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Sobre o autor

GabrielNome
Pereira
doGonçalves
professor

O autor do caderno de estudos é o prof. M. S. Gabriel Pereira Gonçalves,


brasileiro, natural do Rio de Janeiro (RJ), mestre em Engenharia Civil pela UENF
(2011), especialista em Engenharia de Segurança do Trabalho (Redentor, 2009),
bacharel em Engenharia Civil (Redentor, 2008). Professor do Centro Universitário
Redentor desde 2010 na modalidade presencial, na modalidade à distância, desde
2015. É coordenador e professor do curso técnico de nível médio em Edificações do
Centro de Ensino Técnico Redentor (CETER). Já ministrou as disciplinas de Cálculo1,
Cálculo 2, Mecânica Geral, Mecânica Aplicada, Sistemas Isostáticos, Materiais de
Construção, Engenharia de Segurança do trabalho, Equipamentos, Sistemas
Estruturais e Estruturas de aço e madeira. É Inspetor Regional do CREA-RJ
(Representante em Porciúncula-RJ). Trabalha na área da construção civil, prestando
serviços a empresas privadas e prefeituras como engenheiro civil, elaborando
orçamentos, vistorias, laudos, parecer técnico, entre outros.
Apresentação

Olá querido aluno (a), seja muito bem-vindo (a)!

Parabéns a quem já chegou até aqui.

Você está adentrando a um ramo muito importante da engenharia, que é a


Hidráulica. Atualmente, ela corresponde à aplicação dos conceitos de mecânica dos
Fluidos na solução de problemas ligados à captação, armazenamento, controle,
adução e uso da água. Por isso, a hidráulica desempenha um papel fundamental em
diversas modalidades de engenharia, e não poderia ser diferente no nosso curso.
Em projetos hidráulicos temos que nos depararmos com um conjunto único de
condições físicas com as quais deve estar em conformidade. As dimensões e os
formatos dos sistemas hidráulicos podem variar em poucos centímetros até
quilômetros, como por exemplo, um grande empreendimento de geração de energia
elétrica no Brasil, a Usina Binacional de Itaipú, possuindo uma vazão máxima no
vertedouro de cerca 62.200m³/s e equipada com 20 turbinas, gerando 14.000 MW de
potência instalada (ITAIPÚ BINACIONAL, 2016).
A disciplina foi dividida em 16 aulas, tendo como elementos integrantes de cada
aula, os exemplos, os exercícios resolvidos e as atividades propostas (a serem
resolvidas e encaminhadas como parte da avaliação). Para um bom aproveitamento
deste material, é muito importante que você compreenda bem os exemplos e refaça
todos os exercícios resolvidos até que os conceitos sejam assimilados.
Esse caderno é um guia de estudos dos livros “Engenharia Hidráulica”, cujo
autor é Houghtalen e demais colaboradores (presente na sua biblioteca virtual) e
“Bombas e Instalações de Bombeamento”, cujo autor é Macintyre (Cf. Referências
Bibliográficas). Para seu total sucesso, indico as suas aquisições.
Esperamos que, ao completar as aulas desta disciplina, você tenha logrado
êxito nos estudos; equipando-se, assim, de conteúdo e entusiasmo para os futuros
desafios de seu curso e de sua profissão.

Bons estudos!
Objetivos

Este caderno de estudos tem como objetivos:

 Apresentar os conceitos básicos de hidráulica;


 Identificar as principais propriedades fundamentais da água;
 Calcular as pressões da água e forças de pressão;
 Cálculos de escoamento de fluidos em tubos e redes;
 Dimensionar bombas e instalações de bombeamento;
 Determinar o fluxo da água em canais abertos;
 Estudar os tipos de furos e orifícios na hidráulica;
 Estudar os tipos de Vertedouros;
 Estudar os tipos de Calha parshall.
Sumário

AULA 1 – PROPRIEDADES FUNDAMENTAIS


1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 15
A atmosfera e a pressão atmosférica ........................................................... 15
Definição de fluido .......................................................................................... 16
Propriedades dos líquidos .............................................................................. 16
Massa específica..................................................................................... 16
Peso Específico ........................................................................................ 17
Densidade ................................................................................................ 17
Pressão e viscosidade............................................................................. 18
Tensão superficial e capilaridade......................................................... 22
Elasticidade da água ............................................................................. 23

AULA 2 - FORÇAS DE PRESSÃO


2 INTRODUÇÃO – FORÇAS DE PRESSÃO ..................................................................... 30
Pressão Absoluta e Pressão Manométrica .................................................... 30
Superfície de Mesma Pressão ........................................................................ 33
Manômetro ...................................................................................................... 34
Forças Hidrostáticas Sobre Superfícies Planas .............................................. 36
Forças Hidrostáticas Sobre Superfícies Curvas ............................................. 39
Flutuabilidade .................................................................................................. 41

AULA 3 - ESCOAMENTO DE LÍQUIDO EM TUBOS I


3 INTRODUÇÃO – ESCOAMENTO DE LÍQUIDOS EM TUBOS I ...................................... 50
Número de Reynolds ...................................................................................... 51
Forças de Escoamento ................................................................................... 53
Energia no Escoamento dos Tubos ................................................................ 56
Perda de Carga em Escoamentos Internos .................................................. 60
Perdas de cargas normais ..................................................................... 60
Perdas de cargas localizadas ............................................................... 63
Equações Empíricas para a Perda de Carga de Atrito ............................... 69
AULA 4 - ESCOAMENTO DE LÍQUIDO EM TUBOS II
4 INTRODUÇÃO – ESCOAMENTO DE LÍQUIDOS EM TUBOS II ..................................... 81
Fórmula de Fair-Whipple-Hsiao...................................................................... 82
Perda De Carga De Atrito – Relações De Descarga .................................... 83
Perda de carga em retração e compressão de tubos................................ 84
Método dos comprimentos virtuais ou equivalentes ................................... 86

AULA 5 - TUBULAÇÕES E REDES DE TUBOS


5 INTRODUÇÃO – TUBULAÇÕES E REDES DE TUBOS .................................................. 100
Tubulações e Redes de Tubo ....................................................................... 100
Tubo equivalente .................................................................................. 102
Redes de Tubos ............................................................................................. 105

AULA 6 - BOMBAS HIDRÁULICAS I


6 INTRODUÇÃO – BOMBAS HIDRÁULICAS I .............................................................. 117
Tipos de Bombas ........................................................................................... 118
Aplicações ............................................................................................. 120
Bombas Centrífugas ...................................................................................... 121
Princípios de Funcionamento .............................................................. 122
Geração da Força Centrífuga ............................................................ 123
Conversão da Energia Cinética em Energia de Pressão ................ 124
Partes de uma Bomba Centrífuga ............................................................... 124
Componentes Estacionários ................................................................ 125
Componentes Rotativos....................................................................... 126
Demais classificações das bombas ............................................................ 127
Cavitação em bombas ................................................................................ 130

AULA 7 - BOMBAS HIDRÁULICAS II


7 INTRODUÇÃO – BOMBAS HIDRÁULICAS II ............................................................. 138
Altura manométrica e a perda de carga ................................................... 138
Outras expressões utilizadas ................................................................ 141
Potências e Diâmetros .................................................................................. 145
Potência necessária ao funcionamento da bomba (Pot) ............. 145
Potência instalada ou potência do motor (N) ................................. 145
Diâmetros de recalque e sucção....................................................... 146
Exercícios ................................................................................................ 149
Curvas Características.................................................................................. 152
Curva do sistema .................................................................................. 155
NPSH requerido e NPSH disponível .............................................................. 156

AULA 8 - BOMBAS HIDRÁULICAS III


8 INTRODUÇÃO – BOMBAS HIDRÁULICAS III ............................................................ 170
Associação de bombas ............................................................................... 182
Bombas associadas em série .............................................................. 182
Bombas associadas em paralelo........................................................ 185
Rendimento do conjunto de duas bombas associadas................. 188

AULA 9 - TURBINAS HIDRÁULICAS I


9 INTRODUÇÃO – TURBINAS HIDRÁULICAS I ............................................................. 196
Usina Hidrelétrica .......................................................................................... 196
Tipos de Usinas hidrelétricas ................................................................. 198
Turbinas Hidráulicas ...................................................................................... 199
Característica e Funcionamento das turbinas hidráulicas ............. 201
Classificações das turbinas hidráulicas .............................................. 202
Turbinas Francis ...................................................................................... 203
Turbinas Kaplan ..................................................................................... 204
Turbinas Pelton ....................................................................................... 206
Turbinas Tubulares, Bulbo e Straflo ...................................................... 208

AULA 10 - TURBINAS HIDRÁULICAS II


10 INTRODUÇÃO – TURBINAS HIDRÁULICAS II ............................................................ 215
Perda de Carga Total .................................................................................. 215
Transformação da Energia .......................................................................... 217
Altura estática de sucção ................................................................. 218
Altura de queda bruta ....................................................................... 218
Cálculo de potência e rendimento da turbina ......................................... 220
Escolha do tipo de turbina .......................................................................... 220
AULA 11 - ESCOAMENTO EM CANAIS I
11 INTRODUÇÃO – ESCOAMENTO EM CANAIS .......................................................... 232
Elementos Geométricos da Seção do Canal ............................................ 232
Classificação dos Escoamentos ................................................................. 234
Em relação ao tempo ........................................................................ 234
Em relação ao espaço (L), para um mesmo tempo (t) ................ 234
Exemplos de regime de escoamento.............................................. 234
Escoamento em Regime Fluvial Permanente e Uniforme ........................ 235
Escoamento em Regime Fluvial Permanente e Uniforme ........................ 237
Equações para o cálculo das seções transversais usuais............. 238
Seções de máxima eficiência ........................................................... 239
Velocidades médias (V) aconselháveis e inclinações admissíveis
para taludes dos canais .................................................................................. 240
Folga dos canais ................................................................................. 243

AULA 12 - ESCOAMENTO EM CANAIS II


12 INTRODUÇÃO – ESCOAMENTO EM CANAIS II ....................................................... 250
Critérios Coeficientes e Parâmetros de Projeto......................................... 250
Velocidades admissíveis..................................................................... 254
Profundidade mínima e dimensões mínimas .................................. 255
Drenagem Urbana ....................................................................................... 256
Dispositivos de captação superficial ............................................... 256
Canaletas em degraus ...................................................................... 260

AULA 13 - ORIFÍCIOS E BOCAIS I


13 INTRODUÇÃO – ORIFÍCIOS E BOCAIS I .................................................................. 268
Classificação ................................................................................................ 268
Seção contraída .......................................................................................... 271
Fórmula para cálculo da vazão ................................................................. 272
Orifícios afogados de pequenas dimensões em paredes delgadas
(contração completa) ..................................................................................... 272
Orifícios com escoamento livre de pequenas dimensões em
paredes delgadas (contração completa) ................................................... 275
Orifícios livres de grandes dimensões em paredes delgadas
(contração completa) ..................................................................................... 275
Relação entre CV, CC e CQ ............................................................. 278
Orifício de contração incompleta ................................................... 278

AULA 14 - ORIFÍCIOS E BOCAIS II


14 INTRODUÇÃO – ORIFÍCIOS E BOCAIS II ................................................................. 295
Classificação ................................................................................................ 295
Cálculo de vazão em bocais ..................................................................... 296
Cálculo de vazão em regime permanente .............................................. 297
Escoamento com nível variável (esvaziamento de reservatórios de seção
constante) ............................................................................................................... 298
Perda de carga em orifícios e bocais........................................................ 301

AULA 15 - VERTEDORES
15 INTRODUÇÃO - VERTEDORES .................................................................................. 307
Partes constituintes ...................................................................................... 307
Classificação ................................................................................................ 308
Quanto à forma .................................................................................. 308
Quanto à espessura (natureza) da parede (e) .............................. 308
Quanto ao comprimento da soleira (L) ........................................... 308
Quanto à inclinação da face de montante .................................. 309
Quanto à relação entre o nível da água a jusante (P ’) e a altura
do vertedor (P) .................................................................................................. 310
Equação geral da vazão para vertedores de parede delgada ............. 311
Vertedor retangular contraído de placa delgada ....................... 311
Vertedor retangular sem contração de placa delgada.............. 312
Vertedor triangular e trapezoidal de placa delgada com
contração .......................................................................................................... 312

AULA 16 - MÉTODOS DE MEDIÇÕES DE VAZÃO


16 MÉTODOS DE MEDIÇÕES DE VAZÃO ...................................................................... 320
Métodos de Medição de vazão ................................................................. 320
Método da calha Parshall ................................................................. 321
Método dos flutuadores ..................................................................... 325
Método magnético (eletromagnético)........................................... 328
Método do molinete........................................................................... 328
Método dos orifícios, bocais e tubos curtos .................................... 331
Método do vertedor ........................................................................... 331
Método volumétrico e gravimétrico ................................................ 331
Demais métodos ................................................................................. 332
Iconografia
Aula 1
Propriedades fundamentais

APRESENTAÇÃO DA AULA

Falar em Hidráulica, antes de qualquer coisa, é tratar das propriedades


fundamentais dos fluidos, por isso, em nossa primeira aula, iremos abordar os
conceitos de fluidos e suas principais propriedades fundamentais, como por exemplo,
massa específica, viscosidade, elasticidade, entre outras.
Abordaremos também uma breve introdução dos conceitos de hidráulica, onde
você terá noções de aplicações da disciplina. Você já viu alguns conceitos de
hidráulica ao longo do curso, portanto, revise alguns conteúdos nos cadernos de física.
Mãos à obra!

OBJETIVOS DA AULA

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:

 Entender a definição de hidráulica;


 Distinguir um fluido;
 Conhecer as principais propriedades de um líquido.
P á g i n a | 15

1 INTRODUÇÃO

“Toda a educação científica que não se inicia com a


Matemática é, naturalmente, imperfeita na sua base”.
(Augusto Conte)

A palavra hidráulica vem de duas palavras gregas, são elas “hydor” (que
significa “água”) e “aulos” (que significa “tubo”). Ao longo de anos, a definição de
hidráulica ampliou-se para além do escoamento em tubos. Sistemas hidráulicos são
projetados para acomodar a água em repouso ou em movimento. Dessa forma, a
Hidráulica se divide em Hidrostática, que estuda as condições de equilíbrio dos
líquidos em repouso, e Hidrodinâmica, que trata dos líquidos em movimento.
Os conhecimentos de hidráulica podem ser aplicados em diversas áreas.
Podemos ver na Quadro 1 exemplos de aplicações em diversos empreendimentos.

Tabela 1: Aplicações da hidráulica.


Aterros Diques Medidores Tubos
Barragens Drenos Orifícios Turbinas
Bombas Eclusas Poços Válvulas
Canais Flutuantes Reservatórios Vertedouro
Fonte: GUEDES (2015)

Caro aluno é importante que você compreenda as propriedades físicas dos


fluidos para resolver de maneira adequada os vários problemas existentes nos
sistemas de engenharia hidráulica.

A atmosfera e a pressão atmosférica

A atmosfera é uma camada espessa de gases mistos medindo


aproximadamente 1500 Km. Nas condições próximas ao nível do mar sua composição
é:
 Nitrogênio = 78%;
 Oxigênio = 21%
 Vapor de água, e outros gases = 1%.
P á g i n a | 16

Para uniformizar nossos estudos, iremos considerar nos nossos cálculos a


pressão atmosférica no nível do mar em condições normais sendo igual a 1,014 ×
𝑁
105 𝑚2 , 𝑜𝑢 1𝑏𝑎𝑟. A unidade de pressão para 1 N/m², também é conhecida como 1

Pascal.

Definição de fluido

Por definição, fluidas são substâncias que são capazes de escoar e cujo volume
toma a forma de seu recipiente. Quando em equilíbrio, os fluidos não suportam forças
tangenciais ou cisalhantes. Todos os fluidos possuem certo grau de compressibilidade
e oferecem pequenas resistências à mudança de forma. Podemos distinguir o fluido
em duas classes:
 Líquidos – substância que adquire a forma do recipiente que a contém
possuindo volume definido e, é praticamente, incompressível.
 Gás – É uma substância que ocupa volumes definidos e tem superfície livre
ao passo que uma dada massa de gás expande-se até ocupar todas as partes do
recipiente.

Propriedades dos líquidos

Neste tópico serão abordadas as principais propriedades dos líquidos. Vamos


começar pelos conceitos de massa específica, peso específico e densidade.

Massa específica

A massa é a quantidade de matéria existente da substância. No Sistema


Internacional (SI), a unidade de medida para a massa é o grama ou quilograma (Kg).
A Massa específica de um fluido é definida como a massa por unidade de
volume. Sua unidade SI é Kg/m³. Sua fórmula é:
𝑚 𝑚𝑎𝑠𝑠𝑎
𝜌= =
𝑉 𝑣𝑜𝑙𝑢𝑚𝑒
P á g i n a | 17

Mais relações são expressas abaixo:

1𝑔 1𝑘𝑔 1𝑇 1000 𝑘𝑔
3
= = =
𝑐𝑚 𝑑𝑚3 𝑚3 𝑚3

Peso Específico

É o seu peso por unidade de volume.

𝑊 𝑃𝑒𝑠𝑜
𝛾= =
𝑉 𝑉𝑜𝑙𝑢𝑚𝑒

Lembrando: Peso = massa x gravidade.


No SI, N/m³.
Segue abaixo alguns valores de peso específico:

𝐾𝑔𝑓
 Água: 𝛾 = 1000 ≈ 10000 𝑁/𝑚3 (* arredondando a gravidade para
𝑚3

g=10m/s²)
𝐾𝑔𝑓
 Mercúrio: 𝛾 = 13600 ≈ 136000 𝑁/𝑚3 (* arredondando a gravidade para
𝑚3

g=10 m/s²)

Densidade

A densidade é uma grandeza adimensional para simplificar a caracterização de


um fluido. Está relacionada à massa ou peso de um dado volume de fluido com a
massa ou o peso de igual volume de água a uma temperatura de 4°C e a pressão
atmosférica normal.
Sua fórmula é:
𝜌 𝛾
𝑑= =
𝜌á𝑔𝑢𝑎 𝛾á𝑔𝑢𝑎

Na tabela 1 são apresentadas as massas específicas, pesos específicos e


densidades do ar e da água em condições normais. Na tabela 2, podemos verificar o
peso específico da água em relação à temperatura.
P á g i n a | 18

Tabela 2: Massa e peso específico e densidade.

Massa específica Peso Específico (𝜸) Densidade


(𝝆)
SI (Kg/m³) SI (N/m³)

Ar 1,23 12,1 0,00123


Água (4° C) 1000 9810 1

Fonte: PORDEUS, 2016 - adaptado

Tabela 3: Pressão de vapor de água.


Temperatura (°C) Peso específico (N/m³)
0° (gelo) 8996
0° (água) 9800
4 9810
10 9800
20 9790
30 9771
40 9732
50 9692
Fonte: HOUGHTALEN, 2013 - adaptado

Exercícios:
1) Um aquário armazena 0,5 m³ de água. O peso do aquário é 5090 N quando
cheio e 200 N quando vazio. Determine a temperatura da água.
Solução:
O peso da água é calculado por
A (água) = 5090 – 200 = 4890 N
O peso específico da água é:

𝛾 = 4890 𝑁/(0,5 𝑚3 ) = 9780 𝑁/𝑚³

Para calcularmos a temperatura temos que verificar a Tabela 2.


Logo, 𝑇 ≅ 25°𝐶.

Pressão e viscosidade

A pressão é definida como a relação entre a força aplicada perpendicularmente


à superfície e a área dessa superfície.
P á g i n a | 19

A ilustração abaixo mostra as representações da tensão Normal, ou


simplesmente pressão, e a tensão de cisalhamento.

Figura 1: Esforços de superfície.

Fonte: PORDEUS, 2016 - adaptado

A pressão P (Figura 2) pode ser definida por:

∆𝐹𝑛
𝑃 = lim
∆𝐴→0 ∆𝐴

Onde:

∆𝐹𝑛 → 𝑓𝑜𝑟ç𝑎 𝑛𝑜𝑟𝑚𝑎𝑙 𝑐𝑜𝑚𝑝𝑟𝑒𝑠𝑠𝑖𝑣𝑎

∆𝐴 → á𝑟𝑒𝑎 𝑑𝑎 𝑠𝑢𝑝𝑒𝑟𝑓í𝑐𝑖𝑒

𝑃 → 𝑃𝑟𝑒𝑠𝑠ã𝑜.

Unidades: 1 𝑁/𝑚2 (𝑆𝐼) = 1𝑃𝑎𝑠𝑐𝑎𝑙 (𝑃𝑎)

Figura 2: Definição de Pressão.

Fonte: PORDEUS, 2016 - adaptado

A viscosidade de um líquido se manifesta quando este entra em movimento.


Deste modo, podemos definir como a sua resistência à deformação, quando
este possui maior ou menor capacidade de tomar a forma do recipiente que ocupa.
P á g i n a | 20

Os fluidos comuns, os que são estudados nesta


disciplina (água, ar óleos), pertencem aos chamados fluidos
Newtonianos em que a relação entre a tensão tangencial de
atrito e o gradiente da velocidade, na direção normal ao
escoamento, é linear.

Desta forma, a tensão de cisalhamento e a taxa de deformação por


cisalhamento (gradiente de velocidade) podem ser relacionadas pela equação:
𝑑𝑣
𝜏 = 𝜇. ( )
𝑑𝑦
Onde:
𝜇 → 𝑣𝑖𝑠𝑐𝑜𝑠𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑎𝑏𝑠𝑜𝑙𝑢𝑡𝑎
𝜏 → 𝑡𝑒𝑛𝑠ã𝑜
𝑑𝑣
→ 𝑣𝑒𝑙𝑜𝑐𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑑𝑜 𝑒𝑙𝑒𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 𝑑𝑜𝑓𝑙𝑢𝑖𝑑𝑜
𝑑𝑦

A viscosidade absoluta da água em temperatura ambiente (20,2°C) é igual a 1


centipoise (cP), que equivalem a um cem avos (1/100) de um poise:
𝑠 𝑠
1 𝑝𝑜𝑖𝑠𝑒 = 0,1𝑁. 2 = 100𝑐𝑃 𝑜𝑢 (1 𝑁. 2 = 1000 𝑐𝑃)
𝑚 𝑚
Segundo Houghtalen (2013), na prática da engenharia, costuma ser
conveniente conhecer o termo viscosidade cinemática, 𝑣 = 𝜇/𝜌. Sua unidade é cm²/s.
As viscosidades absoluta e cinemática da água são apresentadas na Tabela 3.

Tabela 4: Viscosidades da água em relação à temperatura.


Água
Temperatura
Viscosidade (𝝁) – Viscosidade
(°C)
N.s/m² cinemática (𝒗) – m²/s
1,781 x 10-3
0 1,785 x 10-6

5 1,581 x 10-3 1,519 x 10-6


10
1,307 x 10-3 1,306 x 10-6

15 1,139 x 10-3 1,139 x 10-6

20 1,002 x 10-3 1,003 x 10-6


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Fonte: HOUGHTALEN, 2013 - adaptado

Exercício:
1) Um prato plano de 50 cm² está sendo puxado sobre uma superfície plana
fixa a uma velocidade constante de 45 cm/s. Um filme de óleo de viscosidade
desconhecida separa o prato e a superfície fixa a uma distância de 0,1 cm. Estima-se
que a força T necessária para puxar o prato é 31,7 N, e a viscosidade do fluido é
constante. Determine a viscosidade (absoluta).
Solução:
Sendo um óleo um fluido newtoniano, teremos a equação:

𝑑𝑣
𝜏 = 𝜇. ( )
𝑑𝑦

Como 𝜏 = 𝑇/𝐴, isolando a viscosidade, teremos:

𝑑𝑣 𝑇/𝐴
𝜇 = 𝜏/ ( )=
𝑑𝑦 𝑑𝑣
𝑑𝑦

31,7𝑁
𝜇=( ) ÷ [(45 𝑐𝑚/𝑠)/0,1𝑐𝑚]
50 𝑐𝑚2
𝜇 = 1,41 × 10−3 𝑁. 𝑠/𝑐𝑚2

Convertendo para SI:

𝜇 = 14,1 𝑁. 𝑠/𝑚²

Para saber mais sobre Tensão superficial, não deixe de acessar:


<http://coral.ufsm.br/gef/Fluidos/fluidos20.pdf>.
<http://www.spq.pt/magazines/BSPQ/618/article/30001960/pdf>.
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Tensão superficial e capilaridade

Segundo Ferreira (2004), a tensão superficial da água está presente nas


interfaces entre líquido-líquido, gás-líquido, sólido-gás e sólido-líquido e pode ser
comparada a um filme elástico esticado. A força que se faz sentir em qualquer linha
imaginária da superfície por unidade de comprimento é a sua grandeza. A tensão
superficial pode ser percebida em uma agulha de aço boiando na água, a forma
esférica de gotas de orvalho e a elevação e a baixa de líquidos capilares.
A tensão superficial se origina das forças de atração intermoleculares que são
denominadas forças de coesão. Quando um líquido está em contato com uma
superfície sólida (vidro, por exemplo) outras forças de atração acontecem e são
chamadas de forças de adesão. Quando um tubo capilar, aberto em ambas as
extremidades, é inserido no líquido, o resultado da competição entre estas forças pode
ser notado.

Figura 3: Ações Capilares.

Fonte: HOUGHTALEN, 2013

Na figura 3, podemos observar que as forças de adesão são maiores que as


de coesão. Desta forma, as moléculas de água são atraídas mais fortemente pelo
vidro do que entre si. O resultado é que a água vai molhando o vidro e a superfície
assume a forma mostrada. A tensão superficial proporciona uma força F atuando na
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fronteira circular entre a água e o vidro. Esta força é orientada pelo ângulo ϕ, que é
determinado pela competição entre as forças de coesão e de adesão. A componente
vertical de F puxa a água para cima no tubo até a altura h. A esta altura a componente
vertical de F se contrapõe ao peso da coluna de água de comprimento h.
Se substituirmos a água por mercúrio, as forças de coesão serão maiores que
as de adesão. Os átomos de mercúrio são atraídos mais fortemente entre si do que
pelo vidro. Como consequência o mercúrio não molha o vidro. Agora, ao contrário do
caso anterior, a tensão superficial proporciona uma força F, cuja componente vertical
puxa o mercúrio para baixo até uma distância h no tubo.
O valor da ascensão capilar pode ser calculado por:

4𝜎𝑠𝑒𝑛𝜃
ℎ=
𝛾𝐷

Onde 𝜎 𝑒 𝛾 representam a tensão superficial e a unidade de peso específico do


líquido, respectivamente, e D é o diâmetro interno do tubo vertical.

Elasticidade da água

Segundo Houghtalen (2013), é comum se assumir que a água não pode ser
comprimida sob condições normais, porém ela é cerca de cem vezes mais
compressível do que o aço.
A compressibilidade da água é inversamente proporcional ao módulo de
elasticidade do volume, 𝐸𝑏 , também conhecido como módulo de compressibilidade.
Sua fórmula pode ser escrita por:

∆𝑉𝑜𝑙
∆𝑃 = −𝐸𝑏 . ( )
𝑉𝑜𝑙

Onde:

𝑣𝑜𝑙 → 𝑣𝑜𝑙𝑢𝑚𝑒 𝑖𝑛𝑖𝑐𝑖𝑎𝑙


∆𝑃 𝑒 ∆𝑉 → 𝑣𝑎𝑟𝑖𝑎çã𝑜 𝑑𝑒 𝑝𝑟𝑒𝑠𝑠ã𝑜 𝑒 𝑣𝑜𝑙𝑢𝑚𝑒
P á g i n a | 24

Exemplo:
1) No nível do mar, a densidade da água salgada é 1.026 Kg/m³. Determine a
densidade da água salgada no fundo do oceano, a 2000 m de profundidade, onde a
107 𝑁
pressão é aproximadamente 2,02 × .
𝑚2

Solução:
Calculando a variação de pressão a 2000m, temos:

∆𝑃 = 𝑃 − 𝑃𝑎𝑡𝑚 = 2,02 . 107 − 1 . 105 = 2,01 . 107 𝑁/𝑚²

Reescrevendo a fórmula:

∆𝑉𝑜𝑙 ∆𝑉𝑜𝑙 −∆𝑃


∆𝑃 = −𝐸𝑏 . ( 𝑉𝑜𝑙 ) → ( 𝑉𝑜𝑙 ) = , logo:
𝐸𝑏

−2,01. 107
= −0,00914
2,2. 109
Como:

𝑚 𝑚
𝜌= → 𝑣𝑜𝑙 =
𝑣𝑜𝑙 𝜌

Então:

𝑚 𝑚 ∆𝑣𝑜𝑙 𝜌𝑜
∆𝑣𝑜𝑙 = − → = −1
𝜌 𝜌𝑜 𝑣𝑜𝑙𝑜 𝜌

De modo que:

𝜌𝑜 1026
𝜌= ( )= = 1040 𝐾𝑔/𝑚³
∆𝑣𝑜𝑙 1 − 0,00914
1+
𝑣𝑜𝑙𝑜
Resumo

Nesta aula você viu que:

 A definição de hidráulica e suas aplicações;


 A definição de fluidos;
 As propriedades dos líquidos, enfatizando: massa e peso específicos,
densidade, pressão e viscosidade, tensão superficial, capilaridade e
compressibilidade.
Complementar

Para saber um pouco mais, consulte seu livro de Hidráulica na sua


biblioteca virtual ou acesse:
<https://www.agro.ufg.br/up/68/o/1.1.2__Propriedades_dos_fluidos.pdf>.
Referências Bibliográficas

Básica:
Ferreira, J. P. M. Tensão Superficial – sua natureza e efeitos. Artigo
publicado em revista científica: Química – Boletim da Sociedade Portuguesa de
Química, 2004.

Gomes, M. H. R. Apostila de Mecânica dos Fluidos. Faculdade de


Engenharia – Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF. Acessado em 2016
através de: <http://www.ufjf.br/engsanitariaeambiental/files/2012/09/Apostila-de-
Mec%C3%A2nica-dos-Fluidos.pdf>.

Houghtalen, R. J.; Hwang, Ned H. C; Osman Akan, A. Engenharia Hidráulica.


4ª Edição. Pearson Education do Brasil, 2013.

Pordeus, R. V. Fenômeno de Transporte (Mecânica dos Fluidos).


Universidade Federal Rural do Semi-Árido – UFERSA. Acessado em 2016 através de:
<http://www2.ufersa.edu.br/portal/view/uploads/setores/111/arquivos/CAP_1_DEFINI
COES.pdf>.

Vasconcelos, M. M. V. M. Hidráulica Geral (Apontamentos das Aulas


Teóricas). Universidade de Évora. Évora/Portugal, 2014. Acessado em 2016 através
de:
<https://dspace.uevora.pt/rdpc/bitstream/10174/5997/3/Apontamentos%20de%20HG
.pdf>.
Exercícios
AULA 1

1) Um contêiner pesa 863 N quando é preenchido com


água e 49 N quando esta vazia. Quanto de água (a 20°C) o
contêiner armazena em metros cúbicos?

2) Sabendo-se que 800gramas de um líquido enchem um cubo de 0,08m de


aresta, obter a massa específica desse fluido.

3) Enche-se um frasco com 30,6 g de ácido sulfúrico. Repete-se a


experiência, substituindo o ácido por 1,66 g. Obter a densidade do ácido sulfúrico.

4) Devido ao acréscimo de dp = 200 Pa, um fluido apresenta diminuição de


2,5% do seu volume inicial. Achar o módulo de elasticidade desse fluido.

5) Um prato plano de 60 cm² está sendo puxado sobre uma superfície plana
fixa a uma velocidade constante de 40 cm/s. Um filme de óleo de viscosidade
desconhecida separa o prato e a superfície fixa a uma distância de 0,1 cm. Estima-se
que a força T necessária para puxar o prato é 32 N, e a viscosidade do fluido é
constante. Determine a viscosidade (absoluta).

6) No nível do mar, a densidade da água salgada é 1.026 Kg/m³. Determine a


densidade da água salgada no fundo do oceano, a 1800 m de profundidade, onde a
pressão é aproximadamente 1, 91 × 107 𝑁/𝑚².

Lista de exercícios complementares:


Faça os exercícios das páginas 7 e 8 do Livro do Engenharia Hidráulica.
Aula 2
Forças de pressão

APRESENTAÇÃO DA AULA

Nesta aula vamos abordar os conceitos de pressão da água e as forças de


pressão.
É importante apreender bem esses conceitos, pois o entendimento garantirá
sucesso nos tópicos seguintes.

OBJETIVOS DA AULA

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:

 Entender os conceitos e calcular a pressão absoluta e manométrica;


 Entender os tipos de manômetros;
 Resolver problemas, envolvendo forças hidrostáticas sobre superfícies
planas;
 Resolver problemas, envolvendo forças hidrostáticas sobre superfícies
curvas;
 Entender os conceitos de flutuabilidade.
P á g i n a | 30

2 INTRODUÇÃO – FORÇAS DE PRESSÃO

“O pensamento lógico pode levar você, de A a B, mas a


imaginação te leva a qualquer parte do Universo”. (Albert
Einstein)

Segundo Houghtalen (2013), um objeto na superfície da água está sujeito à


pressão atmosfera e seu valor é aproximadamente igual a uma coluna de água de
altura 10,33m no nível do mar. Dentro de uma água em repouso, é acrescentada uma
pressão adicional, maior que a atmosfera, chamada de pressão hidrostática. Segue
abaixo algumas características básicas da pressão em um líquido:
 Pressão é perpendicular à superfície;
 Pressão aumenta com a profundidade
 Pressão age comprimindo um corpo
 Pontos situados em um mesmo líquido e na mesma horizontal ficam sujeitos
à mesma pressão;
 A superfície livre dos líquidos em equilíbrio é horizontal.

Pressão Absoluta e Pressão Manométrica

Para determinarmos a variação da pressão hidrostática entre 2 pontos na água


A e B, podemos usar equação reduzida abaixo utilizando o Princípio de Stevin:

𝑃𝐵 − 𝑃𝐴 = 𝛾. ℎ

Onde:

A diferença de pressão entre dois pontos imersos em


água em repouso é sempre igual ao produto do peso
específico da água e à diferença na elevação entre dois
pontos. Se os dois pontos estiverem na mesma direção h = 0
e PA = PB.
P á g i n a | 31

A soma entre a pressão exercida pelo líquido mais a pressão atmosfera é


chamada de pressão absoluta. O resultado obtido, utilizando a pressão atmosférica
como base, é denominado pressão manométrica.
A figura 4 apresenta graficamente a relação entre a pressão absoluta e a
pressão manométrica e dois mostradores típicos de manômetros.
A pressão manométrica P é calculada por:

𝑃 = 𝑃𝑎𝑏𝑠 − 𝑃𝑎𝑡𝑚

Ou por:

𝑃 = 𝛾. ℎ ↔ ℎ = 𝑃/𝛾

Sendo h = altura da coluna de água ou altura de carga.


De forma mais geral podemos reescrever a altura de carga:
𝑃𝐵 𝑃𝐴
− = ∆ℎ
𝛾 𝛾

Figura 4: Pressões absoluta e manométrica.

Fonte: HOUGHTALEN (2013)


P á g i n a | 32

Exemplo:
1) Dois pistões cilíndricos A e B apresentam diâmetros de 3 cm e 20 cm,
respectivamente. As faces dos pistões estão na mesma elevação, e os espações entre
eles são preenchidos com óleo hidráulico incompressível. Uma força P de 100 N é
aplicada ao final da manivela, conforme mostra a figura 5. Qual o peso W que o
macaco hidráulico pode suportar?

Figura 5: Macaco hidráulico.

Fonte: HOUGHTALEN (2013)

Dica: “Para resolvermos essa questão, teremos que se lembrar do


Princípio de Pascal: ” “Uma pressão aplicada em qualquer ponto em um
líquido em repouso é transmitida igualmente e sem redução para todas as
direções para todos os outros pontos no líquido”.

Solução:
Equilibrando os momentos produzidos por P e F em torno do pino de conexão,
temos:

100 𝑁 . 100𝑐𝑚 = 𝐹 . 20 𝑐𝑚
F = 500 N

Cálculo das pressões:

𝐹 𝑊
𝑃𝐴 = 𝑒 𝑃𝐵 =
𝜋. 32 /4 𝜋. 202 /4
P á g i n a | 33

Pela lei de Pascal: PA = PB

500 𝑊
=
7,07 314
𝑊 = 2,22 × 104 𝑁

Superfície de Mesma Pressão

Para entender os conceitos estabelecidos pelos vasos comunicantes, vejamos


a figura 6.

Figura 6: Pressão hidráulica em compartimentos.

Fonte: HOUGHTALEN (2013)

Na figura 6 (a), os pontos 1, 2, 3 e 4 possuem a mesma pressão, ou seja, o


plano horizontal que passa pelos pontos é chamado de superfície de mesma pressão.
Na figura 6 (b), mesmo os pontos 5 e 6 estando no mesmo plano horizontal,
suas pressões não são iguais. Isso ocorre, devido à água nos dois tanques não serem
conectadas. A figura 6 (c) apresenta tanques cheios de dois líquidos imiscíveis de
densidades diferentes. No plano 7 e 8, tendo o mesmo líquido, as pressões são iguais,
já o plano contendo os pontos 9 e 10 reside em líquidos diferentes, o que não estará
na superfície de mesma pressão.
P á g i n a | 34

Manômetro

O dispositivo responsável pelas medições de pressões usando colunas de


líquido em tubos verticais (ou inclinados) é o manômetro.
Tipos de manômetros:
<https://www.youtube.com/watch?v=iGADiHJQIA8>.
<https://www.youtube.com/watch?v=0OEbIUM5vaE>.

Os manômetros de tubo U podem ser classificados, conforme ilustração da


figura 7, em: Manômetro aberto, possuindo uma extremidade aberta à pressão
atmosférica, e o Manômetro diferencial, possuindo cada uma de suas extremidades
conectadas a um fole de pressão distinta.

Figura 7: Tipos de manômetros: (a) aberto e diferencial (b).

Fonte: HOUGHTALEN (2013)

Para calcularmos as pressões, devemos usar as fórmulas abaixo:


 Em manômetros abertos:
𝑃𝐴 = 𝛾𝑀 − (𝛾.Y)

 Em manômetros diferenciais:
𝛾𝑀 + 𝛾. (𝑌 − ℎ) + 𝑃𝐵 = 𝛾. 𝑌 + 𝑃𝐴 𝑜𝑢 ∆𝑃 = 𝑃𝐴 − 𝑃𝐵 = ℎ. (𝛾𝑀 − 𝛾)
P á g i n a | 35

Vamos praticar no exemplo abaixo:


1) Um manômetro de mercúrio (massa específica = 13,6 g/cm³) é usado para
medir a diferença de pressão nos compartimentos A e B (massa específica da água
igual a 1 g/cm³), como demonstra a figura 8. Determine a diferença de pressão em
pascais.

Figura 8: Manômetro.

Fonte: HOUGHTALEN (2013)

Solução:
Analisando a superfície de mesma pressão:
P3 = P4 e PA = P1 = P2
𝑃3 = 𝑃2 + 𝛾. 27 = 𝑃𝐴 + 𝛾. 27
𝑃4 = 𝑃𝐵 + 𝛾. 135 + 𝛾𝑀 . 15

Observando que 𝛾𝑚 = 𝛾
∆𝑃 = 𝑃𝐴 − 𝑃𝐵 = 𝛾. (135 𝑐𝑚 − 27 𝑐𝑚) + 𝛾𝑀 . 15 𝑐𝑚
∆𝑃 = 𝛾. [1,08 𝑚] + 𝛾𝑀 . 0,15 𝑚 = 9800 . (1,08) + 13,6 . 10³ . 9,8 . 0,15
∆𝑃 = 30576 𝑁/𝑚2 = 30576 𝑃𝑎
P á g i n a | 36

Forças Hidrostáticas Sobre Superfícies Planas

Não podemos esquecer!


Nos fluidos em repouso, a força de pressão é
perpendicular à superfície. A pressão varia linearmente,
aumentando com a profundidade h.

Em uma superfície horizontal, temos:

p = .h e F = p.A

Onde p é a pressão uniforme sobre a superfície e A é a área da mesma. Como


a pressão é constante e uniformemente distribuída ao longo da superfície, então a
força resultante atua no centróide da área.
Quando quisermos analisar paredes verticais, observa-se que a pressão não é
uniforme, vejamos na figura 9.

Figura 9: Empuxo lateral.

Fonte: CENGEL e CIMBALA (2007)

Vejamos como determinar direção, sentido, localização e magnitude da força


resultante, FR, atuando do lado de cima da superfície em contato com a água, para a
superfície inclinada da figura:
P á g i n a | 37

Para uma dada profundidade, h, a força que atua em dA, perpendicular à dA é:

dF   hdA
Desenvolvendo a equação, chegamos à fórmula geral da força resultante:

𝐹𝑅 = 𝛾. ℎ̅. 𝐴
Onde:

ℎ̅ → 𝑑𝑖𝑠𝑡â𝑛𝑐𝑖𝑎 𝑣𝑒𝑟𝑡𝑖𝑐𝑎𝑙 𝑑𝑜 𝑐𝑒𝑛𝑡𝑟𝑜𝑖𝑑𝑒 𝑎𝑏𝑎𝑖𝑥𝑜 𝑑𝑎 𝑠𝑢𝑝𝑒𝑟𝑓í𝑐𝑖𝑒 𝑑𝑎 á𝑔𝑢𝑎.


𝐴 → á𝑟𝑒𝑎

Definindo yp como a distância medida do eixo x até o centro de pressão, temos:

𝑦𝑝 = 𝐼𝑥 /𝑀𝑥

Onde:

𝐼𝑥 → 𝑀𝑜𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 𝑑𝑒 𝑖𝑛é𝑟𝑐𝑖𝑎
𝑀𝑥 → 𝑀𝑜𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 𝑒𝑠𝑡á𝑡𝑖𝑐𝑜 𝑑𝑎 𝑠𝑢𝑝𝑒𝑟𝑓í𝑐𝑖𝑒 𝑝𝑙𝑎𝑛𝑎

Com relação ao centroide do plano, a relação pode ser escrita como:

𝐼𝑜 + 𝐴𝑦̅² 𝐼𝑜
𝑦𝑝 = = + 𝑦̅
𝐴𝑦̅ 𝐴𝑦̅

Onde:

𝐼𝑜 → 𝑚𝑜𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 𝑑𝑒 𝑖𝑛é𝑟𝑐𝑖𝑎 𝑛𝑜 𝑝𝑙𝑎𝑛𝑜


𝐴 → á𝑟𝑒𝑎 𝑑𝑎 𝑠𝑢𝑝𝑒𝑟𝑓í𝑐𝑖𝑒 𝑝𝑙𝑎𝑛𝑎
𝑦̅ → 𝑑𝑖𝑠𝑡â𝑛𝑐𝑖𝑎 𝑒𝑛𝑡𝑟𝑒 𝑜 𝑐𝑒𝑛𝑡𝑟𝑜𝑖𝑑𝑒 𝑒 𝑜 𝑒𝑖𝑥𝑜 𝑥.
P á g i n a | 38

Para o cálculo de centroide e momento de inércia


utilize as tabelas do Anexo 1, ao final do caderno. Faça
uma revisão sobre centroide e momento de inércia
acessando seu material online de mecânica geral.

