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«A palavra mágica»

de Vergílio Ferreira
«A palavra mágica», de Virgílio Ferreira

Autor
Além de Ferreira
Vergílio Manhã submersa,
(1916-1996)
sobressaem
nasceu em romances
Gouveia,como
Melo,Vagão
tendo J,
frequentado
Aparição, Para
o seminário
sempre, entre
do Fundão
vários durante
outros. seis anos.

Dásua
A conta
obra
dessa
está experiência
traduzida emnavárias
obra línguas.
Manhã submersa.

Recebeu
Autor de géneros
o prémiocomo
Camões
conto,
emensaio,
1992. diário, destacou-se no
romance, sendo um dos mais reputados romancistas portugueses.
O Prémio Vergílio Ferreira, instituído após a sua morte, distingue
anualmente personalidades da área da literatura.
«A palavra mágica», de Virgílio Ferreira

Os elementos da narrativa: Ação

Momento 1 - A discórdia
Num domingo,
Ignorando o Silvestre
igualmente e o Ramos
o significado doda loja discordaram
vocábulo, Silvestre
relativamente
suspeitou que ao salário
seria dos trabalhadores
um insulto, «de enxada».
pelo que retorquiu usando
Apesar
o mesmo determo,
desconhecer
mas com o significado
alterações dade palavra,
pronúncia: e com a
intenção será
«Inoque de ofender
você.».Silvestre, Ramos
Dois outros chamou-lhe
clientes, que
«inócuo», insinuando
testemunharam que elesaíram
a conversa, era alguém
da lojasem grandes a
e espalharam
preocupações
palavra na vida, que
pela freguesia, andava «no omundo
adicionando-lhe por ver
significado de
andar os «preguiçoso».
«vadio», outros», «um pobre-diabo».
«A palavra mágica», de Virgílio Ferreira

Os elementos da narrativa: Ação

Momento 2 - A evolução de «inócuo»


Este foi o início de uma longa caminhada, durante a qual
o vocábulo foi incorporando, em outros contextos, novos
significados, sempre pejorativos: «bêbedo»,
«trampolineiro ou ladrão dos finos», «ladrão dos
grossos», «devasso e um assassino de caçadeira»,
«croia de porta aberta», «assassino de faca», «nome feio
para um homem», «parricida», «incendiário», «pederasta
«escroque», «souteneur», herege…
«A palavra mágica», de Virgílio Ferreira

Os elementos da narrativa: Ação

Momento 3 - O tribunal e o dicionário


Contudo,
O significado
Podemos oconsiderar
conhecimento
literal deque
«inócuo»
do sentido
estamosacabará
literal
perante pordaser
uma palavra
conhecido
ação não
aberta,
impedirá
quando
uma vezBernardino
que
que as pessoas
da Fábrica
o desenlace continuem
não processou
a usar,
é definitivo, opodendo
seu
e a reagir
guarda-livros
à
sempre
sua
por este
utilização
ocorrer ter usado
novas por outros,
a palavra
peripécias tendo
para
devidasemoà conta
injuriar.a Consultado
utilizaçãocarga ofensiva
do vocábulo o
entretanto
dicionário pelo
acumulada.
juiz, e ao
que, contrariamente perante
De
seufacto,
a perplexidade
a ação
sentido termina
denotativo, do se
com
queixoso,
o filho
do
«inócuo»
Gomes,
transformourevela-se
que
num conhece
«um pobre-diabo
insulto.o significadode deum «inócuo»,
termo» que
a apenas
tentar
significava
descobrir
«que «uma
não fazmaneira
dano, inofensivo».
eficaz de esborrachar o
colega» que o insultara com «o termo nefando».
«A palavra mágica», de Virgílio Ferreira

Os elementos da narrativa: Espaço

a. Físico
A ação do conto desenrola-se num meio pequeno, rural,
numa aldeia e numa vila não identificadas, com uma
localização geográfica indeterminada.
«A palavra mágica», de Virgílio Ferreira

Os elementos da narrativa: Espaço

b. Social
A
O linguagem
Mais a utilizada,
tarde,social
espaço ação um éregisto
dodecorre
conto na Vila,popular, atestaera
cujo colégio
predominantemente também o
um
contexto rural
frequentado rural.da
pelo narrativa:
Asfilho «uma
do Gomes,
marcas mais pega»,
onde
evidentesse«ensarilhou-se»,
encontrava
deste universoo
«um
são oshomem
tribunal, local de
nomes em enxada»,
dasque «codilhassem
Bernardino
personagens por
da Fábrica,
(Ramos parvo»,
o juiz
da loja, e «Quem
o
Perdigão
lhe
dosencomendou
advogado as orealidades
se encontram
Cabritos), sermão?», «E a dar-lhe»,
paraediscutir «a jorna»,
o processo
as profissões contra
referidas –o
«pegou-se
trabalho dode
guarda-livros. razões
campo, ascom o freguês»,
feiras de animais,«ter
osmais tentoona
arraiais,
língua»,
vendedorentre
«de outros
banha da exemplos.
cobra», o taberneiro, o
caldeireiro…
«A palavra mágica», de Virgílio Ferreira

Os elementos da narrativa: Tempo

A localização temporal da ação é indeterminada,


registando-se a presença de expressões temporais vagas
que ordenam cronologicamente os acontecimentos: «um
domingo» (l.13), «tempos depois» (l.52), «num dia de
arraial»(l.65), «num dia de feira» (l.74), «Longos meses»
(l.81) , «um dia» (l.130).
«A palavra mágica», de Virgílio Ferreira

Os elementos da narrativa: Narrador

a. Participação na ação
O narrador não participa na ação como personagem.
Narra os acontecimentos na terceira pessoa.

