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Dedicado a minha mãe Crisbele Carvalhaes de

Oliveira pela ajuda na batalha contra meus erros.

Dedicado a minha avó Cybelle Carvalhaes de


Oliveira na luta árdua do dia-a-dia.

Dedicado ao meu queridíssimo amigo Dr.


Hidemitsu Hishinuma por ter me consolado com
suas sábias decisões e por ter acreditado sempre
no meu talento que tantos até então não
acreditavam.

1
2
Minha luta

De

Jefferson Carvalhaes

3
À aurora com muito carinho

Quebranto as cinzas

No cárcere da aurora

Sinto o amolecer

Da petulante rosa

E nesse agoura de sensata robustez

Sou o marchand de gloriosa luz de outrora,

Sei falar em dialeto

Sei falar por pedrinhas

Mas também sei falar por nomeadas palavras secretas.

Já vi meus filhos socorrerem crentes

–Também carentes, aqui entre nós –

De manhã sou lobo

Grito como corcundas

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Sou isso

Sou aquilo

E na esmerada erupção

Existem muitos

Eu sou este

Aquele

Eu sou todos

Porém ninguém me reconhece,

A vida é um rumo,

Sinto,

Bato,

Escondo

E deliro

Nas entrementes

Das chamuscadas

E impenetráveis

Também sondáveis

Nomenclaturas de Nero.

5
Se tu quiseres... Ah, e eu sei que tu queres

Terá de me dar uma mariposa, uma bruxa, na linguagem


popular

E mesmo que o tempo para todos nós

Seja como a fuligem apaziguada

Se isso é muito

Demasiado muito

Conseqüência fatal

Os carcamanos abraçarão nossas amebas

E jogar-nos-ão aos canibais.

6
Os braços do moribundo

Isso é difícil para mim

É rústico para nossos senhorios

É rio de esqueletos ambulantes

E na pousada noite

Eu deito no matagal

Berro comigo

E com todos

E nessa esmerada contrição

Abraço meu ego

Que se esconde na vértebra inerente.

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O homem

Abrem-se os rios

E na enumerada morte

Somos todos hipócritas

Escravos! Escravos!

Isso, isso,

Não temos,

Para continuar

Contribuir

E na esperança

Agarrar este desprezo

Suscetível

Nada é para outros

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Somos esta fixa palavra

E para estas coisas vãs

Este será a constante aberta

Ou mesmo reclusa oligarquia

Oligarquia esta que conterá o resumo dos passos

Passos nossos mortos

Passos nossos vivos

Passos nossos altivos

Eu passo morto

Dane-se

Eu sou

Eu sou

Eu sou

Eu tenho

E tudo está

E tudo terá

Este será

Mundo, mundo, mundo,

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Que as características sirvam a mim,

E para tanto crucifixos são coisas outorgadas.

Todo homem tem direito de morrer,

Todo homem tem direito de viver,

Isso é para todos

Para cada qual

Para outros úteros

E auréolas.

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Minha vida em quatro atos

Foi-se em quatro atos minha vida


Mudaram-se os versos

Eu não mudei

Eu sou aquela criança no leito de morte

Sou aquele patrono

Que tanto estaca

E tenho sangue nas mãos

Sou horrível

Sou medonho

Porém meus olhos castanhos

Minha coluna corcunda

E meu jeito brigão

Meio que de irlandês

Não conduz a nada

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Esse fato é bem marcante para cada um de nós

Tanto faz se na chamuscada lareira

Dormimos tão lúgubremente

Tanto faz se o mundo morre

Se a vizinha se irrita,

É culpa nossa, eu sei

Mas e daí?

Essas passagens são medonhas.

Ah,

Se Deus me visse

E se na onda o crispo rosnasse

Isso é demasiado rito.

Tem prego

Tem fuligem

É carruagem
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É no solo estéril

De ameba que se refaz

E não se atém

Não se atém

É perversão que se acomete.

13
Mataram-me sete vezes

Aquela serpente

Aquela serpente me matou

Matou-me no leito

Matou-me no sacerdócio

Matou-me nas regras.

Aquela serpente

Aquela serpente matou-me

Matou-me entre os beiços

Matou-me entre tantas extorquidas divagações.

Aquela serpente... maldita por Ramsés

Aquela serpente matou-me,

Matou-me a serpente

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Aquela serpente matou-me

A serpente matou-me

Aquela

Aquela serpente matou-me.

15
Um tempo no inferno

Estou sentido frio

Num estado de suor

Sinto-me impermeável

Numa agrura de doença

Sinto que o tempo ruge

Para que todas as coisas passem

E como se o tempo não me revidasse

As coisas são simples e blasfemáveis.

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Um tempo no paraíso

Não existe isso

De tempo evasivo

Nem aquela estória

De cunhados tangíveis

Tempo disforme

É tempo oco

E tempo passado

É tempo de porco

Tais tempos, cheios de dentes

Muito transparentes

Me perturbam na madrugada

E na sabatina

Escuto uma rima

Só para me sufocar

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Nas sábias usinas de força e latrina.

Tenho fogo,

Tenho inferno,

Mas também,

Tenho garras de ferro.

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Um tempo no vazio

Diz sim

Diz não

Mas à quê

É aproprio?

No seio não tem nada

Não tem gente

Não tem esperma

“Não”, ela me disse,

É gota, é gota,

Mas a gota que cai

A gota que se esvai

É gota de excremento

Contatada pelo vento

E nisso

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Nesse ritmo

“Saia”, ela disse

E ele

Em seu pardinheiro

Muito mais austero

Contribuiu para a petulância

De sua completa

E tolerada infância

Já na vida

Já no fim

Já na apaziguada

Sob completo jasmim.

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Pai

Filhos!

Oh, Pai, se fores vossa verdade que venham com


grinalda

Filhos!

Oh, Pai, se fores vosso lamento que não venha com


remendo sob um punhado de dissociações e
guerreiros de isento...

Filhos!

...por que se a chave em ti guardar meu bem em ti o


mal não irás reinar.

