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Afro-sambas como um LP que tem que ser entendido como contendo 2 lados:
muitos sambas com temática e sonoridade de macumba entre 1917 e 1932. A partir de 32
há uma adequação dos padrões estéticos do samba p/ público consumidor de uma indústria
da diversão padronizada. “samba fonográfico”, “desmacumbização”.
o tambor no candomblé é iniciado como um ente, ritualizado para que faça essa conexão
lembrar que candomblé é um transe de expressão. orixás, voduns e inquices moram dentro
de você. os rituais são as expressões desses corpos
nos candomblés de angola (banto) os toques são mais soltos e feitos com a mão
3 toques: abuzenza, cabula, congo
SEGUNDA AULA:
LADO A (dialoga com o candomblé baiano, a mitologia dos orixás)
CANTO DE OSSANHA
- Dialoga com dois mitos bastante conhecidos de Ossanha, que não exigiam grande
conhecimento da cultura de terreiro.
(mito do canto de ossanha: um rei, certo dia, quis casar sua filha mais velha, mas só daria
sua filha em casamento se o pretendente soubesse o nome de suas três filhas. Anuncia o
concurso no mercado. Ossanha, interessado em casar com a filha do rei, se esconde numa
árvore de Obi e começa a imitar um pássaro, com perfeição. As três filhas do rei, que
brincavam nas redondezas, escutam seu canto irresistível. Disfarçado de pássaro, ossanha
indaga seus nomes e elas revelam. Ossanha então vai ao palácio do rei, ganha o concurso
e desposa a filha mais velha.)
Ossanha é o que imita o canto de qualquer pássaro. É o canto que ilude, que seduz, que
atrai. Matreiro, enganador.
(mito da briga entre Ossain e Xangô: Ossain pega as folhas que curam, dadas a ele por
olodumaré. Ossain coloca as folhas numa cabaça, pendura elas ali. Xangô fica totalmente
curioso, convence Oiá a ventar para derrubar a cabaça, que estava no alto da árvore. Mito
do compartilhamento do saber. Cada orixá se apodera de uma folha. Os orixás sacaneiam
ossain: “você não tem mais utilidade”. Mas é Ossain que detém o saber de qual é o canto
certo para despertar o poder da folha. Ossain ensina os cantos errados para cada orixá. Os
orixás ficam perdidos, Xangô fica indignado. Aí surge uma rivalidade entre ambos.)
Tradição de terreiro da música responsiva: há alguém que puxa e alguém que responde.
Violão de Baden Powell nesta faixa faz um ritmo de korin ewé, embora a estrutura da
música seja um samba.
oráculo do candomblé jeje nagô (iorubá): o jogo dos búzios, conforme a combinatória que
sai (odu, signo), faz referência a um mito. Esse mito diz respeito à sua pergunta ao oráculo,
mas cabe a você interpretar de que maneira o mito revela algo sobre a sua história. se você
quer saber se embarca ou não em uma relação amorosa e o oráculo te responde com o
mito do canto de ossanha, você tem que entender se no mito você é ossain, a filha ou o rei.
melodia em tom menor: embrenhar na floresta, aos poucos, melodia meio labirinto. melodia
em tom maior: se abre a clareira.
CANTO DE XANGÔ
Xangô no candomblé brasileiro: Orixá famoso, desde a primeira casa do candomblé baiano
(barroquinha), que era dedicada a xangô.
Xangô é um personagem histórico, o quarto rei (Alafum) da cidade de Oió. Oió viveu seu
apogeu quando dominou uma área que ia desde o vale do Niger até o Daomé (atual
Benim). Império altamente militarizado e expansionista, que dominou outros povos.
Explicação possível para a expansão do culto de Xangô.
Xangô teria se matado por conta de uma grande vergonha. Mas seus súditos negam, dizem
que ele se encantou no fogo, entrou por um buraco na terra, tornou-se um orixá.
saudação a xangô: oba coço araê obanixé kawo cabecilê (o rei não se matou, venham ver o
rei, ele está na terra)
mitos de xangô, ligados ao amor e à justiça. Xangô se envolveu com quatro mulheres:
oxum, oba, oia, iemanjá (que em outros mitos é sua mãe). (pro simas, quarteto em si
cumpre o papel das quatro mulheres)
xangô antigamente tinha quatro toques: batá, alujá, tonitobê e kakakaumbó. atualmente,
com raras exceções, o que se toca para xangô o alujá (buraco, em português, segundo
verger).
