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CONTEÚDO: ESCRAVIDÃO
De manhã cedo
Num lugar todo enfeitado
Nóis ficava amuntuado
Pra esperá os compradô
Dispois passava
Pela frente dum palanque
Afincado ao pé de um tanque
Que chamava bebedô
E nesse dia
Minha véia foi comprada
Numa leva separada
Prum sinhô mocinho ainda
Minha veinha
Era a flô dos cativeiro
Foi inté mãe de terreiro
Na família dos Kambinda
No mesmo dia
Em que levaram minha preta
Me botaram nas grieta
Que é pra mó de eu não fugir
EN C A M I N H A M E N T O:
A venda dos escravos vindos da África era feita em praça pública, através de leilões,
mas o comércio de negros não se restringia à venda do produto do tráfico. Transações
comerciais com escravos eram comuns no Brasil. A letra da música revela como os negros
escravizados eram comercializados, como se fossem mercadorias. Nos leilões, os vínculos
familiares dos cativos não eram respeitados. Filhos eram separados dos pais, assim como os
casais, como revela a letra.
Tudo indica que a história retratada se passa no final do século XIX, período em que
ocorre a abolição dos escravos. O personagem principal cita “as alforria” concedidas pela
Princesa Isabel. Além do comércio de escravos, o professor pode abordar a libertação dos
escravos utilizando esta letra. No final, a música confirma que após a abolição, a vida dos
negros brasileiros continuou muito difícil. O estado brasileiro não se preocupou em oferecer
condições para que os ex-escravos pudessem ser integrados no mercado de trabalho formal e
assalariado. Muitos setores da elite brasileira continuaram com o preconceito. Prova disso, foi a
preferência pela mão-de-obra européia, que aumentou muito no Brasil após a abolição.
Portanto, a maioria dos negros encontrou grandes dificuldades para conseguir empregos e
manter uma vida com o mínimo de condições necessárias (moradia e educação
principalmente).
Se a dona se banhou
Eu não estava lá
Por Deus Nosso Senhor
Eu não olhei Sinhá
Estava lá na roça
Sou de olhar ninguém
Não tenho mais cobiça
Nem enxergo bem
Eu só cheguei no açude
Atrás da sabiá
Olhava o arvoredo
Eu não olhei Sinhá
Se a dona se despiu
Eu já andava além
Estava na moenda
Estava para Xerém
EN C A M I N H A M E N T O:
ENCAMINHAMENTO:
A composição de Caetano Veloso é feita a partir de excerto do poema homônimo de Castro
Alves (estrofes IV e V). Navio negreiro é o nome dado aos navios de carga que cruzavam o
Atlântico transportando escravos da África para as colônias da América e Caribe, entre os
séculos XVI e XIX. Os escravos ficavam presos a correntes no porão das embarcações,
amontoados, mal alimentados e em péssimas condições de higiene. Tanto o poema quanto a
música apresentam-se como possibilidades para o professor abordar o tráfico de escravos e
escravidão em sala de aula.
Existiu
Um eldorado negro no Brasil
Existiu
Como o clarão que o sol da liberdade produziu
Refletiu
A luz da divindade, o fogo santo de Olorum
Reviveu
A utopia um por todos e todos por um
Quilombo
Que todos fizeram com todos os santos zelando
Quilombo
Que todos regaram com todas as águas do pranto
Quilombo
Que todos tiveram de tombar amando e lutando
Quilombo
Que todos nós ainda hoje desejamos tanto
Existiu
Um eldorado negro no Brasil
Existiu
Viveu, lutou, tombou, morreu, de novo ressurgiu
Ressurgiu
Pavão de tantas cores, carnaval do sonho meu
Renasceu
Quilombo, agora, sim, você e eu
Quilombo
Quilombo
Quilombo
Se Zumbi
Guerreiro-guardião
Da Senzala Brasil
Pedisse a coroação
E por direito o cetro do quilombo
Que deixou por aqui
Nossa bandeira era
Ordem, progresso e perdão
É Zumbi
Babá dessa nação
Orixá nacional
Orfeu da Casa Real
Do carnaval do negro
Quilombola da escola daqui
O mestre-sala de Zambi
Na libertação
Parece que eu sou
Zumbi dos Palmares quando sambo
O príncipe herdeiro
Dos quilombos do Brasil
Sou eu, sou eu, Soweto
Livre, Mandela é Zumbi
Que se revive
Exemplo pro céu
De outros países como o meu
Sou eu orgulho de Zumbi
Que vem de Angola e de Luanda
Salve essa nação de Aruanda
Salve a mesa posta de umbanda
Salve esse Brasil-Zumbi
Palmares, Natiruts
CD: Povo Brasileiro (1999)
Composição: Natiruts
Ninguém ouviu
Um soluçar de dor
No canto do Brasil
Um lamento triste
Sempre ecoou
Desde que o índio guerreiro
Foi pro cativeiro
E de lá cantou
Negro entoou
Um canto de revolta pelos ares
No Quilombo dos Palmares
Onde se refugiou
E de guerra em paz
De paz em guerra
Todo o povo dessa terra
Quando pode cantar
Canta de dor
ô, ô, ô, ô, ô, ô
ô, ô, ô, ô, ô, ô
ô, ô, ô, ô, ô, ô
ô, ô, ô, ô, ô, ô
EN C A M I N H A M E N T O:
Ganga
Galanga era Ganga
De jaga e Catanga,
Quebrava com anga
Cafife e cafanga,
Galanga era Ganga...