21
Filhos! Se tem ouvidos ouça, erga vossa fronte e
olhe adiante, o que vês?

Erguei-me: Um céu pintado de verde; agora eu


entendo.

22
Alquimia do poeta

Alude esta que consome peste

Peste aqui

Cabelo roxo

Eu sou

Mas não sabereis

E quando menos vier trazer

Seu bem

Seu mausoléu

Será para o mal

Há sete palmos da rocha

Transtornada de papel.

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Testemunhos de um sacramento

Atire! O que?

Atire! Mas o que meu senhor?

Atire! Atire! Atire! Atire! Atire! Atire! Atire!

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O que disse o chapeleiro

Esta condolência não rege taciturnos úmidos

Tem poder para apodrecer

Poder para extorquir

Poder para poluir

Mas não areja

Pois no carvão

– Isso mesmo, no carvão –

Existe feltro de urubu

E reumatismo de bruxo

Para além, para além

Traga-me e nisso eu bato o reverso

Morro com ciganos nas trevas.

25
O que disse a Lebre

Eu não vim para este mundo

Para ser objeto de desejo de gente

Vim para causar transtorno

Para fazer barulho

E com isso

Nessa perturbação

Eu consegui um complexo

E atrofiado

Tom rapunzel

De destilação.

Tem gente querendo meu desaparecer

E isto me custa

Me machuca

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Dói saber de tantas picadas

Saber tantas lavadas.

Falo para cantar o bojo

O bojo que há é cauteloso

E a cautela que na vida há de se usurpar

É cantar nocivo

Não tem o que demonstrar.

Para além disso

Tudo é poesia

Besteiras de gente grande não fazem sucesso nas


confeitarias de minha gente.

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Sou vermelho de capataz cinzento

As cores de minha infância eram:

Vermelho,

Vinho,

Vermelho,

Vinho
E vermelho; isso eu aprovo?

Quando no matagal eu fui atirado

Junto aos outros de retrato nazista

Pensei eu ser nazista por ascendência judaica

No entanto sofri como SS

Em seguida como povo oprimido

Contra meu partido não aturei resmungos


socialistas

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No banquinho da praça, afinal de contas, já era
judeuzinho

Apimentado digo-me apenas: Triste figura d’uma


criança contorcida.

Quem me dera um dia poder criar alguém

Que se parecesse de terno e gravata com o tal


Jeffinho que nunca haveria de se reter?

Noventa e oito por cento de mim era de vinho

Dois por cento era vermelho

E como quem grita nas escolas do Caribe

As práticas em meu corpo balançavam do avesso.

Enquanto dormia

O sono era fajuto

E enquanto sonhava

Os sonhos eram obscuros

Enquanto cria

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A criação era absorta

Para mais tardar

Nas obsoletas ressoantes e ponderáveis tardes


roucas.

30
Vida

Mede-se o rumo

Em perspectivas breves

São elas:

Elaboração terrena – para eliminar-se das coisas


radicais

Elaboração esporádica – entre atos banais

Elaboração transtornada – fica-se o recurso matinal

E elaboração consumista, oh, percurso astral.

Um dia sentei a beleza em meu colo

E pensei tê-la como a mais saborosa das amoras

Sem saber capturei o grão mais pesado dos cantos

E escolhi a caminhada do recanto

Fracassei de certa forma com todos

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Mas nem todos fracassaram comigo

E é isso que carrego em meu peito

O intuito de que amanhã não fracassarei com o


outro.

Esperança

Oh, esperança

Dá-me teu cantar

Pois destas soberanias

Extrairei meu minguar.

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Nos véus do Armageddon

Ah, não pode ser

Tantas coisas reclusas

Tantos tapas passados

Tantas riquezas tomadas

E nessa agrura um lamento aumentado?

Se do tratável retornar o sol

Eu direi o que sou

Sou apenas um farol

E disto morro

Disto nado

Nada

Vazio

Opaco

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...

Sim.

Existe luta para cima e para baixo, para todos os


lados

E para todos os cantos

E se disseres que queres um bem

Eu direi que irei um mal

Pois para a cura

A cura da carne

A sagacidade é a ambivalência.

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Ruínas de minha gente

Ruína é dor

Quanta dor

Quanta dor

E se queres

E se queres

Eu morro

Vi o sol

Virar gelo

Vi a noite

Virar sangue

Vi o dia

Escurecer

E vi o lago

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Endurecer,

Vi os cosmos

Serem partidos

Vi a valsa

Ser destratada

Vi os livros

Serem queimados

Vi Cristo

Ser crucificado

Vi Caim

Se esconder

Vi Nietzsche

Enlouquecer

Eu vi Rimbaud

Se demonstrar

Mas também vi Verlaine chorar


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Eu vi homens pedirem fogo

Num campo de alimento

Eu vi criança

Da mais miúda

Ser destratada

Por gente grande

Eu vi heróis

Serem espancados

E também vi grandes figuras

Serem alvos de pilantragem.

Mas se for pouco

Eu ainda digo

Que como ser também sofri

Eu vi a morte tão tão de perto

Que nenhum outro homem jamais quis


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Eu berrei nestas estradas

E fui alvo de gargalhadas

Fui coisa de gente boba

E gente ruim me fez de ato’a

Já abaixei o meu semblante

Mas não me curvei a delinqüentes

Porém já debocharam de minha gente

E tive medo mui delirante

Fui espancado por bicho-papão

Que me rebaixou a lesma de papel.

Hoje sou forte

Tenho nervos de aço

Tudo é passado

É história de Deus

Tenho minha mente danificada

Mas também sou cidadão protestante

Sem me curvar ao ateísmo


38
Sem me curvar ao eretismo

E findarei com meu bom Deus.

39
Hipócritas

Daqui

Desta distância mesmo

A alguns metros do exílio

Quebro tudo

Porém sei também que estou quebrado

E no ritmo

Ritmo inerente

De capacidade

Visto-me na senzala

Para ecoar a voracidade.

Oh, se os piratas ao lado

E se os anjos de ninguém

Gritassem: “Vão”,

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Tudo daria resumo,

Porém o cárcere fatal

O resmungo

O camundongo que nos ampara

É tão pequenino e fétido

Que nada adianta perante tanta hipocrisia.

