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MÚSICAS

O trabalho com diferentes recursos em sala de aula torna-se cada


vez mais necessário. Atividades envolvendo a música no processo de
ensino / aprendizagem trazem importantes contribuições para o
desenvolvimento sensorial, emocional e cultural dos alunos, favorecendo
a melhor sistematização de idéias e conceitos.
Nessa perspectiva, as músicas aqui elencadas - de variados
compositores, ritmos e estilos - e as propostas de encaminhamento,
apresentam-se como possibilidades para o(a) professor(a) ministrar
conteúdos e promover debates sobre as questões étnico-raciais e a
história e cultura afro-brasileira e africana.

CONTEÚDO: ESCRAVIDÃO

Leilão – Pena Branca e Xavantinho


CD: Coração Matuto (1998)
Composição: Heikel Tavares, Juracy Camargo

De manhã cedo
Num lugar todo enfeitado
Nóis ficava amuntuado
Pra esperá os compradô

Dispois passava
Pela frente dum palanque
Afincado ao pé de um tanque
Que chamava bebedô

E nesse dia
Minha véia foi comprada
Numa leva separada
Prum sinhô mocinho ainda

Minha veinha
Era a flô dos cativeiro
Foi inté mãe de terreiro
Na família dos Kambinda

No mesmo dia
Em que levaram minha preta
Me botaram nas grieta
Que é pra mó de eu não fugir

E desde então preto véio a percurô


Ficô véio como eu tô
Mas como é grande esse Brasil
E quando veio
De Isabé as alforria
Percurei mais quinze dias
Mas a vista me fartô

Só peço agora que me levem


sinhá Isabé
Quero ver se tá no céu
Minha véia, meu amor...

EN C A M I N H A M E N T O:

A venda dos escravos vindos da África era feita em praça pública, através de leilões,
mas o comércio de negros não se restringia à venda do produto do tráfico. Transações
comerciais com escravos eram comuns no Brasil. A letra da música revela como os negros
escravizados eram comercializados, como se fossem mercadorias. Nos leilões, os vínculos
familiares dos cativos não eram respeitados. Filhos eram separados dos pais, assim como os
casais, como revela a letra.
Tudo indica que a história retratada se passa no final do século XIX, período em que
ocorre a abolição dos escravos. O personagem principal cita “as alforria” concedidas pela
Princesa Isabel. Além do comércio de escravos, o professor pode abordar a libertação dos
escravos utilizando esta letra. No final, a música confirma que após a abolição, a vida dos
negros brasileiros continuou muito difícil. O estado brasileiro não se preocupou em oferecer
condições para que os ex-escravos pudessem ser integrados no mercado de trabalho formal e
assalariado. Muitos setores da elite brasileira continuaram com o preconceito. Prova disso, foi a
preferência pela mão-de-obra européia, que aumentou muito no Brasil após a abolição.
Portanto, a maioria dos negros encontrou grandes dificuldades para conseguir empregos e
manter uma vida com o mínimo de condições necessárias (moradia e educação
principalmente).

Sinhá – Chico Buarque e João Bosco


CD: Chico (2011)
Composição: Chico Buarque e João Bosco

Se a dona se banhou
Eu não estava lá
Por Deus Nosso Senhor
Eu não olhei Sinhá
Estava lá na roça
Sou de olhar ninguém
Não tenho mais cobiça
Nem enxergo bem

Para que me pôr no tronco


Para que me aleijar
Eu juro a vosmecê
Que nunca vi Sinhá
Por que me faz tão mal
Com olhos tão azuis
Me benzo com o sinal
Da santa cruz

Eu só cheguei no açude
Atrás da sabiá
Olhava o arvoredo
Eu não olhei Sinhá
Se a dona se despiu
Eu já andava além
Estava na moenda
Estava para Xerém

Por que talhar meu corpo


Eu não olhei Sinhá
Para que que vosmincê
Meus olhos vai furar
Eu choro em iorubá
Mas oro por Jesus
Para que que vassuncê
Me tira a luz

E assim vai se encerrar


O conto de um cantor
Com voz do pelourinho
E ares de senhor
Cantor atormentado
Herdeiro sarará
Do nome e do renome
De um feroz senhor de engenho
E das mandingas de um escravo
Que no engenho enfeitiçou Sinhá

EN C A M I N H A M E N T O:

Nos versos da música, falam duas vozes: a do escravo e a do cantor. O escravo


implora ao senhor de engenho que não o castigue, por julgar que ele havia visto a Sinhá tomar
banho nua no açude da fazenda.O cantor é quem conta o conto, a história desse escravo, e se
sente atormentado, por saber-se herdeiro sarará de um feroz senhor de engenho e de um
escravo mandingueiro que enfeitiçara uma sinhá. Em cada palavra, em cada frase, estão
presentes as vozes, as visões de mundo de duas pessoas, pelo menos. É o que o filósofo
russo, Bakhtin, chama de tensão dialógica da linguagem.
A letra mostra como eram cruéis as relações escravocratas. Por qualquer motivo, o
dono do escravo ou o feitor podia colocar o escravo no tronco e aleijar seu corpo. A música tem
a propriedade de fazer os alunos refletirem sobre essas relações e as torpezas que eram
cometidas. No caso deste escravo da história de Sinhá, ele sabe que o senhor de engenho
poderia talhar-lhe o corpo e furar-lhe os olhos. Esses versos dialogam com o poema Navio
Negreiro , de Castro Alves.
No poema Sinhá, o escravo diz benzer-se com o sinal da Santa Cruz, em uma tentativa
desesperada de comover o seu senhor e, ao mesmo tempo, confessa praticar a religião do
povo iorubá. É uma oportunidade de explicar aos alunos o sincretismo religioso.
O cantor-autor descobre, atormentado, a sua própria origem e reconhece que na sua
voz ressoa a voz do pelourinho e que, sem o desejar, tem pose e postura de senhor de
engenho.

Navio Negreiro – Caetano Veloso


CD: Livros (1997)

Era um sonho dantesco… o tombadilho


Que das luzernas avermelha o brilho.
Em sangue a se banhar.
Tinir de ferros… estalar de açoite…
Legiões de homens negros como a noite,
Horrendos a dançar…
Negras mulheres, suspendendo às tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães:
Outras moças, mas nuas e espantadas,
No turbilhão de espectros arrastadas,
Em ânsia e mágoa vãs!

E ri-se a orquestra irônica, estridente…


E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais …
Se o velho arqueja, se no chão resvala,
Ouvem-se gritos… o chicote estala.
E voam mais e mais…

Presa nos elos de uma só cadeia,


A multidão faminta cambaleia,
E chora e dança ali!
Um de raiva delira, outro enlouquece,
Outro, que martírios embrutece,
Cantando, geme e ri!

No entanto o capitão manda a manobra,


E após fitando o céu que se desdobra,
Tão puro sobre o mar,
Diz do fumo entre os densos nevoeiros:
“Vibrai rijo o chicote, marinheiros!
Fazei-os mais dançar!…”

E ri-se a orquestra irônica, estridente. . .


E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais…
Qual um sonho dantesco as sombras voam!…
Gritos, ais, maldições, preces ressoam!
E ri-se Satanás!…
Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é loucura… se é verdade
Tanto horror perante os céus?!
Ó mar, por que não apagas
Co’a esponja de tuas vagas
De teu manto este borrão?…
Astros! noites! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão!

