordenamento, ao nível parcialmente aplicadas;
Provincial: Direcção Provincial do ▪ Dificuldade na aplicação de medidas
Ordenamento do Território, Urbanismo e de redução de emissões eficientes;
Ambiente. ▪ Política de ordenamento de terras
Âmbito Municipal agrícolas pouco eficaz;
▪ Alguns municípios possuem já ▪ Inexistência de estratégicas bem
instrumentos de planeamento territorial definidas de ordenamento do território,
(Plano Director Municipal); de planeamento urbano, de gestão
▪ Zonas compatíveis com reflorestação; ambiental, florestal e agrícola e de
▪ Possibilidade de reflorestação com gestão energética;
espécies locais. ▪ Rede de transportes públicos pouco
desenvolvida;
▪ Desconhecimento dos níveis de
qualidade do ar que permitam
accionar planos de melhoria da
qualidade do ar a diferentes escalas;
▪ Inexistência de dados sobre fontes de
emissão, poluentes atmosféricos e de
qualidade do ar;
▪ inexitência de rede meteorológica;
▪ Inexistência de dados sobre o impacte
da qualidade do ar na saúde pública;
▪ Inexistência de Planos Sectoriais e de
Planos Especiais de Ordenamento do
Território para melhor enquadrar áreas
da administração central (ex.
transportes, ambiente) e a gestão dos
recursos naturais (ex. solo);
▪ Dificuldade em integrar e harmonizar
as questões ambientais, a par do
ordenamento do território;
▪ Dificuldade na obtenção e acesso à
informação e legislação.
Âmbito Provincial

287
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Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

▪ Inexistência de um inventário florestal


das Províncias que permita contabilizar
a reserva actual de carbono;
▪ Inexistência de um levantamento das
fontes poluentes;
▪ Inexistência de Planos Provinciais de
Ordenamento do Território que
definam objectivos relativos ao
planeamento ao nível da região;
▪ Insuficiência de recursos humanos
qualificados em matéria de qualidade
do ar ao nível dos órgãos do Governo
Provincial;
▪ Pouca sensibilização e
consciencialização para o
conhecimento e aplicação da
legislação em vigor directa e
indirectamente relacionada com o
Ambiente.
Âmbito Municipal
▪ Formação ambiental deficitária;
▪ Pouca consciencialização da
população para a necessidade de
preservação do meio ambiente;
▪ Poucos municípios possuem elaborado
e/ou aprovado o respectivo Plano
Director Municipal;
▪ Dispersão do edificado e mistura de
funções e usos do solo, dando origem
a um desordenamento urbano nas
áreas de expansão mais recentes;
▪ Ausência, extrema degradação ou
reduzido nível de infraestruturas de
tratamento de águas residuais;
▪ Inexistência ou ineficácia de sistemas
de recolha, triagem e tratamento de
resíduos;
▪ Sistema público de transportes
deficiente e recurso excessivo ao
transporte individual;
▪ Défice de conservação e de
reabilitação das redes rodoviárias
principalmente as redes municipais
secundárias ou de hierarquia inferior;
▪ Fortes pressões de urbanização,
industrialização e de desenvolvimento;
▪ Reduzido número de espaços verdes
nas áreas urbanas;
▪ Dificuldade na conservação e
valorização das florestas, bem como
no controlo e prevenção de fogos
florestais;
▪ Dificuldade na gestão e valorização de
áreas agrícolas;

288
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Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade,
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

▪ Ausência de conhecimentos técnicos


que permitam praticar uma gestão
sustentável das terras agrícolas;
▪ Forte dependência das condições
atmosféricas.

