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Shaw, Valerie. The Short Story: A Critical Introduction London: Longman, 1983.
Ele deixa uma margem tão ampla para o maravilhoso que ele escapa do perigo de ser
criado pelos casos pelos quais ele não permitiu: quando ele concede Sr. Hyde, ele
concede tudo - é improvável que tenha maior personagem, porque ele envolve os mais
belos sentimentos...
A obra de Stevenson é uma tal mistura do valoroso e do medíocre que ela tenta
desconsiderar as estórias soltas e escritas em excesso em favor do punhado de
narrativas que torna plausível argumentar que ele é um dos criadores do conto
moderno. Uma questão para Stevenson como um hábil artífice pode certamente ser
feita se a ênfase for dada aos seus diversos usos da voz narrativa: sua habilidade de
moldar seu material de acordo com o ponto de vista de um forasteiro solitário e
isolado fornece base para a consequente vantagem de James e afirmando que a
questão da forma esteve sempre viva em Stevenson. Uma questão viva
indubitavelmente foi que Stevenson pegou o princípio da unidade do efeito com uma
firmeza que o torna o herdeiro direto de Edgar Allan Poe. Mas não há nada secamente
teórico com a maneira que Stevenson explora tópicos estéticos: quando ele proclama
a necessidade de alcançar o inteiro orgânico na ficção curta, é com todo verve de um
autor praticante que está ansioso para alcançar o público. Como o seguinte trecho de
uma carta para Colvin mostra, Stevenson tem firmeza de como sua arte funciona
melhor:
Fazer um outro fim para isto? Oh, sim, mas não é assim que escrevo; os efeitos
que devem se seguir; é disso que uma estória consiste. Fazer um outro fim, é fazer o
começo todo errado. O desfecho de uma estória longa não é nada; é apenas um
‘fechamento completo’, do qual você pode se aproximar e acompanhar como quiser –
é uma coda, não um membro essencial do ritmo; mas o corpo e o fim de um conto é o
osso do osso e o sangue do sangue do começo.
Assim o ganho pode ser uma sugestividade que Stevenson claramente valoriza e
importa na mais moralmente ambígua de suas próprias estórias, mas a perda é de algo
agradável – o que ele chama de ‘elemento incrível, o ponto da audácia com a qual o
fabulista estava habituado zombar de seus leitores’. Contra esta prática, é possível
encontrar nos contos de Stevenson um número de tentativas para estabelecer seu
senso moderno de que a moralidade não é uma questão de etiquetas elegantes, e para
fazer isto sem renunciar a ‘impropriedade engraçada’, ilogismo fantasioso e lúdico – se
não inteiramente ridicularizante – a relação entre o autor e o leitor, tudo que ele
valorizou na fábula antiquada. Um conto menor mas enormemente influente, ‘ A
Lodging for the Night’ (1882) ilustra claramente as técnicas nas quais Stevenson
conseguiu evitar ‘o nexo lógico entre a moral expressa e os mecanismos empregados
para expressá-la’, oferecendo ao invés uma narrativa que combina o grotesco
semelhante a Poe e a seletividade sagaz, ou ‘o exagero negativo’. Insatisfatório em
diversos quesitos, ‘A Lodging for the Night’ porém apresenta características que indica
uma direção que o conto devia tomar, e é significativo que quando vinte e quatro
autores foram questionados pelo New York Times em 1914, ‘Qual é o melhor conto
em inglês?’, o conto de Stevenson, junto com o de Bret Harte ‘Outcasts of Poker Flat’
(1870), deveria ter saído favoritos. Obviamente, sentiu-se que Stevenson tinha
superado as primeiras conquistas de Poe e Hawthorne em emancipar o conto do
ensaio.
Mas embora 1877 possa ser tomada como a data depois da qual a ficção começou a
substituir o ensaio na obra de Stevenson, sua percepção de que o poder do conto pode
depender de resistir ao invés de cultivar a bela escrita emergira alguns anos antes. Há
uma carta fascinante de janeiro de 1874 na qual Stevenson conta a Colvin a cerca dos
problemas que ele está tendo com uma estória que ele nunca terminou. ‘The Curate of
Anstruther’s Bottle’. Obviamente Stevenson está insatisfeito com os modelos literários
herdados; ele está se incomodando a respeito da restritividade de uma convenção que
o atinge tão possivelmente ‘bem no estilo daquelas curiosidades decadentes, poemas
sem a letra E, poemas iniciando com o alfabeto e coisas do tipo’. Stevenson mostra o
quão ciente ele está dos perigos da pura ingenuidade no conto, propondo como freio
necessário nas tendências decorativas e de auto-exibição a virtude da credibilidade. A
necessidade de convencer o leitor, independente da convenção, torna apropriado para
o escritor ‘confiar no interesse essencial de uma situação e não paparicar e validar
fracos tramas com cenários e escritas bons e incidentais, e exibições pirotécnicas de
esperteza e sensibilidade impróprios, para reforçar sua ênfase na primazia do sujeito
em narração, Stevenson se recorda de uma conversa com seu primo Bob a cerca do
que um artista poderia fazer com o quadrilátero na Universidade de Edinburgh. Vale a
pena comentar sobre o episódio porque ele tão forçosamente demonstra três grandes
princípios que são evidentes nas mais bem sucedidas e mais inovadoras estratégias de
narrativa de Stevenson.
