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1 - O Passar dos Anos

O passar dos anos


Pôs panos quentes na testa doente do tempo
O vento que desfez teus planos
Também causou danos aos prédios do centro

É como estar dentro


De um grande sistema, um esquema de corrupção
Quem recusa os presentes do tempo
Recebe a visita maldita do cão

O passar da mão
Por entre os teus cabelos, sem tê-los
É tão bonito
Ridículo
Exato

É como Teatro
Por entre dois panos tu crias orgias e lutos
E o passar dos anos
Anestesia o passar dos minutos
2 - CENTELHA

Escrevo nas margens de um livro:


“Devora-me ou te decifro”
Escondo ele na tua estante, e quando eu vou ver
Estou mais triste do que antes
Nossa Senhora de Copacabana
Que o mundo aguente mais essa semana
Eu pego a Princesa Isabel e quando eu vou ver
O sol parece um ovo frito no céu
Nos chamam pra brincar de revolução
Mas as bombas também caem no verão
Eu tento tirar sarro

Mas esbarro na ponta do teu cigarro


Vermelha
Sem sono, sem dono, centelha

Um círculo nas costas, que elegante


Como o sol brilhando na costa do atlântico
Que um santo abra os caminhos todos pra você
O ser humano é tão sozinho
Te chamo pra fazer a revolução
Se somos a nossa própria tábua de salvação
Então eu me agarro

Mas esbarro na ponta do teu cigarro


Vermelha
Sem sono, sem dono, centelha
3 - Energia Negativa

Eu ando cheio de energia negativa


Minha saliva tá com gosto de rancor
Por favor não chegue perto
Eu estou certo de que eu vou te ofender
Quando eu penso “eu te amo”
O que eu digo é: “vai se fuder”

Tá esquisito, minha onda tá pesada


E não tem nada mais que eu possa fazer
Além de esperar passar
Até lá sou o maior prejudicado
Quando eu me encontro pela rua todo triste e mal-humorado
Eu não me aguento e atravesso pro outro lado

Mas quando eu olho o céu noturno


Vejo que isso tanto faz
A culpa é de mercúrio
Que tá retrógrado demais
Que tá retrogrado demais
Ele tá retrógrado demais

Eu ando cheio de energia negativa


Tô emanando raiva, dor e frustração
Eu não tenho condição
De conviver com as pessoas normais
Enquanto todos dizem “namastê, amor e paz”
Eu cultivo inveja, ira e outros pecados capitais
4 - A Origem do Mundo

A origem do mundo aconteceu pra valer


Em mil oitocentos e sessenta e seis
Foi uma tela pintada por Gustavo Courbet
Pelo nome já se vê que era um francês

Não me fale De Big Bang


Nem me vem falar de Deus
Eva e Adão
Abra a sua Mente
É o francês que tem razão

A Origem do Mundo de Courbet


Possui a mais bela das mensagens
Se ficou curioso pra saber por que
Não posso dizer,
Procure você
No Google Imagens
c - o - u - r - b - e - t (Courbet!)
Não posso dizer,
Procure você
No Google Imagens
5 - Passo de Aranha

Foi meu pai que me ensinou


A andar que nem aranha
Na parede da montanha
Pra evitar cair
O pé é ajudado pela mão
A gente gruda no chão pra mais alto subir
A mão é ajudada pela manha
A passo de aranha que eu cheguei aqui
Mas fui eu que ensinei meu pai
O rolamento de judô
Agora quando ele cai, pode levantar
sem morrer de dor
6 - Aquela voz

Quando o vento uiva


Produz a nota aguda
Que me lembra aquela voz
Aquela voz que você usa
Quando a gente está a sós
E eu tiro a sua blusa
7 - A tragédia de Luz del Fuego

Ela não fumava e não bebia


Tinha um verdadeiro horror às drogas
Fez sua casa nas águas da baía
Pois não sabia que a luz do fogo também se afoga
Eis o enigma da cobra

Era adepta da helioterapia


Chamou a sua ilha “sol”
Pois cria num eterno dia
E na nudez total, frontal, moral, nudez de jó
Ela fundou o abricó

Luz del Fuego


Luzes da cidade
É bom quando eu chego no Santos Dumont
Sentir tua verdade

Ganhava a vida como artista


Não havia palco que chegasse
Picadeiros, teatros de revista
E (eu estaria sendo injusto se não comentasse)
Alcovas de alta classe

Viabilizou seus planos


Com sedução e malandragem
Mas durante todos esses anos
Dora Vivacqua nunca professou libertinagem
O meio era a mensagem

Fez do seu corpo uma utopia


Mas ele já não respondia bem
E a cada ruga e cada estria
Via que o rio lhe retribuía com desdém
Destino tarda mas vem

Morreu em uma noite fria


Estava em sua ilha só
Quem a matou supôs que havia
Em sua ilha brilhantes, diamantes, ouro em pó
Mas só havia suor
8 - Cicatriz

É preciso ser feliz


E aceitar que a vida acerta
Nem que seja por um triz
Cura-se a ferida aberta

É precisamente aí
Onde a vida é por um fio
Onde o fio da navalha para
É aí que eu sorrio

Onde o fio da vida estica


Que é preciso ser feliz
A dor passa e a gente fica
Mesmo que com cicatriz
Estar vivo não se explica
Não importa o que se diz

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