Exercício:
1) Uma comporta vertical trapezoidal com extremidade superior localizada 5 m
abaixo da superfície livre da água é mostrada na Figura 7. Determine a força de
pressão total e o centro de pressão na comporta. Dados: 𝛾 = 9790 𝑁/𝑚³

Figura 7: Comporta trapezoidal (Fonte: Houghtalen, 2013).

Solução:
A força de pressão total é determinada na fórmula geral da força resultante:

𝐹𝑅 = 𝛾. ℎ̅. 𝐴

Calculando separadamente:
ℎ. (2𝑎 + 𝑏) 2. [(2 × 1) + 3]
ℎ̅ = (5 𝑚𝑒𝑡𝑟𝑜𝑠) + =5+ = 5,83
3. (𝑎 + 𝑏) 3. (1 + 3)
𝑎+𝑏 (3 + 1)
𝐴 = ℎ. = 2. =4
2 2

Resolvendo 𝐹𝑅 :
𝐹𝑅 = 2,28 × 105 𝑁 𝑜𝑢 228 𝐾𝑁
P á g i n a | 39

A localização do centro de pressão é:


𝐼𝑜
𝑦𝑝 = + 𝑦̅
𝐴𝑦̅

Onde:
23 . [12 + 4. (1). (3) + 32 ]
𝐼𝑜 = = 1,22 𝑚4
36. (1 + 3)
𝑦̅ = 5,83 e A=4

Logo:
1,22
𝑦𝑝 = + 5,83 = 5,88 𝑚
4. (5,83)

Forças Hidrostáticas Sobre Superfícies Curvas

A intensidade da força hidrostática resultante que age sobre a superfície curva


pode ser calculada pela soma vetorial entre Fx e Fy:

𝐹𝑅 = √𝐹𝐻2 + 𝐹𝑉2

E a tangente do ângulo que ela forma com a horizontal é:


𝑡𝑔 ∝ = 𝐹𝑉 / 𝐹𝐻

O local exato da linha de ação da força resultante pode ser determinado


tomando um momento com relação a um ponto apropriado.

Obs. Quando a superfície curva é um arco circular, a


linha de ação da força resultante sempre passa pelo centro
do círculo, porque as forças de pressão são normais à
superfície.
P á g i n a | 40

A força FV (componente vertical) é calculada por: FV = Fy – W, onde W


é o peso do líquido deslocado.

Exemplo:
4) Determine a pressão hidrostática total e o centro de pressão no quadrante
da comporta que mede 5 m de comprimento e 2 m de altura e é exibida na figura 8.

Figura 10: Comporta curva.

Fonte: HOUGHTALEN (2013)

Solução:
Calculando a componente horizontal e vertical:
1
𝐹ℎ = 𝛾. ℎ̅. 𝐴 = (9790𝑁 /𝑚³). ( . 2𝑚) . [(2 𝑚). (5 𝑚)] = 97900 𝑁
2
9790 𝑁 1
𝐹𝑣 = 𝛾. (𝑉𝑜𝑙) = ( 3
) . ( 𝜋. (2 𝑚)2 ) . (5𝑚) = 154000 𝑁
𝑚 4

O centro da pressão está localizado a 4.(2)/3𝜋 = 0,85 m e a força resultante:

𝐹𝑅 = √97900² + 154000² = 182000 𝑁


∝ = 𝑡𝑔−1 ( 𝐹𝑉 / 𝐹𝐻 ) = 57,6°

Para saber mais sobre Tensão superficial, não deixe de acessar:


P á g i n a | 41

<http://fisicaessencial.blogspot.com.br/2012/03/empuxo-de-
arquimedes.html>.
<http://www.fisica.net/hidrostatica/principio_de_arquimedes_empuxo.php>.

Flutuabilidade

Quando se mergulha um corpo em um líquido, seu peso aparente diminui,


chegando às vezes a parecer totalmente anulado (quando o corpo flutua). Esse fato
se deve à existência de uma força vertical de baixo para cima, exercida no corpo pelo
líquido, a qual recebe o nome de empuxo.
O Princípio de Arquimedes diz que “Todo corpo imerso, total ou parcialmente,
num fluido em equilíbrio, dentro de um campo gravitacional, fica sob a ação de uma
força vertical, com sentido ascendente, aplicada pelo fluido. ” “Esta força é
denominada empuxo (E), ou força de flutuação, cuja intensidade é igual ao peso do
líquido deslocado pelo corpo. ” (ARQUIMEDES, 220 A.C).
Um exemplo clássico da aplicação do Princípio de Arquimedes são os
movimentos de um submarino.

<https://www.youtube.com/watch?v=HpGSzUwvEMA&t=49s>.
<https://www.youtube.com/watch?v=Vls9E6TUB-w>.

Seu cálculo é determinado por:


𝐸 = 𝐹𝑧 = 𝛾. 𝑉𝑑𝑒𝑠𝑙𝑜𝑐𝑎𝑑𝑜
Onde:
𝐸 → 𝑒𝑚𝑝𝑢𝑥𝑜
𝛾 → 𝑝𝑒𝑠𝑜 𝑒𝑠𝑝𝑒𝑐í𝑓𝑖𝑐𝑜
𝑉 → 𝑣𝑜𝑙𝑢𝑚𝑒 𝑑𝑜 𝑙í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑜 𝑑𝑒𝑠𝑙𝑜𝑐𝑎𝑑𝑜
Resumo

Nesta aula você viu os conceitos de pressão e força da água, aprendendo:

 Conceitos e cálculo de pressão absoluta e manométrica;


 Teoria da superfície de mesma pressão;
 Os tipos de manômetros;
 Cálculos das forças hidrostáticas em superfícies planas e curvas;
 Empuxo.
Complementar

Podemos fazer três importantes considerações com relação ao


empuxo:
a) se ρL < ρc, tem-se E < P e, neste caso, o corpo afundará no líquido.
b) se ρL = ρc, tem-se E = P e, neste caso, o corpo ficará em equilíbrio
quando estiver totalmente mergulhado no líquido.
c) se ρL > ρc, tem-se E > P e, neste caso, o corpo permanecerá boiando
na superfície do líquido.

Dessa forma, é possível se determinar quando um sólido flutuará ou


afundará em um líquido, simplesmente conhecendo o valor de sua massa
específica.

Para saber um pouco mais, use como referência o livro de Engenharia


Hidráulica (HOUGHTALEN, 2013) de sua biblioteca virtual e acesse os arquivos
em sua plataforma contendo os exercícios complementares.
Referências Bibliográficas

Básica:
ÇENGEL, Y. A. e CIMBAIA, J. M. Mecânica dos fluidos: fundamentos e
aplicações. São Paulo: McGraw-Hill, 2007.

FOX, Robert W.; MCDONALD, Alan T. Introdução à mecânica dos fluidos.


4ª Edição. Rio de Janeiro: LTC - Livros Técnicos e Científicos, 2001.

GOMES, M. H. R. Apostila de Mecânica dos Fluidos. Faculdade de


Engenharia – Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF. Acessado em 2016
através de: <http://www.ufjf.br/engsanitariaeambiental/files/2012/09/Apostila-de-
Mec%C3%A2nica-dos-Fluidos.pdf>. Acesso em: 10 jan. 2017.

HOUGHTALEN, R. J.; HWANG, Ned H. C; OSMAN, A. Engenharia Hidráulica.


4ª Edição. Pearson Education do Brasil, 2013.

PORDEUS, R. V. Fenômeno de Transporte (Mecânica dos Fluidos).


Universidade Federal Rural do Semi-Árido – UFERSA. Acessado em 2016 através de:
<http://www2.ufersa.edu.br/portal/view/uploads/setores/111/arquivos/CAP_1_DEFINI
COES.pdf>. Acesso em: 10 jan. 2017.
Exercícios
AULA 2

1) Se alguém exerce uma força de 100 N na alavanca do macaco hidráulico da


figura abaixo, qual a carga que o macaco pode levantar?

Figura 11: Exercícios.

2) No manômetro diferencial mostrado na figura, o fluido A é água, B é óleo e


o fluido manométrico é mercúrio. Sendo h1 = 25 cm, h2 = 100 cm, h3 = 80 cm e h4 =
10cm, determine qual é a diferença de pressão entre os pontos A e B.
Dados: γh20 = 10000 N/m³, γHg = 136000 N/m³, γóleo = 8000 N/m³.

Figura 12: Exercícios.


P á g i n a | 46

3) O tubo A da figura contém tetracloreto de carbono com peso específico


relativo de 1,6 e o tanque B contém uma solução salina com peso específico relativo
da 1,15. Determine a pressão do ar no tanque B sabendo-se que a pressão no tubo A
é igual a 1,72 bar.

Figura 13: Exercícios.

4) Uma comporta vertical trapezoidal com extremidade superior localizada 8m


abaixo da superfície livre da água é mostrada na figura abaixo. Determine a força de
pressão total e o centro de pressão na comporta. Dados: 𝛾 = 9790 𝑁/𝑚³

Figura 14: Exercícios.

8m
P á g i n a | 47

5) Uma comporta semicircular invertida está instalada a 45° com relação à


superfície livre da água. O topo da comporta está 5 pés abaixo da superfície livre da
água na direção vertical. Determine a força hidrostática e o centro de pressão sobre a
comporta.

Figura 15: Exercícios.

6) Determine a pressão total hidrostática e o centro de pressão na comporta


semicilíndrica da figura abaixo.

Figura 16: Exercícios.


P á g i n a | 48

7) À medida que água sobe do lado esquerdo da comporta retangular, esta se


abre automaticamente. A que altura da articulação, se dá a abertura? Desprezar o
peso da comporta.

Figura 17: Exercícios.

Fonte: FOX et al., (2006)


Aula 3
Escoamento de líquidos em tubos I

APRESENTAÇÃO DA AULA

A aula 3 introduz os princípios básicos do fluxo de água em tubos. Esses


princípios são aplicados em problemas práticos de tubulações e redes de tubo. Iremos
aprender a calcular: força de reação em um determinado componente hidráulico
(peça de redução, curva de 90°, etc.), a pressão e velocidade antes e depois destes
componentes e em qualquer ponto do duto, e calcular as perdas de cargas por atrito
ao longo do tubo e nos seus componentes.

OBJETIVOS DA AULA

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:

 Entender os tipos de trajetórias das partículas em escoamentos em


tubo;
 Saber utilizar a equação de Bernoulli nas forças de escoamento;
 Calcular a força de reação em articulações;
 Entender as três formas básicas de energia em escoamentos;
 Calcular a perda de carga em escoamentos.
P á g i n a | 50

3 INTRODUÇÃO – ESCOAMENTO DE LÍQUIDOS EM TUBOS I

“O indivíduo mais limitado pode ser completo, se se


move dentro das fronteiras das suas capacidades e das suas
disposições pessoais”. (Goethe)

Segundo Houghtalen (2013), o termo pressão de escoamento em tubos


refere-se ao fluxo total de água em condutos fechados de seção transversal circular
sob determinado gradiente de pressão. Para uma dada descarga (Q), o escoamento
em qualquer localização pode ser descrito pela seção transversal, a elevação do tubo,
a pressão e a velocidade do escoamento no tubo.
Para que você entenda melhor os tipos de escoamentos, vamos a um exemplo
bem simples para demonstrar os escoamentos laminares e turbulentos citados por
Fox (2006).
Abrindo uma torneira para uma vazão pequena, a água escoará para fora
suavemente, de forma “vitrificada” (contínua), agora, se você aumentar a vazão, a
água sairá de forma agitada, caótica. No primeiro momento o escoamento é laminar,
é aquele no qual as partículas fluidas movem-se em camadas lisas, ou lâminas.
No segundo momento, teremos um escoamento turbulento onde as partículas
fluidas rapidamente se misturam, devido a flutuações aleatórias no campo
tridimensional de velocidades.
São apresentados na figura 18, exemplos típicos de trajetórias de cada um
desses escoamentos. A turbulência é um fenômeno quase sempre indesejável,
porém é inevitável, criando uma maior resistência ao escoamento.

Figura 18: Trajetórias de partículas em escoamentos unidimensionais laminar e turbulento.

Fonte: FOX (2006)


P á g i n a | 51

Na maioria dos cálculos de engenharia, a seção velocidade média (V) é definida


como a descarga (Q) pela área da seção transversal (A):

𝑄
𝑉=
𝐴

Onde a unidade Q, em SI, vale: m³/s.

Número de Reynolds

Ao final do século XIX, o engenheiro britânico Osborne Reynolds realizou um


experimento (ver figura 19-a) em um tubo, e descobriu que a transição de fluxo laminar
para o fluxo turbulento em um tubo, na verdade depende não só da velocidade, mas
também do diâmetro do tubo e da viscosidade do fluido.

Figura 19: Experimento de Reynolds.

Fonte: VILANOVA (2011)

Além disso, ele postulou que o início da turbulência estava relacionado a um


número-índice em particular. Essa taxa adimensional ficou conhecida como número
de Reynolds (NR).
P á g i n a | 52

Sua fórmula é:
𝐷. 𝑉
𝑁𝑅 =
𝑣

Onde:
D = diâmetro do tubo
V = velocidade
𝑣 = viscosidade cinemática do fluido
𝜇 = viscosidade absoluta, sendo:

Como: 𝑣 = 𝜇/𝜌, 𝑁𝑅 também pode ser:

𝐷. 𝑉. 𝜌
𝑁𝑅 =
𝜇

Através do número de Reynolds, pode-se determinar o escoamento do líquido.


Verifica-se um escoamento laminar com 𝑁𝑅 < 2000 a 2300 e turbulento para 𝑁𝑅 > 4000.
Para valores entre esses limites, o escoamento poderá ser turbulento ou laminar, ou
seja, transiente (figura 19-b).
Analisando a água, em condições normais, ela perde energia à medida que
escoa ao longo de um tubo e grande parte dessa perda é causada por atrito contra as
paredes do tubo e a dissipação da viscosidade ao longo do escoamento.
Exercício:
1) Um tubo circular de 40 mm de diâmetro transporta água a
20°C. Calcule a maior taxa de fluxo na qual pode ser esperado fluxo
laminar.
Solução:
Vamos aos dados:
Viscosidade 𝑣 = 1 × 10−6 𝑚2 /𝑠 (Ver tabela 4 da aula 1);
NR=2000 (limite conservador superior para o fluxo laminar).

Calculando a velocidade:
𝐷. 𝑉 0,04. 𝑉
𝑁𝑅 = = = 2000
𝑣 1 × 10−6
P á g i n a | 53

1 × 10−6
𝑉 = 2000. = 0,05 𝑚/𝑠
0,04

Calculando a taxa de fluxo:


𝜋
𝑄 = 𝐴. 𝑉 = . (0,04)2 . 0,05 = 6,28 × 10−5 𝑚3 /𝑠
4

Forças de Escoamento

Para iniciarmos este assunto, vamos analisar a figura 20. Para a descrição geral
do fluxo, permite-se que a área de seção transversal e a elevação do tubo variem ao
longo da direção axial do fluxo.

Figura 20: Descrição geral do fluxo em tubos.

Fonte: HOUGHTALEN (2013)

Quando analisamos fluxos incompressíveis, como a água, o fluxo de massa


(massa fluida) que entra o volume de controle, deve ser igual ao fluxo de massa que
deixa o volume de controle. Em outras palavras, temos o princípio da conservação da
massa:

𝐴1. 𝑉1 = 𝐴2. 𝑉2 = 𝑄 (𝑣𝑎𝑧ã𝑜 𝑜𝑢 𝑑𝑒𝑠𝑐𝑎𝑟𝑔𝑎)


P á g i n a | 54

Esta equação é conhecida na hidráulica como, equação de continuidade.


Aplicando a segunda lei de Newton à massa em movimento no volume de controle e
desenvolvendo a equação, obtemos o princípio de conservação do ímpeto ou equação
impulso-quantidade.
Expresso em notação vetorial, teremos:
 Direção do eixo X: ∑ 𝐹𝑥 = 𝜌. 𝑄. (𝑉𝑥2 − 𝑉𝑥1)
 Direção do eixo Y: ∑ 𝐹𝑦 = 𝜌. 𝑄. (𝑉𝑦2 − 𝑉𝑦1)
 Direção do eixo Z: ∑ 𝐹𝑧 = 𝜌. 𝑄. (𝑉𝑧2 − 𝑉𝑧1)

No geral, podemos escrever:


⃗⃗⃗⃗⃗⃗ − ⃗⃗⃗⃗⃗⃗
∑ 𝐹⃗ = 𝜌. 𝑄. (𝑉2 𝑉1)

Exemplo:
2) Um bocal horizontal (figura 21) descarrega 0,01 m³/s de água
a 4°C no ar. O diâmetro do tubo de abastecimento (DA = 40 mm) é duas
vezes maior do que o diâmetro do bocal (DB=20 mm). O bocal é
mantido na posição por um mecanismo de articulação. Determine a magnitude e a
direção da força de reação na articulação, se o medidor de pressão em A indicar
500000 N/m². (Considere desprezível o peso suportado pela articulação).

Figura 21: Fluxo através de um bocal horizontal.

Fonte: HOUGHTALEN (2013)


P á g i n a | 55

Solução:
A força pode ser calculada pela equação de conservação do ímpeto. As forças
hidrostáticas são:
𝜋
𝐹𝑥𝐴 = 𝑃. 𝐴𝐴 = 500000 . . 0,042 = 628 𝑁
4
𝐹𝑌𝐴 = 0
𝑄 0,01
𝑉𝐴 = =𝜋 = 7,96 𝑚/𝑠
𝐴𝐴 . (0,04)²
4

Sendo a vazão Q do ponto A igual do ponto B:


𝑄 0,01
𝑉𝐵 = =𝜋 = 31,8 𝑚/𝑠
𝐴𝐵 . (0,02)²
4

Calculando as componentes x e y de 𝑉𝐵 , temos:


𝑉𝐵𝑥 = 31,8. cos(60°) = 15,9 𝑚/𝑠
𝑉𝐵𝑦 = 31,8. 𝑠𝑒𝑛(60°) = 27,5 𝑚/𝑠

Na substituição das equações de ∑ 𝐹, vamos considerar a convenção abaixo


como positiva.

∑ 𝐹𝑥 = 𝜌. 𝑄. (𝑉𝑥2 − 𝑉𝑥1), onde:


998 𝑘𝑔 0,01 𝑚3
628 𝑁 − 𝐹𝑥 = . . (15,9 − 7,96)𝑚/𝑠
𝑚3 𝑠

Isolando 𝐹𝑥 , teremos:
𝐹𝑥 = −549 𝑁 𝑜𝑢 549 𝑁 ← (𝑓𝑜𝑟ç𝑎 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑒𝑠𝑞𝑢𝑒𝑟𝑑𝑎)
∑ 𝐹𝑦 = 𝜌. 𝑄. (𝑉𝑦2 − 𝑉𝑦1), onde:
998 𝑘𝑔 0,01 𝑚3
−𝐹𝑦 = . . (−27,5 − 0)𝑚/𝑠
𝑚3 𝑠
𝐹𝑦 = −274 𝑁 𝑜𝑢 274 𝑁 ↓

A força resultante será calculada por:


𝐹 = [(549)2 + (274)2 ]1/2 = 614 𝑁
P á g i n a | 56

Sua direção:
𝐹𝑦
𝜃 = 𝑡𝑔−1 ( ) = 26,5°
𝐹𝑥

Energia no Escoamento dos Tubos

A maior porção de energia está contida nos tubos em três formas básicas e
estas podem ser demonstradas por meio da avaliação do fluxo em uma seção comum
do tubo (ver figura 22). A três formas básicas são:
1
 Energia cinemática (taquicarga): 𝐸𝑐 = 2 . 𝑚𝑣²;

 Energia potencial (hipsocarga): 𝐸𝑃𝑜𝑡 = 𝑚𝑔ℎ;


 Energia de pressão (piezocarga):𝐸𝑃 = 𝑚𝑔𝑃/𝛾.

Para compreendermos as energias e suas perdas de


“cargas” nos escoamentos em tubos, devemos conhecer
os conceitos de Bernoulli. Vejamos!

Princípio de Bernoulli: Em pontos ao longo de um


fluxo de corrente horizontal, regiões de maior pressão têm
velocidade de fluido menor e pontos de pressão menor têm
velocidade de fluido maior.
Equação de Bernoulli: é, em sua essência, uma forma
mais geral e matemática do princípio de Bernoulli que também leva em
consideração variações na energia potencial gravitacional. A equação de
Bernoulli relaciona a pressão, a velocidade e a altura de quaisquer dois pontos
(1 e 2) em um fluxo constante de fluido de densidade (ver figura 22).
P á g i n a | 57

Figura 22: Energia total e perda de altura no fluxo de um tubo.

Fonte: HOUGHTALEN (2013)

Pela condição do escoamento se dar em regime


permanente podemos afirmar que tanto a massa (m), como o
peso do fluido, que atravessa uma dada seção do
escoamento, é constante ao longo do mesmo. Por este motivo,
é comum considerar a energia, ou por unidade de massa, ou por unidade de
peso do fluido, além disto, esta consideração origina uma unidade facilmente
visualizada: a carga.
Esta equação está escrita na forma de alturas de carga, mas também pode ser
escrita em termos de pressão:
1 1
𝑃1 + . 𝜌. 𝑉12 + 𝜌. 𝑔. ℎ1 = 𝑃2 + . 𝜌. 𝑉22 + 𝜌. 𝑔. ℎ2
2 2

Ou simplesmente:
1 1
𝑃1 + . 𝜌. 𝑉12 + 𝛾. ℎ1 = 𝑃2 + . 𝜌. 𝑉22 + 𝛾. ℎ2
2 2

Define-se carga como sendo a relação da energia pelo peso do fluido, portanto
a carga total em uma seção i (Hi) pode ser definida por:

𝑉𝑖2 𝑃𝑖
𝐻𝑖 = + + ℎ𝑖
2𝑔 𝛾
P á g i n a | 58

É importante notarmos na figura 5 a diferença entre a’ e a”, que iremos chamar


de perda de altura (ℎ𝐿 ) entre as seções 1 e 2.
Substituindo na equação acima e desenvolvendo, teremos:

𝑃1 − 𝑃2
= ℎ𝐿
𝛾

Exemplos:
3) Um tubo vai entregar um líquido de massa específica 1090 Kg/m³ conforme
a figura 23. A velocidade e a pressão manométrica do líquido no ponto 1 são 3 m/s e
12300 Pa, respectivamente. No ponto 2, 1,2 m acima, está se movendo com uma
velocidade de 0,750 m/s. Calcule a pressão manométrica no ponto 2.

Figura 23: Detalhe da tubulação entre os pontos A e B.

Fonte: <https://pt.khanacademy.org/science/physics/fluids/fluid-dynamics/a/what-is-
bernoullis-equation>.

Solução 1:
Dados:
1090 𝐾𝑔
𝜌=
𝑚3

𝑘𝑔 (9,8)𝑚
𝛾 = 𝜌. 𝑔 = 1090 . = 10682𝑁/𝑚³
𝑚3 𝑠2
𝑃1 = 12300 𝑃𝑎 = 1

2300 𝑁/𝑚²

ℎ1 = 0 𝑒 ℎ2 = 1,2 𝑚
P á g i n a | 59

3𝑚
𝑉1 = 𝑉2 = 0,75 𝑚/𝑠
𝑠

Para calcularmos P2, vamos utilizar a equação de Bernoulli:


𝑉12 𝑃1 𝑉22 𝑃2
+ + ℎ1 = + + ℎ2
2𝑔 𝛾 2𝑔 𝛾

Isolando o termo com a incógnita, temos:

𝑃2 𝑉12 𝑃1 𝑉22
= + + ℎ1 − − ℎ2
𝛾 2𝑔 𝛾 2𝑔

𝑃2 3² 12300 0,752
= + +0− − 1,2 = 0,381
10682 2. 9,8 10682 2. 9,8

𝑃2 = 4069,8𝑁 ≈ 4,1 𝐾𝑁

Solução 2:
Para calcular P2, podemos usar um simples somatório de energias:

1 1
𝑃1 + . 𝜌. 𝑉12 + 𝜌. 𝑔. ℎ1 = 𝑃2 + . 𝜌. 𝑉22 + 𝜌. 𝑔. ℎ2
2 2

1 1
𝑃2 = 𝑃1 + . 𝜌. 𝑉12 + 𝜌. 𝑔. ℎ1 − . 𝜌. 𝑉22 − 𝜌. 𝑔. ℎ2
2 2

𝑃2 ≈ 4,1 𝐾𝑁

4) Um tubo circular de 25 cm transporta 0,16 m³/s de água sob pressão de 200


Pa. O tubo está posicionado a uma elevação de 10,7 m acima do nível do mar. Qual
a altura total medida com relação ao nível médio do mar. Considere 𝛾 = 9790 𝑁/𝑚³.
Solução:
Calculando a velocidade no tubo:
𝑄 0,16
𝑉= =𝜋 = 3,26 𝑚/𝑠
𝐴 . 0,25²
4
P á g i n a | 60

A altura total medida será:


𝑉2 𝑃 3,262 200
𝐻= + +ℎ = + + 10,7 = 11,3 𝑚
2𝑔 𝛾 2. (9,81) 9790

Perda de Carga em Escoamentos Internos

Em escoamentos internos em tubos ou dutos, é comum a perda de carga


oriunda dos efeitos da viscosidade do fluido e pode ser calculada pelo somatório dos
efeitos localizados (ℎ𝑙𝑜𝑐 ), impostos por componentes como curvas, Tês, joelhos,
válvulas, etc, ou pelos efeitos viscosos normais impostos pela tubulação linear
(rugosidade do tubo) - ℎ𝑓 .
A perda de carga total do sistema é calculada pela equação:

ℎ𝐿 = ℎ𝑙𝑜𝑐 + ℎ𝑓

Substituindo na equação de Bernoulli, temos:

𝑉12 𝑃1 𝑉22 𝑃2
+ + ℎ1 = + + ℎ2 + ℎ𝐿
2𝑔 𝛾 2𝑔 𝛾

Perdas de cargas normais

A perda de energia é uma energia dissipada causada pelo atrito em uma


tubulação, é comumente denominada perda de altura de atrito (ℎ𝑓 ).
Pode ser calculada pela equação de Darcy-Weisbach.

𝐿. 𝑉²
ℎ𝑓 = 𝑓.
𝐷. 2𝑔

Onde:
L – Comprimento g – gravidade
D – diâmetro do tubo
V – velocidade f – fator de atrito
P á g i n a | 61

Segundo Vilanova (2011), “o fator de atrito é um parâmetro adimensional que


depende do número de Reynolds e da rugosidade relativa”. A rugosidade relativa é a
relação entre a rugosidade aparente ε [m], que representa um fator característico da
rugosidade da parede, e o diâmetro do tubo:
Rugosidade Relativa = ε / D

É apresenta na tabela 4 a altura da rugosidade para determinados materiais de


tubos comerciais.

Tabela 5: Altura de rugosidade, e, para materiais.


Material do tubo 𝜺 (𝒎𝒎)
Latão 0,0015
Concreto
Formas de aço liso 0,18
Boas articulações, normal. 0,36
Áspero, marcas visíveis. 0,6
Cobre 0,0015
Metal corrugado (CMP) 45
Ferro
Linha asfaltada 0,12
Molde 0,26
Flexível 0,12
Galvanizado 0,15
Fundido 0,045
PVC 0,0015
Polietileno 0,0015
Aço
Esmaltado 0,0048
Rebitado 0,9 – 9
Inteiriço 0,004
Comercial 0,045
Fonte: HOUGHTALEN (2013)

O fator de atrito é determinado através do diagrama de Moody, que fornece o


fator de atrito (ordenada y da esquerda) a partir do número de Reynolds na abscissa
(eixo x) e da rugosidade relativa (ordenada y da direita). Pelo diagrama da Figura 24,
pode-se verificar que o fator de atrito para escoamentos laminares (Re < 2100)
independe da rugosidade e pode ser dado diretamente por:
64
𝑓=
𝑁𝑅
P á g i n a | 62

Pode-se ainda verificar que, para regimes identificados na figura 24 como


plenamente turbulentos, o fator de atrito não depende de Re, mas apenas da
rugosidade relativa.

Figura 24: Diagrama de Moody.

Fonte: VILANOVA (2011)

Exemplo:
5) Calcule a capacidade de descarga de um tubo áspero de
concreto com 3 m de comprimento e transportando água a 10°C.
É permitida uma perda de carga de 2 m/Km do tubo.
Solução:
ℎ𝑓 = 2 𝑚/𝑘𝑚, ou seja: Em uma tubulação de 1 Km, há uma perda de 2 m de
coluna d’água.
Logo, teremos como dados:
ℎ𝑓 = 2 𝑚 𝑒 𝐿 = 1000 𝑚
𝐿. 𝑉² 1000. 𝑉²
ℎ𝑓 = 𝑓. → 2 = 𝑓.
𝐷. 2𝑔 3. (2. 9,81)
P á g i n a | 63

0,118
𝑉2 =
𝑓

A partir da tabela 4, sendo ε =0,6 mm;


𝜀 0,6 𝑚𝑚
= = 0,0002
𝐷 3000 𝑚𝑚

A 10°C, a viscosidade 𝑣 = 1,31 × 10−6 𝑚2 /𝑠, então:

𝐷. 𝑉 3𝑉
𝑁𝑅 = = = (2,29 × 106 ). 𝑉
𝑣 1,31 × 10−6

Analisando o diagrama de Moody, não há como encontrar f, pois V e 𝑁𝑅 são


incógnitas. Porém, se assumirmos um regime turbulento, já que a viscosidade da água
𝜀
é baixa e as velocidades são altas, encontraremos no diagrama para =0,0002, um
𝐷

valor de f=0,014.
Substituindo na equação da velocidade e do 𝑁𝑅 teremos:

0,118 0,118
𝑉2 = = → 𝑉 = 2,9 𝑚/𝑠
𝑓 0,014
𝐷. 𝑉
𝑁𝑅 = = (2,29 × 106 ). 2,9 = 6,64 × 106
𝑣

Jogue esses valores novamente no diagrama para a conferência dos dados, se


o fator de atrito fosse diferente, interações adicionais seriam necessárias.
Para calcular a descarga:

𝜋 2
𝑄 = 𝐴. 𝑉 = . 3 . 2,9 = 20,5 𝑚3 /𝑠
4

Perdas de cargas localizadas

As perdas de cargas localizadas são devidas aos componentes ou geometrias


que compõem a tubulação que não sejam o tubo reto. A contabilização dessas perdas
é relacionada a um fator experimental chamado coeficiente de perda 𝐾𝐿 . O coeficiente
P á g i n a | 64

de perda está muito relacionado à geometria dos componentes e pouco relacionado


às condições do escoamento. Na Figura 25 verificamos que o fluido, ao passar por
uma válvula, assim como em qualquer outro componente, tem dificuldades devido às
restrições que se apresentam e que obrigam a várias mudanças de direção do fluxo
para o fluido transpassar o componente. Dessa forma, esse componente oferece uma
restrição equivalente a um determinado comprimento reto de tubulação, ou seja, o seu
efeito é o mesmo que um aumento da tubulação de uma quantia igual ao comprimento
equivalente do componente.

Figura 25: Detalhes de um escoamento de uma válvula.

Fonte: VILANOVA (2011)

O cálculo da perda localizada por um componente é apresentado na fórmula


abaixo:
𝑉2
ℎ𝑙𝑜𝑐 = 𝐾𝐿 .
2. 𝑔
Onde:
P á g i n a | 65

𝐾𝐿 = coeficiente de perda

As figuras 26 e 27 apresentam os principais valores de 𝐾𝐿 de vários


componentes encontrados comercialmente.

Figura 26: Valores de 𝑲𝑳 para escoamentos em entradas e saídas.

Fonte: VILANOVA (2011)


P á g i n a | 66

Figura 27: Coeficientes de perdas 𝑲𝑳 .

Fonte: VILANOVA (2011)

Exemplo:
6) O esquema a seguir representa uma tubulação de ferro galvanizado por onde
a água escoa a uma vazão volumétrica Q = 0,045 m3 /min. A massa específica dessa
água é 𝜌= 999 kg/m3 e a viscosidade v = 1,12 x 10-3 N.s/m2 . Por simplificação, o
escoamento será considerado incompressível e plenamente desenvolvido nas regiões
retilíneas da tubulação. A torneira (2) está completamente aberta, e a pressão é
P á g i n a | 67

atmosférica. Pode-se determinar a perda de carga incluindo as perdas normais e


localizadas e a pressão na entrada do sistema (ponto 1).

Figura 28: Valores de 𝑲𝑳 para escoamentos em entradas e saídas.

Fonte: VILANOVA (2011)

Solução:
1º passo: calcular ℎ𝑓 (perda de altura devido ao atrito no tubo).
Calculando o comprimento linear do tubo:

𝐿 = 2 + 1,5 + 0,5 + 1,5 + 1,5 = 8,5 𝑚

A velocidade V(m/s) da água no tubo é obtida por:

𝑄 0,045/60
𝑉= = = 2,65 𝑚/𝑠
𝐴 𝜋. 0,0192 /4

Para calcular 𝜀 (ver tabela 1)

𝜀 0,15 𝑚𝑚
→ 𝑅𝑢𝑔𝑜𝑠𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑟𝑒𝑙𝑎𝑡𝑖𝑣𝑎 = ≈ 0,008
𝐷 19 𝑚𝑚
P á g i n a | 68

O nº de Reynolds é calculado por:

999 𝑘𝑔 2,65 𝑚
𝐷. 𝑉 𝜌. 𝑉. 𝐷 . 𝑠 . 0,019 𝑚
𝑁𝑅 = = = 𝑚3 = 44910
𝑣 𝜇 1,12 × 10−3 𝑁𝑠/𝑚²

Calculando f pelo diagrama de Moddy:

Figura 29

Finalmente, juntando todos os dados, obtemos:

𝐿. 𝑉² 8,5. 2,65²
ℎ𝑓 = 𝑓. = 0,035. = 5,60 𝑚
𝐷. 2𝑔 0,019 . 2 . 9,81

2º passo: Calcular ℎ𝑙𝑜𝑐 (perda de carga localizada).

𝑉2
ℎ𝑙𝑜𝑐 = ∑ 𝑝𝑒𝑟𝑑𝑎𝑠 𝑑𝑜𝑠 𝑐𝑜𝑚𝑝𝑜𝑛𝑒𝑛𝑡𝑒𝑠 = ∑. 𝐾𝐿 . 2.𝑔,
P á g i n a | 69

Para facilitar os cálculos, vamos organizá-los na tabela abaixo:

Tabela 6: Exemplo.

Componente Quantidade 𝑲𝑳 𝒉𝒍𝒐𝒄 Total de perda

Curva 90° raio 4


1,5 0,54 2,15
normal rosqueada

Válvula globo
1 10 3,59 3,59
totalmente aberta

Válvula de gaveta 1
0,15 0,05 0,05
totalmente aberta

Somatório total de perda de carga 5,79

3º Passo: Perda total


ℎ𝑡 = ℎ𝑙𝑜𝑐 + ℎ𝑓 = 5,79 + 5,6 = 11,39 𝑚

4º Passo: Determinar a pressão.


𝑉12 𝑃1 𝑉22 𝑃2
+ + ℎ1 + ℎ𝑡 = + + ℎ2
2𝑔 𝛾 2𝑔 𝛾

Como 𝑃2 = 𝑃𝑎𝑡𝑚 = 0 (manométrica)


Mesma tubulação: V1 = V2
Substituindo na equação anterior teremos:

𝑃1
− ℎ𝑡 = ℎ2 , assim:
𝛾

𝑃1 = 𝛾(ℎ2 + ℎ𝑡 ) = 10000. (3 + 11,39) = 143900 𝑃𝑎

Equações Empíricas para a Perda de Carga de Atrito

De modo geral, equações empíricas são desenvolvidas a partir de


mensurações experimentais do fluxo sob determinadas condições. As duas equações
expressas a seguir, contém coeficientes empíricos de rugosidade, que dependem da
P á g i n a | 70

rugosidade da tubulação testada, limitando sua utilidade. A que trataremos neste


curso será a equação de Hazen-Williams, desenvolvida para um fluxo de água em
tubo com diâmetro maior que 5 cm, dentro de uma faixa de velocidade em até 3 m/s.
Pode ser aplicada em redes de distribuição de água, adutoras e sistemas de recalque.
No sistema internacional de unidades (SI), sua fórmula é:

𝑉 = 0,849. 𝐶𝐻𝑊 . 𝑅ℎ0,63 . 𝑆 0,54


Onde:

𝐶𝐻𝑊 − coeficiente de equação (Tabela 6)


𝑅ℎ. − 𝑅𝑎𝑖𝑜 ℎ𝑖𝑑𝑟á𝑢𝑙𝑖𝑐𝑜 = á𝑟𝑒𝑎 /𝑝𝑒𝑟í𝑚𝑒𝑡𝑟𝑜 𝑜𝑢 𝑑𝑖â𝑚𝑒𝑡𝑟𝑜 /4
𝑺 − 𝒊𝒏𝒄𝒍𝒊𝒏𝒂çã𝒐 𝒅𝒂 𝒍𝒊𝒏𝒉𝒂 𝒅𝒆 𝒆𝒏𝒆𝒓𝒈𝒊𝒂 𝒐𝒖 𝒑𝒆𝒓𝒅𝒂 𝒅𝒆 𝒄𝒂𝒓𝒈𝒂 𝒑𝒐𝒓 𝒖𝒏𝒊𝒅𝒂𝒅𝒆 𝒅𝒆 𝒕𝒖𝒃𝒐 = 𝒉/𝑳

Manipulando a equação acima, chegamos na equação:

𝑄1,85
𝑆 = 10,65. 1,85
𝐶𝐻𝑊 . 𝐷4,87
P á g i n a | 71

Tabela 7: Coeficiente de Hazen-Williams para diferentes tipos de tubos.


Material do tubo 𝑪𝑯𝑾
Latão 130 a 140
Ferro de (comum em linhas de água
antigas)
Novo, sem revestimento 130
10 anos de idade 107 a 113
20 anos de idade 89 a 100
30 anos de idade 75 a 90
40 anos de idade 64 a 83
Concreto
Liso 140
Normal 120
Áspero 100
Cobre 130 a 140
Ferro flexível (revestimento em 140
argamassa de cimento)
Vidro 140
Polietileno de alta densidade (HDPE) 150
Plástico 130 a 150
PVC 150
Aço
Comercial 140 a 150
Rebitado 90 a 110
Fundido 100
Argila vitrificada 110

Exercício:
1) Uma tubulação de 100 m de comprimento, com D=20 cm e 𝐶𝐻𝑊 = 120,
carrega uma descarga de 30 L/s. Determine a perda no tubo.
Solução 1:

0,22
𝐴 = 𝜋. = 0,0314 𝑚²
4
𝑃 = 2. 𝜋. 𝑟 𝑜𝑢 𝜋. 𝐷 = 0,2. 𝜋 = 0,628 𝑚
𝐴 0,0314
𝑅ℎ. = = = 0,050 𝑚
𝑃 0,628

Aplicando a equação:
0,54
𝑄 0,03 ℎ𝑓
𝑉 = = 0,849. 𝐶𝐻𝑊 . 𝑅ℎ0,63 . 𝑆 0,54 → = 0,849. (120). (0,05)0,63 . ( )
𝐴 0,0314 100
ℎ𝑓 = 0,58 𝑚
P á g i n a | 72

Ou, pela fórmula (Solução 2):

𝑄1,85
𝑆 = 10,65. 1,85 = 0,0058 𝑚/𝑚
𝐶𝐻𝑊 . 𝐷4,87
𝑚
ℎ𝑓 = 𝑆. 𝐿 = 0,0058 . 100 𝑚 = 0,58 𝑚
𝑚
Resumo

Nesta aula você viu:

 Os escoamentos podem ser laminares ou turbulentos dependendo das


características geométricas, velocidade, rugosidade da tubulação e a
viscosidade do fluido;
 O cálculo das forças de escoamento em tubos;
 O entendimento das energias de escoamento em um tubo;
 O cálculo das perdas de carga por atritos em tubos e demais
componentes;
 Equação empírica de Hazen-Williams.
Complementar

Vídeos complementares:
<https://www.youtube.com/watch?v=e6G4KZz8xs0>.
<https://www.youtube.com/watch?v=SIoKbVcQ2I0>.

Para saber um pouco mais, use como referência o livro de Engenharia


Hidráulica (HOUGHTALEN, 2013) de sua biblioteca virtual e acesse os arquivos
em sua plataforma contendo os exercícios complementares.
Veja também em:
<http://www.if.ufrgs.br/cref/werlang/aula3>.
<https://pt.khanacademy.org/science/physics/fluids/fluid-dynamics/a/what-is-bernoullis-
equation>.
Referências Bibliográficas

Básica:
ÇENGEL, Y. A. e CIMBAIA, J. M. Mecânica dos fluidos: fundamentos e
aplicações. São Paulo: McGraw-Hill, 2007.

FOX, Robert W.; MCDONALD, Alan T. Introdução à mecânica dos fluidos.


4ª Edição. Rio de Janeiro: LTC - Livros Técnicos e Científicos, 2001.

HOUGHTALEN, R. J.; HWANG, NED H. C; OSMAN AKAN, A. Engenharia


Hidráulica. 4ª Edição. Pearson Education do Brasil, 2013.

MACINTYRE, A. J. Equipamentos Industriais e de Processo. 2ª Edição


revisada. Rio de Janeiro: LTC - Livros Técnicos e Científicos, 1997.

VILANOVA, L. C. Mecânica dos Fluidos. 3ª Edição. Colégio Técnico Industrial


de Santa Maria – Rio Grande do Sul, 2010.
Exercícios
AULA 3

1) Um tubo circular de 50 mm de diâmetro transporta água


a 20°C. Calcule a maior taxa de fluxo (vazão) na qual pode ser
esperado fluxo laminar. Dados: viscosidade 𝑣 = 1 × 10−6 𝑚2 /𝑠
(Ver tabela 4 da aula 1);
Observação: NR=2000 (limite conservador superior para o fluxo laminar).

2) Um tubo circular de 50 mm de diâmetro transporta água a 20°C. Calcule a


menor taxa de fluxo na qual pode ser esperado fluxo turbulento. Dados: viscosidade
𝑣 = 1 × 10−6 𝑚2 /𝑠.
Observação: NR>4000 (limite conservador superior para o fluxo laminar).

