Na noite de 24 de Novembro de 1945, estreou em Lisboa a peça teatral Os Maias,
encenada a partir de uma adaptação do romance queirosiano feita pelo intelectual açoriano José Bruno Carreiro. O espetáculo contou, então, com o apoio do Secretariado Nacional de Informação, por ter sido parte integrante das comemorações oficiais do primeiro centenário de nascimento de Eça de Queirós. O trabalho aqui proposto, baseado em documentos oficiais do SNI colhidos no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, levanta a hipótese de que o clímax da peça de Carreiro tenha sido censurado pelo filho de Eça e então subdiretor do SNI, António Eça de Queirós, por motivos morais e políticos, e de ter sido essa versão censurada do texto que chegou até nós através de uma edição da INCM em 1984. A consequência mais notável da censura que aqui se alega ter ocorrido seria o inteiro sumiço da personagem de Maria Eduarda no derradeiro ato da peça. A análise do episódio em questão pretende ser um estudo de caso a respeito dos fatores políticos que condicionam a sobrevivência da personagem ficcional, especialmente em contextos de exceção como o Estado Novo salazarista nos anos 1940.