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Adamastor
Canto V – estâncias 39-60
A viagem da esquadra é
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Português 9º ano – Os Lusíadas: Adamastor
Voz horrenda e grossa que faz Que pareceu sair do mar profundo.
arrepiar os cabelos e o corpo Arrepiam-se as carnes e o cabelo,
dos navegantes. A mi e a todos, só de ouvi-lo e vê-lo!
O gigante reconhece o
Desenvolvimento mérito dos portugueses.
41 E disse: “Ó gente ousada, mais que quantas
No mundo cometeram grandes cousas, Chama os portugueses de ousados
Discurso do Tu, que por guerras cruas, tais e tantas, e afirma que nunca repousam e
gigante E por trabalhos vãos nunca repousas, que tem por meta a glória
(1ª parte) Pois os vedados términos quebrantas particular, pois chegaram aos
E navegar nos longos mares ousas, confins do mundo.
Salienta que aquelas águas
Que eu tanto tempo há já que guardo e tenho,
nunca tinham sido navegadas e
Nunca arados d’estranho ou próprio lenho: Apóstrofe
que ele é o guardião das
mesmas.
42 Pois vens ver os segredos escondidos
Os portugueses vão descobrir
Como os portugueses descobriram Da natureza e do único elemento,
e ver o que nenhum ser
os segredos do mar, o gigante A nenhum grande humano concedidos
humano viu antes.
ordena-lhes que estes terão de De nobre ou de imortal merecimento, O facto de terem sido
ouvir os sofrimentos futuros, Ouve os danos de mi que apercebidos atrevidos e destemidos fará
consequências do atrevimento de Estão a teu sobejo atrevimento, com que consigam conquistar
cruzar os mares. Por todo largo mar e pola terra muitas terras, mas também
Que inda hás de sojugar com dura guerra. lhes trará muito sofrimento.
Premonições
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desprevenidos. Fizer por estas ondas insofridas, de Pedro Álvares Cabral, que
Eu farei de improviso tal castigo será seguinte a atravessar
Antes, em vossas naus verei, cada ano, Por isso, outras embarcações
Afirmações ameaçadoras,
portuguesas serão destruídas por
afirmando que o mal Se é verdade o que meu juízo alcança,
ele.
menor será a morte. Naufrágios, perdições de toda a sorte,
Que o menor mal de todos seja a morte!
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Perífrase:
52 Amores da alta esposa de Peleu Refere-se a Tétis.
Me fizeram tomar tamanha empresa;
Todas as Deusas desprezei do Céu,
Recorda o dia em que a viu
Só por amor das águas a princesa;
Adamastor cometeu a loucura nua na praia e se apaixonou
Um dia a vi, coas filhas de Nereu,
de lutar contra Neptuno por por ela.
amor a Tétis, por quem Sair nua na praia e logo presa
Ele continua apaixonada por
desprezou todas as Deusas. A vontade senti de tal maneira,
ela.
Que inda não sinto cousa que mais queira.
Uso do lírico Encheram-me, com grandes abondanças, cego de amor, não percebeu
que as promessas que Dóris e
O peito de desejos e esperanças.
Tétis lhe faziam eram
mentira.
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Uso da
56 Oh! Que não sei de nojo como o conte! Adamastor expressa a mágoa
interjeição.
Que, crendo ter nos braços quem amava, que sentiu, porque, achando
que beijava e abraçava Tétis,
Abraçando me achei cum duro monte
Ficou tão transtornado, imóvel e encontrou-se abraçado a um
De áspero manto e de espessura brava.
sem palavras que se fundiu com o duro rochedo.
próprio rochedo e ficando para Estando cum penedo fronte a fronte,
sempre aprisionado. Que eu polo rosto angélico apertava,
Não fiquei homem, mas mudo e quedo
Sentiu-se como uma rocha diante E, junto dum penedo, outro penedo!
doutra rocha. Invoca a Tétis para lhe perguntar
porque é que manteve a ilusão de
57 Ó Ninfa, a mais fermosa do Oceano,
que o ia abraçar, bastava disser
Já que minha presença não te agrada,
Invocação da que não o amava.
Que te custava ter-me neste engano,
Tétis.
Ou fosse monte, nuvem, sonho ou nada?
Daqui me parto, irado e quase insano Este parte magoado, para
Da mágoa e da desonra ali passada, outro lugar que não o
A buscar outro mundo, onde não visse ridicularizasse.
Quem de meu pranto e de meu mal se risse.
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Estrutura
Inspirado em Homero e Ovídio, o episódio do Adamastor é o mais rico e
complexo do poema. É de natureza simbólica, mitológica e lírica.
No plano lírico:
É um dos pontos altos do poema, retomando dois temas constantes da lírica
camoniana – o do amor impossível e o do amante rejeitado.
No plano mitológico:
Adamastor, um dos gigantes filhos da Terra (titã), apaixona-se pela nereida
Tétis. Não correspondido, tenta tomá-la à força, provocando a cólera de
Júpiter. Este transforma-o no Cabo das Tormentas, personificado numa
figura monstruosa, lançada nos confins do Atlântico.
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Resumo do enredo
Introdução (37-38)
Preparação do ambiente para o aparecimento do gigante:
Depois de cinco dias claros, com ventos calmos, com os marinheiros
“descuidados”, surge uma nuvem negra “tão temerosa e carregada” que
põe “nos corações um grande medo” e leva Vasco da Gama a interpelar o
próprio Deus todo-poderoso.
Epílogo (60)
Súbito desaparecimento do Gigante, agora choroso pela recordação do seu triste
passado, levando consigo a nuvem negra e o “sonoro bramido” do mar com que
aparecera. Pedido de Gama a Deus para que remova todas as premonições
proferidas pelo gigante.
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4.1. Em que medida este discurso pode ser considerado uma profecia?
A primeira parte do discurso do Adamastor é essencialmente ameaçador para com
a audácia dos portugueses. Como forma de vingança, este vai numerando todas
consequências que este ato trará, sejam positivos ou negativos. Assim, ao longo
do discurso utiliza verbos conjugados no futuro, mostrando que tudo o que está a
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proclamar são premonições do que irá acontecer no futuro aos portugueses que
ali voltarem a passar. Como exemplos dá o naufrágio de Bartolomeu Dias e a
desgraça que cairá sobe a família Sepúlveda.
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