Quem são estes desgraçados


Que não encontram em vós
Mais que o rir calmo da turba
Que excita a fúria do algoz?
Quem são? Se a estrela se cala,
Se a vaga à pressa resvala
Como um cúmplice fugaz,
Perante a noite confusa…
Dize-o tu, severa Musa,
Musa libérrima, audaz!…

ENCAMINHAMENTO:
A composição de Caetano Veloso é feita a partir de excerto do poema homônimo de Castro
Alves (estrofes IV e V). Navio negreiro é o nome dado aos navios de carga que cruzavam o
Atlântico transportando escravos da África para as colônias da América e Caribe, entre os
séculos XVI e XIX. Os escravos ficavam presos a correntes no porão das embarcações,
amontoados, mal alimentados e em péssimas condições de higiene. Tanto o poema quanto a
música apresentam-se como possibilidades para o professor abordar o tráfico de escravos e
escravidão em sala de aula.

CONTEÚDO: RESISTÊNCIA NEGRA


Quilombo, o Eldorado Negro – Gilberto Gil
CD: Bande originale du film Quilombo (2002)
Composição: Gilberto Gil e Waly Salomão

Existiu
Um eldorado negro no Brasil
Existiu
Como o clarão que o sol da liberdade produziu
Refletiu
A luz da divindade, o fogo santo de Olorum
Reviveu
A utopia um por todos e todos por um

Quilombo
Que todos fizeram com todos os santos zelando
Quilombo
Que todos regaram com todas as águas do pranto
Quilombo
Que todos tiveram de tombar amando e lutando
Quilombo
Que todos nós ainda hoje desejamos tanto

Existiu
Um eldorado negro no Brasil
Existiu
Viveu, lutou, tombou, morreu, de novo ressurgiu
Ressurgiu
Pavão de tantas cores, carnaval do sonho meu
Renasceu
Quilombo, agora, sim, você e eu

Quilombo
Quilombo
Quilombo

300 anos – Alcione


CD: De tudo o que eu gosto (2007)
Composição: Paulo César Feital, Altay Veloso

Se Zumbi
Guerreiro-guardião
Da Senzala Brasil
Pedisse a coroação
E por direito o cetro do quilombo
Que deixou por aqui
Nossa bandeira era
Ordem, progresso e perdão
É Zumbi
Babá dessa nação
Orixá nacional
Orfeu da Casa Real
Do carnaval do negro
Quilombola da escola daqui
O mestre-sala de Zambi
Na libertação
Parece que eu sou
Zumbi dos Palmares quando sambo
O príncipe herdeiro
Dos quilombos do Brasil
Sou eu, sou eu, Soweto
Livre, Mandela é Zumbi
Que se revive
Exemplo pro céu
De outros países como o meu
Sou eu orgulho de Zumbi
Que vem de Angola e de Luanda
Salve essa nação de Aruanda
Salve a mesa posta de umbanda
Salve esse Brasil-Zumbi

Palmares, Natiruts
CD: Povo Brasileiro (1999)
Composição: Natiruts

A cultura e o folclore são meus


Mas os livros foi você quem escreveu
Quem garante que palmares se entregou
Quem garante que Zumbi você matou
Perseguidos sem direitos nem escolas
Como podiam registrar as suas glórias
Nossa memória foi contada por vocês
E é julgada verdadeira como a própria lei
Por isso temos registrados em toda história
Uma mísera parte de nossas vitórias
É por isso que não temos sopa na colher
E sim anjinhos pra dizer que o lado mal é o candomblé
A energia vem do coração
E a alma não se entrega não
A influência dos homens bons deixou a todos ver
Que omissão total ou não
Deixa os seus valores longe de você
Então despreza a flor zulu
Sonha em ser pop na zona sul
Por favor não entenda assim
Procure o seu valor ou será o seu fim
Por isso corre pelo mundo sem jamais se encontrar
Procura as vias do passado no espelho mas não vê
E apesar de ter criado o toque do agogô
Fica de fora dos cordões do carnaval de salvador
A energia vem do coração
E a alma não se entrega não

Zambi, Elis Regina


Composição: Edu Lobo e Vinicius de Moraes
É Zambi na noite
Ei,Ei, é ZAmbi
É Zambi, tue, tue, tue,
É Zambi
É Zambi no açoite
Ei, Ei, é Zambi
É Zambi tue, tue, tue
É Zambi
Chega de sofrer
Zambi gritou
Sangue a correr
É a mesma cor
É o mesmo Deus
E a mesma dor
É Zambi se armando
Ei,Ei, é Zambi
É Zambi tue, tue, tue,
É Zambi
É Zambi lutando
Ei, Ei é Zambi
É Zambi tue, tue, tue
É Zumbi
Chega de viver
Na escravidão
É o mesmo céu
O mesmo chão
O mesmo amor
Mesma paixão
Ganga-zumba Ei, Ei, Ei
Vai fugir
Vai lutar tue, tue, tue
Com Zumbi
E Zumbi gritou Ei!, Ei!
Meu irmão
Mesmo céu, tue, tue, tue, Tue
Mesmo chão
Vem filho meu...
Meu capitão
Ganga-zumba
Liberdade!, Liberdade!
Ganga-zumba
É zumbi Lutando
É um lutador
Faca cortando
Talho sem dor
É o mesmo sangue
É a mesma dor
É Zumbi morremdo, Ei
É ZUmbi
É Zumbi Tue, Tue Tue
Ganga-zumba
Ei, Ei, Ei !VEM Ai
GANGA-ZUMBA
Tue, tue, tue
É Zumbi!

A felicidade Guerreira, Gilberto Gil


Composição: Waly Salomão e Giberto Gil
Zumbi, comandante guerreiro
Ogunhê, ferreiro-mor capitão
Da capitania da minha cabeça
Mandai a alforria pro meu coração

Minha espada espalha o sol da guerra


Rompe mato, varre céus e terra
A felicidade do negro é uma felicidade guerreira
Do maracatu, do maculelê e do moleque bamba

Minha espada espalha o sol da guerra


Meu quilombo incandescendo a serra
Tal e qual o leque, o sapateado do mestre-escola de samba
Tombo-de-ladeira, rabo-de-arraia, fogo-de-liamba

Em cada estalo, em todo estopim, no pó do motim


Em cada intervalo da guerra sem fim
Eu canto, eu canto, eu canto, eu canto, eu canto, eu canto assim:

A felicidade do negro é uma felicidade guerreira!


A felicidade do negro é uma felicidade guerreira!
A felicidade do negro é uma felicidade guerreira!

Brasil, meu Brasil brasileiro


Meu grande terreiro, meu berço e nação
Zumbi protetor, guardião padroeiro
Mandai a alforria pro meu coração

Canto Das Três Raças, Clara Nunes


Composição: Paulo Cesar Pinheiro e Mauro Duarte

Ninguém ouviu
Um soluçar de dor
No canto do Brasil

Um lamento triste
Sempre ecoou
Desde que o índio guerreiro
Foi pro cativeiro
E de lá cantou

Negro entoou
Um canto de revolta pelos ares
No Quilombo dos Palmares
Onde se refugiou

Fora a luta dos Inconfidentes


Pela quebra das correntes
Nada adiantou

E de guerra em paz
De paz em guerra
Todo o povo dessa terra
Quando pode cantar
Canta de dor

ô, ô, ô, ô, ô, ô
ô, ô, ô, ô, ô, ô
ô, ô, ô, ô, ô, ô
ô, ô, ô, ô, ô, ô

E ecoa noite e dia


É ensurdecedor
Ai, mas que agonia
O canto do trabalhador

Esse canto que devia


Ser um canto de alegria
Soa apenas
Como um soluçar de dor

EN C A M I N H A M E N T O:

Representando a materialidade da resistência negra durante o período escravocrata,


os quilombos em sua organização social, econômica, política e cultural possuíam uma
constituição própria. Possibilitando a integração de vários grupos que se encontravam à
margem da sociedade brasileira, sua população era composta por homens, mulheres e
crianças que se posicionavam contra o sistema de dominação colonial.
Evidenciando a percepção de que o negro não se sujeitou à escravidão e atuou no
decorrer de todo o processo como sujeito de sua história, resistindo e construindo espaços de
liberdade, o trabalho em sala de aula com essa composição musical, além de possibilitar ao
professor trazer reflexões acerca dos conteúdos elencados, também pode fomentar discussões
sobre as atuais comunidades de remanescentes de quilombos, sua territorialidade, costumes,
festas, religiosidade entre outros.

