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Marie-Célie Agnant

Parte em Português

Sobre a autora
Marie-Célie Agnant (Haiti, 1953) é poeta, escritora e tradutora,
sendo uma das vozes mais representativas da poesia haitiana
contemporânea. Residente no Canadá desde a década de 1970 e
escrevendo não apenas em kreyòl ayisyen – o crioulo haitiano,
como também em francês, inglês e espanhol, parte da poética de
Marie-Célie Agnant é atravessada e aborda esse deslocamento de
sujeitos, línguas e culturas em migração e diáspora.

Obra
Lendo a obra de Marie-Célie Agnant, percebe-se como a noção de
pertencimento é uma experiência que oscila entre se sentir
prisioneiro e se sentir fugitivo. No entanto, esse vínculo não se
estabelece apenas de forma espacial e geográfica, mas também
temporal e histórica: “No calendário dos deserdados / os dias são
imóveis”, afirmam os versos do poema que, reforçando essa
premissa, tem por título “Poemas sem idade II”. A busca por um
lugar que se possa ser chamado de terra em meio a um contexto
globalizado é, na verdade, um exercício de deriva no qual perdas e
esquecimentos são mais constantes do que certezas e resgates.

Existe uma outra versão do poema “Poèmes sans age” publicada


na edição 773 da revista Relations. Nela, encontra-se uma outra
sequência das estrofes, além de uma disposição diferente dos
versos. Há, também, a presença de pontuação em determinados
versos, e algumas alterações, como no caso do verso “offerte dans
ses chiffons made in PRC”, que consta como “offerte dans ses
chiffons made in China” na versão da Relations, além de haver um
verso a mais encerrando o poema

Poema sem Idade


Um de seus mais famosos escritos

``Farto de percorrer
caminhos acidentados
vielas tortuosas
e a geometria sinistra de céus cheios de cólera
tu desejarias partir
Farto dessas estações dementes
da impossível claridade
do silêncio cúmplice
e das mordaças mais apreciadas
que o apelo do poeta
Farto da tua terra presa nas redes
das humilhações seculares
terra onde cada recém-nascido
com a primeira mamada
estreia de um gole
para dentro
as cinzas já arrefecidas

A revolta ao alcance da tua boca


ao alcance das tuas mãos
o coração atrofiado
tu procuras saber
se há algum defeito de fabricação
no molde da dignidade
A vontade de viver a atenção do mundo
não é para os cães tu dizes
A vontade de viver nem lamentações nem nostalgia
A vontade de viver Um sangue de pé
Tu ouves
Explosões
Ardor
Ofuscamentos
A vontade de viver
Desprender o porvir
Estrebuchar nos sulcos da memória
E se reerguer
Passar as portas das terras tomadas pela amnésia
Confundir dolorosamente
A aurora e o crepúsculo
mas perseguir
Como uma tocha acesa
teu olhar feito
de bobo pelas miragens
Tocha acesa
tu desejarias inventar
outra manhã para os pássaros
outra luz para brincar
inovar
e criar

Seria eu
serias tu
seríamos nós
fugitivos para sempre
prisioneiros de uma alquimia
que transforma tudo o que respira em valores de mercado
O corpo de todos a quem pagar mais
o cérebro em espuma sem esperança
No que se converteu teu corpo cravado ao meu
Eu te quero Máquina Sistema Dispositivo
Reunião Instrumento
Eu te quero infalível
Arsenal
Eu te quero
Eixos Roscas Braços Parafusos
Metal Rangendo Esmagando
Prego Ferro Caibro Espada Punhal
Assim tu deves ser e
Se atingires o Éden cobiçado antes de mim
eu te mato
Teu cadáver será vendido a quem pagar mais

Aqui está teu coração, eu o oferto


pétala contra metal
Não permitas jamais que o medo se assente em teus joelhos
ele te impedirá de empregar o olho do Ciclope
de contemplar sem temer dragões e duendes
de espiar as estrelas por receio de se resfriar
de dar ouvidos às melodias cantaroladas pelos peixes
de dançar sob a chuva ao tique-taque do relógio
depois cair de bêbado
os braços em laço
Não te esqueças
o escândalo da ignorância
maquiagem espalhada sem vergonha
te dá frio na espinha
mas não comove mais ninguém
Faz ouvidos moucos ao rumores
Foge da companhia do poeta colérico ou melancólico
sem confusão alguma
abre as portas
a cada movimento de beleza

