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PORTUGUÊS – 9º ANO

OS LUSÍADAS- LUÍS VAZ DE CAMÕES


1. ELEMENTOS DO GÉNERO ÉPICO

A epopeia remonta à Antiguidade grega e latina lendo, nessa época, como expoentes máximos a Odisseia e a
Ilíada, poemas gregos atribuídos a Homero, e a Eneida, poema de Roma da autoria de Virgílio.
A epopeia é um género narrativo em verso.

Segundo Aristóteles:
- a ação épica deve ter grandeza e solenidade, deve ser a expressão do heroísmo;
- o protagonista deve revelar grande valor moral;
- a epopeia deve ter unidade de ação;
- os episódios não só dão à epopeia extensão, como a enriquecem, sem quebrar a unidade de ação;
- o maravilhoso deve intervir na ação da epopeia;
- o género épico utiliza o modo narrativo; o poeta narra em seu próprio nome ou assumindo personalidades
diversas;
- a intervenção do poeta, tecendo considerações em seu próprio nome deve ser reduzida.
- o início da Narração apresenta-nos a ação já numa fase adiantada («in media res»).

Ao analisarmos Os Lusíadas, e depois de conhecermos os elementos constituintes de uma epopeia, concluímos


que Camões segue, em muitos aspetos, o modelo clássico apresentado.

Protagonista: O herói d’Os Lusíadas é um herói coletivo e não individual, como nas antigas epopeias. O povo
português é o protagonista desta epopeia, “o peito ilustre lusitano”, simbolicamente representado por Vasco da
Gama que, ao narrar a história da pátria ao rei de Melinde, revela a heroicidade do seu povo.

Ação: A ação d’Os Lusíadas é plena de heroísmo pois narra a descoberta do caminho marítimo para a Índia, um
acontecimento com interesse universal.

Narração: In media res (a meio da ação). No início da narração (estrofe 19, Canto I), a ação apresenta-se numa fase
adiantada, in media res – “Já no largo Oceano navegavam”; mais adiante, através de uma analepse, narram-se os
preparativos da viagem, as despedidas em Belém, o discurso do Velho do Restelo e a partida para a Índia (Canto IV).
Maravilhoso: N’Os Lusíadas há a intervenção de entidades sobrenaturais pagãs, os deuses venerados na civilização
greco-latina, que favorecem os portugueses – adjuvantes, como Júpiter e Vénus – ou os que prejudicam –
oponentes, como Baco que se revela o principal opositor dos marinheiros. Trata-se do maravilhoso pagão. Há

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também súplicas feitas a Deus, à “Divina Providência”, um momento de demonstração da verdadeira fé cristã.
Trata-se do maravilhoso cristão.

Estrutura interna: Os Lusíadas dividem-se em quatro partes:


- Proposição: o poeta expõe os seus objetivos (Canto I, estrofes 1 a 3);
- Invocação: Camões pede inspiração às Tágides (Canto I, estrofes 4 a 5);
- Dedicatória: o poeta dedica a obra ao rei D. Sebastião (Canto I, estrofes 6 a 18);
- Narração: a ação é iniciada in media res (Canto I, estrofe 19 até ao fim).

Estrutura externa: O poema está dividido em 10 Cantos, com o total de 1102 estrofes. As estrofes são oitavas, o
verso é decassilábico, predominando o verso heroico. A rima é cruzada nos seis primeiros versos e emparelhada nos
dois últimos: abababcc.

Contexto Histórico

Luís Vaz de Camões viveu no século XVI, época de mudança em Portugal, fortemente marcada pelos
Descobrimentos e pela chegada dos portugueses à Índia por mar. Neste século, Portugal, sem dúvida um país
liderante na expansão, obteve muitos territórios ultramarinos em diversos continentes, tais como na África (Ceuta,
Tânger, Arzila, etc.), na Ásia (Diu, Goa, Calecute, Ormuz, Macau, etc.) e na América (Brasil). Assim sendo, Portugal
tornou-se um dos maiores centros de comércio do mundo e uma grande potência económica. Portugal era um dos
países mais prestigiados do mundo.

A Europa passou também, nos séculos XIV, XV e XVI, por um intenso movimento de renovação das letras e das
artes conhecido como Renascimento. Esta nova corrente de pensamento, surgida na Itália, caracterizou-se por
grandes mudanças na mentalidade da população. Surgiu o Humanismo, movimento cultural em que o Homem se
passou a debruçar mais sobre si e os seus problemas, que se caracterizou pela passagem do Teocentrismo (“Deus no
centro do mundo”) para o Antropocentrismo (“O Homem no centro do mundo”), e pela alteração das atividades do
Homem, que passou a praticar exercício físico, cultivar a vida em sociedade, ansiar pela fama, ter curiosidade por
todas as coisas, possuir uma fé inabalável no espírito crítico e a não recear afirmar-se entre os demais. Predominou
também o Classicismo, caracterizado pela adoração dos ideais da antiguidade Greco-Latina. Essa nova visão
influenciou a arquitetura, a pintura e a escultura do século XVI, e foi também dentro dessa mentalidade que Camões
escreveu a maioria das suas obras, tendo-se até inspirado em obras de Homero (poeta grego da antiguidade), como
a Odisseia e a Ilíada, e de Virgílio (poeta romano clássico), como a Eneida.

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