Que as portas e escadarias diferentes devem ser trazidas diante do leitor não
pela mera recapitulação, mas pelo uso delas, pelo declínio de pessoas diferentes uma
após a outra por cada uma delas. E que o grande traço da sombra e da luz de uma
luminária no canto deva também ser introduzida só para que elas possibilitassem às
pessoas na estória ver uma a outra ou preveni-las. E finalmente que o que não pudesse
ser assim trabalhado dentro da evolução da ação não tinha direito de ser celebrado.
Afinal de contas, é uma estória que você esta contando; não um lugar que você tem
que descrever; e tudo que não se anexe à estória está fora de lugar.
Como seu antecessor americano Poe, Stevenson viu como era essencial fazer cada
detalhe contar no conto, onde o momento da narrativa tinha que ser mantido se o
auto fosse se beneficiar completamente de ter atenção ininterrupta do leitor durante
o simples assento no qual uma estória poderia ser lida.
Stevenson estava obviamente ciente das possibilidades especiais, assim como
das limitações do conto, mas seria tolo afirmar que na prática suas estórias sempre
alcançaram unidade, a qual poderia ser chamada de ‘orgânica’. ‘The Merry Men’ por
exemplo, que ele anunciou para Henley em 1881 como ‘minha primeira inovação
numa estória’ e que ele pretendia ter o efeito da música (‘uma fantástica sonata sobre
o mar e os naufrágios’), foi concebida episodicamente, em termos de capítulos, ao
invés de tematicamente. Provavelmente o bastante, quando estiver terminada eu
descartarei todos capítulos; pois a coisa é escrita diretamente’, diz ele a Henley,
admitindo a um procedimento que sugere uma certa quantidade de tensão entre o
momento de escrever a estória ‘direta’ e o tradicional hábito vitoriano de dividir a
ficção em seções ou capítulos.
Era tarde em novembro de 1456. A neve caía sobre Paris com persistência
rigorosa e severa; às vezes havia uma calmaria, e floco após floco caía do ar da noite
negra, silencioso, tortuoso, interminável. Para os pobres, olhando para cima com olhos
úmidos, parecia uma surpresa de onde ela vem.
O que torna ‘A Lodging for the Night’ memorável não é as ideias levantadas
nela pelo gosto de Stevenson pelo análise moral, mas ao invés diversos elementos que
o mostram experimentando as técnicas que o intrigou quando debateu com Bob como
o quadrilátero da Universidade poderia ser tratado com meios artísticos diferentes.
Estes elementos incluem o uso da luz e perspectiva, como quando ele faz algo sinistro
e grotesco através do personagem menor Dom Nicolas, o monge de Picardy ‘ com suas
saias apegadas as suas pernas gordas descobertas pelo calor confortável. Sua sombra
dilatada cortou o quarto pela metade; e a luz do fogo só escapou de um lado de sua
ampla pessoa, e num pequeno espaço entre seus pés espalhados’. Então vem uma
descrição razoavelmente estereotipada da face ébria do monge, antes de Stevenson
retornar ao efeito misterioso da figura: ‘Então ele esta indeciso. Resmungando e
cortou o quarto pela metade com a sombra de sua estrutura corpulenta.
Discretamente, Stevenson preparou para o crime violento com a qual esta cena
culmina.
Ele não poderia consentir em ser enfadonho, e assim se tornou. Ele não deixaria nada
não desenvolvido, e assim sumiu de vista em meio a multidão de choro e detalhes
incongruentes. Há só uma arte – omitir! Ah se eu soubesse como omitir, eu não pediria
nenhum outro saber. Um homem que soubesse omitir transformaria um jornal diário
numa Ilíada.
Aqui, com paixão considerável, Stevenson afirma a habilidade paradoxal de prosa bem
comprimida e estilizada para alcançar distância épica em seu impacto. Nos próprios
contos de Stevenson, personagem, pensamento e emoção são frequentemente
incorporados num único ato, atitude ou gesto, embora seja frequentemente com uma
teatralidade que lembra o melodrama tão forte quanto o épico. Particularmente onde
a situação narrativa é extravagantemente romântica ou até grotesca, Stevenson pode
fazer belíssimo uso dos detalhes mais prosaicos e triviais.
