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Brasil, Eliane Potiguara

Que faço com a minha cara de índia?


E meus cabelos
E minhas rugas
E minha história
E meus segredos?

Que faço com a minha cara de índia?


E meus espíritos
E minha força
E meu tupã
E meus círculos?

Que faço com a minha cara de índia?


E meu Toré
E meu sagrado
E meus “cabocos”
E minha Terra?

Que faço com a minha cara de índia?


E meu sangue
E minha consciência
E minha luta
E nossos filhos?

Brasil, o que faço com a minha cara de índia?


Não sou violência
Ou estupro
Eu sou história
Eu sou cunhã
Barriga brasileira
Ventre sagrado
Povo brasileiro

Ventre que gerou


O povo brasileiro
Hoje está só…
A barriga da mãe fecunda
E os cânticos que outrora cantavam
Hoje são gritos de guerra
Contra o massacre imundo

Metade Cara, Metade Máscara. 3ª ed. Rio de Janeiro, Grumin Edições, 2018.

Poema: Ser indígena – Ser Omágua


Márcia Wayna Kambeba

Sou filha da selva, minha fala é Tupi.

Trago em meu peito,

as dores e as alegrias do povo Kambeba

e na alma, a força de reafirmar a

nossa identidade,

que há tempo ficou esquecida,

diluída na história.

Mas hoje, revivo e resgato a chama

ancestral de nossa memória.

Sou Kambeba e existo sim:

No toque de todos os tambores,

na força de todos os arcos,

no sangue derramado que ainda colore

essa terra que é nossa.

Nossa dança guerreira tem começo,

mas não tem fim!

Foi a partir de uma gota d’água

que o sopro da vida gerou o povo Omágua.

E na dança dos tempos

pajés e curacas

mantêm a palavra

dos espíritos da mata,


refúgio e morada

do povo cabeça-chata.

Que o nosso canto ecoe pelos ares

como um grito de clamor a Tupã,

em ritos sagrados,

em templos erguidos,

em todas as manhãs!
KAMBEBA, Márcia Wayna. Ay kakyri Tama. Manaus: Grafisa, 2013.
Fonte: Língua Portuguesa – Estações – Ensino Médio – Volume Único. 1ª edição, São
Paulo, 2020 – editora Ática – p. 296.

Entendendo o poema:

01 – Por que a voz do eu lírico pode ser identificada à voz da própria autora? Que efeito essa
identificação provoca na leitura do poema?

A voz lírica se faz presente já no primeiro verso (“[Eu] Sou filha da selva, minha fala é
Tupi.”), confirmando-se nos demais. Assim, essa identificação provoca o efeito de
“testemunho”, de uma história vivida que é, nos versos, poeticamente recriada.

02 – Qual é a principal ideia desenvolvida pelo eu lírico na segunda estrofe? Explique a partir
de trechos do poema.

A segunda estrofe tem início com o verso: “Sou Kambeba e existo sim:” – a partir dele, o
eu lírico afirma a força de resistência de seu povo, pois a “dança guerreira tem começo, / mas
não tem fim!”, e apresenta algumas de suas tradições, que estão vivas, pois “na dança dos
tempos / pagés e curacas / mantêm a palavra / dos espíritos da mata”. Portanto, a principal
ideia desenvolvida na estrofe é a afirmação identitária.

03 – A terceira estrofe expressa um desejo do eu lírico. Qual é esse desejo? De que forma
ele expressa um ideal de resistência dos povos indígenas?

A terceira estrofe expressa o desejo de que o canto do povo Omágua ecoe pelos ares,
como um grito de clamor a Tupã, em ritos sagrados, em templos erguidos, em todas as
manhãs. Esse desejo expressa um ideal de resistência na medida em que revela o desejo de
perpetuação das tradições (canto, grito de clamor a Tupã, ritos sagrados, templos erguidos)
do povo Omágua ao longo do tempo (em todas as manhãs).

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