3) Um tubo de 50 cm é ligado a um de 30 cm por meio de uma redução no


mesmo plano de referência (ver figura abaixo). Para a descarga de 0,35 m³/s de óleo
com massa específica (𝜌) de 850 Kg/m³ e pressão no ponto inicial da redução de
350000 Pa, qual a força que atuará sobre a redução e que deverá ser absorvida por
um bloco de ancoragem ou um apoio especial? Desprezar a perda de carga e o peso
do óleo.

Figura 30: Exercícios.

4) Um tanque mostrado na figura abaixo está sendo drenado para um local de


armazenamento subterrâneo através de um tubo de 12 polegadas de diâmetro. A taxa
P á g i n a | 77

de escoamento é de 12 m³/min, e a perda total de altura é de 4 m. Determine a


elevação de água no tanque. Despreze a perda de altura por atrito.

Figura 31: Exercícios.

1
,5m

5) Um tubo de 10 polegadas transporta 0,25 m³/s de água sob pressão de 200


N/m². O tubo está posicionado e uma elevação de 15 m acima do nível do mar. Qual
é a altura total medida com relação ao nível médio do mar. Desprezar a resistência
por atrito no tubo.

6) Uma descarga de 0,14 m³/s de água escoam sem atrito através da expansão
indicada na figura ao lado. A pressão na seção 1 é igual a 82,74 kPa. Suponha
escoamento unidimensional e encontre a pressão no ponto 2.

Figura 32: Exercícios.


P á g i n a | 78

7) Uma tubulação de recalque de bombeamento tem 50,8 cm de diâmetro e


uma curva de 90°. O líquido bombeado é óleo com massa específica de 850 Kg/m³ e
sua vazão é de 0,2 m³/s. A perda de carga na curva é de 0,6 metros de coluna de
óleo. A pressão na entrada é de 2,1 Kgf/cm². Desprezando o peso do óleo, determine
a força resultante exercida pelo óleo sobre a curva.

Figura 33: Exercícios.

8) Numa canalização com diâmetro de 25 mm, rugosidade 𝜀 = 0,1 𝑚𝑚 e


comprimento de 200 m, a água escoa com uma vazão de 1 L/s e temperatura de 20°C.
Calcule a perda de carga que ocorre na canalização.
P á g i n a | 79

9) Calcular a perda de carga no esquema a seguir:

Figura 34: Exercícios.

10) Determine a perda de carga para o escoamento de 200 l/s de óleo com
densidade igual 0,9 (massa específica = 900 Kg/m³) e viscosidade de 1 × 10−5 𝑚2 /𝑠
em um tubo de ferro fundido de 800 m de comprimento e 10 cm de diâmetro.

Exercícios complementares: <http://wbraga.usuarios.rdc.puc-


rio.br/fentran/mecflu/resolvidos/cap8/oitava.htm>.
Aula 4
Escoamento de líquidos em tubos II

APRESENTAÇÃO DA AULA

Na aula, continuaremos analisando o escoamento dos líquidos em tubos e


as perdas de carga, onde serão apresentadas novas metodologias de cálculo.
Há muito por fazer. Então, coloque em dia os seus estudos e mãos à obra!

OBJETIVOS DA AULA

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:

 Calcular a perda de carga (por atrito) em um tubo utilizando a Fórmula


de Fair-Whipple-Hsiao;
 Calcular a perda de carga pelo método dos comprimentos virtuais;
 Calcular perda de carga em componentes de redução e expansão em
tubos;
 Relacionar a perda de carga com a vazão do líquido escoado por meio
de equações empíricas.
P á g i n a | 81

4 INTRODUÇÃO – ESCOAMENTO DE LÍQUIDOS EM TUBOS II

“Eu acredito demais na sorte. E tenho constatado que,


quanto mais duro eu trabalho, mais sorte eu tenho. ” (Thomas
Jefferson).

Nesta aula abordaremos ainda os conceitos de perdas


de cargas, incluindo mais fórmulas para os cálculos.
Estudaremos o método dos comprimentos virtuais, a perda de
carga em componentes de redução e expansão em tubos.

Nós vimos na aula anterior que:


1- A perda de carga é uma energia dissipativa em forma de calor devido ao
atrito e à viscosidade em uma canalização podendo ser classificada em perda
contínua ou distribuída e perda de carga localizada.
2- O cálculo de perda de carga contínua ou distribuída pode ser calculado
através da fórmula geral ou de Darcy-Weisbach (ℎ𝑓 ), e também, a fórmula empírica
da equação Hazen-Willians em algumas situações (ver o comparativo na tabela 7).
3- Para o cálculo geral das perdas localizadas, o chamado ℎ𝑓 𝑙𝑜𝑐 , deve ser
determinado a constante KL.

Vamos abordar agora outras equações de perdas de


carga. Vamos começar pela fórmula de Fair-Whipple-Hsiao.
P á g i n a | 82

Tabela 8: Comparação entre a fórmula de Hazen-Willians e a fórmula Universal.


Fórmula Universal Fórmula de Hazen-Willians
Válida para qualquer fluido Válida somente para água
Usada quando é dada a Usada quando não é dada a temperatura do
temperatura do fluido fluido em tubos com diâmetro maior que 5 cm e
faixa de velocidade em até 3m/s.
Aplicação: Usada em qualquer Aplicação: redes de distribuição de água,
tubulação fechada adutoras e sistemas de recalque.

Fórmula de Fair-Whipple-Hsiao

Esta fórmula é utilizada em projetos de instalações prediais de água fria ou


quente (disciplina do próximo período), cuja topologia é caracterizada por trechos
curtos de tubulações, diâmetros menores que 50 mm e a presença de grande número
de conexões.
Para tubulação de aço galvanizado conduzindo água fria, é usual a utilização
da seguinte fórmula empírica no sistema internacional (SI):

𝑄1,88
ℎ𝑓 = 0,002021. .𝐿
𝐷4,88

Para tubulação de PVC conduzindo água fria, é usual a utilização da seguinte


fórmula empírica no sistema internacional (SI):

𝑄1,75
ℎ𝑓 = 0,0008695. 4,75 . 𝐿
𝐷

Exercício:
1) Uma tubulação PVC com 10 m de comprimento, com D=2,54 cm, carrega
uma descarga de 0,5 L/s. Determine a perda de carga no tubo.
Solução:
Substituindo direto na equação:

(0,5/1000)1,75
ℎ𝑓 = 0,0008695. . 10 = 0,54 𝑚
(0,0254)4,75
P á g i n a | 83

Perda De Carga De Atrito – Relações De Descarga

Muitos problemas de engenharia envolvem a determinação da perda de carga


de atrito em um tubo a partir da vazão (descarga) do escoamento.
Para fins práticos, a equação de Darcy-Weisbach pode ser escrita por:

ℎ𝑓 = 𝐾. 𝑄 𝑚

Outras equações provêm da expressão acima, e são apresentadas na tabela


8.

Tabela 9: Equação de atrito expressas na forma 𝒉𝒇 = 𝑲. 𝑸𝒎 .

Fonte: HOUGHTALEN (2013)

Existe uma grande quantidade de programas


computacionais disponíveis para a solução das equações de
fluxo em tubos já discutidas. Alguns desses programas são
gratuitos e estão disponíveis na internet como calculadoras de
fluxo em tubos. Para a maioria desses programas, são necessárias quatro das
cinco variáveis (L, Q, D, ℎ𝑓 e o coeficiente de perda).

Acesse:
<http://www.calculatoredge.com/portuguese.htm>.
P á g i n a | 84

Perda de carga em retração e compressão de tubos

Neste tópico abordaremos sobre as perdas de carga em tubos com


componentes que fazem a retração ou a compressão.
Na figura 35, são apresentados acessórios de difusão e redução. O cálculo é
feito pela mesma fórmula de perda de carga localizada, ou seja:

𝑉2
ℎ𝑙𝑜𝑐 = 𝐾𝐿 .
2. 𝑔

Figura 35: Acessórios de difusão e redução.


 Na redução: ℎ𝑙𝑜𝑐 → ℎ𝑐 .

 Na expansão: ℎ𝑙𝑜𝑐 → ℎ𝑐 .

Fonte: HOUGHTALEN (2013)

Segundo Houghtalen (2013), a contração brusca costuma causar uma


diminuição na pressão no tubo, tanto devido ao aumento de velocidade quanto à perda
de energia pela turbulência. A perda de carga pela contração pode ser diminuída por
meio de uma transição gradual de tubos conhecida como redutor.
Dependendo da razão entre as áreas (A2/A1) e o valor do ângulo α, teremos
um valor de KL, conforme o gráfico da figura 35.
Para contrações e/ou expansões bruscas, o valor de K pode ser calculado
analisando a figura 36.
P á g i n a | 85

O alargamento é o processo inverso. A perda de carga


ocorre pela desaceleração do fluido no trecho, podendo ser
reduzida com a introdução de uma transição gradual de tubos,
conhecida como difusor.

Figura 36: Coeficiente K para redutores.

Fonte: HOUGHTALEN (2013)


P á g i n a | 86

Figura 37: Coeficiente de perda em componentes de mudança súbita de área.

Fonte: FOX (2006)

Método dos comprimentos virtuais ou equivalentes

As equações representativas das perdas de carga distribuída e localizada


possuem uma função direta da carga cinética. Podemos considerar que as peças
(componentes e conexões) podem ser substituídas por comprimentos virtuais de
tubulação, que resultem em uma perda de carga equivalente. Ou seja, a conexão é
substituída nos cálculos por um comprimento de tubo de mesmo diâmetro, no qual
(ver figura 38) a perda de carga linear é igual à perda de carga localizada.

Figura 38: Perda localizada calculada pelo método dos comprimentos virtuais.
P á g i n a | 87

Exemplo de aplicação:
Considere o encanamento da figura 39 onde estão representados os seguintes
componentes: válvula de retenção, válvula de gaveta, cotovelo (ou curva) 90°, válvula
de pé. Vamos calcular a perda de carga na tubulação com diâmetro de 75 mm e em
seus componentes por meio da tabela 10 utilizando o método do comprimento
equivalente:

Figura 39: Tubulação.

Fonte: <http://wiki.urca.br/dcc/lib/exe/fetch.php?media=perda-de-carga-
localizada.pdf>.
P á g i n a | 88

Tabela 10: Cálculo do L’ total.


Comprimento -
Tipo Quantidade L’
E(m) – Figura 3
Trecho reto horizontal 5 5
Trecho reto vertical 5,5 5,5
Válvula de pé 1 20 20
Válvula de gaveta 1 0,5 0,5
Válvula de retenção 1 9,7 9,7
Cotovelo 90° 2 1,6 3,2
Comprimento Equivalente Total (m) 43,9

Os comprimentos equivalentes de cada conexão (E) são retirados da NBR:


5626 (1998). É apresentado na figura 40 um modelo de quadro para o cálculo das
perdas localizadas pelo método virtual. Para o cálculo da carga de perda, é só
determinar o valor de ℎ𝑓 , substituindo L por L’, ou seja, podemos calcular usando a
equação empírica abordada no tópico anterior para diâmetro abaixo de 50 mm.

𝑄 1,88
ℎ𝑓 = 0,002021. 𝐷4,88 . 𝐿′ (Tubo de aço galvanizado)
𝑄 1,75
ℎ𝑓 = 0,0008695. 𝐷4,75 . 𝐿′ (Tubo de PVC)

Este método será muito abordado na disciplina de Instalações prediais 1, no


dimensionamento de tubulações de águas frias residenciais.
P á g i n a | 89

Exercícios:
2) Determine a carga disponível no chuveiro de uma instalação predial,
abastecido por um ramal de ¾”. Utilize o método de comprimento virtual e a fórmula
de Fair-Whiple-Hsiao para calcular a perda de carga.

Figura 40: Exercícios.


P á g i n a | 90

Solução:

Tabela 11: Comprimentos equivalentes a perdas localizadas (Expressos em metros de canalização retilínea).
P á g i n a | 91

Aplicando o método dos comprimentos equivalentes às perdas singulares:


 No ramal (tubulação de ¾”):
Tê, saída do lado → 𝐸 = 1,40
Cotovelo de 90°, raio curto → 𝐸 = 0,7
Registro de gaveta (aberto) → 𝐸 = 0,1
Comprimento real do ramal (tubo reto) → 𝐸 = 0,35 + 1,10 + 1,65 + 1,0 + 0,5 +
0,2 = 5,3 𝑚
Comprimento equivalente (acessórios) no ramal L’ = 1,4 + 5 . 0,7 + 2 . 0,1 =
5,1 𝑚
Comprimento total do ramal L’T = 5,1 + 5,3 = 10,4 m
Cálculo da perda de carga (Fórmula de Fair-Whiple-Hsiao):

𝑄1,88 0,00021,88
ℎ𝑓 = 0,002021. . 𝐿 = 0,002021. . 10,4 = 0,58 𝑚
𝐷4,88 ( 0,01905)4,88

 Na tubulação principal (ϕ=1½):


Comprimento virtual da tubulação principal: L’ = 0,5 (entrada normal)
Comprimento real da tubulação principal: L = 0,9 m
Comprimento total da tubulação principal: L’T = 0,5 + 0,9 = 1,4 m
𝑄1,88 0,00011,88
ℎ𝑓 = 0,002021. 4,88 . 𝐿 = 0,002021. . 1,4 = 0,05 𝑚
𝐷 ( 0,0381)4,88

 Carga geométrica:
Diferença entre as alturas do chuveiro e reservatório.
h = 1,7 m (ver figura)

Carga disponível no chuveiro 𝐻𝑑𝑖𝑠𝑝 (diferença entre a carga geométrica e o


comprimento total virtual)
𝐻𝑑𝑖𝑠𝑝 = 1,70 – 0,58 – 0,05 = 1,07 m (caixa d’água cheia)

3) Uma canalização de aço galvanizado com 1800 m de comprimento e 300


mm de diâmetro está descarregando, em um reservatório, 60 l/s. calcular a diferença
de nível entre a represa e o reservatório, considerando todas as perdas de carga.
P á g i n a | 92

Verificar quanto às perdas locais representam da perda por atrito ao longo do


encanamento (em %). Há na linha apenas 2 curvas de 90°, 2 de 45° e 2 registros de
gaveta (abertos).

Figura 41: Exercícios.

Solução:
Calculando a velocidade de escoamento do líquido:
𝑄 𝑄 0,06
𝑉= = 4. = 4. = 0,85 𝑚/𝑠
𝐴 𝜋. 𝐷² 𝜋. 0,30²

Verificando o comprimento equivalente dos componentes:


Curva de 90° → 𝐸 = 0,40
Curva de 45° → 𝐸 = 0,20
Registro de gaveta (aberto) → 𝐸 = 0,20
Entrada de canalização → 𝐸 = 1,00
Saída de canalização → 𝐸 = 1,00
Calculando L’:
𝐿´ = 2 . 0,4 + 2 . 0,2 + 2 . 0,2 + 2 . 1,0 = 3,6

𝑉2 0,852
Perda de carga localizada total: = 𝐿′ . 2.𝑔 = 3,6. 2 . = 0,133𝑚
9,81

Perda de carga distribuída (Fórmula de Hazen-Willians – aula 3)


𝑄1,85 (0,06)1,85
𝑆 = 10,65. 1,85 = 10,65. = 0,0041 𝑚/𝑚
𝐶𝐻𝑊 . 𝐷4,87 1001,85
. . (0,3)4,87
ℎ = 𝐽 . 𝐿 = 0,0041 . 1800 = 7,38 𝑚
Cálculo da perda localizada em relação à perda distribuída:
%P = 0,133/7,38 = 0,018 ou 1,8%
Resumo

Nesta aula você aprendeu que:

 Existem diversas fórmulas de perdas de cargas com equações


empíricas para simplificar os cálculos em determinadas situações;
 A fórmula de hazen-willians é válida somente para água em tubos com
diâmetro maior que 5 cm e velocidade máxima de 3m/s;
 A fórmula de fair-hhipple-hsiao só pode ser utilizada em instalações
prediais de água fria ou quente com comprimentos curtos e diâmetros
abaixo de 50 mm;
 As conexões de um tubo podem ser substituídas por comprimentos
virtuais que resultam em uma perda de carga equivalente.
Referências Bibliográficas

Básica:
CREDER, H. Instalações Hidráulicas e Sanitárias. 6ª Edição. São Paulo:
LTC, 2006.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT) – NBR 5626.


Instalação Predial de Água Fria. Rio de Janeiro, 1998.

ALEN SOBRINHO, P.; CONTRERA, R.C. Consumo de Água. Apresentação


da disciplina Saneamento II. São Paulo. Escola Politécnica da Universidade de São
Paulo. Acesso em: 20/04/2016.

NÚCLEO SUDESTE DE CAPACITAÇÃO E EXTANSÃO TECNOLÓGICA EM


SANEAMENTO BÁSICO – NUCASE. Abastecimento de água: Construção,
operação e manutenção de redes de distribuição de água. Guia do profissional em
treinamento, Nível 2. 2008. Acessado em dezembro de 2016 pelo site:
<http://nucase.desa.ufmg.br/wp-content/uploads/2013/04/AA-COMR.2.pdf>.
Exercícios
AULA 4

1) Calcular a perda de carga no esquema a seguir pelo


método do comprimento equivalente:
Observação: Utilize a fórmula de Fair-Whiple-Hsiao para
calcular a perda de carga.

Figura 42: Exercícios.


P á g i n a | 96

2) Um tubo de 50 cm é ligado a um de 30 cm por meio de uma redução no


mesmo plano de referência (ver figura abaixo). Para a descarga de 0,35 m³/s de óleo
com massa específica (𝜌) de 850 Kg/m³ e pressão no ponto inicial da redução de
350000 Pa, qual a força que atuará sobre a redução e que deverá ser absorvida por
um bloco de ancoragem ou um apoio especial? Observação: Considere a perda de
carga localizada do redutor e desconsidere o peso do óleo.

Figura 43: Exercícios.

3) O Verifique se a pressão disponível no chuveiro está acima do valor mínimo


estabelecido por norma (NBR 5626), ou seja, maior que 1 mca, considerando que
carga de pressão no ponto A é de 6,0 mca e que a vazão mínima do chuveiro
estabelecida pela NBR-5626 é de 0,20 L/s. A instalação hidráulica apresentada abaixo
é de PVC rígido soldável (marrom), diâmetro nominal de 25 mm. Todas as curvas são
de 90° e o registro de gaveta está aberto. Use o método dos “K” (perda de carga
localizada mais atrito do tubo) para o cálculo de h L (aula 3), depois utilize o método
dos comprimentos equivalentes e compare os resultados.
𝑄 1,75
Dicas: 1) Utilize a fórmula: ℎ𝑓 = 0,0008695. 𝐷4,75 . 𝐿
𝑃 𝑁 𝑁 𝑃𝐴
2) Pressão em metros de coluna d’água: 𝛾 → 1 𝑚2 ∶ 𝑚3 = 1 𝑚 , ou seja =
𝛾

6 𝑚𝑐𝑎 𝑜𝑢 6 𝑚 𝑑𝑒 á𝑔𝑢𝑎.
P á g i n a | 97

Figura 44: Exercícios.

4) Qual deve ser o comprimento X na instalação hidráulica mostrada na figura,


de PVC rígido soldável (marrom) de 25 mm de diâmetro, para que com uma vazão de
0,2 l/s a carga de pressão no chuveiro seja de 1,0 mca. Todos os joelhos são de 90°
e o registro é de gaveta está aberto. A carga de pressão no ponto A é de 4,0 mca.
Use o método dos “K” e dos comprimentos equivalentes e compare.

Figura 45: Exercícios.


P á g i n a | 98

Considere a figura abaixo para a resolução dos números 5 e 6.

Figura 46: Exercícios.

5) Qual deve ser a pressão P1 na superfície livre do reservatório para promover


a vazão de 0,3 m³/s de água através do sistema da figura. Considere que o
reservatório seja grande o suficiente de forma a se poder desprezar a variação de
altura do mesmo. Outras dimensões estão indicadas.
Observação: Resolva o exercício pelo método que achar melhor

Dados:

6) Entre os métodos de cálculo de perdas de carga estudados (Hazen-Willians,


Fair-Whipple-Hsiao e Darcy-Weisbach) discuta qual fórmula não poderia ser utilizada
na resolução do exercício anterior.
Aula 5
Tubulações e Redes de Tubos

APRESENTAÇÃO DA AULA

Na aula 5 vamos estudar as tubulações, um conjunto de tubos interligados


(em série ou em paralelo) para transportar líquidos para um determinado projeto.
Também serão abordados os conceitos de redes de tubos e suas
classificações, segundo a tipologia.

OBJETIVOS DA AULA

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:

 Apresentar os conceitos de tubulações;


 Apresentar os tipos de ligações: em série e em paralelo;
 Calcular a perda de carga em tubulações pelo método do tubo
equivalente;
 Apresentar os conceitos e classificação das redes de tubos;
 Apresentar o método da planilha de Hardy-Cross.
P á g i n a | 100

5 INTRODUÇÃO – TUBULAÇÕES E REDES DE TUBOS

“Eu acredito demais na sorte. E tenho constatado que,


quanto mais duro eu trabalho, mais sorte eu tenho. ” (Thomas
Jefferson).

Nesta aula abordaremos os conceitos de tubulações e


redes de tubo. Para a resolução dos problemas a serem
apresentados, você terá que saber aplicar as fórmulas
apresentadas nas aulas 3 e 4

Tubulações e Redes de Tubo

Segundo Houghtalen (2013), a tubulação é um conjunto de tubos, com os seus


respectivos componentes, que estão interligados em série ou em paralelo, projetados
para transportar líquidos de uma localização à outra.
Para ser resolvido, devemos fazer os cálculos combinados dos tubos,
analisando a taxa de fluxo e determinar a perda total de altura.
Vejamos agora o problema abaixo.
1) Dois tubos de ferro fundido em série interligam dois reservatórios (Figura 47).
Ambos têm 300 m de comprimento e possuem diâmetros de 0,6 m e 0,4 m,
respectivamente. A elevação da superfície da água (WS) no reservatório A é de 80 m.
A descarga de água a 10°C do reservatório A para B é de 0,5 m³/s. Encontre a
elevação da superfície do reservatório B. Considere uma contração brusca na junção
e uma entrada quadrada.
P á g i n a | 101

Figura 47: Tubulação ligando dois reservatórios.

Solução:
Aplicando a equação da energia, temos:

𝑉𝐴2 𝑃𝐴 𝑉𝐵2 𝑃𝐵
+ + ℎ𝐴 = + + ℎ𝐵 + ℎ𝐿
2. 𝑔 𝛾 2. 𝑔 𝛾

Como 𝑃𝐴 = 𝑃𝐵 , as alturas cinéticas podem ser desprezadas em um


reservatório:
ℎ𝐵 = ℎ𝐴 − ℎ𝐿

Para calcularmos ℎ𝑅 , a perda de carga, temos que determinar:

𝑄 0,5 . 4
𝑉1 = = = 1,77 𝑚2
𝐴1 𝜋 . 0,62
𝑄 0,5 . 4
𝑉2 = = = 3,98 𝑚²
𝐴2 𝜋 . 0,4²
𝐷1 0,6
𝑁𝑅1 = 𝑉1 . = 1,77. = 8,11 × 105
𝑣 1,31 × 10−6
𝐷2 0,4
𝑁𝑅2 = 𝑉2 . = 3,98. = 1,22 × 106
𝑣 1,31 × 10−6

A partir da tabela 1 (aula 3), obtemos 𝜀:


𝜀 0,26 𝑚𝑚
→ 𝑅𝑢𝑔𝑜𝑠𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑟𝑒𝑙𝑎𝑡𝑖𝑣𝑎 = ≈ 0,00043
𝐷1 600 𝑚𝑚
𝜀 0,26 𝑚𝑚
→ 𝑅𝑢𝑔𝑜𝑠𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑟𝑒𝑙𝑎𝑡𝑖𝑣𝑎 = ≈ 0,00065
𝐷2 400 𝑚𝑚
P á g i n a | 102

A partir do diagrama de Moody, aula 3 ou Anexo 2, temos:

𝑓1 = 0,017 𝑒 𝑓2 = 0,018

Para a perda total de altura (perda de carga):

𝐿1 𝑉12 𝐿2 𝑉22
ℎ𝐿 = (0,5 + 𝑓1. ). + (0,21 + 𝑓2. ) . = 13,3 𝑚
𝐷1 2𝑔 𝐷2 2𝑔

Voltando a expressão:

ℎ𝐵 = ℎ𝐴 − ℎ𝐿 = 80 − 13,3 = 66,7 𝑚

Quando temos uma tubulação com tubos ligados em serie ou em paralelo,


podemos aplicar o método dos condutos equivalentes, utilizado para facilitar a
análise dos tubos compostos.

Tubo equivalente

O tubo equivalente é um tubo hipotético com a mesma perda de carga total de


dois ou mais tubos em série ou em paralelo, considerando:
 Condutos em série: as perdas de cargas se somam para uma mesma
vazão (Fig. 48-a);

𝑄1 = 𝑄2 = 𝑄𝐸 Vazão do conduto equivalente E


ℎ𝑓𝑒 = ℎ𝑓1 + ℎ𝑓2 Perda de carga do conduto equivalente E

 Condutos em paralelo: as vazões se somam para uma mesma perda de


carga (Fig. 48-b).
P á g i n a | 103

𝑄𝐸 = 𝑄1 + 𝑄2 Vazão do conduto equivalente E


ℎ𝑓𝑒 = ℎ𝑓1 = ℎ𝑓2 Perda de carga do conduto equivalente E

Figura 48: Condutos em série (a) e condutos em paralelo (b).

Fonte: HOUGHTALEN (2013)

As fórmulas para o cálculo da perda de carga do conduto equivalente, tanto


para o formato em sério quanto ao paralelo, são apresentadas na tabela 12.

Tabela 12: Equações em tubos equivalentes.


P á g i n a | 104

Exemplo:
2) Na figura a seguir PA = 7,4 Kgf/m² e para todos os tubos f=0,03. Qual a
pressão em B, desprezando-se as perdas localizadas ou acidentais?

Figura 49: Exemplo.

Solução:
As tubulações E e F estão em paralelo. Para saber a pressão em B, tem-se que
conhecer a perda de carga que ocorre nessas duas tubulações (no caso, tanto faz
percorrer A E B ou A F B, que a perda será a mesma). O problema fica mais simples,
se substituirmos as tubulações A E B e A F B por uma única equivalente. O esquema
ficaria assim:

Figura 50: Exercícios.

Estando os tubos em paralelo, a perda da tubulação substituta será:

𝐷5 𝐷15 𝐷25
√ = √ +√
𝑓. 𝐿 𝑓1. 𝐿1 𝑓2. 𝐿2

f=f1 + f2
P á g i n a | 105

Calculando:

𝐷5 0,3005 0,5005
√ = √ +√ = 8,245 × 10−3
𝑓. 𝐿 600 475

Simplificando:
𝐷5 = 6,8 × 10−5 . 𝐿

Neste caso, devemos admitir um valor para L ou para D; admitindo, por


exemplo, D = 400 mm.
0,45 = 6,8 × 10−5 . 𝐿 → 𝐿 ≈ 150 𝑚

Calculando hf:
150 42 . 0,5²
ℎ𝑓 = 0,03. . 2 = 9,08 𝑚
0,400 𝜋 . 0,44 . 2. 𝑔

Portanto:
𝑃𝐵 = 𝑃𝐴 − ℎ𝑓 = 74 − 9,08
𝑃𝐵 = 64,92 𝑚

Redes de Tubos

Uma rede de tubos é formada por um conjunto de tubulações e peças especiais


de forma a garantir o bom atendimento dos pontos de consumo (prédios, indústrias,
etc), de modo a formar ciclos e seções.
Segundo o Núcleo Sudeste de Capacitação e Extensão Tecnológica em
Saneamento Ambiental – NUCASE (2013), uma rede de distribuição de água é
constituída de um conjunto de tubulações interligadas instaladas ao longo das vias
públicas ou nos passeios, junto aos edifícios, conduzindo a água aos pontos de
consumo, sendo seus condutos classificados por:
 Principal, primário, tronco ou mestre: Tubulações de maiores diâmetros
que tem por finalidade abastecer as tubulações secundárias;
P á g i n a | 106

 Secundário: Tubulações de menores diâmetros que tem a função de


abastecer diretamente os pontos de consumo.

A classificação das redes pode ser de acordo com as canalizações principais e


o sentido de escoamento nas tubulações secundárias. Veja a tabela 13.

Tabela 13: Tipos de redes.


Redes Características Representação
 Estabelece o sentido do
escoamento da água;
 Uso: Cidades do interior;
Ramificadas  Desvantagem: Todo
abastecimento fica sujeito ao
funcionamento e uma única
canalização principal.
 Constituída por tubulações
principais que formam anéis ou
blocos;
 Permite abastecer qualquer
ponto do sistema por mais de
um caminho;
 Flexibilidade em satisfazer a
Malhadas demanda e manutenção na
rede com o mínimo de
interrupção no fornecimento de
água;
 Desvantagem: Não se pode
estabelecer a priori o sentido de
escoamento da água.

 Possui anéis e trechos


ramificados;
Mistas  Dependendo do trecho
analisado terá uma
determinada característica.

Fonte adaptada: ALEN SOBRINHO E CONTRERA (2016)

Em geral, uma série de equações simultâneas pode ser escrita para a rede,
satisfazendo às seguintes condições:
 Em qualquer junção: ∑ 𝑄 = 0 , com base na conservação da massa;
 Entre duas junções quaisquer, a perda de altura total é independente do
percurso realização com base na conservação de energia (equação do ciclo)
P á g i n a | 107

O método de Hardy-Cross utiliza aproximações sucessivas de fluxo nas duas


condições descritas para cada junção e ciclo na rede de tubos. O passo a passo para
realização dos cálculos será:
1°) Definem-se as diversas micro áreas a serem atendidas pelas malhas,
calculam-se as vazões a serem distribuídas em cada uma delas e concentra-se cada
vazão em pontos estratégicos (nós) de cada malha, distando, no máximo, 600m entre
dois nós consecutivos; cada circuito fechado resultante é denominado de anel;
2°) Escolhe-se criteriosamente a posição do ponto morto (ponto onde só há
afluência de água para o nó seja por qual for o trecho conectado a esse nó) e admite-
se, com muito bom senso, as vazões que a ele afluem;
3°) Estabelece-se para cada anel um sentido de percurso; normalmente
escolhe-se o sentido positivo como o análogo ao do movimento dos ponteiros de um
relógio, de modo que ao se percorrer o anel, as vazões de mesmo sentido sejam
consideradas positivas e as de sentido contrário negativas;
4°) Definem-se os diâmetros de todos os trechos (mínimo de 75mm) com base
nos limites de velocidade e de carga disponíveis;
5°) Com o diâmetro, a vazão, o material e a extensão de cada trecho calculam-
se as perdas hidráulicas - hf, de cada um deles, considerando-se o mesmo sinal da
vazão;
6°) Somam-se as perdas de carga calculadas para todos os trechos do anel;
7°) Calcula-se a expressão DQi = - (NOTA: não esquecer este sinal de
negativo)

, Eq. X.3

Onde "n" é um fator que depende da expressão que se tiver utilizando para
cálculo desta perda, mais precisamente, é o expoente da incógnita da vazão, ou seja,
nhazen-williams=1,85, ndarcy = 2,0, etc. DQi será, então, a correção de número "i" de vazão
a ser efetuada (vazão e correção em litros por segundo);
8) Após todas as vazões terem sido corrigidas caso qualquer uma das
somatórias das perdas ou a correção das vazões ou ambas tenham sido superior, em
valor absoluto, a unidade (1 mca e 1 l/s, respectivamente), isto é, colocando como
expressão,
P á g i n a | 108

Eq.X 4

Os passos devem ser refeitos a partir do passo cinco com a última vazão
corrigida efetuando-se, então, nova interação, até que esses limites sejam atingidos;

Exemplo:
3) Calcular pelo método Hardy-Cross e empregando a expressão de Hazen-
Williams (logo n = 1,85), a rede de distribuição esquematizada na figura a seguir. São
conhecidos: C = 120, |∑ ℎ𝑓 | ≤ 0,50 mca e |∆𝑄| ≤ 0,50 l/s. Encontrar também a altura
mínima em que deverá ficar a água no reservatório para uma pressão mínima de
serviço de 2,0 kgf/cm2.
OBS: Exemplo com trechos superiores a 600m de extensão apenas por força
enfática no trato acadêmico.

Figura 51: Exercícios.


P á g i n a | 109

Tabela 14: Solução em planilha do Hardy-Cross.


Trecho D L Qo hf,o hfo/Qo DQo Q1 hf,1 hf,1/Q1 DQ1 Q2 hf,2
(mm) (m) (l/s) (m) (l/s) (l/s) (m) (l/s) (l/s) (m)
AB 0,25 2000 +40,00 +9,42 0,24 -2,91 +37,09 +8,19 0,22 -0,04 +37,05 +8,21
BC 0,20 1000 +20,00 +3,87 0,19 -2,91 +17,09 +2,90 0,17 -0,04 +17,05 +2,91
CD 0,25 2000 -30,00 -5,53 0,18 -2,91 -32,91 -6,56 0,20 -0,04 -32,95 -6,58
DA 0,30 1000 -60,00 -4,10 0,07 -2,91 -62,91 -4,48 0,07 -0,04 -62,95 -4,48
RA 0,40 300 +120,00 1,09
S 3,66 0,68 S 0,05 0,66

1ª Correção: DQo = - 3,66 / (1,85 x 0,68) = - 2,91 l/s


2ª Correção: DQ1 = - 0,05 / (1,85 x 0,66) = - 0,04 l/s, 1que é menor que 0,50 l/s (OK!).
P á g i n a | 110

Figura 52: Resposta.

Para se definir a altura mínima da água no reservatório de modo que garanta


uma pressão mínima de 20 mca em todos os nós da rede deve-se proceder da
seguinte maneira: abre-se uma planilha onde na primeira coluna (1) estão listados
todos os nós da rede, seguida de outra coluna (2) com as respectivas cotas do terreno.
Na terceira coluna registram-se as perdas desde o reservatório até o nó
correspondente e na quarta coloca-se para cada nó a soma das colunas 2 e 3 com a
pressão mínima requerida. O maior resultado encontrado será a cota mínima
procurada da água no reservatório. A diferença entre a maior cota encontrada e a cota
do terreno no local de assentamento do reservatório será a altura mínima da saída da
água deste. Então, para o exercício temos:

Tabela 15: Exemplo.


1 2 3 4
cota do perda R - 2 + 3 + Pressão

terreno Nó mínima
A 115,00 1,09 136,09
B 110,00 9,30 139,30
C 107,00 12,21 139,21
D 110,00 5,57 135,57
R 125,00 0,00
P á g i n a | 111

Assim, a altura da saída do reservatório para o nível do terreno, de modo que


tenhamos garantia da pressão mínima na rede será
H = 139,30 - 125,00 = 14,30 metros de altura.

Para saber mais sobre os cálculos em redes de tubo,


estude o capítulo 4 a partir da página 59 do livro Engenharia
Hidráulica, em sua biblioteca virtual, ou
acesse:<http://wp.ufpel.edu.br/hugoguedes/files/2013/10/Aula-9-
Distribui%C3%A7%C3%A3o-Parte2.pdf>.
<http://www.dec.ufcg.edu.br/saneamento/Redes006.html?submit=Continuar>.

O foco na nossa disciplina de hidráulica será as


tubulações, desta forma, não será cobrado em prova (V1) os
cálculos demonstrados acima.
Resumo

Nesta aula você aprendeu que:

 Tubulação é o conjunto de tubos ligados em série ou em paralelo;


 O tubo equivalente é um tubo que possui a mesma perda de carga total
de dois ou mais tubos em série ou em paralelo;
 Em condutos em série, as perdas de cargas se somam para uma
mesma vazão;
 Em condutos paralelos, as vazões se somam para uma mesma perda
de carga;
 Existem 3 tipos de redes de tubo, são elas: ramificadas, malhadas e
mistas.
Referências Bibliográficas

Básica:
CREDER, H. Instalações Hidráulicas e Sanitárias. 6ª Edição. São Paulo:
LTC, 2006.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT) – NBR 5626.


Instalação Predial de Água Fria. Rio de Janeiro, 1998.

ALEN SOBRINHO, P.; CONTRERA, R.C. Consumo de Água. Apresentação


da disciplina Saneamento II. São Paulo. Escola Politécnica da Universidade de São
Paulo. Acesso em: 20/04/2016.

NÚCLEO SUDESTE DE CAPACITAÇÃO E EXTANSÃO TECNOLÓGICA EM


SANEAMENTO BÁSICO – NUCASE. Abastecimento de água: Construção, operação
e manutenção de redes de distribuição de água. Guia do profissional em treinamento,
Nível 2. 2008. Acessado em dezembro de 2016 pelo site:
<http://nucase.desa.ufmg.br/wp-content/uploads/2013/04/AA-COMR.2.pdf>.
Exercícios
AULA 5

Considere a figura abaixo para a resolução dos números


1 e 2.

Figura 53: Exercícios.

Dois tubos de ferro fundido em série interligam dois reservatórios (Figura 53).
Ambos têm 300 m de comprimento e possuem diâmetros de 0,5 m e 0,3 m,
respectivamente. A elevação da superfície da água (WS) no reservatório A é de 80m.
A descarga de água a 10°C do reservatório A para B é de 0,6 m³/s. Encontre a
elevação da superfície do reservatório B. Considere uma contração brusca na junção
e uma entrada quadrada.

2) Desprezando-se as perdas localizadas, considerando no início do tubo 1


uma pressão de 65 Pa e para todos os tubos f=0,04. Qual a pressão estimada ao final
do tubo B (saída para o reservatório).
P á g i n a | 115

3) Na figura a seguir PA = 7,8 Kgf/m² e para todos os tubos f=0,03. Qual a


pressão em B, desprezando-se as perdas localizadas ou acidentais?

Figura 54: Exercícios.

4) Um sistema de canalizações em série consta de 1800 m de canos de 50 cm


de diâmetros, 1200 m de canos com 40 cm e 600 m com 30 cm. Pede-se:
a) comprimento equivalente de uma rede de diâmetro único de 40 cm, do
mesmo material.
b) o diâmetro equivalente para uma canalização de 3600m de comprimento.
OBS: Use a fórmula de Hazen-Williams e despreze as perdas localizadas nas
mudanças de diâmetro.

Figura 55: Exercícios.

5) Três canalizações novas de ferro fundido formam a tubulação mista da Fig.


abaixo. Tem a primeira 300 mm de diâmetro em 360 m; a segunda, 600 mm de
diâmetro em 600 metros; e a terceira, 450 mm em 450 metros. Determinar-lhe a perda
de carga, excluídas as perdas acidentais, para a descarga de 226 1/seg.
(Usar Hazen-Williams - C = 100)
Aula 6
Bombas hidráulicas I

APRESENTAÇÃO DA AULA

De acordo com Houghtalen (2013), “As bombas de água são dispositivos


projetados para converter energia mecânica em hidráulica”.

Nesta aula, apresentaremos os conceitos teóricos de máquinas de fluxo,


focando os nossos estudos nas bombas hidráulicas. Estudaremos os tipos de
bombas, em especial, as centrífugas.
Também será definido nesta aula o conceito de cavitação, um grave problema
que pode acontecer nas bombas.
Parabéns para quem chegou até aqui! Agora, vamos ampliar e aprofundar
nossos conhecimentos.

OBJETIVOS DA AULA

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:

 Apresentar o conceito de bombas e seu funcionamento;


 Entender os tipos e classificações das bombas.
 Aprender o que é cavitação.
P á g i n a | 117

6 INTRODUÇÃO – BOMBAS HIDRÁULICAS I

“A maior vitória na competição é derivada da satisfação interna de


saber que você fez o seu melhor e que você obteve o máximo daquilo que
você deu. ” (Howard Cosell)

Vamos lá! Para que você entenda os conceitos bombas hidráulica,


começaremos pela definição de máquina de fluido e sua classificação.
Máquina de Fluxo é uma máquina de fluido, em que o escoamento fluiu
continuamente, ocorrendo transferência de quantidade de movimento de um rotor
para o fluido que atravessa, transformando sua energia.
São constituídas de um motor e um gerador, normalmente acoplados através
de um eixo. O motor é acionado por certa modalidade de energia, transforma-a em
trabalho, que é transmitido, através do eixo, ao gerador. Este, por seu lado,
transforma-o na modalidade final de energia desejada.
Exemplos típicos: turbina hidráulica, bomba centrífuga, ventiladores,
compressores frigoríficos, bomba de ar manual, freio hidráulico de um veículo,
dinamômetro hidráulico.
As máquinas de fluido podem ser classificadas em:
 Máquinas de fluxo (Tabela 16);
 Máquinas de deslocamento (Tabela 17)

Tabela 16: Máquinas de fluxo.


Fluido de trabalho Designação
turbina hidráulica e bomba
líquido
centrífuga
gás (neutro) ventilador, turbo compressor
vapor (água, freon, turbina a vapor, turbo compressor
etc.) frigorífico
gás de combustão turbina a gás, motor de relação
P á g i n a | 118

Tabela 17: Máquinas de Deslocamento.


Fluido de trabalho Designação
bomba de engrenagens, de cavidade
líquido
progressiva, de parafuso
gás (neutro) compressor alternativo, compressor rotativo
vapor (freon, amónia, etc.) compressor alternativo, compressor rotativo
gás de combustão motor alternativo de pistão

As principais características entre as máquinas de fluxo e as de deslocamento


são apresentadas na tabela 18.

Tabela 18: Características Principais.


Máquinas de fluxo Máquinas de deslocamento
alta rotação baixas e médias rotações
potência específica elevada potência específica média p/ baixa
(potência/peso) (potência/peso)
não há dispositivos com movimento várias têm dispositivos com movimento
alternativo alternativo
médias e baixas pressões de altas e muito altas pressões de trabalho
trabalho
não operam eficientemente com adequadas para operar com fluidos de
fluidos de viscosidade elevada viscosidade elevada
vazão contínua na maior parte dos casos, vazão intermitente
energia cinética surge no processo energia cinética não tem papel significativo
de transformação de energia no processo de transformação de energia
na maioria dos casos, projeto na maioria dos casos, projeto hidrodinâmico
hidrodinâmico e características e características construtivas mais simples
construtivas mais complexas que as que as máquinas de fluxo
máquinas de deslocamento

Os equipamentos abordados em nossa disciplina serão as


turbinas, que removem a energia do fluido, e as bombas que adicionam
energia a um fluido.