EN C A M I N H A M E N T O:
Nascido em Galanga no Congo como um monarca guerreiro e sumo-sacerdote do
Deus pagão Zambi-Apungo, Chico Rei foi capturado com toda a corte por comerciantes
portugueses de escravos e vendido com o filho Muzinga no Rio de Janeiro, de onde foi levado
assim como tantos outros escravos africanos, em 1740 para trabalhar na mineração de ouro.
Sua esposa a rainha Djalô e a fi lha, a princesa Itulo, foram jogadas no oceano pelos marujos
do navio negreiro Madalena para aplacar a ira dos Deuses da Tempestade, que quase o
afundou.
Depois de servir cinco anos como escravo do major Augusto de Andrade Góis, Chico
Rei comprou, por meio do padre Figueiredo, sua carta de alforria, libertou o filho, conseguiu
comprar uma mina de ouro supostamente esgotada e, com o trabalho na mineração, alforriou
outros 400 cativos, entre os quais os integrantes da sua corte africana.
Protagonizando sua própria história Chico Rei, representa por um lado, como milhares
de outros africanos, a tragédia representada pelo sistema escravocrata, de outro, a permanente
luta pelo resgate da humanização, de dignidade e liberdade que constituiu em larga escala a
resistência do povo negro em solo brasileiro. Trabalhar questões relacionadas à diáspora
africana, as várias rotas de entrada dos escravizados em nosso país e a organização do reinos
e impérios africanos podem ser alguns dos encaminhamentos pedagógicos para essa canção.
Rubras cascatas jorravam das costas dos santos entre cantos e chibatas
Inundando o coração do pessoal do porão
Que a exemplo do feiticeiro gritava então
Glória aos piratas, às mulatas, às sereias
Glória à farofa, à cachaça, às baleias
EN C A M I N H A M E N T O:
Trabalhar com essa música em sala de aula contribui para melhor sistematização
e elaboração de idéias sobre a Revolta da Chibata, acontecimento histórico que está
profundamente relacionado ao passado escravista do Brasil. Ocorreu em 1910, período
em que o Brasil já era um país que, ao menos no papel, não tinha mais escravidão. Mas
em alto mar, a situação era outra. O convés de um navio da marinha lembrava a senzala.
Os marinheiros de baixa patente, em sua maioria afrodescendentes, eram tratados tal
qual escravizados. Mal alimentados, tinham uma jornada tripla de trabalho. Deslizes
eram punidos severamente com a chibata.
A música homenageia João Candido, marinheiro, timoneiro e o principal líder da
Revolta da Chibata. Defendeu os companheiros vítimas dos injustos castigos corporais
praticados nas embarcações brasileiras e sofreu duras penas por seus atos.
O movimento de 1910 foi muito mais que uma simples revolta instintiva e
espontânea. A rebelião não questionava a República e tampouco lutava pelo retorno da
monarquia. Seu objetivo era instituir uma nova relação de trabalho dentro da Armada e
lutar pelo reconhecimento dos pobres e negros da Marinha brasileira como cidadãos
livres e dotados de direitos.
Pride – U2
CD: The Unforgettable Fire (1984)
Composição: Bono Vox
One man come in the name of love Um homem veio em nome do amor
One man come and go Um homem veio e se foi
One man come, he to justify Um homem veio para se justificar
One man to overthrow Um homem para subverter
One man caught on a barbed wire fence Um homem foi pego numa cerca de arame
One man he resist farpado
One man washed on an empty beach. Um homem que resiste
One man betrayed with a kiss Um homem banhou-se numa praia vazia
Um homem traído com um beijo
In the name of love
What more in the name of love Em nome do amor
In the name of love O que mais em nome do amor
What more in the name of love Em nome do amor
O que mais em nome do amor
(nobody like you...)