Em ‘A Lodging for the Night’, por exemplo, ele transforma o fato inócuo que
Thevenin, um dos associados de Villon, tem cabelo ruivo, numa imagem assombrosa
da força obsessiva. A própria informação é dada primeiro pelo autor tão brandamente
que dificilmente registra: ‘sua cabeça careca brilhou numa guirlanda de cachos ruivos.
Mas quando esta figura angélica é, um pouco depois no conto, um cadáver preso
numa cadeira por seu assassino, Stevenson usa o detalhe do cabelo ruivo para
estabelecer diretamente o ilogismo e adequação completamente humana da reação
de Villon ao espetáculo macabro. ‘Maldita cabeça gorda!’ ele desobstruiu. ‘Gruda na
minha garganta como catarro. Que direito tem um homem de ter cabelo ruivo quando
ele está morto? Requer ousadia de um escritor flertar com o absurdo num momento
dramático crucial como Stevenson faz aqui. A explosão de Villon tem aquela mesma
simplicidade que se desvia rumo ao cômico que Stevenson salientou em seu ensaio
sobre ‘The Pilgrim’s Progress’, mas o de Bunyan não é a única influência discernível
aqui. Stevenson foi, sem dúvida, mais incentivado neste tipo de extravagância por sua
leitura de Poe, cujas obras ele analisou em The Academy (2 de Jan. de 1875). A
teatralidade de Poe, sua disposição rumo às atmosferas portentosas e pressagios de
melancolia, sua tendência de inflar sua prosa com alusões aprendidas e cadências
decorativas, mas acima de tudo sua insistência em fatos precisos: todos esses traços
têm equivalentes nos contos de Stevenson. Em sua análise, Stevenson é devidamente
crítico do aspecto ‘ de falcatrua, descaramento e audácia’ daqueles contos de Poe que
nos ‘engana’ no terror, e ele rejeita os contos posteriores como repulsivamente
inúteis, reservando sua maior admiração para a maneira que Poe consegue,
especialmente nos seus primeiros contos, fazer detalhes triviais produzirem sons
harmônicos que prendem a imaginação do leitor: ‘Ele tem o verdadeiro instinto do
narrador. Ele sabe que os pequenos detalhes que fazem os contos ou os destroem. Ele
sabe coo aumentar o significado de qualquer situação e dar cor e vida a pormenores
aparentemente irrelevantes’. O exemplo que Stevenson dá para ilustrar este ponto é
soberbamente pertinente:
Isto, Stevenson argumenta astutamente, é um caso de um autor que obtém valor por
suas próprias fantasias fazendo a imaginação do leitor adotar o detalhe e aceitá-lo
como verdade no sentido artístico.
A questão do que tornou a imaginação de Poe ‘sincera’ num conto, mas ‘fustão’
em outro e a questão mais ampla do que faz um conto verdadeiro ou falso, continuou
a preocupar Stevenson. Quando seu volume de contos The Merry Men and Other Tales
and Fables apareceu em 1887, ele escreveu para Lady Taylor (para quem a coleção foi
dedicada):
O problema com Ollala é que de alguma forma soa falso... Mas o problema
estranho é: o que torna um conto verdadeiro? Markheim é verdadeiro; Ollala, falso; e
eu não sei por que nem senti enquanto trabalhava neles; de fato eu tive mais
inspiração com Ollala, como o estilo mostra... eu admiro o estilo dela eu mesmo, mais
do que talvez seja bom para mim; está tão solidamente escrito. E isso traz de volta
(quase com a voz de desespero) minha irrespondível pergunta: por que é falso?
