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sobre o 25 de abril)
em cada mão.
Era Abril.
Havia um vento
Era Abril
que descia aos tropeções
Abril
Era Abril
e o ar
a saber a framboesas.
Abril
um mês de flores
um mês.
de parte nenhuma
em Abril
em busca da vertical.
Ardiam as palavras
Nesse mês
e foram vistos
dicionários a voar
germinando longamente
Vi navios a partir
Eu vi-te crucificada
só o silêncio persiste.
em tempo de servidão
Diante do futuro!
Português?
Um brumoso caminho
De inédita aventura,
Da gávea da loucura?
Também desiludido,
Impaciente,
Alado
E condenado
A pedir-te, humildemente,
Nem me ouvia.
De emoção.
A fé que ressumava
Da oração.
Saborear, enfim,
de personagens de assombro
Dão-nos a capa do evangelho
e um pacote de tabaco
um avião e um violino
e veleiros lá ao largo
e a nossa liberdade
da esperança e do afeto
Interior de um povo
Como arquitetura
Sua habitação
SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN, 27 de Abril de 1974. In O Nome das Coisas, Lisboa,
Moraes Editores, 1977
SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN, 25 de Abril de 1974. In O Nome das Coisas, Lisboa,
Moraes Editores, 1977
Relatórios da fome
O caminho da injustiça
A linguagem do terror
A bomba de Hiroshima
Reduziu a cinzas
D'África e Vietname
Sobe a lamentação
O nosso tempo é
Pecado organizado
Deu-nos Abril
o gesto e a palavra
fala de nós
Mulheres
dizendo: igualdade
E assim continuamos
de mãos dadas
O povo somos:
Companheira da madrugada
Vejam bem
Quem lá vem
E se houver
e uma estátua
Anda alguém
Vejam bem
E se houver
ninguém vai