41
Sacerdócio

Cure-me das chagas

“Não posso”

Mas se algo me acontecer tu pagarás o parto

E se da lama te esconderes

Todos verão vossa face.

Eu disse isso certa vez ao monte

O monte tomou-me

E esquentou-me

Um dia a mais saí como lobisomem

Como pedra partida

Ou quiabo retorcido, e nada ocorreu

Foi como ser um anão

Só que de pedra maior, só na coluna, só na coluna.

42
Mundo de ateu

Mundo

Eu sei que das chamas eu lhe pedi algo

Eu sei que fui algo para esta acoplada criatura de


sangue bimestral

Porém o sangue escorrido é sangue embutido nas


veias soltas; veias que circulam soltas;

Dentro do meu peito sinto saudade de Cristo

Dou de comer as crianças da praia

Caro cigano eu te amo

Que preconceito, Hum...

Aquele mundo,

Aquela cidade

E todos eles são de passagem anual

43
O negócio é a verdade

A verdade é que eu sei sobre todos

Todos são mentirosos, querem o meu mal

E como tal lêem aquela porcaria literária.

Só eu sei, só tu sabes, eles não sabem

Como então vamos juntos para a proa da


infelicidade

O recinto é para lá

Os centeios para cá.

44
Bate na resina

Quando o semblante regozijado se curvar para as


alamedas

E os alaúdes gritarem e se esfolarem sob luvas


emplumadas,

Casto sairemos da rochosa neblina finda

E beijaremos os fins dos rastros

Isso é o tempo do casaco virginal a mover-se


galopante

Pois no dominical servo de cadáver

Sairemos crepusculares

Em tão sábio infame.

45
Minhas mágoas

Este sol

Dependurado no crepúsculo

Esta espiga de milho

Massacrada em prelúdio

Tudo

São coisas que batem na gente em desafeto

Tudo

São objetos que nos ferem em reverso

Em verdade

Choramos em sacramento em débito.

46
Escada sob os confins

Minha vida é de fuligem

Meu minguar vem dos deuses

Meu passado não tem remorso

E meus antecessores não possuem reis.

Nisso testifico

Que meus pacientes cospem fogo

E minhas amantes desaparecem

Mesmo no suor da própria fronte

De pecado e de horizonte

Que meus amores são doentios

Para regar os horizontes.

47
As chagas de Jó

Às vezes sinto raiva substancial

Um tipo de caroço nocivo

Que reage aos pontos de meu corpo

E nisso

Nos absintos de meu ser

Eu sou um humano podre.

Tenho raiva destas pessoas

E tenho raiva destes bichos

Mas principalmente

– Dê-me licença –

Tenho raiva destes assobios.

48
Minhas três Marias

René, morreu

Adolph, se foi

Richard, voltou

Marie, suicidou-se

Paul, afastou-se

E Franz

Rebelou-se.

49
Trevas

De mel sou cacto

E disso

Eu me satisfaço

De neblina

Sou de rins

E sei

Que me torno por fuligens e varizes

Mas sei que minhas nucas

Mas rubras do que nunca

São cascões

Das sementes

Que me abalam

50
Como indigentes.

51
Eu posso

Quem sabe a outrora me abateu

Rios se chocaram e minha fronte

Destilei quase nada de saudade

E inundei graças de horizontes.

Quem sabe o vento seja bem carnudo

E suas pantalunas tenham ar de sobriedade

E deixem minhas jacintas um tanto pitoresca

Por apenas um ato de maturidade.

Quem sabe a vida seja um ato ilícito

E os caixões são curvas intrinsecamente leváveis

E no folgar da plena maturidade

Venha a pecar a cerca da vontade.

52
Balada da montanha

Pena!

Ótimo!

Ela sabe o que eu sinto

E nisso eu afirmo que me contradigo por dizer

Prazer, eu redigito

E caio no meu retroceder,

Na veia eu jacinto

No fim eu digo

Começo pós-falido

Na entranha do mal de seu querer.

53
Ecce Homo
(Uma filosofia do devasso)

A figura da criança perturbada fingiu não conheceu


quem aparentava ser conhecido

O Big Brother disse: “Matem esses porcos!”

Os presidentes do sul são mais espertos,

Chupa Sally, chupa!

Na sala ao lado os Obama’s estão morrendo

E como se não bastasse eu digo que desapareci.

O caixão que eu desconhecia voltou

O caixão que os homo fóbicos não aprovavam voltou a


funcionalidade

Os cristãos do Brasil são racistas

Os cristãos da América tendem a serem consumistas

Os telespectadores do mundo são do sistema

54
E os gays dizem: Chupa meu bem, chupa!

O psicólogo particular diz: Você está ótimo

O psiquiatra interfere:

Ele é louco

A televisão avisa:

Isso não faz mal algum

Porém o cirurgião indica:

Você irá pirar meu querido.

O escritor de terno e gravata avisa:

Por favor meu filho pare!

No entanto o junky avisa:

Hei, não sou teu filho porra nenhuma.

A bíblia diz para seguirmos o ensinamento da paz

Porém o instinto é a maldade

Então o que fazer ir ou entreter? :

55
O sistema diz boa-noite.

II

Quantos pais gritaram

No sol da esperança

Que tantas batalhas travaram a favor da desgraça

E no sotaque de esquecida discórdia

Bate Deus seus pés nas montanhas

Ouço ainda os passos Deste que resmunga as olvidas


retrações

É como se tudo valesse à pena

Entretanto não vale

Não vale mesmo,

Não vale nem um sustento de circunstância ou


prerrogativa

Vi retratos de formados afundarem na malícia

Vi gente boa ser comida pela desgraça

Pela abundância de coisa de esgoto

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Coisa podre,

Coisa ruim mesmo,

Mas minha luta não vale isso

Não vale esse caos que eu digo

Que eu digo

Que eu digo

Que eu digo

Porém eu tenho de dizer

Sinto que a raiva é sagrada

É com raiva que o receio da sarcástica ruína não levara


meu rumo a grandes conquistas

Tenho poder para voar

Porém pessoas boas não vêem isso

Pessoas boas não vêem nada

E as ruins? É tanto faz, correto?