Chico Rei – Martinho da Vila


CD: Voz e Coração (2002)
Composição: Geraldo Babão, Djalma Sabiá e Binha

Vivia no litoral africano


Uma régia tribo ordeira cujo rei era símbolo
De uma terra laboriosa e hospitaleira
Um dia, essa tranqüilidade sucumbiu
Quando os portugueses invadiram
Capturando homens
Para fazê-los escravos no Brasil
Na viagem agonizante
Houve gritos alucinantes
lamentos de dor
Ô, ô, ô adeus, Baobá, ô, ô, ô
Ô, ô, ô adeus, meu Bengo, eu já vou

Ao longe, Minas jamais ouvia


Quando o rei mais confiante
Jurou à sua gente que um dia os libertaria
Chegando ao Rio de Janeiro
No mercado de escravos
Um rico fidalgo os comprou
E para Vila Rica os levou
A idéia do rei foi genial
Esconder o pó de ouro entre os cabelos
Assim fez seu pessoal
Todas as noites quando das minas regressavam
Iam à igreja e suas cabeças banhavam
Era o ouro depositado na pia
E guardado em outro lugar com garantia
Até completar a importância
Para comprar suas alforrias
Foram libertos cada um por sua vez
E assim foi que o rei
Sob o sol da liberdade trabalhou
E um pouco de terra ele comprou
Descobrindo ouro enriqueceu
Escolheu o nome de Francisco
E ao catolicismo se converteu
No ponto mais alto da cidade, Chico Rei
Com seu espírito de luz
Mandou construir uma igreja
E a denominou
Santa Efigênia do Alto da Cruz

Galanga Chico-Rei – Sérgio Santos


CD: Áfrico (2002)
Composição: Sérgio Santos e Paulo Cezar Pinheiro

Ganga
Galanga era Ganga
De jaga e Catanga,
Quebrava com anga
Cafife e cafanga,
Galanga era Ganga...

O Rei do Reino do Congo foi Aluquene


Muene-Congo
O seu fundador, seu rei imortal.
Senhor dos Jibas, dos Dembos e dos Engombes
E dos Mulumbos
Do Congo era Ganga, era o Rei Geral.
Senhor de Angola, Benguela, Canga, Cabinda
Tanga, Calinda, Malembo, Matamba, Dunga-tará,
Soba dos Matambulas,
Dos reinos de aquém e de além-mar

Galanga vinha do sangue de Aluquene


Ganga-Muene
Macota-Babá da Casa Real.

O Capitão-Comandante da Guerra Preta


De Maramara
O grã-lutador, o Rei maioral.
Muzungo veio e Galanga foi no tumbeiro
Pro cativeiro,
Deixando o sagrado Congo para trás,
Mas rei de Zâmbi-Apongo
É rei onde chega, Obá dos Obás

Foi assim, hoje eu sei


Que nasceu Chico-Rei
Rei da África e Rei das Minas Gerais!

EN C A M I N H A M E N T O:
Nascido em Galanga no Congo como um monarca guerreiro e sumo-sacerdote do
Deus pagão Zambi-Apungo, Chico Rei foi capturado com toda a corte por comerciantes
portugueses de escravos e vendido com o filho Muzinga no Rio de Janeiro, de onde foi levado
assim como tantos outros escravos africanos, em 1740 para trabalhar na mineração de ouro.
Sua esposa a rainha Djalô e a fi lha, a princesa Itulo, foram jogadas no oceano pelos marujos
do navio negreiro Madalena para aplacar a ira dos Deuses da Tempestade, que quase o
afundou.
Depois de servir cinco anos como escravo do major Augusto de Andrade Góis, Chico
Rei comprou, por meio do padre Figueiredo, sua carta de alforria, libertou o filho, conseguiu
comprar uma mina de ouro supostamente esgotada e, com o trabalho na mineração, alforriou
outros 400 cativos, entre os quais os integrantes da sua corte africana.
Protagonizando sua própria história Chico Rei, representa por um lado, como milhares
de outros africanos, a tragédia representada pelo sistema escravocrata, de outro, a permanente
luta pelo resgate da humanização, de dignidade e liberdade que constituiu em larga escala a
resistência do povo negro em solo brasileiro. Trabalhar questões relacionadas à diáspora
africana, as várias rotas de entrada dos escravizados em nosso país e a organização do reinos
e impérios africanos podem ser alguns dos encaminhamentos pedagógicos para essa canção.

Mestre Sala dos Mares – João Bosco


CD: Caça à raposa (1975)
Composição: João Bosco e Aldir Blanc

Há muito tempo nas águas da Guanabara


O dragão do mar reapareceu
Na figura de um bravo feiticeiro
A quem a história não esqueceu
Conhecido como o navegante negro
Tinha a dignidade de um mestre-sala
E ao acenar pelo mar na alegria das regatas
Foi saudado no porto pelas mocinhas francesas
Jovens polacas e por batalhões de mulatas

Rubras cascatas jorravam das costas dos santos entre cantos e chibatas
Inundando o coração do pessoal do porão
Que a exemplo do feiticeiro gritava então
Glória aos piratas, às mulatas, às sereias
Glória à farofa, à cachaça, às baleias

Glória a todas as lutas inglórias


Que através da nossa história
Não esquecemos jamais
Salve o navegante negro
Que tem por monumento
As pedras pisadas do cais

Glória aos piratas, às mulatas, às sereias


Glória à farofa, à cachaça, às baleias
Glória a todas as lutas inglórias
Que através da nossa história
Não esquecemos jamais
Salve o navegante negro
Que tem por monumento
As pedras pisadas do cais
Mas faz muito tempo

EN C A M I N H A M E N T O:
Trabalhar com essa música em sala de aula contribui para melhor sistematização
e elaboração de idéias sobre a Revolta da Chibata, acontecimento histórico que está
profundamente relacionado ao passado escravista do Brasil. Ocorreu em 1910, período
em que o Brasil já era um país que, ao menos no papel, não tinha mais escravidão. Mas
em alto mar, a situação era outra. O convés de um navio da marinha lembrava a senzala.
Os marinheiros de baixa patente, em sua maioria afrodescendentes, eram tratados tal
qual escravizados. Mal alimentados, tinham uma jornada tripla de trabalho. Deslizes
eram punidos severamente com a chibata.
A música homenageia João Candido, marinheiro, timoneiro e o principal líder da
Revolta da Chibata. Defendeu os companheiros vítimas dos injustos castigos corporais
praticados nas embarcações brasileiras e sofreu duras penas por seus atos.
O movimento de 1910 foi muito mais que uma simples revolta instintiva e
espontânea. A rebelião não questionava a República e tampouco lutava pelo retorno da
monarquia. Seu objetivo era instituir uma nova relação de trabalho dentro da Armada e
lutar pelo reconhecimento dos pobres e negros da Marinha brasileira como cidadãos
livres e dotados de direitos.