Tipos de Bombas

As bombas são máquinas nas quais a movimentação do líquido é produzida


por forças que se desenvolvem na massa líquida.
Devido à grande diversidade das bombas existentes, podemos utilizar uma
classificação resumida, dividindo-as em grupos:
P á g i n a | 119

a) Bombas de Deslocamento Positivo (Volumétricas) – o volume de líquido


remetido está diretamente relacionado com o deslocamento do elemento pistão e,
portanto, aumenta diretamente com a velocidade e não é sensivelmente afetado pela
pressão. São usadas para bombeamento contra altas pressões e quando requerem
vazões de saída quase constantes. As bombas de deslocamento positivo se dividem
em dois tipos:
– Alternativas ou êmbolo – A taxa de fornecimento do líquido é uma função
do volume varrido pelo pistão, ou diafragma, no cilindro e do número de golpes do
pistão.
– Rotativa – O rotor da bomba provoca uma pressão reduzida do lado da
entrada, o que possibilita a admissão do líquido à bomba, pelo efeito da pressão
externa. À medida que o elemento gira o líquido fica retido entre os componentes do
rotor e a carcaça da bomba, depois de uma determinada rotação, o líquido é ejetado
pelo lado da descarga da bomba.
b) Bombas Centrífugas (turbobombas) - são aquelas em que a energia
fornecida ao líquido é primordialmente do tipo cinética, sendo posteriormente
convertida em grande parte em energia de pressão. Nas bombas centrífugas a
movimentação do líquido é produzida por forças desenvolvidas na massa líquida de
um rotor. Estas bombas caracterizam-se por operarem com altas vazões, pressões
moderadas e fluxo contínuo. Podem ser utilizadas em irrigação, drenagem e
abastecimento. As bombas centrífugas se dividem em dois tipos:
– Radias – São bombas onde a energia cinética é originada unicamente pelo
desenvolvimento de forças centrífugas na massa líquida devido á rotação de uma
impelidor (rotor) de características especiais.
– Francis – Possuem um impelidor com palhetas e curvaturas em dois planos.
c) Bomba Diafragma – Depende do movimento de um diafragma para
conseguir pulsação. São usadas para suspensões abrasivas e líquidas muito
viscosas.
d) Bomba a Jato – Usam o movimento de uma corrente de fluido a alta
velocidade para imprimir movimento a outra corrente, misturando as duas.
P á g i n a | 120

e) Bomba Eletromagnética – Princípio igual ao motor de indução usada com


líquidos de alta condutividade elétrica (metais líquidos) não tem partes mecânicas
móveis.
Nesta aula estudaremos apenas as bombas centrífugas, devido
a sua grande aplicabilidade nas áreas de atuação da engenharia civil.

Aplicações

Existe uma ampla gama de bombas que podem ser utilizadas em um espectro
grande de aplicações, sendo difícil definir exatamente onde usar cada tipo.
Há predomínio de bombas centrífugas, de fluxo misto e axiais (máquinas de
fluxo) para regiões de médias e grandes vazões, enquanto bombas alternativas e
rotativas (máquinas de deslocamento positivo) dominam a faixa de médias e grandes
alturas de elevação e pequenas vazões.
P á g i n a | 121

Figura 56: Campo de aplicação de bombas.

Fonte: HENN (2006)

A figura 56 apresenta um gráfico para o auxílio na escolha de uma bomba para


determinada aplicação, utilizando como base a vazão, em metros cúbicos por hora, e
a altura manométrica (que será abordado na próxima aula), em metros de coluna de
água.

Bombas Centrífugas

Bombas são equipamentos que conferem energia de pressão aos líquidos com
a finalidade de transportá-los de um ponto para outro.
Nas bombas centrífugas, a movimentação do líquido é produzida por forças
desenvolvidas na massa líquida pela rotação de um rotor. Este rotor é essencialmente
um conjunto de palhetas ou de pás que impulsionam o líquido.
As bombas centrífugas caracterizam-se por operarem com vazões elevadas,
pressões moderadas e fluxo contínuo.
P á g i n a | 122

As vantagens das bombas centrífugas são:


a) Maior flexibilidade de geração: Uma única bomba pode abranger uma
grande faixa de trabalho variando seu diâmetro e rotor;
b) Pressão máxima: Não existe perigo de se ultrapassar a pressão máxima da
bomba em operação;
c) Pressão uniforme: Se não houver alteração de vazão a pressão se mantém
constante;
d) Baixo custo: são bombas que apresentam bom rendimento e construção
relativamente simples.

Princípios de Funcionamento

O propósito de uma bomba centrífuga é converter a energia de uma fonte motriz


principal (um motor elétrico ou turbina), a princípio, em velocidade ou energia cinética,
e então, em energia de pressão do fluido que está sendo bombeado.
As transformações de energia acontecem em virtude de duas partes principais
da bomba: o impulsor e a voluta, ou difusor (Figura 57).
 O impulsor é a parte giratória que converte a energia do motor em energia
cinética.
 A voluta ou difusor é a parte estacionária que converte a energia cinética em
energia de pressão.

Figura 57: Órgãos principais de uma bomba.

Fonte: GUEDES (2015)


P á g i n a | 123

Todas as formas de energia envolvidas em um sistema de fluxo


de líquido são expressas em termos de altura de coluna do líquido, isto
é, carga.

Geração da Força Centrífuga

O líquido entra no bocal de sucção e, logo em seguida, no centro de um


dispositivo rotativo conhecido como impulsor. Quando o impulsor gira, ele imprime
uma rotação ao líquido situado nas cavidades entre as palhetas externas,
proporcionando-lhe uma aceleração centrífuga. Cria-se uma área de baixa-pressão
no olho do impulsor causando mais fluxo de líquido através da entrada, como folhas
líquidas. Como as lâminas do impulsor são curvas, o fluido é impulsionado nas
direções radial e tangencial pela força centrífuga. Fazendo uma analogia para melhor
compreensão, esta força que age dentro da bomba é a mesma que mantém a água
dentro de um balde, girando na extremidade de um fio. A figura 58 nos mostra um
corte lateral de uma bomba centrífuga indicando o movimento do líquido.

Figura 58: Trajetória do fluxo de líquido dentro de uma bomba centrífuga.

Fonte: GANGHIS (2016)


P á g i n a | 124

Conversão da Energia Cinética em Energia de Pressão

A energia criada pela força centrífuga é energia cinética. A quantidade de


energia fornecida ao líquido é proporcional à velocidade na extremidade, ou periferia,
da hélice do impulsor. Quanto mais rápido o impulsor move-se, ou quanto maior é o
impulsor, maior será a velocidade do líquido na hélice, e tanto maior será a energia
fornecida ao líquido.
Esta energia cinética do líquido, ganha no impulsor, tende a diminuir pelas
resistências que se opõem ao fluxo. A primeira resistência é criada pela carcaça da
bomba, que reduz a velocidade do líquido. No bocal de descarga, o líquido sofre
desaceleração e sua velocidade é convertida a pressão, de acordo com o princípio de
Bernoulli. Então, a carga desenvolvida (pressão, em termos de altura de líquido) é
aproximadamente igual à energia de velocidade na periferia do impulsor.
Esta carga pode ser calculada por leitura nos medidores de pressão, presos às
linhas de sucção e de descarga. As curvas das bombas relacionam a vazão e a
pressão (carga) desenvolvida pela bomba, para diferentes tamanhos de impulsor e
velocidades de rotação. A operação da bomba centrífuga deveria estar sempre em
conformidade com a curva da bomba fornecida pelo fabricante.

Observação: Um fato deve ser sempre lembrado: uma bomba


não cria pressão, ela só fornece fluxo. A pressão é justamente uma
indicação da quantidade de resistência ao escoamento.

Partes de uma Bomba Centrífuga

As bombas industriais são compostas de três grandes grupos de partes que se


subdividem em estacionários, rotativos e auxiliares que são mostrados na figura 4 e
detalhados a seguir.
P á g i n a | 125

Figura 59: Componentes gerais de uma Bomba Centrífuga.

Fonte: GANGHIS (2016)

Componentes Estacionários

Pertencente aos componentes estacionários, as Carcaças geralmente são de


dois tipos: em voluta (carga mais alta) e circular (usadas para baixa carga e
capacidade alta). Os impulsores estão contidos dentro das carcaças.
Os bocais de sucção e de descarga são localizados nos lados da carcaça
perpendicular ao eixo. A bomba pode ter carcaça bipartida axialmente ou radialmente.
Os termos câmara de lacre e caixa de enchimento referem-se ambos a uma câmara
acoplada ou separada da carcaça da bomba, que forma a região entre o eixo e a
carcaça onde o meio de vedação é instalado. Quando o lacre é feito por meio de um
selo mecânico, a câmara normalmente é chamada câmara de selo. Quando o lacre é
obtido por empacotamento, a câmara é chamada caixa de recheio.
Tanto a câmara de selo como a caixa de recheio, têm a função primária de
proteger a bomba contra vazamentos no ponto onde o eixo atravessa a carcaça da
bomba sob pressão. Quando a pressão no fundo da câmara é abaixo da atmosférica,
P á g i n a | 126

previne vazamento de ar na bomba. Quando a pressão é acima da atmosférica, as


câmaras previnem o vazamento de líquido para fora da bomba.

Componentes Rotativos

O impulsor é a parte giratória principal, que fornece a aceleração centrífuga


para o fluido, ver figura 60.

Figura 60: Tipos de rotor: (a) aberto, (b) fechado e (c) semifechado.

Fonte: GUEDES (2015)

 Rotor aberto: usado para bombas de pequenas dimensões. É de pouca


resistência estrutural e baixo rendimento. Dificulta o entupimento, podendo ser usado
para bombeamento de líquidos sujos.
 Rotor fechado: usado no bombeamento de líquidos limpos. Contêm discos
dianteiros as palhetas fixas em ambos. Evita a recirculação de água (retorno da água
à boca de sucção).
 Rotor semifechado: contém apenas um disco, onde são afixadas as
palhetas.

Outro componente rotativo importante é o eixo de uma bomba centrífuga.


Sua função é transmitir o torque de partida e durante a operação, enquanto
apoia o impulsor e outras partes giratórias. Ele tem que fazer este trabalho com uma
deflexão menor que a liberação mínima entre as partes giratórias e estacionárias.
Os componentes auxiliares geralmente incluem os seguintes sistemas, para os
seguintes serviços:
P á g i n a | 127

 Sistemas de descarga do lacre, refrigeração e afogamento;


 Dreno do lacre e suspiros;
 Sistemas de lubrificação dos mancais e de refrigeração;
 Sistemas de resfriamento da câmara de enchimento e selagem e sistemas
de aquecimento;
 Sistema de refrigeração do pedestal da bomba.

Os sistemas auxiliares incluem tubulação, válvulas de isolamento, válvulas de


controle, válvulas de alívio, medidores de temperatura e termopares, medidores de
pressão, indicadores de fluxo, orifícios, refrigeradores do selo, reservatórios dos
fluidos do dique/defletor do selo, e todas as aberturas e drenos relacionados.

Demais classificações das bombas

a) Quanto ao número de entradas para aspiração ou sucção:


 Bombas de sucção simples ou de entrada unilateral (Fig. 61-a)
 Bombas de dupla sucção ou de entrada bilateral (Fig. 61-b)

Figura 61: Representação da entrada de sucção das bombas.

Fonte: GUEDES (2015)

(a) (b)

b) Quanto ao número de rotores dentro da carcaça:


 Bombas de simples estágio ou unicalelulares: contém um único rotor na
carcaça;
 Bombas de múltiplos estágios ou multicelulares (Figura 62).
P á g i n a | 128

Figura 62: Rotor de uma bomba de múltiplos estágios.

Fonte: GUEDES (2015)

c) Quanto ao posicionamento do eixo:


 Bomba de eixo horizontal: concepção construtiva mais comum;
 Bomba de eixo vertical: usada na extração de água de poços profundos.

d) Quanto à pressão desenvolvida:


 Bomba de baixa pressão: 𝐻𝑚 ≤ 15m;
 Bomba de média pressão: 15 < 𝐻𝑚 ≤ 50m;
 Bomba de alta pressão: 𝐻𝑚 ≥ 50m.

e) Quanto à posição do eixo da bomba em relação ao nível da água


(NA):
 Bomba de sucção positiva: o eixo da bomba situa-se acima do NA do
reservatório de sucção (Figura 63);
 Bomba de sucção negativa ou afogada: o eixo da bomba situa-se abaixo no
NA do reservatório de sucção (Figura 64).

Para uma correta instalação de um sistema de bombeamento, devem ser


considerados os seguintes elementos fundamentais:
 O tubo que conduz a água até o orifício de espiração da bomba denomina-
se conduto de sucção;
 O tubo que recebe a água do orifício de recalque da bomba denomina-se
conduto de recalque ou de compressão;
 A bomba;
P á g i n a | 129

 O motor de acionamento, chaves de comando, transformador, linhas de alta


e baixa tensão.

Figura 63: Bomba não afogada.

Fonte: <chasqueweb.ufrgs.br/~anaborges/Bombas_2011_corrigida%203.pdf>.

Figura 64: Bomba afogada.

Fonte: <chasqueweb.ufrgs.br/~anaborges/Bombas_2011_corrigida%203.pdf>.

Como elementos acessórios, que poderão ou não ocorrer numa instalação de


recalque, tem-se:
 Registro de gaveta;
P á g i n a | 130

 Válvula de retenção;
 Válvula de pé;
 Crivo;
 Curvas;
 Estreitamento gradual e alargamentos, etc.

Cavitação em bombas

A água como qualquer outro líquido, pode virar vapor em determinadas


condições de temperatura e pressão. Em consequência disso, pode ocorrer nos
escoamentos hidráulicos o fenômeno de cavitação.
Chama-se de cavitação o fenômeno que decorre mediante a ebulição da água
no interior dos condutos, quando as condições de pressão caem a valores inferiores
a pressão de vaporização. Suas consequências são danosas para o escoamento e
para as regiões sólidas onde a mesma ocorre.

No interior das bombas, no deslocamento das pás, ocorrendo este fenômeno,


serão formadas bolhas de vapor prejudiciais ao seu funcionamento.
Estas bolhas de ar desaparecem bruscamente condensando-se, quando
alcançam zonas de altas pressões em seu caminho através da bomba.
Como esta passagem gasoso-líquido é brusca, o líquido alcança a superfície
do rotor em alta velocidade, produzindo ondas de alta pressão em áreas reduzidas.
Estas pressões podem ultrapassar a resistência à tração do metal e arrancar
progressivamente partículas superficiais do rotor, inutilizando-o com o tempo.
Quando ocorre a cavitação são ouvidos ruídos e vibrações características e
quanto maior for à bomba, maiores serão estes efeitos. Além de provocar o desgaste
progressivo até a deformação irreversível dos rotores e das paredes internas da
bomba, simultaneamente esta apresentará uma progressiva queda de rendimento,
caso o problema não seja corrigido (Figura 65).
P á g i n a | 131

Figura 65: Ilustrações de desgaste nos rotores devido à cavitação.

Fonte: <http://www.engbrasil.eng.br/pp/mf/aula17.pdf>.

Nas bombas, a cavitação geralmente ocorre por altura inadequada da sucção


(problema geométrico), por velocidades de escoamento excessivas (problema
hidráulico) ou por escorvamento incorreto (problema operacional).
Resumo

Nesta aula você aprendeu que:

 As máquinas de fluido podem ser divididas em máquinas de fluxo e de


deslocamento;
 As bombas são máquinas nas quais a movimentação do líquido é
produzida por forças que se desenvolvem na massa líquida;
 Cavitação é um fenômeno que ocorre mediante a ebulição da água no
interior dos condutos.
 Existem diversos tipos de bombas para diversas aplicações.
Complementar

Vídeos:
<https://www.youtube.com/watch?v=6I9Xb0kIly0>.
<https://www.youtube.com/watch?v=WNyKcC0bNoA>.
Referências Bibliográficas

Básica:
GANGHIS, D. Bombas Industriais. Disciplina de Escoamento e transporte de
fluidos. CEFET. Bahia. Acessado em 2016 através de:
<http://www.docslib.org/view/centro-federal-de-educa-c-195-o-tecnol-211-gica-
da_6d07ab3dd5aa3849.html>.

GUEDES, H. A. S. Colaboração de Honscha, M. L. Hidráulica. Curso de


Engenharia Civil. Universidade Federal de Pelotas. Rio Grande do Sul. Agosto 2015.

HENN, E.A.L. Máquinas de fluido. 2ª Edição, Porto Alegre: UFSM, 2006.

MACINTYRE, A. J. Equipamentos Industriais e de Processo. 2ª Edição


revisada. Rio de Janeiro: LTC - Livros Técnicos e Científicos, 1997.

Meio digital: Máquinas Hidráulicas – Bombas. Maio de 2011. Acessado em


2016 através de:
<https://chasqueweb.ufrgs.br/~anaborges/Bombas_2011_corrigida%203.pdf>.
Exercícios
AULA 6

1) O que é uma máquina de fluido. Como podemos


classifica-la?

2) O que é cavitação e qual a sua relação com a pressão de vapor? Para evitar-
se a cavitação de uma bomba, que providências devemos adotar?

3) Pesquise o que é escorva?

4) Qual a diferença entre as bombas centrífugas e volumétricas? Como


funcionam? Pesquise mais informações na literatura.

5) Nas bombas, existem rotores abertos e fechados, explique onde esses


rotores devem ser utilizados. Faça uma pesquisa na literatura.

6) Descreva o processo de funcionamento de uma bomba centrífuga.


P á g i n a | 136

7) Considerando ser necessária uma bomba para escoar um líquido com uma
vazão de 2520 m³/h para vencer uma altura manométrica de 500 m, escolha o tipo de
bomba de acordo com a sua aplicação analisando o gráfico abaixo.

Figura 66: Exercícios.


Aula 7
Bombas hidráulicas II

APRESENTAÇÃO DA AULA

Depois de uma breve teoria sobre as bombas, vamos agora entender alguns
conceitos importantes: Altura manométrica, potência, rendimento, curva
característica e dimensionamento das tubulações de sucção e recalque.
Através da equação de Bernoulli, iremos considerar outros componentes
importantes nos cálculos desta aula, haja vista que, em uma bomba, a energia na
saída é maior que a energia na entrada. Bons estudos!

OBJETIVOS DA AULA

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:

 Apresentar os conceitos de variação de energia na entrada e na saída


da bomba;
 Entender o que é altura manométrica e como realizar seus cálculos;
 Entender os conceitos de perda de carga em uma bomba e seus
cálculos;
 Dimensionar uma bomba (Potência, diâmetro de rotor, rendimento,
etc.) por meio de cálculos matemáticos ou análise de ábacos em
catálogos de fabricantes de bombas.
P á g i n a | 138

“O único lugar aonde o sucesso vem antes do trabalho


é no dicionário” (Albert Einstein)

7 INTRODUÇÃO – BOMBAS HIDRÁULICAS II

Nesta aula iremos levar em conta as questões de potências, parâmetros


hidráulicos e dimensionamento das tubulações de recalque e sucção. Mas antes,
temos que entender como a turbo bomba entra na equação de Bernoulli.
Analisando duas seções, uma na entrada da bomba e outra em sua saída,
aplicando na equação de Bernoulli, temos:

𝑉𝐸2 𝑃𝐸 𝑉𝑆2 𝑃𝑆
+ + ℎ𝐸 + 𝐻𝑚 = + + ℎ𝑆 + ℎ𝑓
2𝑔 𝛾 2𝑔 𝛾

Onde:
𝐻𝑚 – energia doada pela bomba ao fluido.
ℎ𝑓 − 𝑝𝑒𝑟𝑑𝑎 𝑑𝑒 𝑐𝑎𝑟𝑔𝑎

Outra forma de aplicar a equação de Bernoulli é:


𝐸1 + 𝐻𝑚 = 𝐸2

Onde: Energia de entrada da bomba mais 𝐻𝑚 (adicional de energia) é igual a


energia de saída.

Essa altura 𝐻𝑚 é chamada na nomenclatura das bombas de altura


manométrica. Este e outros parâmetros são estudados a seguir.

Altura manométrica e a perda de carga

A altura manométrica é definida como sendo a altura geométrica da


instalação mais as perdas de carga ao longo da trajetória do fluxo. Altura
geométrica é a soma das alturas de sucção e recalque. Fisicamente, é a quantidade
P á g i n a | 139

de energia hidráulica que a bomba deverá fornecer à água, para que a mesma seja
recalcada a certa altura, vencendo, inclusive, as perdas de carga.
A altura manométrica é descrita pela seguinte equação:

Hm = HG + hf

Sendo:
Hm= altura manométrica da instalação (m);
HG= altura geométrica (m);
hf= perda de carga total (m) .

Figura 67: Representação das alturas de sucção e recalque em uma instalação.

As perdas de carga referem-se à energia perdida pela água no seu


deslocamento por alguma tubulação. Essa perda de energia é provocada por atritos
entre a água e as paredes da tubulação, devido à rugosidade da mesma, conforme
vimos nas aulas anteriores. Portanto, ao projetar uma estação de bombeamento,
deve-se considerar essa perda de energia.
P á g i n a | 140

São classificadas em 2 tipos:


 Perdas de carga contínuas: São aquelas relativas às perdas ao longo de
uma tubulação, sendo função do comprimento, material e diâmetro.
 Perdas de carga acidentais: São aquelas proporcionadas por elementos
que compõem a tubulação, exceto a tubulação propriamente dita. Portanto, são
perdas de energia observadas em peças como, curvas de 90° ou 45°, registros,
válvulas, luvas, reduções e ampliações

Para o cálculo da perda de carga total, podemos utilizar o método dos


comprimentos equivalentes, convertendo-se a perda acidental em perda de carga
equivalente a um determinado comprimento de tubulação.

Vamos recordar?
Matematicamente, define-se perda de carga como sendo:

hf1-2 = S. Le

Sendo:
hf1-2 = perda de carga entre os pontos 1 e 2 de uma instalação (m);
S = perda de carga unitária (m/m);
Le = comprimento equivalente da tubulação

Existem vários métodos para o cálculo de perda de carga unitária; entre esses,
destaca-se pela simplicidade e facilidade de uso, o Método de Hazen-Williams (aula
3), que é feito através da seguinte expressão:

𝑄1,85
ℎ𝑓1−2 = 10,65. 1,85 . 𝐿𝑒
𝐶𝐻𝑊 . 𝐷4,87

Sendo:
Q= vazão (m3 /s);
C = constante adimensional de Hazen-Williams;
P á g i n a | 141

D= diâmetro interno da tubulação (m);

Outras expressões utilizadas

Vejamos agora algumas expressões segundo Houghtalen (2013) que podem


ser utilizadas nos cálculos de altura manométrica atribuindo a seção 1 a entrada da
bomba e a seção 2 sua saída.

𝑃𝐸
𝐻𝑎 = 𝐻𝑏 −
𝛾

Representada por 𝐻𝑎 (altura manométrica de aspiração) – é a diferença entre


a pressão atmosférica local 𝐻𝑏 em mca e a pressão reinante na entrada da bomba,
que vamos supor ser igual à entrada do rotor.
Podemos escrever também 𝐻𝑎 como:

𝑉𝑜 ²
𝐻𝑎 = ℎ𝑎 + + 𝑝𝑒𝑟𝑑𝑎
2𝑔

Onde:
ℎ𝑎 = 𝑎𝑙𝑡𝑢𝑟𝑎 𝑔𝑒𝑜𝑚é𝑡𝑟𝑖𝑐𝑎 𝑑𝑒 𝑎𝑠𝑝𝑖𝑟𝑎çã𝑜
𝑉𝑜 ²
= 𝑒𝑛𝑒𝑟𝑔𝑖𝑎 𝑐𝑖𝑛é𝑡𝑖𝑐𝑎 𝑛𝑎 𝑒𝑛𝑡𝑟𝑎𝑑𝑎 𝑑𝑎 𝑏𝑜𝑚𝑏𝑎
2𝑔

Representada por 𝐻𝑟 (altura total de recalque ou manométrica de recalque) é a


diferença entre as alturas representativas da pressão de saída e a atmosférica.

𝑃𝑆
𝐻𝑟 = ( + 𝑖) − 𝐻𝑏
𝛾

Onde:
i = desnível entre a saída e entrada da bomba (Figura 68).
P á g i n a | 142

Figura 68: Indicação de grandeza i.

Fonte: HOUGHTALEN (2013)

Juntando 𝐻𝑟 𝑒 𝐻𝑎 , temos:
𝑃𝑆 𝑃𝐸
𝐻=( + 𝑖) −
𝛾 𝛾

Onde H é altura manométrica de elevação ou simplesmente manométrica.

O conhecimento de H é da maior importância nos projetos de instalações de


bombeamento.
Em instalações industriais como elevatórias de água e esgotos, são utilizados
aparelhos para medir a pressão na tubulação, são os chamados: manômetro
(colocado no encanamento de recalque) e vacuômetro (na tubulação de aspiração
próxima à boca da bomba).
O manômetro fornece a diferença entre a pressão absoluta e a atmosférica, já
o vacuômetro mede a diferença entre a pressão atmosférica e a absoluta.
Exprimindo H em função das leituras destes equipamentos teremos:

𝑝′ + 𝑝"
𝐻= +𝑚
𝛾
P á g i n a | 143

Onde:
p' = leitura no manômetro
p” = leitura no vacuômetro
m = diferença de cotas entre os instrumentos.

Figura 69: Determinação da altura manométrica com instrumentos.

Fonte: HOUGHTALEN (2013)

Na prática, é comum colocar-se o manômetro e vacuômetro na mesma altura, de


modo que m=0 e H se reduzem à simples soma das leituras.
Outras fórmulas que podem ser utilizadas:
 Para energia de pressão de saída da bomba:
𝑃𝑆 𝑝′
= + 𝐻𝐵
𝛾 𝛾
 Para energia de pressão de entrada da bomba:

𝑃𝐸 𝑝"
= + 𝐻𝐵
𝛾 𝛾

Exercício resolvido:
1) Num local em que 𝐻𝐵 = 10,33 m.c.a, as leituras nos instrumentos no recalque
e na aspiração foram:
p' = 5 kgf/cm² = 50 m.c.a
P á g i n a | 144

p” = 1,5 Kgf/cm² = 15 m.c.a (bomba afogada, ou seja abaixo do nível de água


do reservatório inferior).

Figura 70: Bomba em linha, eixo vertical.

Fonte: HOUGHTALEN (2013)

Calcule H em função da pressão absoluta.


Solução:
Para calcularmos H, temos que usar a expressão:

𝑃𝑆 𝑃𝐸
𝐻=( + 𝑖) −
𝛾 𝛾

Vamos admitir i=0 (entrada e saída na mesma cota – figura 70). Como não
temos 𝑃𝑆 e 𝑃𝐸 vamos utilizar as expressões abaixo:

𝑃𝑆 𝑝′
= + 𝐻𝐵 = 50 + 10,33 = 60,33 𝑚
𝛾 𝛾
𝑃𝐸 𝑝"
= + 𝐻𝐵 = 15 + 10,33 = 25,33 𝑚
𝛾 𝛾
P á g i n a | 145

Substituindo em H:

𝑃𝑆 𝑃𝐸
𝐻=( − ) + 𝑖 = 60,33 − 25,33 = 35 𝑚. 𝑐. 𝑎
𝛾 𝛾

Potências e Diâmetros

Nas bombas devemos considerar as seguintes potências e rendimentos.

Potência necessária ao funcionamento da bomba (Pot)

A potência absorvida em CV pela bomba é calculada por:


𝛾. 𝑄. 𝐻𝑀
𝑃𝑜𝑡 =
75. η

Em KW:
0,735. 𝛾. 𝑄. 𝐻𝑀
𝑃𝑜𝑡 =
75. η

Onde η é o rendimento.

Potência instalada ou potência do motor (N)

O motor que aciona a bomba deverá trabalhar sempre com uma folga, ou
margem de segurança, a qual evitará que ele venha, por razão qualquer, operar com
sobrecarga. Portanto, recomenda-se que a potência necessária ao funcionamento da
bomba (Pot) seja acrescida de uma folga, conforme especificação do Tabela 19 (para
motores elétricos).
P á g i n a | 146

Tabela 19: Folga para motores elétricos.


Margem de segurança recomendável
Potência exigida pela bomba (Pt)
para motores elétricos
Até 2cv 50%
De 2 a 5cv 30%
De 5 a 10cv 20%
De 10 a 20cv 15%
Acima de 20cv 10%

Para motores a óleo diesel, recomenda-se margem de segurança de 25% e à


gasolina, 50%, independentemente da potência calculada.
Finalmente, para a determinação da potência instalada (N), deve-se observar
que os motores elétricos nacionais são fabricados com as seguintes potências
comerciais em cv (Tabela 20):

Tabela 20: Potências comerciais para motores elétricos (CV).


1/4 1/3 1/2 3/4 1 1½ 2
3 5 6 7½ 10 12 15
20 25 30 35 40 45 50
60 100 125 150 200 250 300

Diâmetros de recalque e sucção

Uma das formas de calcular os diâmetros de tubos de entrada e saída de uma


bomba está apresentada abaixo.
a) Diâmetro de recalque (DR)
Para o funcionamento contínuo da bomba, ou seja, 24 horas/dia pode ser
utilizada a fórmula de Bresse:
𝐷𝑅 = 𝐾. √𝑄

Onde:
DR em metros e vazão (Q) em m³/s;
K = 0,8 a 1,3 (valor comum K=1)

Indicada para o funcionamento intermitente ou não contínuo (menos de 24


horas/dia) é recomendada pela ABNT NB-92/66:
𝑇 0,25
𝐷𝑅 = 1,3. ( ) . √𝑄
24
P á g i n a | 147

Onde T é a jornada de trabalho da instalação, h/dia.

Em edifícios, também pode ser empregado à fórmula de Forscheimmer.


A figura 71 traduz a dependência entre as grandezas que aparecem na sua
fórmula.

Figura 71: Representação gráfica das grandezas da fórmula de Forscheimmer.

Fonte: MACINTYRE (1997)

b) Diâmetro de sucção:
É o diâmetro comercial imediatamente superior ao diâmetro de recalque
calculado pelas fórmulas acima.
Quando o diâmetro calculado pelas Equações 79 ou 82 não
coincidir com um diâmetro comercial, é procedimento usual admitir o
diâmetro comercial imediatamente superior ao calculado para a
sucção e o imediatamente inferior ao calculado para o recalque.
P á g i n a | 148

c) Gráfco de Sulzer
Segundo Macintyre (1997), para a água, Sulzer aconselha os valores do gráfico
da figura 72 para velocidades na aspiração e no recalque em função dos diâmetros e
das descargas.

Figura 72: Gráfico de Sulzer.

Fonte: MACINTYRE (1997)

Além das fórmulas vistas para o cálculo dos diâmetros, pode-se adotar ainda o
critério das chamadas velocidades econômicas, cujos limites são:
 Na sucção: VS < 1,5 m/s (no máximo 2 m/s);
 No recalque: VR < 2,5 m/s (no máximo 3 m/s).

Os diâmetros são facilmente calculados pela equação da continuidade, já que


se conhece a vazão (Q = AV), ou seja:

4𝑄
𝐷=√
𝜋. 𝑉
P á g i n a | 149

Exercícios

Na instalação esboçada abaixo, determinar o diâmetro de entrada e saída da


bomba, a altura manométrica e a potência do motor da bomba, sabendo que a vazão
Q=5 litros por segundo. Tubo de ferro galvanizado rosqueado.
Dados:
Altura geométrica de aspiração = 2,6 m;
Comprimento real do tubo de aspiração = 5,40 m;
Altura geométrica de recalque = 42,50 m;
Comprimento real do tubo de recalque = 59,95 m

Figura 73: Instalação hidráulica.

Fonte: MACINTYRE (1997)


P á g i n a | 150

Solução:
1º Passo: escolha das velocidades de escoamento e diâmetro dos
encanamentos
Pelo gráfico de Sulzer (Figura 74), para Q=5 litros/s, obtêm:

Figura 74: Exercícios.

Fonte: MACINTYRE (1997)

- Diâmetro de recalque ≈ 63 mm ou 2 ½ polegadas (linha azul);


- Velocidade de recalque ≈ 1,45 m/s;
- Diâmetro de aspiração (ou sucção) ≈ 70 mm usaremos 3 polegadas ≈ 75
mm (linha vermelha);
- Velocidade de aspiração ≈ 1,3 m/s

2º Passo: Cálculo da altura total de aspiração


 Comprimento real = 5,40 m;
 Comprimento equivalente: 1 válvula de pé com crivo = 20,00 m;
 Comprimento equivalente: 1 cotovelo raio médio de 90° = 2,1 0m;
 Comprimento equivalente: 2 registros de gaveta = 1,00 m;
 Comprimento equivalente: 2 tês saída lateral = 10,40 m;
 Comprimento real e virtual = 38,90 m.
P á g i n a | 151

Calculando a perda de carga (hs) por Fair-Whipple-Hsiao e somando com a


altura geométrica, temos aproximadamente 3,71 m.c.a

3º Passo: Cálculo da altura total de recalque


 Comprimento real = 59,95 m;
 Comprimento equivalente: 1 registro de gaveta 2 ½ = 0,4 m;
 Comprimento equivalente: 1 válvula de retenção (tipo pesado) = 8,10 m;
 Comprimento equivalente: 1 tê de entrada lateral = 4,30 m;
 Comprimento equivalente: 1 cotovelo de 45° = 0,90 m;
 Comprimento equivalente: 7 cotovelos 90° raio médio (7 x 1,70) = 11,90 m;
 Comprimento real e virtual = 85,55 m.

Calculando a perda de carga (hs) por Fair-Whipple-Hsiao e somando com a


altura geométrica, temos aproximadamente 48,06 m.c.a

4º Passo: Cálculo da altura manométrica total


Altura de sucção + altura de recalque = Hm = 48,06 + 3,71 = 51,77 m.

5° Passo: Estimativa de Potência motriz (do motor que deverá acionar a bomba)
Supondo não haver o catálogo do fabricante de bombas para uma escolha
criteriosa, como será visto no próximo item, podemos adotar um valor baixo para o
rendimento total (0,40 a 0,70).
Adotemos η = 50% ou 0,5.
Temos então:
1000 . 𝑄 . 𝐻 1000 . (0,005). 51,81
𝑁= = = 6,9 𝑐𝑣
75. η 75 . 0,50

Seria adotado um motor de 7,5 cv, logo acima do valor achado que é o tipo
fabricado.
Tratando-se de instalação em que a bomba não funciona durante longos
períodos, não há necessidade, se o valor calculado está compreendido entre 6 a 10
cv. Ademais, o rendimento adotado foi bastante baixo.
P á g i n a | 152

Curvas Características

A figura 75 apresenta um gráfico de pré-seleção de bombas de uma


determinada marca, a partir do qual o usuário tem uma ideia de quais catálogos
consultarem a respeito da seleção propriamente dita, locando o ponto de trabalho
neste gráfico e determinando qual a "família" ideal de bombas.

Figura 75: Representação de um gráfico de pré-seleção de bombas.

A capacidade e a pressão necessária de qualquer sistema podem ser definidas


com a ajuda de um gráfico chamado Curva do Sistema. Semelhantemente o gráfico
de variação da capacidade com a pressão para uma bomba particular, define a curva
característica de desempenho da bomba.
Os fabricantes de bombas tentam adequar a curva do sistema, fornecida pelo
usuário, com a curva de uma bomba que satisfaça estas necessidades tão
P á g i n a | 153

proximamente quanto possível. Um sistema de bombeamento opera no ponto de


interseção da curva da bomba com a curva de resistência do sistema.
A interseção das duas curvas define o ponto operacional de ambos, bomba e
processo. Porém, é impossível que um ponto operacional atenda todas as condições
operacionais desejadas. Por exemplo, quando a válvula de descarga é estrangulada,
a curva de resistência do sistema desloca-se para a esquerda, sendo acompanhada
pelo deslocamento do ponto operacional.

Figura 76: Curvas típicas do sistema e de eficiência da bomba.

Construindo a curva do sistema:


A curva de resistência do sistema ou curva de carga do sistema é a variação
no fluxo relacionada à carga do sistema. Ela deve ser desenvolvida pelo usuário com
base nas condições de serviço.
Estas condições incluem o layout físico, as condições de processo, e as
características do fluido. Representa a relação entre a vazão e as perdas hidráulicas
em um sistema, na forma gráfica e, como as perdas por fricção variam com o quadrado
P á g i n a | 154

da taxa de fluxo, a curva do sistema tem a forma parabólica. As perdas hidráulicas em


sistemas de tubulação são compostas de perdas por fricção no tubo, válvulas,
cotovelos e outros acessórios, perdas de entrada e saída, e perdas por mudanças na
dimensão do tubo, em consequência de amplificação ou redução do diâmetro.
Desenvolvendo a curva de desempenho da Bomba:
O desempenho de uma bomba é mostrado pela sua curva característica de
desempenho, onde sua capacidade, i.e. a vazão volumétrica, é plotada contra a carga
desenvolvida. A curva de desempenho da bomba também mostra sua eficiência
(PME), a potência de entrada requerida (em HP), NPSHr, a velocidade (em rpm), e
outras informações como o tamanho da bomba e o tipo, tamanho do impulsor, etc.
Esta curva é construída para uma velocidade constante (rpm) e um determinado
diâmetro de impulsor (ou série de diâmetros).
Faixa Operacional Normal:
Uma curva de desempenho típica é um gráfico da Carga Total versus Vazão
volumétrica, para um diâmetro específico de impulsor. O gráfico começa com fluxo
zero. A carga corresponde neste momento ao ponto de carga da bomba desligada. A
curva então decresce até um ponto onde o fluxo é máximo e a carga mínima. Este
ponto às vezes é chamado de ponto de esgotamento. A curva da bomba é
relativamente plana e a carga diminui gradualmente conforme o fluxo aumenta. Este
padrão é comum para bombas de fluxo radiais. Além do ponto de esgotamento, a
bomba não pode operar. A faixa de operação da bomba é do ponto de carga desligado
ao ponto de esgotamento. A tentativa de operar uma bomba além do limite direito da
curva resultará em cavitação e eventual destruição da bomba.
Em resumo, através do gráfico da "curva de carga x curva da bomba”, você
pode determinar:
01. Em que ponto da curva a bomba irá operar
02. Que mudanças acontecerão se a curva de carga do sistema ou a curva de
desempenho da bomba mudarem.
As curvas mais importantes são (figura 77):
- Altura Manométrica (H) x Vazão (Q);
- Potência Consumida (P) x Vazão (Q);
- Rendimento Total () x Vazão (Q);
- NPSH requerido (NPSH) x Vazão (Q).
P á g i n a | 155

Figura 77: Curvas características de bombas centrífugas.

Curva do sistema

Curva do sistema, também conhecida como curva da tubulação, é uma curva


traçada no gráfico HmxQ e sua importância está na determinação do ponto de trabalho
da bomba, pois esse é obtido no encontro dessa curva com a curva característica da
bomba. Para traçá-la, é necessário retornar à definição de altura manométrica,
fazendo com que a equação 1 tenha a forma Hm=f(Q), através dos passos descritos
a seguir. Assim, hf pode também ser definida pela equação:

ℎ𝑓 = 𝐾. 𝑄1,852

Sendo:
P á g i n a | 156

1,852
4
𝐾 = 𝐿𝑒. [ ]
0,355. 𝜋. 𝐶. 𝐷2,63

Ou seja, basta desmembrar a vazão da equação de Hazen-Willians da perda


de carga unitária e multiplicar o comprimento equivalente pela outra parte da equação.
Desta forma, a equação Hm= f(Q), é a seguinte:

𝐻𝑚 = 𝐻𝐺 + 𝐾. 𝑄1,852

Em um projeto de irrigação ou abastecimento, tem-se o conhecimento da vazão


necessária e da altura manométrica (altura geométrica mais perdas de carga); a altura
geométrica é a soma da altura de sucção com a altura de recalque.
Assim, basta substituir esses pontos conhecidos, na equação acima, para
encontrar k, completando a equação.
Definida a equação, constrói-se a curva do sistema, criando uma tabela de
valores de vazão pela altura manométrica. Em seguida, plota-se os valores no gráfico
HmxQ e unindo-os, tem-se a curva do sistema.
Através do ponto de intersecção entre a curva do sistema e a curva da bomba,
encontra-se o ponto de trabalho da bomba que, na maioria das vezes, é diferente do
ponto proveniente do projeto. A solução para este problema é apresentada exercício
resolvido número 2.

NPSH requerido e NPSH disponível

Cavitação é um fenômeno semelhante à ebulição (conforme visto na aula


anterior), que pode ocorrer na água durante um processo de bombeamento,
provocando estragos, principalmente no rotor e palhetas e é identificado por ruídos e
vibrações. Para evitar tal fenômeno, devem-se analisar o NPSHrequerido e o
NPSHdisponível.
O Net Positive Succion Head (NPSH) disponível refere-se à "carga energética
líquida e disponível na instalação" para permitir a sucção do fluido, ou seja, diz respeito
às grandezas físicas associadas à instalação e ao fluido.
Esse NPSH deve ser estudado pelo projetista da instalação, através da
seguinte expressão:
P á g i n a | 157

NPSHdisponível = Hatm - (±Hs - Hv + ∆Hs)

Sendo:
NPSHdisponível = energia disponível na instalação para sucção, em m;
Hatm = pressão atmosférica local (Tabela 3);
Hs = altura de sucção; é negativa quando a bomba está afogada, e positiva
quando estiver acima do nível d'água (m);
Hv = pressão de vapor do fluido em função da sua temperatura (Tabela 4);
∆Hs = perda de carga total na linha de sucção (m).

O NPSHrequerido é a "carga energética líquida requerida pela bomba" para


promover a sucção. Esse NPSH é objeto de estudo do fabricante, sendo fornecido
graficamente através de catálogos. Observa-se, portanto, que a energia disponível na
instalação para sucção deve ser maior que a energia requerida pela bomba, logo
NPSHdisponível ≥ NPSHrequerido . Caso contrário, haverá cavitação em decorrência de
uma sucção deficiente.

Tabela 21: Pressão atmosférica em função da altitude.


Altitude (m) Pressão atmosférica Altitude (m) Pressão atmosférica
(m) (m)
0 – nível do 10,33 1800 8,20
mar
300 9,96 2100 7,89
600 9,59 2400 7,58
900 9,22 2700 7,31
1200 8,88 3000 7,03
1500 8,54

Tabela 22: Pressão de vapor da água, em m, para diferentes temperaturas.


Temperatura °C Peso específico 𝜸 (KN/m³) Pressão de Vapor (m)
15 9,798 0,17
20 9,789 0,25
25 9,777 0,33
30 9,764 0,44
40 9,730 0,76
50 9,689 1,26

Para dimensionarmos uma bomba utilizando as curvas características,


devemos utilizar como referência um modelo de catálogo contendo os modelos
P á g i n a | 158

utilizados, para assim determinarmos diâmetro de rotor, potência e NPSH, entre outras
informações. Estará disponível em sua plataforma online modelos de catálogos
utilizados.
Exemplo resolvido:
Dimensionar uma instalação de bombeamento, para atender a demanda de
200m³ /h de vazão durante 24 hs/dia, recalcando a uma altura de 24 m. A composição
das linhas de sucção e recalque é a seguinte:

Tabela 23: Exemplo.