Existem múltiplos ensinamentos a serem pregados

Mas o meu rastro é a desgraça

É o pecado

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É a desonra

É isso que julgo neste preguiçoso distante

Durante copiosas reações adorei ao ancestral

Fui julgado mal

Fui reverendo

Fui maldito

Fui maldito

Fui bendito

Fui malvado

Fui ancestral de gente ruim

Porém eu sinto tanto

Mas as lágrimas continuam

E nesta jornada eu erro.

Me ajoelho e oro

Olho para quem não consegue me enxergar

E isso é muito bem derivado

58
Sou uma pessoa amarga

Uma pessoa referida de cidades

Do que me vale cair nas constelações se a força pela


qual eu luto não sobrevoa o santificado?

Como é difícil acordar calado

Se no delongar da noite eu me atordôo

Atordoado eu me enfureço

E me recuo nas janelas da alma

Essa palavra é bem homérica

Mas do que adianta querer ser curado se não sou


enxergado?

III

E nesta complacência de mortes eu digo o que sou

Sou a morte em carne e esqueleto

Tenho dez por cento de carne e noventa por cento de


esqueleto

59
Sou revestido por uma crosta dispersa

Crosta litúrgica e devassa

Sou mais que isso

Sou aquele que veio do inferno

Os portões da morte estão abertos para mim

Eu a sou

Eu a vivo

Eu a realizo e a testifico

Eu a dignifico

Sou como a aurora de Satíricon

E se disseres: estou no limite

É por que estás na quadra de meu barquinho

Minha avenida, cheia de besouros e mariposas o


agasalha,

Não me reverenciou,

Não servi a ninguém a não ser a Cristo

Tenho plena fé na raça humana

Porém digo que o podre é o mundo.

60
IV

Pinte,

Pinte esta parede de cinza

E testifique estes raios sobre o que eu havia dito

Não mate,

Não mate,

Apenas diga,

Apenas diga,

Eu sou,

Eu sou.

Diga,

Eu não,

Eu não,

Tenho pleno juízo desta eleição

Tenho pleno juízo desta eleição

Tenho raiva desta invasão

Tenho ódio desta emoção

61
Tenho raiva desta emoção

Tenho raiva desta gente

Muita raiva deste povo.

Quero que morram,

Morram,

Morram,

Morram,

Morram sem perdão ou sem chances,

Sinto que isto é abominavelmente feito para mim

Para minha face de aparência rubra

Para meu carrasco de tesão preto

De carcaça rústica

Neutra,

Neutra,

Neutra,

Neutra

Semi-nua.

62
Vocês serão isto amanhã

Não os julgo

Eu os odeio

Eu os condeno

E testifico

E os abomino

Agora julgo.

Passa-se raio

Passa-se trovão trovoado

E todas as ataduras da morte

Passa-se carcaça de caramelo pintada

Não tenho conhecimento da minha lógica

Não tenho satisfação de minha consciência

Sinto ódio deste enfermeiro

63
Que raiva dele

Que raiva deste nojento

Tenho tanta raiva a ponto de matá-lo

Porém eu não o mato

Porém eu não o comento,

Mas a certidão o diz

A certidão está para com ele

Ela assassina,

Ela diz,

Diz,

Diz,

Diz

Me diz

Me diz

Disse

Disser

64
I s s e
r a d r s e
r r a d r i
s s e r a

Tenho Ra i v a deste

M uit a RAIVA de s TE

PORÉM Não o di DIGO


TEStifico abomino

Não Ent eNtENDo NÃO


Compreendo é confuso demais para mim é como
pegar uma espada de aço quente e misturá-la junta a
demais rostos conservados e propósitos pardos, isso é
demais, é muito,

Este peito incha de sufoco

Incha de maremotos

Sarnento

Sarnento

Sarnento

Sarnento

Sarnento

Sarnento

65
Sarnento

HORRÍVEL

HORRÍVEL HORRÍVEL

HORRÍVEL

HORRÍVEL

Mísero mísero mísero mísero mísero mísero mísero


mísero mísero mísero mísero mísero mísero

É como se no lago das maiores prosopopéias houvesse


desencanto.

VI

Quando se está no desespero retorna a agonia deste

Que hiberna na equação lúgubre e jacinta

Equação lúgubre...

Quando se está sentindo um ousado linguajar de sentido


devasso que rege as consoantes

Consoantes estas de alegria e frutos de dádivas


supremas

Mas as pessoas ao meu redor duvidam que eu sofra

66
Acham que eu brinco,

Acham q qu quq que eu brinco,

Porém nesta sala deserta e cheia de enlaces e infestada


por lepras

Eu sei como me desterrar.

VII

Maldade é um erro pelo qual devemos superar

Coisa tal que não devemos nos prender

Não devemos ser leais a isso

Maldade é um erro

Um erro pecaminoso e absurdo

Abominável, abominável

Não acredito em Hitler,

Não acredito em Anti-Cristo,

Não acredito em Papa,

67
Não acredito em Obama,

Não acredito em Satã,

Não acredito em Lennon,

Não acredito em demônios,

Não acredito em Punk,

Não acredito em EUA,

Não acredito em Gita,

Não acredito em Buda,

Não acredito em Beatles,

Não acredito em Lula,

Não acredito em exorcismo,

Não acredito em Poesia...

Eu acredito em Cristo

Acredito em Cristo e eu

E nada além disso

Tenho plena fé nisso

Pois sei dessa imensa responsabilidade

68
Eu acredito que existe um Cristo de benignidade

Eu fui um poeta que outrora sofreu

Eu hoje acredito que Ele é meu salvador, sim eu creio,

E não vivo no mal

Nem na infinidade de pecados

Pois sei que Cristo existe.