Tributo a Martin Luther King – Wilson Simonal (1967)


CD: A Bossa e o Balanço
Composição: Wilson Simonal e Ronaldo Bôscoli

Sim, sou um negro de cor


Meu irmão de minha cor
O que te peço é luta sim
Luta mais!
Que a luta está no fim...

Cada negro que for


Mais um negro virá
Para lutar
Com sangue ou não
Com uma canção
Também se luta irmão
Ouvir minha voz
Oh Yes!
Lutar por nós...

Luta negra demais


(Luta negra demais!)
É lutar pela paz
(É Lutar pela paz!)
Luta negra demais
Para sermos iguais
Lá Lá Lá Lá Lá Lá Lá!
Para sermos iguais
Lá Lá Lá Lá Lá Lá Lá!

Sim, sou um negro de cor


Meu irmão de minha cor
O que te peço é luta sim
Luta mais!
Que a luta está no fim...
Cada negro que for
Mais um negro virá
Para lutar
Com sangue ou não
Com uma canção
Também se luta irmão
Ouvir minha voz
Oh Yes!
Lutar por nós...

Luta negra demais


(Luta negra demais!)
É lutar pela paz
(É Lutar pela paz!)
Luta negra demais
Para sermos iguais
Lá Lá Lá Lá Lá Lá Lá!
Para sermos iguais

Pride – U2
CD: The Unforgettable Fire (1984)
Composição: Bono Vox

Pride (In the name of love)

One man come in the name of love Um homem veio em nome do amor
One man come and go Um homem veio e se foi
One man come, he to justify Um homem veio para se justificar
One man to overthrow Um homem para subverter

In the name of love Em nome do amor


What more in the name of love O que mais em nome do amor
In the name of love Em nome do amor
What more in the name of love O que mais em nome do amor

One man caught on a barbed wire fence Um homem foi pego numa cerca de arame
One man he resist farpado
One man washed on an empty beach. Um homem que resiste
One man betrayed with a kiss Um homem banhou-se numa praia vazia
Um homem traído com um beijo
In the name of love
What more in the name of love Em nome do amor
In the name of love O que mais em nome do amor
What more in the name of love Em nome do amor
O que mais em nome do amor
(nobody like you...)
(ninguém como você...)
Early morning, April 4
Shot rings out in the Memphis sky Manhã bem cedo,4 de Abril
Free at last, they took your life Tiros zumbem nos céus de Memphis
They could not take your pride Livre finalmente, eles tomaram a sua vida
Eles não poderiam tomar o seu orgulho
In the name of love
What more in the name of love Em nome do amor
In the name of love O que mais em nome do amor
What more in the name of love Em nome do amor
In the name of love O que mais em nome do amor
Em nome do amor
EN C A M I N H A M E N T O:

As músicas são homenagens ao pastor e ativista político norte-americano Martin Luther King, o
mais importante líder da luta pelo direitos civis dos negros nos Estados Unidos. Combateu o
preconceito e o racismo de forma pacífica, pregando o amor ao próximo como forma de
construir um mundo melhor, baseado na igualdade de direitos sociais e econômicos. Foi a
pessoa mais jovem a receber o Prémio Nobel da Paz em 1964. Era odiado por muitos
segregacionistas do sul dos E.U.A, o que culminou em seu assassinato no dia 4 de abril de
1968. Tornou-se um mártir da luta contra o preconceito e o racismo. As músicas podem ser
utilizadas em sala de aula ao se trabalhar a luta pelos direitos dos negros ao longo da História
e questões relacionadas ao preconceito e discriminação racial.

Mandela Day – Simple Minds


CD: Street Fighting Years (1989)

It was 25 years they take that man away Há 25 anos eles prenderam aquele homem
Now the freedom moves in closer every day Agora a liberdade se aproxima a cada dia
Wipe the tears down from your saddened Enxugue as lágrimas dos seus olhos
eyes entristecidos
They say Mandela's free so step outside Eles dizem Mandela livre, então pise lá fora
Oh oh oh oh Mandela day Oh oh oh oh Dia de Mandela
Oh oh oh oh Mandela's free Oh oh oh oh Mandela livre

It was 25 years ago this very day Há 25 anos nesse mesmo dia
Held behind four walls all through night and Preso entre 4 paredes durante noite e dia
day As crianças ainda sabem a história daquele
Still the children know the story of that man homem
And I know what's going on right through your E eu sei o que está acontecendo na sua terra
land
25 anos atrás
25 years ago Na na na na Dia de Mandela
Na na na na Mandela day Oh oh oh Mandela livre
Oh oh oh Mandela's free
Se as lágrimas estão fluindo, enxugue-as de
If the tears are flowing wipe them from your seu rosto
face Eu posso sentir a batida do coração dele
I can feel his heartbeat moving deep inside movendo-se profundamente
It was 25 years they took that man away
And now the world come down say Nelson Há 25 anos eles levaram embora aquele
Mandela's free homem
E agora o mundo protesta e diz Mandela livre
Oh oh oh oh Mandela's free
Oh oh oh oh Mandela livre
The rising suns sets Mandela on his way
Its been 25 years around this very day O sol nascente guia Mandela em seu
From the one outside to the ones inside we caminho
say Faz 25 anos nesse mesmo dia
Oh oh oh oh Mandela's free Desde o dia livre até os dias presos, nós
Oh oh oh set Mandela free dizemos
Oh oh oh oh Mandela livre
Na na na na Mandela day Oh oh oh o liberdade de Mandela
Na na na na Mandela's free
Na na na na o Dia de Mandela
25 years ago Na na na na o Mandela livre
What's going on
And we know what's going on 25 anos atrás
Cos we know what's going on O que está acontecendo?
E nós sabemos o que está acontecendo
Porque nós sabemos o que está acontecendo

EN C A M I N H A M E N T O:

Em 1988, o Simple Minds encabeçou uma série de concertos nos Estados Unidos e Europa,
juntamente com diversos artistas politicamente engajados. Tais concertos ficaram conhecidos
como Freedomfest, e tinham como intenção apontar os males do Apartheid na África do Sul. A
banda escreveu a canção "Mandela Day" especificamente para esta série de shows. A música
pode ser utilizada como elemento motivador da aprendizagem ao se estudar a trajetória de
Nelson Mandela, o mais poderoso símbolo da luta contra o regime segregacionista da África do
Sul. A música menciona o longo período em que Mandela esteve preso (de 1964 a 1990).
Escrita dois anos antes de sua libertação, a letra reivindica "Set Mandela free" (Libertem
Mandela!).