(ninguém como você...)
Early morning, April 4
Shot rings out in the Memphis sky Manhã bem cedo,4 de Abril
Free at last, they took your life Tiros zumbem nos céus de Memphis
They could not take your pride Livre finalmente, eles tomaram a sua vida
Eles não poderiam tomar o seu orgulho
In the name of love
What more in the name of love Em nome do amor
In the name of love O que mais em nome do amor
What more in the name of love Em nome do amor
In the name of love O que mais em nome do amor
Em nome do amor
EN C A M I N H A M E N T O:
As músicas são homenagens ao pastor e ativista político norte-americano Martin Luther King, o
mais importante líder da luta pelo direitos civis dos negros nos Estados Unidos. Combateu o
preconceito e o racismo de forma pacífica, pregando o amor ao próximo como forma de
construir um mundo melhor, baseado na igualdade de direitos sociais e econômicos. Foi a
pessoa mais jovem a receber o Prémio Nobel da Paz em 1964. Era odiado por muitos
segregacionistas do sul dos E.U.A, o que culminou em seu assassinato no dia 4 de abril de
1968. Tornou-se um mártir da luta contra o preconceito e o racismo. As músicas podem ser
utilizadas em sala de aula ao se trabalhar a luta pelos direitos dos negros ao longo da História
e questões relacionadas ao preconceito e discriminação racial.
It was 25 years they take that man away Há 25 anos eles prenderam aquele homem
Now the freedom moves in closer every day Agora a liberdade se aproxima a cada dia
Wipe the tears down from your saddened Enxugue as lágrimas dos seus olhos
eyes entristecidos
They say Mandela's free so step outside Eles dizem Mandela livre, então pise lá fora
Oh oh oh oh Mandela day Oh oh oh oh Dia de Mandela
Oh oh oh oh Mandela's free Oh oh oh oh Mandela livre
It was 25 years ago this very day Há 25 anos nesse mesmo dia
Held behind four walls all through night and Preso entre 4 paredes durante noite e dia
day As crianças ainda sabem a história daquele
Still the children know the story of that man homem
And I know what's going on right through your E eu sei o que está acontecendo na sua terra
land
25 anos atrás
25 years ago Na na na na Dia de Mandela
Na na na na Mandela day Oh oh oh Mandela livre
Oh oh oh Mandela's free
Se as lágrimas estão fluindo, enxugue-as de
If the tears are flowing wipe them from your seu rosto
face Eu posso sentir a batida do coração dele
I can feel his heartbeat moving deep inside movendo-se profundamente
It was 25 years they took that man away
And now the world come down say Nelson Há 25 anos eles levaram embora aquele
Mandela's free homem
E agora o mundo protesta e diz Mandela livre
Oh oh oh oh Mandela's free
Oh oh oh oh Mandela livre
The rising suns sets Mandela on his way
Its been 25 years around this very day O sol nascente guia Mandela em seu
From the one outside to the ones inside we caminho
say Faz 25 anos nesse mesmo dia
Oh oh oh oh Mandela's free Desde o dia livre até os dias presos, nós
Oh oh oh set Mandela free dizemos
Oh oh oh oh Mandela livre
Na na na na Mandela day Oh oh oh o liberdade de Mandela
Na na na na Mandela's free
Na na na na o Dia de Mandela
25 years ago Na na na na o Mandela livre
What's going on
And we know what's going on 25 anos atrás
Cos we know what's going on O que está acontecendo?
E nós sabemos o que está acontecendo
Porque nós sabemos o que está acontecendo
EN C A M I N H A M E N T O:
Em 1988, o Simple Minds encabeçou uma série de concertos nos Estados Unidos e Europa,
juntamente com diversos artistas politicamente engajados. Tais concertos ficaram conhecidos
como Freedomfest, e tinham como intenção apontar os males do Apartheid na África do Sul. A
banda escreveu a canção "Mandela Day" especificamente para esta série de shows. A música
pode ser utilizada como elemento motivador da aprendizagem ao se estudar a trajetória de
Nelson Mandela, o mais poderoso símbolo da luta contra o regime segregacionista da África do
Sul. A música menciona o longo período em que Mandela esteve preso (de 1964 a 1990).