VIII

Essa terra é para cada par

E de par em par cruza-se o sufoco

O sufoco é bem eufórico

A euforia é a palavra da chamada

E as chamas são a razão da alma

Eu tenho meus fatos

Minhas subtrações

Minhas contrações

Eu digo:

69
Sou este

Este aquele

Aquele que verte o vidro na parede

Mas ao mesmo tempo transforma-se em ser vivente

Não digo que Larkin tinha um legado de pós-ludio

Mas sim tio Larkin fazia bem o tipo catequese

Eu o chamo

Eu o absorvo

Eu o mato

Eu o desmantelo

E o mato

Eu o castigo

Eu o mato

Eu o castro

Eu o mato

Eu finco.

Na câmara de gás os brinquedos vem e vão

70
E neste ritmo todos gritam: Vamos lá!

Hei.

Vamos lá.

Entenda que eu já estou morto

Entenda que eu já estou morto

Entenda que eu já estou morto

Entenda que eu já estou morto

Entenda que eu já estou morto

Entenda que eu já estou morto

Isso é só uma casca sem nenhuma essência.

IX

Todo esse consolo rola desfiladeiro abaixo

Rola como nos excessos das constelações

As parábolas revogam-nos

71
Os transeuntes dizem-nos

As pessoas avisam-nos

Dizem-nos isso, dizem-nos aquilo,

Mas parar e olhar é demais para cada um de nós

Tem que viver do conforto

Viver forte

Viver com músculos de aço

Músculos tais que aglomerem o Mundo

Mas este mundo saberia algo sobre mim?

Eu não sei nada sobre ele.

Beijos e almas são jogados na cascata

É como se nosso anfitrião fosse taciturno e opaco

É bem paralisador

Bem cristalizador

Bem cristalizador até para um ser como eu,

Eu disse em luzes de madrugada que meus cisnes de


pedra eram bem mais amigáveis que aquelas
mulherzinhas

O mundo é este,

72
O mundo é este,

O mundo é este,

Porém neste jamais dirá o abscesso.

Estas são as figuras do panteísmo neutro

Da configuração pagã

Eu mato,

E ressuscito

Sou bem o estilo desta ampulheta de sobrenome


transparente

Não me venho com usurpações

Pois eu já vi o inferno na minha frente mas eu venci

Eu sei como é caminhar

Por um percurso, percurso de dor

E percurso de horror

Porém eu também sei o que é viver de horror

E todos esses gentios me agradam

Essas peças que tanto me ascendem me desanimam

Mas eu sei o que é vencer

73
Ganhar um histórico de sobrevivência

E estender seu legado de competição

E alegar que sua vitória fora o sempre.

Pessoas em meu caminho não vêem o que eu vejo

Nem os anjos cantam meu canto

Por que eu sei que sou o eterno senhor

Sou a raridade da nação

A raridade que rege

Um ser jogado e desprendido de sufoco

Eu utilizo meu ser

Como quem não joga

E sei disto pois todos em meu caminho são apenas


farsantes

Eu gosto de aprender a lutar

Gosto também de ser que m eu sou

Pois esta luta é de nosso senhor

Nosso senhor predileto.

74
Estas pegadas

Este caminho

Este orvalho forjado de seitas e campinas

São meus sustentos que amo no paraíso

Porém terei de dizer

Que além desta maravilhosa culpa há algo

Há algo além daqui

Há algo que eu diria,

Essas pessoas que me amam

Que dizem quem eu sou ou não o sou

Estão aqui para errar

Estão aqui para perder

Porém meu recado de efervescência é fugaz

Porém meu recado de efervescência é fugaz.

75
Não, não me de esta espada,

Não, não me de esta espada,

Não, não me de esta espada em zimbro,

Não, não me de esta espada,

Não, não me de esta espada,

Não, não me de esta espada em zimbro,

Como continuar por um caminho arranhado

Que nem os demônios andam?

Pode um homem arranhado defecar no paraíso?

Não, não me de esta espada,

Não, não me de esta espada,

Não, não me de esta espada em zimbro,

Como é infiel viver nas espreitadas

E é tão intento continuar nesta usurpa infestada de


lamentação

76
Como nos contos da paróquia

Talvez o mundo não seja pequeno

Seja somente um ato consumado

De muito usada a faca já não corta,

Este pileque que uso como peito inane

Na nuca de albergues.

Não, não me de esta espada,

Não, não me de esta espada,

Não, não me de esta espada em zimbro,

Quero inventar o meu próprio pecado

Quero perder de vez minha cabeça

Quero cheirar fumaça de óleo diesel.

Brasil,

Vocês não estão preparados para uma chamada

Vocês não são aquela nação pela qual eu despertei de


um vago sentimento profundo

77
Sinto dizer que minhas orações e minhas mães, não
mães de bebês partidos, de filhos partidos e sim deste
filho partido

Chorou

E sofreu,

Sendo assim eu digo:

Você é a nação do fracasso

O fracasso pelo qual eu destilei

Há sonhos que foram feitos para sonhar

E há sonhos que foram feitos para chorar

Para berrar,

Com toda certeza vocês são o segundo tipo.

De toda a minha incansável palatina dureza no costume

No inchado respirar

No expirar, se é o que posso dizer sobre vocês,

Eu chorei um pouco,

Eu deturpei um pouco o uso da linguagem,

78
Eu usurpei a maldição da criança devassa.

Não tenho segurança para aprovar sua teia de saudação

Durmo agora dizendo o que sou:

Sumo profeta do caos

E sobre vocês

Corações negros,

Formigas vermelhas,

Esgotos foragidos,

Existe isso, esgoto foragido?

Brasil, você não sofre e não sente nada

Não tem noção da atadura de meu machado

Pois o machado que eu carrego

Esta bandeira estampada em verde e amarelo

É acinzentada desde agora é escurecida com um tom


escuro, putrefato, sei lá.

Eu não fui bem o caso e eu o sei

79
De um exemplo perfeito de pureza constitucional

Entretanto seus gritos

E minhas orações

Não se dão

São reversos de agitações

E esses reversos

Esses malabarismos ecléticos

Podem mesmo dizer algo de realmente útil?