CONTEÚDO: CULTURA E IDENTIDADE


Respeitem meus cabelos brancos – Chico César
CD: Chico César (2003)
Composição: Chico César

Não falem desta mulher perto de mim


Não falem, pra não lembrar minha dor
Já fui moço, já gozei a mocidade
Se me lembro dela, me dá saudade
Por ela, eu vivo aos trancos e barrancos
Respeitem, ao menos, os meus cabelos brancos

Ninguém viveu a vida que eu vivi


Ninguém sofreu na vida o que eu sofri
As lágrimas sentidas, os meus sorrisos francos
Refletem-se, hoje em dia, nos meus cabelos brancos
E, agora, em homenagem ao meu fim
Não falem desta mulher perto de mim

Não falem desta mulher perto de mim


Não falem, pra não lembrar minha dor
Já fui moço, já gozei a mocidade
Se me lembro dela, me dá saudade
Por ela, eu vivo aos trancos e barrancos
Respeitem, ao menos, os meus cabelos brancos

Ninguém viveu a vida que eu vivi


Ninguém sofreu na vida o que eu sofri
As lágrimas sentidas, os meus sorrisos francos
Refletem-se, hoje em dia, nos meus cabelos brancos
E, agora, em homenagem ao meu fim
Não falem desta mulher perto de mim

E, agora, em homenagem ao meu fim


Não falem desta mulher perto de mim

EN C A M I N H A M E N T O:
A história de um povo pode ser contada sobre várias perspectivas. Através seus
costumes, escritos, oralidade e até por meio da moda podemos identificar a organização
econômica, política e sociocultural de um grupo. Os cabelos, seus cortes e penteados também
podem ser registros que narram histórias. Sendo assim, o continente africano influencia e
inspira o mundo com sua diversidade cultural. Além dos ritmos, das cores, da culinária e da
herança genética, a cultura negra é referenciada na arte que nasce de tranças e penteados
afro. Estas extrapolando a função estética, podem também ser vistos como fontes de símbolos
que, revelam um sentimento de pertencimento, identidade.
Pontuar elementos identitários dos povos africanos que se contrapõem ao modelo
eurocêntrico estabelecido, pode ser uma das possibilidades de trabalho com essa música, que
também instiga uma pesquisa sobre os modelos de beleza construídos e a correlação entre
esses modelos e mídia.

Mama África
CD: Sem Limites (2001)
Composição: Chico César

Mama África (a minha mãe)


é mãe solteira
e tem que fazer
mamadeira todo dia
além de trabalhar
como empacotadeira
nas casas Bahia

Mama África tem tanto o que fazer


além de cuidar neném
além de fazer denguim
filhinho tem que entender
mama África vai e vem
mas não se afasta de você

Quando mama sai de casa


seus filhos se olodunzam
rola o maior jazz
mama tem calo nos pés
mama precisa de paz
mama não quer brincar mais
filhinho dá um tempo
é tanto contratempo
no ritmo de vida
de mama

Deve ser legal


ser negão no Senegal
deve ser legal
ser negão no Senegal
deve ser legal
ser negão no Senegal

Mama África
a minha mãe
mama África
a minha mãe
mama África
a minha mãe
EN C A M I N H A M E N T O:

Inegavelmente, por ser o berço da humanidade, a África é representada nesta música


como uma grande mãe que, mesmo diante da situação histórica de exploração e abandono,
zela por seus fi lhos e filhas.
Um encaminhamento possível (diante de tantos que a duplicidade de sentidos sugere)
é explorar a descendência africana que os brasileiros mantém nas suas características
fenotípicas, nos seus costumes, na sua cultura e religiosidade.
Pode-se também discutir a situação da mulher negra com relação a aspectos
socioeconômicos e sua condição de discriminação em contraposição à importância da mulher
para as sociedades africanas por toda a sua representação de maternidade, de fertilidade e
vida.

Sr. Tempo Bom


CD: CD Book Isto é Show 3
Composição: Thaide e Dj Hum

Que saudade do meu tempo de criança,


quando eu ainda era pura esperança,
eu via minha mãe voltando pra dentro do nosso barraco,
com uma roupa de santo debaixo do braço.
Eu achava engraçado tudo aquilo,
mas já respeitava o barulho do atabaque,
e não sei se você sabe, a força poderosa que tem na mão
de quem toca um toque caprichado, santo gosta.
Então eu preparava pra seguir o meu caminho,
protegido por meus ancestrais.
Antigamente o samba-rock, blackpower, soul,
assim como o hip-hop era o nosso som,
a transa negra que rolava as bolachas,
a curtição do pedaço era o La Croachia,
eu era pequeno e já filmava o movimento ao meu redor,
coriografias, sabia de cor,
e fui crescendo rodiado pela cultura Afro Brasileira,
tambei sei que já fiz muita besteira,
mas nunca me desliguei, das minhas raizes,
estou sempre junto dos blacks que ainda existem,
me lembro muito bem do som e o passinho marcado
eram mostrados por quem entende do assunto,
e lá estavam Nino Brown e Nelso Triunfo,
juntamente com a funkcia que maravilha.

Que tempo bom, que não volta nunca mais, (4x)

Calça boca de sino, cabelo black da hora,


sapato era mocasin ou salto plataforma.
Gerson Quincombo mandava mensagens ao seus,
Toni Bizarro dizia com razão, vai com Deus,
Tim Maia falava que só queria chocolate,
Toni Tornado respondia: Podê Crê,
Lady Zu avisava, a noite vai chegar,
e com Totó inventou o samba soul,
Jorge Ben entregava com Cosa Nostra,
e ainda tinha o toque dos Originais,
falador passa mal rapaz,
saldosa maloca, maloca querida,
faz parte dos dias tristes e felizes de nossa vida.
Grandes festas no Palmeiras com a Chic Show,
Zimbabwe e Black Mad eram Company Soul,
anos 80 começei, a frequentar alguns bailes,
ouvia comentários de lugares.
Clube da Cidade, Guilherme Jorge,
Clube Homes, Roller Super Star,
Jabaquarinha, Sasquachi, como é bom lembrar.
Agradeço a Deus por permitir,
que nos anos 70 eu pudesse assistir, Vila Sezamo,
numa década cheia de emoção,
Hooligueler entortando garfos na televisão,
10 anos de swing e magia,
que começou com o Brasil sendo Tri-campeão.

Refrão

O tempo foi passando, eu me adaptando,


aprendendo novas girias, me malandreando,
observando a evolução radical de meus irmãos,
percebi o direito que temos como cidadão,
de dar importância a situação,
protestando para que achamos uma solução.
Por isso Black Power permanece vivo,
só que de um jeito bem mais ofencivo,
seja dançando break, ou um DJ no scratch,
mesmo fazendo Graffiti, ou cantando RAP.
Lembra do função, que com gilette no bolso
tirava o couro do banco do buzão,
uma tremenda curtição,
e fazia na calça a famosa pizza.
No Centro da cidade as grandes galerias,
seus cabelereiros e lojas de disco,
mantén a nossa tradição sempre viva.
Mudaram as músicas, mudaram as roupas,
mas a juventude afro continua muito louca.
Falei do passado e é como se não fosse,
o que eu vejo a mesma determinação no Hip-Hop
Black Power de hoje.

Refrão

Essa é nossa homenagem, a todos aqueles,


que fizeram parte ou curtiram Black Power.
Luiz Carlos, Africa São Paulo, Ademir Fórmula 1,
Kaskata's, Circuit Power.
Bossa 1, Super Som 2000, Transa Funk, Princesa Negra,
Cash Box, Musícalia, Galote, Black Music,
Alcir Black Power, e a tantos outros,
obrigado pela inspiração.

Pode crê, pode crê.


...

EN C A M I N H A M E N T O:

A história dos afrodescendentes no Brasil – pela própria constituição do racismo e de


sua ideologia que afeta tanto discriminadores como discriminados – é rodeada de momentos
de identifi cação e de negação das origens africanas. Essa música, ao retratar o “crescimento”
de um homem afro-brasileiro, destaca que, de qualquer forma, independente de se reconhecer
ou não, a negritude faz parte da vida dos brasileiros e da história cultural e musical,
influenciando no jeito de ser de um povo.
Diversas atividades podem ser propostas, como por exemplo, analisar com os
estudantes a relação entre os momentos históricos apresentados na canção (décadas de 1970,
1980 e 1990) e a influência da música black e a moda derivada desta no repertório musical e
na cultura brasileira.Outro encaminhamento pode ser de propor uma pesquisa dos nomes
citados na música (Jorge Ben, Company Soul, Alcir Black Power e outras personalidades e
grupos da black music) no intuito de conhecer as influências desse movimento musical para a
música brasileira.