«Que me importa o que dizem? – clamou


o heroísmo do rapaz.»
«A palavra mágica», de Virgílio Ferreira

Os elementos da narrativa: Narrador

b. Posição
Estamos perante um narrador subjetivo, que faz juízos de
valor e dá opiniões.

«E como o vocabulário dos pobres era curto, alguém se


lembrou da palavra milagrosa do Ramos.» (ll.58-59)

«Desgraçadamente, porém, os receios do advogado eram


vãos. A vida, de facto, emendara o dicionário.» (ll.163-
164)
«A palavra mágica», de Virgílio Ferreira

Os elementos da narrativa: Personagens


De
A protagonista
todos os falantes,
do conto
apenas
é a palavra
Silvestre
«inócuo,
e o Ramos
«inoque»,
da loja
são
«noque»
caracterizados
e novamentede forma
«inócuo»,
maisadetalhada:
palavra mágica, cujo
percurso seguimos pelo uso que lhe é dado pelos falantes:
•os Silvestre
dois homens que proprietário
é viúvo, presenciaram deaumas
discussão
leiras,entre
generoso
Silvestre
e poucoe oculto.
Ramos da loja, a mulher do Paulino, os
•populares que insultam o sujeito de gabardina e o Rainha,
O Ramos da loja é conflituoso, irascível e igualmente
o taberneiro e o Perdigão dos Cabritos, o ajudante do
pouco culto.
caldeireiro e o freguês, o guarda-livros, o colega do filho
do Gomes.
«A palavra mágica», de Virgílio Ferreira

Modos de representação do discurso


A narração e o diálogo são os modos de representação do
discurso predominantes:
• a narração apresenta-nos o rápido percurso da
evolução semântica do vocábulo «inócuo», incidindo
nos momentos-chave e nos protagonistas desse
processo;
• o diálogo adquire particular relevância no conto uma
vez que é através desse modo de reprodução do
discurso que temos acesso ao uso da «palavra
mágica» pelos falantes.

«– Chamou-me noque.
– Absolutamente. Mas que queria ele dizer na sua?
– Pois queria dizer que eu era ladrão.»
Consolida
1. Preenche a coluna B, numerando as expressões de acordo com a cronologia da mudança de
sentido da palavra «inócuo».
COLUNA A COLUNA B
a. A divulgação do vocábulo na freguesia por duas testemunhas da discussão. 2
b. A discussão entre o advogado de Bernardino e o juiz. 11
c. A intervenção do ajudante do caldeireiro. 9
d. O insulto de um colega ao filho do Gomes. 12
e. A discussão entre o caldeireiro e o freguês. 8
f. A conversa do Bernardino da Fábrica com o juiz sobre o processo judicial movido ao guarda-livros. 10
g. A discordância entre Silvestre e o Ramos da loja. 1
h. O insulto da mulher do Paulino ao marido. 3
i. A roubalheira do sujeito de gabardine. 4
j. O tiro de caçadeira do Rainha ao marido da amante. 5
k. A zanga entre o Perdigão dos Cabritos e o taberneiro. 6
l. O pedido de Ramos ao caldeireiro para que abrisse a palavra excomungada. 7

SOLUÇÃO
Consolida

2. Classifica como verdadeiras (V) ou falsas (F) as afirmações seguintes. Corrige as falsas.

a. A frase «“Inócuo” dera a volta à aldeia, secara todo o fel das discórdias, escoara todo o ódio da
população.» significa que a palavra ganhou vida própria independentemente de quem a usava.
Falsa. A frase significa que a palavra «inócuo» permitiu aos habitantes da aldeia expressar todos os seus conflitos e ódios.

b. As metáforas «moca grossa de ferro, seteada de puas» e «arma terrível» sugerem o impacto
destrutivo da palavra «inócuo».
Verdadeira.

c. Ao recorrer ao dicionário, o juiz explicita o valor conotativo da palavra «inócuo».


Falsa. O juiz explicita o sentido denotativo da palavra «inócuo».

d. A frase «Não havia que emendar-se a vida pelo dicionário. Havia que forçar-se o dicionário a meter a
vida na pele.» significa que o uso dado às palavras pode conduzir à sua mudança de significado e que
os dicionários devem registar essa transformação.
Verdadeira.

e. A ação do conto pode ser considerada fechada.


Falsa. De facto, apesar de conhecer o verdadeiro significado de «inócuo», o filho do Gomes sente-se insultado pelo
colega, o que sugere que a «viagem» da palavra poderá continuar.
SOLUÇÃO

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