XI

Brasil, você me feriu,

Feriu minha licantropia aqui nesta cidade

E este estado não tem nada de patriótico

Vejo-me preso numa calamidade de culpa e terror

Sem propensão a saída e erguido a morte

Não tenho para onde correr,

80
Tenho de cair

Cair

Cair

Cair

Cair

Cair

E entrar neste degrau de tempestuosa aflição

Sinto que morro

Sinto que desafeto na compreensão do tempo

O tempo bate na janela

A janela intercede

Intercede como os triunfos de qualquer morada

É pousada,

É pousada,

É pousada,

Mas digo que não faço nada,

Tenho o dever de ir em frente e continuar neste


Caminho de minha gente

Porém as pessoas não vêem essas coisas

81
São coisas que gostaria de parir pelas manhãs

Manhãs sonhadas que nãos comunico

Não comunico com celtas nem com vikings

Mas estes seresinhos de carapaças transcendentes

Não abduzem meu carisma.

Vento de estalagem é o Canadá que vêm pousar só esta


noite

Só desta vez,

Quem é aquele que vem dos montes

Com capacetes e arcos doravantes?

Pula da cama e quebra o ventre

Pula da pauta como ser ascendente.

Verte a coluna com triunfo dos capitais

É ser vivente

É desleal

Porém sua picada

82
De deus perverso é anormal.

Capacidade de gente boa

Capacidade de gente ruim,

Isso é o que faz continuar

Bate, bate, bate, bate,

Boa, boa, boa, baroa,

Boa, boa, boa, baroa,

BAa, BAam, bam,

Isso, verte, verte, verte o vidro da janela,

Me transforma em monstro energúmeno que apago dos


triunfos

Esta cidade esquizofrênica é vertida de caos

É crua e carecida de horror

É neutra

É realizada de cátedras emoções

Não suporto isso ou aquilo

Vejo o quanto sou forte

Somente.

83
Rito,

Rito,

Grito,

Grito,

Que se ascende por acaso,

Por acaso eu sou aquele

Aquele que diz que não ouve a noção do caos

O caos que ouve não tem fôlego

E por coincidência a ascendência é fonética e erguida de


lantejoulas

Sou apegado a mensagens supremas

Mensagens suadas de porra

De porra esquartejada.

Ruído travesso,

Ruído do avesso,

É tudo tranqüilo quando bem plantado

84
Porém é isso que vejo na vargem do estratagema tolo e
do contrário eleito.

Estou futuramente sagrado

Estou agora consagrado

Mas logo estarei para lá

Para cá

E para lá não estarei

Mata

Mata

Não ressuscita

Não mata

Mata

Mata

Ressuscita

Ressuscita

Mata

Mata

Mata

85
Vive

Vive

O tempo anda

O tempo anda

O tempo anda,

Tanto de trás para frente

Quanto de frente para trás.

Eu sou aquele anjo sentado e amparado que cospe raios


de torpedos e solavancos de rochedos

Como pode um anjo ser tão corruptível?

Bate,

Morre,

Revive,

Sobrevive

Para sempre

Que traz

Este

86
Ritmo

Desleal

Aos consagrados

Cânticos

Leais

Das pegadas

De figurinhas

Angelicais

Entretanto

Eu digo

Que somente eu

Tenho poder

Para seguir

Neste mesmo caminho

Que tantos anjinhos

Conseguiram seguir

Sem tropeçar

Ou errar

87
De qualquer forma

Ou qualquer morsa

Seja lá

O que isso quer dizer.

XII

Mata-se o homem

Mata-se todos

Mata-se este

Mata-se por matar

Mas sem saber

O que quer dizer

Esta música

Ou este insinuar

Bastar cravar

88
O machado de cinco pontos

Basta travar

Basta cravar

Bastar enfiar

E esperar sangrar

Sangue

Sangue

É o que quero

Eu quero sangue

Sangue de dia

Sangue a noite

Preciso dizer estas palavras na falcatrua

Porém meus superiores não me almejam

Eu

Os almejos

Eu os sou

Eles também

Eles os são

89
Mas eu também o sou

Bate o martelo

Bate a porta bem devagar

Bate a porta

Bem rapidamente

Bate a porta

Como no linguajar

Destes e daqueles

Morrer,

Morrer,

Tem que morrer,

Estaca,

Estaca

Estaca o peito

Estaca estaca

Estaca o lamaceio

Bate bem forte

Mas nada adiante

90
Pois adiante

Há um gigante

Gigante de platina

Palatina

E jóias de querubim.

Passeava como ontem

Passei pelo canal

Porém o canal

É curto

De soberana

É castrado

É neutro e reto.

Isso sou eu

Isso tende de ser eu

Não posso dizer

O que não sou

91
Eu assumo este compromisso

Amasso as algemas

Amasso os canivetes

Amasso os passinhos

Os passarinhos,

Os devaneiozinhos.

XIII

Eu tive que assumir

Assumir esta bosta de assunto

Durante anos eu fui

Quem um dia não sonhava

Espremia-me nas esquinas

Dum mundo dominado pelo terror

É o terror que me denomina

Predomina

Sacia esta rima que tanto me ilumina

92
Porém eu digo que me domina.

Eu sou a luz,

Eu sou o sol

Morro

E levo toda a cátedra do paraíso comigo

Morro

E levo toda a levadiça e esgrimática imigração

No meu solo estático e quente.

Sou forte

Sou bruto

Sou qualquer coisa exceto as constelações

Mas existe algo que eu não sou

Não sou predominantemente pardo

Sou caquético

Sou malabarista

Sou paranormal

93
Sou coxo

E isso me inerva

Isso me estraga

Me deturpa

Isso induz a cruzar caminhos sagrados

E isso é tudo,

É tudo o que queria dizer

Que sou mais um erro

Mas um lamento

Mas um estratagema

Para a vulgaridade, nada mais.

XIV

Eu não sou este anão

Esta pata de ante-mão

Sou duro como as rochas

Pedra que estala

94
Rochedo dos mares

Tenho virtudes minhas

Virtudes que posso contrariar

Sou vivo porém satisfaço

Tenho raiva

Raiva que vive no meu mundo emaranhado

Isso é o que carrego,

Rio,

Rio,

Isto,

Isto,

Isto,

Esta

Aquela aquarela

Mas para tanto eu não suporto.