CONTEÚDO: RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS


Beleza Mano – Chico César
CD: “Novo Millennium” (2005)
Composição: Chico César

a beleza zabelê
é uma forma de saber
de acreditar e ser
a beleza beleza beleza mano
em cada dia do ano
em toda hora vivida
pois quem entra pelo cano
há de encontrar a saída
saúde sossego gozo
quase sempre alegria
triste quando triste for
prá alcançar sabedoria
aprender com o engano
a reconhecer o exato
do demasiado humano
comer e lamber o prato
preto branco amarelo
é tudo mano parente
para embelezar o belo
zabelê siga em frente
doa a quem doer
nós somos do guarnicê
doa a quem doer
viva o amor e o prazer

EN C A M I N H A M E N T O:

As discussões em torno do respeito pela diversidade não é um assunto recente. A


necessidade de se repensar estruturas sociais a fi m de proporcionar políticas de reparação, há
muito tempo faz parte das pautas de reivindicações dos inúmeros movimentos organizados ( o
movimento negro). Inúmeros documentos trazem tal debate e legalizam tal situação, entre eles,
a Constituição Nacional de 1988, que em seu texto “Princípios Norteadores” apresenta as
seguintes questões:

Art.3° Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:


I – construir uma sociedade livre, justa e solidária;
II – garantir o desenvolvimento Nacional;
III – erradicar a pobreza e a marginal ização e reduzir as desigualdades sociais e
regionais.
IV – promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer
outras formas de discriminação.
Essa música de Chico Cesár nos remete a tal discussão e indica cada vez mais a
necessidade de conscientização dos sujeitos em relação aos seus direitos e deveres. Nessa
perspectiva, trabalhar o reconhecimento dos documentos específi cos que tratam das questões
ligadas às relações étnico-raciais pode ser um dos encaminhamentos para essa canção.

Etnia – Chico Science


CD: Afrociberdélia (1996)
Composição: Chico Science e Lucio Maia

Somos todos juntos uma miscigenação


E não podemos fugir da nossa Etnia
Todos juntos uma miscigenação
E não podemos fugir da nossa Etnia

Indios, brancos, negros e mestiços


Nada de errado em seus princípios
O seu e o meu são iguais
Corre nas veias sem parar

Costumes, é folclore, é tradição


Capoeira que rasga o chão
Samba que sai na favela acabada
É hip hop na minha embolada

É povo na arte é arte no povo


E não o povo na arte
De quem faz arte com o povo

Foram atrás de algo que se esconde


É sempre uma grande mina de conhecimentos e sentimentos

Não há mistérios em descobrir


O que você tem e o que você gosta
Não há mistérios em descobrir
O que você é e o que você faz
E o que você faz

Maracatu psicodélico
Capoeira da pesada
Bumba meu rádio
Berimbau elétrico

Frevo, samba e cores


Cores unidas e alegria
Nada de errado em nossa "ETNIA".

EN C A M I N H A M E N T O:

Discutir sobre o “mito da democracia racial”, que compreende questionar a falsa igualdade
entre os vários povos presentes na constituição da matriz brasileira pode ser uma proposta de
trabalho com esta canção que, além de ilustrar a diversidade étnico-racial em nossa sociedade,
também evidencia as contribuições desses diferentes grupos na formação da cultural nacional.

CONTEÚDO: RACISMO E PRECONCEITO


Olhos Coloridos – Sandra de Sá
CD: Sandra Sá (2001)
Composição: Macau

Os meus olhos coloridos


Me fazem refletir
Eu estou sempre na minha
E não posso mais fugir

Meu cabelo enrolado


Todos querem imitar
Eles estão baratinados
Também querem enrolar

Você ri da minha roupa


Você ri do meu cabelo
Você ri da minha pele
Você ri do meu sorriso

A verdade é que você (e todo brasileiro)


Tem sangue crioulo
Tem cabelo duro
Sarará crioulo

EN C A M I N H A M E N T O:

Debater questões relacionadas ao termos preconceito e discriminação, refletir acerca das


várias manifestações de racismo presentes em nossa sociedade, entre eles o “racismo à
brasileira” que se fixa em excluir e desconsiderar sujeitos em decorrência da aparência ou
características fenotípicas pode ser um dos encaminhamentos para essa canção que também
em seu conjunto traz uma reflexão sobre as piadas, apelidos e brincadeiras sobre os
afrodescendentes presentes em vários espaços da sociedade brasileira.

Haiti – Caetano Veloso


CD: Fina Estampa (1996)

Quando você for convidado pra subir no adro


Da fundação casa de Jorge Amado
Pra ver do alto a fila de soldados, quase todos pretos
Dando porrada na nuca de malandros pretos
De ladrões mulatos e outros quase brancos
Tratados como pretos
Só pra mostrar aos outros quase pretos
(E são quase todos pretos)
Como é que pretos, pobres e mulatos
E quase brancos quase pretos de tão pobres são tratados
E não importa se os olhos do mundo inteiro
Possam estar por um momento voltados para o largo
Onde os escravos eram castigados
E hoje um batuque, um batuque
Com a pureza de meninos uniformizados de escola secundária
Em dia de parada
E a grandeza épica de um povo em formação
Nos atrai, nos deslumbra e estimula
Não importa nada:
Nem o traço do sobrado
Nem a lente do fantástico,
Nem o disco de Paul Simon
Ninguém, ninguém é cidadão
Se você for ver a festa do pelô, e se você não for

Pense no Haiti, reze pelo...


O Haiti é aqui
O Haiti não é aqui

E na TV se você vir um deputado em pânico mal dissimulado


Diante de qualquer, mas qualquer mesmo, qualquer, qualquer
Plano de educação que pareça fácil
Que pareça fácil e rápido
E vá representar uma ameaça de democratização
Do ensino de primeiro grau
E se esse mesmo deputado defender a adoção da pena capital
E o venerável cardeal disser que vê tanto espírito no feto
E nenhum no marginal
E se, ao furar o sinal, o velho sinal vermelho habitual
Notar um homem mijando na esquina da rua sobre um saco
Brilhante de lixo do Leblon
E ao ouvir o silêncio sorridente de São Paulo
Diante da chacina
111 presos indefesos, mas presos são quase todos pretos
Ou quase pretos, ou quase brancos quase pretos de tão pobres
E pobres são como podres e todos sabem como se tratam os pretos
E quando você for dar uma volta no Caribe
E quando for trepar sem camisinha
E apresentar sua participação inteligente no bloqueio a Cuba

Pense no Haiti, reze pelo


O Haiti é aqui
O Haiti não é aqui

EN C A M I N H A M E N T O:

O texto nos remete à violência urbana própria dos grandes centros, mas também presente nas
áreas rurais, e principalmente a sinonímia que vincula diretamente o jovem negro à
criminalidade. A letra possibilita a reflexão acerca dos estereótipos relacionados à população
afrodescendente; a perspectiva da juventude quanto ao lazer, ao mercado de trabalho e à
progressão social. Pesquisar, com os alunos, que políticas poderiam ser aplicadas pelo
governo, no intuito de resolver estes problemas, pode ser um encaminhamento para essa
canção.