No calendário dos deserdados


os dias são imóveis
nada se gasta nada renasce
Nesse imenso e macabro teatro
representa-se de portas fechadas
o espetáculo é o mesmo
os espectadores também
Ei-los sentados ou melhor agachados
impelidos a deixar os cérebros no vestiário
o mesmo espetáculo nos mesmos lugares
a razão recua ao infinito
esse movimento giratório da ignorância desafia a imaginação
o carrossel não para nunca
Não faças mais a conta das mentiras
nem dos intrusos ou dos soluços
eles são muitos
Aspira o tempo
toma o pulso da noite
como esse velhinho cansado
que sente chegar ao fim do caminho
aprende antes esses vestígios
todos esses riscos no coração
esses golpes de estaca
a sirene muge

Sob a claridade da lua


na calçada, contra os paredões
da noite, uma menina sem nome
oferecida em seus trapos made in China
se dilui em um sorriso artificial
mais sozinha que o cata-vento no sino da igreja
que tem a brisa como companheira
mais sozinha que uma árvore a menina
a árvore goza da companhia dos pássaros

Diziam a ela que havia um só e único caminho


aquela da desordem e da errância
lábios cerrados
ela se obstinava e redesenhava os mesmos contornos
da mesma estrada
buscando obstinadamente
longe das talhadias
dos matagais
onde dormem com um olho só
as criaturas da sombra
Pode meu filho ser canção sem música
perguntava ela por toda parte
A ruptura estava presente
seu nome o nome dos seus filhos
tudo isso tinha sido rasurado apagado
Ela se lembrava no entanto
a ausência não tinha meios
o esquecimento nem existia
Suas frases se decomponham
suas palavras se esmigalham
ela falava no entanto
Sua voz
mais do que um rumor surdo emergindo das águas turvas da memória
Seu canto morto pelo tempo
Sua fala outrora reclusa
hoje rebelde, torturada pela urgência, busca obstinadamente, nos escombros de um país perdido
esta língua de luz´´
Marie-Célie Agnant
Parte en español

Sobre el autor
Marie-Célie Agnant (Haití, 1953) es poeta, escritora y traductora,
y una de las voces más representativas de la poesía haitiana
contemporánea. Residente en Canadá desde los años setenta y
escribiendo no sólo en kreyòl ayisyen - criollo haitiano, sino
también en francés, inglés y español, parte de la poética de
Marie-Célie Agnant está atravesada y aborda este
desplazamiento de sujetos, lenguas y culturas en la migración y
la diáspora.

Trabajo
Leyendo la obra de Marie-Célie Agnant, uno se da cuenta de
cómo la noción de pertenencia es una experiencia que oscila
entre el sentimiento de prisionero y el de fugitivo. Pero este
vínculo se establece no sólo espacial y geográficamente, sino
también temporal e históricamente: "En el calendario de los
desheredados / los días son inmóviles", dicen los versos del
poema que, reforzando esta premisa, se titula "Poemas sin edad
II". La búsqueda de un lugar que pueda llamarse tierra en medio
de un contexto globalizado es, de hecho, un ejercicio de deriva
en el que las pérdidas y los olvidos son más constantes que las
certezas y los rescates.

Hay otra versión del poema "Poèmes sans age" publicada en el número 773 de la revista Relations. En él, se
encuentra una secuencia diferente de estrofas, así como una disposición diferente de los versos. Hay, además,
la presencia de puntuación en algunos versos, y algunos cambios, como en el caso del verso "offerte dans ses
chiffons made in PRC", que aparece como "offerte dans ses chiffons made in China" en la versión de
Relaciones, además de tener un verso extra cerrando el poema

Un poema sin edad


Uno de sus escritos más famosos

Cansado de viajar
caminos llenos de baches
callejones retorcidos
y la siniestra geometría de cielos llenos de ira
que te gustaría dejar
Harto de estas emisoras dementes
de la claridad imposible
del silencio cómplice
y los gags más apreciados
Que la llamada del poeta
Harto de que tu tierra quede atrapada en las redes
De antiguas humillaciones
Tierra donde cada recién nacido
Con su primer amamantamiento
se abre con un trago
hacia el interior
las cenizas ya enfriadas