Quant. Sucção Quant. Recalque
Válvula de pé com
01 01 Válvula de retenção
crivo
01 Curva de 90° 03 Curvas de 90°
Tubulação de
6m 02 Curvas de 45°
sucção (Ls)
Altura de sucção
2m 01 Registro de gaveta
(Hs)
01 Saída de gaveta
Tubulação de
1000 m
recalque (Lr)
24 m Altura de recalque (Hr)

Determine também a equação do sistema da altura manométrica.


Solução:
Vamos dividir a solução em alguns passos:
1º Passo: Dimensionamento da linha
O critério a ser utilizado para escolha de diâmetros de tubulações é o critério
de velocidade econômica, por ser simples e eficiente, e segundo muitos autores, seu
valor deve variar de 0,5 a 2,0 m/s. Para determinar o diâmetro a partir deste critério,
procede-se da seguinte forma, utilizando-se a relação abaixo:

𝜋𝐷 2 𝑄
V = Q/A lembrando que A= → 𝑉𝑒𝑙𝑜𝑐 = 4. 𝜋.𝐷²
4

Escolhendo a velocidade = 1,5m/s, temos:

4. 0,0556
1,5 = → 𝐷 = 0,217 𝑚 ≈ 217 𝑚𝑚
𝜋. 𝐷²
P á g i n a | 159

Valor comercial acima = 250 mm → diâmetro da sucção


Valor comercial abaixo = 200 mm → diâmetro do recalque.
2º Passo: Cálculo das perdas de carga (método dos comprimentos
equivalentes)

Tabela 24: Tubulação de sucção.


Sucção (Diâmetro = 250 mm)
Comprimento da Tubulação (Ls) 6m
Conexões Comprimento equivalente (Lequivalente)
Válvula de pé com crivo 65 m
Curva de 90° 4,1 m
Comprimento total: 69, 1 m
Comprimento equivalente total: 75, 1 m

Utilizando-se a equação de Hazen-Williams, obtém-se a perda de carga na


linha de sucção: C= 130

𝑄1,85 0,05561,85
ℎ𝑓𝑠𝑢𝑐çã𝑜 = 10,65. 1,85 . 𝐿𝑒 = 10,65. .75,1 = 0,4 𝑚
𝐶𝐻𝑊 . 𝐷4,87 1301,85 . 0,254,87

Tabela 25: Tubulação de recalque.


Recalque (Diâmetro = 200 mm)
Comprimento da tubulação (Lr) 1000 m
Conexões Comprimento equivalente (Lequivalente)
Válvula de retenção (leve) 16,0 m
3 curvas de 90° 3.(3,3)=9,9 m
2 curvas de 45° 2.(1,5)=3,0 m
Registro de gaveta 1,4 m
Saída de canalização 6,0 m
Comprimento total: 36, 3 m
Comprimento equivalente total: 1036, 3 m

Utilizando-se a equação de Hazen-Williams, obtém-se a perda de carga na


linha de recalque.
0,05561,85
ℎ𝑓𝑟𝑒𝑐𝑎𝑙𝑞𝑢𝑒 = 10,65. .1036,3 = 16,1 𝑚
1301,85 . 0,204,87
P á g i n a | 160

Para o cálculo da perda de carga total, ou seja, ao longo das linhas de sucção
e recalque, utiliza-se a seguinte equação:

ℎ𝑓𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 = ℎ𝑓𝑟𝑒𝑐𝑎𝑙𝑞𝑢𝑒 + ℎ𝑓𝑠𝑢𝑐çã𝑜 = 16,1 + 0,4 = 16,5 𝑚

3º Passo: Calculo da altura manométrica e Equação do sistema:


𝐻𝑚 = 𝐻𝐺 + 𝐾. 𝑄1,852

O cálculo da altura geométrica é realizado através da soma das alturas


geométricas de sucção e de recalque, como pode ser verificado a seguir:

HG= Hs + Hr = 2 + 24= 26 m

Logo, a altura manométrica, calculada pela equação 3, será:


Hm= 26 + 16,5= 42,5 m

Em seguida, calcula-se o coeficiente K da equação, através dos valores


anteriores:

42,5 = 26 + 𝑘. (200)1,852 → 𝑘 = 9,04 × 10−4

Desta forma a equação do sistema será:


𝐻𝑚 = 26 + 9,04 × 10−4 . 𝑄1,852, sendo Hm em metro e Q em m³/h

4º Passo: dimensionamento pelas curvas características


Com os dados Hm (42,5 m) e Q (200 m³/h), utiliza-se o gráfico de pré-seleção
encontrando a família da bomba (ver página 1 do catálogo da KSB em sua plataforma
digital).
P á g i n a | 161

Figura 78: Exemplo.

O ábaco utilizado encontra-se no catálogo da KSB.


O modelo da bomba é um 80-160B, KSB Meganorm, KSB Megachem ou KSB
Megachem V de 3500 rotações por minuto (rpm), como sendo os mais indicados para
a situação criada.
Pegando o modelo 80-160, obtemos no ábaco encontrado no catálogo do
fabricante um diâmetro do rotor entre 172/161 mm (diâmetro máximo e mínimo) e
166/149. O rendimento da bomba será de de77% (ver página 25 do catálogo KSB).
P á g i n a | 162

Figura 79: Exemplo.

Analisando outros ábacos, podemos encontrar o valor de NPSH e a potência.


P á g i n a | 163

Figura 80: Exemplo.


Resumo

Nesta aula você aprendeu conceitos fundamentais para o dimensionamento de


bombas:

 A variação de energia na entrada e na saída da bomba;


 Altura geométrica e manométrica e sua associação com a perda de
carga;
 Cálculo de potência, diâmetro do rotor, rendimento, etc., por meio de
cálculos matemáticos ou análise de ábacos em catálogos de
fabricantes de bombas.
Complementar

O cavalo vapor representa equivale a 75 kg·m·s-1, onde 1 kg


m corresponde ao trabalho gasto para erguer 1 kg a um metro de
altura.
O Horse Power se define como a potência necessária para
elevar verticalmente a uma velocidade de 1 pé/min uma massa de
33.000 libras.
Convertendo CV e HP para Watts, temos que:
1 CV = 735,5 W
1 HP = 745,7 W
Ou seja, 1CV = 0,9863 H, e 1 HP = 1,0139 CV.

Exercícios complementares:
Livro: Bombas e instalações de bombeamentos –
(MACINTYRE, 1997).
Capítulos 3 e 6.
Referências Bibliográficas

Básica:
GANGHIS, D. Bombas Industriais. Disciplina de Escoamento e transporte de
fluidos. CEFET. Bahia. Acessado em 2016 através de:
<http://www.docslib.org/view/centro-federal-de-educa-c-195-o-tecnol-211-gica-
da_6d07ab3dd5aa3849.html>>

GUEDES, H. A. S. Colaboração de Honscha, M. L. Hidráulica. Curso de


Engenharia Civil. Universidade Federal de Pelotas. Rio Grande do Sul. Agosto 2015.

HENN, E.A.L. Máquinas de fluido. 2ª Edição, Porto Alegre: UFSM, 2006.

HOUGHTALEN, R. J.; HWANG, NED H. C; OSMAN AKAN, A. Engenharia


Hidráulica. 4ª Edição. Pearson Education do Brasil, 2013.

MACINTYRE, A. J. Equipamentos Industriais e de Processo. 2ª Edição


revisada. Rio de Janeiro: LTC - Livros Técnicos e Científicos, 1997

Meio digital: Máquinas Hidráulicas – Bombas. Maio de 2011. Acessado em


2016 através de:
<https://chasqueweb.ufrgs.br/~anaborges/Bombas_2011_corrigida%203.pdf>.
Exercícios
AULA 7

1) (ENADE 2005). Deseja-se dimensionar uma bomba


centrífuga para uma instalação predial. A população estimada para efeito
de projeto é de 750 pessoas e o consumo diário por pessoa é
de200L/dia de água. A altura estática de aspiração (altura de sucção) é de 2,5 m e a altura
estática de recalque é de 40,0 m. Considere que a perda de carga na aspiração
(sucção) mais a altura representativa da velocidade são equivalentes a 60% da altura de
sucção e que a perda de carga no recalque é equivalente a 40% da altura de recalque.
Considere ainda que a bomba deve funcionar 6 horas por dia.
Utilizando as Figuras 81 e 82, determine:
a) o modelo da bomba padronizado pelo fabricante;
b) a potência do motor;
c) entre que valores está o rendimento da bomba:

Figura 81: Escolha prévias de bomba.


P á g i n a | 168

Figura 82: Curvas características.


Aula 8
Bombas hidráulicas III

APRESENTAÇÃO DA AULA

Esta aula é a terceira de três partes em que dividimos os conceitos e aplicações


das bombas hidráulicas.
Abordaremos, nesta aula, o dimensionamento de uma bomba em uma
edificação de 10 pavimentos.
Ao final, abordaremos também as associações de bombas, em série e em
paralelo.

OBJETIVOS DA AULA

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:

 Calcular a população de um prédio para aplicação do exercício de


bomba;
 Calcular estimativa de consumo;
 Calcular vazão;
 Determinar diâmetro e velocidade de escoamento;
 Calcular perdas de cargas e altura manométrica;
 Calcular potência necessária do motor.
 Diferenciar os tipos de associações de bombas.
P á g i n a | 170

“Tudo o que um sonho precisa para ser realizado é alguém que


acredite que ele possa ser realizado. ” Roberto Shinyashiki
8 INTRODUÇÃO – BOMBAS HIDRÁULICAS III

Caríssimos, vamos aproveitar esta aula para mostrar o dimensionamento de


uma bomba de um prédio de 10 pavimentos por meio de um exercício resolvido em
passo a passo. Vamos lá, bons estudos!
Estes serão os dados fornecidos pelo projeto, em virtude da disposição física
das instalações:
Dados do Projeto da instalação:
AS = 2,5 m (altura de sucção)
AR = 30,0 m (altura de recalque)
Comprimento linear de tubulação de sucção = 5,0 m
Comprimento linear de tubulação de recalque = 35,0 m
Diam. Tubo de sucção = a definir (através de cálculo)
Diam. Tubo recalque = a definir (através de cálculo)
Vazão requerida = 12 m³/h
Potência disponível no transformador = 15 Kva (trifásico)
Altitude do local = nível do mar (pressão atmosférica = 10,33 mca)
Temperatura máxima da água = 30°C
Conexões e acessórios no recalque:
1 reg. Gaveta
2 válvulas de retenção (01 horizontal e 01 vertical)
4 curvas de 90°
1 luva de redução
Conexões e acessórios na sucção:
1 válvula de pé c/ crivo
1 curva de 90°
1 luva de redução
P á g i n a | 171

A instalação é um prédio com 10 andares, tendo 02 apartamentos por andar,


cada apartamento possui 3 quartos mais dependências de empregada, desta forma:
Passo 1: Cálculo da população do prédio: (taxa normalizada: 2 pessoas
/quarto)
a)2qt x 2 p/q x 2 x 10 = 120 pessoas
b)quarto de empregada = 1 p/q x 2 x10 = 20 pessoas

logo a população total será: 120 + 20 = 140 pessoas

Passo 2: Cálculo da estimativa de consumo:


De acordo com a tabela, a estimativa de consumo é de:
200 L/dia x 140 = 28.000 L/dia.

Adotando-se a autonomia de 3 dias, e desprezando-se a reserva técnica:


Volume total = 28.000 x 3 = 84.000 l = 84 m³.

Distribuição:
2/5 p/ a caixa d’água = 33,6 m³
3/5 p/ a cisterna = 50,4 m³

Conforme norma: NBR 5626


Caixa d’água superior = 2/5 do volume total do reservatório
Caixa d’água inferior (cisterna) = 3/5 do volume total do
reservatório

Logo o volume a ser bombeado para a caixa d’água será de 33,6 m³.

Passo 3: Cálculo da vazão:


O tempo de bombeamento é normalizado entre 2 a 5 horas.
Adotamos o tempo de 3 horas.
Logo: Q = v/t
Q = 33,6/3 = 11,2 m³/h
P á g i n a | 172

Passo 4: Determinação do diâmetro e velocidade de escoamento:


(A velocidade recomendada por norma é de 1,5 m/s), e:
Q = V. A
12 = 1,5. A
11,2 /3600 = 0,003111
0,00311 = 1,5. A
A = 0,002222 m2
A = ¶ d2 / 4 d = 0,05138 m = 51,38 mm

Logo, d ~ 2”, Na aspiração adotamos 2 ½ “ (para diminuir a possibilidade de


cavitação).

Passo.5: Cálculo das perdas de cargas no recalque: (Diâmetro 2”)


De acordo com a tabela abaixo (utilizamos conexões de aço no recalque por
motivo de segurança).

Tabela 26: Comprimento equivalentes em metros de tubos,


para conexões metálicas.

(*) Ferro galvanizado, ferro fundido, alumínio ou aço carbono.


- Valores de acordo com a NBR - 92/80;
- Para tubos e conexões usados, acrescentar 3% aos valores acima, por cada
ano de uso.
1 registro de gaveta 2” – 0,4
P á g i n a | 173

1 válvula de retenção horizontal 2” – 4,2


1 válvula de retenção vertical 2” – 6,4
4 curvas de 90º (4 x 0,9) – 3,6
1 luva de vedação 2” – 0,64
01 bóia - 1,0
comprimento linear da tubulação – 35,0
total = 50,24

Pela tabela abaixo, para vazão 11,2 m 3/h e tubo 2”, temos um coeficiente de
perda de carga para PVC de 5,8% (em azul).

Tabela 27: Diâmetro nominal.


P á g i n a | 174

Hfr = 50,24 x 5,8% = 2,91 m

Passo 6: Cálculo das perdas de carga na sucção:


De acordo com a tabela abaixo, obtemos:

Tabela 28: Comprimentos equivalentes em metros de tubos,


para conexões plásticas.

(*) PVC rígido, polietileno e similares (exceção aos tubos específicos para
irrigação, que possuem tabela própria).
- Valores de acordo com a NBR - 5626 / 82
- Para pressões até: 75 mca (PVC classe 15), 100 mca (PVC classe 20)
- Para tubos e conexões usados, acrescentar 2% aos valores acima, para cada
ano de uso.

Para diâmetro sucção = 2 ½” (Para diminuir o risco de cavitação)

1 válvula de pé c/ crivo – 25,0


1 curva de 90º - 1,4
1 luva de redução – 0,78
1 trecho reto de tubulação sucção – 2,0 m
Total = 29,18 m
P á g i n a | 175

Pela tabela 28, para vazão de 12m3 / h e diâmetro de 2 ½ “, temos um


coeficiente de atrito de 1,45%

Hfs = 29,18 x 1,45% = 0,423 m


Cálculo da altura manométrica total:
Amt = As + Ar + Hfr + Hfs
Amt = 2,5 + 27,5 + 2,91 + 0,423
Amt = 33,33 ~ 33 mca

Amt = 33 mca
Passo 7: Cálculo do NPSH disponível: (vide tabelas 1 e 2 do apêndice)
NPSHdisp = Ho – Hr – H – Hs, onde:
Ho = Pressão Atmosférica local em mca;
Hv = Presão de Vapor do fluido, em metros;
H = Altura de sucção, em metros;
Hs = Perda de carga no escoamento da sucção, em metros
NPSHdisp = 10,33 – 0,433 – 2,5 – 0,423 = 6,97 mca
Passo 8 Cálculo da potência necessária do motor:
PM = Q. H. 0,37 / η onde;
Q = vazão = 12 m3 / h
Hmt = Altura manométrica Total = 33 mca
η = 60% (arbitrado)
Pm = 12 x 33 x 0,37 /60 = 2,44 cv → 3 CV (adotado por critério conservativo)
Passo 9: Definição da bomba:
Dados p/ seleção:
Vazão = 11,2 m3 / h
Altura manométrica total = 33mca
Potência do motor = 3 cv
NPSH disponível = 6,97 mca
NPSH requerido = 2,5 mca (tabela da Dancor) e 2,4 (tabela KSB)
Disponibilidade do transformador = 15 KVA (Trifásico)
Após a consulta a catálogos de fabricantes, obtivemos a seleção das seguintes
bombas:
Fabricante: Dancor: Modelo Cam – W14
P á g i n a | 176

Tensão 110 /220 V


Potência 3,0 cv
BSP sucção 1 ½”
BSP elevação 1 ¼”
NPSHrequerido = 2,5 mca

Ou
Fabricante: KSB: Modelo Meganorm 32-125.1
Tensão 110 /220v
Potência 3,0 cv
BSP sucção 1 ½”
BSP elevação 1 ¼”
NPSHrequerido = 2,4 mca
P á g i n a | 177

Segue na próxima página algumas imagens desses catálogos.

Figura 83: Centrífuga de aplicações múltiplas.

Fonte: DANCOR
P á g i n a | 178

Figura 84: Exemplos.

Fonte: KSB
P á g i n a | 179

Tabela 29: Exemplo.

Meganorm

DN 25-400

Q I/s até 1030

Hm até 140

p bar até 16
Bomba
t ºC até 105

n 1/min até 3500

É indicada para o bombeamento de água e de líquidos limpos ou turvos nas


seguintes aplicações:
- Abastecimento de água
- Drenagem
- Irrigação
- Indústria de açúcar e álcool
- Ar condicionado
- Instalações prediais
- Combate a incêndios
P á g i n a | 180

Figura 85: Exemplo.

Fonte: KSB
P á g i n a | 181

Figura 86: Exemplo.

Fonte: KSB
P á g i n a | 182

Associação de bombas

Razões de naturezas diferentes diversas levam à necessidade de associar


bombas. Dentre elas, podem-se citar:
a) Inexistência, no mercado, de bombas que possam, isoladamente, atender à
vazão de demanda.
b) Inexistência, no mercado, de bombas que possam, isoladamente, atender à
altura manométrica de projeto.
c) Aumento da demanda com o decorrer do tempo.

As associações podem ser em paralelo, em série e mistas (série-paralelo).


As razões (a) e (c) requerem a associação em paralelo e a razão (b), sem série.
As razões (a), (b) e (c), em conjunto, requerem a associação mista.

Bombas associadas em série

Quando duas ou mais bombas estão operando em série, a vazão é a mesma e


a altura manométrica do conjunto é a soma das alturas manométricas das bombas
que o compõem. A Fig. 87 mostra o arranjo típico de três bombas, B1, B2 e B3,
associadas em série.

Figura 87: Arranjo típico de associação de bombas em série.

Rs

B3

B2

B1

Ri

A figura 88 representa a associação em série de duas bombas iguais B 1. A


construção da curva resultante da associação das bombas em série é feita somando-
se as alturas manométricas para uma mesma vazão. A curva B1 é a curva
P á g i n a | 183

característica Hm x Q de uma bomba apenas, enquanto a curva 2B1 representa a curva


característica Hm x Q das bombas associadas em série. A curva S é a curva
característica do sistema.

Figura 88: Associação em série de bombas iguais.

O ponto figurativo de trabalho é o ponto P.


Nessa condição, a instalação de recalque fornecerá a vazão Q t com altura
manométrica Ht.
Cada bomba trabalhará com a vazão Qt e sob altura manométrica HB1, cujo
dobro fornecerá a altura total Ht.
Se a instalação fosse construída com apenas uma bomba B1, o ponto figurativo
de trabalho seria P1, a vazão de trabalho Q1 e a altura manométrica desenvolvida H1.
É bom notar que:
 Qt  2Q1 : a vazão fornecida pelo sistema, quando as bombas estão
associadas em série, não corresponde ao dobro da vazão que cada bomba contribui
quando instalada isoladamente.
 Ht = 2HB1: cada bomba trabalha sob a mesma altura manométrica H B1 e a
altura manométrica total do sistema de recalque é a soma das alturas de trabalho das
bombas associadas.
 Ht  2H1 : a altura manométrica de trabalho do sistema Ht é diferente da
soma das alturas de trabalho das bombas se essas fossem instaladas isoladamente.
P á g i n a | 184

Sendo as bombas de características diferentes operando em série, o gráfico


será do tipo como mostrado na figura 89.

Figura 89: Associação em série.

Onde B1 e B2 são as curvas Hm x Q das respectivas bombas e S a curva do


sistema.
Instaladas e operando isoladamente, suas alturas manométricas e vazões
seriam, respectivamente, (H1, Q1) e (H2, Q2). A altura manométrica total das bombas
associadas em série será (HB1 +HB2), para a vazão Qt representada no eixo das
abcissas.
Notemos que:
 Qt  Q1 + Q2 : evidentemente que a vazão do sistema é a mesma que fornece
cada bomba e é menor do que a soma das vazões de cada bomba quando instalada
isoladamente.
 Ht = HB1 + HB2: a altura manométrica total do sistema de recalque é a soma
das alturas de trabalho que cada bomba desenvolve quando associadas.
 Ht  H1 + H2 : a altura manométrica de trabalho do sistema Ht é diferente da
soma das alturas de trabalho das bombas se essas fossem instaladas isoladamente.
P á g i n a | 185

Não há impedimento técnico na utilização de bombas com


características diferentes na associação em série, entretanto, nesse
caso é mais comum o surgimento de problemas do que no caso de
utilização de bombas iguais.

Bombas associadas em paralelo

Esse tipo de associação é utilizado para recalcar grandes vazões, superiores


às capacidades das bombas encontradas no mercado.
Quando duas ou mais bombas estão operando em paralelo, a altura
manométrica é a mesma e a vazão do conjunto é a soma das vazões das bombas que
o compõem, ou para a mesma altura manométrica, somam-se as vazões. A Fig. 90
mostra o arranjo típico de quatro bombas, B1, B2, B3 e B4, associadas em paralelo.

Figura 90: Associação de bombas em paralelo.

B1 B2 B3 B4

Na prática utiliza-se, sempre que possível, associação de bombas de


características iguais. A figura 91 representa a associação em paralelo de duas
bombas iguais B1. A curva B1 é a curva característica Hm x Q de uma bomba apenas,
enquanto a curva 2B1 representa a curva característica Hm x Q das duas bombas
associadas em paralelo. A curva S é a curva característica Hm x Q da tubulação ou
curva do sistema.
P á g i n a | 186

Figura 91: Associação em paralelo de bombas com características iguais.

Hm

S
C P
H1
P1
B1 N
D
B1 M (NPSH)r
B1 2B1

Q1 QB Qt Q

A construção da curva 2B1 é feita somando-se, para um dado valor da altura


manométrica Hm, as vazões das duas bombas. Dessa forma, o segmento DM é igual
a MN.
No gráfico observa-se dois pontos de interseção, os pontos P e P 1. O ponto P
é o ponto de trabalho da instalação com as bombas associadas em paralelo e o outro
corresponde ao ponto de trabalho se apenas uma bomba estivesse em
funcionamento.
Com as bombas associadas à instalação fornecerá uma vazão Qt igual a 2Q1,
e atingirá uma altura manométrica igual a H1. Uma bomba apenas em funcionamento
fornecerá a mesma altura manométrica, porém com uma vazão Q B, maior do que Q1
mas menor do que a vazão Qt. Assim, uma bomba operando isoladamente, fornecerá
uma vazão superior àquela quando operando em paralelo com outra bomba.
No ponto P a potência absorvida e o (NPSH)r são maiores do que em P 1 .
Assim, ao projetar uma instalação de recalque deste tipo, temos de estudar os
valores daquelas grandezas também para o ponto P1, pois a situação de apenas uma
bomba ficar operando é perfeitamente possível.
Conclusões:
 a vazão total do sistema é menor do que a soma das vazões das bombas,
operando isoladamente;
P á g i n a | 187

 se, por qualquer razão, uma das bombas parar de funcionar, a unidade que
continuar operando terá seu ponto de trabalho em P1;
 quando as bombas operam em paralelo, o ponto de trabalho desloca-se para
a direita.

Se, entretanto, as bombas associadas em paralelo possuírem características


diferentes, o gráfico da associação delas fica como indica a figura 14.6, onde as curvas
B1 e B2 são as curvas Hm x Q das respectivas bombas.

Figura 92: Associação em paralelo de bombas com características distintas.

Hm

Ht N C P

H2 D P2 M
P
B1 B2 H1
1 B2
B1 1+ B2
(NPSH)r

QB1 Q1 QB2 Q2 Qt Q

O ponto figurativo de trabalho do conjunto operando com as bombas


associadas em paralelo e com a tubulação que resulta na curva do sistema S, é o
ponto P. Assim, nessas condições essa instalação de recalque irá fornecer a vazão
Qt com altura manométrica Ht.
Na interseção da reta que determina a altura manométrica Ht com as curvas
características das bombas, encontram-se os pontos N e C cujas verticais
determinarão no eixo das abcissas as vazões QB1 e QB2, respectivamente as vazões
de contribuição das bombas B1 e B2, cuja soma fornece a vazão total Qt do conjunto.
Se, por qualquer problema, apenas a bomba B1 permaneça em funcionamento,
o ponto figurativo de trabalho passaria para P1 e a vazão e a altura manométrica de
trabalho será Q1 e H1, respectivamente.
P á g i n a | 188

Do mesmo modo, se somente B2 estiver funcionando, P2 é o ponto de trabalho


e, Q2 e H2 seriam a vazão recalcada e a altura manométrica correspondente.
Como no caso anterior, note-se que a vazão que cada bomba contribui quando
associada, é menor do que quando funcionando isoladamente.
A potência absorvida e o (NPSH)r são maiores do que em P 1 .
Deste modo, ao projetar uma instalação deste tipo, temos de estudar os valores
daquelas grandezas também para o ponto P1.

Se as bombas tiverem características diferentes, poderão trabalhar em paralelo


mas apresentam problemas mais sérios do que no caso de bombas iguais.
Desse modo, podemos concluir que:
 a parcela de vazão de uma bomba é diferente da outra;
 se a altura manométrica do sistema superar a da bomba B1, somente a
bomba B2 recalcará água. A bomba B1 terá vazão nula e sofrerá sobreaquecimento
porque não conseguirá vencer a altura exigida.

Recomenda-se observar as seguintes condições para associar bombas em


paralelo:
 selecionar bombas com curvas características do tipo estável;
 usar de preferência bombas de características semelhantes, isto é, que
tenham a mesma variação percentual entre a vazão e a altura manométrica;
 empregar motores cujas potências sejam capazes de atender a todas as
condições, sem perigo de sobrecarga;
 projetar a instalação, de modo que o (NPSH) disponível seja sempre superior
ao (NPSH) requerido pelas bombas, em qualquer ponto de trabalho provável.

Rendimento do conjunto de duas bombas associadas

a) em paralelo
Como as bombas recalcam através da mesma canalização e a vazão total é a
soma das vazões para a mesma altura manométrica de recalque, para uma dada
altura Hm cada bomba fornecerá:
Bomba 1: vazão = Q1
potência do motor = P1
P á g i n a | 189

rendimento = 1

Bomba 2: vazão = Q2
potência do motor = P2
rendimento = 2
assim, podemos escrever para cada máquina:

Q1Hm Q2Hm
P1  e P2  (1.1)
751 752

Se  é o rendimento global do conjunto funcionando em paralelo, a potência


total é a soma das potência de cada bomba. Desse modo, podemos escrever:

 (Q1  Q 2 )Hm
Pt  P1  P2  (1.2)
75

Substituindo a equação 1.1 em 1.2, temos:


Q1Hm Q 2Hm  ( Q1  Q 2 )Hm
 
751 752 75

Q1 Q 2 Q1  Q 2
 
1 2 

logo, o rendimento global do conjunto será:


12 (Q1  Q2 )
 (1.3)
2 Q1  1Q2

b) em série
Na associação em série, a vazão Q recalcada é a mesma para cada uma das
bombas, mas as alturas manométricas são diferentes. Assim, para cada máquina,
temos:
Bomba 1: altura manométrica = H1
potência do motor = P1
rendimento = 1
P á g i n a | 190

Bomba 2: altura manométrica = H2


potência do motor = P2
rendimento = 2

A potência de cada bomba será:


QH1 QH2
P1  e P2  (1.4)
751 752

Do mesmo modo, se  é o rendimento global do conjunto funcionando em


série, a potência total é a soma das potência de cada bomba. Assim, podemos
escrever:

Q(H1  H2 )
Pt  P1  P2  (1.5)
75

Substituindo a equação 1.5 em 1.4, temos:


QH1 QH2 Q(H1  H2 )
 
751 752 75

H1 H2 H1  H2
 
1 2 

logo, o rendimento global do conjunto em série será:

12 (H1  H2 )

2H1  1H2
Resumo

Nesta aula você aprendeu que:

 A altura manométrica é a soma da altura geométrica (sucção mais


recalque) e suas perdas de carga;
 Existem várias formas de dimensionar uma bomba centrífuga, pode ser
feita matematicamente ou através das curvas características por meio
de catálogos;
 Rendimentos do conjunto de bombas irá depender do tipo de
associação de bombas (em série ou em paralelo).
Referências Bibliográficas

Básica:
GANGHIS, D. Bombas Industriais. Disciplina de Escoamento e transporte de
fluidos. CEFET. Bahia. Acessado em 2016 através de:
<http://www.docslib.org/view/centro-federal-de-educa-c-195-o-tecnol-211-gica-
da_6d07ab3dd5aa3849.html>.

GUEDES, H. A. S. Colaboração de Honscha, M. L. Hidráulica. Curso de


Engenharia Civil. Universidade Federal de Pelotas. Rio Grande do Sul. Agosto 2015.

HENN, E.A.L. Máquinas de fluido. 2ª Edição, Porto Alegre: UFSM, 2006.

HOUGHTALEN, R. J.; HWANG, NED H. C; OSMAN AKAN, A. Engenharia


Hidráulica. 4ª Edição. Pearson Education do Brasil, 2013.

MACINTYRE, A. J. Equipamentos Industriais e de Processo. 2ª Edição


revisada. Rio de Janeiro: LTC - Livros Técnicos e Científicos, 1997

Meio digital: Máquinas Hidráulicas – Bombas. Maio de 2011. Acessado em


2016 através de:
<https://chasqueweb.ufrgs.br/~anaborges/Bombas_2011_corrigida%203.pdf>.
Exercícios
AULA 8

1) Pesquise o que é lei de semelhança entre bombas.


Faça um resumo.

2) (ENADE 2008) Uma bomba centrífuga trabalha em condição plena, a 3500


rpm, com vazão de 80 m³/h, carga de 140 m, e absorve uma potência de 65 HP. Por
motivos operacionais, esta bomba deverá ter sua rotação reduzida em 20%. O gráfico
abaixo mostra a relação entre vazão, carga e potência absorvida em uma bomba
centrífuga, conforme as leis de semelhança.

Figura 93: Exercícios.


P á g i n a | 194

3) Quais são as vantagens e desvantagens das associações entre bombas em


série e em paralelo?

4) Quando que devemos utilizar uma associação de bombas?


Aula 9
Turbinas hidráulicas I

APRESENTAÇÃO DA AULA

Esta aula foi dedicada às turbinas hidráulicas, sendo equipamentos que tem
por finalidade transformar a energia de escoamento (hidráulica) em trabalho
mecânico.
Iremos abordar também as usinas hidroelétricas, seu funcionamento e os tipos
de usinas e suas principais turbinas.

OBJETIVOS DA AULA

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:

 Abordar os tipos de turbinas de geração de energia;


 Abordar o funcionamento de uma hidroelétrica;
 Entender os tipos de turbinas hidráulicas e como fazer para escolhe-
las.
P á g i n a | 196

“A matemática, vista corretamente, possui não apenas verdade, mas


também suprema beleza - uma beleza fria e austera, como a da escultura”.
(Bertrand Russell)
9 INTRODUÇÃO – TURBINAS HIDRÁULICAS I

Turbinas são equipamentos que tem por finalidade transformar a energia de


escoamento (hidráulica) em trabalho mecânico. Pela definição, inicialmente dada, são
máquinas motoras. É graças a este trabalho mecânico que acontece a transformação
da energia mecânica em energia elétrica nos geradores de uma usina.
As fontes geradoras responsáveis pela geração da eletricidade podem ser
renováveis (a força da água e dos ventos, o sol e a biomassa), ou não renováveis
(combustíveis fosseis e nucleares). No Brasil, a opção ainda mais utilizada é a usina
hidrelétrica.

Usina Hidrelétrica

Podemos definir uma usina hidrelétrica como um conjunto de obras e


equipamentos, cujo fim é a geração de energia elétrica através do aproveitamento do
potencial hidráulico existente em um curso d’água.
Este potencial hidráulico é proporcionado pela vazão do rio e seus desníveis
que podem ser de forma natural (através de uma cachoeira, por exemplo), por
barragem (onde pequenos desníveis são concentrados na altura da barragem) e o
desvio do leito natural do rio.
A figura 94 apresenta um modelo de funcionamento de uma usina hidrelétrica
de FURNAS.
P á g i n a | 197

Figura 94: Componentes de funcionamento de uma usina hidrelétrica.

Fonte: <www.furnas.com.br>.

Segundo Soares Júnior (2013), os principais componentes de uma usina


hidrelétrica são:
 Reservatório: lugar onde a água do rio é represada pela barragem;
 Barragem: barreira física construída para acumular água;
 Vertedouro: permite controlar o nível de água no reservatório em períodos
de cheia, podendo ter ou não comportas;
 Tomada d’água: estrutura que permite a condução da água do reservatório
para as turbinas, sendo equipadas com comportas de fechamento e grade de
proteção;
 Conduto forçado: canal (externo ou subterrâneo) que conduz água sobre
pressão para as turbinas;
 Casa de força: local onde está localizado o grupo gerador-turbina e outros
equipamentos auxiliares, e também onde se opera a usina;
 Turbina: equipamento que faz a transformação da energia hidráulica em
mecânica;
 Gerador: equipamento acoplado a turbina que transforma a energia
mecânica disponível no eixo da mesma em energia elétrica;
P á g i n a | 198

 Canal de fuga: canal por onde sai a água após ser turbinada;
 Subestação: local onde a energia elétrica é transformada em alta tensão
através de um transformador, para que possa ser transmitida a grandes distâncias
pelas linhas de distribuição.

Tipos de Usinas hidrelétricas

A classificação de uma usina hidrelétrica pode ser feita em função das


seguintes variáveis: altura da queda d’água, potência instalada e tipo de reservatório.
Segundo o Centro Nacional de Referência em Pequenas Centrais Hidrelétricas,
da Universidade Federal de Itajubá-Unifei (CERPCH) uma queda d’água de uma
altura de até 15 metros é considerada baixa, de 15 a 150 metros considera-se um
valor médio, e, acima de 150 metros pode ser considerada uma alta altura de queda.
Contudo, há divergências nestes valores dependendo da bibliografia pesquisada.
Quanto a potência instalada, a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL)
adota três classificações:
 Centrais Geradoras Hidrelétricas (CGH): até 1 MW de potência;
 Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCH): entre 1,1 e 30 MW de potência;
 Usina Hidrelétrica de energia (UHE): acima de 30 MW.

Com relação ao tipo de reservatório temos três tipos: acumulação (através de


reservatórios permitindo um grande acúmulo de água), fio d’agua (operam por quedas
constantes e vazão controlada, apresentando um mini reservatório para controlar a
vazão) e reversível.
Este último pode gerar energia elétrica, através da queda da água de um
reservatório localizado a montante para outro a jusante, ou armazenar água em um
nível mais elevado, através do bombeamento da água de um reservatório a jusante
para outro a montante.
P á g i n a | 199

Vídeos Para saber mais acesse informações a respeito das Usinas


Online Hidrelétricas acesse:

Funcionamento de <https://www.youtube.com/watch?v=1QDosHWmRcM>.
um modelo de
Hidrelétrica

Funcionamento da <https://www.youtube.com/watch?v=I9rdAw6g7wI>.
Hidrelétrica de
FURNAS

Usina Hidrelétrica de <https://www.youtube.com/watch?v=t868kON5lYA>.


ITAIPÚ

Usina de Belo Monte <https://www.youtube.com/watch?v=tl8xkZyPCSQ>.

Turbinas Hidráulicas

As turbinas são máquinas de fluxo que convertem energia potencial de fluidos


em trabalho mecânico de eixo, operando intermediaria energia cinética, cujo princípio
de funcionamento baseia-se na mudança de momento angular do fluido em
escoamento. Os principais fluidos de trabalho são água, vapores e gases. As
turbinas que operam fluidos incompressíveis (sem variação de densidade durante o
escoamento) são denominadas turbinas hidráulicas. As turbinas hidráulicas foram
continuamente aprimoradas pelo homem para melhor aproveitar essa energia
potencial. Como cada aproveitamento hidráulico é muito particular, turbinas com
características muito distintas foram desenvolvidas pelo homem ao longo dos anos.
As principais turbinas hidráulicas desenvolvidas foram as dos tipos Francis, Kaplan,
Pelton, Hélice e a Bulbo. Cada uma dessas turbinas tem características de
funcionamento mais apropriadas para certos tipos de aproveitamento. A figura 2
apresenta os campos de aplicação de turbinas hidráulicas, levando em consideração
P á g i n a | 200

a altura de queda, a vazão e a potência. Podemos verificar que existem regiões de


sobreposição, onde mais de um tipo de turbina é possível.
Esse fato se deve à ampla gama de turbinas que podem ser aplicadas em um
espectro muito grande de aplicações, tornando difícil definir exatamente onde estão
as melhores escolhas para cada utilização. Deve‐se então levar em consideração o
custo do gerador, o risco de cavitação, custo de construção civil, flexibilidade de
operação, facilidade de manutenção, entre outros.
As turbinas Michell‐Banki, ou turbinas Ossberger, são muito usadas em
micro e minicentrais (abaixo de 1000 kW) devido a sua facilidade de fabricação, baixo
custo e bom rendimento.

Figura 95: Campo de aplicação de turbinas hidráulicas.

Fonte: HENN (2006)


P á g i n a | 201

Segundo Santos (2012), os critérios operacionais mais importantes das


turbinas hidráulicas são os seguintes:
 Apresentar ampla faixa operacional de quedas líquidas e vazões, cobrindo
grande gama de aproveitamentos;
 O funcionamento deve apresentar bons valores de rendimento e boas
características hidrodinâmicas, permitindo o acoplamento do gerador elétrico ainda
que sejam variáveis as condições do aproveitamento, de modo que a instalação seja
rentável;
 O eixo poderá dispor-se horizontal, inclinado ou verticalmente, seguindo as
exigências do projeto;
 A velocidade de rotação deverá ser suficientemente elevada, para que se
consiga o acionamento direto, ou por meio de transmissão com uma pequena
multiplicação;
 Apresentar boa regulagem de velocidade, a fim de que sejam adequadas
para a utilização em centrais elétricas;
 Todos os elementos, em especial o sistema de regulação e os mancais,
devem ser de fácil manutenção.

Característica e Funcionamento das turbinas hidráulicas

O princípio de funcionamento de uma turbina inicia-se pela entrada da água


vinda de um reservatório ou de um nível mais alto e escapa para um canal de nível
mais baixo, conforme apresentado no item 2 desta aula.
A água que entra é conduzida por um conduto fechado até um conjunto de
palhetas ou injetores que transferem a energia mecânica (energia de pressão e
energia cinética) do fluxo de água em potência de eixo. A pressão e a velocidade da
água na saída são menores que na entrada. A água que sai da turbina é conduzida
por um duto até um canal inferior.
Os principais componentes de uma turbina são:
 Distribuidor: é um elemento fixo. Suas funções são: direcionar a água à roda
segundo uma direção adequada; modificar a vazão, ou seja, alterar a seção de saída
do distribuidor, indo de zero, fechado, até a abertura máxima; e a transformação total
ou parcial da energia de pressão em energia cinética na entrada da roda.
P á g i n a | 202

 Rotor ou roda: é um órgão móvel, gira em torno de um eixo. Está munido


com um sistema de pás fixas a um eixo e é responsável por transformar grande parte
da energia hidráulica em trabalho mecânico.
 Difusor ou tubo de sucção: também é uma parte fixa e suas funções são:
recuperar a altura entre a saída da roda e o nível do canal de fuga; recuperar parte da
energia cinética correspondente a velocidade residual da água na saída da roda.
 Carcaça: é uma parte fixa. Conduz a água do conduto forçado até o
distribuidor, garantindo descargas parciais iguais em todos os canais formados pelas
pás do distribuidor.

Classificações das turbinas hidráulicas

Podemos classificar as turbinas de acordo com a variação da pressão estática


(a) ou de acordo com a direção do fluxo através do rotor:
a) Segundo a variação da pressão estática, ação ou impulso e reação:
 Ação ou impulso: a pressão na tubulação cai até a pressão atmosférica
logo que sai do distribuidor. A energia cinética aumenta na passagem de saída do
distribuidor e perde intensidade ao atingir as pás, de modo que, a velocidade da água
ao sair da pá é menor do que quando a atingiu. Exemplo: turbina Pelton.
 Reação: a energia de pressão cai desde a entrada do distribuidor até a
saída do receptor, aumentando no difusor. O difusor é essencial nesses tipos de
turbinas. Exemplo: Turbinas Francis e Kaplan.

b) Segundo a direção do fluxo através do rotor, radial, axial, tangencial


e diagonal:
 Radial: Fluxo é aproximadamente perpendicular ao eixo de rotação.
Exemplo: Turbina de Fourneyron;
 Axial: Fluxo é aproximadamente paralelo ao eixo de rotação. Exemplos:
turbinas de Kaplan, Bulbo, Straflo;
 Tangencial: Fluxo de água é lançado sob a forma de um jato sobre um
número limitado de pás. Exemplo: Turbina Pelton;
 Diagonal: Fluxo muda gradativamente da direção radial para axial.
Exemplo: Turbina Francis.
P á g i n a | 203

Turbinas Francis

Essa turbina recebe o nome do engenheiro inglês James Bicheno Francis


(1815‐1892) que a concebeu em 1848. Foi resultado do aperfeiçoamento da turbina
Dowd, patenteada em 1838 por Samuel Dowd (1804‐1879). É uma turbina de reação,
com eficiência na faixa de 90%. Utilizada para alturas de 20 a 700 m, essa ampla faixa
de aplicação a faz o tipo de turbina mais usada no mundo.
Nas turbinas Francis, o rotor (figura 96) fica internamente ao distribuidor, de
modo que a água, ao atravessar o rotor, aproxima‐se do eixo. São vários os formatos
possíveis para rotores desse tipo de turbina, e dependem da velocidade específica da
turbina, podendo ser classificadas em: lenta, normal, rápida ou extra rápida.

Figura 96: Rotor Francis.

Fonte: <http://voith.com/en/index.html>.

O distribuidor tem um conjunto de pás dispostas em volta do rotor, e que podem


ser orientadas durante a operação, assumindo ângulos adequados às descargas, de
modo a reduzir a perda hidráulica.
As pás do distribuidor têm um eixo de rotação paralelo ao eixo da turbina,
podendo, ao girar, maximizar a seção de escoamento ou fechá-la totalmente.
Segue na tabela 30 algumas instalações com turbinas Francis.
P á g i n a | 204

Tabela 30: Exemplo.