Escrita dois anos antes de sua libertação, a letra reivindica "Set Mandela free" (Libertem
Mandela!).
EN C A M I N H A M E N T O:
A história de um povo pode ser contada sobre várias perspectivas. Através seus
costumes, escritos, oralidade e até por meio da moda podemos identificar a organização
econômica, política e sociocultural de um grupo. Os cabelos, seus cortes e penteados também
podem ser registros que narram histórias. Sendo assim, o continente africano influencia e
inspira o mundo com sua diversidade cultural. Além dos ritmos, das cores, da culinária e da
herança genética, a cultura negra é referenciada na arte que nasce de tranças e penteados
afro. Estas extrapolando a função estética, podem também ser vistos como fontes de símbolos
que, revelam um sentimento de pertencimento, identidade.
Pontuar elementos identitários dos povos africanos que se contrapõem ao modelo
eurocêntrico estabelecido, pode ser uma das possibilidades de trabalho com essa música, que
também instiga uma pesquisa sobre os modelos de beleza construídos e a correlação entre
esses modelos e mídia.
Mama África
CD: Sem Limites (2001)
Composição: Chico César
Mama África
a minha mãe
mama África
a minha mãe
mama África
a minha mãe
EN C A M I N H A M E N T O:
Refrão
Refrão
EN C A M I N H A M E N T O:
a beleza zabelê
é uma forma de saber
de acreditar e ser
a beleza beleza beleza mano
em cada dia do ano
em toda hora vivida
pois quem entra pelo cano
há de encontrar a saída
saúde sossego gozo
quase sempre alegria
triste quando triste for
prá alcançar sabedoria
aprender com o engano
a reconhecer o exato
do demasiado humano
comer e lamber o prato
preto branco amarelo
é tudo mano parente
para embelezar o belo
zabelê siga em frente
doa a quem doer
nós somos do guarnicê
doa a quem doer
viva o amor e o prazer
EN C A M I N H A M E N T O:
Maracatu psicodélico
Capoeira da pesada
Bumba meu rádio
Berimbau elétrico
EN C A M I N H A M E N T O:
Discutir sobre o “mito da democracia racial”, que compreende questionar a falsa igualdade
entre os vários povos presentes na constituição da matriz brasileira pode ser uma proposta de
trabalho com esta canção que, além de ilustrar a diversidade étnico-racial em nossa sociedade,
também evidencia as contribuições desses diferentes grupos na formação da cultural nacional.
EN C A M I N H A M E N T O:
EN C A M I N H A M E N T O:
O texto nos remete à violência urbana própria dos grandes centros, mas também presente nas
áreas rurais, e principalmente a sinonímia que vincula diretamente o jovem negro à
criminalidade. A letra possibilita a reflexão acerca dos estereótipos relacionados à população
afrodescendente; a perspectiva da juventude quanto ao lazer, ao mercado de trabalho e à
progressão social. Pesquisar, com os alunos, que políticas poderiam ser aplicadas pelo
governo, no intuito de resolver estes problemas, pode ser um encaminhamento para essa
canção.
EN C A M I N H A M E N T O:
A música retrata uma constatação que se faz presente nos números acerca da desigualdade
racial no Brasil. Uma possibilidade é propor uma pesquisa sobre os índices de ocupação no
mercado de trabalho e quais os cargos comumentes “destinados” a população negra brasileira.
EN C A M I N H A M E N T O:
A música faz uma crítica ao preconceito racial e menciona situações no cotidiano em que ele se
torna evidente. Ressalta que não apenas as atitudes preconceituosas e racistas são danosas
ao convívio social; a falta de ação, a indiferença em relação ao próximo, é também prejudicial,
sobretudo quando motivada por idéias pré-concebidas e estereótipos. A música alerta que
pessoas que tentam se “isolar” da pobreza e das injustiças sociais que assolam nosso país,
são perpetuadoras das desigualdades, pois nada fazem a respeito, podendo ser vítimas da
violência decorrente da marginalização das camadas mais pobres da população.
Além dessa reflexão, outras atividades podem ser propostas, como por exemplo, uma pesquisa
sobre as pessoas citadas na música, personalidades negras de grande expressão e influência
no movimento negro, no reggae e no hip hop.
PS. O trecho “Crianças não nascem más, crianças não nascem racistas” é inspirado numa
famosa frase de Nelson Mandela: "Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele,
por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se
podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar."
