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Cursos Profissionais de Técnico de Apoio à Gestão Desportiva e de Técnico de Cozinha/Pastelaria

PROVA DE RECUPERAÇÃO DO MÓDULO DE PORTUGUÊS


Módulo 8 – Mensagem de Fernando Pessoa e Poetas contemporâneos

Duração: 100 minutos Data: 19/02/2020 Prof.ª

GRUPO I

Leia atentamente os seguintes poemas e responda, de forma completa e bem estruturada, às questões que se seguem.

PARTE A
HORIZONTE
Ó mar anterior a nós, teus medos
Tinham coral e praias e arvoredos.
Desvendadas a noite e a cerração,
As tormentas passadas e o mistério,
5 Abria em flor o Longe, e o Sul sidério
Splendia sobre as naus da iniciação.

Linha severa da longínqua costa –


Quando a nau se aproxima ergue-se a encosta
Em árvores onde o Longe nada tinha;
10 Mais perto, abre-se a terra em sons e cores:
E, no desembarcar, há aves, flores,
Onde era só, de longe a abstrata linha.

O sonho é ver as formas invisíveis


Da distância imprecisa, e, com sensíveis
15 Movimentos da esprança e da vontade,
Buscar na linha fria do horizonte
A árvore, a praia, a flor, a ave, a fonte –
Os beijos merecidos da Verdade.

Fernando Pessoa, Mensagem

 “Sul sidério” (verso 5) - o sul celeste, o sul onde se situavam as serras mais baixas, o sul que “esplendia” sobre as “naus da
iniciação”, sobre as naus portuguesas que, impulsionadas pelos ventos do sonho, da esperança e da vontade, abriram novos
caminhos e deram início a um novo tempo, descobrindo a maior parte das terras desconhecidas.

1. Explicite o sentido real e figurado do título do poema. (8 pontos)

2. Caracterize o tempo e o espaço invocados. (8 pontos)

3. Defina, por palavras suas, o “sonho” invocado no verso 13. (8 pontos)

4. Apresente a sua opinião relativamente ao modo como o “sonho” é definido na última estrofe. (8 pontos)

5. Identifique a enumeração presente no final do poema, referindo-se ao seu valor expressivo. (8 pontos)
1
PARTE B
CAMÕES
Nem tenho versos, cedro desmedido
Da pequena floresta portuguesa!
Nem tenho versos, de tão comovido,
Que fico a olhar de longe tal grandeza.

5 Quem te pode cantar, depois do Canto


Que deste à pátria, que to não merece?
O sol da inspiração que acendo e que levanto
Chega aos teus pés e como que arrefece.

Chamar-te génio é justo, mas é pouco.


10 Chamar-te herói, é dar-te um só poder.
Poeta dum império que era louco,
Foste louco a cantar e louco a combater.

Sirva, pois, de poema este respeito


Que te devo e professo,
15 Única nau do sonho insatisfeito
Que não teve regresso!

Miguel Torga, “Poemas Ibéricos”, Antologia poética.

6. Refira três traços caracterizadores de Camões, na opinião de Miguel Torga. (6 pontos)


7. Explique o sentido dos dois primeiros versos da segunda estrofe. (6 pontos)
8. Explicite a mensagem do poema, expressa na última estrofe. (6 pontos)
9. Comente a expressividade das exclamações e da interrogação retórica. (6 pontos)
10. Analise o poema quanto à versificação, ao esquema rimático e à rima. (6 pontos)

GRUPO II
Leia com atenção o texto que se segue e responda aos itens de escolha múltipla.