Quadro 33:Alterações Climáticas e Qualidade do Ar - Desafios e Oportunidades

AMEAÇAS OPORTUNIDADES
Âmbito Nacional Âmbito Nacional
▪ Défice de produção de energia face ▪ Melhoria ambiental e da saúde pública;
às necessidades de consumo ▪ Nova geração de líderes com
industrial e doméstico, sensibilidade e governação ambiental;
comprometendo objectivos de ▪ Formação de quadros nacionais,
desenvolvimento; criação de “know-how” e de emprego;
▪ Aumento das emissões de GEE pelos ▪ Envolvimento de entidades do sistema
sectores agrícola, industrial, científico e tecnológico;
energia/transportes, resíduos e águas ▪ Transferir habilidades de ONG´s para o
residuais; sector governamental;
▪ Aumento da poluição atmosférica ▪ Criar base de dados relativa às fontes
nos principais eixos urbanos devido emissoras e poluentes atmosféricos;
ao aumento do uso de transporte ▪ Criar uma rede de monitorização da
individual e, consequentemente, qualidade do ar nas principais cidades;
aumento do tráfego; ▪ Dispor e implementar políticas e
▪ Aumento da intensidade de legislação apropriada ao nível da
fenómenos climáticos adversos: qualidade do ar e eficiência energética;
precipitação torrencial, cheias, ▪ Dispor de imposições legais ao nível das
temperaturas elevadas, secas; emissões atmosféricas para instalação
▪ Degradação generalizada da de unidades industriais;
qualidade ambiental; ▪ Dispor e implantar políticas ao nível da
▪ Desequilíbrio nos sistemas físicos e gestão de resíduos e das águas
biológicos; residuais;
▪ Alterações na diversidade e ▪ Dispor e implantar políticas de
distribuição de habitats e espécies; preservação e gestão sustentável das
▪ Desflorestação e degradação dos zonas naturais e florestas;
solos; ▪ Desenvolver iniciativas de combate à
▪ Território mais susceptível ao desertificação e às alterações climáticas
fenómeno da desertificação; a nível nacional;
▪ Redução da capacidade de ▪ Estabelecer formas eficazes de cumprir
sequestro de carbono; os objectivos estabelecidos no Protocolo
▪ Maior risco de incêndios e de agentes de Quito relativos às emissões de GEE
bióticos nocivos (pragas, doenças) (licenças de emissão);
potenciados pelas alterações ▪ Implementar programas de gestão das
climáticas; florestas com vista a contribuir de forma
▪ Efeitos negativos no sector agrícola e efectiva para a atenuação dos efeitos
florestal; das alterações climáticas, por via do
▪ Efeitos negativos na saúde pública. aumento da mancha florestal nacional,
e da consequente redução das
emissões de CO2;
▪ Atribuir importância crescente à floresta
Âmbito Municipal no contexto das políticas nacionais
▪ Elevada pressão urbana e industrial; relacionadas com a diversificação das

289
Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
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Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

▪ Expansão urbana e industrial fontes de energia, combate às


desordenada; alterações climáticas e a desertificação;
▪ Aumento do tráfego rodoviário ▪ Potenciar o sector agrícola e de energia
resultante da expansão da malha com base na sustentabilidade
urbana e viária; ambiental;
▪ Aumento descontrolado das áreas ▪ Promover a produção e distribuição de
industriais; fontes de energias renováveis;
▪ Diminuição das áreas florestais; ▪ Tornar o consumo energético mais
▪ Aumento populacional com baixas eficiente, principalmente no que diz
taxas ou inexistência de respeito ao consumo direto de fontes de
infraestruturas de tratamento de energia não renovável (petróleo);
águas residuais e sistemas de recolha ▪ Executar projectos que promovam a
e tratamento adequado de resíduos; mobilidade sustentável;
▪ Emissões elevadas de precursores de ▪ Renovar e expandir a rede ferroviária,
ozono (CO, NOX, COVNM), GEE de forma sustentável e eficiente, como
(CO2, CH4, N2O), substâncias ácidas alternativa de transporte para a
(NH3, SO2), partículas, espécies mobilidade da população no território
cancerígenas (HAP), substâncias Angolano;
tóxicas (dioxinas e furanos) e metais ▪ Melhorar a rede viária e de transportes;
pesados, nos centros urbanos; ▪ Promover a educação ambiental.
▪ Acumulação de resíduos nas zonas Âmbito Provincial
habitacionais, com concentração de ▪ Sensibilizar as autoridades provinciais e a
emissões de compostos odoríferos população em geral para o uso
(H2S,NH3, mercaptanos), compostos sustentável dos recursos a nível local e
orgânicos voláteis e partículas; para a preservação e conservação da
▪ Emissões elevadas de poluentes natureza e da biodiversidade;
atmosféricos como o CO, NO2, SO2, ▪ Promover a educação ambiental das
partículas, COVNM, metais pesados e populações;
dioxinas e furanos, pela queima de ▪ Definir, identificar, localizar e delimitar os
resíduos sólidos; ecossistemas frágeis ou áreas disponíveis
▪ Aumento dos níveis de poluição com para o processo de povoamento e
degradação da qualidade do ar e repovoamento florestal;
de saúde das populações. ▪ Promover a realização de Estudo de
Impacto Ambiental nas áreas previstas
para o povoamento e repovoamento
comercial/industrial.
Âmbito Municipal
▪ Desenvolvimento económico
equilibrado em termos sectoriais
(agricultura, industria,
energia/transportes);
▪ Organização territorial, com
ordenamento e infraestruturação
urbana e industrial;
▪ Construção de novas vias integradas na
rede provincial e nacional;
▪ Execução de projectos que promovam
a mobilidade sustentável
(repavimentação de cidades,
construção de passeios, ciclovias,
transporte colectivo);
▪ Criação de espaços verdes com
vegetação natural angolana;
▪ Infraestruturação do território