Racismo é burrice
Racismo é burrice
Racismo é burrice
O racismo é burrice mas o mais burro não é o racista
É o que pensa que o racismo não existe
O pior cego é o que não quer ver
E o racismo está dentro de você
Porque o racista na verdade é um tremendo babaca
Que assimila os preconceitos porque tem cabeça fraca
E desde sempre não pára pra pensar
Nos conceitos que a sociedade insiste em lhe ensinar
E de pai pra filho o racismo passa
Em forma de piadas que teriam bem mais graça
Se não fossem os retratos da nossa ignorância
Transmitindo a discriminação desde a infância
E o que as crianças aprendem brincando
É nada mais nada menos do que a estupidez se propagando
Nenhum tipo de racismo - eu digo nenhum tipo de racismo - se justifica
Ninguém explica
Precisamos da lavagem cerebral pra acabar com esse lixo que é uma herança cultural
Todo mundo que é racista não sabe a razão
Então eu digo meu irmão
Seja do povão ou da "elite"
Não participe
Pois como eu já disse racismo é burrice
Como eu já disse racismo é burrice
Racismo é burrice
EN C A M I N H A M E N T O:
Nesta letra Gabriel tanto fala do “mito da democracia racial”, quanto denuncia a
maneira como esta concepção ideológica vem sendo transmitida à sociedade, constituindo de
forma ampla o “racismo à brasileira”, fundamentado na negação da discriminação quanto dos
efeitos da ideologia do branqueamento. Aborda também aspectos ligados às práticas
discriminatórias (desde xingamentos e piadas preconceituosas até a violência física contra a
população negra).
Um encaminhamento possível é o levantamento de como os preconceitos se edificam
na sociedade, de que forma se articulam e atuam para a manutenção de benefícios e
privilégios de determinados grupos sobre outros. Tal levantamento pode ser expandido para
outros grupos discriminados ou excluídos como GLBTs, nordestinos, mulheres, ciganos e
outros, buscando observar como se expressa e quais os efeitos da discriminação em que
alguns são vítimas desde violência simbólica até morte.
É mole de ver
Que em qualquer dura
O tempo passa mais lento pro negão
Quem segurava com força a chibata
Agora usa farda
Engatilha a macaca
Escolhe sempre o primeiro
Negro pra passar na revista
Pra passar na revista
É mole de ver
Que para o negro
Mesmo a aids possui hierarquia
Na áfrica a doença corre solta
E a imprensa mundial
Dispensa poucas linhas
Comparado, comparado
Ao que faz com qualquer
Figurinha do cinema
Comparado, comparado
Ao que faz com qualquer
Figurinha do cinema
Ou das colunas sociais
EN C A M I N H A M E N T O:
EN C A M I N H A M E N T O:
Leia o que disse Gilberto Gil a respeito da composição da música “A mão da limpeza”:
“Eu fiz A Mão da Limpeza para repor certas coisas no lugar e remendar um preconceito
histórico contra os negros; para responder, no mesmo tom, um desaforo - o velho ditado:
'Negro, quando não suja na entrada, suja na saída.
Ocorriam-me imagens de lavadeiras lavando roupa nas beiras de rios, por que eu passei no
interior da Bahia e outros lugares; de cozinheiras negras, jovens e velhas, espalhadas pelas
cozinhas do Brasil; de várias faxineiras limpando as casas. Ocorria-me com muita nitidez o
quão importantes são os negros para o trabalho de limpeza em geral que é feito na vida, e
também com tamanha nitidez o quão sujadores são exatamente os que têm mais recursos, os
mais ricos, os mais beneficiados da sociedade que, em sua grande maioria, correspondem à
classe mais clara, a faixa mais branca.
Quer dizer, os negros são tão maciçamente empenhados na função da limpeza da comunidade
e acabam sendo acusados de ser os sujões. No fundo, o provérbio tem uma conotação
nitidamente moral, além de física; o que se tenta considerar como sujo no negro é sua
existência, sua pessoa, sua condição humana. Nesse sentido é muito mais terrível, e a música
nem alcança a dimensão da crítica disso; ela apenas toca nisso.
Mas jogando a sujeira como algo produzido preferencialmente pelos brancos, ela faz a limpeza
da nódoa que quiseram impor aos negros. E deixa implícita também uma condenação moral
aos brancos. Ou seja: 'Sujos na verdade são vocês, de corpo e alma; pelo menos, mais sujos
que os negros vocês são. Há muito mais sujeira a apurar ao longo do processo da civilização
de vocês do que da nossa.' É o que a música diz. E ela diz o que tem a dizer, com
contundência e eficácia."