(a música, para os africanos, pode alterá-lo fisicamente. Guerra peixe, no terceiro congreso
afro-brasileiro, realizado no recife, faz uma comunicação em que compara as escalas
sudanesas com a tradicional escala pentatônica chinesa.)
agodô: uma qualidade de xangô. xangô mais velho, mais do mato do que do palácio. o
velho que dá conselho
BOCOCHÊ (O SEGREDO)
(bocochê: palavra que não quer dizer nada, segundo todo mundo que estudou)
canto sobre a morte no mar, uma menina que sabe que vai morrer. homenagem às canções
praieiras de caymmi (segundo a hipótese do simas)
resposta a “O Mar” de Caymmi: a interlocutora do eu-lírico é rosinha de chica, a
personagem de Caymmi.
IEMANJA
TEMPO DE AMOR
- percussão,
- violão ritmado,
- violão com baixaria,
- ritmo binário
simas supõe uma referência ao mito de oxaguiã (jovem oxalá, o santo da cabeça de
vinicius, feito por mãe menininha), que termina de construir um imenso castelo e sente uma
“agonia da paz”. Pois ele precisa da motivação da tormenta, da guerra (oxaguiã é o senhor
da guerra). Oxaguiã destrói o castelo que ele próprio construiu.
relação com o CANTO DE OXALUFÃ, um igbin para o velho oxalá em parceria com
Toquinho.
Samba de caboclo = gênero típico dos candomblés, tocado nos finais dos xirês.
(na tradição baiana bate-se o samba dos caboclos no 2 de julho)
Na mística do samba de caboclo, cada instrumento é uma pessoa, e tem um gênero. O
pandeiro é homem, a viola é mulher. Nos versos de vinícius, são os elementos masculino e
feminino em tensão:
Masculino x feminino
(joãozinho) (arlete)
TRISTEZA E SOLIDÃO
Consulta ao babalaô (babalorixá, o sacerdote do culto iorubano aos orixás, que consulta o
ifá, os búzios, e informa o mito sorteado ao consulente). O babalaô consulta o orum-ilá. O
personagem vai ao babalaô, mesmo sendo umbandista.
Pode perfeitamente ser o personagem dos outros sambas. É o angustiado a cuja angústia
vem responder os mitos tratados no resto do disco
Para pedir pra ela voltar pra mim/ por que assim eu sei que vou morrer de dor = versos
ambíguos. parece que ele vai morrer de dor se ela não voltar, mas também parece que ele
vai morrer de dor se ela voltar. É a ideia do tempo de amor. “Você vai se entregar e vai ser
uma catástrofe, mas vai”. O personagem optou por entrar na floresta e entrar no canto de
ossanha.
LAMENTO DE EXU
Normalmente exu é quem abre tudo, é aquele que é cantado primeiro no xirê.
ordem do xirê: orgum, oxossi, ossanha, omolu, oxumaré, ibeji, xangô, oxum, iansã,
iemanjá… oxalá.
em toda casa do candomblé, antes do xirê você presta contas a exu (o padê). é uma farofa
que se faz pra exu. O objetivo do padê é você reverenciar exu. Há duas versões sobre a
necessidade do padê: uma versão diz que é pra você contemplar exu p/ que ele não faça
traquinagens e atrapalhe a festa. Outra versão diz que é porque exu é o grande
mensageiro. Liga o invisível (orum) ao visível (ayê). Ele tem que abrir os caminhos.
No padê, há duas sacerdotisas: a yadagã (prepara a farofa de exu) e yamorô (dança com o
padê de exu). No final da dança você leva o padê pra fora. Cerimônia que pode ser
assistida só por quem tem sete anos de casa (os outros membros tem que ficar de cabeça
abaixada). Canta-se e bate-se cabeça p/ ina, um exu primordial, o grande exu do tempo.
Não são pontos traquinas e fogosos como outros de exu. O canto a ina é um lamento, muito
sério.
Isso pressuporia que o lamento p/ exu abrisse o disco, e certamente a inversão não foi um
erro. Baden e Vinicius sabiam o que estavam fazendo. A faixa fecha o disco, e o fato dela
abrir caminhos indica que
É uma faixa corajosa, composta num momento em que se associava no imaginário popular
(como ainda hoje) exu e o diabo. Era muito raro nos candomblés você iniciar um fiho de
exu. Quando algum filho de exu aparecia, iniciava-se ele p/ ogum ou oxossi.
Vinicius, sobre o fato da faixa ser instrumental, disse que “todas as outras letras já são o
lamento de exu”.