290
Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade,
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

relativamente a gestão de resíduos e


águas residuais;
▪ Aposta no desempenho ambiental das
unidades industriais instaladas nos
municípios.

8.6 METAS E MEDIDAS DE IMPLEMENTAÇÃO

Após a realização da Análise SWOT o passo seguinte é o da definição das metas e desenho das
acções, ou seja, medidas concretas a implementar para garantir que as metas definidas sejam
alcançadas.

Atendendo a que o Governo lançou nas últimas décadas alguns documentos relacionados com o
Ambiente e as Alterações Climáticas, nos quais foram inumeradas metas e medidas a implementar,
optou-se por mencionar esses documentos, uma vez que, por um lado, muitas dessas
metas/medidas encontram-se ainda por implementar e, por outro, a realidade sobre estas matérias
permanece ou mesmo intensificou-se.

Assim, propõe-se que seja tido em conta o proposto nos seguintes documentos:

 Relatório de Estado Geral do Ambiente em Angola, elaborado pelo Ministério do Urbanismo


e Ambiente (2006) – este relatório “aponta directrizes para um plano de acção por forma a
ultrapassar as dificuldades e constrangimentos da gestão ambiental” e identifica as
prioridades que permitem fazer face às necessidades imediatas do ambiente, englobando,
entre outros, a qualidade do ar;

 Estratégia Nacional de Implementação da Convenção Quadro das Nações Unida sobre as


Alterações Climáticas e do Protocolo de Quito, elaborado pelo Ministério do Urbanismo e
Ambiente (2007) – este documento estabelece um “quadro de intervenção de Angola no
domínio legislativo, técnico e humano para contribuir para a estabilização das emissões de
gases de efeito de estufa e de desenvolvimento tecnológico do país”;

 Programa de Apoio Estratégico para o Ambiente (2012-2015), estabelecido entre o Governo


de angola e as Nações Unidas – com o objectivo de “reforçar as capacidades nacionais
para enquadrar a protecção ambiental nos planos e programas de desenvolvimento
nacional” incorpora, entre outras, a componente das alterações climáticas;

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Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

 Programa de Acção Nacional de Adaptação ao Protocolo de Quioto – este programa tem


em vista a implementação da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Alterações
Climáticas e do Protocolo de Kyoto;

 Programa Nacional de Eliminação Progressiva dos Hidroclorofluorcarbonos – no sentido de


cumprir com o estipulado no calendário de eliminação de gases pelo Protocolo de
Montreal, tem como meta final a eliminação, até 2030, e a primeira fase de redução a 10%
até 2015;

 Plano Estratégico das Novas Tecnologias Ambientais (2012-2017) - define as linhas de força
para o uso e implementação das novas tecnologias de protecção do ambiente junto dos
sectores de importância estratégica, tais como: urbanismo e construção, agricultura e
florestas, indústria, energia e águas, petróleos, transportes e geologia e minas.

8.7 TENDÊNCIAS

Ao nível das alterações climáticas e da qualidade do ar, o previsível aumento da actividade


industrial associada ao aumento da densidade populacional, acompanhado da exploração não
sustentável dos recursos naturais e do vazio legislativo em matéria de emissões atmosféricas e
qualidade do ar, pode conduzir a uma situação de agravamento da degradação da qualidade do
ar, contribuindo para a degradação de vida das populações com efeitos negativos na saúde
humana.