Instalações Brasil
H (m) Q (m³/s) N (CV) n (rpm)

Itaipú Binacional – rio Paraná 50,8 660 971000 92,3

Furnas – Rio Grande 88,9 190 210000 150

Tucuruí – rio Tocantins 60,8 576 430000 84

Instalações Mundo
H (m) Q (m³/s) N (CV) n (rpm)

Churchill Falls - Canadá 312 - 650000 -

Grand Coole - EUA 87 - 820000 -

Turbinas Kaplan

Essa turbina (figura 97) recebe o nome do engenheiro austríaco Victor Kaplan
(1876‐1934) que a concebeu em 1912. Foi resultado do aperfeiçoamento da turbina
Hélice. Ao contrário das turbinas Hélice, cujas pás são fixas, no sistema de Kaplan
elas podem ser orientadas, variando a inclinação das pás, com base na descarga.
Os principais componentes de uma turbina Kaplan são: o distribuidor, suas
pás são chamadas de diretrizes, rotor, tubo de sucção e caixa espiral.
As turbinas Kaplan são adequadas para operar em baixas alturas de queda e
com grandes e médias vazões.
P á g i n a | 205

Figura 97: Turbina Kaplan.

Fonte: <http://voith.com/en/index.html>.

Segue na tabela 31 algumas instalações com turbinas Kaplan.

Tabela 31: Instalações com turbinas Kaplan.


Brasil
Instalações
H (m) Q (m³/s) N (CV) n (rpm)

Sobradinho – Rio São 27,2 715 242000 75


Francisco

Jupiá – Rio Paraná 23 462 140000 75

Cachoeira Dourada – Rio 33,5 307 115490 82


Paranaíba

Volta Grande – Rio Grande 26,2 430 140038 85,7

Fonte: MACINTYRE (1983)


P á g i n a | 206

Turbinas Pelton

A turbina Pelton foi criada pelo americano Allan Lester Pelton. Em 1878 iniciou
experimentos evolvendo rodas d’água que o conduziram a invenção de um novo
conceito de rodas d’água baseadas no chamado “splitter”.
Como todas as turbinas, a Pelton possui um distribuidor e um rotor (Figura 98).
O distribuidor possui um formato de bocal injetor que guia o fluxo de água
proporcionando um jato cilíndrico sobre a pá do rotor. O Rotor tem um determinado
número de pás as quais, possuem um formato de concha e são presas na periferia de
um disco que gira em torno de um eixo.

Figura 98: Rotor Pelton com bocal injetor.

Fonte: <http://voith.com/en/index.html>.

As turbinas Pelton são aplicadas geralmente em usinas hidrelétricas com


quedas elevadas para qual a vazão é reduzida.
Este tipo de turbina é de fácil fabricação, instalação e regulagem relativamente
simples além de serem empregadas em usinas de grande potência, são também
largamente utilizadas para quedas e vazões bem pequenas, gerando apenas algumas
dezenas de cv. Essas turbinas podem ser de eixo vertical ou horizontal e podem ter
até 6 jatos d’água (ver figura 99).
P á g i n a | 207

Figura 99: Turbina Pelton.

Fonte: <http://voith.com/en/index.html>.

Segue na tabela 32 algumas instalações com turbinas Pelton.

Tabela 32: Instalações com turbinas Pelton.


Brasil
Instalações
H (m) Q (m³/s) N (CV) n (rpm)

Parigot de Souza – Rio Capivari 714,3 10 87200 541

Macabu – Rio Macabu 317 1,3 4480 722

Canastra – Rio Santa Cruz 314,6 10,8 33100 450

Mundo
Instalações
H (m) Q (m³/s) N (CV) n (rpm)

New Colgate – EUA 416 - 226000 -

Mont – Cenis - França 870 - 272000 -

Fonte: MACINTYRE (1993)


P á g i n a | 208

Turbinas Tubulares, Bulbo e Straflo

O aproveitamento de certos desníveis hidráulicos, muito reduzidos, pode não


ser possível nem com turbinas Kaplan (de eixo vertical), o que levou ao
desenvolvimento de turbinas de hélice com eixo horizontal, ou com pequena
inclinação. Esse tipo de turbina é aplicado em usinas a “fio d’água” e em usinas maré‐
motrizes.
 Turbina tubular: o rotor, de pás fixas ou orientáveis, é colocado num tubo
por onde a água escoa. O eixo, horizontal ou inclinado, aciona um alternador externo
ao tubo;
 Turbina de bulbo: é uma evolução da tubular, onde o rotor tem pás
orientáveis e existe um bulbo (câmara blindada) colocado no interior do tubo adutor
de água, que contêm um sistema de transmissão de engrenagens, que transmite
movimento do eixo da hélice ao alternador;
 Turbina Straflo: é uma turbina de escoamento retilíneo (straight flow) de
volume reduzido. Adequadas para quedas de até 40 m e rotor de até 10 m de diâmetro.
Reduz bastante o custo das obras de construção civil.

Tipos de turbinas:
<https://www.youtube.com/watch?v=oBDYzs_85Eo>.
Resumo

Nesta aula, você aprendeu que:

 A energia elétrica pode ser gerada através de fontes renováveis e não


renováveis de energia;
 As turbinas são equipamentos cuja finalidade é transformar a energia
de escoamento do líquido em trabalho mecânico para depois ser
transformada em energia elétrica nos geradores das usinas;
 Os campos de aplicação das turbinas hidráulicas devem levar em
consideração a altura da queda, a vazão e a potência de geração;
 Os principais tipos de turbinas hidráulicas são: Pelton, Francis, Kaplan
e Bulbo.
Referências Bibliográficas

Básica:
ANEEL - Agência Nacional de Energia Elétrica. Acessado em 2012 através
de: <http://www.aneel.gov.br>.

ERPCH – Centro Nacional de Referência em Pequenas Centrais


Hidrelétricas. Acessado em 2015 através de: <http://www.cerpch.unifei.edu.br>.

HENN, E.A.L. Máquinas de fluido. 2ª Edição, Porto Alegre: UFSM, 2006.

MACINTYRE, A. J. Equipamentos Industriais e de Processo. 2ª Edição


revisada. Rio de Janeiro: LTC - Livros Técnicos e Científicos, 1997.

MACINTYRE, A. J. Máquinas Motrizes Hidráulicas. Rio de Janeiro,


Guanabara Dois, 1983.

SANTOS, M. S. C. Modelagem Dinâmica de Turbinas Hidráulicas Axiais de


Dupla Regulagem para Estudos de Estabilidade Angular Transitória em
Sistemas Elétricos de Potência. Dissertação de mestrado submetida ao Programa
de Pós-graduação em Engenharia Elétrica da Universidade Federal de Itajubá, 2012.

SOARES JÚNIOR, R. L. Projeto conceitual de uma turbina hidráulica a ser


utilizada na usina hidrelétrica externa de Henry Borden. Projeto de graduação
apresentado ao curso de Engenharia Mecânica. Escola Politécnica, Universidade
Federal do Rio de Janeiro – UFRJ. Rio de Janeiro, fev. 2013

Voith Hydro Power. Acessado em 2017 através de:


<http://voith.com/en/products-services/hydro-power/turbines-559.html>.
Exercícios
AULA 9

1) Segundo VESENTINE (2012) “As usinas hidrelétricas


suprem apenas 2,5% da energia total e 15% da eletricidade
produzida pela humanidade”.
Um dos requisitos necessários para a instalação de
hidrelétricas e que impede a utilização desse sistema de produção de energia em todo
o mundo é:
a) a alta demanda por energia.
b) o emprego de tecnologia avançada em geradores elétricos.
c) a presença de grandes rios, preferencialmente de planaltos.
d) a baixa taxa de desmatamento para sua construção.
e) um elevado índice de pluviosidade

Obs.: (VESENTINI, J. W. Geografia: o mundo em transição. São Paulo: Ática, 2012. p.78).

2) As usinas hidrelétricas costumam gerar muitas polêmicas quando


construídas, pois, se de um lado elas visam a atender as demandas energéticas, por
outro, elas geram graves impactos ambientais e sociais, dos quais podemos citar:
I. Perda da vegetação em áreas de inundação;
II. Remoção de famílias em áreas atingidas pelas barragens;
III. Liberação de gás metano na atmosfera;
IV. Alterações nos cursos d'água utilizados pelas usinas;

Estão corretas as afirmativas:


a) I e II
b) III e IV
c) II e IV
d) I, II e III
e) I, II, III e IV
P á g i n a | 212

3) Como é o princípio de funcionamento de uma usina hidrelétrica? Cite seus


principais componentes.

4) Sobre o uso das turbinas hidráulicas é INCORRETO afirmar que:


a) Para usinas hidrelétricas, o modelo mais utilizado é o Francis, uma vez que
possui uma longa faixa de operação, possuindo vantagens de fornecer alta eficiência
em uma ampla faixa de operação, tanto para altura de queda, quanto para vazão.
b) As turbinas Kaplan trabalham com uma faixa de altura de carga elevada e
vazão variando entre 70 e 800 m³/s.
c) As turbinas Pelton são adequadas para operar entre quedas de 350 m até
1100 m, sendo por isto, muito mais comuns em países montanhosos. Este modelo
de turbina opera com velocidades de rotação maiores que os outros.
d) Nas turbinas de ação a energia hidráulica disponível é transformada em
energia cinética, para depois incidir nas pás do rotor e transformar-se em energia
mecânica. O escoamento através do rotor da turbina ocorre sem variação de
pressão.
e) A turbina bulbo apresenta-se como uma solução compacta da turbina
Kaplan, podendo ser utilizada tanto para pequenos quanto para grandes
aproveitamentos. Caracteriza-se por ter o gerador montado na mesma linha da
turbina em posição quase horizontal e envolto por um casulo que o protege do fluxo
normal da água.

5) Associe as figuras com as alternativas.

Figura 100: Exercícios.


P á g i n a | 213

I – Turbina Kaplan
II – Turbina Pelton
III - Turbina Francis
Marque a alternativa correta sobre esta associação: (Valor: 0,6 pontos)

a) Ia; IIb; IIIc


b) Ia; IIc; IIIb
c) Ib; IIa; IIIc
d) Ib; IIc; IIIa
e) Ic; IIb; IIIa

6) Quais são os critérios operacionais mais importantes nas turbinas


hidráulicas?

7) Como podemos classificar uma turbina hidráulica?

8) Pesquise as principais diferenças de funcionamento entre uma hidrelétrica e


uma termoelétrica?

9) Faça uma pesquisa em sites confiáveis sobre a matriz energética brasileira.


Aula 10
Turbinas hidráulicas II

APRESENTAÇÃO DA AULA

Esta aula foi dedicada à continuação das turbinas hidráulicas.


Iremos abordar conceitos sobre altura de queda, perda de carga, rendimento,
potência e escolha da turbina.

OBJETIVOS DA AULA

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:

 Abordar os cálculos relacionados à altura de queda;


 Abordar os tipos de perdas de carga;
 Calcular a potência efetiva e determinação do rendimento.
P á g i n a | 215

“A matemática, vista corretamente, possui não apenas verdade, mas


também suprema beleza - uma beleza fria e austera, como a da escultura”.
(Bertrand Russell)
10 INTRODUÇÃO – TURBINAS HIDRÁULICAS II

Turbinas são equipamentos que tem por finalidade transformar a energia de


escoamento (hidráulica) em trabalho mecânico. Pela definição, inicialmente dada, são
máquinas motoras. Nesta aula abordaremos conceitos como: perdas de cargas,
alturas de queda, potência e rendimento de uma turbina, etc.

Perda de Carga Total

Assim como foi abordado anteriormente nos conteúdos da AV1, nas turbinas,
também há perda de carga, sendo calculada pelo somatório das perdas totais na
adutora (a) com as perdas nas válvulas borboletas (b).

𝐽 = 𝐽𝑀 + 𝐽𝑚

a) Perda de carga total na adutora


A perda de carga total na adutora é obtida somando as perdas de carga em
cada trecho da adutora. A perda de carga unitária JM é dada na equação abaixo:

𝐿 𝑉2
𝐽𝑀 = 𝑓. .
𝐷 2. 𝑔

Sendo f o fator de atrito, L o comprimento de cada trecho da adutora, D o


diâmetro interno, V a velocidade média do fluido e g a aceleração da gravidade.

b) Perda de carga nos acessórios:


A perda carga nos acessórios, como já tratado em aulas anteriores, são perdas
localizadas.
P á g i n a | 216

Figura 101: Válvula borboleta.

Fonte: <www.saint-gobain-canalizacao.com.br>

Nas turbinas, temos perdas localizadas através de válvulas borboleta (ver figura
1), determinadas pela equação:

𝑉2
𝐽𝑚 = 𝐾.
2. 𝑔

Onde:
K → coeficiente de perda (ver tabela 33)

Tabela 33: Coeficiente de perda K.

110° 220° 330° 440° 550° 660° 770° 880° 990°


Ângulo de abertura α

K 6670 1145 447 118 77 33 11,4 00,7 00,36

Fonte: <www.saint-gobain-canalizacao.com.br>.

Exemplo:
1) Determine o coeficiente de perda localizado K da válvula borboleta aberta.
Solução:
1 válvula borboleta abera → α =90°.
Entrando na tabela 33, para α =90°, temos K = 0,36.

Equação de perda de carga de adução (fórmula prática)


Segue abaixo a equação de perda de carga de adução:

hJ = 10,643 . (Q/λ)1,85. D-4,87. L


P á g i n a | 217

Onde:
λ – coeficiente do material (tabelado ou informado no problema)
Q – Vazão
D – Diâmetro
L – comprimento

Pergunta:
O que é adução?
Resposta: Parte do abastecimento de água que compreende o
transporte da mesma desde o local de captação até o de consumo.

Você encontra vários significados de termos técnicos


relacionados à engenharia civil no site:
<http://www.ecivilnet.com/dicionario/>.

Transformação da Energia

Para entendermos os componentes de cálculo, vejamos a figura 102


apresentando um esquema de uma turbina de reação.

Figura 102: Turbina de reação.

Fonte: SOUZA et al. (1983)

A seção de saída "3" (Fig.102) nas turbinas chama‐se tubo de sucção.


P á g i n a | 218

Vale lembrar que para máquinas geradoras (bombas) este termo aparece na
seção de entrada. Ao considerar a saída (“3”) após o tubo de sucção, esta região
torna‐se parte integrante da máquina, participando da transformação de energia.
É razoável considerar que do ponto “3” ao ponto “4” não há perda de energia,
logo, ao utilizar Bernoulli, as energias nos dois pontos podem ser consideradas iguais.
Vejamos alguns conceitos de alturas em turbinas.

Altura estática de sucção

É a diferença de nível entre o centro do rotor e o nível de jusante. A Figura 103


apresenta algumas posições de turbinas e respectivas alturas estáticas de sucção.

Figura 103: Altura estática de sucção para turbinas.

Fonte: SOUZA et al. (1983)

Altura de queda bruta

A altura de queda nominal Hn ou altura de queda disponível é a queda


hidráulica disponível, para a qual a turbina é encomendada. Esta queda corresponde
ao rendimento máximo da turbina para o número de rotações previsto. Com esse valor
de queda a turbina desenvolve sua potência nominal sob a vazão especificada e gira
com o número de rotações nominal do gerador.
P á g i n a | 219

Em outras palavras, a altura de queda é a diferença entre a energia na


entrada e na saída da turbina. A porção da queda bruta não aproveitada
pela turbina é aquela consumida por atrito hidrodinâmico ao longo da
tubulação forçada.

Atenção! Outras nomenclaturas que podem ser utilizadas para altura de


queda nominal: queda disponível, altura efetiva, queda efetiva, altura de
queda útil (net head).
O cálculo da altura de queda pode ser realizado por dois métodos.

1º Método:
Considera-se a queda bruta menos as perdas de carga da tubulação forçada,
ou seja:

𝐻 = 𝐻𝐵 − ℎ𝐽

Onde:
𝐻𝐵 → 𝑞𝑢𝑒𝑑𝑎 𝑏𝑟𝑢𝑡𝑎 (𝑑𝑒𝑠𝑛í𝑣𝑒𝑙)
ℎ𝐽 → 𝑝𝑒𝑟𝑑𝑎 𝑑𝑒 𝑐𝑎𝑟𝑔𝑎

2º Método:
A outra forma é o chamado processo manométrico, que leva em conta as
análises de energia na entrada e saída da máquina. Neste enfoque, verifica‐se quanto
o fluido entregou de energia à turbina. Porém, só é possível o cálculo desta forma para
instalações em funcionamento.
𝑃𝑚2 1
Fórmula simplificada: 𝐻= ± 𝑎2 + 2.𝑔 . (𝑉22 − 𝑉42 ) + 𝑧2
𝛾
P á g i n a | 220

Cálculo de potência e rendimento da turbina

Potência nominal ou potência efetiva nominal é a potência efetiva na


turbina, ou seja, é a potência fornecida pela turbina para uma queda nominal Hn e
rotação nominal nn sob as quais a turbina foi encomendada prevendo um rendimento
máximo. O cálculo é feito segundo a equação abaixo em unidade de potência “W”.
𝑁 = 𝜌. 𝑔. 𝑛𝑡. 𝑄. 𝐻𝑛

Onde:
𝑛𝑡 → 𝑟𝑒𝑛𝑑𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 𝑑𝑎 𝑡𝑢𝑟𝑏𝑖𝑛𝑎
𝐻𝑛 → 𝑞𝑢𝑒𝑑𝑎 𝑛𝑜𝑚𝑖𝑛𝑎𝑙
𝜌 → 𝑚𝑎𝑠𝑠𝑎 𝑒𝑠𝑝𝑒𝑐í𝑓𝑖𝑐𝑎

A potência efetiva relaciona‐se com a potência hidráulica através do rendimento


total da instalação, que é sempre menor que 1. Como é difícil a determinação das
perdas, é usual adotar‐se outra grandeza denominada de rendimento total, a qual
permite avaliar estas perdas.
Segundo a Macintyre (1983) o rendimento total de turbinas é de 0,8 nas
pequenas e de 0,85 nas médias. Para turbinas Pelton de grande potência o
rendimento varia entre 0,88 e 0,90.
Lembrando:
1 HP=1,0138 CV = 745,7 W
1 CV = 0,9863 HP = 735,5 W

Escolha do tipo de turbina

As grandezas conhecidas para a seleção de uma turbina para uma dada


instalação são a descarga Q, a queda H e o número de rotações por minuto n.
É apresentado no ábaco da figura 104 e na tabela 34 um campo de aplicações
dos diversos tipos de turbinas.
P á g i n a | 221

Figura 104: Campo de aplicação dos tipos de turbinas de acordo com a queda e a rotação
específica.

Fonte: MACINTYRE (1983)


P á g i n a | 222

Tabela 34: Campo de aplicação das turbinas.


Tipos de turbinas
ns (rpm) H (m)

1 jato 18 800

1 jato 18-25 800-400

1 jato 26-35 400-100

2 jatos 26-35 800-400


Pelton
2 jatos 36-50 400-100

4 jatos 40-50 400-100

4 jatos 51-71 500-200

6 jatos 72-90 400-100

Muito lenta 55-70 600-200

Lenta 71-120 200-100

Francis Normal 121-200 100-70

Rápida 201-300 70-25

Extra rápida 301-450 25-15

8 pás 250-320 70-50

7 pás 321-430 50-40


Kaplan, Bulbo, straflo, Propeller
6 pás 431-530 40-30

5 pás 534-620 30-20

4 pás 624 em diante 30


Fonte: MACINTYRE (1983)

1) Calcule a altura de queda e a potência efetiva do aproveitamento


hidroelétrico esquematizado abaixo, sabendo que o rendimento total é de 89% e
conhecendo‐se:
a. Vazão de 0,4 m3/s
b. Diâmetro na tubulação de entrada: 300 mm
c. Largura do tubo de sucção na saída: 500 mm
P á g i n a | 223

d. Altura do tubo de sucção na saída: 200 mm


e. Velocidade no canal de fuga: desprezível
f. Massa específica da água: 𝜌 = 998 𝑘𝑔/𝑚³
𝑃𝑚2
g. Leitura do manômetro: = 40 𝑚. 𝑐. 𝑎
𝛾

Figura 105: Aproveitamento hidroelétrico.

Solução:
1º Passo: Calculando altura de queda:
Para calcular H, temos que usar a equação:

𝑃𝑚2 1
𝐻= ± 𝑎2 + . (𝑉22 − 𝑉12 ) + 𝑧2
𝛾 2. 𝑔

Como não temos as velocidades, iremos calculá-las através da fórmula da


vazão relacionando:

V = Q/A

Considerando na fórmula: sucção (tubulação de saída) – nº 1, seção retangular.


Área do retângulo: largura x altura na saída: A1 = L.B = 0,5 m x 0,2 m = 0,1 m²
P á g i n a | 224

Velocidade: V1 = 0,4 / 0,1 = 4,0 m/s


Considerando fórmula: Entrada – nº 2, seção circular.
Área do círculo: 𝜋. 𝐷2 /4 = 𝜋. 0,32 /4 = 0,071 𝑚².
Velocidade: V2 = 0,4 / 0,071 = 5,66 m/s
Calculando H, temos:

𝑃𝑚2 1 5,662 − 42
𝐻= ± 𝑎2 + . (𝑉22 − 𝑉12 ) + 𝑧2 = 40 ± 0 + − 1,5
𝛾 2. 𝑔 2.9,8
𝐻 = 40 + 0,82 − 1,5 = 39,3 𝑚𝑐𝑎

2º Passo: Calculando a potência


𝑁 = 𝜌. 𝑔. 𝑛𝑡. 𝑄. 𝐻𝑛 = 998 . 9,8 . 0,89 . 0,4 . 39,3 = 136835 𝑊
𝑁 ≈ 137 𝐾𝑊

2) Em um aproveitamento hidrelétrico, o nível de montante encontra-se na cota


890 m e o de jusante na de 750 m. Sabendo-se que a vazão é de 60 m3/s, o
comprimento equivalente do encanamento de adução de 4,5 m de diâmetro é de 1000
m, o rendimento total da turbina 92%, determine:
a) Altura de queda;
b) Potência efetiva.
Dados: Assumir adução com encanamento de aço soldado, com λ=115.

Solução:
Passo 1: Calculando a perda de carga:
A queda bruta, no caso é:
HB = cota montante – cota jusante => 890 – 750 = 140 m
Para uma vazão (Q) = 60 m3/s
Perdas nos condutos (hj) podem ser calculadas pela equação:
hJ = 10,643 . (Q/λ)1,85. D-4,87. L
hJ = 10,643 . (60/115)1,85. 4,5-4,87. 1000 = 2,1 m

Passo 2: Calculando a altura de queda nominal (H):

𝐻 = 𝐻𝐵 − ℎ𝐽
P á g i n a | 225

H = 140 – 2,1 = 137,9 m (Resposta da letra a)

Passo 3: Calculando a potência


𝑁 = 𝜌. 𝑔. 𝑛𝑡. 𝑄. 𝐻𝑛 = 1000 . 9,8 . 0,92 . 60 . 137,9 = 74598384 𝑊

N ≈ 74600 KW (Resposta da letra b)

3) Dimensione uma turbina hidráulica baseado nos dados presentes abaixo:


a) Diferença de cotas: HB = 719,5 m;
b) Vazão: 6,29 m³/s;
c) Comprimento total da tubulação de adução: 2276,5 m
d) Diâmetro médio da tubulação: 1,60 m
e) λ=115 (aço)
f) perda de carga nas válvulas (2 unidades): perda = 0,4 m

Solução:
Passo 1: calculando a perda de carga na adutora por:
hJ = 10,643 . (Q/λ)1,85. D-4,87. L
hJ = 10,643 . (6,29/115)1,85. 1,6-4,87. 2276,5 = 11,363 m

Passo 2: calculando a perda de carga nos acessórios:


Hj = 0,4

Passo 3: perda de carga total:


Hjtotal = 11,363 + 0,4 = 11,763

Passo 4: altura de queda nominal:

𝐻 = 𝐻𝐵 − ℎ𝐽

H = 719,5 – 11,763 = 707,74

Passo 5: calculando a potência efetiva nominal


P á g i n a | 226

𝑁 = 𝜌. 𝑔. 𝑛𝑡. 𝑄. 𝐻𝑛 = 1000 . 9,8 . 0,89 . 6,29 . 707,74 = 38827593,08 𝑊 = 3,88 . 104 𝐾𝑊

Ou
𝐻𝑛 707,74
𝑁 = 𝜌. 𝑛𝑡. 𝑄. = 1000 . 0,89 . 6,29 . = 52826,66 𝑐𝑣
75 75

Assumindo um valor intermediário de 𝑛𝑡 =0,89 para a


turbina deste exercício, temos então uma potência nominal de
52826,66 CV ou 3,88x104 kW.

Passo 6: escolhendo a turbina:


Analisando o ábaco abaixo e a tabela, a melhor escolha seria uma turbina
Pelton.

Figura 106: Ábaco.


Resumo

Nesta aula, você aprendeu que:

 As turbinas são equipamentos cuja finalidade é transformar a energia


de escoamento do líquido em trabalho mecânico para depois ser
transformada em energia elétrica nos geradores das usinas;
 A perda de carga total na tubulação de uma turbina é calculada pelo
somatório da perda total na adutora e as perdas nas válvulas
borboletas;
 A altura de queda é a diferença entre a energia na entrada e na saída
da turbina;
 O rendimento total de turbinas é de 0,8 nas pequenas e de 0,85 nas
médias. Para turbinas Pelton de grande potência o rendimento varia
entre 0,88 e 0,90;
 Uma turbina pode ser selecionada através das grandezas conhecidas:
Vazão, altura de queda nominal e o número de rotações por minuto.
Referências Bibliográficas

Básica:
MACINTYRE, A. J. Equipamentos Industriais e de Processo. 2ª Edição
revisada. Rio de Janeiro: LTC - Livros Técnicos e Científicos, 1997.

MACINTYRE, A. J. Máquinas Motrizes Hidráulicas. Rio de Janeiro,


Guanabara Dois, 1983.

SANTOS, M. S. C. Modelagem Dinâmica de Turbinas Hidráulicas Axiais de


Dupla Regulagem para Estudos de Estabilidade Angular Transitória em
Sistemas Elétricos de Potência. Dissertação de mestrado submetida ao Programa
de Pós-graduação em Engenharia Elétrica da Universidade Federal de Itajubá, 2012.

Saint-Gobain Canalização. Acessado em 2016 através de: <http://www.saint-


gobain-canalizacao.com.br/home/>.

SOARES JÚNIOR, R. L. Projeto conceitual de uma turbina hidráulica a ser


utilizada na usina hidrelétrica externa de Henry Borden. Projeto de graduação
apresentado ao curso de Engenharia Mecânica. Escola Politécnica, Universidade
Federal do Rio de Janeiro – UFRJ. Rio de Janeiro, fev. 2013.

SOUZA, Z.; FUCHS, R.D.; SANTOS, A.H.M. Centrais hidro e termelétricas.


São Paulo: Ed. Blücher, 1983.
Exercícios
AULA 10

1) Em um aproveitamento hidrelétrico, o nível de montante


encontra-se na cota 850 m e o de jusante na de 650 m. Sabendo-
se que a vazão é de 65 m3/s, o comprimento equivalente do
encanamento de adução de 4,5 m de diâmetro é de 1200 m, o
rendimento total da turbina 90%, determine:
a) Altura de queda;
b) Potência efetiva.
Dados: Assumir adução com encanamento de aço soldado, com λ=115.

2) Determinar a altura de queda e a potência hidráulica da turbina Francis,


conhecendo-se: I) vazão: 156 [l/s], II) pressão no manômetro de entrada da
máquina: 3,2 [mCA], III) diâmetro da tubulação na entrada: 280 [mm]. Despreze a
velocidade do escoamento na saída da turbina.

Figura 107: Exercícios.

3) Determinar a potência hidráulica de uma turbina de ação (T. Pelton) sendo:


i) vazão: 150 [l/s], ii) pressão no manômetro da entrada: 455 [mCA], iii) diâmetro
externo do injetor na seção de medida de pressão: 30 [cm], iv) diâmetro interno do
injetor na seção de medida de pressão: 15 [cm] e v) correção de instalação do
manômetro: desprezível.
P á g i n a | 230

4) Escolha uma turbina hidráulica baseada nos dados presentes abaixo:


a) Diferença de cotas: HB = 450 m;
b) Vazão: 3,5 m³/s;
c) Comprimento total da tubulação de adução: 1500,0 m
d) Diâmetro médio da tubulação: 1,40 m
e) λ=115 (aço)
f) perda de carga nas válvulas (2 unidades): perda = 0,4 m
Aula 11
Escoamento em canais I

APRESENTAÇÃO DA AULA

Nesta aula abordaremos o fluxo de água em canais, onde focaremos em


escoamentos sob regime permanente e uniforme. Há muito por fazer. Então, coloque
em dia os seus estudos e mãos à obra!

OBJETIVOS DA AULA

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:

 Apresentar os elementos geométricos da secção de um canal;


 Apresentar a classificação dos escoamentos;
 Detalhar o escoamento em regime fluvial permanente e uniforme;
 Apresentar as equações utilizadas no dimensionamento de canais
operando em regime permanente e uniforme;
 Verificar as velocidades médias (V) aconselháveis e inclinações
admissíveis para os taludes.
P á g i n a | 232

“O homem é feito visivelmente para pensar; é toda a sua


dignidade e todo o seu mérito; e todo o seu dever é pensar
bem”. (Blaise Pascal)

11 INTRODUÇÃO – ESCOAMENTO EM CANAIS

Antes de começarmos nossa aula, vamos pensar um pouco!

Qual a diferença entre os fluxos de líquidos entre os canais abertos e os


fechados escoando por tubos?

Fluxo em tubulações: preenche o canal inteiro, e, assim sendo, suas


fronteiras são bem definidas de acordo com as dimensões do duto. Sua
pressão hidráulica varia de uma seção a outra ao longo do caminho
percorrido.
Fluxo em canais abertos: possui uma superfície livre, ficando sujeita à pressão
atmosférica, que se ajusta dependendo das condições de fluxo. Portanto, o
fluxo em canais é direcionado pela co.

Elementos Geométricos da Seção do Canal

Os principais elementos relacionados à seção transversal e longitudinal estão


apresentados na tabela 35 e nas figuras:
P á g i n a | 233

Tabela 35: Principais elementos geométricos em canais.

Principais Símbolo Descrição


elementos

Profundidade de y distância vertical entre o ponto mais baixo da seção e a


escoamento superfície livre. No regime de escoamento uniforme, y =
yn (profundidade normal) e no regime de escoamento
crítico, y = yc (profundidade crítica).

Seção molhada A toda seção perpendicular molhada pela água.

Perímetro molhado P comprimento da linha de contorno molhada pela água.

Raio hidráulico R relação entre a área molhada e o perímetro molhado.

Profundidade ym Também conhecido por profundidade hidráulica: relação


média entre a área molhada (A) e a largura da superfície líquida
(B).

Talude z tangente do ângulo ( α) de inclinação das paredes do


canal.

Declividade de I tangente do ângulo de inclinação do fundo do c anal (I =


fundo tg𝜃)

Declividade de J tangente do ângulo de inclinação da superfície livre da


superfície água (J = tg λ).

Figura 108: Elementos geométricos da seção transversal dos canais.


P á g i n a | 234

Figura 109: Elementos geométricos da seção longitudinal dos canais.

Classificação dos Escoamentos

Podemos classificar os escoamentos.

Em relação ao tempo

a. Permanente ou estacionário: quando grandezas físicas de interesse como


velocidade (V), pressão (p) e massa específica (ρ) permanecem constantes com
decorrer do tempo (t) num determinado ponto do escoamento.
b. Não Permanente ou transitório: quando grandezas físicas de interesse (V,
p e r), variarem com decorrer do tempo (t) num determinado ponto do escoamento.

Em relação ao espaço (L), para um mesmo tempo (t)

c. Uniforme: quando a velocidade média for constante em qualquer ponto ao


longo do escoamento, para um determinado tempo.
d. Não Uniforme ou variado: quando a velocidade média variar em qualquer
ponto ao longo do escoamento, para um determinado tempo.

Exemplos de regime de escoamento

Água escoando por um canal longo, de seção constante com carga constante:
o escoamento é classificado como permanente e uniforme;
P á g i n a | 235

Água escoando por um canal de seção molhada constante, com carga


crescente ou decrescente: o escoamento é classificado como não permanente e
uniforme;
Água escoando por um canal de seção crescente com carga constante: o
escoamento é classificado como permanente e não uniforme; e
Água escoando através de um canal de mesma seção reta, com seção molhada
constante, mesma declividade de fundo e mesma rugosidade das paredes: o
escoamento é classificado como permanente e uniforme. Canais com estas
características são chamados de canais prismáticos.

Escoamento em Regime Fluvial Permanente e Uniforme

Para que um escoamento fluvial seja considerado permanente e uniforme, do


ponto de vista cinemático, duas condições devem ser satisfeitas.

𝜕𝑉 𝜕𝑉
=0 𝑒 =0
𝜕𝑡 𝜕𝐿

Este tipo de escoamento só ocorre em canais prismáticos de grande


comprimento, ou seja, para aqueles canais que apresentam a mesma seção
transversal (com as mesmas dimensões), a mesma declividade de fundo ao longo d
e seu comprimento, além da mesma rugosidade das paredes.
Nesse caso a superfície da água, a linha de energia e o fundo do canal
apresentam a mesma declividade (I = J).
Quando a declividade (I) é forte (I>Ic) o escoamento permanente uniforme
supercrítico só é atingido após passar por um trecho denominado zona de transição
(onde o escoamento é não uniforme ou variado), cujo comprimento dependerá
principalmente das resistências oferecidas ao escoamento (Figura 110).
P á g i n a | 236

Figura 110: Perfil longitudinal para um escoamento supercrítico (yn < yc).

Quando a declividade (I) é fraca, o escoamento permanente uniforme subcrítico


é atingido logo após a seção A do escoamento (Figura 111). Havendo queda na
extremidade final do canal, o escoamento deixa de ser uniforme passando a não uni
forme ou variado.

Figura 111: Perfil longitudinal para um escoamento subcrítico (yn > yc).

Para os casos em que a declividade (I) é crítica, o escoamento se realiza em


regime permanente uniforme crítico em toda a sua extensão (Figura 112). Essa
situação é instável e dificilmente ocorre em canais prismáticos. Pode ocorrer em
trechos ou seções dos canais projetados especificamente para determinados fins
P á g i n a | 237

como a medição de vazão, por exemplo. Na Figura 111 pode-se observar a ocorrência
do regime crítico nas seções (A) e (B) onde y = yc.

Figura 112: Perfil longitudinal para um escoamento crítico (yn = yc).

Pela ação da gravidade, nos canais de declividade fraca (Figura 111), a


velocidade cresce a partir da seção (A) para jusante e cresceria indefinidamente na
ausência do atrito entre o fundo e as paredes do canal com o líquido. O atrito,
entretanto, dá origem à força de atrito ou tangencial que se opõe ao escoamento; essa
forca é proporciona l ao quadrado da velocidade. É de se esperar, portanto que a
velocidade ao atingir certo valor, estabeleça um equilíbrio entre as forças de atrito e a
gravitacional; daí para frente, o escoamento é dito uniforme.
Havendo uma queda, uma mudança de seção, ou uma mudança de declividade
(o que provoca uma variação na velocidade), o escoamento deixa novamente de ser
uniforme, passando a não uniforme.
O estudo apresentado daqui para a frente refere-se a casos de canais
operando em regime fluvial permanente e uniforme.

Escoamento em Regime Fluvial Permanente e Uniforme

Para calcular a velocidade do canal, podemos atribuir a equação de Manning


abaixo.

1 2 1/2
𝑉= . 𝑅3. 𝐼
𝑛
P á g i n a | 238

Onde:

n = coeficiente de Manning

Para a vazão, a equação de Manning escreve como:

𝐴 2 1/2
𝑄 = 𝐴. 𝑉 = . 𝑅3. 𝐼
𝑛

As equações representadas acima são válidas para o sistema SI, sendo:

Q em m³/s, V em m/s, R em m, A em m² e I em 1/mm.

Equações para o cálculo das seções transversais usuais

Na tabela 36 estão apresentadas as equações para o cálculo das seções


transversais usuais em canais abertos.
Podemos acrescentar ainda para o canal circular:

𝐷 𝜃
𝑦𝑛 = . [1 − cos ( )]
2 2
𝑦𝑛
𝜃 = 2. arccos (1 − 2. )
𝐷
P á g i n a | 239

Tabela 36: Equações para canais de seção transversal usual.

Seções de máxima eficiência

Para se conseguir uma maior vazão em canais, pode-se:


 Aumentar a área A, o que implica em aumento no custo da obra;
 Aumentar a declividade de fundo (I), o que implica em perigo de erosão, além
de perda de altura, para terrenos com baixa declividade;
 Diminuir a rugosidade (n), o que implica em paredes e fundo do canal
revestidos, aumentando os custos.

A solução viável é o aumento do raio hidráulico (R) mantendo-se as outras


grandezas constantes, ou seja: para uma mesma área, uma mesma declividade de
fundo e a mesma rugosidade (n), uma maior vazão é conseguida com um aumento do
P á g i n a | 240

raio hidráulico (R). Como R = A/P, e já que A deverá ser mantida constante, o
perímetro molhado deverá ser diminuído. Quando o perímetro molhado for mínimo, R
será máximo e Q também.

Na Tabela 36 estão apresentadas equações a serem utilizadas no


dimensionamento de canais de seções de máxima eficiência.

As equações para canais de máxima vazão também podem ser chamadas


de: canais de mínimo perímetro molhado, canais de seção econômica,
canais de máxima eficiência, canais de mínimo custo.

Velocidades médias (V) aconselháveis e inclinações admissíveis para taludes


dos canais

No dimensionamento dos canais, devemos levar em consideração certas


limitações impostas pela qualidade da água transportada e pela natureza das paredes
e do fundo do canal.
Assim, a velocidade média V do escoamento deve enquadrar-se em certo
intervalo:

Vmín < V < Vmáx.

Determina-se à velocidade mínima (Vmín) permissível tendo em vista o material


sólido em suspensão transportado pela água. É definida como sendo a velocidade
abaixo da qual o material sólido contido na água decanta, produzindo assoreamento
no leito do canal.
A velocidade máxima (Vmáx) permissível é determinada tendo em vista a
natureza das paredes do canal. É definida como sendo a velocidade acima da qual
ocorre erosão das paredes e do fundo do canal.
O controle da velocidade, no dimensionamento das seções dos canais, pode
ser feito atuando:
a) na declividade de fundo (para evitar grandes velocidades);
b) nas dimensões da seção transversal ou na sua forma (para evitar pequenas
velocidades).
P á g i n a | 241

Assim, por exemplo, podem-se evitar velocidades excessivas, fazendo variar a


declividade de fundo com a formação de degraus (Figura 113-a) ou construção de
muros de fixação do fundo (Figura 113-b).

Figura 113: Variação da declividade com a formação de degraus (a) e muros de fixação do
fundo (b).

A necessidade de evitar pequenas velocidades ocorre, geralmente, em canais


com grande descarga sólida (caso dos coletores de esgotos sanitários) ou em canais
submetidos a grandes variações de vazões (caso dos canais de retificação dos cursos
de água naturais).
No caso de canais submetidos a grandes variações de vazão no decorrer do
ano, a seção do canal deve ser dimensionada para suportar a vazão de cheia ou vazão
de enchente. Nos períodos de seca a velocidade pode se tornar inferior à mínima
permitida. Consegue-se contornar este inconveniente adotando formas de seção
especiais (seções compostas) como as apresentadas na figura 114.

Figura 114: Seções transversais compostas para canais com grandes variações de vazão.

Na Tabela 37 são apresentados os limites aconselháveis para a velocidade


média nos canais, transportando água limpa.
P á g i n a | 242

Tabela 37: Velocidades média e máxima recomendada para canais.

Velocidade (ms-1)
Natureza das paredes do canal

Média Máxima

Areia muito fina 0,23 0,30

Areia solta-média 0,30 0,46

Areia grossa 0,46 0,61

Terreno arenoso comum 0,61 0,76

Terreno silte-argiloso 0,76 0,84

Terreno de aluvião 0,84 0,91

Terreno argiloso compacto 0,91 1,14

Terreno argiloso, duro, solo cascalhento 1,22 1,52

Cascalho grosso, pedregulho, piçarra 1,52 1,83

Rochas sedimentares moles-xistos 1,83 2,44

Alvenaria 2,44 3,05

Rochas compactas 3,05 4,00

Concreto 4,00 6,00

Havendo material sólido em suspensão, recomenda-se:


a) Velocidades médias mínimas para evitar depósitos:
 Águas com suspensões finas: 0,30 m/s
P á g i n a | 243

 Aguas transportando areias finas: 0,45 m/s


 Águas residuárias (esgotos): 0,60 m/s
b) Velocidades práticas:
Canais de navegação, sem revestimento: até 0,5 m/s;
Aquedutos de água potável: 0,60 a 1,30 m/s;
Coletores e emissários de esgoto: 0,60 a 1,50 m/s.

Outra limitação prática que deve ser levada em consideração, na definição da


forma da seção do canal, principalmente no caso das seções trapezoidais, é a
inclinação das paredes laterais. Esta inclinação depende, principalmente, da natureza
das paredes, estando indicados na Tabela 38, valores máximos aconselháveis para o
caso das seções trapezoidais e triangulares.

Tabela 38: Valores máximos aconselháveis para inclinação.


Natureza das paredes do canal θ z = tg θ

Canais em terra sem revestimento 68,2° a 78,7° 2,5 a 5


Canais em saibro, terra porosa 63,4° 2
Cascalho roliço 60,2° 1,75
Terra compacta sem revestimento 56,3° 1,5
Terra muito compacta, paredes rochosas 51,4°. 1,25
Rocha estratificada, alvenaria de pedra bruta 26,5°. 0,5
Rocha compacta, alvenaria acabada, concreto 0° 0

Folga dos canais

Na prática é sempre conveniente reforçar, por medida de segurança, as


dimensões do canal. Depois de dimensionado o canal para escoar a vazão de projeto,
é usual estabelecer uma folga de 20 a 30% na sua altura (yn). Esta folga além de
contrabalancear a diminuição de sua capacidade, causada pela deposição de material
transportado pela água e crescimento de vegetação (caso de canais de terra), evita
também transbordamento causado por água de chuva, obstrução do canal etc.
O procedimento adotado é o seguinte:
a. Traça-se o canal conforme o cálculo, isto é, conservam-se os valores de b,
z, yn;
P á g i n a | 244

b. Aumenta-se a altura yn de 20 a 30% e traça uma paralela ao fundo do canal,


passando pelo novo valor de yn; e
c. Prolonga-se a reta correspondente ao talude do canal até tocar a paralela.
Deste modo, somente a largura da superfície do canal (B) é alterada.
Resumo

Nesta aula, você aprendeu:

 Os elementos geométricos da seção de um canal e a sua classificação;


 Detalhar o escoamento em regime fluvial permanente e uniforme;
 As equações utilizadas no dimensionamento de canais operando em
regime permanente e uniforme;
 Verificar as velocidades médias aconselháveis e inclinações
admissíveis para os taludes.
Referências Bibliográficas

Básica:
GUEDES, H. A. S. Colaboração de Honscha, M. L. Hidráulica. Curso de
Engenharia Civil. Universidade Federal de Pelotas. Rio Grande do Sul. Agosto 2015.