A Carne – Elza soares


CD: Coccix ao Pescoço (2002)
Composição: Seu Jorge, Marcelo Yuca e Marccelo Capellette

A carne mais barata do mercado é a carne negra

Que vai de graça pro presídio


e para debaixo de plástico
Que vai de graça pro subemprego
e pros hospitais psiquiátricos

A carne mais barata do mercado é a carne negra

Que fez e faz história


segurando esse país no braço
o cabra aqui não se sente revoltado
porque o revólver já está engatilhado
e o vingador é lento
mas muito bem intencionado
e esse país
vai deixando todo mundo preto
e o cabelo esticado

Mas mesmo assim


ainda guardo o direito
de algum antepassado da cor
brigar sutilmente por respeito
brigar bravamente por respeito
brigar por justiça e por respeito
de algum antepassado da cor
brigar, brigar, brigar

A carne mais barata do mercado é a carne negra

EN C A M I N H A M E N T O:
A música retrata uma constatação que se faz presente nos números acerca da desigualdade
racial no Brasil. Uma possibilidade é propor uma pesquisa sobre os índices de ocupação no
mercado de trabalho e quais os cargos comumentes “destinados” a população negra brasileira.

Quem planta o preconceito – Natiruts


CD: Reggae Power (2007)

Quem planta preconceito, racismo e indiferença


Não pode reclamar da violência
Lembra da criança no sinal pedindo esmola
Não é problema meu, fecho o vidro e vou embora
Lembra aquele banco ainda era de dia
Tem preto lá na porta avisem a polícia
E os milhões e milhões que roubaram do povo
Se foi político ou doutor, serão soltos de novo
Quem planta preconceito, racismo e indiferença
Não pode reclamar da violência

Há ainda muito o que aprender


Com Afrika Bambaataa e Salassiê
Com Bob Marley e Chuck D
O reggae,o hip hop às vezes não é esse que está aí
Sequela a violência entrando pelo rádio pela tela
E você só sente quando falta o rango na panela
nunca aprende,só se prende não se defende,
se acorrenta toma o mal,traga o mal experimenta
Por isso ainda há muito o que aprender
Com Afrika Bambaataa e Salassiê
Com Bob Marley e Chuck D
O reggae,o hip hop pode ser o que se expressa aqui
Jamaica, ritmo no podium, sua marca
Várias medalhas, vários ouros, zero prata
E no bater da lata decreto morte ao gravata
E no bater das palmas viva a cultura rasta

Crianças não nascem más


Crianças não nascem racistas
Crianças não nascem más
Aprendem o que a gente ensina
Por isso ainda há muito o que aprender
Com Afrika Bambaataa e Salassiê
Com Bob Marley e Chuck D
Todo dia algo diferente que não percebi
E na lição um novo dever de casa
Mais brasa na fogueira, e o comédia vaza
A moda acaba, a gravadora trai
E o fâ já não te admira mais
Há ainda muito o que aprender
Lado a lado, aliados Natiruts GOG
O DF o cerrado um cenário a descrever
Do Riacho a Ceilândia cansei de ver
A repressão policial
A criança sem presente de Natal
O parceiro se rendendo ao mal
Quem planta violência colhe ódio no final

EN C A M I N H A M E N T O:

A música faz uma crítica ao preconceito racial e menciona situações no cotidiano em que ele se
torna evidente. Ressalta que não apenas as atitudes preconceituosas e racistas são danosas
ao convívio social; a falta de ação, a indiferença em relação ao próximo, é também prejudicial,
sobretudo quando motivada por idéias pré-concebidas e estereótipos. A música alerta que
pessoas que tentam se “isolar” da pobreza e das injustiças sociais que assolam nosso país,
são perpetuadoras das desigualdades, pois nada fazem a respeito, podendo ser vítimas da
violência decorrente da marginalização das camadas mais pobres da população.
Além dessa reflexão, outras atividades podem ser propostas, como por exemplo, uma pesquisa
sobre as pessoas citadas na música, personalidades negras de grande expressão e influência
no movimento negro, no reggae e no hip hop.

PS. O trecho “Crianças não nascem más, crianças não nascem racistas” é inspirado numa
famosa frase de Nelson Mandela: "Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele,
por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se
podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar."

Racismo é Burrice – Gabriel, O Pensador


CD: MTV Ao Vivo (2003)

Salve, meus irmãos africanos e lusitanos, do outro lado do oceano


"O Atlântico é pequeno pra nos separar, porque o sangue é mais forte que a água do mar"
Racismo, preconceito e discriminação em geral;
É uma burrice coletiva sem explicação
Afinal, que justificativa você me dá para um povo que precisa de união
Mas demonstra claramente
Infelizmente
Preconceitos mil
De naturezas diferentes
Mostrando que essa gente
Essa gente do Brasil é muito burra
E não enxerga um palmo a sua frente
Porque se fosse inteligente esse povo já teria agido de forma mais consciente
Eliminando da mente todo o preconceito
E não agindo com a burrice estampada no peito
A "elite" que devia dar um bom exemplo
É a primeira a demonstrar esse tipo de sentimento
Num complexo de superioridade infantil
Ou justificando um sistema de relação servil
E o povão vai como um bundão na onda do racismo e da discriminação
Não tem a união e não vê a solução da questão
Que por incrível que pareça está em nossas mãos
Só precisamos de uma reformulação geral
Uma espécie de lavagem cerebral

Racismo é burrice

Não seja um imbecil


Não seja um ignorante
Não se importe com a origem ou a cor do seu semelhante
O quê que importa se ele é nordestino e você não?
O quê que importa se ele é preto e você e branco
Aliás, branco no Brasil é difícil, porque no Brasil somos todos mestiços
Se você discorda, então olhe para trás
Olhe a nossa história
Os nossos ancestrais
O Brasil colonial não era igual a Portugal
A raiz do meu país era multirracial
Tinha índio, branco, amarelo, preto
Nascemos da mistura, então por que o preconceito?
Barrigas cresceram
O tempo passou
Nasceram os brasileiros, cada um com a sua cor
Uns com a pele clara, outros mais escura
Mas todos viemos da mesma mistura
Então presta atenção nessa sua babaquice
Pois como eu já disse racismo é burrice
Dê a ignorância um ponto final:
Faça uma lavagem cerebral

Racismo é burrice

Negros e nordestinos constróem seu chão


Trabalhador da construção civil conhecido como peão
No Brasil, o mesmo negro que constrói o seu apartamento ou o que lava o chão de uma
delegacia
É revistado e humilhado por um guarda nojento
Que ainda recebe o salário e o pão de cada dia graças ao negro, ao nordestino e a todos nós
Pagamos homens que pensam que ser humilhado não dói
O preconceito é uma coisa sem sentido
Tire a burrice do peito e me dê ouvidos
Me responda se você discriminaria
O Juiz Lalau ou o PC Farias
Não, você não faria isso não
Você aprendeu que preto é ladrão
Muitos negros roubam, mas muitos são roubados
E cuidado com esse branco aí parado do seu lado
Porque se ele passa fome
Sabe como é:
Ele rouba e mata um homem
Seja você ou seja o Pelé
Você e o Pelé morreriam igual
Então que morra o preconceito e viva a união racial
Quero ver essa música você aprender e fazer
A lavagem cerebral

Racismo é burrice
O racismo é burrice mas o mais burro não é o racista
É o que pensa que o racismo não existe
O pior cego é o que não quer ver
E o racismo está dentro de você
Porque o racista na verdade é um tremendo babaca
Que assimila os preconceitos porque tem cabeça fraca
E desde sempre não pára pra pensar
Nos conceitos que a sociedade insiste em lhe ensinar
E de pai pra filho o racismo passa
Em forma de piadas que teriam bem mais graça
Se não fossem os retratos da nossa ignorância
Transmitindo a discriminação desde a infância
E o que as crianças aprendem brincando
É nada mais nada menos do que a estupidez se propagando
Nenhum tipo de racismo - eu digo nenhum tipo de racismo - se justifica
Ninguém explica
Precisamos da lavagem cerebral pra acabar com esse lixo que é uma herança cultural
Todo mundo que é racista não sabe a razão
Então eu digo meu irmão
Seja do povão ou da "elite"
Não participe
Pois como eu já disse racismo é burrice
Como eu já disse racismo é burrice

Racismo é burrice

E se você é mais um burro, não me leve a mal


É hora de fazer uma lavagem cerebral
Mas isso é compromisso seu
Eu nem vou me meter
Quem vai lavar a sua mente não sou eu
É você.

