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. Espaço:
- Oceano Índico;
- «largo» (espaço marítimo vasto);
- ondas «inquietas» (ondulação ligeira - personificação);
- os ventos brandos, tranquilos, serenos (personificação: «respiravam» - v. 3);
- as velas «inchadas» pelo vento, fazendo movimentar as naus, que vão cortando as
ondas;
- a espuma branca (causada pela ondulação e pela deslocação das naus).
Em suma, a viagem dos Portugueses decorre num ambiente calmo, tranquilo,
sereno, com os ventos a «empurrarem» as naus.
. Plano estrutural: viagem.
. Há uma estreita ligação entre esta estância e a seguinte (20), expressa pelo
advérbio «já» e pela conjunção subordinativa temporal «quando», os primeiros
vocábulos de cada estância - aquele correspondente à oração subordinante e este
à subordinada adverbial temporal -, a marcarem a simultaneidade dos dois
acontecimentos – a viagem e o consílio. Note-se que a frase iniciada na estância
19 só termina no verso 4 da estância 20.
. 1.ª parte (est. 20-23) - Introdução – Início do consílio: convocação dos deuses por
Júpiter, sua viagem e chegada.
. Convocatória e presidência: Júpiter.
. Retrato de Júpiter:
- é o Pai dos deuses («Estava o Padre ali» - est. 22, v. 1);
- é o presidente do consílio;
- é sublime e digno;
- é o senhor do raio;
- está sentado num trono faiscante de estrelas;
- tem um gesto alto, severo e soberano (tripla adjetivação);
- «Do rosto respirava um ar divino»;
- exala um ar que transformaria um corpo humano num ser divino;
- tem um cetro e uma coroa resplandecentes, feitos de uma pedra mais luminosa
que o diamante (comparação hiperbólica);
- possui um tom de voz «grave e horrendo» (dupla adjetivação), isto é, que impõe
respeito e temor;
- ocupa um lugar privilegiado, mais elevado (senta-se num lugar mais elevado,
superior ao dos demais deuses; repetição do adjetivo «alto»: «poder mais
alto», «alto poder», «gesto alto»);
- símbolos: os raios de Vulcano, a coroa e o cetro (símbolos de poder).
- poder
- superioridade
- severidade
- distinção
- majestática dignidade
. Chegada e disposição dos deuses no consílio:
- Júpiter ocupa o lugar mais elevado;
- os restantes deuses eram distribuídos hierarquicamente, por ordem de
importância, de acordo com as suas dignidades («Como a Razão e a Ordem
concertavam»).
. Introdução (est. 24):
- Destinatário do discurso: os deuses («Eternos moradores do luzente» - perífrase: o
Olimpo).
- Profecia dos Fados (decisões a que nem os deuses podem opor-se e contrariar): os
Portugueses tornar-se-ão mais famosos do que os povos da Antiguidade – Assírios,
Persas, Gregos e Romanos -, isto é, os seus feitos farão esquecer os feitos e as
glórias desses povos.
b) Simbolismo de Baco:
- as dificuldades e obstáculos enfrentados pelos Portugueses durante a sua
navegação;
- os interesses prejudicados de mouros e outros indígenas e mesmo de Portugueses
cuja posição social poderia ser afetada.
3) Posição de Vénus (est. 33 e 1.ª parte da est. 34): Defesa e apoio à viagem dos
Portugueses.
a) Razões de Vénus:
1) a simpatia que sente pelos Portugueses («Afeiçoada à gente Lusitana» - perífrase
– est. 33, v. 2) porque são um povo semelhante ao seu amado povo romano
(descendente de Eneias, seu filho, nascido em Tróia, que seguiu para Itália,
depois da destruição daquela cidade pelos Gregos e, segundo Virgílio, foi o
progenitor dos Romanos), proximidade essa visível em aspetos como:
i) a grande valentia e fortuna («Nos fortes corações, na grande estrela» - est. 33, v.
5) mostradas na guerra no Norte de África («terra Tingitana» - est. 33, v. 6);
ii) as semelhanças a nível da língua (entre o português e o latim) – est. 33, vv. 7-8;
- a certeza de que o seu nome e o culto do Amor, que ela simboliza, serão sempre
celebrados, no Oriente, em todos os lugares onde os Portugueses chegarem (est.
34, vv. 1-4).
Observe-se como Camões faz surgir Marte diante de Júpiter, com uma
força e autoridade quase iguais à do pai dos deuses. Tal sucede não apenas por se
tratar do deus da guerra. De facto, a intenção do poeta era apresentar Marte
como o símbolo da força, da coragem, da vitória, um símbolo da força dos
Portugueses (povo «que a Marte tanto ajuda»), do seu amor à luta, das suas
vitórias passadas e futuras. Note-se, por outro lado, que, após o seu discurso,
favorável aos Portugueses, nenhum deus se atreveu a contrariá-lo e o próprio
Júpiter consentiu no que o deus da guerra disse.
*-*
. Narrador
O narrador do episódio é Camões, um narrador heterodiegético, pois
narra na terceira pessoa uma história em que não tomou parte, da qual não foi
personagem.
. Actantes:
- Sujeito: Vasco da Gama e os marinheiros portugueses e, num plano histórico, o próprio
povo português.
- Objeto: a Índia e, no plano da História de Portugal, a fundação de um novo reino.
- Adjuvantes: Vénus e Marte.
- Oponente: Baco.
- Destinadores: os Fados e Júpiter.
- Destinatários: Vasco da Gama e os marinheiros e, no plano histórico, os Portugueses.