HOUGHTALEN, R. J.; HWANG, NED H. C; OSMAN AKAN, A. Engenharia


Hidráulica. 4ª Edição. Pearson Education do Brasil, 2013.

MACINTYRE, A. J. Equipamentos Industriais e de Processo. 2ª Edição


revisada. Rio de Janeiro: LTC - Livros Técnicos e Científicos, 1997.
Exercícios
AULA 11

1) Calcular a vazão de um canal retangular com as


seguintes características:
largura do fundo = 1,5 metros
altura da lâmina normal = 0,80 metros
declividade = 0,3 metros por mil metros
material = madeira (n = 0,014)

2) Pegando os dados do exercício anterior, a parede do canal pode ser


executada em cascalho grosso ou pedregulho?

3) Calcule a vazão do canal trapezoidal com os seguintes dados:

I = 0,4 por mil, n = 0,013, h = 1 m, b = 2,5 m e  = 30

4) Um canal de seção trapezoidal, de taludes inclinados de α = 45° e de


declividade de fundo de 40 cm km-1, foi dimensionado para uma determinada vazão
Q 0, tendo-se chegado às dimensões da figura apresentada a seguir. Nestas
condições pede- se para n = 0,02, o valor da vazão de projeto Q0.

Figura 115: Exercício.


P á g i n a | 248

5) Um bueiro circular de 80 cm de diâmetro conduz água por baixo de uma


estrada com uma lâmina de 56 cm. Sabendo-se que I = 1 por mil e n = 0,015, calcule
V e Q.

6) Qual a declividade que deve ter uma tubulação de esgoto de 15 cm de


diâmetro, n = 0,014, trabalhando com 60% da seção (a/A = 0,6), para conduzir uma
vazão de 2 l/s.

7) Qual a altura d’água e a velocidade média de escoamento num canal


trapezoidal, para vazões de 200, 400, 600 e 800 l/s.
Dados: n = 0,035,  = 1:1, b = 0,40 m, I = 2 por mil.
Aula 12
Escoamento em canais II

APRESENTAÇÃO DA AULA

Nesta aula continuaremos abordando o fluxo de água em canais, onde


focaremos em escoamentos de sistemas de drenagem urbana.

Bons estudos!

OBJETIVOS DA AULA

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:

 Apresentar os critérios, coeficientes e parâmetros de projetos;


 Apresentar as galerias de águas pluviais;
 Apresentar os dispositivos de captação superficial;
 Apresentar as canaletas em degraus.
P á g i n a | 250

“Eu acredito demais na sorte. E tenho constatado que, quanto mais


duro eu trabalho, mais sorte eu tenho. ” (Thomas Jefferson).
12 INTRODUÇÃO – ESCOAMENTO EM CANAIS II

Nesta aula, iremos abordar o dimensionamento hidráulico em


dispositivos de drenagem urbana, onde serão estudados os critérios,
coeficientes e parâmetros de projeto seguindo as Instruções Técnicas
para Elaboração de Estudos Hidrológicos e dimensionamento Hidráulico
de Sistemas de Drenagem Urbana aprovada pela portaria O/SUB – RIO –ÁGUAS
(2010) pela Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro.

Critérios Coeficientes e Parâmetros de Projeto

Vejamos nas tabelas abaixo, outros valores de coeficientes de rugosidade


(Manning-n) para galerias pluviais adotados pelo manual referenciado.
Para galerias fechadas.
P á g i n a | 251

Tabela 39: Valores de n para galerias fechadas.

Tipo de conduto Mínimo Máximo Valor usual

Alvenaria de Tijolos 0,014 0,017 0,015

Tubos de concreto armado 0,011 0,015 0,013

Galeria celular de concreto – pré-moldada 0,012 0,014 0,013

Galeria celular de concreto – forma de madeira 0,015 0,017 0,015

Galeria celular de concreto – forma metálica 0,012 0,014 0,013

Tubos de ferro fundido 0,011 0,015 0,011

Tubos de aço 0,009 0,011 0,011

Tubos corrugados de metal

68x13 mm 0,019 0,021 0,021

76x25 mm 0,021 0,025 0,025

152x51 mm 0,024 0,028 0,028

Tubos corrugados polietileno 0,018 0,025 0,025

Tubos de PVC 0,009 0,011 0,011


P á g i n a | 252

Para canais escavados não revestidos

Tabela 40: Valores de n para canais.

Tipo de canal Mínimo Máximo Valor usual

Terra, limpo, fundo regular 0,028 0,033 0,030

Terra com capim nos taludes 0,035 0,060 0,045

Sem manutenção 0,050 0,140 0,070

Para canais revestidos

Tabela 41: Valores de n para canais revestidos.

Revestimento do canal Mínimo Máximo Valor usual

Concreto 0,013 0,016 0,015

Gabião manta 0,022 0,027 0,027

Gabião caixa 0,026 0,029 0,029

VSL 0,015 0,017 0,017

Rip-rap 0,035 0,040 0,040

Pedra argamassada 0,025 0,040 0,028

Grama 0,150 0,410 0,240


P á g i n a | 253

Para escoamento superficial direto

Tabela 42: Valores de n para escoamento superficial direto.

Tipo de superfície 

Sarjeta de concreto 0,016

Asfalto liso 0,013

Asfalto áspero 0,016

Pavimento de concreto liso 0,013

Pavimento de concreto áspero 0,015

Para uma galeria de seções compostas, deve-se calcular o


coeficiente de rugosidade equivalente (e) através da equação:

e 
 Pi  i 
3/ 2 2 / 3

 Pi 
2/3

onde:
e = coeficiente de rugosidade equivalente;
Pi= perímetro molhado cujo coeficiente de Manning é i;
i = coeficiente de Manning cujo perímetro é Pi.

Exercício:
1) Considere a figura abaixo como um canal de seção trapezoidal, de taludes
inclinados de α = 45° em concreto no trecho 1 e α = .60° no trecho 2 (pedra
argamassada). Calcule o coeficiente de rugosidade equivalente.
P á g i n a | 254

Figura 116: Seção trapezoidal de canal.

Solução:
Passo 1: Determinando os coeficientes:
Sendo o canal revestido de concreto no trecho 1, 1 =0,015 (valor usual)
No trecho 2, 2 =0,028.

Passo 2: Determinando os perímetros molhados:


Para o perímetro molhado, podemos utilizar a fórmula apresentada na aula
anterior:
𝑃 = 𝑏 + 2. 𝑦𝑛 . √𝑧 2 + 1, lembrando que 𝑧 = 𝑡𝑔 𝛼

𝑃1 = 𝑏 + 2. 𝑦𝑛 . √𝑧 2 + 1 = 1,66 + 2 . 1,5. √(𝑡𝑔45°)2 + 1 = 5,90 𝑚 (𝑡𝑟𝑒𝑐ℎ𝑜 1)

𝑃2 = 𝑏 + 2. 𝑦𝑛 . √𝑧 2 + 1 = 1,66 + 2 . 1,5. √(𝑡𝑔60°)2 + 1 = 7,66 𝑚 (𝑡𝑟𝑒𝑐ℎ𝑜 2)

Passo 3: Calculando e:


3 2/3 3 2/3
3/2 2/3 (5,9. 0,0152 ) + (7,66. 0,0282 )
(∑ 𝑃. 𝑛 ) 0,158
e = = = = 0,022
∑ 𝑃2/3 5,92/3 + 7,662/3 7,151

Velocidades admissíveis

Vejamos abaixo as velocidades admissíveis para galerias pluviais adotados


pelo manual referenciado.
 Galerias fechadas:
Velocidade máxima = 5,0 m/s
Velocidade mínima = 0,8 m/s
P á g i n a | 255

 Velocidade mínima para seções abertas:


Para trechos onde há influência de maré = 0,6 m/s
Para outras condições = 0,8 m/s

Para velocidade máxima em canais com e sem revestimento, vejamos a tabela


43.

Tabela 43: Velocidade máxima em canais.

Tipo Material Velocidade Máxima


(m/s)
Argila 0,80 – 1,60
Silte 0,70 – 1,60
Sem
Cascalho 0,50 – 1,00
revestimento
0,30 – 0,50
Areia
Fundo em terra e talude de concreto 2,50
Fundo e talude em concreto 5,00
Com Fundo em terra e taludes de grama em
1,80
revestimento placas
Gabião tipo manta 3,00
Gabião tipo caixa 4,00

Profundidade mínima e dimensões mínimas

Vejamos abaixo, o cálculo da profundidade de galerias pluviais circulares


adotados pelo manual referenciado.
A profundidade mínima (h) admissível para a geratriz inferior interna do tubo é
definida da seguinte maneira:


h    0,40
2

onde:
P á g i n a | 256

h = profundidade mínima admissível (m);


 = diâmetro da tubulação (m).

Para as dimensões mínimas, teremos:


 Galerias circulares fechadas: diâmetros comerciais (m) 0,40; 0,50; 0,60;
0,70; 0,80; 0,90; 1,00; 1,20; 1,50; 1,80; 2,00.
 Galerias circulares abertas (meia calha): diâmetro mínimo = 0,30 m.
 Canaletas retangulares: 0,30 m x 0,30 m (b x h).

Drenagem Urbana

Em galerias de águas pluviais, vejamos os principais elementos de projeto:


 O espaçamento entre poços de vista (PV) deverá estar compreendido entre
30,0m e 40,0m, independentemente do diâmetro da tubulação.
 Os poços de visita com altura superior a 3,0 m deverão ser construídos em
concreto armado.
 Não serão permitidas ligações de ralos as galerias em caixas cegas ou de
passagem, ou seja, todas as ligações deverão ser executadas nos poços de visita.
 As galerias que conduzam vazões superiores a 10,0 m 3/s, não deverão ser
fechadas, a não ser para travessia de vias.
 As galerias retangulares com base maior que 1,5 m, deverão usar tampão
triplo (3 seções) nas suas visitas.

Dispositivos de captação superficial

Estes dispositivos deverão estar localizados de maneira a conduzir o


escoamento superficial para os condutos de águas pluviais.
Neste tópico serão abordadas as sarjetas, valetas, canaletas, caixas de ralo
com grelhas acopladas e ramais de ralo; o dispositivo tipo boca-de-lobo poderá ser
adotado em casos específicos.
As canaletas são canais de drenagem que fazem a capitação superficial das
águas pluviais. As canaletas podem ser retangulares, semicirculares ou trapezoidais
(ver figura 117).
P á g i n a | 257

Figura 117: Canaletas: (a) retangular em degraus, (b) Semicircular em concreto, (c)
Trapezoidal em terra e (d) PVC.

Fonte: HENRIQUES (2013)

Sarjetas são dispositivos de drenagem que se aplicam a cortes, aterros e


canteiros centrais, de seção triangular e geralmente construídos no terreno natural,
em concreto simples ou em paralelepípedos. A função básica das sarjetas é
transportar longitudinalmente ao eixo dos logradouros ou rodovias as águas pluviais
entre dois pontos determinados pelo projeto de drenagem.

Figura 118: Sarjetas em concreto: (a) em construção e (b) construída.

Fonte: HENRIQUES (2013)


P á g i n a | 258

Enquanto as sarjetas localizam-se nas bordas da plataforma de corte, em


canteiros centrais e em banquetas executadas em taludes de cortes ou aterros, as
valetas destinam-se a captar as águas precipitadas a montante dos cortes ou aterros,
impedindo que estas atinjam o corpo estradal.

Figura 119: Valeta de concreto flexível.

Fonte: <http://www.concretoflexivel.com.br>

As caixas de ralo são as estruturas onde estão instaladas as grelhas que fazem
a captação das águas pluviais nas vias. A função das grelhas é evitar que detritos
maiores entrem nas galerias. As grelhas podem ser em ferro fundido ou em concreto.
Um artifício utilizado para quando se deseja aumentar a capacidade de
engolimento da caixa de ralo é instalar bocas de lobo associadas às grelhas.

Figura 120: Grelha de ferro fundido e de concreto.

Fonte: HENRIQUES (2013)

Os poços de visita são câmaras visitáveis que tem as funções de possibilitar


mudanças de direção da tubulação, mudanças de declividades, mudanças de seção
e confluência de uma ou mais galerias. Essas câmaras possibilitam também a limpeza
e desobstrução das redes. Os PV's de drenagem são usualmente construídos em
concreto armado (Fig.121-b) ou alvenaria e moldados in-loco (Fig. 121-a).
P á g i n a | 259

Figura 121: Poços de visita: (a) Em blocos de concreto moldado in-loco e (b) peças pré-
moldadas.

Fonte: HENRIQUES (2013)

Elementos de projeto: Deverá ser prevista a instalação de caixas de ralo com


grelha sempre que a capacidade de escoamento da sarjeta for excedida e nos pontos
baixos dos greides. A primeira caixa de ralo deverá ser locada a partir do divisor de
águas até a seção da sarjeta onde a faixa de alagamento atinge o limite estabelecido
para cada tipo de via. Será permitido o escoamento superficial desde que a faixa
inundável das sarjetas não ultrapasse 0,80m nas vias principais e 1,00 nas vias
secundárias. A velocidade máxima não deverá ultrapassar 3,0 m/s.
As caixas de ralos serão ligadas aos poços de visita por intermédio de ramais
de ralo com diâmetro mínimo de 0,40 m e declividade mínima de 0,5%, nos casos em
que o recobrimento da rede não permitir a ligação de ramais de ralo com diâmetro
0,40 m, poderá ser admitido o diâmetro de 0,30 m.
Nos cruzamentos, as caixas de ralo deverão estar localizadas a montante do
ponto de tangência. Recomenda-se a adoção da declividade longitudinal mínima de
0,2% para as sarjetas; nos trechos planos as sarjetas deverão ser projetadas com a
largura de 0,60 m, adotando-se a declividade longitudinal mínima da sarjeta e a
distância de 15 m entre os pontos de inflexão da sarjeta; as caixas de ralos com grelha
deverão ser dispostas nos pontos baixos da sarjeta.
A capacidade de engolimento da grelha padrão da PCRJ, a ser considerada
nos projetos de drenagem urbana, encontra-se na faixa de 30 a 40 l/s, outros valores
deverão ser justificados. Para bateria de ralos o ramal de ligação deverá ser
dimensionado em função de sua captação do deflúvio. A Rio-Águas recomenda que
os poços de visita sejam instalados em intervalos de no máximo 40 m de distância.
P á g i n a | 260

O acesso se dá através dos tampões de ferro fundido instalados no topo dos


PV's. Esses tampões devem ter um diâmetro mínimo de 0,60 m para possibilitar a
entrada de uma pessoa para realizar a limpeza ou manutenção.

As sarjetas, valetas e canaletas deverão ser dimensionadas com o emprego


da equação de Manning, visto na aula anterior.

Para saber mais, acesse:


<http://engenhariacivilunip.weebly.com/uploads/1/3/9/9/13991958/aula_9.pdf>.

Canaletas em degraus

No caso da implantação de redes de drenagem em terrenos íngremes,


especialmente em áreas de ocupação irregular, deverão ser projetadas canaletas
abertas com degraus (escadas hidráulicas).
Deverão previstas estruturas dissipadoras de energia nos casos de entrada em
galeria e mudanças bruscas de direção.
A declividade do patamar (i) não deverá ser superior a 3%, devendo ser
mantidas invariáveis as dimensões dos patamares (p) e degraus (hd) em cada trecho,
figura 122.
P á g i n a | 261

Figura 122: Escadaria hidráulica.

Metodologia de cálculo
O dimensionamento poderá ser feito através da expressão empírica,
apresentada no Manual de Drenagem de Rodovias – DNIT/2006, fixando-se o valor
da base (B) e determinando-se o valor da altura (H):

Q = 2,07 B 0,9 H 1,6

onde:
Q = Descarga de projeto a ser conduzida pela descida d'água, em m 3/s;
B = Largura da descida d'água, em m;
H = altura média das paredes laterais da descida, em m.

Não obstante, em áreas com intensa produção de sedimentos ou acúmulo de


resíduos sólidos, recomenda-se a adoção das dimensões constantes na Tabela 44:
P á g i n a | 262

Tabela 44: Dimensões recomendadas.

Vazão (l/s) Base (m) H (m) Vazão (l/s) Base (m) H (m)

50 0,30 0,30 600 0,70 0,70

80 0,30 0,30 650 0,70 0,70

100 0,40 0,40 700 0,70 0,70

150 0,40 0,40 750 0,70 0,70

200 0,50 0,50 800 0,80 0,80

250 0,50 0,50 850 0,80 0,80

300 0,50 0,50 900 0,80 0,80

350 0,60 0,60 1000 0,80 0,80

400 0,60 0,60 1100 0,90 0,90

450 0,60 0,60 1200 0,90 0,90

500 0,60 0,60 1300 0,90 0,90

550 0,70 0,70 1400 0,90 0,90


Resumo

Nesta aula, você aprendeu:

 Os critérios, coeficientes e parâmetros de projetos para as águas


pluviais;
 Os dispositivos de captação superficial;
 As equações utilizadas.
Referências Bibliográficas

Básica:
BARBOSA, P. R. N. J. Projeto de drenagem nos padrões do município do
Rio de Janeiro. Projeto de conclusão de curso de Engenharia Civil. Universidade
Federal do Rio de Janeiro – UFRJ. Rio de Janeiro, 2013.

INSTRUÇÕES TÉCNICAS PARA ELABORAÇÃO DE ESTUDOS


HIDROLÓGICOS E DIMENSIONAMENTO HIDRÁULICO DE SISTEMAS DE
DRENAGEM URBANA (Aprovada pela Portaria O/SUB – RIO-ÁGUAS “N” nº.
004/2010). Rio de Janeiro- Subsecretaria de Gestão de Bacias Hidrográfcas, Rio-
Águas ,1ª. Versão - Dezembro 2010.

MINISTÉRIO DOS TRANSPORTES: DEPARTAMENTO NACIONAL DE


INFRA-ESTRUTURA DE TRANSPORTES – DNIT. Norma DNIT 018/2006 – ES.
Drenagem: Sarjetas e valetas – Especialização de Serviços. Instituto de Pesquisas
Rodoviárias, Rio de Janeiro, 2006.
Exercícios
AULA 12

1) Considere a figura abaixo como um canal de seção trapezoidal, de taludes


inclinados de α = 48° em concreto no trecho 1 e α = .62° no trecho 2 (em grama).
Calcule o coeficiente de rugosidade equivalente.

Figura 123: Seção trapezoidal de canal.

2) Dimensionar um canal de seção trapezoidal para máxima eficiência


hidráulica, verificando se a velocidade de escoamento é tolerável.
Dados:  = 2:1, n (concreto) = 0,025, I = 80 cm/Km, Q = 10 m3/s

3) Calcular a altura de água e a velocidade de escoamento em uma sarjeta cuja


seção transversal tem a forma da figura abaixo, para escoar a vazão de 0,2 m3/s,
sabendo-se que a declividade é de 0,4 por mil e o coeficiente de rugosidade de
Manning é de 0,013 (asfalto liso).

Figura 124: Exercício.


P á g i n a | 266

4) Considerando a mesma sarjeta do exercício nº 3, o que acontece com a


altura da lâmina de água se o revestimento da mesma for alterado para concreto?
Esta sarjeta deveria ser redimensionada?

5) Tem-se um canal triangular como indica a figura abaixo, onde escoa uma
vazão Q = 2 m3/s e cuja declividade é de 0,003 m/m com n = 0,012.

Figura 125: Exercício.

Determine:
a) A altura da água;
b) A velocidade de escoamento neste canal superficial.

6) Considerando a mesma sarjeta do exercício anterior, analisando as tabelas


de recomendações das velocidades máximas, qual tipo de revestimento deve ser
executado para suportar a vazão calculada?

7) Explique as diferenças entre sarjeta e valeta.


Aula 13
Orifícios e bocais I

APRESENTAÇÃO DA AULA

Nesta aula abordaremos os conceitos de furos e orifícios.


Dependendo da espessura da parede do reservatório, das dimensões do furo,
e uma série de outras características, teremos uma alteração na vazão volumétrica
que é a relação do volume de líquido que sai em um determinado tempo.

OBJETIVOS DA AULA

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:

 Apresentar os tipos de classificação dos orifícios em reservatórios;


 Apresentar as fórmulas para o cálculo de vazão;
 Realizar exercícios relacionados ao tema da aula.
P á g i n a | 268

“Toda a educação científica que não se inicia com a Matemática é,


naturalmente, imperfeita na sua base”. (Augusto Conte)
13 INTRODUÇÃO – ORIFÍCIOS E BOCAIS I

Orifícios são aberturas de perímetro fechado (geralmente


de forma geométrica conhecida) localizadas nas paredes ou no
fundo de reservatórios, tanques, canais ou canalizações, sendo
posicionadas abaixo da superfície livre do líquido.

Os orifícios possuem a finalidade de medição de vazão, sendo utilizados,


também, para a determinação do tempo de esvaziamento de reservatórios e o cálculo
do alcance de jatos.
Pelo método direto, podemos calcular a vazão por uma simples relação: Vazão
(Q) = Volume que sai pelo orifício (V) em um determinado tempo (T), ou seja: Q=V/T.

Classificação

I) Quanto à forma geométrica: podem ser retangulares, circulares,


triangulares etc.
II) Quanto às dimensões relativas: Analisando a Figura 126, os orifícios
podem ser considerados:
a) Pequeno: quando suas dimensões forem muito menores que a
profundidade (h) em que se encontram. Na prática, d  h/3.
b) Grande: d > h/3.

Onde:
d = altura do orifício; e
h = altura relativa ao centro de gravidade do orifício.
P á g i n a | 269

Figura 126: Esquema de orifício instalado em reservatório de parede vertical.

III) Quanto à natureza das paredes: Os orifícios podem ser considerados de:
a) Parede delgada (e < d): a veia líquida toca apenas a face interna da parede
do reservatório, ou seja, o líquido toca o perímetro da abertura segundo uma linha
(Figura 127a).
b) Parede espessa (e ≥ d): a veia líquida toca quase toda a parede do
reservatório (Figura 127b). Esse caso será enquadrado no estudo dos bocais (os
orifícios de parede espessa funcionam como bocais).
P á g i n a | 270

Figura 127: Orifícios de parede delgada (a) e espessa (b).

IV) Quanto à posição da parede: conforme as figuras 128 e 129.

Figura 128: Orifícios de parede vertical (a) e parede inclinada para montante (b).

Figura 129: Orifícios de parede inclinada para jusante (a) e parede horizontal (b).

Quando a parede é horizontal e h < 3.d ocorre o chamado vórtice ou vórtes, o


qual afeta o coeficiente de descarga (CQ).
P á g i n a | 271

V) Quanto ao escoamento:
O escoamento em um orifício pode ser classificado como livre ou afogado
conforme apresentado na Figura 130.

Figura 130: Orifícios com escoamento livre (a) e afogado (b).

VI) Quanto à contração da veia:


O jato que sai do orifício sofre uma gradual contração, ficando a sua seção
menor que a da abertura, pois pela inércia das partículas, a direção do movimento não
se altera bruscamente (Figura 131).

Figura 131: Orifícios com contração do tipo completa [(a) e (e)] e incompleta [(b), (c) e (d)].

Seção contraída

Seção contraída é aquela seção do orifício na qual observa-se uma mudança


nas linhas de corrente do jato d’ água ao passar pelo orifício. Diz-se que a contração
é incompleta quando a água não se aproxima livremente do orifício de toda s as
direções, o que ocorre quando o mesmo não está suficientemente afastado das
paredes e do fundo. A experiência mostra que, para haver contração completa, o
orifício deve estar afastado das paredes laterais e do fundo de, ao menos, 3 vezes a
P á g i n a | 272

sua menor dimensão. Como a contração da veia líquida diminui a seção útil de
escoamento, a descarga aumenta quando a contração é incompleta.
As partículas fluidas escoam para o orifício vindas de todas as direções em
trajetórias curvilíneas. Ao atravessarem a seção do orifício continuam a se moverem
em trajetórias curvilíneas (as partículas não podem mudar bruscamente de direção,
devido à inércia das partículas, obrigando o jato a contrair-se um pouco além do
orifício, onde as linhas de corrente são paralelas e retilíneas) (Figura 132).

Figura 132: Seção contraída do jato de água que escoa pelo orifício.

Fórmula para cálculo da vazão

Orifícios afogados de pequenas dimensões em paredes delgadas (contração


completa)

Neste caso admite-se que todas as partículas que atravessam o orifício têm a
mesma velocidade e que os níveis da água são constantes n os dois reservatórios.
Considerando a Figura 133, aplica-se a equação de Bernoulli entre os pontos
(0) e (1) situados na linha de corrente 0-1, com plano de referência passando pelo
ponto (1).
P á g i n a | 273

Figura 133: Esquema de dois reservatórios interligados por um orifício.

Na prática a velocidade real (V) na seção contraída existente (atrito externo e


viscosidade - atrito interno). (Velocidade) a relação entre V e Vth, tem-se:
P á g i n a | 274

OBS: O valor de Cv é determinado experimentalmente e pode


ser encontrado em tabelas, sendo que o valor de Cv varia em funcão
do diâmetro e forma do orifício e altura de lâmina d’ água h 0 - h1. Na
prática pode-se adotar C v = 0,985.

A vazão (Q) que atravessa a seção contraída, e também o orifício, é dada por:

Q = AC.V = CV.AC. √2𝑔. (ℎ𝑜 − ℎ1) (6)


Qth = A. Vth (7)

Onde Ac = área da seção contraída, L².


Chamando de Cc (coeficiente de contração) a relação entre AC e A (áre do
orifício), temos:

CC = AC / A ↔ AC = A. CC (8)

Substituindo (8) em (6), temos:

Q = CV. CC. A. √2𝑔. (ℎ𝑜 − ℎ1) (9)


Definindo como coeficiente de descarga (CQ) o produto CV.Cc, ou seja:

CQ = CV. CC (10)
P á g i n a | 275

OBS: o valor de CQ é função da forma e diâmetro do orifício e da lâmina de


água h0-h1. Na prática pode-se adotar Cc = 0,62.

Substituindo (10) em (9), tem-se:

Q = CQ. A. √2𝑔. (ℎ𝑜 − ℎ1) (11)

que é a vazão volumétrica para orifícios afogados de pequenas dimensões


localizados em reservatórios de parede delgada.

Na prática pode-se tomar o valor de CQ como: CQ = CV. CC =


0,985 x 0,62 = 0,61.

Orifícios com escoamento livre de pequenas dimensões em paredes delgadas


(contração completa)

Nesse caso h1 = 0 e h0 = h, então a equação passa a ser escrita como:

Q = CQ. A. √2𝑔. ℎ (12)

Em iguais condições de altura de lâmina d’água acima do orifício (h ou h0 - h1),


CQ é um pouco maior para escoamento livre. Em casos práticos, podem-se adotar os
mesmos valores para CQ.

Orifícios livres de grandes dimensões em paredes delgadas (contração


completa)

Nesse caso não se pode mais admitir que todas as partículas possuem a
mesma velocidade, devido ao grande valor d. O estudo é feito considerando-se o
grande orifício dividido em um grande número de pequenas faixas horizontais de
alturas infinitamente pequenas, onde pode ser aplicada a equação deduzida para
orifícios pequenos (Figura 134).
P á g i n a | 276

Figura 134: Orifícios livres de grandes dimensões em paredes delgadas.

Considerando-se, portanto, um orifício de formato qualquer, a faixa elementar


terá área de:
dA = x dh (13)

A velocidade teórica na área elementar será:

Vth = 2gh (14)

A descarga elementar será:

Q = CQ . A . Vth (15)

Derivando em relação a área, tem-se:

dQ = CQ Vth dA (16)

Substituindo (13) e (14) em (16), tem-se:


P á g i n a | 277

dQ = CQ x dh.√2. 𝑔. ℎ
(17)

Sendo, x = f(h), logo:

ℎ1
𝑄 = 𝐶𝑄 . √2𝑔. ∫ℎ0 𝑥. ℎ1/2 𝑑ℎ (para qualquer seção)
(18)

Para o caso de orifícios com seção retangular (x = L):

ℎ1 ℎ1
2 3/2
∫ 𝑥. ℎ1/2 𝑑ℎ = ∫ 𝐿. ℎ1/2 𝑑ℎ = . 𝐿(ℎ1 − ℎ0 3/2 )
ℎ0 ℎ0 3

2 3/2
𝑄 = . 𝐿. 𝐶𝑄 . √2𝑔. (ℎ1 − ℎ0 3/2 ) (19)
3

(Orifício retangular de grandes dimensões)

OBS: Se h0 = 0, o orifício deixa de funcionar como tal e passa a ser um


vertedor. Para o caso de orifícios com seção triangular (Figura 135):

Figura 135: Seção transversal de um orifício triangular.

De acordo com a Figura 135, por semelhança de triângulos, tem-se que:


P á g i n a | 278

h ⇒ (
1 -xh x  h1-h) b

Como b  2 d tg  , tem-
se:
2

𝜃
𝑥 = 2. 𝑑 𝑡𝑔 ( 2) . (ℎ1 − ℎ) (20)

Substituindo (20) em (18), temos:

3 3 5 5
𝜃 2 2
𝑄 = 2. 𝐶𝑄 . √2𝑔. 𝑡𝑔 ( 2) . [3 . ℎ1 . (ℎ12 − ℎ0 2 ) − 5 . (ℎ12 − ℎ0 2 )] (21)

(para orifícios triangulares de grandes dimensões)

Relação entre CV, CC e CQ

A vazão teórica que atravessa o orifício é dada por:

Qth AVth (22)

A vazão real que atravessa o orifício é dada por:

Q =AC. V           (23)

Dividindo (23) por (22):

𝑄 𝐴 𝑉
= 𝐶𝑄 = 𝐴 . 𝑉 → 𝐶𝑄 = 𝐶𝐶 . 𝐶𝑉 (24)
𝑄𝑡ℎ 𝐶 𝑡ℎ

Orifício de contração incompleta

Quando o orifício é de contração incompleta, a vazão é calculada pela mesma


fórmula que para orifício de contração completa, ou seja:
P á g i n a | 279

𝑄 = 𝐶𝑞′ . 𝐴. √2. 𝑔. ℎ

(pequenas dimensões)

sendo o coeficiente CQ ‘ (coeficiente de vazão para contração incompleta)


relacionado com o coeficiente de vazão para contração completa (CQ) pela seguinte
expressão obtida experimentalmente por Bidone:

𝐶𝑞′ = (1 + 0,15𝑘). 𝐶𝑄
Onde:
K = relação entre o perímetro da parte não contraída do orifício, para o
perímetro total do orifício.

Segue abaixo alguns exercícios resolvidos de orifícios.


1) Calcule o valor de h com base na figura abaixo.

Figura 136: Exercícios.

Dados:
Orifício de pequena dimensão.
Diâmetro – D = 100 mm = 0,1 m
Vazão – Q = 14,76 litros/seg. = 0,01476 m³/s
P á g i n a | 280

Solução:
Considerando o orifício pequeno com escoamento livre em paredes delgadas,
teremos a fórmula:
Q = CQ. A. √2𝑔. ℎ , onde 𝐶𝑄 ≈ 0,6
. 0,12
0,01476 = 0,6 . (3,14 . ). √2 . 9,8. ℎ = 0,6 . (0,00785). √2 . 9,8. √ℎ
4

Isolando h, teremos:
√ℎ = 0,7078 → ℎ = 0,50 𝑚

Para verificar se realmente o orifício é pequeno, teremos que verificar a


igualdade:
𝐻 0,5
>3 → =5>3
𝐷 0,1

Ok! (Orifício pequeno)

2) Calcule a vazão de um orifício de grande dimensão representado abaixo.

Figura 137: Exercícios.

Dados:
Orifício quadrado: Área – A=0,25 m²
Coeficiente de descarga: CQ =0,6
h=0,576 m
P á g i n a | 281

Passo 1: Calculando h1 e h2:


Sendo A=0,25 m² → 𝑏 = ℎ = √0,25 = 0,5 𝑚
h2=0,576 +(0,50/2) = 0,826 m e
h1= 0,576 - (0,50/2) = 0,326 m

Passo 2: Calculando a vazão


Sendo um orifício retangular, temos:

3 3
(ℎ22 − ℎ1 2 )
2
𝑄= . 𝐴. 𝐶𝑄 . √2𝑔.
3 ℎ2 − ℎ1

2 (0,8263/2 − 0,3263/2 )
𝑄 = . 0,25 . 0,6. √2 . 9,8
3 0,826 − 0,326

𝑚3
𝑄 = 0,50 𝑜𝑢 500 𝐿/𝑠
𝑠

3) Segue abaixo um exercício resolvido pela UNB da disciplina de Hidráulica


Geral.
Um orifício retangular de borda delgada de 0,20 m de altura e 0,30 m de largura
está instalado na parede de uma barragem de cheia, descarregando água em um
canal. Determine a curva vazão (pelo orifício) x cota (do nível d'água) nas seguintes
condições:
P á g i n a | 282

a ) cota

soleira do orifício 300 m

fundo do canal a jusante 280 m

nível superior do reservatório 310 m

b ) cota

soleira do orifício 280 m

fundo do canal a jusante 280 m

nível superior do reservatório 310 m

c ) cota

soleira do orifício 281 m

fundo do canal a jusante 280 m

nível d'água do canal a jusante 283 m

nível superior do reservatório 310 m


P á g i n a | 283

Figura 138: Exercícios.

Solução:
A barragem de cheia amortiza enchentes promovendo a regularização do
trecho superior (próximo à cabeceira) do rio. O orifício, ou os orifícios instalados nesse
tipo de barragem, na maior parte do tempo, mantém pequena carga e seu reservatório,
na prática, permanece vazio. Com a chegada da onda de cheia, a carga do orifício
aumenta rapidamente acompanhando o enchimento do reservatório. O orifício, então,
deixa passar apenas a vazão correspondente à carga resultante do enchimento do
reservatório. Assim, o dimensionamento das barragens de cheia envolve, entre outras
questões, a fixação da altura total da barragem necessária à retenção do volume de
água excedente e a localização e dimensionamento do orifício que determinará a
vazão efluente (que passa) capaz de ser absorvida pelo canal ou rio a jusante,
eliminando ou, ao menos, atenuando inundações indesejáveis.
a ) Resolução da letra a
soleira do orifício - cota : 300
fundo do canal a jusante - cota : 280 m
nível superior do reservatório - cota : 310 m

Neste primeiro caso pode-se afirmar com segurança que o jato do orifício não
será influenciado pelo nível do canal de jusante. Como o nível do reservatório está
inicialmente à cota 310 m conclui-se que o orifício funcionará com grande carga já que
esta é maior que o dobro da altura do orifício. Assim, a vazão será determinada por:
P á g i n a | 284

onde:
h carga sobre o orifício medida desde o nível d’água superior, a montante, até
o baricentro deste;
hi = 310 - ( 300 + 0,10 ) = 9,9 m carga inicial sobre o orifício
c = 0,6 coeficiente de vazão segundo Poncelet e Lesbros para h ³ 0,20 m .

Fanning também propôs valores para o coeficiente de vazão que pouco diferem
para a carga considerada.

a = 0,20 x 0,30 = 0,06 m2 área do orifício

A vazão inicial será portanto: m3/s

onde: h = 310 - (300 + 0,1)


Para as demais cotas de nível d'água as vazões serão:

Tabela 45: Exemplo.

cota (m) 310 308 306 304 302

h(m) 9,9 7,9 5,9 3,9 1,9

Q(m3/s) 0,502 0,448 0,387 0,315 0,220

Veja estes resultados plotados no gráfico 1 ao final deste exercício.


Esta primeira posição do orifício em relação ao fundo do canal e nível d'água é
a que permite melhor definição teórica do fenômeno. A posição do orifício à meia altura
garante também uma reservação correspondente ao volume de água retido entre a
cota da soleira e a cota do fundo do reservatório. A reservação é uma característica
das barragens de estiagem, então, caso o orifício seja único e colocado à meia altura
cairemos no caso de barragem mista. O reservatório poderá ser inteiramente
P á g i n a | 285

esvaziado caso exista um segundo orifício junto ao fundo, cuja vazão poderá ser
somada a do orifício anterior para compor a vazão efluente da barragem. Vale ainda
salientar que os cálculos realizados admitiram a velocidade de aproximação do fluido
igual a zero, já que a montante do orifício há o reservatório da barragem onde a área
molhada é supostamente muito grande. Este raciocínio está correto quando a carga
está plenamente desenvolvida mas admite uma margem de incorreção, no início da
enchente, quando a velocidade está presente, principalmente para o orifício localizado
junto ao fundo do reservatório.
b ) Resolução da letra b
soleira do orifício : cota 280 m
fundo do canal : cota 280 m
nível superior do reservatório : cota 310 m
Neste caso a soleira do orifício tem a cota do fundo. A rigor não existe uma
soleira como vimos na situação anterior. As partículas de água têm trajetórias
paralelas ao fundo em sua proximidade. Estas partículas não sofrem contração como
acontece com aquelas que ultrapassam o orifício próximo a borda superior ou junto
aos lados. Este fato requer um ajuste no modelo de cálculo da vazão. Uma outra
questão a ser verificada nos orifícios de fundo é a possível interferência do nível de
jusante. Este cuidado é essencial quando a vazão efluente é lançada em canais de
dimensões reduzidas e em corpos de água cujo nível sofra variações sazonais como
a maré, em mares, e o nível dos lagos. No caso a ser tratado está subentendido que
o nível de jusante não influencia o funcionamento do orifício. Assim, a vazão será
determinada por:

onde:
p' = 0,30 parte do perímetro onde não há contração ( Bidone - orifícios
retangulares )
p = 2 x 0,30 + 2 x 0,20 = 1,0 m perímetro do orifício
p' / p = 0,3 ( p' / p < 0,75 segundo Bidone )
c = 0,6 ( Poncelet e Lesbros p/ altura ³ 0,2 m)
a = 0,20 x 0,30 = 0,06 m2 área do orifício
h = 310 - ( 280 + 0,1 ) = 29,9 m
P á g i n a | 286

g = 9,81 m/s2 (aceleração da gravidade )


c' = ( 1 + 0,155 p' / p) c = 1,0465 c ( Bidone )

Simplificando a questão de a contração poder-se-ía aplicar o coeficiente de


contração aconselhado por Poncelet e igual a (1,035 c). Os resultados, na prática, não
seriam muito diferentes. A vazão por este orifício será:

m3/s .
Comparando este resultado com o do caso anterior, para a mesma cota do
reservatório, verifica-se um expressivo aumento de vazão (0,912 m 3/s contra 0,501
m3/s). Estes valores mostram claramente a importância da posição do orifício bem
como da carga sobre este para o controle de possíveis enchentes a jusante da
barragem. Para as demais cotas do nível d'água as vazões serão:

Tabela 46: Exemplo.

cota(m) 310 306 302 298 294 290 286 282

Q( 0,912 0,849 0,781 0,706 0,622 0,525 0,405 0,230


m3/s)

Veja estes resultados plotados no gráfico 1.


c ) Resolução da letra c
soleira do orifício : cota 281 m
fundo do canal a jusante : cota 280 m
nível superior do reservatório: cota 310 m
nível d'água a jusante do reservatório : 283 m
Neste caso deve-se considerar a influência da tirante d’água a jusante da
barragem. Esta lâmina d'água ocorre quando a vazão efluente tem que se adaptar à
geometria e caraterísticas de um canal ou quando o deságue acontece nas águas de
um lago (ou oceano) cujo nível varia e cuja cota possa submergir o orifício. Quando
se trata de um lago ou oceano, o nível de suas águas não será constante.
P á g i n a | 287

Isto pode acontecer se houver um controle artificial do nível do lago. A solução


aqui considerada toma, portanto, a cota 283 m arbitrariamente. O conhecimento
completo das vazões possíveis no orifício será alcançado ao se aplicar esta mesma
solução para outros níveis do lago (ou oceano). Deve-se ainda chamar a atenção para
a independência relativa que existe entre o nível do lago e a enchente da barragem.
Relativa, pois, o nível do lago pode estar alto e as cheias serem menores ou vice-
versa. Não pode-se esquecer, no entanto, que as maiores cheias e maiores cotas do
lago ocorrerão na estação das chuvas. Correlação melhor caracterizada entre níveis
de jusante e vazões efluentes ocorrerá quando as águas excedentes fluírem em um
canal. O nível do canal será diretamente ligado à vazão efluente do orifício.
Considerando o caso mais simples, quando o nível de jusante foi fixado na cota 283
m, determinamos a vazão da seguinte forma:

onde:
c = 0,6 coeficiente de vazão segundo Poncelet e Lesbros para h ³ 0,20m (
admite-se que os coeficientes de vazão para orifícios submersos são
aproximadamente iguais aos dos orifícios livres).
a = 0,06 m2 área do orifício
Dh = 310 - 283 = 27,0 m diferença de níveis de montante e jusante do orifício.
g = 9,81 m/s2 aceleração da gravidade

Assim, a vazão para a situação descrita será:


m3/s

Para as demais cotas de nível d'água as vazões serão:


P á g i n a | 288

Tabela 47: Exemplo.

cota (m) 310 306 302 298 294 290 286

Q (m3/s) 0,829 0,765 0,695 0,618 0,529 0,422 0,276

Veja os resultados plotados no gráfico 1.


As vazões neste caso são menores que as calculadas para o orifício de fundo
por duas razões. Em primeiro lugar o orifício foi elevado um metro, reduzindo a carga
disponível. Em segundo lugar, a lâmina a jusante também contribui para reduzir a
carga que passa a ser medida como a diferença dos níveis de montante e jusante.

Figura 139: Exemplo.

Sequência 1: orifício à meia altura (a)


Sequência 2: orifício de fundo (b)
Sequência 3: orifício afogado (c)
P á g i n a | 289

4) Calcule o coeficiente de vazão para orifícios de contração incompleta,


conforme figura abaixo (considere CQ = 0,62), sendo dados b = 20 cm e d = 5 cm.

Figura 140: Exemplo.

Passo 1: calculando o valor de K.


𝑏+𝑑 1
𝐾= =
2. (𝑏 + 𝑑) 2

Passo 2: Calculando CQ’:


𝐶𝑞′ = (1 + 0,15𝑘). 𝐶𝑄
CQ’ = (1 + 0,15. 1/2). 0,62 = 0,6665
Resumo

Nesta aula você aprendeu que:

 Os orifícios são aberturas de perímetro fechado localizadas nas


paredes ou no fundo de reservatórios, tanques, canais ou canalização;
 São posicionados abaixo da superfície livre do líquido;
 Os orifícios possuem a finalidade de medição de vazão;
 Podem ser classificados quanto à forma geométrica, dimensões
relativas, natureza e posição das paredes, quanto ao escoamento e
contração das veias.
Referências Bibliográficas

Básica:
AZEVEDO NETTO. Manual de Hidráulica. 8ª Edição. Ed. Edgard Blucher,
1998.