Vamos

Você suportou

95
Tornou-se eterno

Viveu no limite

De toda a humanidade

Você é como eu

Há, há, há, há, há...

Sem nome,

Sem identidade,

Nada,

Apenas armas, armas brancas,

O que quer de mim?

Use aquela navalha,

Use aquela janela

Mate-o,

Mate-o por piedade

Isso faz parte do jogo, parte do plano,

Matar é um plano a parte. né?

Vamos por um sorriso neste rosto.

96
Nós lutamos

Tivemos inimigos

Aceitamos dedinhos

Fomos pagãos

Fonte rentável de lucros descobertos

Raiva,

Raiva,

Raiva,

Nojo,

Nojo,

O que quer de mim?

O que quer de mim?

Vamos por um sorriso neste rosto.

Há, há, há, há, há...

Este é o Diabo sorrindo.

97
XV

Estas entidades que tanto dominaram nossas retinas

Existe fúria,

Fúria nos meus ombros

Fúria que ultrapassa a correnteza

Não sei dizer o resto

Na verdade

Todo o resto

É pura lubrificação

E constituição de valores.

Ensino o bem,

Ensino a bondade entre os homens

Ensino o que deve ser guiado

O guia é este

Porém estamos mortos

No inferno existem mais homens

98
Mais homens para cada um de nós

Para cada um existe um homem

Um homem dentro de cada garganta esporádica

Isso mantêm a chacina.

Estou desmotivado neste momento

Desmotivado com meu próprio eu

Não carrego esta cruz por amor a Edgar Allan Poe

Carrego esta cruz em amor a minha própria raça

Raça esta que vive de cruzes.

XVI

Se houvesse um único objetivo para viver

Este objetivo seria a morte

Deixo estas páginas com vossos desafios

Com sentimentos que outrora

Entoa a canção de meninos

E nas estrelas

99
Enlouquecem a fagulha de irredutíveis rios.

100
No meu solo tem palmeiras

Tudo o que passei foi benévolo

Foi sol

Foi armadura

Foram borboletas,

Foi colorido inflável

E testemunho sacrificável até pontos injetáveis

Estaremos seguros no seio da fartura

Estaremos seguros até neste ponto

Estaremos seguros.

É agora

101
A armadura cresce

A armadura cresce

Isso é raio de outrora

Justiça façamos agora

Que da manhã acordaste no solo

Impermeável

Seco

Sei que isso foi uma estatística.

Sei que você era

102
Sei que todos nós éramos

Mas sei do adjunto perto de todos,

Enquanto aos românticos

O céu pinga

As estrelas pingam

A nuvem está nublada

Dane-se o resto.

E você

Virá das trevas

Eu sei

Por que

Também vim,

Continue e batalhe

Continue e batalhe

103
Continue por que eu também continuei

Eu sei que pode ser difícil

Eu sei dos solos inférteis.

Eu sei dos usurpadores

Eu sei dos usurpadores

Eu sei sim deles

Mas nós dois conseguiremos, eu sei que sim.

104
Isso mata

Eu sinto cheiro de vinho

Cheiro de vinho dourado

E sinto cheiro das mais delicadas e atraentes núpcias

Quando pensares em mim verás o rosto de Adão

Quando meu ventre for esmagado

Quando for agrilhoado

Nada farei por ti

Nada, nada, nada,

Tudo deixarei, seu maldito cretino de bosta.

Pense que o nicho

Foi o suficiente

E as amebas da usina

São lixos.

105
Eu agora sei

Eu agora sei,

Que tudo foi apenas um sonho,

EUA perdeu

Brasil se rendeu

Continuarei além de tudo

Tenho o sonho de uma centopéia

Sim eu tenho o sonho de uma centopéia

E as coxas de Don Quixote.

Boom!

Ligo pela manhã

E digo meus recipientes

106
Digo que exalei chumbo

Digo que tenho centeio na cama

Mas tenho também neurônios

Tem crânios esmagados

Batidos, engraçado como as coisas são, né?

Eu não me rendi

Eu não me renderei

Eu sou mais

Eu sou mais que isso

Eu tenho vértebra de aço

Eu tenho sim,

Eu tenho também 90% nas minhas entranhas

De lava derretida

E tenho 10% de refração,

O que seria esta?

107
Bem, por sua vez, explico-te:

A tolice dos babacas que quando lerem isso

Disserem

“Mr. Jefferson

É impossível ter 90% de lava quente no corpo”

Quero que vocês vão à merda

Mas o bem é maior

O bem é bem maior

A sutileza se esclarece

É diferente quando posicionado

É diferente quando bem quisto,

Vamos todos juntos

Vamos todos juntos

À vitória vamos todos juntos

Vamos todos juntos.

108
Um defunto de marfim

Sei que sou isto

Sei que me dispo

Sei que morro

Morro por tanto

Por quanto

Por me sentir ancho.

E se na vida algo me venerar

É por pensar que na virtude

Fui defunto de uniforme.

109
Minhas finanças são de pedra

Ah, no verbo que pronuncio sou tão impronunciável

Queria ter punhos para forjar a própria morte

Querer uma estadia em Saint alguma coisa é um porre

Odeio esta vida

Vida oca

De lobo solitário

E ao mesmo tempo de acúmulo social

Estou cercado de gente

Porém estou sozinho por dentro.

110
São mais de dez os meus pecados

“Senhor deixe-me fazer as contas por favor”,

Com todo direito

Dois anos:

“Morte”, ponto.

Nove anos:

“Morte”, ponto.

Doze anos:

“Morte”, ponto.

111
Dezessete anos:

“Morte”, ponto.

“Posso te dar o total?”

Não e fica com o troco, adios.

112
Cosmik Debris

É hoje

Tira aquela escada

Bota três coisas sob a prata

Resmungue seu pão

É hoje

Pegue aquela carcaça de Soutine

Chame-me de papo e vamos embora

Não vem que jogo fora as peçonhentas.