EN C A M I N H A M E N T O:

Nesta letra Gabriel tanto fala do “mito da democracia racial”, quanto denuncia a
maneira como esta concepção ideológica vem sendo transmitida à sociedade, constituindo de
forma ampla o “racismo à brasileira”, fundamentado na negação da discriminação quanto dos
efeitos da ideologia do branqueamento. Aborda também aspectos ligados às práticas
discriminatórias (desde xingamentos e piadas preconceituosas até a violência física contra a
população negra).
Um encaminhamento possível é o levantamento de como os preconceitos se edificam
na sociedade, de que forma se articulam e atuam para a manutenção de benefícios e
privilégios de determinados grupos sobre outros. Tal levantamento pode ser expandido para
outros grupos discriminados ou excluídos como GLBTs, nordestinos, mulheres, ciganos e
outros, buscando observar como se expressa e quais os efeitos da discriminação em que
alguns são vítimas desde violência simbólica até morte.

Todo camburão tem um pouco de navio negreiro – O Rappa


CD: O Rappa
Composição: Marcelo Yuka

Tudo começou quando a gente conversava


Naquela esquina alí
De frente àquela praça
Veio os homens
E nos pararam
Documento por favor
Então a gente apresentou
Mas eles não paravam
Qual é negão? qual é negão?
O que que tá pegando?
Qual é negão? qual é negão?

É mole de ver
Que em qualquer dura
O tempo passa mais lento pro negão
Quem segurava com força a chibata
Agora usa farda
Engatilha a macaca
Escolhe sempre o primeiro
Negro pra passar na revista
Pra passar na revista

Todo camburão tem um pouco de navio negreiro


Todo camburão tem um pouco de navio negreiro

É mole de ver
Que para o negro
Mesmo a aids possui hierarquia
Na áfrica a doença corre solta
E a imprensa mundial
Dispensa poucas linhas
Comparado, comparado
Ao que faz com qualquer
Figurinha do cinema
Comparado, comparado
Ao que faz com qualquer
Figurinha do cinema
Ou das colunas sociais

Todo camburão tem um pouco de navio negreiro


Todo camburão tem um pouco de navio negreiro

EN C A M I N H A M E N T O:

A letra denuncia permanências do sistema escravista presentes, incutidos na


mentalidade e práticas de parte da população e contribuem para a manutenção do racismo que
atinge de forma particular os jovens negros, revelando uma sinonímia que relaciona esse grupo
à marginalidade. O compositor, na primeira parte da música, refere-se a uma situação do
cotidiano que é reveladora de preconceito e discriminação em relação aos negros na sociedade
brasileira. É interessante propor que os alunos identifiquem-na.
Uma possibilidade de trabalho é observar como os órgãos repressores articulam sua
efetiva função – a de proteger a sociedade – com a prática vigente, em que jovens, do sexo
masculino, de classe baixa, predominantemente negros, são as maiores vítimas. É possível
propor uma grande pesquisa na internet, nos jornais, revistas e na própria comunidade sobre
os números e exemplos de tais situações.
Tal pesquisa pode culminar na produção de um seminário, buscando evidenciar tal
realidade.

A mão da limpeza- Chico Buarque e Gilberto Gil (1984)


LP Raça Humana, 1984.
Composição: Gilberto Gil
O branco inventou que o negro
Quando não suja na entrada
Vai sujar na saída, ê
Imagina só
Vai sujar na saída, ê
Imagina só
Que mentira danada, ê

Na verdade a mão escrava


Passava a vida limpando
O que o branco sujava, ê
Imagina só
O que o branco sujava, ê
Imagina só
O que o negro penava, ê

Mesmo depois de abolida a escravidão


Negra é a mão
De quem faz a limpeza
Lavando a roupa encardida, esfregando o chão
Negra é a mão
É a mão da pureza

Negra é a vida consumida ao pé do fogão


Negra é a mão
Nos preparando a mesa
Limpando as manchas do mundo com água e sabão
Negra é a mão
De imaculada nobreza

Na verdade a mão escrava


Passava a vida limpando
O que o branco sujava, ê
Imagina só
O que o branco sujava, ê
Imagina só
Eta branco sujão

EN C A M I N H A M E N T O:

A opção de assistir ao vídeo com a interpretação de Gilberto Gil e Chico Buarque é


interessante porque o vídeo motiva a discussão do tema, uma vez que, nele, Gilberto Gil
aparece vestido de branco, com o rosto pintado de branco, e Chico Buarque aparece vestido
de preto, com o rosto pintado de preto. Gilberto Gil inicia a música mencionando uma
expressão infeliz que aparece muitas vezes em situações de preconceito e discriminação aos
negros: “O branco inventou que o negro quando não suja na entrada vai sujar na saída”. É
interessante propor que os alunos identifiquem na música elementos que permitem explicar
porque o compositor refere-se à expressão acima mencionada como mentirosa.

Leia o que disse Gilberto Gil a respeito da composição da música “A mão da limpeza”:

“Eu fiz A Mão da Limpeza para repor certas coisas no lugar e remendar um preconceito
histórico contra os negros; para responder, no mesmo tom, um desaforo - o velho ditado:
'Negro, quando não suja na entrada, suja na saída.
Ocorriam-me imagens de lavadeiras lavando roupa nas beiras de rios, por que eu passei no
interior da Bahia e outros lugares; de cozinheiras negras, jovens e velhas, espalhadas pelas
cozinhas do Brasil; de várias faxineiras limpando as casas. Ocorria-me com muita nitidez o
quão importantes são os negros para o trabalho de limpeza em geral que é feito na vida, e
também com tamanha nitidez o quão sujadores são exatamente os que têm mais recursos, os
mais ricos, os mais beneficiados da sociedade que, em sua grande maioria, correspondem à
classe mais clara, a faixa mais branca.
Quer dizer, os negros são tão maciçamente empenhados na função da limpeza da comunidade
e acabam sendo acusados de ser os sujões. No fundo, o provérbio tem uma conotação
nitidamente moral, além de física; o que se tenta considerar como sujo no negro é sua
existência, sua pessoa, sua condição humana. Nesse sentido é muito mais terrível, e a música
nem alcança a dimensão da crítica disso; ela apenas toca nisso.
Mas jogando a sujeira como algo produzido preferencialmente pelos brancos, ela faz a limpeza
da nódoa que quiseram impor aos negros. E deixa implícita também uma condenação moral
aos brancos. Ou seja: 'Sujos na verdade são vocês, de corpo e alma; pelo menos, mais sujos
que os negros vocês são. Há muito mais sujeira a apurar ao longo do processo da civilização
de vocês do que da nossa.' É o que a música diz. E ela diz o que tem a dizer, com
contundência e eficácia."

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