GUEDES, H. A. S. Colaboração de Honscha, M. L. Hidráulica. Curso de


Engenharia Civil. Universidade Federal de Pelotas. Rio Grande do Sul. Agosto 2015.
Exercícios
AULA 13

Considere a figura abaixo para a realização dos exercícios 1


e 2.

Figura 141: Exercícios.

1) Calcule o valor de h considerando um orifício circular de pequena dimensão


com diâmetro de 150 mm e vazão de 15,2 litros por segundo. Verifique também se a
parede do reservatório pode ser considerada delgada.

2) Calcule o valor de h considerando um orifício quadrado com 110 mm de lado


com mesma vazão do exemplo anterior.

3) Calcule a vazão de um orifício de grande dimensão representado abaixo.


P á g i n a | 293

Figura 142: Exercícios.

Dados: Orifício quadrado: Área – A=0,16 m²


Coeficiente de descarga: CQ =0,62
h=0,48 m
4) Calcule o coeficiente de vazão para orifícios de contração incompleta,
conforme figura abaixo (considere CQ = 0,62), sendo dados b = 20 cm e d = 5 cm.

Figura 143: Exercícios.

5) Um reservatório de água de uma edificação possui um orifício circular de


diâmetro igual a 60 mm em parede delgada para retirada emergencial do líquido.
Necessitou-se determinar a altura de carga e a velocidade real este orifício, tendo-se
os seguintes dados:
- Coeficiente de correção da velocidade (CV) = 0,985;
- Coeficiente de descarga = Cd = 0,61
- Descarga do orifício (Q) = 17 L/s
Aula 14
Orifícios e bocais II

APRESENTAÇÃO DA AULA

Nesta aula abordaremos os conceitos de bocais. Os bocais são pequenos


tubos adaptados a orifícios de paredes delgadas por onde escoam os líquidos dos
reservatórios, tanques, etc.
Iremos tratar também do cálculo de vazão em regime permanente e o cálculo
de esvaziamento de um reservatório.

OBJETIVOS DA AULA

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:

 Definir bocais e sua finalidade;


 Apresentar os tipos de classificação dos bocais;
 Apresentar as fórmulas para o cálculo de vazão;
 Realizar exercícios relacionados ao tema da aula.
P á g i n a | 295

“Toda a educação científica que não se inicia com a Matemática é,


naturalmente, imperfeita na sua base”. (Augusto Conte)
14 INTRODUÇÃO – ORIFÍCIOS E BOCAIS II

Nesta aula iremos abordar os conceitos de bocais e o


cálculo de vazões em reservatórios em fluxo permanente e em
nível variado.
Vamos começar pela definição de bocal.

Bocais são pequenos tubos adaptados a orifícios de paredes delgadas por


onde escoam os líquidos dos reservatórios, tanques, canais ou canalizações, sendo
posicionadas abaixo da superfície livre do líquido.
Os bocais possuem a finalidade de dirigir o jato, regular e medir a vazão, sendo
utilizados, também, para a determinação do tempo de esvaziamento de reservatórios
e o cálculo do alcance de jatos.

Classificação

I) Quanto à forma geométrica: podem ser interiores ou reentrantes


(interesse teórico) e exteriores (interesse prático).

Figura 144: Bocais cilíndricos interior (a) e exterior (b).


P á g i n a | 296

As experiências mostram que os coeficientes de descarga para os bocais


exteriores são maiores que para os bocais interiores.
Os bocais cônicos (Figura 145) podem ser classificados como:
 divergente;
 convergente.

II) Quanto às dimensões relativas: Conforme figura 146, tem-se:

Figura 145: Esquema das dimensões de um bocal.

Os orifícios de parede espessa (e ≥ D e L ≥ D) serão tratados


como bocais, isso porque a seção contraída se forma dentro dos
bocais longos.
O bocal curto funciona como um orifício de paredes delgadas
(e<D e L<D), sendo adotado o mesmo coeficiente usado para os
dois casos, isto porque a seção contraída se forma fora do bocal curto.

Cálculo de vazão em bocais

A equação derivada para orifícios pequenos também serve para os bocais,


porém, o coeficiente CQ pode assumir diferentes valores conforme o tipo de bocal.
A fórmula é:
𝑄 = 𝐶𝑄 . 𝐴. √2. 𝑔. ℎ

Sendo CQ calculado pela função do comprimento (L), diâmetro (D).


P á g i n a | 297

Para L=3 D; pode-se tomar na prática o valor de 0,82.

Cálculo de vazão em regime permanente

A equação em regime permanente será demostrada através do exercício


resolvido abaixo.
Exercício: Na parede vertical do reservatório A existe um orifício de pequenas
dimensões afogado, que deságua em um reservatório B (figura abaixo). Este por sua
vez possui também um pequeno orifício que deságua livremente na atmosfera.
Supondo regime permanente e sabendo que h’ = 5 m, calcular:
1) Os valores de H1 e H2
2) A vazão em regime permanente

Figura 146: Ilustração de regime permanente.

CQ1 = CQ2 = CV1. CC1 = 0,98. 0,61 = 0,5978 ≈ 0,60


Fórmulas:
𝑄1 = 𝐶𝑄1 . 𝐴1 . √2𝑔. (ℎ0 − ℎ1 ) 𝑜𝑟𝑖𝑓í𝑐𝑖𝑜 𝑎𝑓𝑜𝑔𝑎𝑑𝑜

𝑄2 = 𝐶𝑄2 . 𝐴2 . √2𝑔. (𝐻2 ) 𝑜𝑟𝑖𝑓í𝑐𝑖𝑜 𝑙𝑖𝑣𝑟𝑒


P á g i n a | 298

Para o escoamento permanente

Como:

Escoamento com nível variável (esvaziamento de reservatórios de seção


constante)

Até agora considerou-se a carga h invariável. Se o nível da água do reservatório


não for mantido constante, h diminuirá com o decorrer do tempo e o escoamento
passará a ser encarado como não permanente. Considerando a Figura 147, e ainda:
P á g i n a | 299

Figura 147: Ilustração de escoamento de regime variado.

Para o esvaziamento completo no intervalo de h 0 e h1:


2. 𝑆
𝑡= . (ℎ01/2 − ℎ11/2 )
𝐶𝑄 . √2. 𝑔 . 𝐴

Observação: esta expressão é apenas aproximada por quê:

 CQ é função dos valores de h e d, varia com a diminuição de h;


 A partir de um certo valor h, o orifício deixará d e ser considerado como
“pequeno”, passando a ser considerado como grande, e
· Considera-se orifício pequeno quando 𝑑 ≤ ℎ/3 e grande quando d  h/3

Exemplo:
2) Em uma estação de tratamento de água (ETA), existem dois decantadores
de 5,50 x 16,50 m de base e 3,50 m de profundidade. Para limpeza e reparos, qualquer
uma dessas unidades pode ser esvaziada por meio de uma comporta quadrada de
0,30 m de lado, instalada junto ao fundo.
Calcular a vazão inicial da comporta e determinar o tempo necessário para o
esvaziamento do decantador.
Considere o coeficiente de vazão para contração incompleta (CQ’ = 0,62).
P á g i n a | 300

Figura 148: Exemplo de esvaziamento de reservatório.

Solução:
a) Calculando a vazão:
h = 3,50 – 0,15 = 3,35 m
3,35 ℎ
𝑑≤ ∴𝑑≤
3 3
0,452 𝑚3
𝑄= 𝐶𝑄′ . 𝐴. √2. 𝑔. ℎ = 0,62 . (0,30)2 . √2 . 9,81 . 3,35 =
𝑠
𝑜𝑢 𝑄 = 452 𝐿/𝑠

b) Tempo necessário para o seu esvaziamento:


2. 𝑆
𝑡= . (ℎ01/2 − ℎ11/2 )
𝐶𝑄 . √2. 𝑔 . 𝐴
ℎ0 = ℎ 3,35 𝑚
ℎ1 = 0
Logo:
2. (5,50 . 16,50) 1 1
𝑡= . (3,352 − 02 ) = 1344 𝑠
0,62. √2.9,81 . 0,32
P á g i n a | 301

Convertendo em minutos:
t = 22,40 minutos ou 22,0 min e 24 segundos

Perda de carga em orifícios e bocais

Para abordamos este assunto, considere a figura abaixo.

Figura 149: Ilustração de um esvaziamento de reservatório.

Chamamos de h1 a parcela utilizada para produzir a velocidade real no furo.


Note que h1 é menor que h, porque uma parcela de h foi consumida para vencer as
resistências ao escoamento.
Essa parcela consumida chama-se perda de carga (hf).
Para calcularmos hf, a equação abaixo deve ser utilizada.

𝑉2 1
ℎ𝑓 = . [( 2 ) − 1]
2. 𝑔 𝐶𝑉
Resumo

Nesta aula, abordamos:

 Os bocais são peças tubulares adaptadas aos orifícios, tubulões ou


aspersores, para dirigir seu jato;
 Seu comprimento deve estar compreendido entre uma vez e meia e 5
vezes o seu diâmetro;
 A equação derivada para orifícios pequenos também serve para os
bocais;
 Existe uma forma própria de calcular vazão em regime permanente, e
uma equação para calcular o tempo de esvaziamento de um tanque ou
reservatório.
Complementar

Leitura:
<http://www2.ufersa.edu.br/portal/view/uploads/setores/111/orificios_e_bocais.pdf>.
<http://www.joinville.udesc.br/portal/professores/doalcey/materiais/Cap_3_e_4___Orificios_e
_Vertedores.pdf>.
Referências Bibliográficas

Básica:
AZEVEDO NETTO. Manual de Hidráulica. 8ª Edição. Ed. Edgard Blucher,
1998.

GOMES, M. H. R. Apostila de Mecânica dos Fluidos. Faculdade de


Engenharia – Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF. Acessado em 2016
através de: <http://www.ufjf.br/engsanitariaeambiental/files/2012/09/Apostila-de-
Mec%C3%A2nica-dos-Fluidos.pdf>.

GUEDES, H. A. S. Colaboração de Honscha, M. L. Hidráulica. Curso de


Engenharia Civil. Universidade Federal de Pelotas. Rio Grande do Sul. Agosto 2015.
Exercícios
AULA 14

1) Na parede vertical de um reservatório de grandes


dimensões (A) existe um orifício afogado (1) que deságua em
outro reservatório (B). Este, por sua vez, possui também um
orifício que deságua livremente (2).
Supondo que o regime é permanente e, sabendo que a altura h vale 5,0 m,
calcule:
a) as alturas H1 e H2;
b) a vazão que escoa pelos orifícios
Dados: Cc1 = Cc2 = 0,61
Cv1 = Cv2 = 0,98
A1 = 2 cm2
A2 = 4 cm2

Figura 150: Exercício.

2) Num bocal cilíndrico externo de 2,0 cm 2 de área e coeficiente de vazão de


0,85, verificou-se que o jato sai com velocidade de 5,0m/s. Nestas condições,
determinar a carga no bocal e a vazão que escoa.

3) Um bocal cilíndrico interno, funcionando com veia descolada, tem área de


2,0 cm², coeficiente de velocidade de 0,98 e coeficiente de contração de 0,52, com
carga de 2,0 m. Qual seria a área de um bocal externo de Cv = 0,85 que, com a mesma
carga, descarregaria a mesma vazão?
Aula 15
Vertedores

APRESENTAÇÃO DA AULA

Nesta aula abordaremos os vertedores, sendo instrumentos hidráulicos para


medir a vazão em cursos d’água naturais e em canais construídos. Podem ser
definidos como paredes, diques ou aberturas sobre as quais um líquido escoa.

OBJETIVOS DA AULA

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:

 Definir vertedores e sua finalidade;


 Apresentar as partes constituintes;
 Definir classificação;
 Apresentar as fórmulas para o cálculo de vazão;
 Realizar exercícios relacionados ao tema da aula.
P á g i n a | 307

“Toda a educação científica que não se inicia com a Matemática é,


naturalmente, imperfeita na sua base”. (Augusto Conte)
15 INTRODUÇÃO - VERTEDORES

Vertedores são estruturas hidráulicas utilizadas para


medir indiretamente a vazão em condutos livres por meio de
uma abertura (entalhe) feita no alto de uma parede por onde
a água escoa livremente, apresentando, portanto, a
superfície sujeita à pressão atmosférica.

Segundo a NBR 13403 (1995) o método de se medir a vazão do curso d’água


por um vertedor é suscetível a avarias causadas por materiais flutuantes, que afetam
a equação de vazão, mas apresenta um baixo custo de instalação, com operação
simples, e erros de até 3%.
São utilizados na medição de vazão de pequenos cursos d’água, canais ou
nascentes, geralmente inferiores a 300 L/s.
Para os vertedores de seção triangular, oferecem maior precisão para vazões
menores que 30 L/s (NBR13403, 1995, p. 4).

Partes constituintes

Na Figura 151 tem-se a representação esquemática das partes componentes


de um vertedor

Figura 151: Vista transversal de um vertedor.

Fonte: GUEDES (2015)


P á g i n a | 308

Classificação

Podemos classificar um vertedor.

Quanto à forma

Os vertedores mais usuais possuem as seguintes formas de seção transversal:


retangular, triangular, trapezoidal e circular.
Na Figura 152 está apresentado um vertedor retangular.

Quanto à espessura (natureza) da parede (e)

a) Parede delgada (e < 2/3 H): a espessura (e) da parede do vertedor não é
suficiente para que sobre ela se estabeleça o paralelismo entre as linhas de corrente.
b) Parede espessa (e > 2/3 H): a espessura (e) da parede do vertedor é
suficiente para que sobre ela se estabeleça o paralelismo entre as linhas de corrente.

Figura 152: Vista longitudinal do escoamento da água sobre a soleira do vertedor.

Fonte: GUEDES (2015)

Quanto ao comprimento da soleira (L)

 Vertedor sem contração lateral (L = B): o escoamento não apresenta


contração ao p assar pela soleira do vertedor, se mantendo constantes antes e depois
de passar pela estrutura hidráulica (Figuras 153a, 153b).
P á g i n a | 309

 Vertedor com contração lateral (L < B): nesse caso a linha de corrente
se deprime ao passar pela soleira do vertedor, podendo-se ter uma (Figuras 153c,
153d) ou duas contrações laterais (Figuras 153e, 153f)

Figura 153: Vertedor: (a) sem contração lateral; (b) vista de cima sem contração lateral; (c)
com uma contração lateral; d) vista de cima com uma contração lateral – linha de corrente
deprimida (lado direito); (e) duas contrações laterais; e (f) vista de cima com duas
contrações laterais – linha de corrente deprimida (lado direito e esquerdo).

Fonte: GUEDES (2015)

Quanto à inclinação da face de montante

Denomina-se face de montante o lado da estrutura do vertedor que está em


contato com a água, conforme apresentada na Figura 154.
P á g i n a | 310

Figura 154: Face de montante: (a) na vertical; (b) inclinado a montante; (c) inclinado a
jusante.

Fonte: GUEDES (2015)

Quanto à relação entre o nível da água a jusante (P ’) e a altura do vertedor


(P)

O vertedor pode funcionar de duas diferentes formas. Quando operado em


condições de descarga livre, o escoamento acontece livremente a jusante da parede
do vertedor, onde atua a pressão atmosférica (Figura 155-a). Esta é a situação que
mais tem sido estudada e a mais prática para a medição da vazão, devendo o por isso
ser observada quando na instalação do vertedor.
A situação do vertedor afogado (Figura 155-b) deve ser evitada na prática, pois
existem poucos estudos sobre ela e é difícil medir a carga hidráulica H para o cálculo
da vazão. Além disso, o escoamento não cai livremente a jusante do vertedor.

Figura 155: a) Vertedor operado em condições de descarga livre (P>P’); (b) vertedor
afogado (P<P’).

Fonte: GUEDES (2015)


P á g i n a | 311

Equação geral da vazão para vertedores de parede delgada

Vertedor retangular contraído de placa delgada

Segundo Agência (2015), “são os vertedores cuja largura é inferior à do canal


em que se encontram instalados (b<B) ”, conforme Figura 156.

Figura 156: Vertedor retangular contraído.

Fonte: AVIX GEO AMBIENTAL (2015)

A equação de descarga para este tipo de vertedor é dada por:


3⁄
Q = 1,838(L′)H 2

Onde:
L’ será calculado de acordo com a contração lateral do vertedor.
B é a largura do canal em metros,
b é a largura da contração em metros, e
H é a altura da lâmina d’água sobre a crista do vertedor em metros.
A largura da contração deve ser no mínimo 30 cm, e é dada pela equação:

 Para contração de 2 paredes laterais:


L′ = b − 0,2H
 Para a contração de apenas 1 lado da parede lateral:
L′ = b − 0,1H
P á g i n a | 312

A altura P do vertedor deve ser no mínimo igual a 30 cm e duas vezes a altura


da lâmina d’água sobre a crista do vertedor, e esta última deve estar compreendida
entre 7,5 cm e 60 cm.

Vertedor retangular sem contração de placa delgada

São vertedores de placa delgada fina cuja largura é igual à largura do canal de
aproximação (ANA, 2015).
Desprezando-se a contração lateral da lâmina d’água, a descarga pode ser
calculada pela fórmula de Francis:

Q = 1,838 bH 3/2

onde Q é a vazão, em m³/s, b é a largura da abertura do vertedor, em m, e h a


altura do nível d’água sobre a crista do vertedor, em m, medida a montante desta, no
local onde foi cravada à estaca.
A altura P do vertedor não deverá ser menor que 10 cm, e sua altura H deve
estar entre 3 e 75 cm. A razão entre a altura H e P não deve ser maior que um. A
largura b do vertedor deve ser igual à do canal e no mínimo igual a 30 cm.

Vertedor triangular e trapezoidal de placa delgada com contração

O vertedor triangular de placa delgada é o mais preciso mecanismo de medida


de vazão em canal aberto em escoamento livre, ilustrado na Figura 157.
O vertedor triangular com contração é o vertedor cuja base do triângulo de
medida é menor que a largura do canal (b<B) (ANA, 2015).
P á g i n a | 313

Figura 157: Vertedor triangular com contração.

Fonte: AVIX GEO AMBIENTAL (2015)

Em um vertedor triangular com ângulo de 90º, a relação entre cota e vazão é


dada por:

Q = 1,4h5/2

onde Q é a descarga, em m³/s e h é a altura do nível d’água sobre o vértice


inferior do vertedor, em m, medida a montante deste.
A altura medida a partir do vértice do triângulo não deve ser menor que 5 cm
ou maior que 38 cm.
A altura do vértice do triângulo, a partir do fundo do canal, deverá ser maior que
45 cm. A largura do canal não deverá exceder 90 cm (ANA, 2015).
Menos utilizado do que os vertedores retangular e triangular.
O vertedor trapezoidal pode ser usado para edição de vazão em canais, sendo
o vertedor CIPOLLETTI o mais empregado. Esse vertedor apresenta taludes de 1:4
(1 na horizontal para 4 na vertical) para compensar o efeito da contração lateral da
lâmina ao escoar por sobre a crista (Figura 158).
P á g i n a | 314

Figura 158: Vertedor trapezoidal de CIPOLLETTI.

Fonte: GUEDES (2015)

Para um vertedor trapezoidal CIPOLLETI, usamos a fórmula:


𝑄 = 1,86. 𝐿. 𝐻 3/2

1) Determine a vazão de um vertedor de parede delgada retangular sem


contração lateral. Veja figura abaixo.

Figura 159: Exemplo.

Solução:
Q = 1,838 bH 3/2 = 1,838 . 2 . (0,35)3/2 = 0,761 𝑚3 /𝑠
Ou,
Q = 761 litros/segundo

2) Considere agora um vertedor de parede delgada com contração lateral com


os mesmos valores acima, ou seja, raio hidráulico H=35 cm e largura da contração
b=2,00 m.
Solução:
3⁄
Q = 1,838(b − 0,2H)H 2 = 1,838 . (2 − 0,2 . 0,35) . 0353/2
P á g i n a | 315

𝑚3
𝑄 = 1,838 . (1,93) = 0,7345
𝑠

Ou, Q = 734,5 litros/segundo

<https://www.youtube.com/watch?v=GKxVSRVlx_s>.
Resumo

Nesta aula vimos:

 As definições e os tipos de vertedores;


 Calcular a vazão em diversos tipos de vertedores;
 Verificar as dimensões mínimas recomendadas de um vertedor.
Referências Bibliográficas

Básica:
AVIX GEO AMBIENTAL. Medição de vazões. 2011. Não paginado. Disponível
em: <http://www.avix.com.br/mediccedilatildeo-de-vazotildees.html>. Acesso em: 28
set. 2015

AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS - ANA. Hidroweb. Disponível em:


<hidroweb.ana.gov.br>. Acesso em: 21.out. 2015.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 13403: Medição


de vazão em efluentes líquidos e corpos receptores – Escoamento livre. Rio de
Janeiro, 1995.

GUEDES, H. A. S. Colaboração de Honscha, M. L. Hidráulica. Curso de


Engenharia Civil. Universidade Federal de Pelotas. Rio Grande do Sul. Agosto 2015.
Exercícios
AULA 15

1) Você foi encarregado de construir um vertedor


triangular de 90º, de paredes delgadas, para medição de vazão
do laboratório de pesquisas na sua faculdade. Sabendo que a
vazão máxima a ser medida é de 14 L/s, determine a altura
mínima do vertedor, contada a partir do seu vértice, para medir a vazão máxima
necessária.

2) Um vertedor retangular, sem contração lateral, tem 1,25 m de soleira,


localizada a 70 cm do fundo do curso d’água. Sendo 45 cm a carga do vertedor,
calcular sua vazão.

Figura 160: Exercício.

3) Deseja-se construir um vertedor trapezoidal (Cipolletti) para medir uma


vazão de 500 L/s. Determine a largura da soleira desse vertedor, para que a altura
d’água não ultrapasse a 60 cm.

4) Para que serve um vertedor?

5) Como podemos classificar um vertedor?


Aula 16
Métodos de medições de vazão

APRESENTAÇÃO DA AULA

Conforme já visto em aulas anteriores, a vazão não é influenciada apenas pelo


nível da água, mas também pela declividade do canal e a forma de sua seção
transversal. Sua medição é extremamente importante para diversos
empreendimentos, entre eles, a construção de uma usina hidrelétrica. Nesta aula
abordaremos os métodos de medições de vazão, através de instrumentos que podem
ser instalados ao longo do curso d’água.

OBJETIVOS DA AULA

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:

 Ratificar a importância da medição de vazão em projetos para


construção de uma usina hidrelétrica;
 Apresentar os diversos métodos de medição, entre eles: Método da
calha Parshall, método dos flutuadores, método do magnetismo,
método dos orifícios, bocais e tubos curtos, método dos vertedores,
entre outros.
P á g i n a | 320

“Toda a educação científica que não se inicia com a


Matemática é, naturalmente, imperfeita na sua base”.
(Augusto Conte)
16 MÉTODOS DE MEDIÇÕES DE VAZÃO

Ufa, chegamos ao final da disciplina!


Para fecharmos o nosso conteúdo, iremos abordar um
resumo dos diversos métodos para medição de vazão em
canais, métodos estes já estudados como vertedores,
orifícios, bocais e canais curtos, e outros que serão
apresentados pela primeira vez, como a calha parshall e o método do
eletromagnetismo, entre outros.

Já estamos “cansados de saber” que a vazão de um canal é o volume de água


que passa por uma determinada seção transversal em um intervalo de tempo
considerado. É de extrema importância determinar seu valor para os cálculos técnicos
e econômicos, principalmente para verificação de viabilidade para construção de uma
central hidrelétrica.
A importância da medição de vazões em um aproveitamento hidrelétrico está
presente desde a determinação de seu potencial, estendendo-se à definição da vazão
de projeto, ensaios nos grupos geradores e monitoramento da geração (CERPCH,
2008).
Conforme já vimos, a vazão é responsável pelo diâmetro da tubulação, o tipo
de turbina, a velocidade rotacional, o tamanho do gerador, e até mesmo do rendimento
de uma usina hidrelétrica. Para determinar a capacidade reguladora de um
reservatório é indispensável o conhecimento das características dos ciclos, que
podem ser obtidas através dos chamados tempo de regularização e tempo de
enchimento. Para o cálculo destes tempos é necessário o conhecimento da vazão
média do ciclo hidrológico (SOUZA; SANTOS; BORTONI, 2009).

Métodos de Medição de vazão

Existem diversos métodos para se determinar a descarga líquida de um curso


de água, vejamos alguns.
P á g i n a | 321

Método da calha Parshall

O medidor Parshall desenvolvido pelo engenheiro Ralph L. Parshall, na


década de 1920, nos Estados Unidos é uma melhoria realizada no projeto de calha
Venturi. Desenvolvido inicialmente para aplicações em irrigação, hoje em dia é
utilizado frequentemente nas aplicações industriais e de saneamento. Segundo a NBR
13403 (1995) este método consiste na utilização de um dispositivo com seção
convergente, com fundo em nível, seção estrangulada ou garganta, com fundo em
declive e seção divergente, com fundo em aclive. A vazão deve ser determinada a
partir da leitura, em escala, da lâmina líquida na seção convergente.
A mesma norma ainda diz que este é um método de operação simples que
pode ser aplicado a todas as vazões, tendo um custo médio de instalação.
Os medidores de Parshall compõem-se de três partes: uma seção
convergente, uma seção estrangulada (garganta) e uma seção divergente, conforme
apresentado na Figura 161 (ANA, 2015).

Figura 161: Esquema da calha de Parshal com suas seções principais.

Fonte: Adaptado de AVIX GEO AMBIENTAL (2015)

O nível do fundo do canal na seção convergente deve ser mais alto do que o
nível na seção divergente, com o fim de assegurar que esta não trabalhe no regime
de fluxo submerso.
P á g i n a | 322

A altura da lâmina d’água na seção convergente é a medida do fluxo através


da calha (ANA, 2015).
Segundo a NBR 13403 (1995) 1º e a ANA (2015) 2º:
1º- “Quando a calha for usada afogada, ou seja, quando o nível de água a
jusante for suficientemente elevado para influenciar o escoamento, deve ser
necessária leitura de escala em duas seções. ”
2º- “A calha Parshall não sofre influência de líquidos contendo materiais em
suspensão e por isso é recomendada para essa condição. ”

A equação de descarga usada para este método é dada por:


𝑄 = 2,2𝑊𝐻 3⁄2

Onde:
Q é a vazão em m³/s;
W é a largura da garganta em polegadas e em pés, e
H é a altura da lâmina d’água, em m, medida a montante da garganta, em um
poço auxiliar.

Algumas condições devem ser observadas quando da utilização deste método:


 O medidor Parshall deve ser instalado em canais retos com paredes
perfeitamente verticais;
 O tamanho do medidor deve ser determinado em função da vazão estimada
e de tal modo que não provoque inundação no canal de aproximação a montante do
vertedor;
 O fundo do canal de saída deve ser inferior ao do canal de aproximação;
 O canal de aproximação deve ter um trecho reto superior à 20H, a montante
da garganta de medição.

Obedecidas às condições acima, estima-se uma precisão de 1% nas


determinações de vazão. ”
P á g i n a | 323

16.1.1.1 Critérios construtivos

Os tamanhos das calhas parshall são designados pela largura da garganta


(trecho contraído). Segue abaixo alguns critérios construtivos (tabelas 48 e 49 e figura
162) obedecendo a norma ASTM 1941 (1975) em relação as suas dimensões.

Tabela 48: Capacidade de vazão x largura da garganta.


Largura da Garganta Capacidade de Vazão
W Min Max
(inch) (m3/h) (m3/h)
1” 1.02 19.4
2” 2.04 47.9
3” 3.06 115
6” 5.10 398
9” 9.17 907
12” 11.2 1641
18” 15.3 2508
24” 42.8 3374
36” 62.2 5138
48” 132 6922
60” 163 8726
72” 265 10551
84” 306 12376
96” 357 14221
Fonte: <http://www.incontrol.ind.br/downloads/manual16.pdf>.
P á g i n a | 324

Figura 162: Esquema construtivo da calha Parshall.

Fonte: <http://www.incontrol.ind.br/downloads/manual16.pdf>

Tabela 49: Dimensões da calha parshall.

Fonte: <http://www.incontrol.ind.br/downloads/manual16.pdf>
P á g i n a | 325

Os medidores Parshall podem ser construídos no campo ou fabricados nos


seguintes materiais:
 Fibra de vidro;
 Aço carbono revestido;
 Aço inox;
 Concreto;
 PVC.

16.1.1.2 Manutenção

A manutenção de um medidor Parshall é bastante simples, pois sua forma


construtiva dificulta o acúmulo de sedimentos. Por isso, o medidor Parshall é
comumente utilizado em esgoto e água com sólidos em suspensão. Porém, faz-se
necessária uma vistoria cuja frequência é estudada caso a caso, dependendo da sua
condição de operação. Além do aspecto limpeza, observar as condições da calha
propriamente dita, pois dependendo do material de construção (se concreto, alvenaria,
madeira, metal ou fibra de vidro) pode ter tempo de vida variável.
Mais informações sobre a calha parshall em:
<http://www.incontrol.ind.br/downloads/manual16.pdf>.
<http://www.flowmaster.com.br/uploads/produtos/MANUAL_CALHA_PARSHA
LL_00-20121.pdf>.

<https://www.youtube.com/watch?v=vAiJRV8FuGE>.
<https://www.youtube.com/watch?v=BC41osZqOLs>.
<https://www.youtube.com/watch?v=Nb4hwRiWGyc>.

Método dos flutuadores

Existem várias formas e tipos de flutuadores, porém, são normalmente


esféricos, ocos ou de metal. Tem por finalidade medir a velocidade de um filete da
superfície, podendo também medir a velocidade de filetes abaixo da superfície através
da utilização de um conjunto flutuante, formado por uma esfera auxiliar presa à
primeira. A velocidade deste conjunto é aproximadamente a média aritmética dos
filetes da superfície e interno. Para o cálculo da velocidade é cronometrado o tempo
P á g i n a | 326

para a esfera, ou o conjunto, percorrer uma distância conhecida (SOUZA; FUCHS;


SANTOS, 1983).
Este método é indicado para pré-avaliação por ser um método rápido, mas
também precário, devido à necessidade de aplicação de um coeficiente, de
determinação incerta, para se obter a velocidade média na seção. Pode ser utilizado
mesmo com grandes concentrações de materiais em suspensão, é um método de
operação simples que pode ser aplicado a todas as vazões, tendo um custo baixo de
instalação, e pode apresentar erros de até 20%.
A medição da vazão pode ser feita escolhendo-se um trecho reto do curso
d’água, preferencialmente com mais de 10 metros de comprimento, cujo leito seja
uniforme e onde a água flua serenamente, marcando-se o seu início e o seu fim,
conforme é ilustrado na Figura 163. Sugere-se o uso de cordas para a marcação do
trecho escolhido (EMBRAPA, 2007).

Figura 163: Marcação do trecho no rio para medição da vazão pelo método dos flutuadores.

Fonte: Adaptado de EPA (2007) apud EMBRAPA (2007)

Em seguida coloca-se no meio do leito, a alguns metros a montante do início


do trecho escolhido, um flutuador e determina-se o tempo que o flutuador gasta para
percorrer o trecho escolhido.
Quanto maior o número de repetições mais precisos serão os resultados,
recomenda-se realizar a medição no mínimo três vezes.
O resultado do tempo será a soma dos tempos medidos divididos pelo número
de repetições.
P á g i n a | 327

As áreas das seções transversais limitadas pelos níveis d’água e o fundo do


córrego devem ser determinadas, no mínimo, para o ponto inicial e final do trecho de
medição. A área do rio é o produto da largura do rio pela média da profundidade.
Para determinar a média da profundidade da seção superior e inferior devem-
se marcar intervalos iguais ao longo da corda e dividir o total das profundidades
medidas pelo número de intervalos mais um (soma-se um ao cálculo da média pela
necessidade de se considerar a profundidade zero), conforme ilustrado na Figura 164.
(EMBRAPA, 2007).

Figura 164: Marcação dos intervalos para medição das médias de profundidade.

Fonte: Adaptado de EPA (2007) apud EMBRAPA (2007)

A vazão Q, em m³/s, pode ser calculada pela equação.

𝐶. 𝐿. 𝐴̅
𝑄=
𝑡
̅ é a média das áreas das
onde L é o comprimento do trecho medido em m, A
seções transversais, levantadas ao longo do trecho, em m², t é o tempo de percurso
do flutuador em s, e C é o coeficiente de correção de velocidade superficial para
velocidade média na seção de medição (0,8 para rios com fundo pedregoso ou 0,9
para rios com fundo barrento).

<https://www.youtube.com/watch?v=_sEvPDOfQ4U>.
P á g i n a | 328

Método magnético (eletromagnético)

Segundo a NBR 13403 (1995) este é um “método que utiliza, para determinar a
vazão, medidas da tensão induzida na corrente líquida ao passar por um campo
magnético”. É um método que exige operação especializada, podendo ser utilizado
para vazões acima de 30 l/s e apresenta um alto custo de instalação.
A mesma norma diz que é possível obter uma alta precisão, com erro entre 2 e
5%, sendo a velocidade mínima detectável 0,001 m/s, mas é suscetível à presença de
campos elétricos e magnéticos na área, e também a turbulência e vórtices (intenso
movimento espiral de parte da massa líquida). Este método é “particularmente útil no
caso de fluidos corrosivos, ou quando não é desejável perfurar as paredes do canal”
e também é tolerante ao crescimento vegetal aquático; à presença de gases; à
estratificação de temperatura; à presença de sólidos suspensos, material flutuante; à
deposição de material na membrana isolante; e a remanso.

Método do molinete

Segundo a NBR 13403 (1995) este é um método que utiliza a determinação da


velocidade de um fluido, por meio da sua correlação com o número de rotações de
uma hélice ou conchas de um dispositivo chamado molinete.
“A medição de vazão com molinetes hidrométricos exige, dependendo das
dimensões do rio, no mínimo 20 medições individuais ao longo da seção, que
geralmente compreendem várias horas de trabalho ” (CERPCH, 2008, p.4).
Segundo a norma supracitada este método pode ser empregado com precisão
(erros de até 5%) para seções grandes e/ou irregulares, mas não deve ser aplicado
em regimes turbulentos ou na presença de grandes concentrações de sólidos
suspensos.
Este é um método que exige operação especializa e é recomendado para
vazões acima de 30 l/s. Apresenta um alto custo de operação, devido ao preço do
equipamento.
O molinete deve ser posicionado em diversos pontos da seção do curso d’água
para o levantamento do perfil de velocidades. Depois de levantado o perfil de
velocidades, Figura 165, deve-se calcular a velocidade média de cada perfil e então
determinar a vazão.
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Figura 165: Perfil de velocidades.

Fonte: TUCCI, PEREIRA e NETO (2003)

Os pontos de cada vertical onde devem ser posicionados os molinetes


dependem da profundidade do curso d’água.
A Tabela 50 fornece as posições nas quais o molinete deve estar em relação à
profundidade (TUCCI; PEREIRA; NETO, 2003).

Tabela 50: Posição do molinete em cada vertical em relação à profundidade.


Profundidades Posição
0,15 a 0,60 0,6P (1)
0,60 a 1,20 0,2P e 0,8P
1,20 a 2,00 0,2P; 0,6P e 0,8P
2,00 a 4,00 S (2); 0,2P; 0,4P; 0,6P e 0,8P
Acima de 4,00 S; 0,2P; 0,4P; 0,6P; 0,8P e F (3)
Fonte: TUCCI, PEREIRA e NETO (2003)

Notas:
(1) P corresponde à profundidade do rio.
(2) S (superfície) correspondente à profundidade de 0,10m.
(3) F (fundo) correspondente à profundidade determinada pelo comprimento da
haste de sustentação do lastro.

A Figura 166 ilustra a distribuição dos pontos de medição em uma seção de um


curso d’água de comprimento L, sendo a referência definida na margem esquerda.
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Figura 166: Distribuição dos pontos de medida.

Fonte: GEN (1999)

“A velocidade do fluxo da água é linearmente proporcional ao número de


rotações da hélice” (MELCHIOR, 2006) e para calculá-la deve-se medir o tempo entre
alguns sinais enviados pelo aparelho, que ocorrem após determinado número de
rotações.
O equipamento possui uma curva calibrada do tipo:

𝑁
𝑉 = 𝑎. ( ) + 𝑏
𝑡

onde a é o passo da hélice, b é a inércia da hélice, t é o tempo medido entre os


sinais, e N é o número de rotações entre esses sinais. Sendo a e b características do
aparelho, e, portanto, constantes.
“As velocidades limites que podem ser medidas com molinete são de cerca de
2,5 m/s com haste e de 5 m/s com lastro. “Acima destes valores os riscos para o
operador e o equipamento passam a ser altos ” (AVIX GEO AMBIENTAL, 2011).
A vazão é determinada pelo somatório do produto de cada velocidade média
por sua área de influência.

<https://www.youtube.com/watch?v=ZpK9U3Bplms>
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Método dos orifícios, bocais e tubos curtos

O método dos orifícios, bocais e tubos curtos para cálculo de vazão já foi
estudado nas aulas anteriores. Se destaca pela simplicidade de operação e baixo
custo, mas seu uso é limitado pela presença de sólidos suspensos, quando existir
possibilidade de obstrução e assoreamento.

Método do vertedor

Este método foi explicado na aula anterior, se destaca também pela sua
praticidade.
Suas características podem ser revistas na aula 15.

Método volumétrico e gravimétrico

Este método consiste em desviar o curso para um reservatório conhecido,


conforme Figura 167, e depois de um tempo verificar o acréscimo de volume, obtendo-
se a vazão média.

Figura 167: Desvio do curso d’água para medição pelo método volumétrico ou gravimétrico.

Fonte: Adaptado de PEREIRA e MELLO (2011, p.2)

Segundo a NBR 13403 (1995) este é um método prático, aplicável


especialmente a pequenas vazões (até 5l/s), de baixo custo e boa precisão (erros de
até 2%). Mas deve-se conciliar o volume do recipiente com a vazão esperada, e
determina apenas vazões médias.
Recomenda-se realizar no mínimo três repetições, e a vazão então será a
média das vazões encontradas.
A vazão, para o método volumétrico, pode ser calculada através da equação:
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vol
Q=
t

onde Q é a vazão em m³/s, vol é o volume do recipiente em m³, e t é o tempo


que o fluxo de água gastou para ocupar o recipiente.
Já para o método gravimétrico, é utilizada a equação:

P
Q=
ρ. t

onde Q é a vazão em m³/s, P é a massa do volume de água em kg, ρ é a massa


específica da água em kg/m³, e t é o tempo que o fluxo de água gastou para ocupar o
recipiente.

Demais métodos

Além dos métodos retratados acima também existem diversos outros que
podem calcular a vazão de um líquido, segue abaixo alguns métodos não serão
abordados na nossa disciplina:
 Método dos traçadores;
 Método por diluição;
 Método acústico (ultrassônico);
 Método de Winter-Kennedy;
 Método de Allen.
Resumo

Parabéns, você terminou de estudar todas as aulas da disciplina de


hidráulica. Agora, faça uma boa revisão e se prepare para a última
avaliação.

Mas antes, vamos recordar o que foi visto nesta aula:

 A importância do cálculo de vazão em projetos de usinas hidrelétricas;


 Os tipos de métodos para medir a vazão de um curso d’água.
 Ratificar a importância da medição de vazão em projetos para
construção de uma usina hidrelétrica;
 Apresentar os diversos métodos de medição, entre eles: Método da
calha Parshall, método dos flutuadores, método do magnetismo,
método dos orifícios, bocais e tubos curtos, método dos vertedores,
entre outros.
Referências Bibliográficas

Básica:
AVIX GEO AMBIENTAL. Medição de vazões. 2011. Não paginado. Disponível
em: <http://www.avix.com.br/mediccedilatildeo-de-vazotildees.html>. Acesso em: 28
set. 2015

AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS - ANA. Hidroweb. Disponível em:


<hidroweb.ana.gov.br>. Acesso em: 21.out.2015.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 13403: Medição


de vazão em efluentes líquidos e corpos receptores – Escoamento livre. Rio de
Janeiro, 1995.

EMBRAPA. Comunicado técnico nº455, de julho de 2007. Medição da vazão


em rios pelo método do flutuador. Concórdia, SC.

GRUPO DE TRABAJO SOBRE HIDROMECÁNICA, [1999], Montevidéu.


Aplicação de pacotes gráficos para o cálculo de vazões em canais abertos. Não
paginado. Itajubá: GEN, 1999. Disponível em: <
http://www.gen.unifei.edu.br/artigos/Artigo%20GEN%208.pdf>. Acesso em: 15 nov.
2016.

GUEDES, H. A. S. Colaboração de Honscha, M. L. Hidráulica. Curso de


Engenharia Civil. Universidade Federal de Pelotas. Rio Grande do Sul. Agosto 2015.

MELCHIOR, C. Comparativo de resultados de medição de vazão pelos


métodos: convencional e acústico. 2006. 72f. Trabalho de final de curso (Bacharelo
em Engenharia Civil) – União Dinâmica de Faculdades Cataratas, Foz do Iguaçu, 2006

PEREIRA, G. M.; MELLO, C. R. Aula prática de hidrometria. Curso promovido


pela Universidade Federal de Lavras. Lavras, MG. Disponível em: <
http://www.deg.ufla.br/site/_adm/upload/file/6_Aula%20pratica%206.pdf>. Acesso
em: 10 fev. 2016.

REIS, J. F.; SOUZA, W. L. C.; JORGE FILHO, S. L. O. Medição da vazão da


usina hidrelétrica de Roncador Trabalho de conclusão de curso de Engenaharia
Industrial Elétrica. Universidade Tecnológica Federal do Paraná- UTFPR. Curitiba-
PR, 2011.

SOUZA, Z.; SANTOS, A. H. M.; BORTONI, E.C. Centrais Hidrelétricas. Rio


de Janeiro: ELETROBRÁS, 1999.

VI SIMPÓSIO BRASILEIRO SOBRE PEQUENAS E MÉDIAS CENTRAIS


HIDRELÉTRICAS, 2008, Belo Horizonte. Análise e aplicação de perfiladores
acústicos Doppler para medição de vazão em pequenas centrais hidrelétricas.
Belo Horizonte: CERPCH, 2008. Disponível
em:<http://www.cerpch.unifei.edu.br/Adm/artigos/>. Acesso em: 31 mai. 2016.
Exercícios
AULA 16

1) Qual a importância do cálculo da vazão?

2) Dentre os métodos abordados nesta aula, na sua


opinião, qual se destaca pela simplicidade na execução? E qual
seria o mais trabalhoso?

3) Faça um resumo de 2 laudas comentando os métodos de determinação de


vazão abordados nesta aula.

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