292
Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade,
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

9. FICHAS DE INDICADORES

A criaçao de um Sistema Nacional de Indicadores e Dados Base sobre o Ordenamento do Território


e o Desenvolvimento Urbano tem como obbjectivo constituir uma ferramenta de suporte para a
monitorização e a avaliação estratégica da implementação das políticas públicas de ordenamento
do território e desenvolvimento urbano e, complementarmente, para as principais políticas públicas
sectoriais com maior impacte na organização e transformção do território e das cidades

O conjunto de indicadorres inferidos e seguidamente apresentados, constituem o primeiro esforço


na criação de uma base de dados nacional que permita a monitorização do trabalho desenvolvido
até ao presente, não petende assumir-se como um Sistema Nacional, mas antes reforçar a
necessidade da sua criação, constituindo um primeiro esforço nesse sentido.

Para o presente capítulo desenvolveu-se fichas de indicadores que versão a seguintes temáticas:

 Estrutura Rural

▪ N.º de Licenças de Construção para Industra em Solo Rural (%)

▪ N.º de Licenças de Construção para Pecuária em Solo Rural (%)

▪ Cadastro Rural (ha)

▪ Emparcelamento Rural (ha)

▪ Área de desflorestamento (ha)

▪ N.º de Planos de Ordenamento Florestal

▪ Área de novas Plantações de Eucalyptus Grandis, E. Saligna e E. duhni

▪ Municipios com cartografia geologica e cadastro mineio

▪ Municipios com Estrutura Ecológica Municipal delimitada

▪ % de solo integrado em Estrutura Ecológica Municipal

▪ N.º de Planos de áreas Protegidas com Plano de Gestão

293
Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

 Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

▪ Emissões atmosféricas

▪ Emissões atmosféricas - Tochas de Explorações Petrolíferas

▪ Consumo total de HCFCs

▪ Indústria pesada

▪ Precipitação

▪ Índice de qualidade do ar

▪ Queimadas agrícolas

▪ Temperatura

▪ Rede viária - tráfego

▪ vento

294
Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade,
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

TEMA
Sub-Tema: Recursos Agrícolas

Indicador: Nº de licenças de construção para industria em solo rural (%)

Descrição Avaliar a percentagem de licenças emitidas para construção de


Sumária:
indústria em solo rural

ESTRUTURA RURAL
Contexto Nacional, Provincial e Municipal
espacial de
Avaliação

Perceber a ocupação do solo agrícola/rural com


Metodologia: impermeabilizações

Relevância Elevada

INE. MINAGRI. Governos Provinciais e Municípios. Sensos


Fontes:
Agricultura

DADOS ESTATÍSTICOS E REPRESENTAÇÃO GRÁFICA

Gráfico de Evolução
Unidade

2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013

ANÁLISE SUMÁRIA:

295
Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

TEMA
Sub-Tema: Recursos Agrícolas

Indicador: Nº de licenças de construção para pecuária em solo rural

Descrição Avaliar a percentagem de licenças emitidas para construção para


Sumária: pecuária em solo rural e perceber a ocupação do solo
agrícola/rural com impermeabilizações

ESTRUTURA RURAL
Contexto Nacional, Provincial e Municipal
espacial de
Avaliação

Perceber a ocupação do solo agrícola/rural com


Metodologia: impermeabilizações

Relevância Elevada

INE. MINAGRI. Governos Provinciais e Municípios. Planos de


Fontes:
Desenvolvimento Rural

DADOS ESTATÍSTICOS E REPRESENTAÇÃO GRÁFICA

Gráfico de Evolução
Unidade

2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013

ANÁLISE SUMÁRIA:

296
Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade,
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

TEMA
Sub-Tema: Recursos Agrícolas

Indicador: Área com cadastro rural (ha)

Descrição Analisar a evolução da área com cadastro rural


Sumária:

ESTRUTURA RURAL
Contexto Nacional, Provincial e Municipal
espacial de
Avaliação

Perceber a progressão da área com cadastro rural e o


Metodologia: ordenamento do território

Relevância Elevada

INE. MINAGRI. Governos Provinciais e Municípios. Planos de


Fontes:
Desenvolvimento Rural

DADOS ESTATÍSTICOS E REPRESENTAÇÃO GRÁFICA

Gráfico de Evolução
Unidade

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2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013

ANÁLISE SUMÁRIA:

297
Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

TEMA
Sub-Tema: Recursos Agrícolas

Indicador: Área com emparcelamento rural (ha)

Descrição Analisar a evolução da área com cadastro rural


Sumária:

ESTRUTURA RURAL
Contexto Nacional, Provincial e Municipal
espacial de
Avaliação

Perceber a progressão da área com emparcelamento e o


Metodologia: ordenamento do território

Relevância Elevada

INE. MINAGRI. Governos Provinciais e Municípios. Planos de


Fontes:
Desenvolvimento Rural

DADOS ESTATÍSTICOS E REPRESENTAÇÃO GRÁFICA

Gráfico de Evolução
Unidade

2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013

ANÁLISE SUMÁRIA:

298
Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade,
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

Sub-Tema: Recursos Florestais

Indicador: Área de desflorestamento (ha)

Descrição Avaliar as áreas que foram alvo de queimadas ou cortes


Sumária:

ESTRUTURA RURAL
Contexto Provincial e Municipal
espacial de
Avaliação

Comparar as áreas que foram desflorestadas com as áreas que


Metodologia: foram repovoadas

Relevância Elevada

INE. MINAGRI. Governos Provinciais e Municípios. Sencos


Fontes:
Agricultura

DADOS ESTATÍSTICOS E REPRESENTAÇÃO GRÁFICA

Gráfico de Evolução
Unidade

2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013

ANÁLISE SUMÁRIA:

299
Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

TEMA
Sub-Tema: Recursos Florestais

Indicador: Nº de Planos Provinciais de Ordenamento Florestal

Descrição Avaliar o nº de Planos Provinciais de Ordenamento Florestal


Sumária: existentes

ESTRUTURA RURAL
Contexto Provincial
espacial de
Avaliação

Perceber as diferenças no território quando existe um plano


Metodologia: provincial e quando não existe

Relevância Elevada

INE. MINAGRI. Governos Provinciais e Municípios. Sencos


Fontes:
Agricultura

DADOS ESTATÍSTICOS E REPRESENTAÇÃO GRÁFICA

Gráfico de Evolução
Unidade

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2005
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2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013

ANÁLISE SUMÁRIA:

300
Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade,
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

TEMA
Sub-Tema: Recursos Florestais

Nº Plantações comunitárias de Eucalyptus grandis, E. saligna e E.


Indicador:
duhni

Descrição Avaliar as áreas com povoamentos que visam a exploração


Sumária: silvícola

ESTRUTURA RURAL
Contexto Nacional, Provincial e Municipal
espacial de
Avaliação

Perceber a importância económica destas plantações e a sua


Metodologia: relação com o desenvolvimento sustentável onde se inserem

Relevância Elevada

INE. MINAGRI. Governos Provinciais e Municípios. Sencos


Fontes:
Agricultura

DADOS ESTATÍSTICOS E REPRESENTAÇÃO GRÁFICA

Gráfico de Evolução
Unidade

2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013

ANÁLISE SUMÁRIA:

301
Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

TEMA
Estrutura Nacional de Protecção e Valorização Ambiental
Sub-Tema:
(ENPVA)

Indicador: Nº de Municípios com cartografia geológica e cadastro mineiro

Descrição Percentagem de Municípios com cartografia geológica e cadastro


Sumária: mineiro relativamente ao total da Provìncia

AMBIENTE
Contexto
espacial de Provincial
Avaliação

Análise dos Planos de Desenvolvimento Provinciais e Estudos


Metodologia:

Relevância Média

Fontes:
MINAMB, Planos Provinciais, Estudos, Universidades

DADOS ESTATÍSTICOS E REPRESENTAÇÃO GRÁFICA

Gráfico de Evolução
Unidade

2003
2004
2005
2006
2007
2008
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2010
2011
2012
2013

ANÁLISE SUMÁRIA:

302
Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade,
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