Stevenson está na verdade sugerindo uma resposta para sua própria pergunta
quando ele faz do estilo a medida da ’inspiração’ que ele sentiu ao trabalhar com
Ollala: os resultados que aqui a inspiração vieram a significar quase o oposto –
autoconsciência em seu velho modo beletrista. Ambos os termos da pergunta de
Stevenson - o que faz um conto verdadeiro? – e sua contínua perplexidade com a
resposta para isto, enfatiza a natureza instintiva de sua imaginação e ao ponto que
consciência demais sobre a técnica e o estilo poderiam prejudicar sua escrita. Instinto
foi algo para ser guardado, justificando como fez a crença de Stevenson que a tarefa
do escritor era restaurar as pessoas para uma esfera romântica: ‘o grande escritor
criativo’, declara ele em “A Gossip´on Romance’, ‘nos mostra a percepção e a apoteose
dos devaneios dos homens comuns. Seus contos podem ser nutridos com realidades
da vida, mas sua verdadeira marca é satisfazer o anseios desconhecidos do leitor e
obedecer as leis ideais do devaneio. Só por esta razão, teorizar era obrigado a ser
contrário a atividade de Stevenson como escritor de contos e sua contribuição para a
evolução do conto tinha mais em seu molde reminiscente do conto do que em
qualquer avanço rumo a ‘modernidade’. Foi escrevendo contos o que lembrou a
atemporalidade da fábula e manteve viva a associação entre fábula e peça, ao invés de
forjar qualquer convenção inteiramente nova que Stevenson renasceu o conto no fim
do século XIX. Há em sua obra um reconhecimento da parte desempenhada pela
recorrência e familiaridade do entretenimento da literatura popular e da importância
do que Katherine Mansfield ia descrever em 1919 como a sensação de parecer um
meio sabido e mesmo assim não saber o que está por vir a medida que um conto
procede: ‘ ter ouvido tudo isto antes e e mesmo assim nosso espanto é o máximo, e
quando acaba, ele se torna nosso.
Em sua própria arte, incline sua cabeça sobre a técnica. Pense na técnica
quando levantar e quando for dormir. Esqueça os propósitos no meio tempo; ame os
processo técnicos; exulte os sucessos técnicos; veja o mundo por inteiro mediante
óculos técnicos, vê-lo por inteiro nos termos do que você pode fazer. Então quando
você tiver qualquer coisa a dizer, a linguagem estará apta e abundante... Arte não é
como teologia; nada é forçado. Você não tem que representar o mundo. Você tem que
represnetar só o que você tem que representar com prazer e efeito e o único caminho
de descobrir o que é isso é pelo exercício técnico.
Quando eu sofro da mente, os contos são meu refúgio: eu os tomo como ópio; e eu
considero aquele que os escreve como o médico da mente. E francamente... não é
Shakespeare que tomamos quando estamos mal; nem, certamente, George Eliot –
não, nem mesmo Balzac. É Charles Reade ou velho Dumas, ou the Arabian Nights, ou o
melhor de Walter Scott; são os contos que queremos, não a alta função poética que
representa o mundo; somos então feito o Asiático com seu improvisatore ou o de
meia-idade com seu trouvère. Queremos incidente, interesse, ação: que se dane a
filosofia. Quando estivermos bem novamente e estivermos com a mente calma,
examinaremos sua obra importante; mas o que queremos agora é uma droga.
Visto que a época de Stevenson se tornou inaceitável recorrer a Charles Reade, Dumas
pére, e a the Arabian Nights ao adiar Shakespeare, George Eliot e Balzac ‘até estarmos
bem novamente e estivermos com a mente calma’, como recomendou Stevenson. O
Modernismo não deu sanção literária para ninguém ter mente calma jamais. E os
conto do século XX surge precisamente fora do sentido de que a vida só pode ser
apresentada em fragmentos e episódios subjetivos comprimidos que estimulam ao
invés de drogar a mente. Atualmente, são os sub-genêros como o conto de detetive ou
o suspense ou em meios não-literários como filme e televisão que a narrativa de linha
forte preferida por Stevenson deve ser encontrada e isto em si indica as limitações
assim como as atrações de suas ideias sobre ficção. O mesmo ponto foi feito de um
ângulo diferente por V.S. Pritchett, que comentou numa entrevista que a televisão
‘parece um meio ideal para o conto, mesmo que a TV dependa muito do enredo,
muitos contos bons não são considerados adequados’. Certamente, nos meios visuais
populares os contos de Stevenson continuaram a fluir, um fenômeno que pode de fato
diminuir, ao invés de aumentar sua reputação como artista. S.S. Prawer argumentou
que Dr Jekyll and Mr Hyde tem sido filmado com tanta frequência e interessantemente
porque o cinema e mais em casa com obras de arte menores ‘tiradas do
subdesenvolvimento da publicação em massa’ e então ‘transformadas em obras de
arte’ com tratamento fílmico.
De jeito nenhum vale a pena ler todos os contos que emergem ‘do
subdesenvolvimento da publicação em massa’, que em qualquer caso não é um
enredo igualmente tenebroso em todas as fazes da história literária; a maioria dos
escritores considerados neste estudo almejam agradar os leitores que são capazes de
apreciar Shakespeare assim como Dumas père – e de distinguir a relativa grandeza
deles. Mas embora uma visão do conto como anódino puro é claramente inadequado,
permanece verdadeiro que o contista que segue, como muitos dos melhores seguem,
a máxima de Stevenson que a tarefa do artista ‘não é simplesmente convencer, mas
encantar’ pode estar tacitamente renunciando ‘a alta função poética que representa o
mundo’ em favor das mais modestas, embora imensamente valorosas, aspirações.