La revuelta al alcance de tu boca


al alcance de tus manos
el corazón atrofiado
buscas conocer
si hay un defecto de fabricación
en el molde de la dignidad
La voluntad de vivir la atención del mundo
No es para perros dices
La voluntad de vivir ni el lamento ni la nostalgia
La voluntad de vivir Una sangre en pie
Oyes
Explosiones
Ardor
Resplandores
La voluntad de vivir
Liberar el futuro
Luchando en los surcos de la memoria
Y levántate de nuevo
Pasando las puertas de tierras tomadas por la amnesia
Para confundir dolorosamente
El amanecer y el crepúsculo
Pero persigue
Como una antorcha encendida
Su mirada hizo
De la tontería por los espejismos
Linterna encendida
que te gustaría poder inventar
otra mañana para los pájaros
otra luz para jugar
innovar
y crear

sería yo
serías tú
seríamos nosotros
fugitivos para siempre
prisioneros de una alquimia
que transforma todo lo que respira en valores de mercado
el cuerpo de todos los que pagan más
el cerebro en una espuma desesperada
En lo que se ha convertido tu cuerpo, clavado al mío.
Quiero que el dispositivo del sistema de la máquina
Instrumento de reunión
Te quiero infalible
Arsenal
Quiero que
Ejes Roscas Brazos Pernos
Trituración de metales
Daga de cuña de hierro para clavos
Así será y
Si llegas al codiciado Edén antes que yo
Te voy a matar
Tu cadáver será vendido al mejor postor

Aquí está tu corazón


Ofrezco
pétalo contra metal
Nunca dejes que el miedo se siente en tus rodillas
te impedirá usar el ojo del cíclope
Para contemplar dragones y duendes sin miedo
para espiar las estrellas por miedo a coger frío
para escuchar las melodías que tararean los peces
de bailar bajo la lluvia al ritmo de un reloj
y luego caer borracho
brazos en un lazo
No olvides
el escándalo de la ignorancia
El maquillaje se extiende sin pudor
Te hace sentir un escalofrío en la columna vertebral
pero no mueve a nadie más
Haz oídos sordos a los rumores
Huye de la compañía del poeta colérico o melancólico
sin ninguna confusión
abre las puertas
a cada movimiento de la belleza

En el calendario de los desheredados


los días son inmóviles
nada se gasta nada renace
En este inmenso y macabro teatro
la obra se representa a puerta cerrada
el espectáculo es el mismo
los espectadores también
Aquí se sientan o más bien se agachan
impulsados a dejar sus cerebros en el vestuario
el mismo espectáculo en los mismos lugares
la razón retrocede al infinito
este movimiento giratorio de la ignorancia desafía la imaginación
el tiovivo nunca se detiene
no cuentes más las mentiras
ni de los intrusos ni de los hipos
hay demasiados
Tiempo de aspiración
Toma el pulso a la noche
como este viejo cansado
que siente que ha llegado al final del camino
aprende de antemano estos rastros
todos estos arañazos en el corazón
estos golpes de puñalada
el bramido de la sirena

bajo la luz de la luna


en la acera
contra las paredes
de la noche
una chica sin nombre
ofrecida en sus trapos hechos en China
se diluye
en una sonrisa artificial
más solo que la veleta de la campana de la iglesia
que tiene a la brisa como compañera
más sola que un árbol la niña
el árbol disfruta de la compañía de los pájaros

Se le dijo que había un único camino


el del desorden y el vagabundeo
labios cerrados con pinzas
ella obstinadamente
redibujando los mismos contornos
del mismo camino
buscando obstinadamente
lejos de los bosques
de los matorrales
donde los tuertos duermen
Las criaturas de la sombra
Puede mi hijo ser canción sin música
preguntó en todas partes
La ruptura estaba presente
su nombre el nombre de sus hijos
todo había sido borrado borrado
Sin embargo, recordó
la ausencia no tenía medios
el olvido ni siquiera existía
sus frases se descomponían
sus palabras se desmoronan
ella habló todavía
su voz
más que un rumor sordo
emergiendo de las aguas turbias de la memoria
Su canción se ha apagado con el tiempo
Su discurso una vez recluido
ahora rebelde
torturado por la urgencia
busca obstinadamente
en los escombros de un país perdido
este lenguaje de la luz

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