TEMA
Estrutura Nacional de Protecção e Valorização Ambiental
Sub-Tema:
(ENPVA)

Nº de Municípios com Estrutura Ecológica Municipal (EEM)


Indicador:
delimitada

Descrição Percentagem de Municípios que possuem a Estrutura Ecológica


Sumária: Municipal delimitada ao nível do Plano Director Municipal (PDM)

AMBIENTE
Contexto
espacial de Provincial e Municipal
Avaliação

Análise dos PDM e dos Municípios com Estrutura Ecológica


Metodologia: Municipal delimitada

Relevância Elevada

Fontes:
MINAMB, Planos Provinciais e Planos Directores Municipais

DADOS ESTATÍSTICOS E REPRESENTAÇÃO GRÁFICA

Gráfico de Evolução
Unidade

2003
2004
2005
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2008
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2010
2011
2012
2013

ANÁLISE SUMÁRIA:

303
Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

TEMA
Estrutura Nacional de Protecção e Valorização Ambiental
Sub-Tema:
(ENPVA)

Indicador: Nº Planos de Gestão de Áreas Protegidas

Descrição Percentagem de Áreas Protegidas com Plano de Gestão


Sumária: relativamente ao total da Provìncia

AMBIENTE
Contexto
espacial de Provincial
Avaliação

Análise dos Planos de Desenvolvimento Provinciais e Estudos


Metodologia:

Relevância Média

Fontes:
MINAMB, Planos Provinciais, Estudos, Universidades

DADOS ESTATÍSTICOS E REPRESENTAÇÃO GRÁFICA

Gráfico de Evolução
Unidade

2003
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2013

ANÁLISE SUMÁRIA:

304
Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade,
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

TEMA
Estrutura Nacional de Protecção e Valorização Ambiental
Sub-Tema:
(ENPVA)

Proporção de solo integrado na Estrutura Ecológica Municipal


Indicador:
(EEM)(%)

Descrição Percentagem de espaços classificados como pertencentes à EEM


Sumária: e delimitados nos Planos Directores Municipais (PDM)

AMBIENTE
Contexto
espacial de Provincial, Municipal
Avaliação

Análise dos PDM e dos espaços que compõem a EEM


Metodologia:

Relevância Elevada

Fontes:
MINAMB, Planos Provinciais e Planos Directores Municipais

DADOS ESTATÍSTICOS E REPRESENTAÇÃO GRÁFICA

Gráfico de Evolução
Unidade

2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013

ANÁLISE SUMÁRIA:

305
Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

TEMA
Sub-Tema: Qualidade do Ar

Indicador: Emissões Atmosféricas

Descrição Caracterização das emissões de poluentes de uma região através


Sumária: do um levantamento exaustivo das fontes emissoras
antropogénicas e quantificação das respetivas emissões de: SOx,
NOx, CO, COVNM, NH3 e PM10
Contexto
espacial de Provincial e Municipal
Avaliação

AMBIENTE
A determinação das emissões das diversas fontes deve ser feita,
sempre que possível, com recurso a medições reais. Quando a
medição direta e exaustiva destas emissões não é exequível,
deve-se recorrer a inventários de emissão. Um inventário de
Metodologia: emissões é uma listagem das quantidades de poluentes lançadas
na atmosfera pelas principais fontes poluentes identificadas,
numa dada área e intervalo de tempo. Consoante a fonte em
causa, procede-se ou ao cálculo das emissões com base na
informação disponibilizada pelas fontes selecionadas ou à

Relevância Elevada

Empresas Petrolíferas, industrias, MINPET,MINAMB, MINEA,


Fontes: MIND, MINTRANS, Governos Provinciais e Municípios

DADOS ESTATÍSTICOS E REPRESENTAÇÃO GRÁFICA

Gráfico de Evolução
Unidade

2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011

ANÁLISE SUMÁRIA:

306
Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade,
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

TEMA

Sub-Tema: Qualidade do Ar

Indicador: Emissões Atmosféricas - Tochas de Explorações Petrolíferas

Descrição Quantificação de tochas, sua localização e emissão de relatórios


Sumária: disponibilizando a informação recolhida pelas empresas
petrolíferas relativa às emissões atmosféricas

Contexto

AMBIENTE
espacial de Nacional, Provincial e Municipal
Avaliação:

Levantamento do número de tochas, da sua localização e


tratamento dos dados recolhidos pelas empresas petrolíferas,
Metodologia:
relativos à monitorização das emissões atmosféricas geradas
pela queima de gás de tochas

Relevância: Elevada

Empresas Petrolíferas, MINPET, MINAMB, Governos Provinciais e


Fontes: Municípios

DADOS ESTATÍSTICOS E REPRESENTAÇÃO GRÁFICA

Gráfico de Evolução
Unidade

2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011

ANÁLISE SUMÁRIA:

307
Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

TEMA
Sub-Tema: Alterações Climáticas

Indicador: Consumo total de HCFCs

Descrição Obtenção do valor do consumo total anual de HCFCs, em


Sumária: Potencial de Destruição do Ozono (PDO)

Contexto
espacial de Nacional, Provincial e Municipal
Avaliação
O cálculo deste indicador, segundo o Protocolo de Montreal,
envolve o total da produção nacional de HCFCs, acrescido do

AMBIENTE
total importado e deduzido do total exportado e destruído.
Como Angola não produz HCFCs, o calculo deverá ser feito
através do somatório do total das importações menos o
Metodologia: somatório do total das exportações e das destruições de HCFCs.
O cálculo é feito considerando todas as substâncias em
toneladas de PDO, o que permite uma comparação entre os
países.
Consumo total HCFCs (ton. PDO) = total quantidade importada –
total quantidade exportada – quantidade total destruída

Relevância: Elevada

Industrias/Empresas refrigeração, MIND, MINTRANS, MINAMB,


Fontes:
Governos Provinciais e Municípios

DADOS ESTATÍSTICOS E REPRESENTAÇÃO GRÁFICA

Gráfico de Evolução
Unidade

2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011

ANÁLISE SUMÁRIA:

308
Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade,
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

TEMA
Sub-Tema: Qualidade do Ar

Indicador: Industria Pesada

Descrição Focos de industria pesada e zonas industriais


Sumária:

Contexto

AMBIENTE
espacial de Municipal
Avaliação

Levantamento de industrias pesadas e zonas industriais, por


Metodologia:
município

Relevância Elevada

Fontes: MINAMB, MIND, Governos Provinciais e Municípios

DADOS ESTATÍSTICOS E REPRESENTAÇÃO GRÁFICA

Gráfico de Evolução
Unidade

2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
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2010
2011

ANÁLISE SUMÁRIA:

309
Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

TEMA
Sub-Tema: Qualidade do Ar

Indicador: Precipitação

Descrição Evolução da precipitação total mensal


Sumária:

Contexto
espacial de Nacional, Provincial e Municipal

AMBIENTE
Avaliação

Metodologia: Registo do valor total mensal de precipitação

Relevância Moderada

INAMET, MINEA, MINAGRI, Governos Provinciais e Municípios


Fontes:

DADOS ESTATÍSTICOS E REPRESENTAÇÃO GRÁFICA

Gráfico de Evolução
Unidade

2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011

ANÁLISE SUMÁRIA:

310
Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade,
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

TEMA
Sub-Tema: Qualidade do Ar

Indicador: Índice da Qualidade do Ar

Descrição Ferramenta que permite uma classificação simples e


Sumária: compreensível do estado da qualidade do ar. O índice serve para
traduzir a qualidade do ar, especialmente em cidades e áreas
industriais, recorrendo a poluentes específicos, sendo os mais
recorrentes: dióxido de enxofre (SO2), partículas finas (PM10),
dióxido de azoto (NO2), monóxido de carbono (CO), ozono (O3)

Contexto
espacial de Nacional, Provincial e Municipal

AMBIENTE
Avaliação

O índice da qualidade do ar resulta da média aritmética calculada


para cada um dos poluentes medidos em todas as estações da
rede existentes numa determinada área. Os valores
Metodologia: determinados são comparados com as gamas de concentrações
associadas a uma escala de cores, sendo os poluentes com a
concentração mais elevada (os piores poluentes) os
responsáveis pelo índice

Relevância Elevada

Fontes: MINAMB, Governos Provinciais e Municípios

DADOS ESTATÍSTICOS E REPRESENTAÇÃO GRÁFICA

Gráfico de Evolução
Unidade

2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011

ANÁLISE SUMÁRIA:

311
Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

TEMA
Sub-Tema: Qualidade do Ar

Indicador: Queimadas Agrícolas

Descrição Ocorrência de queimadas agrícolas e área total ardida


Sumária:

Contexto
espacial de Nacional, Provincial e Municipal

AMBIENTE
Avaliação

Registo mensal do número de ocorrências de queimadas


Metodologia:
agrícolas, a par com a área total ardida, por município

Relevância Elevada

Fontes: MINAMB, MINAGRI, Governos Provinciais e Municípios

DADOS ESTATÍSTICOS E REPRESENTAÇÃO GRÁFICA

Gráfico de Evolução
Unidade

2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011

ANÁLISE SUMÁRIA:

312
Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade,
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

TEMA
Sub-Tema: Qualidade do Ar

Indicador: Temperatura

Descrição Evolução da temperatura média mensal do ar


Sumária:

Contexto

AMBIENTE
espacial de Nacional, Provincial e Municipal
Avaliação

Registo da média mensal da temperatura do ar (média, máxima


Metodologia:
e miníma)

Relevância Moderada

INAMET, MINEA , MINAGRI, Governos Provinciais e Municípios


Fontes:

DADOS ESTATÍSTICOS E REPRESENTAÇÃO GRÁFICA

Gráfico de Evolução
Unidade

2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
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2010
2011

ANÁLISE SUMÁRIA:

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Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

TEMA
Sub-Tema: Qualidade do Ar

Indicador: Rede Viária - Tráfego

Descrição Identificação das principais redes viárias com elevado fluxo de


Sumária: tráfego

Contexto
espacial de Nacional, Provincial e Municipal

AMBIENTE
Avaliação

Levantamento das principais redes viárias com elevado fluxo de


Metodologia:
tráfego, por município

Relevância Elevada

Fontes: MINTRANS, Governo Provinciais e Municípios

DADOS ESTATÍSTICOS E REPRESENTAÇÃO GRÁFICA

Gráfico de Evolução
Unidade

2001
2002
2003
2004
2005
2006
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2008
2009
2010
2011

ANÁLISE SUMÁRIA:

314
Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade,
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

TEMA
Sub-Tema: Qualidade do Ar

Indicador: Vento

Descrição Estudo do regime de ventos


Sumária:

Contexto

AMBIENTE
espacial de Nacional, Provincial e Municipal
Avaliação

Registo da velocidade do vento (média, máxima e miníma) e


Metodologia:
direção do vento

Relevância Moderada

INAMET, MINEA , MINAGRI, Governos Provinciais e Municípios


Fontes:

DADOS ESTATÍSTICOS E REPRESENTAÇÃO GRÁFICA

Gráfico de Evolução
Unidade

2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011

ANÁLISE SUMÁRIA:

315
Relatório do Estado de Ordenamento do Território Nacional
Recursos agrícolas, florestais, geológicos e hídricos, mar e zonas costeiras, conservação e biodiversidade
Qualidade do Ar e Alterações Climáticas

10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CAPITULOS: RECURSOS AGRÍCOLAS, FLORESTAIS, CONSERVAÇÃO E BIODIVERSIDADE

Ahern, J., (2002). Greenways as a strategic planning: theory and application. Dissertação de
Doutoramento, Wageningen, Wageningen University.

Alagador, D., Triviño, M., Orestes, J. Brás, R., Cabeza, m. Araújo, M.B. (2012). “Linking like with like:
optimising connectivity between environmentally-similar habitats”, Landscape Ecology, 27, pp 291-
301.

Alcântara-Ayala, I., (2002). Geomorphology, natural hazards, vulnerability and prevention of natural
disasters in developing countries. Time, 47, 107-124.

ANPC (2009). Guia para a Caracterização de Risco no Âmbito da Elaboração de Planos de


Emergência de Protecção Civil, Cadernos Técnicos PROCIV 9, Setembro de 2009. Autoridade
Nacional de Protecção Civil. Lisboa.

Benedict, M.A., McMahon, E.T., ( 2002). “Green Infraestructure; Smart Conservation for the 21st
Century”, Renewable Resources Journal, volume 20, n3, pp12-17.

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