Então que mate

Que mate a todos

Pois hoje a sapo é para os lagartos do entulho.

113
Bola de Cristal por Louise

Foi então...

Eu peguei aquela bola de cristal

Fiz uns abracadabras

Mandei a ver com ele

E disse na sua cara:

O preço da carne acaba de subir

E você é um filho da mãe

Esqueça isso

Você ganharia mais dinheiro como

Açougueiro filhote,

Louise.

114
Minhas chagas

Cristo não vê gente

Não vê gente abrutalhada

Vê é carne opaca,

E defunto neutro

Mas meu coração não é mau, não, não é mau

É coração linchado

Com as garras dos homens.

Cristo não vê gente

Mas consegue me observar

Consegue ver minhas feridas

E para mim

Isso basta.

115
Sonata para a lua maior

Se estou só é por que sofri

E esse sentimento

Em mim se diz,

Se estou confuso e desavisado

É devido ao sangue muito imputável

Sofro com cada alternativa amiga

Tenho poder delta

Se a sagrada santidade

Mas meu rumo

Que só interou os eremitas

É de sobrenome elegível.

116
A queda da bastilha

Existe um rio

Existe este homem

Mas a sede que verte nas montanhas

São de grão vizir

Meu mel é de ácido corrosivo

Isso altera alguma coisa?

Meu néctar

Meu sangue

Meu excremento

Juntos me fazem um homem (HUM...) (Dupla


ironia)

117
Deus há de me livrar

E como se inventasse um solo sagrado

Ainda há adubo no ar

Pois estas caveiras

Estes crânios

Recém analisados

São do prospecto rumos góticos.

É também a manhã que exala terror platônico e


[muitas, muitas das minhas palavras duras de
[humor.

Deus há de me livrar dos humanos

Dos gentios,

Dos palermas e dos loucos e abusados falastrões

118
Caos é véu,

Sinto-me real.

119
É como se no mundo uma bomba estourasse

Eu acordo e digo: Sim isto é o dia

Mas quando me dou conto é só o que resta

Eu me reservo

Eu me reenvidico

E quando me pressagio é só mentira

O dia é uma massa estratosférica

Mentira, mentira e mentira.

Seria Deus um rei da fase progressista?

(Risos)

Continue Sally, continue... continue...

120
Biografia do autor:

Jefferson Carvalhaes de Oliveira Souza da Silva nasceu


no Rio de Janeiro no dia 17 de Junho de 1992, dês de
cedo demonstrou fortes tendências literárias. Com
apenas dois anos leu A rosa do povo de Carlos
Drummond de Andrade, algo que causou furor entre os
professores de sua escola e fora exatamente com essa
idade que escrevera seus primeiros poemas e contos.
Com cinco anos já havia feito livros – que se perderam
conforme o tempo e devido à falta de cuidado com que
o autor tinha com seus trabalhos. Ainda com dois anos
era capaz de ler com incrível flexibilidade além do
próprio Drummond: Charles Baudelaire, Machado de
Assis, Kafka, Walt Whitman, Georg Trakl, Marcel
Proust, Seamus Heaney, Charles Dickens, Dostoiévski e
James Joyce. Aos seis era um grande admirador das
idéias existencialistas de Jean-Paul Sartre (algo que ele
veio a contestar mais tarde). Aos dez anos, ganhou seu
primeiro prêmio literário uma menção honrosa num
concurso em que dedicavam ao primeiro lugar a
Medalha Castro Alves, ainda com essa idade participou
e ganhou diversos concursos literários em São Paulo, e
devido a grande quantidade o escritor não conseguiu
organizar essas premiações, sendo uma delas o Prêmio
Marcos Rey.
Aos doze anos publicou seu primeiro livro Sofrimentos
Poéticos mas que infelizmente foi um fracasso de
vendas algo que o desestimulou pelo fato e o fez cair em

121
profunda depressão de estado paranóico e ao mesmo
tempo estimulou-o a escrever a sua obra mais audaciosa
Diário de um suicida.
Em Janeiro de 2004, Carvalhaes enfrentou uma de suas
piores crises depressivas chegando até mesmo a se
comparar com o famoso pintor Vincent Van Gogh, pois
fora exatamente nesse ano em que ele tentara sua
primeira e última tentativa de suicídio.
Atordoado e recluso, o escritor estava decidido a
abandonar a literatura para sempre, entretanto algo
ainda viria acontecer em 2007 e finalmente, Jefferson
Carvalhaes com quatorze anos consegue publicar um de
seus poemas numa antologia de sucesso pois ele
ganhara o III Prêmio Literário Valdeck Almeida de
Jesus.
Em 2008 aos quinze anos Carvalhaes consegue outra
conquista, expor seus quadros numa galeria, estes por
sua vez, na Universo das Artes.
Apesar das coisas aparentarem estar indo com
exposições e premiações... na verdade não era bem
assim, pois sua situação financeira estava péssima.
Apesar de toda a desordem e de todas as decepções
Jefferson estava totalmente decidido a viver somente da
literatura, e nada mais, e com esse intuito começou a
vender seus quadros por preços absurdos, praticamente
dados, somente com intuito de sobreviver.
Em Dezembro de 2008, não suportando a pressão que os
amigos faziam Jefferson Carvalhaes tem mais uma crise
e por impulso queima mais de mil páginas de seus
diários, de seus poemas e de seus contos.
Em janeiro de 2009 o autor tornou-se um poeta del

122
mundo e publicou diversos poemas nas revistas
literárias Caderno Literário e Paralelo 30, pregando sua
mensagem ao mundo.
Em Agosto de 2009, o autor publica duas de suas
principais obras que não foram dilaceradas nesta crise
de 2008: No Guardar da Meia-noite e Diário de um
Suicida.
Atualmente Jefferson vive recluso praticamente sem
contato com nenhum amigo ou escritor próximo.

123
Para entrar em contato com o autor:

jefferson.carvalhaes@yahoo.com.br

ou visite o blog

http://confidenciasdeumescritoremcrise.blogspot.co
m

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