Voando sobre a Costa dos Esqueletos


Estou a bordo de um pequeno Cessna de quatro lugares que geme e soluça algumas dezenas de metros acima do deserto do
Namibe, que nos dizem ser o mais antigo deserto do mundo, qualquer coisa como 80 milhões de anos para chegar ao dia de hoje
comigo aqui. É um marco histórico na minha vida, cruzar-me com tantos milhões de anos e tanto espaço vazio, mas o deserto nem
repara – o que é um dia, um voo, o que é um homem no meio de tanto tempo e tanto espaço? O deserto ocupa a faixa atlântica da
5 África Austral e o pedacinho encostado ao mar recebe o nome macabro de “Costa dos Esqueletos”. Em inglês soa pior ainda,
“Skeleton Coast”. Nome lúgubre e tenebroso para recordar a facilidade de morte em terra e de naufrágio no mar. O piloto aponta de
vez em quando algo lá em baixo: vemos carcaças de navios, ossos de baleias e focas, aldeamentos mineiros abandonados.
Estamos a voar há duas horas e o deserto do Namibe parece um catálogo de tudo o que existe anti-humano. Dunas do tamanho
da serra de Sintra, desfiladeiros que fariam corar de vergonha o canhão da Nazaré, um punhado de formas de vida tão específicas e
10 tão adaptadas a 80 milhões de anos de areia seca que fazem parte do Namibe as Galápagos do deserto – Darwin não precisava de
ter ido tão longe para perceber a evolução das espécies. E nós, banais exemplares da nossa espécie, se agora fôssemos forçados a
aterrar? Se uma emergência nos colocasse no epicentro desta ausência de possibilidades de adaptação da espécie ao que quer que
seja?
A ideia entretém a minha concentração durante alguns minutos. Eu, perdido no meio de 2000 km de comprimento por 200 km de
15 largura de coisa nenhuma. Temperaturas acima de 40 graus de dia, perto do zero à noite. Precipitação anual de 5 milímetros. Não
chega sequer para humedecer o olho de um bosquímano. 1 A sombra existe durante cerca de meia hora cada madrugada e cada final
de tarde, no sopé de dunas com 300 metros de altura e 30 quilómetros de comprimento. No resto do dia, o sol cai a pique nesta terra
maldita. Nem mesmo quando um denso banco de nevoeiro sai das águas geladas da corrente de Benguela e penetra insidiosamente
umas dezenas de quilómetros pelo continente adentro seguimos com a sensação de estar protegidos do sol. Mudo a rota dos meus
20 pensamentos, olho de novo para baixo.
E se víssemos brilhar algo na areia, tentávamos aterrar? Seria certamente um diamante, nada mais existe aqui, apenas areia e
diamantes. Diz-se que de noite ao luar caminhando na Costa dos Esqueletos se pode avistar as pedras apenas pelo reflexo. Seja
como for, a zona dos diamantes está vedada, uma enorme porção de deserto do tamanho de um país só acessível aos funcionários
da De Beers. Qualquer caminhante não autorizado será abatido. Interrogatórios, fazem-se depois.

Gonçalo Cadilhe, Voando sobre a Costa dos Esqueletos, Visão


2
1 Povo mais antigo da África Austral.
1. O voo sobre o deserto do Namibe é um marco histórico para o autor porque (6 pontos)

(A) sente que a sua presença naquele local não é ignorada.


(B) contempla um espaço que resulta de milhões de anos de formação.
(C) admite que o espaço observado tem uma enorme importância geográfica.
(D) sabe que a viagem no pequeno Cessna envolve riscos enormes.

2. A designação “Costa dos Esqueletos” adquire um (6 pontos)

(A) sentido idêntico ao que tem em inglês.


(B) significado mais macabro em inglês.
(C) valor pejorativo, quando traduzida para francês.
(D) valor denotativo, quando traduzida em inglês.

3. O deserto de Namibe é (6 pontos)

(A) apresentado como uma das regiões que mais evoluíram.


(B) extremamente humanizado e de fazer inveja a outros locais.
(C) ilustrativo da pureza original e da ausência da Humanidade.
(D) visto como um local de fortes contrastes, graças à ação do homem.

4. O enunciado “Estamos a voar há duas horas” (l.8) apresenta a ação (6 pontos)

(A) como concluída e posterior à visita.


(B) no seu decurso, associada à viagem.
(C) como repetida durante várias viagens.
(D) como anterior à situação narrada.

5. O termo sublinhado em “se agora fôssemos forçados a aterrar?” (ll 11-12) é um deítico (6 pontos)

(A) temporal.
(B) espacial.
(C) pessoal.
(D) temporal e espacial.

GRUPO III
(100 pontos)

Elabore um texto de apreciação crítica bem estruturado, com um mínimo de 180 e um máximo de 240 palavras, sobre um filme que
tenha visionado e que o tenha marcado.

FIM

Bom trabalho!

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